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Apostila de literatura modI

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LITERATURA
O QUE É LITERATURA?
Conceito de Literatura
Certamente não é uma questão de fácil resolução. É o tipo de conceito que está em 
constante movimento e que possui uma série de matérias que podem ou não ser incluídas em 
seus campos de estudo. 
A princípio, poderíamos dizer que Literatura é tudo que é escrito. Sendo assim, abrange 
produções como jornais, revistas, documentos, legislações etc. Deste conceito mais amplo é 
que surgem as subdivisões como: Literatura Médica, Literatura Esportiva, Literatura Jurídica, 
Literatura Jornalística... 
É claro que o que vamos trabalhar para o vestibular não será esta Literatura tão 
abrangente, cheia de caminhos distintos. Nosso conceito será mais restrito e está intimamente 
ligado ao conceito de Arte. Obviamente o conceito de Arte também é bastante complexo e, 
portanto, não nos aprofundaremos nestas questões. 
A literatura como expressão artística, a grosso modo, é a forma de arte que trabalha com 
a palavra. Contudo, não basta apenas jogar um punhado de verbetes em uma folha de papel 
para que se faça literatura. A obra de arte literária precisa atingir a “alma” do ser humano de 
maneira geral, opondo-se assim aos exemplos anteriores de literatura técnica. 
A produção da Literatura no mundo é organizada em escolas literárias, ou períodos 
literários. É uma divisão que leva em conta aspectos históricos, cronológicos e técnicos para 
que se possa enquadrar um conjunto de autores e obras em uma mesma repartição. 
A partir destes conceitos, observe os dois textos abaixo:
Biassi tomou um ônibus da linha Belém Novo, na rodoviária, e se sentou na parte da 
frente. Na esquina da Avenida Carlos Barbosa com a Rua Oscar Schneider, dois jovens 
entraram no veículo afirmando não ter dinheiro.
Um deles - aparentando entre 16 e 18 anos e vestindo uma camiseta azul, segundo 
testemunhas - sentou-se atrás de Biassi. O outro, de camiseta do Fluminense e boné, 
aparentava entre 18 e 20 anos, acomodou-se no banco ao lado e sacou um revólver. Ao 
anunciar o assalto, ele dirigiu-se ao cobrador exigindo dinheiro, enquanto o outro aplicava uma 
gravata no soldado. O atirador virou a cabeça e disparou à queima-roupa contra o rosto de 
Biassi. Ele morreu na hora. 
- O PM não reagiu em momento algum. Foi morto porque estava de farda - garante um 
dos cerca de 10 passageiros, pedindo para não ser identificado.
 (Zero Hora – 02/03/2007)
Por fim, observe a definição de Machado de Assis:
“Palavra puxa palavra, uma idéia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, uma 
revolução; alguns dizem mesmo que assim é que a natureza compôs as suas espécies. ”
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LINGUAGEM LITERÁRIA
A Prosa
A prosa é um tipo de texto que se 
opõe à poesia. Os romances que lemos são 
escritos em prosa. Ela é caracterizada por 
ter, geralmente, uma estrutura interna bem 
definida permitindo ao leitor uma 
visualização de fatos, tempo e ambiente em 
que a história é escrita. Pode ser também 
chamada de gênero narrativo, justamente 
por narrar um evento qualquer. 
A prosa se divide em alguns 
subgrupos:
Romance
Á grosso modo, o romance é a forma 
narrativa mais longa. Sua estrutura é mais 
complexa, envolvendo uma trama 
geralmente com uma quantidade maior de 
personagens. As situações narradas no 
romance são norteadas por um conflito que 
se desenvolve ao longo da trama. Pode 
tanto trabalhar com ambientes externos 
quanto com o lado psicológico, interior aos 
personagens. 
Novela
A novela difere do romance por 
possuir uma estrutura geralmente menor e 
menos complexa. O desenvolvimento dos 
conflitos dos personagens é menos 
aprofundado. Talvez seja o gênero mais 
complicado de ser delimitado, pois oscila 
entre a Prosa e o Conto.
Conto
O conto é geralmente considerado 
uma narrativa mais curta. A quantidade de 
personagens é reduzida em relação ao 
romance (lembrando que sempre há 
exceções) e seus conflitos são pouco 
aprofundados. 
Por ser um gênero narrativo mais 
curto, o clímax está sempre próximo da 
situação inicial, o que provoca uma 
expectativa mais imediata no leitor. 
Segundo alguns teóricos, o conto deve 
poder ser lido em uma “sentada” e seu 
enredo deve conduzir o leitor ao desfecho, 
sendo este esperado ou inesperado.
Crônica
Por fim, temos a Crônica. Este gênero 
é bastante utilizado em jornais, pois traz 
temáticas do cotidiano e tem um formato 
mais reduzido que o do conto. Aqui o 
enredo não possui maior complexidade e os 
personagens são poucos. Invariavelmente 
leva o leitor (através de uma visão 
geralmente pessoal do escritor) a realizar 
uma reflexão sobre o mundo que nos cerca.
A Poesia
A poesia tem suas origens na 
linguagem oral. Basta observarmos que 
célebres poemas já foram musicados e, em 
contrapartida, podemos declamar uma 
música em forma de poema. Antes de o 
homem começar a transmitir suas histórias 
via escrita, realizava tal processo por meio 
de cantigas. A Ilíada e a Odisséia são belos 
exemplos de histórias contadas oralmente 
que foram posteriormente transformadas 
em literatura escrita.
Dada esta proximidade da linguagem 
oral, a poesia absorve algumas de suas 
características para tomar vida própria. 
Podemos citar como exemplo o ritmo e os 
refrões.
A poesia é basicamente dividida em 
sílabas métricas, versos, estrofes e cantos.
Sílabas Poéticas 
As sílabas métricas são a menor 
unidade de um poema. A Princípio podem 
parecer um exercício de divisão silábica 
comum, mas possuem algumas 
características especiais. Lembrando do 
fato de que a poesia é próxima da música, 
podemos observar que as sílabas poéticas 
colaboram na musicalidade do poema. 
Como há uma possibilidade de declamação, 
juntamos as vogais de fim e início de 
palavras. Deve ser ressaltado que não 
podemos juntar duas vogais tônicas. A 
contagem de sílabas de um verso termina 
sempre na última sílaba tônica do mesmo. 
