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Economia Clássica Suri

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Economia Clássica
A ciência econômica é consolidada com a escola clássica. O marco fundamental é a obra Uma Investigação sobre a Natureza e Causas da Riqueza das Nações (1776),  do escocês Adam Smith (1723-1790). Após a morte de Smith, três nomes aperfeiçoam e ampliam suas ideias: o francês Jean-Baptiste Say (1767-1832) e os ingleses Thomas Malthus (1766-1834) e David Ricardo (1772-1823).
O pensamento clássico se desenvolve na segunda metade do século XVIII e no século XIX. Desse modo centra suas reflexões nas transformações do processo produtivo, trazidas pela Revolução Industrial. Os clássicos alteram mais uma vez a noção de riqueza. Adam Smith afirma que não é a prata ou o ouro que determinam a prosperidade de uma nação, mas, sim, o trabalho humano. Em consequência, qualquer mudança que aprimore as forças produtivas estará potencializando o enriquecimento de uma nação. A principal delas – além da mecanização – é a divisão social do trabalho, amplamente estudada por ele. A escola também aborda as causas das crises econômicas, as implicações do crescimento populacional e a acumulação de capital.
Os clássicos defendem o liberalismo e elaboram o conceito de racionalidade econômica, no qual cada indivíduo deve satisfazer suas necessidades da melhor forma possível sem se preocupar com o bem-estar da coletividade. Essa busca egoísta e competitiva, no entanto, estaria na origem de todo o bem público porque qualquer intervenção nessas leis naturais do comportamento humano bloquearia o desenvolvimento das forças produtivas. Usando a metáfora econômica de Smith, os homens, conduzidos por uma “mão invisível”, acabam promovendo um fim que não era intencional.
A concepção de Keynes do sistema econômico como um todo orgânico complexo 1 Fernanda Graziela Cardoso 2 Gilberto Tadeu Lima 3 
 
 
 
Resumo 
O presente artigo argumenta que elementos da abordagem da complexidade, recentemente aplicada à economia, já estavam presentes na obra de Keynes e destaca a fecundidade de uma interação entre elas. A abordagem da complexidade tem como uma idéia central a de que as ações individuais promovem conseqüências não intencionais como resultado de um processo de auto-organização, permitindo o funcionamento do sistema. Keynes explorou tal idéia, por exemplo, na elaboração do paradoxo da poupança, na análise da formação das expectativas e na incorporação do efeito multiplicador. Destaca-se que a complexidade do sistema econômico, segundo a perspectiva de Keynes, começa com a complexidade do ser humano. Por fim, sustenta-se que a visão de Keynes do sistema econômico como um organismo complexo teve a influência do filósofo G. E. Moore. 
Palavras-chave: Keynes, John Maynard; Complexidade; Auto-organização. 
 
Abstract Keynes Keynes Keynes Keynes’ ’’ ’ view of the economic system as a complex organic whole view of the economic system as a complex organic whole view of the economic system as a complex organic whole view of the economic system as a complex organic whole 
 This paper claims that some elements of the complexity approach, which has been recently applied to economics, were already contained in Keynes’ economics, and argues for the fecundity of an interaction between them. One of the central ideas of the complexity approach is that individual actions have unintended overall consequences as a result of a self-organization process, which allows the functioning of the system. Keynes played around with the idea of unintended consequences of individual actions, for instance, in the formulation of the paradox of parsimony, in the analysis of the expectations formation, and in the inclusion of the multiplier effect. It is argued that the complexity of the economy, from Keynes’ perspective, is firstly related to the complexity of the human being. Also, it is suggested that Keynes’ view of the economy as a complex organism was influenced by the philosopher G. E. Moore. 
Key words: Keynes, John Maynard; Complexity; Self-organization. JEL B19, B15. 
 
Introdução A filosofia de G. E. Moore, tal como enunciada especialmente em seu Principia Ethica (1903), uma das bases da formação intelectual de Keynes, infere 
 
 (1) Trabalho recebido em outubro de 2006 e aprovado em dezembro de 2007. (2) Professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ. IE), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: fgc_13@uol.com.br. (3) Professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP. FEA), São Paulo, SP, Brasil. E-mail: giltadeu@usp.br. 
