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Vandi Dogado Colaboração Sandra Cristina Melchior Inteligência e Aprendizagem Desafios mentais 2ª Edição São Paulo 2013 Para Sandra Cristina Melchior, amada esposa e colaboradora desta obra. Agradecimentos Gostaria de agradecer, imensamente, à psicopedagoga Sandra Cristina Melchior, que ofereceu subsídios teóricos para a constituição do capítulo sobre a aquisição da escrita e da leitura. Acrescentei este capítulo por julgar importante para a reflexão de alfabetizadores sobre as causas das dificuldades de algumas crianças durante os procedimentos didáticos de alfabetização. Para isso, foram descritos estudos da argentina Emília Ferrero, aluna de Piaget no doutorado, que contribuiu efetivamente para o esclarecimento de mecanismos nos processos de ensino-aprendizagem da escrita e da leitura. Houve confronto das diferenças no processo de ensino-aprendizagem da escrita e da leitura entre as teorias cognitivistas e as do condicionamento. Todos os créditos desse capítulo são de Sandra que, além da enorme contribuição, é minha amada esposa, companheira de todos os dias. Não poderia deixar de mencionar as contribuições do amigo Hindemburg Melão, fundador da sociedade Sigma Society, instituição social para pessoas com elevados QIs. O capítulo sobre Testes de QI: uma visão psicométrica tem como base os seus artigos sobre o tema publicados no site Sigma Society, portanto, não poderia deixar de oferecer-lhe todos os créditos desse capítulo. Melão destacou-se por possuir uma inteligência lógica elevada e por ter batido o recorde de xadrez às cegas, que foi registrado no Guiness Book. É exímio conhecedor de psicometria, inclusive já elaborou diversos testes psicológicos para várias instituições. Alguns de seus testes são de grande profundidade e distinguem-se dos tradicionais testes de QI, principalmente por não considerar o tempo. Agradeço ainda a todos que, em algum momento de minha vida, ajudaram a construir o hábito da leitura e da escrita. Sou grato àqueles que despertaram o gosto pela pesquisa científica e filosófica. Sumário Sumário Prefácio ........................................................................................................................09 Introdução ....................................................................................................................18 PARTE I Capítulo I - Inteligência e Filosofia ................................................................................26 Capítulo II - Testes de QI ...............................................................................................36 Capítulo III - Inteligência ou Inteligências?.....................................................................46 Capítulo IV - O Cérebro Humano....................................................................................52 Capítulo V - Teoria Interacionista de Jean Piaget ..........................................................60 Capítulo VI - Teoria Interacionista de Vygotsky .............................................................70 Capítulo VII - Diferenças entre as Teorias de Piaget e de Vygotsky ...............................77 Capítulo VIII - Inteligência, Escrita e Leitura....................................................................84 PARTE II Capítulo IX - Inteligência, senso comum e banalização..................................................100 Capítulo X - Genialidade, internet e êxito.......................................................................116 Capítulo XI - Inteligência e as novas tecnologias da comunicação e informação ...........132 Capítulo XII - Considerações Finais..................................................................................149 Capítulo XIII - Desafios Mentais .......................................................................................175 Sobre o autor....................................................................................................................200 Referências Bibliográficas.................................................................................................203 Prefácio Inteligência é um dos temas mais intrigantes da ciência e, no fundo, todos querem ser inteligentes. É comum ver pessoas chamarem os colegas de “burro” (termo politicamente incorreto). Basta o indivíduo fazer uma pergunta ingênua ou mostrar que não tem conhecimento sobre determinado assunto, lá vem o famigerado “burro”. Nem se sabe ao certo a origem dessa metáfora. Talvez seja porque o burro (animal) quando submetido a uma tapa só enxergue a sua frente. No sentido próprio, seria a pessoa de pouca visão ou visão unilateral. Há quem diga que essa linguagem figurada nasceu porque o burro é um animal trabalhador e, no senso comum, quem trabalha muito não é lá muito “inteligente”. Claro que isso não passa de uma grande besteira. As pessoas gostam de ser consideradas inteligentes e, ao mesmo tempo, muitas ofendem as outras com objetivos de autoafirmação. André Chénier disse certa vez que “com um pouco de inteligência e muita soberba, queremos passar por alguém neste mundo. Que triste herança!” Chénier estava absolutamente correto. Que triste herança! Se tivermos algumas habilidades intelectuais avançadas, devemos utilizá-las para ajudar outras pessoas. Não podemos nos valer de facilidades para humilhar ou prejudicar alguém. René Descartes afirmou que “não há nada tão equitativamente distribuído no mundo como a inteligência: todos estão convencidos de que têm o suficiente”. Este fato é plenamente constatável no nosso cotidiano. Os indivíduos consideram-se inteligentes e incomodam-se veemente se alguém mencionar o contrário. É obvio que Descartes foi irônico quanto ao “equitativamente distribuído”. Ao proferir tal frase, pretendia mesmo atacar a arrogância das pessoas que possuem vaidades intelectuais. Em contrapartida, as pessoas idolatram sujeitos com habilidades excepcionais. Por exemplo, John Nash, ganhador do Nobel de Economia (embora este prêmio seja considerado um Nobel, não foi deixado por Alfred Nobel), quando veio a São Paulo causou furor em sua palestra. Todos queriam chegar perto do gênio da Teoria dos Jogos. Ainda mais porque, além de gênio matemático, Nash era esquizofrênico e teve sua conturbada vida contada, de forma romântica, no filme “Uma Mente Brilhante”. Outros sujeitos se sentem menos inteligentes porque possuem autoestima baixa, muitas vezes originada na própria escola, devido a métodos inadequados e atitudes antiéticas de certos professores. Nas práticas docentes, deve-se evitar que crianças sofram bullying de colegas ou de professores. Ser chamado de “burro” pelo “educador” pode deixar sequelas emocionais por toda a vida. Muito do que é dito no dia a dia não corresponde nem de longe a inteligência. Justamente por haver grande confusão do que seja inteligência, decidi escrever esta obra para esclarecer, de forma