Observe o exemplo:
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“Quan/do Is/má/lia en/lou/que/ceu/,
Pôs/-se/ na/ tor/re a/ so/nhar/...
Viu/ u/ma/ lu/a/ no/ céu,
Viu/ ou/tra/ lu/a/ no/ mar. [...]” 
(trecho de “Ismália”, de Alphonsus de 
Guimarães)
O trecho possui 7 sílabas métricas em 
todos os versos.
Há algumas nomenclaturas que são 
dadas aos poemas que repetem o mesmo 
número de sílabas poéticas:
Redondilha menor: Versos com 5 s.m.
Redondilha maior: Versos com 7 s.m.
Decassílabos: Versos com 10 s.m.
Alexandrinos: Versos com 12 s.m.
Versos
Basicamente o verso é cada uma das 
linhas do poema. Um conjunto de versos 
forma uma estrofe. Em vários poemas, 
existem as rimas. Para que obtenhamos 
uma rima, a terminação de um verso deve 
ter uma identidade sonora com a 
terminação de um outro verso no poema. 
Os versos também podem ser “brancos”, ou 
seja, com ausência de rimas. 
As rimas podem ser separadas dentro 
de um poema de algumas formas:
Emparelhadas: um verso rima com o 
seguinte
Cruzadas: versos rimam intercalados
Interpoladas: rima entre o 1º e o 
último versos de uma estrofe
Estrofes
As estrofes são como os parágrafos da 
prosa. Constituídas por uma série de versos 
são separadas por um espaço (basicamente 
de uma linha) entre si. Conforme o número 
de versos que possuem, podem ter as 
seguintes classificações (apenas as mais 
comuns):
Terceto: estrofe com 3 versos
Quarteto / Quadra: estrofe com 4 
versos
Oitava: estrofe com 8 versos
Cantos
Os cantos são geralmente utilizados 
em poemas épicos (poemas de grande 
extensão que narram fatos heróicosde 
algum povo). Constituem-se de uma série 
de estrofes e podem ser comparados aos 
capítulos de uma obra em prosa, pois 
geralmente tem por função uma separação 
dos episódios da epopéia. 
Figuras de Linguagem 
Outro elemento que merece nossa 
atenção especial são as figuras de 
linguagem. Podem fazer parte tanto da 
poesia quanto da prosa e podem parecer 
algumas vezes um erro. Mas observe, elas 
têm um papel importante na construção da 
literatura.
Antítese: Consiste na oposição entre 
duas palavras ou idéias. Ex:
“É um solitário andar por entre a 
gente” (Camões)
Ironia: Consiste em sugerir o contrário 
do que as palavras ou ações parecem 
exprimir. Ex:
“Meus móveis eram escandinavos. 
Caixotes de bacalhau norueguês.” (Luís F. 
Veríssimo)
 
Perífrase: É a figura que consiste em 
exprimir por várias palavras aquilo que se 
diria em poucas ou em uma palavra. Ex:
A pátria de Voltaire está em guerra. (A 
França está em guerra.)
Eufemismo: É a atenuação ou 
suavização de idéias consideradas 
desagradáveis, cruéis, imorais, obscenas ou 
ofensivas. Ex:
Ele entregou a alma a Deus. (Em lugar 
de: Ele morreu)
Gradação: Consiste numa sequência 
de palavras, sinônimas ou não, que 
intensificam uma mesma idéia. Ex: 
Ele chorou, berrou, esperneou.
Prosopopéia: Consiste em atribuir 
linguagem, sentimentos e ações de seres 
humanos a seres inanimados ou irracionais. 
Ex: 
O longo braço do Sol impele os ventos.
Elipse: É a omissão de um termo ou de 
uma oração inteira que já foi dita ou escrita 
antes, sendo que esta omissão fica 
subentendida pelo contexto. Ex:
Sobre a mesa, apenas uma garrafa.
LITERATURA Página 3 de 18 Módulo I
Polissíndeto: É a repetição expressiva 
da conjunção coordenativa. 
Ex:
“Vão chegando as burguesinhas 
pobres,
e as crianças das burguesinhas ricas,
e as mulheres do povo, e as 
lavadeiras”
(Manuel Bandeira)
Assíndeto: É a ausência da conjunção 
coordenativa. Ex:
Não sopra o vento; não gemem as 
vagas; não murmuram os rios.
Pleonasmo: Redundância, repetição. 
Ex:
Eu o vi com meus próprios olhos.
Hipérbato: Inversão na ordem 
sintática. Ex:
Dança, à noite, o casal de 
apaixonados no clube.
Anáfora: Repetição de termos. Ex:
“Se você gritasse
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense...” 
(Carlos Drummond)
Assonância: Repetição de vogais. Ex:
"Sou um mulato nato no sentido lato 
mulato democrático do litoral” 
(Caetano Veloso - Araçá Azul) 
Aliteração: Repetição de consoantes 
ou sílabas. Ex:
“Vozes veladas, veludosas vozes, 
vórtices vorazes...” 
(Cruz e Souza)
Onomatopéia: reproduz os sons por 
meio de palavras. Ex:
Tique-taque / miau / zum-zum
Metonímia: Substituição de um nome 
por outro. Ex:
Gosto de ler Machado de Assis.
Sinestesia: Mistura das sensações. Ex:
Comia o erótico sabor vermelho da 
maçã.
Comparação: Aproximação de duas 
coisas através de elemento comparativo. 
Ex:
Esse carro é rápido como um jato.
Metáfora: Comparação sem a 
utilização de elemento comparativo. Ex:
Ele é um asno.
Catacrese: Metáfora que se consagra 
na língua assumindo sentido próprio. Ex:
Boca da garrafa / pé da mesa / dente 
de alho
O Teatro
O último gênero narrativo que iremos 
trabalhar é o dramático, o teatro. Alguns 
dos autores que estudaremos 
posteriormente se destacam nesta arte de 
escrever textos que serão representados.
É interessante observarmos que o 
gênero dramático trabalha tanto com o 
texto poético como com o texto em prosa. 
Antigamente era mais utilizado o verso, 
para que os atores pudessem decorar as 
falas com mais facilidade. Hoje em dia, 
porém, a prosa é mais utilizada. 
Outra característica importante deste 
gênero é a descrição dos cenários. É 
importante situar o ambiente e a 
caracterização dos personagens para que 
se possa realizar uma posterior 
representação. 