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que as conseqüências não devem ser o meio pelo qual se julga o valor de determinada ação, mesmo porque o caráter infinito delas impede que se infira com certeza qual será o seu resultado final. O importante, então, partindo da idéia de que se deve fazer a pergunta certa em vez de tentar chegar a verdades absolutas, é definir qual é o resultado desejado, qual seja, o bom estado da mente. A abordagem da complexidade, recentemente aplicada à economia, tem como uma idéia central a de que as ações individuais promovem conseqüências não intencionais como resultado de um processo de auto-organização, permitindo o funcionamento do sistema. Ou seja, o todo, enquanto propriedade emergente, não é dedutível imediata e diretamente a partir de certo “componente representativo”. Em verdade, uma vez que a abordagem da complexidade representa um esforço intelectual ambicioso de compreensão do funcionamento de sistemas altamente organizados, porém descentralizados e compostos de um número muito grande de componentes individuais, heterogêneos, a própria noção de “componente representativo” é insuficientemente representativa. Por sua vez, o próprio Keynes explora essa idéia de conseqüências não intencionais, o que é patente, por exemplo, na sua elaboração sobre o chamado paradoxo da poupança, na análise da formação das expectativas e na incorporação do efeito multiplicador. Assim, interpretando a abordagem da complexidade a partir da filosofia mooreana, um movimento aparentemente inovador feito por este artigo, no final o que importa não é apontar quais são as conseqüências infinitas de determinada ação, mas definir o resultado que se obtém a partir da interação delas. Sobre esse ponto, vale destacar também a definição de probabilidade de Keynes como o grau de crença racional. Pode-se sugerir, então, que tal definição é um desdobramento da visão de Keynes do sistema econômico como um todo orgânico complexo. Então, a partir da ótica de Keynes, não seria o próprio Moore capaz de conceder um substrato filosófico a essa concepção tipicamente complexa? Em que medida Keynes não herdou de Moore sua concepção de sistema econômico como um organismo complexo? Há uma interessante nota de rodapé em que Keynes cita que Max Planck, o famoso criador da Teoria Quântica, desistiu de estudar economia porque essa lhe parecia muito difícil, o que implicava que a economia é permeada por incertezas.4 E a complexidade da economia decorreria exatamente da complexidade dos átomos que compõem o seu sistema: os seres humanos. 
 
 (4) Prossegue Keynes: “Professor Planck could easily master the whole corpus of mathematical economics in a few days. He did not mean that! But the amalgam of logic and intuition and the wide knowledge of facts, most of which are not precise, which is required for economic interpretation in its highest form is, quite truly, overwhelmingly difficult for those whose gift mainly consists in the power to imagine and pursue to their furthest points the implications and prior conditions of comparatively simple facts which are known with a high degree of precision” (CW, X, p. 186n). 
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Relembrando a pseudo-analogia entre a queda da maçã e o comportamento humano, num sistema mecânico newtoniano, a queda da maçã depende apenas da força da gravidade, e não da vontade da maçã. Como será argumentado adiante, o que nos parece que Keynes pretende dizer é que o organismo econômico – composto de átomos pensantes – é um sistema complexo, no qual, para que a “maçã” realmente caísse, seria necessário “convencê-la”. Vale dizer, a “maçã”, nesse caso, sendo dotada de vontade e de pensamento estratégico, só cai se ela realmente quiser.5 A complexidade da economia, segundo a perspectiva de Keynes, portanto, já está presente na sua concepção de natureza humana: a complexidade do mundo começa com a complexidade do ser humano. O guia prático para os homens lidarem com o futuro, tal como sugerido no famoso artigo de 1937 em resposta a críticos da Teoria Geral (1936) (doravante TG), seria uma instituição racional – no sentido de Keynes – para balizar a tomada de decisão em circunstâncias incertas. Aparentemente inovadora, nossa intuição racional – no sentido de Keynes – é que a abordagem da complexidade permite mostrar que Keynes cria – racionalmente – no poder da razão como um meio de auto-organização satisfatória do sistema, o que lhe fazia acreditar que o caos não é inevitável. De maneira mais ampla, essa intuição deriva da percepção de que reconhecimento