sintética, um pouco do que a ciência descobriu sobre a mais intrigante das características humanas. Ainda que fascinante, alerto de que a inteligência não deve ser considerada mais importante do que o bom caráter. Pretendo indicar a relação da inteligência ou das inteligências com o processo de ensino-aprendizagem, assim, esse livro poderá ser um formidável recurso didático para professores, alunos de licenciatura e prestadores de concursos públicos, não deixando de ser interessante para leigos no assunto, porquanto pode subtrair alguns equívocos do senso comum. No último capítulo, há uma ampla gama de desafios mentais para melhorar algumas habilidades intelectuais de qualquer leitor. Esta obra, com exceção dos desafios mentais, não oferece nada de novo no campo da pesquisa sobre cognição, na realidade, é uma síntese de diversas teorias científicas e reflexões filosóficas. Mesmo que, em algum momento, tenha emitido minha opinião sobre o tema, as ideias concentram-se nas teorias piagetianase vygotskyanas. Não foi possível explanar detalhadamente cada conjuntura teórica abordada, nem mencionar todas as teorias sobre a inteligência existentes, por isso, é de suma importância, para quem quiser aprofundar no contexto cognitivo, ler cada obra citada na bibliografia. Tentei, na medida do possível, tornar os conceitos claros e utilizar uma linguagem bem simples. Não sei se alcancei êxito, mas anseio que o leitor possa extrair proveito do corpo teórico exposto no livro. Então, boa leitura! Na sequência, um breve resumo de cada capítulo: Na Introdução, expus determinados conceitos e teci uma série de questionamentos sobre a inteligência e sua relação com o estudo continuado, o sucesso profissional e as novas tecnologias da informação e comunicação, retomando-os em capítulos posteriores. É uma prévia do que virá nos próximos capítulos, mas de antemão, incita certas reflexões sobre possibilidades no uso da inteligência e seus benefícios nas práticas escolares. No Capítulo I, busquei, inicialmente, mostrar o embate ideológico entre o inatismo e o empirismo na Filosofia que, posteriormente, serviram de base para a sustentação de conceitos cognitivos na Psicologia e na Pedagogia. A questão sobre se nascemos inteligentes ou nos tornamos inteligentes, durante nossas vidas, continua provocando discordâncias e acirrados debates. Uma geração de cientistas mais moderada, atualmente, não nega as influências da natureza e do ambiente na formação da inteligência. No Capítulo II, delineei a história e o uso dos testes psicométricos e a tentativa de medir a inteligência humana. Antes, porém, ressalto de que os testes de inteligência mensuram apenas algumas habilidades intelectuais lógicas; no entanto, na ausência de outros recursos, é um importante instrumento clínico para diagnosticar dificuldades intelectuais. Embora a utilização dos testes de QI divirja de meu ponto de vista, é um dever democrático expor suas acepções, já que no âmbito de pesquisas sobre a inteligência encontrei um campo aberto e, ainda, há muitas divergências e respostas a serem buscadas. Não posso descartar anos de pesquisas seguindo esta tendência científica, contudo afirmo que os testes de QI não trazem nenhum benefício para as práticas educativas em sala de aula. No Capítulo III, questionei se possuímos uma única inteligência ou diversas inteligências. Apoiei-me na Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner, muito debatida em diversos lugares do mundo no campo educacional. Sou adepto dessa teoria, pois, minha experiência e observações em sala de aula me possibilitaram verificar que alguns alunos têm facilidade com determinados processos mentais e dificuldades com outros. Além do mais, Gardner sustentou muito bem sua teoria com as novas descobertas da neurociência. No Capítulo IV, destaquei algumas descobertas recentes sobre o cérebro e, consequentemente, a esperança de cura para certas doenças degenerativas do sistema nervoso central como o Mal de Parkinson e o Mal de Alzheimer e, ainda, a possibilidade de aprimorar a inteligência humana. A maior descoberta, nos últimos anos, foi a capacidade plástica que o cérebro possui de se transformar e de gerar novas células, um fenômeno que os neurocientistas designaram de neurogênese. No Capítulo V, descrevi um pouco sobre a vida de Jean Piaget, os principais conceitos de sua teoria e a implicação nas práticas pedagógicas. Trouxe algumas experiências do autor, sua tese de que as crianças passam por distintas fases de desenvolvimento da inteligência e pela construção do conhecimento por meio da interação entre o sujeito e o mundo que o cerca. Piaget é considerado o maior pesquisador sobre a inteligência, cometeu alguns equívocos, mas elucidou muitos mecanismos de como aprendemos, processamos informações e solucionamos problemas. No Capítulo VI, teci um rápido relato sobre a vida de Vygotsky, discuti os principais conceitos de sua teoria e sua implicação nas práticas pedagógicas. Vygotsky morreu cedo e não chegou a constituir uma completa teoria, mas suas ideias são discutidas até hoje. Seu conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é um dos subsídios mais importantes que legou à educação. Foi o primeiro pesquisador a mencionar as interações do sujeito com os conhecimentos socioculturais. Também, foi destaque em sua teoria do desenvolvimento da inteligência a importância da linguagem simbólica. No Capítulo VII, ofereci as principais divergências entre as teorias de Vygotsky e de Piaget: pensamento-linguagem e desenvolvimento- aprendizagem. Em contrapartida, mesmo tendo diferenças, destaquei que as duas teorias no âmbito educacional não são excludentes, mas complementares, por isso reforço que os professores podem se beneficiar das duas teorias para construir seus próprios métodos de ensino. No Capítulo VIII, a psicopedagoga Sandra Cristina Melchior, propõe um debate sobre a aquisição da escrita pelas crianças e, consequentemente, a elaboração de hipóteses para construir as noções de significado dos signos linguísticos e da unidade textual. Nesse capítulo, foram oferecidas as características de professores, de alunos e de escolas, conforme as Teorias de Aprendizagem. Depois, retomei a relevância da escrita e da leitura no capítulo sobre as novas tecnologias da informação e da comunicação. No Capítulo IX, não trouxe uma pesquisa científica, mas relatos factuais do cotidiano e da internet, visões populares e pseudocientíficas sobre a inteligência. São observações que podem indicar que, independente do conceito de inteligência, há comportamentos considerados culturalmente inteligentes. Algumas observações deste capítulo são estranhas, curiosas e, às vezes, até pitorescas. Ofertei, ainda, uma série de estudos científicos de caráter duvidoso. No Capítulo X, também não apresentei uma pesquisa científica, como nos oito primeiros capítulos da Parte I. Aproveitei, principalmente, a internet