Desde a Grécia antiga, o teatro tem 
uma importância fundamental na cultura 
humana. Naquele período, as peças eram 
representadas em grandes espaços, 
parecidos com estádios de futebol de hoje, 
que promoviam uma excelente acústica 
para que grandes platéias pudessem 
acompanhar as peças. Os atores 
representavam utilizando máscaras que 
determinavam seu estado de espírito, Daí 
vem a caracterização da arte teatral de 
duas máscaras: uma triste e outra feliz.
Observe o trecho a seguir para melhor 
compreender as características do gênero 
dramático:
“Vem Joane, o Parvo, e diz ao Arrais 
do Inferno: 
PARVO Hou daquesta!
DIABO Quem é?
PARVO Eu sou. É esta a 
naviarra nossa?
DIABO De quem?
PARVO Dos tolos.
DIABO Vossa. Entra!”.
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(Auto da Barca do Inferno de Gil 
Vicente)
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LITERATURA PORTUGUESA
Humanismo
Contexto
A prova de vestibular da UFRGS nos 
exige conhecimentos de Literatura de 
Língua Portuguesa. Nossa literatura tem 
origem na literatura portuguesa devido a 
questões históricas e por isso, começamos 
a trabalhar com uma possível primeira 
questão da prova. O humanismo é o 
primeiro período literário que iremos 
trabalhar. Consiste em um momento de 
transição da Idade Média para o surgimento 
do Renascimento. Cronologicamente, 
podemos situá-lo no século XV, momento 
em que o teocentrismo medieval vai sendo 
substituído por um pensamento 
antropocêntrico que será marcante no 
Renascimento. 
É neste contexto histórico que 
Portugal começa a delinear sua separação 
definitiva da Espanha e vai consolidando 
uma língua própria. 
O gênero mais marcante deste período 
vai ser o dramático, no qual se destaca a 
figura de Gil Vicente.
Gil Vicente (1465/66? - 1536/40?) 
A dualidade característica do 
Humanismo 
reflete-se no teatro de Gil Vicente. 
Ainda impregnado de preocupações 
religiosas, ele pretende reconduzir seus 
espectadores a uma autêntica vida cristã. 
Libertando-se das imposições da Igreja, os 
indivíduos hesitavam entre viver conforme 
os mandamentos da religião, o que lhes 
garantia a vida eterna, e usufruir os bens 
materiais, arriscando-se a padecer no 
inferno.
A grande variedade de assuntos, 
enredos e personagens levou os críticos a 
criarem inúmeras classificações para as 
suas peças que mesmo se nos limitarmos à 
divisão básica entre religiosas e satíricas 
podemos compreendê-las em seu alcance. 
Quase todos os autos tratam com 
seriedade de assuntos ligados à fé. Já as 
farsas criticam, em tom de sátira, os 
costumes de seu tempo.
Em seus autos, a religião aparece 
como um valor essencial para o ser 
humano. Apresentam-se tanto anjos, 
profetas, santos, Cristo, a Virgem Maria, 
como Diabo, Lúcifer, Satanás, etc. Os 
religiosos seriam gratificados com a vida 
eterna enquanto que os pecadores seriam 
conduzidos ao inferno. Assim, classifica-se o 
seu teatro como moralizante, porque põe 
em prática o tema conhecido desde a 
Antigüidade: ridendo de castigat mores 
(rindo, corrigem-se os costumes). 
Nas farsas, ou peças satíricas, esse 
objetivo moralizante manifesta-se mais 
claramente e mesmo expondo as pessoas 
ao ridículo, Gil Vicente não foi hostilizado ou 
censurado, pois ele não se voltava contra 
as instituições. Suas sátiras, na verdade, 
dirigiam-se contra os indivíduos que não 
agiam de acordo com as instituições em 
que se inseriam: o padre ganancioso ou o 
nobre falido que fingia ser rico, por 
exemplo.
Triologia das Barcas:A Triologia das 
Barcas compõe-se de três peças ( Auto da 
Barca do Inferno, Auto da Barca do 
Purgatório e Auto da Barca da Glória) das 
quais a primeira é a mais conhecida. Nela, 
duas personagens conduzem um enredo 
bastante simples. São elas o Anjo e o Diabo, 
barqueiros encarregados de conduzir as 
almas ao destino apropriada, após a morte. 
Cada personagem - o fidalgo, o frade com 
sua amante, o juiz, a alcoviteira, o 
corregedor, etc - dirige-se ao Anjo com a 
intenção de ir para o céu. Uma a uma, 
todas vão sendo rejeitadas. Apenas o Parvo 
(um bobo e, portanto, um indivíduo sem 
pecado) e os quatro Cavaleiros das 
Cruzadas entraram na barca que conduz ao 
paraíso. Essas escolhas evidenciam o 
caráter moralizante da peça.
Farsa de Inês Pereira: Inês Pereira, 
moça sonhadora, cansada do trabalho 
doméstico, resolve fugir da monotonia de 
sua vida, casando-se com um homem ideal. 
Despreza seu pretendente rico e tolo - Pero 
Marques - e casa-se com um escudeiro, que 
é malandro e a maltrata. Para a sua sorte, 
ele vai para a guerra e morre. Inês, viúva, 
casa-se então com o primeiro pretendente, 
fazendo cumprir o mote da peça, “mais 
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quero asno que me leve, que cavalo que me 
derrube”.
Auto da Lusitânia: É uma das suas 
últimas peças e tem enredo e personagens 
bem diferentes das anteriores. Nela, o 
cavaleiro Portugal e a jovem Lusitânia, sua 
noiva, casam-se. Na multidão que foi 
assistir a cerimônia encontram-se 
personagens alegóricas, como os dois 
diabos, Belzebu e Dinato.
CLASSICISMO
Contexto
Cronologicamente o Classicismo vai 
surgir no século XVI. É um período bastante 
importante na história da humanidade, pois 
é aqui, com a consolidação do 
Renascimento que a Igreja Católica, que 
dominara o cenário cultural durante a Idade 
média, perde sua força. Grandes expoentes 
das artes e das ciências começam a ter 
liberdade para criar. É neste momento que 
emergem gênios como Da Vinci e 
Michelangelo. 