da propriedade de auto-organização como uma tendência persuasiva dos sistemas complexos e adaptativos oferece a possibilidade de descoberta e de análise de regularidades substantivas de sistemas complexos, tal como a economia. Enfim, o presente artigo pretende, assim como fez Foley (2003) em relação aos economistas políticos clássicos, destacar elementos de uma abordagem tipicamente complexa na obra de Keynes, especialmente a TG. Mas, vale ressaltar que, assim como bem destaca o autor, trata-se, em certa medida, de um exercício de anacronismo, uma vez que a linguagem da abordagem dos sistemas complexos e a sua aplicação a problemas econômicos são relativamente recentes. Não obstante, pode-se dizer que a visão de Keynes do sistema econômico representa uma “antecipação” de uma série de desenvolvimentos posteriores em nível de substância e linguagem dos sistemas complexos. Para promover tal argumentação, o artigo está estruturado em quatro seções. Na seção 1, apresentamos as principais idéias caracterizadoras da 
 
 (5) Nas próprias palavras de Keynes: “I also want to emphasize strongly the point about economics being a moral science. I mentioned before that it deals with introspection and with values. I might have added that it deals with motives, expectations, psychological uncertainties. One has to be constantly on guard against treating the material as constant and homogeneous. It is as though the fall of the apple to the ground depended on the apple’s motives, on whether it is worthwhile falling on the ground, and the whether the ground wanted the apple to fall. And on mistaken calculations on the part of the apple as how far it was from the center of the earth” (CW, XIV, p. 300). 
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abordagem da complexidade. Na seção 2, argumentamos, a partir do próprio Keynes, que as elaborações filosóficas de Moore embasam a noção de conseqüências não intencionais da ação humana e sugerimos que Keynes herdou de Moore a concepção de que o sistema econômico é um organismo complexo, a começar pela natureza humana. A Seção 3 destaca elementos presentes na TG que sugerem a proximidade da visão de Keynes do sistema econômico com a chamada abordagem da complexidade. E, finalmente, na última seção, apresentam-se as considerações e especulações acerca da visão de Keynes do sistema econômico como um todo orgânico complexo. 
 
1 A abordagem da complexidade Na visão de um conjunto expressivo de autores, está se abrindo, pouco a pouco, um novo caminho teórico para a Economia enquanto ciência. Para trilhá-lo, sustenta-se, faz-se necessário abandonar boa parte das maneiras usuais de pensar a realidade econômica, acompanhando-se assim um movimento científico transformador que, atualmente, alcança várias outras ciências, em especial a Física e a Biologia, e que vem sendo caracterizado pela sua orientação voltada à complexidade.6 Segundo Foley, em sua detalhada introdução a Albin (1998), uma vez que se contemple seriamente a possibilidade de não-linearidade no comportamento dos agentes, os resultados da complexidade surgem de forma inexorável na teoria social e econômica. E complementa que, se as interações complexas de fato desempenham um papel fundamental na evolução da realidade social, sua abstração pode ter imposto um alto preço para a relevância das teorias social e econômica tradicionalmente aceitas. Um tomador de decisão racional que se confronta com um sistema dinâmico necessita de uma “máquina” que tenha a capacidade de avaliar as conseqüências de suas ações. A maioria dos seres humanos pode lidar com a dinâmica de um sistema com dois ou até três estados distintos, mas, de acordo com Foley, muito poucos podem lidar com mais de dez períodos, sem falar nos milhares ou milhões de estados que facilmente surgem, por exemplo, de transações financeiras complexas. Do ponto de vista epistemológico da teoria neoclássica, o ator econômico racional não precisa considerar as reações detalhadas dos outros atores em toda a sua complexidade potencial, uma vez que o equilíbrio dos preços de mercado representa toda a informação necessária. E, segundo Foley, o aspecto mais falho da teoria do equilíbrio é sua hipótese implícita de que a difusão de informação no mercado não tem custo e é 
 (6) Para uma introdução mais ampla e aprofundada aos conceitos da abordagem dos sistemas complexos, ver Prigogine e Stengers (1984); Nicolis e Prigogine (1989); Waldrop (1992); Lewin (1992); Holland (1995); Pryor (1995); Horgan (1997); Albin (1998); Rosser (1999) e, mais recentemente, Gribbin (2005). 
