Buscar

FOCHEZATTO, Adelar. Curso de Macroeconomia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 83 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 83 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 83 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ECONOMIA
NÚCLEO DE ESTUDO E PESQUISA (ECONOMIA)
TEXTO DIDÁTICO No 1
CURSO DE MACROECONOMIA
Adelar Fochezatto
Endereço: Av. Ipiranga, 6681 – Prédio 5, Porto Alegre – RS
Telefone: (0xx51) 3203547
E-mail: adelar@ez-poa.com.br
Porto Alegre
Março
2000
2
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I - CONCEITOS, MEDIDAS E RELAÇÕES ECONÔMICAS: CONTABILIDADE NACIONAL
1 - Introdução
2 - Relações econômicas
2.1 - Os agentes econômicos
2.2 - O fluxo circular da renda na economia
2.3 - Os diferentes tipos de operação
3 - Definições e medidas
4 - Valores reais e nominais
5 - Desemprego
6 - Demografia e economia
CAPÍTULO II - EVOLUÇÃO E SINCRONIA DAS PRINCIPAIS VARIÁVEIS MACROECONÔMICAS
1 - Crescimento econômico
2 – Ciclos econômicos
3 – Desemprego
4 - Inflação
5 – Déficit público
6 – Déficit externo
7 – Distribuição da renda
CAPÍTULO III - INSTRUMENTAL ANALÍTICO: COMPORTAMENTOS E FUNCIONALIDADE
MACROECONÔMICA
1 - Introdução
2 – Famílias
2.1 - Fatores determinantes do consumo
2.2 - Fatores determinantes da poupança
3 – Governo
4 - Empresas
4.1 - Introdução
4.2 – Indicadores de comportamento das empresas
4.3 – As técnicas de produção
4.4 - Investimento das empresas
5 - Resto do mundo
5.1 - Introdução
5.2 – Indicadores de comportamento com relação ao resto do mundo
5.3 – Exportações líquidas e seus determinantes
5.4 – O impacto das exportações líquidas sobre o PIB
6 – Financiamento da economia
6.1 – Aspectos da intermediação bancária
6.2 – Oferta de moeda
6.3 - Demanda de moeda
6.4 – Resumo do capítulo
CAPÍTULO IV – POLÍTICAS MACROECONÔMICAS EM UMA PEQUENA ECONOMIA ABERTA
1 - Introdução
2 - Equilíbrio global em uma economia monetária
2.1 - Dimensão monetária do equilíbrio macroeconômico
2.2 – Modificações do equilíbrio
2.3 – O modelo IS-LM em economia aberta
2.4 – Resumo do capítulo
CAPÍTULO V – POLÍTICAS MACROECONÔMICAS E DESEMPENHO DA ECONOMIA BRASILEIRA NOS ANOS 90
1 - Introdução
2 - O Plano Real
2.1 - Performance macroeconômica
2.2 - Performance setorial
2.3 - Desequilíbrios pós-plano
2.4 - Reformas estruturais
3 – Análise de cenários alternativos de estabilização
3.1 - Políticas de estabilização
3.2 - Políticas comerciais
3.3 - Políticas tributárias
CAPÍTULO VI - LUTA CONTRA O DESEMPREGO
1 - Introdução
2 - A adaptação da população ativa
3 – Políticas ligadas à flexibilidade no mercado de trabalho
4 - As políticas macroeconômicas
3
INTRODUÇÃO
A macroeconomia estuda o comportamento agregado da economia e, por isso, seu foco recai sobre
a análise das conseqüências globais de ações individuais dos agentes econômicos em sua interação
com o mercado. Embora se fundamente na microeconomia e que, por isso, deva mostrar consistência
entre o desempenho macro e o comportamento micro, nem sempre a macroeconomia é uma mera
soma dos resultados individuais. A forma como é feita esta agregação é um dos pontos mais
controvertidos dentro da macroeconomia.
Nas análises macroeconômicas, os economistas procuram compreender e projetar as tendências
gerais da economia. Para isso é fundamental dispor de dados agregados precisos e estabelecer
corretamente as relações entre as variáveis macro. Assim, a compreensão adequada das contas
nacionais representa o ponto de partida da moderna análise macroeconômica. Boa parte dos modelos
macroeconômicos são construídos a partir destes dados e através de uma correta definição das relações
funcionais e do comportamento dos agentes1.
Atualmente, compreender as interações existentes entre as variáveis e as políticas econômicas
supõe que se integrem três aspectos fundamentais do mundo contemporâneo. Primeiro, a determinação
das variáveis econômicas é cada vez mais feita pelo mercado, tendo, o Estado, um papel cada vez mais
reduzido. Neste quadro, duas grandes correntes de pensamento constituem uma referência para a
análise econômica: a liberal e a keynesiana (vem surgindo outra, chamada de “a terceira via”). As
principais controvérsias destas correntes referem-se à natureza do equilíbrio econômico, o papel da
moeda na economia e do tipo de intervenção do Estado.
Segundo, a economia é cada vez mais financeira e as mudanças ocorridas nestes mercados se
transmitem sobre os demais mercados. Terceiro, com a desregulamentação do mercado de capitais e
com o avanço das novas tecnologias da informação, o mercado financeiro tornou-se um fenômeno
mundial e está criando fortes interdependências entre os países. Isto coloca em evidência os sistemas
econômicos vulneráveis, forçando-os à uma adaptação.
Neste contexto, algumas questões essenciais devem ser analisadas: a) quais são as fontes de
crescimento das economias modernas? b) qual é a influência da esfera financeira nas economias
contemporâneas? c) qual a explicação para o crescimento e a persistência de altas taxas de desemprego
na maioria dos países?
Este curso não pretende dar respostas definitivas a estas questões mas suscitar o interesse, provocar
o debate e proporcionar aos alunos uma capacidade de análise das questões macroeconômica atuais.
Para isso, estudaremos os mecanismos econômicos para saber: observar de forma crítica a realidade;
fazer hipóteses quanto aos comportamentos dos agentes; seguir e explicar os encadeamentos de efeitos
devido a uma mudança na economia; e interpretar o significado destes efeitos para as principais
variáveis econômicas.
CAPÍTULO I - CONCEITOS, MEDIDAS E RELAÇÕES ECONÔMICAS: CONTABILIDADE
NACIONAL
1 - Introdução
Para bem observar e analisar os fenômenos econômicos deve-se: a) saber o significado dos termos
e das variáveis utilizadas; b) definir com precisão seus valores; e c) estabelecer relações funcionais e
causais coerentes entre elas. A contabilidade social preenche os dois primeiros requisitos. O terceiro
decorre da teoria, da experiência, dos modelos e da capacidade de quem analisa.
A contabilidade nacional retrata todas as operações efetuadas pelos agentes econômicos em um
determinado período de tempo (um ano). Diante da complexidade do mundo real, ela se propõe a fazer
 
1 A existência de relações funcionais entre variáveis econômicas possibilita que os economistas recorram à construção de
modelos econômicos. Trata-se de representações formais de fenômenos através de um sistema coerente de relações
matemáticas, descrevendo de forma esquemática as ligações que existem entre as variáveis econômicas. Muitos economistas
criticam o uso de modelos para fazer projeções futuras porque isto pressupõe a existência de relações constantes entre os
fenômenos econômicos. O problema, dizem eles, é que os seres humanos fazem experiências, possuem memória e aprendem
com a história e, em função disso, eles podem alterar seus comportamentos.
4
agrupamentos de agentes e de operações permitindo o estabelecimento de uma visão sintética e
coerente. As contas nacionais, elaboradas pelo IBGE, são publicadas anualmente e estão disponíveis
na Internet.
Para estudar apenas o essencial, definiremos, primeiramente, os diferentes tipos de relações
econômicas, o que nos permitirá, a seguir, precisar o modo como são registradas as operações e, por
fim, apreciar alguns elementos da situação atual da economia brasileira.
2 - Relações econômicas
2.1 - Os agentes econômicos
Em uma economia aberta, normalmente são distinguidos quatro categorias de agentes: a) as
empresas, as quais produzem, investem e contratam fatores de produção; b) as famílias, que são
proprietárias dos fatores de produção e consomem bens e serviços; e c) o governo, que adquire bens e
serviços, faz transferências, arrecada impostos e gerencia a política econômica; e d) o resto do mundo
ou exterior, que compra e vende bens e serviços para o Brasil, efetua e recebe transferências, etc.
2.2 - O fluxo circular da renda naeconomia
A representação da realidade econômica dada pela contabilidade nacional é a de um círculo. A
igualdade contábil entre recursos e usos na economia é vista como um fluxo circular. Este fluxo
circular pode ser esquematizado da seguinte forma:
Estágio 1: as empresas fabricam a produção (Q) e distribuem a renda (Y) aos fatores de produção.
Estágio 2: o setor público cobra impostos (T) sobre a renda agregada (Y). Subtraindo os impostos
da renda agregada temos a renda disponível do setor privado (Yd=Y-T).
Estágio 3: as famílias vão destinar parte de sua renda disponível (Yd) para consumo (C) e a restante
é poupada (Sp), ou seja, depositada em instituições financeiras, a qual vai financiar parte do
investimento (I). Neste estágio o dispêndio global é C+I.
Estágio 4: o setor público utiliza as receitas fiscais (T) para efetuar os seus gastos (G). Neste
estágio o dispêndio global é C+I+G.
Estágio 5: uma parte da despesa concerne a produtos importados e, com isso, uma parte da renda
sai do país para pagar as importações (-M). Por outro lado, uma certa quantia de renda entra no país
devido à venda de produtos domésticos para compradores externos (+E).
Figura 1: Representação esquemática do fluxo circular da renda na economia.
Instituições
Financeiras
 I C+I C+I+G M
 E
Resto do
Mundo
 C G
 S
C+I+G+E-M
Famílias Governo Produtores
Q=Y
 Yd
 T
 Y
2.3 - Os diferentes tipos de operação
Nestas relações entre os agentes econômicos são realizadas três tipos de operação: de produção, de
repartição e financeiras. O fluxo circular da renda pode ser dividido em três sub-círculos.