Em oposição ao teocentrismo vigente 
anteriormente, a cultura européia passa um 
processo de valorização do homem – o 
antropocentrismo. Mas tal fato não chega a 
se constituir em uma novidade. Já na Grécia 
e Roma antigas, podemos observar esta 
característica. Basta olharmos as esculturas 
que representavam os deuses do Olimpo, 
mostrando formas humanas. Além disso, 
através de obras como a Ilíada e a Odisséia, 
podemos perceber que os Deuses tinham 
características humanas que se 
apresentavam em suas personalidades. É 
por isso que temos a denominação 
Renascimento: um novo florescer da cultura 
clássica.
Camões (1524/25? - 1580) 
 
Embora tenha publicado em vida 
apenas alguns sonetos e sua epopéia Os 
Lusíadas, Camões é considerado o maior 
poeta clássico em língua portuguesa. 
Camões obedeceu ao princípio clássico da 
imitação, cultivando sempre a perfeição 
formal. Buscou também o equilíbrio e o 
racionalismo, característicos do período 
renascentista: apesar da indiscutível 
qualidade dos seus sonetos, neles 
destacam-se a idéia do amor, a reflexão 
sobre o mesmo e a beleza da mulher, por 
exemplo, mais que o sentimento amoroso 
propriamente dito. O caráter racional e 
reflexivo da sua poesia manifesta-se em 
inúmeros poemas tratando do tema que se 
convencionou chamar de desconcerto do 
mundo, isto é, de uma explicação racional 
para os fatos e as situações que envolvem o 
ser humano.
O amor e o desconcerto do mundo 
constituem os principais temas da lírica 
camoniana. O amor associa-se quase 
sempre à idealização da figura feminina, 
em um processo que remete aos conceitos 
do filósofo Platão, para quem tudo, neste 
mundo, não passa de cópia imperfeita de 
uma realidade superior e perfeita. Assim, a 
mulher que inspira o amor – cortesã ou 
pastora, não importa – é sempre uma figura 
idealizada, de rara beleza. Também há o 
amor espiritual e o amor físico ou sensual.
Os poemas que têm por tema o 
desconcerto do mundo mostram uma 
postura filosófica de insatisfação e 
preocupação. Revela-se um mundo 
absurdo, em desalinho ou desordem, em 
contínua mutação. Não se encontra a 
harmonia.
Ao Desconcerto do Mundo
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim
Anda o mundo concertado.
Amor é fogo que arde sem se ver
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
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É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem 
querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo 
Amor?
Os Lusíadas (1572): O mais conhecido 
poema de língua portuguesa é uma 
epopéia que teve como modelos literários 
a Ilíada e a Odisséia de Homero. Tem por 
assunto a viagem de Vasco da Gama ao 
Oriente. Mas o navegante é apenas o herói 
aparente da epopéia, pois, como o próprio 
título indica, seu verdadeiro herói é o povo 
português, cuja coragem tornou possível o 
grande feito.
Camões dividiu Os Lusíadas em dez 
partes, chamadas de Cantos. Os cantos 
estão divididos em estrofes regulares. São 
1102, de oito versos cada uma, totalizando 
8816 versos. Todas as estrofes têm o 
mesmo esquema rímico: ABABABCC – ou 
seja, seis versos de rimas cruzadas e dois 
de rimas emparelhadas. São versos 
decassílabos heróicos (acento nas sexta e 
décima sílabas) ou sáficos (acentos nas 
quarta, oitava e décima sílabas).
O poema está organizado de acordo 
com a epopéia clássica, isto é, em:
• Proposição do assunto 
(Canto 1, estrofes 1-3)
• Invocação às musas 
(Canto 1, estrofes 4-5)
• Dedicatória a D. Sebastião 
(Canto 1, estrofes 6-18)
• Narração da história de Vasco da 
Gama
(estrofes 19 até 1045)
• Epílogo contendo um fecho bastante
dramático de Camões a respeito da 
cobiça (estrofes 1046 a 1102). 
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A LITERATURA NO SÉCULO XVI
1. Literatura Informativa
As primeiras manifestações literárias 
sobre a América estão delimitadas pelo seu 
caráter informativo. Expressam sem 
maiores intenções artísticas, os contatos do 
europeu com o novo mundo. São 
documentos a respeito das condições gerais 
da terra conquistada.
Dentro da tradição utópica do 
Renascimento, a América surge como o 
paraíso perdido, local de maravilhas e 
abundâncias. Também os nativos são 
apresentados sob olhares favoráveis. 
Porém, na segunda metade do século XVI, à 
medida que os índios começam a se opor 
aos desígnios imperiais, a visão rósea 
transforma-se. A natureza continua 
exuberante mas os habitantes da terra são 
pintados como seres animalescos.
A carta de Pero Vaz de Caminha
Entre os testemunhos deixados pelos 
portugueses no século XVI, sobre o Brasil, o 
mais importante é a Carta do escrivão Pero 
Vaz de Caminha. O texto tem um notável 
valor histórico - por ser o primeiro registro 
escrito sobre a realidade local, mas vale 
ainda mais pela agudeza com que 
Caminha revela a paisagem física e 
humana daquilo que ele julga ser uma 
imensa ilha.
Verdadeiro homem do renascimento, o 
escrivãoda frota lusa transforma a Carta 
num monumento de curiosidade 
antropológica e de abertura intelectual à 
diversidade. O crítico Sílvio Castro aponta 
alguns dos aspectos mais significativos do 
texto:
- a atenção minuciosa dos 
detalhes
- a simplicidade no narrar os 
acontecimentos
- a disposição humanista de 
tentar entender os nativos
- a capacidade constante de 
maravilhar-se
Vejamos como ele descreve o primeiro 
contato com os índios:
A feição deles é parda, algo 
avermelhada; de bons rostos e de bons 
narizes. Em geral são bem feitos. Andam 
nus, sem cobertura alguma. Não fazem o 
menor caso de cobrir ou mostrar suas 
vergonhas, e nisso são tão inocentes como 
quando mostram o rosto. Ambos traziam o 
lábio de baixo furado e metido nele um 
osso branco, do comprimento de uma mão 
travessa e da grossura de um fuso de 
algodão. (...)
Deram-lhe de comer: pão e peixe 
cozido, confeitos, bolos, mel e figos 
passados. Não quiseram comer quase nada 
de tudo aquilo. E se provaram alguma 
coisa, logo a cuspiam com nojo. Trouxeram-
lhes vinho numa taça, mas apenas haviam 
provado o sabor, imediatamente 
demonstraram não gostar e não mais 
quiseram.