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instantânea. Para que o programa da escolha racional fosse realmente válido, os agentes precisariam ser capacitados o suficiente para calcular as conseqüências de suas ações. O autor explicita então que a complexidade do ambiente social reflete o nível de complexidade dos agentes que interagem nele, criando um problema ou um paradoxo insolúvel. De acordo com Arthur (1999), o que é comum a todos os estudos da complexidade são sistemas com múltiplos elementos que se adaptam ou reagem ao padrão que esses elementos criam. Além disso, os sistemas complexos são sistemas em processo. Nas palavras do autor, “[t]he elements adapt to the world – the aggregate pattern – they co-create. Time enters naturally here via adjustment and change: as the elements react, the aggregate changes, elements react anew” (p. 1). Ainda segundo Arthur, os sistemas complexos se tornam interessantes na medida em que contenham não-linearidades ou feedbacks positivos. Tais características, diz o autor, implicam as seguintes propriedades dos sistemas econômicos complexos: uma multiplicidade de “soluções” potenciais; o resultado realmente atingido não é previsível; o sistema tende a ficar “aprisionado” nesse resultado; ele não é necessariamente o mais eficiente economicamente e é dependente do “caminho” adotado – path dependence (p. 2). Tais sistemas complexos, conforme argumenta Arthur, surgem naturalmente na economia. Os elementos econômicos, ou seja, os agentes humanos, reagem estrategicamente ao considerarem os resultados que podem ocorrer como conseqüência da ação que podem realizar. E é exatamente a particularidade desses elementos econômicos que adiciona
à economia uma complicação que não existe nas ciências naturais. O autor ainda complementa que, uma vez que se adote a perspectiva da complexidade, com sua ênfase na formação das estruturas, os problemas que envolvem predição na economia parecem ser bem diferentes do que o seriam sob uma perspectiva tradicional. A abordagem da complexidade, conforme o autor, “[p]ortrays the economy not as deterministic, predictable and mechanistic; but as process-dependent, organic and always evolving” (p. 4). Foley (2003) indica ainda que a abordagem dos sistemas complexos representa um esforço ambicioso em analisar o funcionamento de sistemas altamente organizados, mas descentralizados, compostos de um grande número de componentes individuais. Esses sistemas compartilham um potencial a configurar as suas partes componentes em um grande número de formas – eles são complexos –, apresentam uma constante mudança em resposta a estímulos ambientais e a seu próprio desenvolvimento – são adaptativos –, possuem uma forte tendência a alcançar padrões reconhecíveis e estáveis na sua configuração – são auto
1 - O ESTADO E A ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA
O conceito de economia política clássica aqui adotado compreende aqueles economistas que, do final do século XVIII às primeiras décadas do século XIX, procuraram formular as primeiras leis de funcionamento da dinâmica da economia capitalista, utilizando-se como elementos essenciais de seu raciocinar econômico a "teoria do valor trabalho,excedente econômico, classe produtiva, análise baseada em classes,determinação de preços pela oferta "(Fonseca, mar. 1981, p. 43). Incluem-se, assim, nesse conceito, os fisiocratas, Smith, Ricardo, Malthus, Mill e Marx, entre outros. Este estudo contempla principalmente os fisiocratas, Smith,Ricardo e Mill. Malthus é tratado em dois momentos: primeiro, em sua controvérsia com Ricardo sobre a Lei de Say; depois, no capítulo sobre Keynes, precursor que foi de sua teoria da demanda efetiva. Assim procedeu-se na convicção de que, ao aproximar os pontos convergentes e os divergentes de sua teoria com os de outros autores, estar-se-ia enriquecendo a análise. Outros autores de menor porte, embora não tratados individualmente, estão presentes no final deste capitulo. Neste capítulo, os elementos mais importantes da economia política clássica que estão diretamente relacionados com o Estado, quer negando a necessidade de sua intervenção na economia, quer justificando-a, são os seguintes: primeiro, o principal argumento clássico para negar a necessidade de uma ação estatal controladora da economia consiste na concepção do funcionamento da própria economia como um mecanismo auto-regulável. Dessa visão e da crença em que o bem-estar coletivo é apenas resultado do máximo proveito individual nasce o liberalismo clássico; segundo, o argumento contrário que justifica a intervenção do Estado a favor da acumulação de capital pode ser situado nas falhas de funcionamento dos mecanismos de auto-regulação da economia, na necessidade de romper os obstáculos à acumulação e nas contradições è conflitos de interesses das classes constitutivas da economia política clássica. No contexto desses dois argumentos maiores é que se desenvolverá toda a discussão do Estado na concepção econômica clássica. A partir daí, a discussão dar-se-á em torno de questões como: o liberalismo econômico e seus limites, o Estado e a proteção da riqueza, o Estado e a acumulação, o Estado e as relações de trabalho, a liberdade de comércio, o Estado e a Lei de Say, a dívida estatal e a tributação. Deve-se notar que não há uma simetria das questões tratadas em cada autor. Embora quase todos os autores clássicos tivessem abordado praticamente as mesmas questões, a ordem de importância no interior de cada teoria, e especialmente em relação ao papel do Estado, não é a mesma
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em cada autor. Em decorrência disso, o que se perde em homogeneidade estrutural do trabalho é grandemente compensado em aprofundamento do assunto. Além disso, percebe-se uma evolução do pensamento clássico,dos fisiocratas e Smith a Malthus e Mill, no sentido de dar maior abertura ao Estado e teorizar sobre questões mais diretamente ligadas ao mesmo.