5
a) O círculo de operações de produção: nestas operações participam quatro tipos de agentes: as
empresas (que produzem), as famílias (que consomem), o governo (que fornece serviços públicos) e o
“resto do mundo” (que oferta e demanda bens e serviços). As operações de produção nos mostram a
origem dos produtos existentes no mercado, podendo ser tanto de origem nacional ou interna (Q),
tanto de origem estrangeira ou externa (M). Estes produtos são destinados ao consumo privado das
famílias (C), ao investimento privado das empresas (I), ao consumo e investimento do governo (G) e
às exportações (E). O equilíbrio neste circulo de operações é dado por:
Q+M=C+I+G+E
Figura 2: Fluxo monetário das operações de produção, 1997 (R$ bilhões)
Famílias Empresas
C=548 Q=866
 I=184
Mercado de
Produtos
 M=88
G=157 E=66
Governo Resto do mundo
b) O círculo de operações de repartição: descreve a apropriação da renda oriunda da produção.
Esta renda é apropriada por dois agentes (famílias e empresas) na forma de remuneração do trabalho
(RL = salários e contribuições sociais) e excedente operacional bruto (RK = lucros, os quais podem
ser distribuídos na forma de dividendos ou retidos para autofinanciamento, e outros rendimentos do
capital). Existem outras operações secundárias de distribuição da renda, as quais não são diretamente
ligadas ao processo produtivo: rendimentos de juros e aluguéis; impostos diretos; transferências do
governo e outras. O equilíbrio é dado por:
Q=Y=RL+RK
Figura 3: Operações de repartição da renda, 1997 (R$ bilhões)
Famílias RL=331, RK=411 Empresas
 td=119
 tr=94 Governo t=125
Obs.: RL = salários + contribuições sociais; RK = excedente operacional bruto, inclusive rendimento dos
autônomos; t = impostos líquidos de subsídios sobre a produção e importação; td = impostos diretos; e tr =
transferências do governo.
c) Circulo de operações financeiras: no mercado de capitais, intermediado pelas instituições
financeiras, os agentes com capacidade de financiamento podem depositar seus excedentes de
recursos, os quais são demandados pelos agentes com necessidade de financiamento. Agrupando as
6
operações de produção e repartição, observamos que: a) as famílias apresentam um excedente de
recursos, pois receberam RL+RK+tr = 836 bilhões de reais e gastaram C+td = 667 bilhões de reais.
Com isso, elas formaram uma poupança ou capacidade de financiamento (Sp=CF) de 169 bilhões de
reais, a qual pode ser colocada no mercado de capitais; b) o governo apresentou um déficit (ou
excedente de emprego de recursos), pois arrecadou td+t = 244 bilhões de reais e gastou G+tr = 251
bilhões de reais. O governo, portanto, apresentou uma necessidade de financiamento (-Sg=NF) de 7
bilhões de reais, a qual foi obtida no mercado de capitais; c) as empresas tiveram necessidade de
financiamento de 185 bilhões de reais, pois receberam 866 bilhões de reais com a venda da produção e
gastaram I+RL+RK+t = 1.051 bilhões de reais. Elas obtiveram estes recursos no mercado de capitais;
e d) o “resto do mundo” obteve um excedente de recursos (Se=CF) de 22 bilhões de reais, devido à
diferença entre as importações e as exportações de M-E = 22 bilhões de reais.
Figura 4: Fluxo das operações financeiras, 1997 (R$ bilhões)
Famílias Empresas
CF=169 NF=185
Mercado de
Capitais
 NF=7 CF=22
Governo Resto do mundo
Tendo retratado as diferentes operações efetuadas pelos agentes econômicos, nós podemos agora
agrupá-las em uma matriz de contabilidade social (MCS).
Figura 5: Matriz de contabilidade social, 1997 (R$ bilhões)
Recursos
Usos
Produção
(Q)
Fatores
(K, L)
Famílias
(C)
Governo
(G)
Empresas
(I)
R. do mundo
(E)
Total
Produtos CI=692 C=548 G=157 I=184 E=66 955
Fatores (K, L) RL+RK=742 742
Famílias (R) RL+RK=742 tr=94 836
Impostos (T) t=125 td=119 244
Merc. Cap. (S) CF(Sp)=169 NF(Sg)=-7 CF(Se)=22 184
R. mundo (M) M=88 88
Total 955 742 836 244 184 88
3 - Definições e medidas
a) Produto Interno Bruto (PIB): é o valor de mercado de todos os bens finais produzidos durante
um determinado período de tempo (um ano). O termo “bruto” demonstra que o valor da produção não
foi corrigido pela depreciação; o termo “interno” aparece para informar que a produção foi efetuada
dentro das fronteiras do país, independentemente se por empresas nacionais ou estrangeiras; e o termo
“valor de mercado” informa que o produto foi avaliado aos preços correntes, ou seja, sem a correção
7
da inflação. Por exemplo, um psicólogo produz R$ 40.000,00 de terapia por ano. Ele pode ser
calculado de três formas: pela renda (Y), pelo dispêndio (Z) e pela produção (Q):
PIB(Y)=RL+RK = 866
PIB(Z)=C+G+I+E-M = 866
PIB(Q)=VBP-CI = 866
VBP=CI+ RL+RK = 1559 (valor bruto da produção)
CI = 692 (consumo intermediário)
b) Produto Nacional Bruto (PNB): mede a produção nacional bruta e não a produção territorial. A
diferença entre o PIB e o PNB é a renda líquida enviada ao exterior (RLE) pelos fatores de produção
(renda enviada menos renda recebida). Ex: remessas de lucros das empresas multinacionais, remessas
de rendimentos do trabalho, etc.
PNB=PIB-RLE=866-17=849
c) Valor adicionado (VA): a produção é medida em termos líquidos ou pelo valor adicionado. Isto
porque os produtos que entram como consumo intermediário (CI) das empresas já foram
contabilizados. Assim, o valor bruto da produção (VBP) não é uma boa medida para medir o produto
da economia porque ele faz dupla contagem de produtos.
VA=VBP-CI=866
Figura 6: Exemplo de cálculo do valor adicionado para um produto selecionado
Trigo
(R$0,25)
Farinha
(R$0,50)
Massa
(R$1,00)
VA=R$0,25 VA=R$0,25 VA=R$0,50
Tempero
(R$0,75)
Massa com molho
(R$7,95)
VA=R$2,25 VA=R$0,75 VA=R$3,95
Outros
(R$1,50)
Molho
(R$3,00)
Obs.: A soma do valor adicionado em cada etapa é igual a R$7,95, o mesmo valor do bem final.
d) Renda disponível do setor privado (Yd):é a renda efetivamente disponível para o setor privado
fazer suas compras e poupança (Sp). Para encontrá-la, deve-se diminuir da renda nacional os impostos
diretos sobre a renda(td) e as contribuições sociais (neste caso elas estão embutidas no imposto direto)
e somar as transferências do governo às famílias (tr).
Yd=Y+tr-td
Yd=C+Sp
e) Oferta agregada e demanda agregada: a oferta agregada é a soma da produção interna (Q) com
as importações (M) e a demanda agregada é a soma dos dispêndios com consumo (C), investimento
(I), aquisições do governo (G) e exportações, feitas pelos estrangeiros (E). O equilíbrio no mercado é
dado por:
Q+M=C+I+G+E
866+88=548+184+157+66
8
f) Absorção (A): é o dispêndio agregado com C, I e G. Se a renda nacional (Y) for inferior à
absorção, isto significa que a economia é deficitária, ou seja, importou mais do que exportou e precisa
se financiar no exterior.
Y= RL+RK = 866
A=C+I+G = 889
NF(Se) = M-E = 22
g) Balanço orçamentário do setor público: quando o governo gasta mais do que arrecada, ele entra
em déficit e, caso contrário, em superávit. O déficit público, normalmente, é classificado em dois
tipos: o déficit primário (Dp) e o déficit operacional (Do). O déficit primário é a diferença entre
despesas (G) e receitas correntes (T) e o operacional adiciona o pagamento de juros da dívida pública
(r.B), onde r é a taxa de juros e B o montante da dívida pública.
Dp=G-T = 7
Do=G+r.B-T = 37
h) Balanço de pagamentos: o BP é o registro, realizado pelo Banco Central, do valor de todas as
transações econômicas ocorridas entre o país e o resto do mundo durante um determinado período de
tempo (um ano). Ele é dividido em duas grandes contas: o saldo da conta corrente (SCC) e de capital
(SCK). A conta corrente, por sua vez, pode ser subdividida em saldo comercial, o saldo da conta de
serviços e a renda líquida enviada ao exterior (ex: remessas de lucros). A balança comercial (BC)
reflete o saldo entre exportações e importações de mercadorias (produtos industriais, agrícolas, etc.), o
saldo de serviços (RLE) incorpora a transação de serviços não fatores (fretes, seguros, turismo e
serviços diplomáticos) e serviços de fatores (salários, aluguéis, juros, lucros). O saldo da conta de
capital (SCK) é subdividida em investimento direto externo líquido (Id), empréstimos (Emp) e
financiamentos (Fin), amortizações de empréstimos (-Am) e outros capitais, como as aplicações
financeiras de estrangeiros no país.
BP=SCC+SCK
SCC=BC-RLE
BC=E-M
SCK=Id+Emp+Fin-Am
i) Reservas internacionais (RI): como o BP contabiliza todas as transações com o exterior, ele é,
também, o registro de todas as entradas e saídas de divisas do país. Assim, se o saldo do BP é positivo,
o país tem um aumento no seu estoque de reservas internacionais (DRI>0) e vice-versa. Exercem
oferta de divisas os exportadores, as empresas que recebem investimentos, os tomadores de
empréstimos ou de financiamentos, os vendedores de serviços no exterior, etc. Os detentores destes
recursos externos recebem moeda doméstica do Banco Central, via instituições financeiras autorizadas
a operar na área cambial, permanecendo as divisas em poder do Banco Central. Os demandantes de
divisas, importadores, as empresas que investem no exterior, etc., entregam moeda doméstica às
instituições que operam com câmbio em troca de divisas , as quais são remetidas ao exterior para a
efetivação dos pagamentos. Se a demanda de divisas é maior que a oferta, ocorrem dois efeitos:
diminui o estoque de divisas, já que o BACEN teve que completar a oferta, e diminui a base
monetária doméstica porque a quantidade de moeda recolhida pelo BACEN é maior que a ofertada
na troca de divisas. O contrário acontece quando a oferta de divisas é maior do que a demanda. Este
aspecto será importante no momento que analisarmos as políticas macroeconômicas.