para extrair o meu ponto de vista de algumas curiosidades sobre genialidade, internet e êxito profissional. Mesmo não sendo uma pesquisa científica, não deixei de mencionar as fontes e os dados para sustentar minhas alegações acerca de que o esforço sobrepõe as limitações impostas pela natureza. O Capítulo XI, para ser sincero, não estava previsto. Pretendia escrever futuramente um livro dedicando-me às relações entre as novas tecnologias, a inteligência e a aprendizagem, mas a morte de Steve Jobs, no dia em que o citava em um dos capítulos desse livro, fez-me repensar e, pelo menos, discutir um pouco tais relações. Ainda que a “inspiração” tenha sido a morte de Jobs, abordei vários tipos de novas tecnologias. No capítulo XII, argumentei sobre as possibilidades de melhoria da inteligência num futuro não tão distante. Tentei prever alguns acontecimentos sobre a pílula da inteligência e os implantes de chips no cérebro. Transcrevi várias frases de intelectuais célebres sobre a inteligência. Algumas são verdadeiras falácias, outras servem como reflexões filosóficas. No Capítulo XII, proporcionei vários desafios mentais para que sirvam não só como passatempo, mas também para aguçar a capacidade intelectual de solucionar problemas. Ressalto não haver evidências científicas de que estas atividades aumentem a inteligência, como afirmam certos livros, todavia podem melhorar habilidades específicas de raciocínio: interpretação, compreensão, domínio linguístico, hábito de pensar logicamente, atenção, concentração e observação. O principal objetivo deste capítulo é oferecer entretenimento ao leitor e recursos pedagógicos a professores em sala de aula. Alguns exercícios servem apenas para o leitor refletir sobre suas próprias habilidades, numa tentativa de provocar autoconhecimento. Não exibirei as respostas dos exercícios para impossibilitar consultas antecipadas, sem o devido esforço mental. Alguns exercícios são de minha autoria, outros são adaptados e há aquelesoriundos de pesquisa bibliográfica, geralmente, de livros que propõem questões similares aos testes de QI, assim, além de o leitor usá-los como desafios mentais, servem como exemplos de como são os testes de inteligência. Almejo que os leitores possam ler e criticar nossas falhas, para que nas próximas edições eu possa melhorar o conteúdo. Introdução “Uma inteligência é medida primeiramente pela sua habilidade em manter ao mesmo tempo duas ideias opostas e, ainda assim, funcionar.” F.Scott Fitzgerald Diante de uma sociedade impregnada de informações e de novas tecnologias da comunicação, seletiva e exigente, o indivíduo contemporâneo necessita de estudo continuado para alcançar êxito em sua vida profissional. Nesse contexto, a sociedade do conhecimento e da informática coloca-nos perante desafios cerebrais muito profundos durante toda a vida, fazendo com que tenhamos de aprender a aprender e aprender a fazer. Deste modo, precisamos recorrer à nossa inteligência e desenvolvê-la, mas afinal, o que é inteligência? As teorias científicas sobre o desenvolvimento da inteligência não conseguiram oferecer uma completa definição do que venha ser “inteligência”. Há diversas definições científicas, muitas delas contraditórias. Além do mais, cada indivíduo tem uma ideia do que seja a inteligência. O conceito também muda de uma cultura para outra, em alguns países é inteligente o líder religioso, quem se orienta no mar seguindo as estrelas, os indivíduos que dominam certos animais ou que têm harmonia com a natureza. Muitas definições sobre a inteligência se confundem com comportamentos considerados inteligentes numa sociedade. Seguem algumas acepções existentes de inteligência que encontramos tanto na ciência quanto no cotidiano, mas a maioria é própria do ocidente: capacidade de solucionar problemas, de criar produtos em uma determinada cultura, de antecipar fatos, de distinguir o fundamental do não fundamental, de adaptar-se ao ambiente e de aprender facilmente. De acordo com o psicólogo de Harvard, Steve Pinker, inteligência é a capacidade de atingir objetivos. Na sociedade ocidental, são mais valorizadas as habilidades lógico- matemáticas e as lógico-linguísticas, já que o mundo da informática exige tais capacidades, entretanto existem outras aptidões como a emocional, a prática e a criatividade que, também, são importantes para o sucesso profissional. Outro fator que leva os ocidentais a acreditarem que o raciocínio lógico seja a própria inteligência vem dos testes de QI, aliás, alguns cientistas afirmam que estes testes confirmam exatamente se um sujeito é ou não inteligente. Ao observar pessoas bem-sucedidas, notam-se certas características ou comportamentos inteligentes, como gosto por resolver problemas e tolerância ao sofrimento. Esses indivíduos abdicam de práticas prazerosas, pelo menos por certo tempo; para estudar, trabalhar ou economizar. Os bem-sucedidos seguramente não desistem de seus objetivos, mas são flexíveis. Se falharem, procuram múltiplas estratégias para alcançar suas metas. Talvez, neste ponto, encontra-se a principal diferença entre o teimoso e o perseverante: ambos não desistem, contudo o teimoso “bate sempre na mesma tecla”, enquanto o perseverante é alternativo na busca por soluções. Os “vencedores”, geralmente, têm o hábito de antever os acontecimentos para que nenhuma surpresa ocorra. São encontrados no trânsito bons exemplos de antevisão de fatos, por exemplo, um motorista tem a preferência de entrar em uma via, mas prefere diminuir a velocidade, mesmo sabendo que a “mão” seja sua, para esperar o outro veículo passar; pois prevê uma provável imprudência e, como resultado desta ação, evita um possível acidente. Determinados sujeitos conseguem fazer isso em distintas situações sociais e atravancar muitos acontecimentos desagradáveis. Outro ponto relevante observado são os indivíduos que diferenciam facilmente o importante do não importante e, ainda, separam o desejável da prioridade, por exemplo, muitos indivíduos possuem uma diversidade de contatos sociais, isto é, conhecem pessoas de boa e de má índole, não obstante, sabem exatamente em quem confiar; por exemplo, optam desde cedo por seguir as orientações de um professor a ouvir a de um conhecido ou amigo (Evidentemente, se a orientação do professor for pertinente e vice- versa), bem como possuem paciência suficiente para adquirir o que precisam e não, simplesmente, o que desejam. A capacidade de adaptar-se a um ambiente proporciona uma grande vantagem na vida profissional. Há pessoas que sempre dizem ou fazem o que os outros querem ouvir ou ver, outras fazem ou dizem justamente o oposto. O fato se deve às habilidades de apreender e compreender os mecanismos sociais e a psique humana. Em outras palavras, conseguem perceber sentimentos, ideias, intenções dos outros e de si mesmos (Inteligências Interpessoal e Intrapessoal da Teoria de Howard Gardner). São características