1.1 — François Quesnay e os fisiocratas
1.1.1 — A teoria f isiocrata
O que a teoria econômica fisiocrata procura representar são os mecanismo ds funcionamento ds uma economia que, no dizer de Marx, representa "a primeira versão sistemática da produção capitalista". O "Tableau Economique" de Quesnay descreve o movimento interno dessa economia representado por fluxos de mercadorias, de rendas e de outras despesas. A economia fisiocrata é constituída por três classes sociais: a primeira é chamada de classe produtiva e compreende tanto os arrendatários capitalistas quanto os assalariados agrícolas, os servos e pequenos proprietários rurais; a segunda é a classe dos proprietários e compreende o soberano, os possuidores de terras e os dizimeiros — são estes os receptadores da renda fundiária, dos impostos e dos dízimos, itens componentes da "produto líquido" ("produit net") produzido pela classe produtiva, e seus beneficiários diretos são a Coroa, a aristocracia, a nova burguesia terratenente e o clero —; a terceira é a classe estéril e compreende os agentes econômicos urbanos (comerciantes,industriais, operários, artesãos, profissionais liberais e o clero não proprietário de terras). O trabalho não agrícola é considerado estéril no sentido de que não produz um produto líqjido ou excedente, diferença entre o que é consumido e o qje é gerado no processo produtivo. Ao contrário, o trabalho agrícola é o único produtivo, porque tem a capacidade de gerar esse excedente, que é apropriado, num primeiro instante, pelos proprietários da terra. No entanto o personagem central da economia fisiocrata não é o proprietário rural, como à primeira vista poderia parecer, mas sim o arrendatário capitalista. Apesar de essa teoria parecer representar aglorificação da propriedade rural (a agricultura é a única atividade produtiva e o produto líquido é um dom da fertilidade da terra), ela é, acima de tudo, uma defesa da atividade capitalista nascente,principalmente agrícola, mas também industrial. Kuntz diz que Quesnay desenha uma política em tudo favorável ao empresário agrícola.
"Ao enumerar as condições de legitimidade para a propriedade agrícola, ele está, de fato, traçando um roteiro de sobrevivência para a Coroa e para os donos da terra. Está procurando mostrar-lhes que só há um caminho para refazer as finanças do reino e revitalizar os privilégios da classe latifundiária. É como se apenas uma figura estivesse no rumo certo — a do novo agricultor — e todas as demais devessem moldar-se às suas exigências" (Kuntz, 1982, p. 75).
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O arrendatário capitalista é o centro de todo o processo econômico, pois:
"(...) é de suas riquezas que devem nascer a subsistência da nação, o bem-estar público, os rendimentos do soberano, dos proprietários'e do clero, uma grande despesa distribuída a todas as profissões, uma numerosa população,a força e a prosperidade do Estado" (Kuntz, 1982, p. 88).