Se BP > 0 = aumenta as reservas internacionais
Se BP < 0 = diminuem as reservas internacionais
j) Necessidades setoriais de financiamento: com as definições acima, é possível chegar a uma
identidade macroeconômica fundamental, a qual mostra as necessidades setoriais de financiamento.
Y=C+I+G+E-M
9
Y-T=Yd=C+Sp
C+Sp=(Y-T)
 (I-Sp)=(M-E)+ (T-G)
 (I-Sp)+(E-M)+ (G-T)=0
I=Sp+Sg+Se
onde Sg= T-G representa o superávit público ou a poupança do governo, Se=M+RLE-E representa o
déficit externo ou a poupança externa, (I-Sp) representa a necessidade de financiamento do setor
privado, (G-T) representa a necessidade de financiamento do setor público e (E-M) representa a
necessidade de financiamento do resto do mundo.
4 - Valores reais e nominais
Para medir a inflação e converter valores nominais em valores reais, deve-se ter um índice de
preços. Um índice de preços é um esquema para medir mudanças no nível de preços de uma
determinada cesta de produtos em relação a um ano base.
4.1 - Construção de um índice de preços
Para construir um índice de preços:
a) Selecionar um ano base, no qual o índice é igual a 100
b) Selecionar uma cesta de produtos, cujos preços serão monitorados no tempo
c) Calcular o custo dos produtos da cesta no ano base
d) Calcular o custo dos produtos da cesta no ano que será comparado com o ano base (ano i)
e) Aplicar a seguinte fórmula:
IPi=100*(Custo da cesta no ano i)/( Custo da cesta no ano base)
onde IPi é o índice de preços no ano i.
4.2 - Usando o índice de preços para medir a inflação
A taxa de inflação (INF) é a mudança percentual no índice de preços de um ano para outro. Ela é
calculada da seguinte forma:
INFt=100*(IPt-IPt-1)/IPt-1
Esta fórmula calcula a taxa de inflação no ano t através do cálculo da mudança percentual do IP no
ano t (ano corrente) e t-1 (ano anterior).
4.3 - Deflacionando valores nominais em valores reais
Os valores nominais, ou correntes, não são corrigidos do efeito da inflação. Os valores reais, por
sua vez, são corrigidos. Deflacionar um valor nominal significa encontrar o valor real de algum valor
nominal, dividindo por um IP apropriado. Para isso, aplica-se a seguinte fórmula: Valor
real=100*Valor nominal/IP
4.4 - Exemplo
a) Ano base: 1997 e, por isso, IP(1997)=100
b) Cesta: 1 camisa, 1 par de sapatos e 1 par de meias
Anos 1 camisa 1 par de sapatos 1 par de meias
1997 R$ 25,00 R$ 50,00 R$ 5,00
1998 R$ 28,00 R$ 50,00 R$ 7,00
1999 R$ 36,00 R$ 60,00 R$ 7,00
10
c) Custo da cesta no ano base: R$ 80,00
d) Custo da cesta no ano de 1998: R$ 85,00, e em 1999: R$ 103,00
e) IP(1998)=100*85/80=106,25 e IP(1999)=100*103/80=128,75
f) INF(1998)=100*(106,25-100)/100=6,25% e INF(1999)=100*(128,75-106,25)/106,25=21,18%
g) Uma camisa custou R$ 28,00 em 1998, R$ 25,00 em 1997 e R$ 36,00 em 1999. Em termos
reais, em qual ano a camisa custou mais barato?
Valor real(1997)=100*25/100=25,00
Valor real(1998)=100*28/106,25=26,35
Valor real(1997)=100*36/128,75=27,96
5 - Desemprego
a) Medida do desemprego
A taxa de desemprego é calculada através de um critério usado em todo o mundo. Para ser um
desempregado, a pessoa deve estar com idade para trabalhar (população economicamente ativa -
PEA), disponível e procurando emprego. A taxa de desemprego normalmente é calculada a partir de
pesquisas amostrais e é considerada desempregada a pessoa que declarar:
- Estar sem trabalho (nem parcial).
- Estar disponível para ocupar um emprego (exclui as pessoas doentes).
- Estar procurando ativamente um emprego (aceitando trabalhar pelo salário vigente).
A taxa de desemprego é calculada da seguinte forma:
TD=100 .(PEA-PO)/PEA
onde TD é a taxa percentual de desemprego, PEA é a população economicamente ativa e PO é o total
de pessoas empregadas (ocupadas).
Figura 7: Fluxograma mostrando a dinâmica do emprego e desemprego.
(PE)
Empregado Desempregado
(OE)
(J) (J)
Inativo
(A) (D)
Obs.: (PE) perda de emprego, (OE) obtenção de emprego, (J) jovens, (D) desencorajamento para procurar
trabalho ou não disposição para trabalhar e (A) aposentadoria.
b) Fontes de desemprego
As principais fontes de desemprego são:
Desempregofriccional: surge dos custos de transação incorridos entre um emprego e outro:
burocracia, falta de informação, mobilidade, dificuldade de adequação entre os desejos do empregador
e do empregado, etc.
Desemprego sazonal: varia sistematicamente em função de determinados eventos que ocorrem
durante o ano. Exemplos: véspera de Natal, épocas de entre-safra de produtos agroindustriais
importantes, atividades ligadas às estações do ano, etc.
11
Desemprego conjuntural: está relacionado à situação econômica (recessão ou expansão) do país ou
região.
Desemprego estrutural: ocorre devido ao progresso técnico poupador de mão-de-obra e, também,
devido às mudanças de qualificação de mão-de-obra requerida pelos empregadores.
6 - Demografia e economia
a) Conseqüências de variações na pirâmide etária da população
À medida que os países se desenvolvem, verifica-se uma tendência a: redução da taxa de natalidade
(redução do número de filhos por família e casamentos com idade mais avançada dos cônjuges),
redução da taxa de mortalidade e aumento da expectativa de vida. Isto aumenta a participação relativa
de pessoas idosas na sociedade, trazendo conseqüências econômicas importantes:
Dimensão financeira: ocorre um aumento relativo dos encargos com a seguridade social. Fazendo
um corte transversal na pirâmide social, fica difícil manter um equilíbrio previdenciário entre os
inativos que têm direito aos recursos e os contribuintes ativos. Estes últimos, além da queda de sua
participação devido ao aumento relativo de idosos na pirâmide social, apresentam tendência a diminuir
ainda mais devido ao desemprego estrutural.
Dimensão comportamental: redução da poupança e do investimento e aumento relativo do
consumo de bens essenciais, como a alimentação e o vestuário, e serviços, como o lazer e o turismo. A
nível agregado, a tendência é que haja uma redução relativa da demanda agregada.
7 - Evolução e sincronia das principais variáveis macroeconômicas
Os principais indicadores da “saúde” econômica de um país são: o crescimento econômico; o
desemprego; a inflação; a balança comercial; o balanço do setor público; e a distribuição da renda. Em
função disso, as políticas macroeconômicas são avaliadas por dois critérios fundamentais: a) pela sua
eficiência na melhoria da performance econômica, ou seja, pelos seus efeitos no sentido de aumentar
as taxas de crescimento do produto agregado, reduzir as taxas de inflação e reduzir as taxas de
desemprego; e b) pela sua capacidade em promover o bem-estar social, melhorando a distribuição da
renda e reduzindo a pobreza.
As variáveis macroeconômicas acima referidas tendem ter características padronizadas de evolução
e sincronia. Estes aspectos serão analisados brevemente a seguir.
7.1 - Crescimento econômico
O produto interno bruto real per capita dos países tende a crescer continuamente ao longo do
tempo. As fontes mais importantes deste crescimento são o aumento na disponibilidade de fatores de
produção (capital e trabalho) e avanço tecnológico
a) Demanda de produtos: PIB=f(K, L); K=f(I, d); I=f(r, S, P, K/L, D, TIR); Kt=Kt-1(1-d)+It-1.
Aumentos na demanda de produtos criam a necessidade das empresas aumentarem a produção. Para
isso, precisam aumentar sua capacidade de produção (estoque de capital), o que é feito através de
investimentos. Assim, a produção depende do estoque de capital e do trabalho e a acumulação de
estoque de capital depende do desgaste físico (depreciação) e dos investimentos de reposição e de
expansão. Para viabilizar os investimentos, os empresários precisam de crédito, cuja fonte é a
poupança agregada.
O investimento agregado depende, também, da taxa de juros, da taxa interna de retorno (fluxo de
receitas e despesas), da proporção estoque de capital/trabalhador, da demanda agregada, dos preços
dos bens de capital e das expectativas dos empresários quanto ao futuro da economia.
b) Poupança: S=f(r, Yd, PMC). A poupança é determinada basicamente pela taxa de juros, pela
renda disponível e pela propensão média a consumir. A diversificação da produção, as inovações
financeiras (multiplicação de caixas automáticas e cartões de crédito) e o aumento das facilidades e o
conforto nas compras (criação dos supermercados, shopping centers, sistemas de compras via Internet,
etc.) aumentaram a propensão a consumir das famílias.