marcantes em certos políticos, mas pena que não utilizem para o bem e optem por empregar tais habilidades para ludibriar os eleitores. Além dos bons relacionamentos interpessoais e intrapessoais, existem diversas variáveis para o sucesso profissional, tais como construir bons contatos sociais durante a vida, ser gentil e, sobretudo, dedicado aos seus afazeres, mas nascer em condições financeiras favoráveis ou desfavoráveis pode interferir nesse processo, por exemplo, se Albert Einstein tivesse nascido na região amazônica no século XIX, será que teria se tornado o grande físico e deixado o importante legado à nossa civilização? O esforço pessoal e a autodisciplina são determinantes para o êxito e se sobrepõem aos elementos herdados e ao acaso. Mesmo os gênios se dedicam às suas atividades de dez a quatorze horas por dia, salvo raras exceções. Ademais são infrequentes os exemplos de que a sorte suscite abastança como nos casos dos contemplados na Loteria ou na Mega Sena: a probabilidade de isso acontecer é uma em sessenta milhões. Compensa, desde já, começar a investir na própria formação, não é mesmo? A maioria dessas características citadas, normalmente, é responsável pelo sucesso de indivíduos, mas, até em que ponto isto tem a ver com inteligência? Já que boa parte desses comportamentos pode ser aprendida e colocada em prática por qualquer pessoa. A bem da verdade, existem muitos livros de autoajuda baseados na vida de grandes líderes que ensinam como as pessoas têm de fazer para chegar ao êxito. Mas, algumas das características anteriores podem definir a inteligência? Será que algumas delas não se relacionam mais com a sabedoria? Parece que a experiência, os conhecimentos acumulados e a constante reflexão, se utilizados eticamente, transformam-se em sabedoria, possibilitando muito mais do que sucesso profissional: realização pessoal e espiritual. Existem diversos casos de pessoas extremamente inteligentes que dedicaram parte de suas vidas a ajudar outras pessoas. Um exemplo muito interessante de inteligência aliada à bondade é o do cientista brasileiro Miguel Nicolelis reconhecido como um dos maiores gênios da atualidade e que também mostrou sabedoria ao usar todo o seu prestígio para edificar, em Macaíba-RN, um dos maiores centros de neurociência do planeta. Ainda, por cima, colocou em prática um projeto social permitindo com que crianças da periferia estudem ciência ao lado de grandes neurocientistas do mundo. Muitas considerações do que seja a inteligência se confundem com sabedoria ou com comportamentos que levam ao êxito. Nos EUA, criou-se a perigosa cultura da meritocracia. Nesse contexto, só são considerados inteligentes os bem-sucedidos na vida. Esta divisão entre fracassados e vencedores já provocou muitas tragédias, como o caso do coreano que matou diversos colegas na universidade por se sentir excluído. É natural que, nesse caso, haja outros fatores envolvidos, mas a meritocracia foi indubitavelmente uma dascausas. Justamente por haver confusão do que seja a inteligência, é necessário realizar um estudo teórico e analítico sobre o desenvolvimento cognitivo para, pelo menos, oferecer ao leitor uma ideia de como é formada a inteligência e buscar uma definição mais sintética possível, ainda que isto seja uma tarefa extremamente difícil. Durante o livro serão abordados vários conceitos de inteligência, em alguns pontos haverá concordâncias, em outros haverá divergências. Somente será relevante, esse estudo, se puder ser utilizado na aquisição dos conhecimentos sistematizados e acumulados historicamente na Educação. As escolas devem proporcionar o pleno desenvolvimento intelectual de seus alunos para que eles possam adquirir autonomia de pensar livremente e de argumentar criticamente, especialmente combater mentiras de políticos e de propagandas apelativas encontradas na mídia. Os sistemas de ensino devem proporcionar reflexão sobre suas práticas no mundo contemporâneo e impedir o dogmatismo usual de uma única metodologia teórica para o processo de ensino-aprendizagem. Algumas crianças aprendem bem por intermédio dos métodos baseados no construtivismo, enquanto outras aprendem melhor por meio dos métodos tradicionais. Nesses casos, cabe ao professor utilizar o bom senso para diagnosticar as dificuldades de cada aluno, identificar qual é o método mais adequado para cada caso. Nesse âmbito, os aspectos qualitativos devem se sobrepor aos quantitativos, todavia é um equívoco desconsiderar totalmente os aspectos quantitativos, já que, atualmente, as informações surgem de forma avassaladora e, mesmo selecionando-as, serão bem maiores do que em um passado recente. (LIURY, 1997, p. 71). O homem utilizou a inteligência para proporcionar a cura de muitas doenças, realizar o sonho de voar por meio da invenção de Santos Dumont e dos irmãos Wright, desvendar os mistérios de diversos teoremas matemáticos, construir civilizações, unir corpos a máquinas por meio de próteses controladas pelo próprio cérebro, encantar com tantas e maravilhosas obras artísticas; porém, não conseguiu explicar a complexa formação de sua própria inteligência, mas por meio de muitas reflexões filosóficas e pesquisas científicas encontrou algumas respostas. Seria a inteligência inata ou empírica? Manifestar-se-ia de forma única ou múltipla? São estas respostas que este livro procura elucidar. O termo “inteligência”, neste livro, será empregado sem preconceitos, obstruindo o deslize condicional e estereotipado de superioridade e de inferioridade. É necessário analisá-la considerando todo o seu potencial e limite no ser humano. A pesquisa desta obra se desenvolveu em caráter descritivo nos oito primeiros capítulos da PARTE I, sem a ambição de proporcionar o novo, mas incitar sempre uma intensa reflexão, o despertar da curiosidade e a discussão sobre o uso das teorias da inteligência no processo de ensino-aprendizagem, possibilitando a apreciação de diversas posições acerca de um problema. Já na PARTE II, com mais liberdade e pessoalidade, houve críticas sobre alguns conceitos de inteligência, os preconceitos e as incoerências em muitos estudos. Foi exposta a relação da inteligência com as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTICs) e transcritas frases de alguns intelectuais definindo a inteligência para comprovar a preocupação que as pessoas têm com este construto humano e para instigar reflexão do leitor. A finalidade desta obra sobre a inteligência é aclarar como as teorias desenvolvimentistas da inteligência podem contribuir para as práticas educativas e subtrair alguns equívocos sobre a inteligência. Primeiramente, foram estudados os autores e suas teorias no decorrer da história, depois será explanada uma série de entendimentos sobre a inteligência e o processo de ensino-aprendizagem nas escolas. PARTE I Capítulo I Inteligência e Filosofia Desde as mais alongadas épocas, os seres humanos quando se deparam com