A nudez das índias
A imagem mais desconcertante para 
os marinheiros lusos é a nudez das índias. 
Vindos de um mundo onde o corpo era 
censurado e reprimido, eles não escondem 
o assombro diante do que vêem. Caminha 
traduz esse sentimento, mas com seu 
particular espírito renascentista, procura 
ver os corpos femininos desnudos dentro do 
quadro cultural da sociedade indígena:
Ali andavam entre eles três ou quatro 
moças, muito novas e muito gentis, com 
cabelos muito pretos e compridos, caídos 
pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas 
e tão cerradinhas e tão limpas das 
cabeleiras que, de as muito bem olharmos, 
não tínhamos nenhuma vergonha. (...)
E uma daquelas moças era toda 
tingida, de baixo a cima, daquela tintura; e 
certamente era tão bem feita e tão 
redonda, e sua vergonha - que ela não 
tinha - tão graciosa que, a muitas mulheres 
de nossa, vendo-lhes tais feições, 
provocaria vergonha por não terem as suas 
como a dela. (...)
Ideal salvacionista
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A profunda religiosidade portuguesa, 
que era um dos móveis da conquista, 
mostra-se na possibilidade de conversão 
dos primitivos habitantes:
E segundo o que a mim e a todos 
pareceu, esta gente, não lhes falece outra 
coisa para ser toda cristã do que nos 
entenderem (...) E bem creio que, se Vossa 
Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe 
logo de vir clérigo para os batizar, porque 
então terão mais conhecimento de nossa 
fé, pelos dois degradados que aqui entre 
eles ficam, os quais hoje também 
comungaram.
A visão do paraíso
A linhagem dominante é a do paraíso 
terreno, como se percebe no final do texto 
de Caminha:
Essa terra, Senhor. (...) é toda chã e 
muito cheia de grandes arvoredos. De 
ponta a ponta é tudo praia redonda, muito 
chã e muito formosa.
Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, 
muito grande, porque, a estender os olhos, 
não podíamos ver senão terra e arvoredos, 
terra que nos parecia muito extensa.
Até agora não podemos saber se há 
ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, 
ou ferro; nem o vimos. Contudo, a terra em 
si é de muitos bons ares, frescos e 
temperados como os de Entre Douro e 
Minho, porque neste tempo de agora os 
achávamos como de lá.
As águas são muitas; infinitas. Em tal 
maneira é graciosa que, querendo-a 
aproveitar, dar-se-á nela tudo, por causa 
das águas que tem!
Porém, o melhor fruto que dela se 
pode tirar parece-me que será alvar essa 
gente. E esta deve ser a principal semente 
que Vossa Alteza nela deve lançar.
2. Relatos de viajantes
Durante todo século XVI, o Brasil 
despertou grande fascínio entre os 
europeus. Além dos colonos portugueses e 
dos invasores franceses, outros europeus 
visitaram a terra recém conquistada. Dois 
desses viajantes produziram obras 
definitivas sobre a vida cotidiana e os 
costumes dos Tupinambás: o alemão Hans 
Staden e o francês Jean de Léry.
Duas viagens ao Brasil
Sob este nome, Hans Staden publicou 
na Alemanha, em 1557, um livro no qual 
descreve as suas aventuras em território 
brasileiro, especialmente os nove meses e 
meio em que esteve prisioneiro dos 
Tupinambás.
A antropofagia
A antropofagia é o motivo principal de 
seu livro, talvez até pelo interesse que o 
assunto despertava na Europa. Além disso, 
mostra aos leitores europeus os animais da 
terra e a natureza, pintando um quadro 
intenso e colorido da realidade brasileira de 
então, transformando o seu livro num 
notável êxito editorial do século XVI.
No fragmento abaixo ele descreve a 
execução e a devoração de um inimigo 
pelos Tupinambás:
Quando trazem para casa um inimigo, 
batem-lhe as mulheres e as crianças 
primeiro. A seguir, colocam-lhe ao corpo 
penas cinzentas, raspam-lhe as 
sobrancelhas, dançam em seu redor e 
amarram-no bem. Dão-lhe então uma 
mulher para servi-lo. Se tem dele um filho, 
criam-no até grande e o matam e o comem 
quando lhes vem a cabeça.
Dão de comer bem ao prisioneiro. 
Conservam-no por algum tempo e então se 
preparam. (...0 Assim que está tudo 
preparado, determinam o tempo em que 
ele deve morrer e convidam os selvagens 
de outras aldeias para que venham assistir. 
Enchem de bebidas todas as vasilhas. Logo 
que estão reunidos todos os que vieram de 
fora, o chefe da choça diz: “ Vinde agora e 
ajudai a comer o vosso inimigo”. (...)
Quando principiam a beber, levam 
consigo o prisioneiro que bebe com eles. 
Acabada a bebida, descansam no outro dia 
e fazem para o inimigo uma pequena 
cabana no local em que deve morrer. Aí 
passa a noite, sendo bem vigiado. (...)
O guerreiro que vai matar o 
prisioneiro diz para o mesmo: “ Sim aqui 
estou eu, quero te matar, pois tua gente 
também matou e comeu muitos dos meus 
amigos”. Responde-lhe o prisioneiro: “ 
Quando estiver morto, terei ainda muitos 
amigos que saberão me vingar”. Depois, 
ele é golpeado na nuca, de modo que lhe 
saltem os miolos, e de imediato as 
mulheres arrastam o morto para o fogo, 
raspam-lhe toda a pele, tornando-o 
totalmente branco e tapando-lhe o ânus 
com uma madeira, afim de que nada dele 
se escape.
LITERATURA Página 10 de 18 Módulo I
Depois de esfolado, um homem o 
pega e lhe corta as pernas acima dos 
joelhos e os braços junto ao corpo. Vêm 
então quatro mulheres que apanham 
quatro pedaços, correndo com eles em 
torno das cabanas, fazendo grande alarido, 
em sinal de alegria. Separam após as 
costas, juntos com as nádegas, da parte 
dianteira. Repartem isso entre eles. As 
vísceras são dadas às mulheres. Fervem-
nas e com o caldo fazem uma papa rala 
que se chama mingau que elas e as 
crianças sorvem. Comem também a carne 
da cabeça. As crianças comem os miolos, a 
língua e tudo o que podem aproveitar. Ao 
guerreiro mais forte é oferecido o coração e 
as genitais.