12
c) Crescimento demográfico: o crescimento demográfico tem efeito negativo sobre a proporção
estoque de capital/trabalhador, efeito positivo sobre a demanda agregada e positivo sobre a
disponibilidade de força de trabalho. O aumento da expectativa de vida das pessoas também afeta
positivamente a demanda.
d) Aumento da urbanização: a urbanização tende a provocar um aumento do consumo global na
economia, aumentando a demanda agregada. Este aspecto favorece o investimento e tende, também, a
aumentar os gastos públicos (serviços, infra-estrutura, etc.).
d) Variabilidade de produtos e serviços: além do aumento da diversidade os produtos tendem a ter
um período de vida mais curto (obsolescência, produtos descartáveis, etc.). Isto provoca um aumento
do consumo e da propensão a consumir com efeitos favoráveis sobre a demanda e desfavoráveis sobre
a poupança.
e) Progresso tecnológico e educação: tem efeito positivo sobre a produtividade dos fatores,
reduzindo custos e preços e aumentando a demanda.
f) Políticas econômicas: para aumentar o estoque de capital, os formuladores de políticas
econômicas devem estimular principalmente a poupança e o progresso técnico. Isto pode ser alcançado
através de aumentos da poupança pública (redução do déficit público) e privada (estímulo à formação
de planos individuais de aposentadoria, isenções de tributos sobre cadernetas de poupança, etc.) e
estímulos à pesquisa, regulamentação adequada de patentes, etc.
g) Convergência: estudos mostram que as taxas de crescimento econômico tendem a ser maiores
nos países ou regiões em desenvolvimento do que nos países ou regiões mais avançadas. Por exemplo,
entre 1900 e 1994, o produto per capita no Brasil cresceu em média 2,9% ao ano, enquanto que nos
EUA, no mesmo período, cresceu 1,8% ao ano. Os fatores determinantes desta convergência seriam,
basicamente, o custo relativo dos fatores de produção (mais baratos nos países subdesenvolvidos), as
novas tecnologias de produção (possibilitam uma maior mobilidade do capital) e as inovações nos
sistemas de transporte e comunicação.
h) Modelo: alguns modelos macroeconômicos mostram que aumentos de poupança hoje levam a
aumentos de consumo no futuro (modelo simples para simulações em Excel).
7.2 – Ciclos econômicos
O crescimento econômico ao longo do tempo se dá na forma de ciclos (econômicos ou de
negócios).É da natureza econômica a presença alternada de momentos de prosperidade e de recessão.
Estas flutuações na economia são provocadas por alterações na oferta e na demanda agregadas.
Analisaremos alguns dos fatores que causam alterações nestas variáveis econômicas.
a) Choques na demanda agregada: C=f(Yd, P); G; I=f(r, S, P, D, K/L, TIR); BC=f(TC, P, PW, D,
DW). Assim, fatores como a formação de expectativas favoráveis por parte dos empresários
investidores, o aumento das aquisições do governo, a redução das taxas de juros, etc. proporcionam
um aumento da demanda agregada. Este aumento na demanda ocasiona um aumento na produção e,
com isso, as empresas contratam mais trabalhadores e utilizam mais intensamente os fatores de
produção. Com o passar do tempo, os níveis mais elevados da demanda e do emprego vão pressionar
os preços e os salários e, à medida que eles aumentam, o produto volta ao seu nível natural
(provavelmente mais elevado do que no nível inicial).
b) Choques na oferta agregada: Q=f(RT, CT). Os choques do lado da oferta normalmente
decorrem de variações nos custos de produção. Pode-se citar, por exemplo, o aumento no preço de
insumos importantes (petróleo), aumento do salário(definido pelo governo ou por pressão dos
sindicatos), quebras de safras agrícolas (aumentam o preço das matérias-primas), mudanças legais e
regulamentações (legislação ambiental), estratégias empresariais (formação de cartéis, fusões, etc.),
inovações tecnológicas e gerenciais, etc.
c) Choques externos: são cada vez mais importantes, dado as interdependências crescentes entre as
economias, tanto no mercado real quanto no financeiro. Exemplos de choques externos: políticas
cambiais e comerciais, crises financeiras, mudanças na demanda mundial, etc.
13
d) Rigidez de preços e quantidades: decorrente de fatores como problemas de infra-estrutura,
restrições institucionais, informação assimétrica, regulamentações públicas, legislação, custos de
ajustamento
e) Mudanças tecnológicas (Schumpeter): alteram a estrutura produtiva, aumentam a produtividade
dos fatores, reduzem custos de produção, criam novas demandas
f) Políticas econômicas e reformas estruturais: as políticas de estabilização, como a fiscal, a
monetária, a comercial e a cambial, afetam mais diretamente a demanda agregada, enquanto que as
reformas estruturais, como as privatizações, as regulamentações públicas e as leis de patentes, atingem
mais a oferta agregada.
g) Teoria dos ciclos econômicos reais: esta teoria afirma que as variáveis nominais (preços e
moeda) não exercem efeito algum sobre as variáveis reais da economia (produção e emprego) e que as
flutuações econômicas devem-se, basicamente, a alterações nas políticas fiscais e tecnológicas
(resíduo de Solow).
h) Expectativas dos agentes econômicos: especialmente dos empresários investidores (expectativas
“auto-realizáveis”).
i) Aspectos sociais dos ciclos econômicos: crimes, epidemias, divórcios, stress, alcoolismo, etc.
7.3 – Desemprego
As taxas de desemprego tendem a diminuir com o crescimento econômico. Alguns fatores atuam no
sentido de reduzir as taxas de desemprego e outros no sentido inverso.
a) Aumento do nível de atividade: para produzir mais é necessário contratar mais trabalhadores. No
entanto, com o aumento da produtividade do trabalho, o crescimento do PIB tende a ter efeitos menos
significativos sobre o nível de emprego. A lei de Okun diz que a redução de 1% na taxa de
desemprego está associada a um aumento do PIB e a uma queda de 3% no hiato de produção (PIB
potencial ou de pleno emprego de fatores menos PIB observado).
b) Crescimento relativo do setor terciário: além do aumento da produção, ocorre, também, uma
significativa alteração do tipo de emprego e, consequentemente, do tipo de empregado demandado.
Com o crescimento da economia, a tendência é que haja um aumento da participação do setor terciário
no PIB e este setor é intensivo no uso do fator trabalho.
c) Salário mínimo legal, contribuições sociais sobre os salários e pressões dos sindicatos: um
salário mínimo acima do salário de equilíbrio provoca um aumento do desemprego de “espera”. A
tendência, no Brasil, é de que haja uma maior flexibilização do mercado de trabalho e o fim da
indexação salarial.
d) Salários de eficiência : a teoria dos salários de eficiência diz que salários maiores levam a
aumentos da produtividade do trabalho. Os mecanismos seriam os seguintes: uma melhora na nutrição
do trabalhador provoca um aumento da sua produtividade; um maior salário faz com que a
rotatividade da mão-de-obra seja menor; um maior salário mantém e atrai os melhores empregados na
empresa (seleção adversa); e um maior salário provoca um aumento do esforço dos trabalhadores,
aumentando o risco de fazer “corpo mole” (risco moral). A manutenção de salários de eficiência
(elevados) tem três efeitos sobre o emprego: diminui a demanda de trabalho; aumenta a procura por
trabalho (efeito substituição de lazer por trabalho); as pessoas trabalham menos para ganhar a mesma
coisa (efeito renda).
e) Entrada das mulheres no mercado de trabalho: a entrada das mulheres no mercado de trabalho
provocou um aumento da força de trabalho e, consequentemente, do desemprego. Mas, por outro lado,
aumentou as possibilidades de emprego porque este fato provocou um aumento da demanda de
determinados produtos (alimentos congelados, etc.) e o aparecimento de estabelecimentos de refeições
rápidas (fast foods, etc.).
f) Inovações tecnológicas: normalmente, as inovações tecnológicas são poupadoras de trabalho. No
entanto, sendo assim, vai ocorrer um aumento da relação K/L na economia o que significa maiores
volumes de investimento por unidade de produto. Comparativamente, portanto, tem-se como resultado
14
uma menor participação do trabalho por unidade de produto e um aumento global da produção e do
investimento. Por exemplo:
PIB0=f(K0; L0)=500; K0/L0=0,40; L0=0,60*500=300
PIB1=f(K1; L1)=600: K1/L1=0,45; L1=0,55*600=330
onde PIB0, K0 e L0 são, respectivamente, o PIB, o capital e o trabalho antes da inovação tecnológica e
PIB1, K1 e L1 são, respectivamente, o PIB, o capital e o trabalho depois da inovação tecnológica
poupadora de trabalho.
g) Crescimento demográfico e migrações: estes fatores apresentam, também, duplo efeito. Por um
lado, aumentam a demanda e, consequentemente, a produção e o emprego, e, por outro, aumentam o
contingente de força de trabalho e, consequentemente, as taxas de desemprego.
h) Efeito de histerese: a taxa de desemprego será maior após um período de recessão do que a
verificada no ponto de partida (antes da recessão). As explicações para isso são duas: as pressões dos
sindicatos ocorrem sobre os empregados e a tendência é que haja uma reserva de mercado e um
aumento salarial, dificultando a empregabilidade dos desempregados; e durante a recessão ocorre
defasagem na qualidade da força de trabalho, dificultando o ajuste entre o emprego e o postulante.
i) Aumento das importações e redução das exportações: as importações aumentam devido à
dependência de insumos e bens de capital do exterior e, também, devido ao aumento dos preços
domésticos. Este, por sua vez, provoca uma redução das exportações. Estes acontecimentos têm efeito
de reduzir a demanda por trabalho.
7.4 - Inflação
As taxas de inflação tendem a crescer com o crescimento econômico.
a) Aumento da demanda: com o crescimento econômico ocorre um aumento da demanda agregada.