A teoria do excedente constitui a base sobre a qual Quesnay constrói seu esquema de funcionamento do sistema. Os fisiocratas colocam a origem do excedente no trabalho agrícola, mas essa origem não reside no trabalho e sim constitui um dom da fertilidade da terra. Marx, ao analisar o sistema dos fisiocratas, atribui-lhes o mérito de haverem deslocado a investigação sobre a origem do excedente da órbita da circulação para a da produção. Ao mesmo tempo, desmistifica a origem desse excedente, atribuindo-o não à fertilidade da terra, mas à produtividade do trabalho assalariado. Esse excedente constitui, para Marx, a mais-valia, trabalho excedente não pago, fruto das relações capitalistas de produção. Essa mais-valia, que repousa na capacidade do trabalho humano de produzir mais do que consome, aparece no trabalho agrícola como um dom natural, como uma força produtiva da natureza. Em sua análise crítica do sistema
fisiocrata, Marx aponta algumas de suas contradições:
"Embora seja o primeiro que procura explicar a mais-valia pela apropriação do trabalho alheio sobre a base da troca de mercadorias, não considera o valor como uma forma de trabalho social, nem a mais-valia como um trabalho sobrante;o valor não é para ele mais que simples valor de uso, simples matéria, e a mais-valia, um puro dom da natureza (...) De outra parte, reincide-se, sem embargo, no sistema feudal ao buscar a fonte dessa mais-valia na natureza e não na sociedade, na relação com a terra e não nas relações sociais. O valor mesmo se reduz a um simples valor de uso e, portanto
A Teoria Quantitativa da Moeda é uma das duas principais teorias que analisam o equilíbrio da economia do lado monetário (a outra visão é a keynesiana, que introduz o motivo especulação).[1] Ela defende que o nível dos preços é determinado pela quantidade de moeda em circulação e pela sua velocidade de circulação.
A equação quantitativa da moeda[editar | editar código-fonte]
A relação entre o nível de preços e a quantidade de moeda em circulação é expressa pela equação quantitativa da moeda: 
Esta equação "revela simplesmente que, ao multiplicar a quantidade de moeda M pela velocidade V com que ela cria renda, teremos a própria renda nominal PY. Neste sentido, é uma tautologia ou truísmo (uma verdade em si mesma), que decorre simplesmente da maneira como a definimos. Ou seja, uma identidade contábil. Passa a ser uma teoria monetária quando estabelecemos hipóteses teóricas sobre o comportamento das variáveis (se V é ou não constante, se Y está ou não a pleno emprego etc)." (Vasconcellos, 2001, p. 299). 
Quantidade de moeda[editar | editar código-fonte]
Na equação quantitativa da moeda, M representa os meios de pagamento. 
Velocidade da moeda[editar | editar código-fonte]
Na equação quantitativa da moeda, V é a velocidade de circulação da moeda (não observável). Também chamada de velocidade-renda da moeda, é a frequência média em que a unidade monetária é gasta num certo período de tempo, isto é, a quantidade de "giros" que ela dá durante um período determinado, criando renda. É o inverso do coeficiente marshalliano (k é a retenção de moeda, enquanto V é a utilização da moeda, em relação à renda nacional)..[2] No curto prazo a velocidade da moeda é constante, tal que, a equação quantitativa expressa a relação de proporcionalidade entre o estoque da moeda e o nível de preço, porque o produto também é constante, tal que: 
MV = PY; o que implica que: P = MV/Y 
Nível de preços (P)[editar | editar código-fonte]
Na equação quantitativa da moeda, P é o nível de preços juntamente com o dinheiro. 