Quando tudo foi partilhado, voltam 
para casa, levando cada um o seu quinhão.
Viagem à terra do Brasil
Igualmente centrado no cotidiano da 
vida indígena é a obra Viagem à terra do 
Brasil, do calvinista francês Jean de Léry.
Léry permanece no país durante um 
ano (1557), como enviado do líder religioso 
Calvino, para servir a Villegagnon, 
fundador de uma colônia francesa na futuracidade do Rio de Janeiro. Ali tem a 
oportunidade de conviver (em liberdade) 
com os tupinambás, fazendo uma série de 
anotações interessantíssimas a respeito de 
seu modo de vida.
O canibalismo dos tupinambás
Obviamente também a antropofagia é 
um dos temas predominantes da obra, 
sendo mostrada com uma riqueza de 
detalhes em muito superior à obra de Hans 
Staden. Observe-se esta cena, ocorrida 
logo após a morte do prisioneiro:
“Em seguida, as mulheres, sobretudo 
as velhas, que são mais gulosas de carne 
humana e anseiam pela morte dos 
prisioneiros, chegam com água fervendo, 
esfregam e escaldam o corpo a fim de 
arrancar-lhe a epiderme; e o tornam tão 
branco como nas mãos dos cozinheiros os 
leitões que vão para o forno. Logo depois o 
dono da vítima e alguns ajudantes abrem o 
corpo e o esquartejam com tal rapidez que 
faria melhor um açougueiro ao esquartejar 
um carneiro.
E então - incrível crueldade, assim 
como nossos caçadores jogam a carniça 
aos cães para torná-los mais ferozes, esses 
selvagens pegam os filhos, uns após outros, 
e lhes esfregam o corpo, os braços e as 
pernas com o sangue inimigo a fim de 
torná-los mais valentes.
Em seguida, todas as partes do corpo, 
inclusive as tripas depois de bem lavadas, 
são colocadas no moquém, em torno do 
qual as mulheres , principalmente as velhas 
gulosas, se reúnem para recolher gordura 
que escorre pelas varas dessas grandes e 
altas grelhas de madeira. Em seguida 
exortam os homens a procederem de modo 
que elas tenham sempre tais petiscos e 
lambem o s dedos e dizem iguatu, o que 
quer dizer "está muito bom!.”
LITERATURA Página 11 de 18 Módulo I
BARROCO
Características
A) Arte da Contra-Reforma
A ideologia do Barroco é fornecida pela Contra-Reforma. Estamos diante de uma arte 
eclesiástica, que deseja propagar a fé católica. Em nenhuma outra época produziu-se tamanha 
quantidade de igrejas e capelas, estátuas de santos e monumentos sepulcrais. As obras de arte 
deviam falar aos fiéis com a maior eficácia possível. Daí o caráter solene da arte barroca. Arte 
que tem de convencer, conquistar, impor admiração.
B) Conflito entre corpo e alma
Instaura-se na arte um conflito fundamental, o conflito entre os prazeres da carne as 
exigências da alma. O dilema se centra, portanto, na oposição entre vida eterna e vida terrena, 
espírito-carne. Não há possibilidade de conciliação para estas antíteses. Ou se vive 
sensualmente a vida ou se foge dos gozos humanos e se alcança a eternidade.
Esta tensão causa no artista uma profunda angústia: o artista arroja-se nos prazeres mais 
radicais; em seguida sente-se culpado e busca o perdão divino.
C) O tema da passagem do tempo
Dilacerado entre a alegria da existência e a preparação para a morte e, 
conseqüêntemente, para o julgamento divino, o homem barroco assume uma consciência 
integral da fugacidade da vida humana. O tempo tudo destrói em sua passagem, se 
convertendo no tema predileto do período.
D) Forma tumultuosa
Durante o período barroco a forma é conturbada, traduzindo a oposição entre os 
princípios renascentistas e a ética cristã.
Daí a freqüente utilização de antíteses, paradoxos, inversões violentas nas frases, 
comparações audazes, estabelecendo uma forma contraditória, dilemática, exacerbada, por 
vezes incompreensível e de mau gosto.
O BARROCO NO BRASIL
No Brasil, o Barroco resultou especialmente do confronto entra a realidade histórica vivida 
pelos senhores de engenho com uma absoluta ausência de moralidade, num desregramento 
sexual completo, e entrava em choque com os ensinamentos contra-reformistas que os padres 
ministravam nos colégios destinados aos filhos dos latifundiários do açúcar. O movimento na 
literatura ocorreu apenas durante o século XVIII, porém, no campo das artes plásticas o espírito 
barroco se estendeu pelo século XVIII e primórdios do século XIX, especialmente, em Minas 
Gerais.
Já o apogeu literário do Barroco deu-se na Bahia, e alguns consideram como primeira 
obra do movimento a Prosopopéia, de Bento Teixeira. Medíocre poema épico, dedicado ao 
segundo donatário da capitania de Pernambuco, tem um valos meramente referencial.
Gregório da Matos Guerra (1636-1696)
Gregório de Matos deixou uma obra poética vasta, muitas vezes de duvidosa autoria. 
Afrânio Peixoto fez uma edição crítica de seus poemas, mas não conseguiu recolher uma série 
deles, dispersos ou conservados pela tradição popular. Com os poemas disponíveis, podemos 
apontar três núcleos básicos em sua produção:
 
a) Poesia religiosa
Como lírico religioso, Gregório da Matos revela um poeta que se ajoelha diante de Deus, 
com um forte sentimento de culpa por haver pecado, e que promete redimir-se. Trata-se de 
LITERATURA Página 12 de 18 Módulo I
uma imagem constante: o homem ajoelhado, implorando perdão por seus erros, conforme 
podemos verificar no "Soneto a Nosso Senhor": 
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinqüido
Vos tem a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,
Eu sou, senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
b) Poesia satírica
Filho de um universo decadente, o autor vingou-se realizando uma poesia mordaz. 
Ninguém escapava de sua fúria corrosiva, fidalgos, militares, padres, senhores de engenho, 
escravos, mulatos. Daí o codnome de Boca do Inferno que lhe deram:
Que falta nesta cidade? ... Verdade.
Que mais por sua desonra? ... Honra.
Falta mais que se lhe ponha? ... Vergonha.
O demo a viver se exponha
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
(...)
Quais são seus doces objetos? ... Pretos.