Como a oferta normalmente responde de forma defasada aos estímulos da demanda, ocorre um
excesso de demanda de produtos no mercado e, consequentemente, aumento dos preços.
b) Existência de pontos de estrangulamento na economia: com o crescimento aumenta a demanda
e, se há setores ineficientes ou problemas de infra-estrutura, a oferta não conseguirá acompanhar a
demanda, criando focos de pressão de preços (inflação estruturalista).
c) Aumenta o custo dos insumos domésticos: com o crescimento, aumenta a produção e a demanda
de insumos intermediários. Como os preços tendem a aumentar, os custos das empresas aumentam e
serão repassados aos preços.
d) Aumento dos salários: com o aumento dos preços, a tendência é de que os trabalhadores
reinvindiquem maiores salários, aumentando os custos de produção e os preços.
e) Insumos intermediários e bens de capital importados: se a economia depende de insumos e bens
de capital importados, e, se há restrições às importações (tarifas, câmbio, etc.), os custos de produção,
e consequentemente os preços finais, tendem a aumentar.
f) Redução da concorrência: o crescimento da economia normalmente é acompanhado de
crescimento de empresas que vão absorvendo ou se associando com outras, aumentando a participação
e o poder de mercado.
g) Expectativas: com o aumento generalizado de preços e com indexação de preços e salários, a
tendência é de que os agentes antecipem a inflação e remarquem os preços.
h) Aumento das importações e redução das exportações: as importações aumentam devido à
dependência de insumos e bens de capital do exterior e, também, devido ao aumento dos preços
domésticos. Este, por sua vez,provoca uma redução das exportações. Estes acontecimentos têm efeito
de reduzir ou de inibir o aumento dos preços por causa do aumento da concorrência dos importados,
pela redução da demanda externa por produtos domésticos e, finalmente, porque ocorre uma redução
da base monetária na economia (aumento da demanda e redução da oferta de divisas).
15
 i) Políticas econômicas: supondo que a economia não esteja passando por problemas de déficit
fiscal e externo, as melhores opções para combater a inflação, em uma situação de crescimento
econômico, são as políticas cambiais e comerciais.
7.5 – Déficit público
Os déficits orçamentários tendem a diminuir com o crescimento econômico. Os principais fatores
que contribuem para que isso ocorra são:
a) Aumento da arrecadação: com o crescimento da produção e do emprego, ocorre um aumento
da base tributável.
b) Melhoria na distribuição da renda: supondo que com o aumento do emprego haja melhorias no
salário e na distribuição da renda, a pressão para aposentadorias e gastos sociais diminui.
7.6 – Déficit externo
Os déficits na balança comercial tendem a aumentar com o crescimento econômico. Isto ocorre,
principalmente devido aos seguintes fatores:
a) Aumento das importações: com o crescimento da economia, ocorre um aumento das
importações de produtos complementares (bens intermediários e de capital) e, também, um aumento
das importações de produtos concorrentes devido ao aumento dos preços domésticos.
b) Redução das exportações: por causa da perda de competitividade dos produtos domésticos com
o aumento dos preços internos.
c) Modelo de substituição de importações: o Brasil saiu recentemente de um modelo que protegia
a produção nacional e com forte intervenção do Estado. O modelo de desenvolvimento por
substituição de importações possibilitou o aparecimento de setores ineficientes e impediu que a
economia acompanhasse os padrões de produção e tecnológicos internacionais. Com a abertura da
economia (no Brasil isto passou a ocorrer a partir do início da década de 90), um país anteriormente
protegido, estaria mais propenso a ter déficits comerciais.
7.7 – Distribuição da renda
Não há uma correlação nítida entre crescimento econômico e distribuição da renda. A sensação
imediata é de que um maior crescimento econômico traz melhorias na distribuição da renda. Isto, no
entanto, não é tão claro, havendo algumas forças que atuam nesta direção e outras em sentido
contrário.
a) Aumento do emprego e do salário : possibilita melhorias na distribuição da renda porque mais
pessoas participam do processo produtivo e o “bolo” a ser distribuído é maior.
b) Aumento da arrecadação de tributos: abre maiores possibilidades para que o governo faça
gastos sociais.
c) Aumento da inflação: atinge mais fortemente as pessoas que não podem proteger seus recursos
no sistema financeiro e que gastam boa parte da renda em consumo. É sabido que em um processo
inflacionário, primeiro sobem os preços e depois os salários, reduzindo o poder de compra dos
trabalhadores.
d) Aumento das importações e redução das exportações: ambos provocam uma redução do
emprego dentro do país. No caso brasileiro, a redução das exportações tem um alto impacto sobre o
emprego porque o país exporta, principalmente, produtos intensivos em trabalho.
 e) Aumento da participação do lucro na renda: muitos estudos comprovam que a participação dos
lucros na renda aumenta com o crescimento econômico. Este aspecto afeta direta e indiretamente a
distribuição da renda. O efeito direto é uma piora na distribuição, já que o lucro é a fonte de renda das
pessoas que tem mais dinheiro. O efeito indireto é favorável pois o lucro tende a estimular novos
investimentos.
16
CAPÍTULO II - INSTRUMENTAL ANALÍTICO: COMPORTAMENTOS E
FUNCIONALIDADE MACROECONÔMICA
1 - Introdução
O objetivo deste capítulo é construir um instrumental analítico para posteriormente se fazer
análises de políticas macroeconômicas. Com este instrumental poderemos ter uma idéia mais clara
sobre as relações entre os agentes econômicos, suas motivações, ou seja, os fatores que afetam seus
comportamentos e a interação entre seus comportamentos individuais e as restrições
macroeconômicas.
Veremos, por exemplo, que as famílias se comportam ativamente, respondendo às mudanças de
uma série de variáveis. Primeiro, elas definem o montante de sua renda líquida que é destinado ao
consumo e o montante que é destinado à poupança. Segundo, elas agem como que se maximizassem
uma função utilidade, restritos à renda disponível. Daí resulta a demanda por produtos, os quais podem
ser oriundos de produção interna ou importados.
O governo, por seu lado, não apresenta um comportamento endógeno ativo na economia. A sua
receita é definida pelos diferentes tributos, cujas alíquotas são exógenas. Os componentes da despesa
são, via de regra, considerados constantes em termos reais ou obedientes a uma determinada taxa
exogenamente definida de crescimento ou redução.
As empresas são, presumidamente, minimizadoras de custos de produção e, dessa forma,
comportam-se ativamente na escolha ótima do emprego de fatores e uso de insumos intermediários.
Esta escolha é feita com base nos preços e restringidos a uma determinada tecnologia de produção.
Além disso, com base nos preços relativos e na produção, elas decidem a proporção ótima entre
vendas da produção no mercado doméstico ou externo de forma a maximizar sua receita. Da resolução
dos problemas de minimização de custos das empresas e de maximização de receita obtém-se a
demanda de fatores, a oferta para o mercado doméstico e a oferta para exportações. As decisões
quanto ao investimento dependem, fundamentalmente, da demanda e, consequentemente, da sua
produção.
O resto do mundo, conforme a suposição de país pequeno, age no sentido de adquirir toda a
produção ofertada para exportação pelo país em estudo, ao preço internacional. Da mesma forma, ele
atende a todas as necessidades de importações deste país, cobrando o preço internacional para cada
produto. Alternativamente, pode-se considerar o resto do mundo como um monopólio que define os
preços das importações e um monopsônio que estabelece o preço das exportações do país em estudo.
Para uma melhor compreensão das inter-relações existentes entre os agentes e os mercados da
economia, observe o fluxograma da Figura 8, o qual mostra a estrutura básica da economia brasileira,
conforme o instrumental analítico utilizado neste trabalho.
17
Figura 8: Estrutura de relações entre os diferentes agentes da economia.
Oferta
de
trabalho
Exógena Demanda
de
trabalho
Capital t+1
Insumos
interme-
Diários
Valor
adicionado
Produção
Doméstica Mercosul
Resto
do
mundo
Exportações Vendas
Domésticas
Importações
Resto
Do
Mundo
Mercosul
Consumo
intermediário
Consumo
das
famílias
Consumo
do
governo
Investimento
Fonte: Fochezatto (1999).
18
2 – Famílias
A noção de função consumo macroeconômica foi, primeiramente, desenvolvida por Keynes (1936).
Em sua teoria, o consumo (C) é função da renda presente das famílias. Kuznets (1942) critica a
fórmula keynesiana dizendo que ela ignora a existência de defasagens de ajustamento do consumo à
renda. Este autor verificou, através da análise de séries temporais de 50 anos, que a trajetória do
consumo é mais estável que a da renda dos consumidores. As variações da renda afetam mais a
poupança que o consumo. Das tentativas feitas para resolver esta contradição, surgiram as teorias
intertemporais: a teoria da renda permanente de Friedman (1957), a qual afirma que o consumo é
determinado pela renda permanente dos agentes e não apenas pela sua renda presente; e a teoria do
ciclo de vida de Modigliani e Brumberg (1954) e Ando e Modigliani (1963), a qual, além da renda
permanente, leva em conta também o patrimônio dos agentes. Outros autores, como Duesenberry(1949) e Brown (1952) permaneceram dentro do esquema keynesiano, incorporando outros elementos
explicativos do consumo.
Embora Keynes não se interessasse pelas decisões individuais de consumo e poupança, mas apenas
pelo resultado global do conjunto das decisões, as abordagens contemporâneas geralmente consideram
o comportamento dos consumidores com base nos fundamentos microeconômicos. A não ser que seja
um consumidor esquizofrênico, as decisões de compra de bens e serviços, de moradia, de aplicações
financeiras, de procura de emprego dependem umas das outras. Segundo os ensinamentos da
microeconomia, estas decisões resultam de um comportamento de otimização sob as restrições sócio-
econômicas dadas pelo ambiente.