Produto real da economia (Y)[editar | editar código-fonte]
Na equação quantitativa da moeda, Y é o produto real da economia 
Um exemplo[editar | editar código-fonte]
Se M = R$ 60 mil e PY (ou seja, o fluxo de renda nacional nominal) = R$ 1,440 milhões, então.Isso significa que a moeda circulou 24 vezes no decorrer do ano para criar R$ 1,440 milhões de renda. Isso mostra que, para gerar R$ 1,440 milhões de renda num ano, não são necessários R$ 1,440 milhões em moeda (ou em meios de pagamento), dado que o estoque de dinheiro circula, passando de mão em mão, gerando renda nesse processo.[2] 
Pressupostos[editar | editar código-fonte]
A teoria baseia-se nos seguintes pressupostos: 
Causalidade[editar | editar código-fonte]
o nível de preços é determinado pela quantidade de moeda em circulação, multiplicada pela velocidade da moeda (que é quase uma constante pela hipótese 2) 
Velocidade de Circulação Estável ou Previsível[editar | editar código-fonte]
Segundo VASCONCELLOS (2001, p. 299), "na teoria clássica, V é considerado relativamente estável ou constante a curto prazo, já que depende de alguns parâmetros que se modificam lentamente, tais como hábitos da coletividade (quanto maior a utilização de cheques e cartões de crédito, menor a necessidade de reter moeda) e o grau de verticalização da economia (por exemplo, quando a Ford comprou a Philco, diminuiu sua necessidade de manter moeda em caixa, dado que as operações entre Ford e Philco passaram a ser meramente contábeis, no âmbito do próprio grupo). Por raciocínio análogo, a terceirização também afeta a velocidade da moeda." (grifo do autor). 
Neutralidade da moeda[editar | editar código-fonte]
A quantidade de moeda não afeta a produção de uma economia (y) de forma permanente – ou seja, um aumento da quantidade de moeda pode gerar um aumento da produção real no curto prazo, mas esse efeito não é permanente. 
Exogeneidade da moeda[editar | editar código-fonte]
A Autoridade Monetária tem total controle sobre a oferta de moeda porque controla M e, como V é estável ou previsível, pode com M contrabalançar os movimentos de V e controlar o lado esquerdo da Equação de Trocas. 
Efeitos da política monetária[editar | editar código-fonte]
Supondo uma política monetária expansionista e uma velocidade-renda da moeda constante a curto prazo, o efeito de um aumento da oferta de moeda sobre a inflação dependerá de a economia estar ou não com recursos desempregados. Se a economia estiver com recursos plenamente empregados, o aumento de M provocará apenas um aumento no nível geral de preços (já que V é constante e Y é constante em pleno emprego, para que a equação MV=PY valha, um aumento em M só pode alterar P). Esta é a versão original da Teoria Quantitativa da Moeda. 
"Se a economia estiver com recursos desempregados, então é possível que a expansão monetária estimule a produção agregada Y, sem necessariamente aumentar os preços." 
Oferta de moeda 
Páginas: 3 (671 palavras) Publicado: 6 de novembro de 2012 
Oferta de moeda
A oferta da moeda é bem conhecida também como criação monetária, que é a “fabricação” ou produção e emissão de dinheiro novo seja em papel ou metal. A oferta da moeda é um estoquetotal dela no mercado, em suma na economia. A oferta de moeda é definida como a quantidade de moeda disponível na economia. Assim como em outras coisas a tendência de juros subirem é os preços caírem etambém o contrário. A moeda serve como meio de troca, servindo para pagamentos em geral e para solver débitos. . Também tem por função a unidade de conta, e a reserva de valor. A moeda é como umaacumulação do poder aquisitivo. Sabe-se que no mercado quando as moedas estão em falta entra-se em cena uma certa crise.
podemos chamar também a oferta de moeda de meios de pagamento. Meios de pagamentoconstituem o total de moeda à disposição do setor privado não bancário, de liquidez imediata, ou seja, que pode ser utilizada imediatamente para fazer transações. Os meios de pagamento, em sua formatradicional, são dados pela soma da moeda em poder do público, mais os depósitos à vista nos bancos comerciais. Ou seja, pela soma da
moeda escritural e da moeda manual. 
Nas economias modernas,quem oferece moeda ao público são as autoridades monetárias como, por exemplo, o Banco Central, em função das necessidades dos agentes econômicos. O conjunto de moeda manual (ou moeda corrente),depósitos à vista (moeda escritural ou bancária) e quase-moedas forma os meios de pagamento de uma economia.
Assim como demandamos moeda ao comprar e vender mercadorias, há também a oferta de moeda. Num sistema cuja moeda é lastreada, por exemplo, em ouro, a circulação de moeda depende da quantidade de ouro em estoque no país. Já em um sistema sem lastro, tem-se a moeda fiduciária, e o responsável pelocontrole de oferta de moeda é o Banco Central.
O Banco Central é o único emissor da moeda nacional, tendo com principal responsabilidade zelar pela quantidade de moeda nacional.
Como vimos, a...

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