problemas tentam resolvê-los. Diferenciam-se de todos outros animais pelo fato de possuírem uma inteligência extremamente complexa. “A inteligência abstrata continua a ser exclusiva do Homo Sapiens” (TELES, 1974, p. 91); embora, estudos com animais em pesquisas recentes demonstrem algum grau de raciocínio em mamíferos, principalmente em macacos como os chimpanzés e os bonobos, inclusive os babuínos têm realizado tarefas em computador que exigem raciocínio abstrato. (RIDLEY, 2004). O bonobo Kanzi da Universidade Estadual da Geórgia, foi criado num ambiente repleto de atividades mentais, adquiriu noções linguísticas fantásticas, usando certos símbolos, consegue solicitar alimentos quando está com fome. Em contrapartida, a diferença de grau entre o raciocínio de um símio e o de um homem tem se mostrado um grande abismo, restando ao homem, no contexto evolutivo, o privilégio de ser a única espécie a usar o pensamento abstrato para provocar profícuas alterações no ambiente em que vive. Às vezes, essas transformações são desastrosas para a humanidade. No decorrer de séculos, tanta complexidade intrigou e intriga filósofos e cientistas que buscam incessantemente explicações para dificuldades e facilidades em solucionar problemas, reter informações na memória, compreender facilmente os fatos, perceber a realidade, raciocinar lenta ou rapidamente, criar produtos e ideias, utilizar símbolos e, se possível, potencializar a inteligência. Na Filosofia, encontramos os primeiros questionamentos em relação ao conhecimento e à inteligência, tais como: Quais os princípios racionais? O raciocínio, a percepção, a razão, a intuição, a criatividade e o conhecimento são inatos ou adquiridos por meio da experiência? Platão defendia a tese do inatismo, argumentava que Sócrates conseguiu fazer um escravo resolver sozinho um complicado teorema de Geometria através de perguntas. Como isso seria possível, indagava Platão, se o escravo não houvesse nascido com a razão e os princípios da racionalidade? Como dizer que conseguiu demonstrar o teorema por meio do aprendizado vindo da experiência, se o escravo jamais ouvira falar de Geometria? (CHAUÍ, 2003, p. 69). Embora não seja o propósito discutir este fato, é interessante esclarecer que as perguntas efetuadas por Sócrates induziam o escravo a oferecer a resposta correta do teorema geométrico, sendo assim, quem chegou à solução foi o próprio Sócrates e não o escravo. Outro filósofo inatista, René Descartes, em um movimento chamado racionalismo, dividiu as origens das ideias em três segmentos distintos. Ideias adventícias são aquelas que surgem de nossas sensações, percepções e lembranças, isto é, são vindas do exterior como a cor, o sabor e o odor. Ideias fictícias são aquelas que criamos em nossas fantasias como o cavalo alado e as fadas. As ideias inatas são aquelas que não vêm da experiência nem das nossas fantasias, elas existem em nós; por exemplo, a ideia de infinito é inata, pois não podemos ter experiência sensorial do infinito nem o imaginar. (CHAUÍ, 2003, p. 69). Os filósofos empiristas opuseram-se veemente aos inatistas afirmando que as ideias racionais são adquiridas através da percepção da realidade vivida por cada indivíduo. O pensador John Locke defendia que o cérebro humano é como uma folha em branco onde são registrados os conhecimentos, seria como se nascêssemos com a cabeça vazia e, com o passar do tempo, ela fosse sendo preenchida. Os principais representantes do empirismo foram Thomas Hobbes, George Berkeley e Davis Hume. A razão é considerada uma faculdade da inteligência humana, por isso, neste instante, não houve intenção de distinguir as peculiaridades entre inteligência e razão, mas centrar na polêmica da dualidade “inatismo-empirismo”, todavia, segundo Teles (1974, p.91) […] a inteligência é uma iluminação que esclarece uma situação obscura, enquanto a razão é uma ânsia de explicação total e coerente do meio, reduzindo tudo a uma unidaderadiante. Nesse momento, razão, inteligência, memória, percepção, criatividade, raciocínio e linguagem não são diferenciados ou inter-relacionados, mas, apenas abordados do ponto de vista reflexivo e dicotômico. As reflexões filosóficas ofereceram as bases científicas para o estudo dos princípios da inteligência e, consequentemente, das teorias de aprendizagem na psicologia do século XX. Neste capítulo, busca-se na Filosofia um pouco da história que viria a fornecer as perspectivas de um estudo científico da inteligência humana. Bem da verdade, é que existem bons motivos para acreditar que as definições não científicas de inteligência dos gregos como raciocínio abstrato na linguagem, na matemática e na geometria, que foram os grandes objetivos das escolas de Platão e de Aristóteles, tenham sido tão marcantes a ponto de fazer com que essas noções durassem milênios e chegassem a influenciar o início da psicologia no fim do século XIX e, ainda, mantivessem até os nossos dias o senso comum de que “ser inteligência” seja dominar a matemática e a linguagem. (GARDNER, 1998, p. 46). Inteligência e Teorias de Aprendizagem Amparando-se nas ideias filosóficas dos empiristas, John Watson principiou o movimento psicológico que, no Brasil, tornou-se conhecido por behaviorismo. A expressão advém do inglês behavior que significa “comportamento”. Watson pretendia oferecer base científica e sustentável à psicologia, dessa forma, fez do comportamento objeto de estudo que seguia rigorosamente os métodos observáveis e experimentais da ciência. (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2002). O seguidor mais importante e perspicaz de John Watson foi Burrhus Frederic Skinner, que realizou amplas pesquisas laboratoriais. Sua tendência de pesquisa ficou conhecida como behaviorismo radical e influenciou decisivamente a educação dos Estados Unidos e do Brasil durante um longo período. A prática das teorias behavioristas no sistema educacional possuía métodos de ensino programado e estratégias de aprendizagem centradas no controle absoluto do professor. Skinner estava otimista com sua pesquisa e acreditou que poderia combater a languidez de qualquer criança e motivá-la a aprender por meio de repetições. Observe suas considerações: Fizemos um estudo da motivação da criança reprimida e descobrimos mais do que podíamos usar. Nossa tarefa era preservá-la, fortificando a criança contra o desânimo. Introduzimos o desânimo tão cuidadosamente quanto introduzimos qualquer situação emocional, iniciamos ao redor dos seis meses. Alguns dos brinquedos em nossos cubículos, com ar condicionado, são projetados para criar perseverança. Um trecho de uma melodia de uma caixa de música ou um padrão de luzes faiscantes é arranjado de maneira a seguir uma resposta apropriada, digamos apertar uma campainha. Mais tarde, a campainha deverá ser apertada duas vezes. É possível construir um comportamento fantasticamente perseverante sem mostrar frustação ou