Na análise do comportamento das famílias, as questões mais importantes a estudar são os
determinantes do consumo, da repartição da renda entre consumo e poupança e das decisões
financeiras. Nesta análise, os principais indicadores de comportamento são:
a) Os coeficientes orçamentários, os quais mostram o destino dos gastos das famílias nos
diferentes produtos. Estes coeficientes são um indicador da qualidade de vida, pois permitem que se
analise a evolução no tempo da participação da alimentação, saúde, educação, lazer, cultura, etc. no
orçamento das famílias.
b) A propensão média e marginal a consumir. A propensão média a consumir (PMC) mostra a
proporção da renda disponível das famílias que foi gasta com consumo em um determinado período de
tempo (PMC=C/Yd ). Uma medida interessante é a da PMC para diferentes níveis de renda das
famílias. A tendência é de que ela caia à medida que a renda se eleva. Outro indicador é variação da
PMC em diferentes épocas. A propensão marginal a consumir (PMgC) mostra a variação dos gastos
com consumo por parte das famílias quando a sua renda aumenta em uma unidade (PMgC=dC/dYd).
c) A propensão média a poupar (PMS), que mostra a proporção da renda disponível das famílias
que não é gasta com consumo ou que é mantida como poupança (PMS=Sp/Yd ).
d) Evolução dos gastos com consumo em proporção ao PIB (C/PIB). Um aumento relativo do
consumo no PIB tende a ter efeitos depressivos sobre o crescimento da economia no longo prazo pois
afeta a capacidade da economia financiar o investimento agregado. O país fica na dependência de
poupança externa.
PMC=C/Yd=548/717=0,764 ou 76,4%
PMgC=(Cn-Cn-1)/(Ydn-Ydn-1)=(548-484)/(717-646)=0,900 ou 90,0%
PMS=Sp/Yd=169/717=0,236 ou 23,6%
Tabela 1: Evolução dos principais indicadores referentes ao
comportamento das famílias no Brasil (%).
Anos 1994 1995 1996 1997
PMC (%) 71,8 72,2 74,9 76,4
PMgC (%) - 72,7 88,0 90,0
PMS (%) 28,2 27,8 25,1 23,6
C/PIB 59,6 59,9 62,1 63,2
19
 2.1 - Fatores determinantes do consumo
2.1.1 – A renda das famílias
A renda é o principal determinante do consumo. Keynes, em sua lei psicológica fundamental, diz:
“os homens tendem a aumentar seu consumo à medida que sua renda aumenta, mas não de uma
quantidade tão grande quanto o aumento da renda”. Esta afirmação sugere que a propensão média a
consumir diminui com o aumento da renda. A partir desta definição de Keynes, várias críticas e
tentativas de definir melhor a função consumo foram aparecendo. Analisemos brevemente as
principais.
a) Distinção entre curto e longo prazo (Kuznets, 1946)
A crítica de Kuznets foi no sentido de que a lei psicológica fundamental de Keynes se aplicaria
apenas para o curto prazo. Para o longo prazo ele encontrou uma propensão média a consumir estável,
embora com inclinação mais acentuada (um valor de b maior).
C=a+b*Y (função consumo de Keynes)
C=c*Y (função consumo de Kuznets); sendo que c>b
b) A hipótese da renda relativa (Brady e Friedman, 1945)
De acordo com esta hipótese, os indivíduos consomem bens e serviços em função de seus gostos e
da renda mas, também, em função do comportamento das outras pessoas. A renda é relativa em função
da posição do indivíduo na sociedade, de sua localização espacial, faixa etária, raça, tipo de vida, etc.
A idéia é que há interdependências nas decisões de consumo por parte das pessoas e que, por isso,
fatores como moda e propaganda têm influências importantes nas decisões de consumo.
A hipótese da relatividade da renda pode ser vista também sob o ponto de vista temporal. Segundo
Brown (1952), deve-se incorporar um componente de defasagem ou de memória na função consumo
para capturar o efeito do consumo no período anterior.
Ct=a+b*Yt+c*Ct-1
sendo que c mede a memória do indivíduo e tende a zero no longo prazo.
Outra variante desta abordagem é a hipótese da irreversibilidade das decisões de consumo ou
“efeito de cliquet”. Duesenberry (1952) diz que as pessoas não aceitam reduzir seu padrão de consumo
e, em uma situação de queda de sua renda, elas tendem a reduzir sua poupança e não o consumo.
Assim, em caso de redução de renda, o consumo é função da renda presente e da renda máxima obtida
no passado.
Ct=a+b*Yt+c*(Y0-Yt); quando Y0>Yt
Ct=a+b*Yt; quando Y0<Yt
Ct=b*Yt; para o longo prazo
sendo que c é a memória da renda passada e tende a zero no longo prazo.
c) A teoria da renda permanente (Friedman, 1957)
Segundo Friedman, a teoria keynesiana do consumo, ao afirmar que ocorre uma diminuição da
propensão a consumir com o aumento da renda, justifica a intervenção do Estado na economia. Por
exemplo, em uma economia fechada, o equilíbrio oferta (Y) e demanda (D) é dado por Y=C+I+G.
Para conservar o equilíbrio no tempo, é necessário que DY=DD e, como o C cresce menos rapidamente
que a renda (lei psicológica fundamental), é preciso que o I ou o G aumentem proporcionalmente mais
que sua participação na demanda agregada. Se isso não acontecer, a deficiência de demanda vai
provocar uma queda da produção e do emprego que, por sua vez, provocará uma queda na renda e no
consumo e a economia poderá entrar em uma recessão profunda.
Em uma economia aberta, outra alternativa para reequilibrar a oferta e a demanda seria gerar
excedentes exportáveis. Friedman criticou esta teoria e afirmou que o consumo no tempo t não
depende apenas da renda presente mas também da renda futura que o consumidor espera obter (renda
20
permanente). Ele define a renda permanente como a soma atualizada (valor presente) das rendas
presente e futura. O problema desta definição é saber-se qual a renda e a taxa de juros no futuro. Para
resolver este problema, ele propôs um cálculo de renda permanente através de um processo de
previsão adaptativa usando um coeficiente de correção de erro.
We=Y0+Y1/(1+i)+...+Yn/(1+i)n
We=Yp/(1+i)+...+Yp/(1+i)n=Yp*S(1/(1+i)n
sendo que We é a riqueza do consumidor, i é a taxa de juros, Y0, ...Yn é a renda no período zero,
...período n e Yp é a renda permanente.
d) A hipótese do ciclo de vida (Ando e Modigliani, 1963)
Esta hipótese é desenvolvida sobre a relação patrimônio-consumo e sua originalidade é destacar a
influência dos ativos patrimoniais no comportamento de consumo. A idéia é de que os indivíduos
tomam suas decisões de consumo em função de suas perspectivas de ganhos presentes e futuros,
levando em consideração seu ciclo de vida. De acordo com esta hipótese, os indivíduos maximizam
sua utilidade, não em função da renda corrente, mas a longo prazo, sobre a duração de sua vida. Se ele
não se preocupa em deixar herança, toda sua renda será consumida ao longo de sua vida. A função
consumo é do tipo:
Ct=a*Yt+b*At-1
onde Yt é a renda da atividade; At-1 é o patrimônio acumulado até o período anterior; a é a propensão
marginal a consumir; b é porcentagem do patrimônio consumido.
Esquematicamente, pode-se dividir a vida de uma pessoa em três períodos, conforme o gráfico
abaixo: a) juventude, em que a renda é pequena e o indivíduo se endivida (área J); b) adulta, onde o
indivíduo ganha mais do que gasta, reembolsando os empréstimos de quando era jovem e acumulando
poupança para quando se aposentar (área Ad); e c) aposentado,quando o indivíduo se utiliza da
poupança acumulada durante sua vida ativa (área Ap).
Gráfico 1: Ciclo de vida das pessoas.
 Consumo
 Renda Consumo
 Ap
 Ad Renda
 J
 0 A B C t
Obs.: J representa a fase jovem, fora do mercado de trabalho; Ad representa a fase adulta, no mercado
de trabalho; e Ap representa a fase de aposentadoria, fora do mercado de trabalho.
Em um corte transversal num dado momento do tempo há indivíduos nos três estágios. Haverá
equilíbrio entre os excedentes de recursos do período dois com a escassez de recursos dos períodos um
e três? Depende da pirâmide de idade da população. Por exemplo, se se tratar de uma sociedade
envelhecida, haverá menos empréstimos, menos poupança e menos investimentos das famílias em
moradia.
2.1.2 – Outros determinantes do consumo
Os outros determinantes do consumo são, principalmente, a tributação, a distribuição da renda, os
preços, a inflação, a taxa de juros e o patrimônio.
21
a) Tributação
Os impostos diretos e indiretos podem influenciar o consumo de duas formas: segundo a óptica das
pessoas taxadas e segundo o caráter das políticas adotadas pelo poder público. Além disso, deve-se
observar a forma como incidem estes impostos: se de forma progressiva, neutra ou regressiva.
Se os impostos sobre a renda incidem de forma progressiva e se as políticas públicas possibilitarem
uma melhoria na distribuição da renda, a tendência é de que haja um crescimento do consumo porque
as pessoas de baixa renda, em geral, apresentam uma maior propensão a consumir. Além disso,
admitindo que as pessoas tributadas não reduzam seu consumo (efeito de “cliquet”), o efeito será ainda
mais significativo. O contra-argumento dos liberais a essa questão é de que os impostos têm efeitos
nefastos sobre a poupança, principal fonte de financiamento do investimento.
Quanto aos impostos indiretos, deve-se olhar as alíquotas e os produtos gravados. Para uma análise
mais precisa, lembrar que a elasticidade-preço do consumo diminui com o aumento da renda das
pessoas e com a essencialidade dos produtos.
b) Desigualdades na distribuição da renda
Dado que o valor da propensão dos pobres a consumir é maior do que a dos ricos, deduz-se que a
propensão a consumir é crescente com o aumento da participação dos salários na renda nacional (N.
Kaldor, J. Robinson, e L. Pasinetti). Em outros termos, uma melhoria na distribuição da renda tende a
aumentar a propensão a consumir da economia e, consequentemente, reduzir a propensão a poupar.
Por exemplo, suponha que a renda do trabalho seja igual a RL e do capital igual a p tal que a renda
da economia seja igual a Y=RL+p. Suponha, também, que a propensão a consumir dos trabalhadores
seja PMCw e dos capitalistas seja PMCp tal que 0< PMCp<PMCw<1 . Com isso, pode-se encontrar a
propensão média a consumir da economia da seguinte forma:
C= (PMCp*p)+(PMCw*RL)
PMC=C/Y
PMC=(PMCp*p/Y)+(PMCw*RL/Y)
PMC=PMCw+(PMCp -PMCw) *p/Y; RL/Y=[1-(p/Y)]
Atribuindo diferentes valores para o termo p/Y verifica-se que, quanto menor for esta relação,
maior será a propensão a consumir da economia.