Tem outros bens mais maciços? ... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos? ... Mulatos.
(...)
E que justiça a resguarda? ... Bastarda.
É grátis distribuída? ... Vendida.
Que tem que a todos assusta? ... Injusta.
(...)
Que vai pela clerezia? ... Simonia.
E pelos membros da Igreja? ... Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha? ... Unha.
(...)
E nos frades há manqueiras? ... Freiras.
Em que ocupam os serões? ... Sermões.
Não se ocupam em disputas? ... Putas.
(...)
c) Poesia lírica
LITERATURA Página 13 de 18 Módulo I
O lirismo do autor se define ora por um erotismo grosseiro, ora por um tom mais delicado, 
em que o sentimento vincula-se à idéia de passagem do tempo, de efemeridade de todas as 
coisas humanas.
 
Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos a boca, o sol e o dia:
Enquanto com gentil descortesia,
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança brilhadora,
Quando vem passear-te pela fria:
Goza, goza da flor da mocidade
Que o tempo trata a toda ligeireza
E imprime em todas a flor sua pisada.
Ó não aguardes que a madura idade,
Te converta essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
Padre Antonio Vieira (1608-1697)
Os sermões (1679-1692)
Vinculado, por sua formação jesuítica, à ideologia da Contra-Reforma, Vieira representa 
tipicamente o espírito barroco. Seus famosos Sermões apresentam aquele aspecto de 
ensinamento, aquela função moralizadora e aquele tom apocalíptico dos criadores mais 
radicais do período. Defendeu os índios, defendeu os cristãos-novos, combateu os holandeses 
e sonhou com um grande império,português e católico, cuja sede seria o Brasil. Usou a Bíblia 
para fazer observações contínuas sobre o cotidiano do Brasil colonial. E fez isso numa 
linguagem vibrátil, "conceptista", em que a eloqüência decorre do uso de ricas imagens, da 
freqüência de comparações e antíteses, do contínuo jogo de idéias. Sua obra pertence 
conjuntamente ao Brasil e a Portugal. Veja-se um exemplo:
"Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado, porque padeceis em um modo 
muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz, e em toda sua Paixão. (...) A 
Paixão de Cristo foi de noite sem dormir, parte de dia sem descansar, e tais são as vossas 
noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; 
Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as 
chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação, que se for 
acompanhada de paciência também terá merecimento de martírio.
Eles (os senhores) mandam, e vós servis; eles dormem, e vós velais; eles descansam, e 
vós trabalhais; eles gozam os frutos de vossos trabalhos, e o que vós colheis deles é um 
trabalho sobre o outro. Não há trabalho mais doce que o das vossas oficinas (refere-se à 
produção do açúcar nos engenhos); mas toda essa doçura, para quem é? Sois como as abelhas 
(...). As abelhas fabricam o mel, sim; mas não para si."
LITERATURA Página 14 de 18 Módulo I
ARCADISMO
Características
 
a) Vinculação com o Iluminismo
As manifestações artísticas do século XVIII (Arcadismo ou Neoclassicismo e o Rococó) 
refletem a ideologia da classe aristocrática em decadência e da alta burguesia, insatisfeitas 
com o absolutismo real e com a pesada solenidade do Barroco.
A filosofia do Iluminismo, em seu primeiro momento conciliando os interesses da 
burguesia com certas parcelas da nobreza, através de um fenômeno típico do século XVIII: o 
despotismo esclarecido, e afirmando que todas as coisas podem ser compreendidas, e 
decididas pelo poder da razão, assenta um golpe definitivo na visão barroca, baseada mais no 
sensitivo do que no racional.
b) Imitação da natureza
Para os árcades, a natureza adquire um sentimento de simplicidade, harmonia e verdade. 
"Fugere urbem" (fugir da cidade) torna-se o princípio da época. Cultua-se o "Homem natural", 
isto é, o homem que "imita" a natureza em sua ordenação, em sua serenidade, em seu 
equilíbrio. O bucolismo (integração harmônica do homem com a natureza) se torna um 
imperativo social.
Esta aproximação com o natural se dá por intermédio de uma literatura de caráter 
pastoril, conforme se vê nesta lira de Gonzaga:
Enquanto pasta alegre o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
A sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive nos descobre
sábia natureza.
O Arcadismo é, portanto, uma festa campestre, representando a descuidada existência de 
pastores na paz do campo, entre as ovelhinhas.
c) Imitação dos clássicos
No Arcadismo, processa-se um retorno às fontes clássicas. O escritor árcade está 
preocupado em ser simples, racional, inteligível. Para atingir esses requisitos exigia-se a 
imitação dos autores da Antigüidade, preferencialmente os pastoris. Horácio, Virgílio e Teócrito 
são os mais imitados. Estabelece-se assim uma convenção poética (uma verdadeira arte 
poética) que todos deveriam obrigatoriamente seguir.
d) Amor galante
O amor perde o conteúdo passional, a impulsividade, dissolvidos em pura galanteria, isto 
é, o amor se transforma num jogo de galanteios. Quando o poeta declara seu amor à pastora, o 
faz de uma maneira elegante e discreta, exatamente porque as regras desse jogo exigem o 
comedimento, as maneiras recatadas, e porque o seu "amor" pode ser apenas o fingimento do 
amor. 
 
OB: não esqueça de algumas frases que marcaram o Arcadismo
Fugere urbem (fugir da cidade)
Inutilia truncat (truncar o inútil)
Aurea mdiocritas (vida mediana)
Locus amenus (Lugar ameno)
LITERATURA Página 15 de 18 Módulo I
Carpe Diem (Viver o dia)
ARCADISMO NO BRASIL
Surgindo em Minas Gerais, no apogeu do ouro, durante o séc. XVII (inclusive tendo 
vinculações com a Inconfidência Mineira), o Arcadismo brasileiro tornou-se responsável pelo 
surgimento de um sistema literário, isto é, uma relação regular e permanente envolvendo 
autores, obras e público leitor. Durante o período barroco, a ausência de um público regular e 
contínuo impedia o funcionamento deste sistema, sem o qual não existe a literatura como 
definidora de uma nação.