raiva. Pode não surpreender que alguns de nossos experimentos falharam e a resistência ao desânimo tornou-se quase estúpida ou psicológica. Correm-se alguns riscos em trabalhos deste tipo, é claro. Felizmente podemos reverter o processo e restaurar a criança ao nível satisfatório. (SKINNER, apud DAVIS, 1994, p. 30). A inteligência no behaviorismo é formada pelo condicionamento por meio das relações de estímulo-resposta, sendo o hábito o componente mais relevante para a aprendizagem dos indivíduos. Justamente por ser uma teoria em que se aprende pela repetição, o behaviorismo recebeu amplos ataques de outras tendências psicológicas que alegavam que a informação, nesse modelo, era processada mecanicamente e sem reflexão dos conteúdos. O behaviorismo é uma concepção legitimamente ambientalista, em que o homem é “imaginado” como um ser plástico que desenvolve suas características em razão das condições experimentais de onde vive. A prática das teorias ambientalistas nas escolas foi útil para alertar os professores a respeito da importância do planejamento do ensino. A partir desse período, começou a haver clareza nos objetivos, nas avaliações e na organização da aprendizagem. Nesse contexto, o conteúdo deve ser ensinado seguindo uma sequência do mais fácil para o mais difícil. Quando a criança não conseguir acompanhar a aprendizagem dos outros alunos, deverá ser aplicado o reforço da matéria não aprendida (DAVIS, 1994). No entanto, nem sempre este processo sequencial é o mais eficaz, há muitas exceções encontradas na aprendizagem dos alunos. O grande problema das teorias ambientalistas é que provocaram múltiplos prejuízos à prática pedagógica. A educação passou a ser considerada tecnologia, não havendo a menor preocupação com a reflexão sobre sua própria prática. O ato de planejar tornou-se uma grande obsessão dos educadores, que mais se preocupavam com as formalidades comportamentais do que com as operações mentais, as atividades reflexivas e, principalmente, com o desenvolvimento do senso crítico dos alunos. (DAVIS, 1994). Embora o behaviorismo seja inegavelmente uma teoria de aprendizagem mecânica, em algumas circunstâncias, é perfeitamente compreensível o seu uso em sala de aula. O behaviorismo foi muito criticado pelos cognitivistas, teóricos que contribuíram inquestionavelmente para as ações pedagógicas. Os pioneiros e principais representantes desse período foram dois gênios dos estudos psicológicos, Jean Piaget e Lev Semionovich Vygotsky. Ambos procuraram explicar o desenvolvimento e a formação da inteligência das crianças com base na “interação ativa” entre o ser e o mundo. As pesquisas interacionistas encontraram fortes indícios de que a criança sempre é capaz de compreender dinamicamente suas experiências com o objeto do conhecimento e de construí-lo hipoteticamente. Acompanhe o diálogo abaixo: Dug (seis anos e meio), o que é sonho? — Nós sonhamos à noite. A gente pensa em alguma coisa. — De onde vêm os sonhos? — Não sei. — O que você considera? — Que nós mesmos fazemos os sonhos. — Onde está o sonho quando sonhamos? — Aqui (Mostra a Lua através da janela). — Por que lá fora? — Por que nós nos levantamos. — E daí? — Ele foi embora. — Enquanto nós sonhamos, onde está o sonho? — Na nossa casa. — Onde? — Na nossa cama. — Onde? — Bem pertinho. — Se eu estiver no seu quarto, posso vê-lo? — Não... sim, porque você vai estar perto da cama.(PIAGET, apud DAVIS, 1994, p.36). Essa pesquisa dialogada de Piaget, a princípio, parece bem estrambótica, no entanto, a criança realizou operações mentais e estabeleceu hipóteses de onde estaria o sonho, chegando a uma conclusão, mesmo não sendo a correta. Ao contrário de Alfred Binet, pesquisador que se preocupou com as respostas certas em seus testes psicológicos (ver o Capítulo II), Piaget preocupou-se com os processos intelectuais que levariam a criança a fornecer as respostas equivocadas. Os cognitivistas afirmam que o organismo e o meio desempenham ação recíproca em que um influencia o outro, causando uma metamorfose na estrutura cognitiva dos indivíduos. De acordo com essa concepção, o educador deverá intensificar fortemente a interação entre o aluno e o objeto de estudo, provocando uma aprendizagem em que o aluno possa relacionar o significado com a realidade que o circunda. Uma das críticas mais acentuadas que os cognitivistas teciam contra os behavioristas era a de que toda memorização seja um ato meramente mecânico, ou melhor, nos métodos de ensino ambientalistas o aluno apenas decorava, sem compreender o seu significado. Neste ponto, considero que houve falhas em ambas as teorias, as críticas dos teóricos cognitivistas eram muito sensatas; entretanto, começou-se a menosprezar o uso da memória nas escolas, consistindo em um grande equívoco metodológico, pois a memória é um dos pilares que sustenta o raciocínio. Os behavioristas acreditam numa pedagogia natural e defendem que a memória da criança se assemelhaa um balão que se enche espontaneamente. No entanto, pensar dessa forma é desconhecer o verdadeiro funcionamento psicológico da memória; pois, a aquisição de novas informações supõe o uso de um conhecimento prévio e mutável. Evidentemente, que na memorização sem a compreensão do significado há, apenas, o armazenamento das informações na memória de curto-prazo, isto é, podem ser esquecidas rapidamente; enquanto, na memorização significativa as informações são armazenadas e constantemente reorganizadas na memória de longo-prazo. Capítulo II Testes de QI (Quociente de Inteligência) Uma visão psicométrica da inteligência Embora os primeiros testes de inteligência tenham sido criados na China, no século V d.C., somente a partir das primeiras décadas do século XX adquiriram rigor científico em clínicas experimentais de Psicologia. Na verdade, Francis Galton, guiado pela Teoria Evolucionista de seu meio- primo, Charles Darwin, ousou elaborar os primeiros testes, tendo como objetivo eugênico produzir seres humanos mais inteligentes; bem como utilizou pioneiramente estatísticas em pesquisas sobre a inteligência. Acreditava que a inteligência fosse herdada hereditariamente e que poderia ser avaliada; mas, seus testes mostraram-se sem validade científica e ruíram em descrédito. (GARDNER, 1998) De fato, os primeiros testes ocidentais de inteligência válidos foram criados em 1904 e publicados no ano subsequente pelos psicólogos franceses, Alfred Binet e Theodore Simon. É importante distinguir que Binet e Simon se preocupavam com o produto ou resultados dos testes, enquanto Piaget e Vygotsky dirigiram suas pesquisas para os processos mentais que levavam o indivíduo a fornecer respostas erradas em testes. Binet e Simon buscavam um método eficaz, dinâmico, sucinto e objetivo para realizar exames precisos das deficiências intelectuais (Não aprecio a expressão “deficiências mentais” por ter adquirido uma nuança pejorativa em nossa sociedade), então elaboraram