Tabela 2: Brasil: Evolução do salário anual médio por trabalhador e da propensão a consumir da
economia.
Anos 1994 1995 1996 1997
W (U$/ano) 3.206 3.889 4.254 4.349
C/PIB (%) 59,6 59,9 62,1 63,2
c) Os preços e a inflação
A inflação reduz o consumo das famílias devido ao efeito renda negativo. Isto ocorre mesmo
quando os salários estão indexados porque o reajuste deste se dá de forma defasada em relação ao
aumento dos preços (os preços sobem pelo elevador e os salários pela escada). Isto faz com que as
pessoas antecipem o consumo, gastando o mais rápido possível seus recursos na aquisição dos bens de
que necessitam.
As expectativas quanto ao comportamento dos preços também tem um papel importante nas
decisões de consumo. Se a expectativa é de aumento da inflação, as pessoas podem antecipar seu
consumo presente e vice-versa.
Um ambiente inflacionário tende a prejudicar os credores e a ajudar os devedores por causa da
redução do poder de compra do dinheiro. Uma pessoa que tenha tomado um empréstimo no início do
ano para devolvê-lo no final do ano apenas com a correção monetária e que, neste ínterim, tenha usado
22
os recursos para comprar algum bem, no momento da devolução terá tido um ganho real superior ao
credor. Com isso, se as pessoas que tomam empréstimos apresentam uma propensão a consumir maior
do que os credores, a tendência é que haja um aumento do consumo.
d) A taxa de juros
Os efeitos da taxa de juros sobre o consumo pode ser notado tanto no nível microeconômico quanto
no macroeconômico. No primeiro caso, um aumento na taxa de juros remunerando a poupança pode
ter uma dupla influência: diminuir o consumo presente pelo efeito substituição de consumo presente
por consumo futuro (o ganho de juros é transferido para compras futuras) e aumentar o consumo
presente pelo efeito renda provocado pelo aumento da remuneração da poupança (o ganho de juros é
transferido para compras presentes). A priori, é difícil saber qual será o saldo líquido.
Por exemplo, imaginemos um agente consumindo R$800,00 e poupando R$200,00 de sua renda de
R$1000,00. Suponha que a taxa de juros real inicial seja de 5% ao ano, o que lhe daria um ganho de
R$10,00 na poupança. Agora, suponha que a taxa de juros aumente para 10% ao ano, o que o
consumidor vai fazer? Pelo efeito substituição, ele pode aumentar a poupança para, por exemplo,
R$250,00 ganhando R$25,00 de juros ou, pelo efeito renda, ele pode diminuir a poupança para obter a
mesma receita em juros (x*0,10=R$10,00; x=R$100,00). Analisando globalmente este exemplo, pode-
se concluir que: a) no caso de efeito substituição, o C passou de R$ 800,00 para R$750,00 e a S passou
de R$200,00 para R$250,00; b) no caso de efeito renda, o C passou de R$ 800,00 para R$900,00 e a S
passou de R$200,00 para R$100,00; e c) na média dos dois efeitos, o C passou de R$800,00 para
R$825,00 e a S passou de R$200 para R$175,00.
O aumento da taxa de juros diminui o consumo porque encarece o crédito e, assim, reduz as
possibilidades de antecipação do consumo. Com a falta de recursos próprios e supondo uma renda
constante, o consumidor ou deixa de fazer as compras a prazo, reduzindo o consumo presente, ou as
faz e se endivida, reduzindo o consumo futuro. Num país com uma grande massa assalariada de baixa
renda, os efeitos sobre o consumo são significativos.
No nível macroeconômico, o aumento da taxa de juros encarece os empréstimos, afetando
negativamente o investimento, o que, por sua vez, vai afetar o emprego a renda e, finalmente, o
consumo.
Com tantos efeitos contraditórios, é melhor ficar com a idéia de que não há uma determinação clara
quanto aos efeitos líquidos de um aumento da taxa de juros sobre o consumo das famílias.
e) O patrimônio das famílias
O patrimônio das famílias pode influir no consumo de duas formas. Primeiro, se as famílias
poupam com o objetivo de constituir um patrimônio, seremos tentados a dizer que o aumento do
patrimônio freia a poupança e estimula o consumo. A idéia é que a motivação para a poupança é cada
vez mais fraca com o aumento do patrimônio.
Segundo, considerando que a poupança é o complemento do consumo na renda, pode-se deduzir
que a propensão a poupar varia no mesmo sentido que o crescimento da economia. Isto explica o fato
dos países com maiores taxas de crescimento apresentarem maior propensão a poupar(por exemplo, o
Japão).
Disto se conclui que o crescimento econômico tem um papel determinante na explicação da
evolução do consumo e da poupança dos países. Esta conclusão, no entanto, nos remete ao principal
determinante do consumo, dado que o aumento do crescimento nada mais é do que o aumento da
renda.
2.2 – Determinantes da poupança
Considerando um mundo onde não há incerteza e nem herança, é claro que, a nível
microeconômico, a poupança de cada agente é nula durante a duração de sua vida. Durante o ciclo de
vida, o indivíduo poupa um montante exatamente suficiente para cobrir suas necessidades de consumo
ao longo de sua vida ativa e inativa. Sendo assim, porque a poupança macroeconômica não é nula?
23
a) Porque a população é composta de gerações de agentes e, portanto, em cada momento, se o
crescimento demográfico é positivo, há jovens em fase de poupança e idosos na fase de despoupança.
Uma taxa de poupança macroeconômica positiva aparece, portanto, devido à coexistência de gerações
diferentes e, mantendo todo o resto constante, ela é tanto maior quanto maior o crescimento
demográfico.
b) Porque a renda per capita é crescente ao longo do tempo, refletindo o crescimento da
produtividade. Os jovens são mais ricos que os velhos que eles substituem e, portanto, sua poupança
tende a ultrapassar a despoupança das pessoas idosas.
c) Poupar para a aposentadoria não é único motivo. As pessoas podem poupar para deixar uma
herança para seus filhos, superior a que elas receberam. Se isto ocorrer, há um saldo positivo de
poupança macroeconômica.
d) Se o futuro é incerto, a incerteza quanto aos rendimentos futuros faz com que as pessoas, para se
precaverem, poupem mais.
3 – Governo
3.1 – Indicadores de comportamento do setor público no Brasil
Além dos referentes ao déficit primário e operacional, outro indicador importante é a influência da
carga tributária bruta (T) sobre a economia.
T=(td+t)/PIB=(119+125)/866=0,282 ou 28,2%
Tabela 3: Evolução dos principais indicadores relacionados ao setor público (% do PIB)
Anos 1981 1986 1991 1994 1995 1996 1997 1998
T (%) 25,2 26,1 24,4 27,9 28,0 28,2 28,2 29,0
Dp (%) - -1,6 -2,7 -5,2 -0,3 0,1 1,0 0,0
Do (%) 6,3 3,6 0,2 -1,1 5,0 3,8 4,3 7,8
Juros (%) 6,3 5,2 2,9 4,1 5,3 3,9 3,3 7,8
3.2 – Receitas e despesas do governo
A receita do governo (RG) vem de: coleta de impostos diretos provenientes da tributação da renda
dos trabalhadores e das empresas (td); impostos indiretos incidentes sobre as transações com bens e
serviços na economia pagos pelos produtores e consumidores (t); tarifas de importação sobre os
produtos oriundos do resto do mundo (tar); impostos de exportação sobre os produtos enviados ao
resto do mundo (te); e contribuições sociais (tc). Os gastos do governo decorrem da aquisição de bens
e serviços (G) e transferências líquidas ao setor privado interno e ao exterior (tr).
RG=t+td+tar+te+tc
DG=G+tr
A poupança do governo é definida pela diferença entre a receita e a despesa. Se a despesa for maior
que a receita, o governo estará em déficit e, portanto, com necessidade de financiamento. Neste caso, o
governo pode obter recursos mediante empréstimos junto ao setor privado interno ou empréstimos de
instituições externas, incorrendo, respectivamente, em dívida pública interna ou externa.
Sg=(t+td+tar+te+tc)-(G+tr)
3.3 – Princípio do multiplicador
Os efeitos de um dispêndio autônomo sobre o produto interno ou a renda de uma economia é a
questão central da teoria keynesiana. Segundo Keynes, uma variação autônoma de dispêndio por parte
dos componentes da demanda final provoca um efeito sobre a renda de magnitude maior do que
montante de dispêndio inicialmente alocado. Daí o surgimento do princípio do multiplicador, o qual
representa o número (k) pelo qual é preciso multiplicar a despesa adicional (DA=DC+DI+DG) para
24
calcular o suplemento de renda gerado (DY). Podemos, portanto, representar o multiplicador da
seguinte forma:
DY=k*DA, com k>1
k=DY/DA
O novo dispêndio (DA) provoca um primeiro efeito sob a forma de uma injeção de renda
suplementar no circuito econômico. Em um segundo momento, o agente que recebe esta renda irá
gastar uma parte dela em consumo, cuja magnitude dependerá de sua propensão marginal a consumir
(cDA). Em um terceiro momento, quem receber esta parcela também vai gastar parte dela [c(cDA)] e
assim sucessivamente. Como a propensão marginal a consumir é menor que um, a renda adicional será
cada vez menor. Em uma economia aberta, o efeito multiplicador é menor porque parte da renda
gerada sai do fluxo interno devido às importações. Em outras palavras, parte do efeito multiplicador
vai ocorrer nos países com os quais o país transaciona. O gráfico abaixo ilustra o efeito multiplicador
de um aumento do gasto autônomo do governo.
Gráfico 2: Efeito multiplicador de um aumento do gasto autônomo do governo.