Autores do Arcadismo
A poesia lírica de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)
Obras: Obras poéticas (1768) e Vila Rica (1839)
Cláudio Manuel da Costa foi um caso curioso de poeta de transição. Em termos de 
escolha, ele se filia aos princípios estéticos do Arcadismo, mas, em termos instintivos, não 
consegue superar as fortes influências barrocas e camonianas que marcaram a sua juventude 
intelectual. Racionalmente é um árcade; emotivamente, um barroco.
Se os poemas de Cláudio Manuel da Costa estão cheios de pastores - o que indica o 
projeto de literatura árcade - os seus temas são quase sempre barrocos. Observe-se este 
famoso soneto:
Neste álamo sombrio, aonde a escura
Noite produz a imagem do segredo;
Em que apenas distingue o próprio medo
Do feio assombro a hórrida figura
Aqui, onde não geme, nem murmura
Zéfiro brando em fúnebre arvoredo,
Sentado sobre o fosco de um penedo
Chorava Fido a sua desventura.
Às lágrimas, a penha enternecida
Um frio fecundou, donde manava
D’ânsia mortal a cópia derretida;
A natureza em ambos se mudava;
Abalava-se a penha comovida;
Fido, estátua de dor, se congelava.
Além de poemas líricos tentou a epopéia, num poemeto chamado Vila Rica, despido de 
maior prestígio.
A poesia lírica de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810)
Obras: Marília de Dirceu (1792) e Cartas Chilenas (1845)
Em sua única obra lírica, Marília de Dirceu, mostra-se o árcade por excelência. O 
pastoralismo. A galanteria, clareza, a recusa em intensificar a subjetividade, o racionalismo 
neoclássico, eis os elementos estruturadores do poema de Tomás Antônio Gonzaga. 
Marília de Dirceu é autobiográfico dentro dos limites que as regras árcades impunham à 
confissão pessoal. Na primeira das três partes que compõem o livro, um pastor celebra a sua 
amada:
LITERATURA Página 16 de 18 Módulo I
Tu, Marília, agora vendo
Do Amor o lindo retrato
Contigo estarás dizendo
Que é este o retrato teu
Sim, Marília, a cópia é tua,
Que Cupido é Deus suposto:
Se há Cupido, é só teu rosto
Que ele foi quem me venceu.
Tomás Antônio Gonzaga estava ligado às concepções rígidas do Arcadismo e isto 
explica em parte o seu comedimento amoroso. Apesar de seus defeitos, sobra em Gonzaga 
um encanto que é a maneira graciosa e singela com que ele se expressa. Mesmo a frivolidade 
reveste-se de uma forma simples e envolvente. Alguns enxergam em sua obra traços pré-
românticos. Um dos momentos mais famosos de sua lírica é quando afirma a Marília o seu ideal 
doméstico (aurea mediocritas). Observe o enxerto abaixo, uma das passagens mais 
encantadoras de suas liras, quando Dirceu fala à Marília sobre o que ela não verá, 
provavelmente, o Brasil.
Tu não verás, Marília, cem cativos
Tirarem o cascalho e a rica terra,
Ou dos cercos dos rios caudalosos
Ou da minha serra.
Não verás separar ao hábil negro
Do pesado esmeril a grossa areia,
E já brilharem os granetes de ouro
No fundo da bateia.
Não verás derrubar os virgens matos,
Queimar as capoeiras ainda novas,
Servir de adubo à terra fértil cinza,
Lançar os grãos nas covas.
Não verás enrolar negrospacotes
Das secas folhas o cheiroso fumo;
Nem espremer entre as dentadas 
rodas
Da doce cana o sumo.
Verás em cima da espaçosa mesa
Altos volumes de enredados feitos;
Ver-me-ás folhear os grandes livros,
E decidir os pleitos.
Enquanto revolver os meus consultos
Tu me farás gostosa companhia (...)
Granetes: grãos
Bateia: espécie de gamela que se usa 
para lavar a areia
Pleitos: questão de juízo, demanda
Sob o pseudônimo de Critilo, Tomás Antônio ironizou os desmandos do governador de 
Minas Gerais nas famosas Cartas Chilenas, pretensamente nativistas, pois em momento algum 
insinuam a sublevação contra a metrópole. Trata-se de um ataque meramente pessoal.
A poesia épica de Basílio da Gama (1741-1795)
Obra: O Uraguai (1769)
O Uraguai faz apologia à expedição imperial enviada às Missões, depois do Tratado de 
Madrid de 1750, para desalojar os índios e os jesuítas. Basílio da Gama dispunha-se a valorizar, 
acima de tudo, o Marquês de Pombal, responsável pela medida. Paralelamente, desejava 
mostrar o conflito entre o racionalismo europeu e o primitivismo indígena. O projeto de Basílio 
acaba se tornando paradoxal: em termos racionais, ele se coloca ao lado dos europeus, mas, 
em termos sentimentais, simpatiza com os índios.
As razões dos índios são muito mais convincentes que as dos soldados imperiais, de tal 
forma que sentimos a grandeza épica não nos europeus e sim nos indígenas.
LITERATURA Página 17 de 18 Módulo I
A perigosa contradição em que se envolve Basílio da Gama, glorificando tanto o 
conquistador europeu como o selvagem, é equacionada pela crítica feroz a um terceiro 
elemento: o jesuíta.
Já no poema, o único jesuíta que aparece, padre Balda, é ambicioso e pérfido. Não 
satisfeito, o autor se vale de notas explicativas em profusão, nas quais acusa os padres como 
responsáveis pelo conflito.
A crítica se divide a respeito do indianismo de Basílio da Gama. Alguns assinalam a 
presença de um sentido anti-europeu neste indianismo, porém, a maioria inclina-se a ver no 
Uraguai apenas pastores árcades travestidos de indígenas. E a repulsa dos mesmos aos 
desígnios dos governos europeus não se dá motivada por qualquer nacionalismo. Seria apenas 
a repulsa do "homem natural", do Arcadismo contra a civilização.
Um dos momentos mais significativos do poema dá-se quando os índios defendem o seu 
direito de permanecer nas terras missioneiras:
(...) Se o rei da Espanha
Ao teu rei quer dar terras com mão larga,
Que lhe dê Buenos Aires e Corrientes,
E outras, que tem por estes vastos climas;
Porém, não pode dar-lhe os nossos povos (...)
Gentes de Europa, nunca vos trouxera
O mar e o vento a nós. Ah! não debalde
Estendeu entre nós a natureza
Todo esse plano espaço imenso der águas.
LITERATURA Página 18 de 18 Módulo I

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