testes que, a princípio, estimavam os níveis mentais num escopo em que se relacionava a idade cronológica com o desempenho em testes indicados para outras faixas etárias, por exemplo, caso uma criança com idade de dez anos possuísse desempenho igual à média das crianças de oito anos, segundo os testes teria idade mental de oito anos. Dessa maneira, tornou-se admissível mensurar se a criança era adiantada ou atrasada na aprendizagem, o que, de acordo com os psicometristas, poderia possibilitar uma educação apropriada ao ritmo e à dificuldade de aprendizado de cada criança. Esse intento em minha concepção mostrou-se falho, já que as crianças possuem facilidades em algumas disciplinas e dificuldades em outras, pois pondero que, mesmo os testes psicológicos mais recentes, aferem apenas habilidades matemáticas, linguísticas e espaciais; portanto, os testes são úteis somente para essas disciplinas, deixando uma enorme lacuna quanto às habilidades criativas, práticas e socioemocionais. A expressão Quociente de Inteligência (QI) é atribuída ao psicólogo alemão, William Stern, que transformou em 1912 a proposta de Binet e Simon numa expressão numérica por meio de uma operação aritmética simples: dividia-se a idade ou nível mental pela idade cronológica e multiplicava por cem (IM/IC x 100) para eliminar as discrepâncias que encontrou. Stern considerava os sistemas de idade mental adequados para confrontar somente crianças da mesma idade cronológica; todavia, notou que disparidades similares entre idades cronológicas e mentais tinham implicações distintas para crianças de diferentes idades cronológicas, por exemplo, uma criança de doze anos que possui idade mental de dez anos, possivelmente não teria muita dificuldade na aprendizagem em relação a uma criança de cinco anos com idade mental de três. Utilizando a fórmula, conseguiu oferecer um QI que seguramente apresentava as dificuldades e facilidades de aprendizagem em qualquer idade cronológica, isto é, uma criança funcionando em uma idade mental igual à cronológica teria um QI de 100; entretanto, a criança de doze anos com idade mental de dez teria um QI de 83, um pouco abaixo da média esperada. Aplicando a fórmula, a criança de cinco anos com idade mental de três teria um QI de 60”, quer dizer, uma grande diferença em relação à média “100”. (GARDNER, 1998, 63-64) Alguns pesquisadores afirmam que Stern não multiplicava por cem, mas teria proposto parte da fórmula (IM x IC) para medir a Inteligência, por exemplo, a criança com idade cronológica de dez anos e nível mental de oito anos possuiria o QI 0,8; já que 8/10 = 0,8. Especula-se que foi Lewis Terman, psicólogo americano, que recomendou multiplicar o QI por 100, a fim de subtrair o elemento decimal, seus testes passaram a chamar-se Stanford- Binet. De qualquer maneira, essa fórmula perdurou por décadas e ainda é utilizada em algumas clínicas de Psicologia. Acompanhe mais um exemplo para um melhor entendimento da fórmula: QI = 100 x IM/IC, em que IM = idade mental e IC = idade cronológica, uma criança de dez anos com idade mental de oito teria QI 80, sugerindo um atraso sutil analogamente à média das crianças de idade equivalente, enquanto uma criança com dez anos e idade mental de doze teria QI 120, sugerindo um adiantamento leve em relação à média das crianças de sua idade. Terman ainda propôs classificações para os distintos níveis mentais, em razão dos QIs obtidos em testes. Essas classificações foram adotadas durante várias décadas e algumas clínicas continuam a usá-las até hoje: Classificação de Lewis Terman QI acima de 140: Genialidade 120-140: Inteligência muito superior 110-120: Inteligência superior 90-110: Inteligência normal (ou média) 80-90: Embotamento 70-80: Limítrofe 50-70: Cretino 20-50: Imbecil QI abaixo de 20: Idiota De acordo com Stern, uma criança com cinco anos cronológicos e idade mental de dez anos teria QI 200 e outra criança com sete anos cronológicos e idade mental de catorze também teria QI 200. Defendia que, tanto a criança de cinco anos quanto a de sete anos, ao se tornarem adultas, provavelmente teriam QI 200. Essa ideia também foi abraçada por Terman e todos os expoentes mundiais da Psicometria daquela época. Entretanto, foi observado que essas crianças quando adultas não mantinham o mesmo QI. A que possuía QI 200, aos sete anos, tende a se tornar um adulto com QI 160; enquanto a que tinha QI 200, aos cinco anos, tende a se tornar um adulto com QI 145. A invariabilidade do QI é uma propriedade valiosa e, por isso, colocou a teoria em “xeque”. A deformidade teórica foi notada pelo próprio Terman, em experimentos que duraram mais de trinta anos. Participaram do estudo 1.528 crianças com QIs superiores a 130. Descobriu que havia algo errado, pois os QIs alteravam muito na vida adulta, mas não conseguiu propor uma solução. A solução foi criada por David Wechsler. Na década de 1940, as escalas passaram a ser construídas com base na raridade populacional, isto é, uma pessoa situada no percentil 50 tem QI 100, porque está acima de 50% da população e abaixo de outros 50%, logo tem exatamente o QI médio. Já uma pessoa situada no percentil 84% tem QI 115 (considerando que, estatisticamente, 1 desvio- padrão seja igual a 15), porque numa distribuição habitual, 84% da população possui QI menor que 1 desvio-padrão. Se a média do QI populacional é 100, um indivíduo com 1 desvio-padrão a mais terá QI 115, com 2 desvios-padrão a mais terá QI 130, assim por diante. Do mesmo jeito que quem detém QI 85 se encontra um desvio-padrão a menos da média. Existem escalas que 1 desvio-padrão corresponde a 16, outras, a 24, por exemplo, são equivalentes QIs 115, 116 e 124. O mais relevante não é o número do QI obtido nos testes, mas quantos desvios- padrão a pessoa tem a mais ou a menos em relação ao restante da população, por esse motivo a base deste sistema é a raridade, justamente por alguns sujeitos fugiremda média. A vantagem desse sistema de normatização é que, na maioria das vezes, o QI não sofre alterações expressivas no decorrer da vida do sujeito, como acontecia no sistema anterior, que dividia a idade mental pela cronológica. A partir dos seis anos até a idade adulta, o QI continua quase imutável. É isso que pretendia Stern, mas só foi suficientemente atingido por Wechsler. Além desse aperfeiçoamento no sistema de padronização, Wechsler também propôs mudanças na terminologia das classificações de Terman, usando termos que hoje em dia são reconhecidos como mais apropriados pelos psicólogos. Classificação proposta por David Wechsler QI acima de 127: Superdotação (algumas fontes citam o termo “gênio” para QI>150) 120-127: Inteligência superior 110-120: Inteligência acima da média 90-110: Inteligência média 80-90: Embotamento ligeiro 65-80: Limítrofe 50-65: Debilidade ligeira 35-50: Debilidade moderada 20-35: Debilidade severa QI abaixo de 20: Debilidade profunda Em 1946, foi instituída a