 C, G, I
 Y=C+G+I
 C+(G+DG)+I
 C+G+I
 0 Y (Y+DY) Y
É por causa deste efeito expansivo sobre a economia que Keynes foi levado a defender a
intervenção ativa do estado na economia, especialmente em momentos de deficiência de demanda.
Uma das limitações desta análise é a suposição de que a oferta seja suficientemente elástica para
atender cada aumento da demanda e de que os preços permaneçam estáveis.
3.4 – Intervenções do Estado
A intervenção do Estado não é abordada do ponto de vista de suas incidências sobre as estruturas
industriais ou na sua dimensão financeira. Somente as despesas e receitas relevantes para a política
fiscal são analisadas. Vimos que a demanda global satisfeita pelo produto agregado é composta de
consumo das famílias (C ), do investimento (I ), das aquisições públicas (G) e as aquisições do resto
do mundo em relação ao nosso produto (E).
Y = C+I+G+E
Quanto à oferta global, ela corresponde à renda nacional que é repartida entre o Estado, sob a
forma de tributos (T), e as famílias que podem gastá-la em consumo de produtos domésticos (C),
produtos importados (M) ou poupá-la (Sp).
Q = C+S+T+M , com Q =Y
O equilíbrio contábil entre dispêndio e renda se escreve, portanto:
I+G+E = S+T+M
Um dos resultados da análise do multiplicador é que um aumento das despesas (G) acompanhado
de um aumento de receitas de um mesmo montante (T) não se neutralizam quanto a seus impactos
25
sobre a renda nacional. Isto porque o multiplicador do gasto faz crescer a economia e, com isto, a
arrecadação do governo. É como se o governo pudesse gastar num primeiro momento para, num
segundo momento, obter os recursos oriundos do crescimento engendrado pelo gasto inicial.
Observando a identidade acima, o desequilíbrio provocado pelo aumento autônomo de gastos do
governo (G) será contrabalançado pelo aumento da poupança (S), aumento da arrecadação de tributos
(T) e/ou pelo aumento das importações (M).
4 - Empresas
4.1 - Introdução
As empresas utilizam insumos intermediários, fatores de produção (capital e trabalho) e pagam
tributos ao governo. Com isso, o valor da produção doméstica corresponde à soma dos gastos com
cada um destes componentes. A hipótese microeconômica é que, dado um sistema de preços de bens e
de fatores, cada empresa maximiza suas vendas (receitas), descontadas do custo dos insumos, dos
fatores de produção e dos tributos. Assim, conhecendo a função de produção, pode-se deduzir a oferta
do produto produzido pela firma, sua demanda de insumos intermediários e a demanda de capital e
trabalho.
A demanda de trabalhoé derivada do problema de maximização de lucro da empresa, sob a sua
restrição tecnológica. Resolvendo este problema, verifica-se que a demanda de trabalho é uma função
da produção, do preço do produto e do salário.
4.2 – Indicadores de comportamento das empresas
Podemos destacar três indicadores: taxa de margem, taxa de investimento e taxa de
autofinanciamento.
Taxa de margem (TM): mede a parte que cabe às empresas na repartição do valor adicionado.
Trata-se, portanto, de seu excedente operacional bruto. Pensando a nível de uma empresa em
particular, a taxa de margem reflete a sua política de preços, ou seja, a margem de lucro aplicada sobre
os custos de produção.
TM=p/VA=411/742=0,554 ou 55,4%
Taxa de investimento (TI): mostra o esforço de investimento das empresas e é calculado dividindo-
se a FBCF (investimento menos variação de estoques) pelo valor adicionado.
TI=FBCF/VA=0,229 ou 22,9%
Taxa de autofinanciamento (TA): mede a parte de recursos oriundos de poupança interna no
financiamento do investimento. Ela é medida dividindo-se a poupança interna pelo investimento.
TA=(Sp+Sg)/I=146/184=0,795 ou 79,5%
Tabela 4: Evolução dos principais indicadores relacionados ao
comportamento das empresas (%)
Anos 1994 1995 1996 1997
TM (%) 52,4 54,7 54,6 55,4
TI (%) 24,5 24,4 22,6 22,9
TA (%) 95,7 86,3 82,2 79,5
4.3 – As técnicas de produção
A operação de produção das empresas consiste, de maneira geral, em transformar, pelo trabalho,
bens e serviços existentes em outros bens e serviços e em tirar desta transformação um lucro. Os bens
e serviços que entram nestas operações de transformação são os insumos e os fatores de produção, os
quais podem ser fatores primários (terra, capital) ou de consumo intermediário (matérias-primas).
Estes fatores são combinados para obter os bens e serviços resultantes da operação de transformação,
26
que são os produtos. As matrizes de insumo-produto mostram quantitativamente estas relações para
todos os setores da economia.
A função de produção descreve, para cada bem produzido por uma empresa, a relação que existe
entre as quantidades utilizadas de diferentes fatores de produção e a quantidade máxima do bem ou
serviço que pode ser produzido. Pode-se falar, também, em função de produção agregada ou
macroeconômica, representando o conjunto dos setores da economia. As funções de produção
agregadas são fortemente inspiradas na microeconomia, apesar das controvérsias que isto apresenta.
4.3.1 – As funções de produção agregadas mais simples
De uma forma geral, as funções de produção presumem a existência de apenas dois fatores de
produção: o trabalho e o capital (agregando todos os bens de capital, equipamentos, construção, terra,
etc.). Assim, a função de produção agregada da economia pode ser escrita da seguinte forma:
Q=f(K, L)
a) Função de produção a fatores complementares
Representa o caso em que os fatores de produção são combinados em proporções fixas para obter
uma determinada produção. Para produzir uma unidade de produto é necessário a unidades de capital e
b unidades de trabalho. A função de produção é escrita da seguinte forma:
Q=mínimo(K/a, L/b)
sendo que os coeficientes a e b são fixos, a*Q representa a quantidade de capital utilizada, b*Q
representa a quantidade de trabalho utilizada, a=K/Q representa o coeficiente ótimo de capital, b=L/Q
representa o coeficiente ótimo de trabalho, 1/a representa a produtividade do capital e 1/b representa a
produtividade do trabalho.
b) Função de produção a fatores substituíveis
Se é possível substituir uma certa quantidade de um dos fatores por uma quantidade adicional de
outro fator e manter a quantidade de produção, então a função de produção é dita a fatores
substituíveis. Estas funções normalmente estão sujeitas a lei dos rendimentos marginais decrescentes, a
qual diz que “se adicionarmos continuamente quantidades de um fator, mantendo o outro fator
constante, a sua produtividade marginal tende a diminuir a partir de um certo ponto”.
Quando estamos diante deste tipo de função, as variáveis relevantes a serem observadas para tomar
decisões quanto à substituição de fatores são: a taxa marginal de substituição, a qual mostra o quanto
de capital deve ser adicionado para substituir uma unidade de trabalho e manter a produção constante,
e vice-versa; a produtividade marginal do capital (dQ/dK) e do trabalho (dQ/dL); e o preço de uma
unidade de capital (r) e de trabalho (w). Uma situação de equilíbrio ocorre quando:
(dQ/dK)/(dQ/dL)=r/w ou
(dL/dK)=r/w
Por exemplo, suponha que a produtividade marginal do capital e do trabalho seja, respectivamente,
igual a 5 e a 10 unidades e que o preço unitário seja, respectivamente, igual a R$ 20,00 e R$ 30,00.
Neste caso, está a empresa empregando a quantidade ótima de fatores? Em caso negativo, qual o fator
que a empresa deveria aumentar a utilização ou qual deveria diminuir?
5/10¹20/30
Como os preços dos fatores são exógenos, para estabelecer a igualdade a empresa deveria aumentar
o lado esquerdo da equação, o que significaria substituir capital por trabalho. Ao diminuir a
quantidade de capital, como os rendimentos marginais são decrescentes, a produtividade do capital
aumenta. O contrário acontece com o trabalho, dado que haverá um aumento de sua participação na
produção. Esta substituição possibilitará encontrar o equilíbrio.
As principais funções a fatores substituíveis são a Cobb-Douglass, a CES (Constant Elasticity of
Substitution) e a Translog (transcendental logarítmica).
27
4.3.2 – O progresso técnico
Tradicionalmente, o progresso técnico é introduzido de forma a, dadas as quantidades de fatores e
insumos, haver um crescimento da produção. Ele decorre de descobertas científicas, incorporação de
novas técnicas de produção, aprendizado dos empregados, aumento dos níveis de educação, etc. e
pode revestir-se de várias formas.
a) Quanto a sua incorporação
O progresso técnico pode ser não incorporado (autônomo), ou seja, aquele que se aplica
uniformemente a todos os recursos, homens e máquinas, independentemente da idade, da época de
instalação e da geração das pessoas. O progresso técnico incorporado, pelo contrário, se aplica a certas
partes do equipamento ou a certas gerações de trabalhadores.
b) A neutralidade do progresso técnico
O progresso técnico é dito neutro quando, apesar de aumentar a produção, não altera a participação
dos fatores. Em outras palavras, as relações capital-produto (K/Q), a produtividade média do trabalho
(Q/L) e/ou a intensidade de capital (K/L) não se alteram. O progresso técnico é dito poupador de
capital quando ocorre uma redução da intensidade de capital (K/L); poupador de trabalho quando,
pelo contrário, ocorre um aumento da intensidade de capital; e neutro ou intensivo em produção,
quando não altera a relação K/L, poupando os dois fatores.
Gráfico 3: A neutralidade do progresso técnico.
 K
 Q
 Solow (poupa o fator capital)
 Harrod (poupa o fator trabalho)
 Hicks (poupa os dois fatores)
 L
c) A endogenização do progresso técnico
O progresso técnico depende de fatores econômicos, do ambiente produtivo e de esforços da
sociedade em termos de pesquisa e estímulo às inovações tecnológicas. Por isso, o progresso técnico
deve ser considerado endógeno.
“Essencialmente, o fenômeno reside no fato de que o progresso técnico responde aos estímulos
econômicos e se manifesta nas direções nas quais ele é mais lucrativo. Assim, o encarecimento

Outros materiais

Outros materiais