Mensa, primeira sociedade para pessoas com QIs elevados, que só acolhia sócios com escores superiores a 98% da população mundial, correspondente a um QI 130 (desvio-padrão = 15). Nos anos subsequentes, foram criadas outras sociedades similares, com critérios seletivos progressivamente mais complicados de serem alcançados nos testes de QI, com exigência de escores iguais ou superiores a 99,9% da população. Esse é o nível de corte da International Society for Philosophical Inquiry, constituída em 1974, aceitando apenas integrantes com QI acima de 150. Os psicólogos tiveram problemas para elaborar testes com questões adequadas para medir corretamente QIs superiores a 130. A Mensa chegou ao limite do que os testes poderiam aferir, enquanto sociedades como Intertel e International Society for Philosophical Inquiry excediam as fronteiras da legitimidade dos testes, porque não era possível provar que uma pessoa com QI 155 tinha inteligência superior a um sujeito com QI 135. Tanto um quanto outro escapavam dos limiares do que os testes de QI poderiam certamente mensurar. A resolução do problema foi sugerida por Kevin Langdon. Em 1973, institui os primeiros testes de inteligência adequados para estimar QIs acima de 130, aliás, mensurava perfeitamente QIs de 160 e 170. Caso Terman tivesse usado testes similares aos de Langdon, provavelmente suas pesquisas com as 1.528 crianças selecionadas teriam sido mais produtivas no que tange o intelecto, pois os testes explorariam a avaliação do pensamento complexo e criativo e não somente a rapidez na solução de problemas simples. Crianças brilhantes não foram notadas nos testes de velocidade utilizados por Terman para selecioná-las. Ao mesmo tempo, diversas crianças sem qualquer habilidade excepcional foram escolhidas para o longo estudo, simplesmente, porque responderam às perguntas dos testes rapidamente. Segundo Melão, seria interessante se algum pesquisador contemporâneo repetisse o estudo de Terman com instrumentos mais apropriados para a classificação das crianças. Os testes de Kevin Langdon são um marco na construção de testes de inteligência sendo tão importantes quantos os de Alfred Binet. Depois de seus testes, foi possível mensurar QIs superiores a 130. Com a nova possibilidade de avaliação da inteligência surgiram sociedades de QIs elevados exageradamente exclusivistas. Ronald Hoeflin criou em 1982 duas sociedades: Prometheus Society e Mega Society. A primeira aceita somente sujeitos com escores superiores a 99,997% da população mundial, ou seja, QI 164. Já a segunda admite membros com escores acima de 99,9999% da população mundial, isto é, QI 176. Em 1990, a Mega Society figurou no Guinness Book como a sociedade de alto QI mais seletiva do planeta, embora haja teóricos que discordem do Guinness. Hoeflin não estava contente com os testes de avaliação de inteligência, por isso, em 1985, passou a elaborar seus próprios testes para aprovação de seus sócios, todavia, tanto os testes de Langdon quanto os de Hoeflin não se mostraram tão eficientes para medir desempenhos tão altivos. Até mesmo Langdon redigiu artigos questionando a acurácia nos escores excessivamente superiores. Recentemente, Bob Seitz e Hindemburg Melão Jr. revisaram os cálculos destes testes. Para isso, cada qual empregou métodos distintos e em cada um deles, encontraram falhas e propuseram novos níveis de corte, em alguns casos houve concordância. Mesmo com a dificuldade de avaliar QIs altíssimos, outras sociedades que se dizem ainda mais exclusivistas foram aparecendo, como a Giga Society, a Sigma VI, Sigma V, Pars e Olympiq. Há várias escalas de inteligência: Wechesler, desvio-padrão 15, possui versões diferentes para crianças e para adultos. Avalia habilidades verbais e não verbais. A escala III para crianças de 6 a 16 anos (Wechsler Intelligence Scale for Children III, WISC) na avaliação verbal há medidas de cultura geral, categorização, aritmética, vocabulário, compreensão e memória auditiva de curto prazo. Já na escala de desempenho completam-se figuras e códigos e montam-se quebra-cabeças. Também, oferece subsídios para diagnósticos de desempenho acadêmico. Stanford-Binet, desvio-padrão 16, aplicado em crianças. Avalia habilidades verbais e não verbais. Escala Cattell, desvio-padrão 24, aplicado em crianças e adultos, mensura a inteligência individual restringindo a influência da cultura, da educação e da fluência verbal. Escala Leiter, serve para avaliar aptidões não verbais de crianças, desvio-padrão 15. Seus testes permitem avaliar crianças com dificuldades de relacionamento e linguísticas, por exemplo, respectivamente o autismo e a dislexia, porque os testes são constituídos por questões em que as crianças têm de manipular figuras mentalmente e não precisam lidar com a linguagem. A escala Raven, pode ser usada tanto em crianças quanto em adultos. Seus testes são não verbais com desvio-padrão 15. Também são compostos por questões de manipulação mental de figuras geométricas. Na educação americana usa-se o exame Teste de Avaliação Escolar-Sigla, SAT, em inglês, que não deixa de ser um teste de QI disfarçado, inclusive com a possibilidade de conversão de seus escores em qualquer escala de testes de QI. Robert Sterberg diz que os alunos passam horas e mais horas de suas vidas estudando nas escolas, nas bibliotecas e nas suas casas para terem o futuro acadêmico determinado pelo SAT, com isto, muitos são excluídos por não ter habilidades lógicas exigidas nestes testes. O novo Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) está indo para o mesmo caminho. Nem sempre é justo o uso desses testes para selecionar candidatos a ingressarem em universidades, pois são exames que avaliam habilidades lógicas, dessa forma, poderiam não ser apropriados para cursos como música, dança, artes cênicas, educação artística..., isto é, cursos que não exijam tantas habilidades lógicas. Bem da verdade é que o Estado poderia oferecer curso superior a todos, sem a exigência de vestibular ou qualquer tipo de exame seletivo, mas, pelas atuais circunstâncias, isto ainda não é possível, tornando estes testes um mal necessário. Capítulo III Inteligência ou Inteligências? Sem dúvidas, por séculos, se discutiu se a inteligência é inata ou adquirida, mas há outra dúvida que assola os estudiosos e, ainda, encontram-se muitas discordâncias: se possuímos um único tipo de inteligência ou se temos diversos tipos de inteligências? O criador da Teoria das Inteligências Múltiplas é o psicólogo, Howard Gardner, da Universidade de Harvard (considerada a maior do mundo). Alguns questionamentos de Gardner são por que crianças que obtiveram notas baixas na escola e escores baixos em testes de QI (Quociente Intelectual) se tornaram habilidosos profissionais e crianças que obtinham excelentes notas e altos QIs fracassaram profissionalmente? O que está por trás disto? (GARDNER, 1995). Segundo Gardner, possuímosdiversos tipos de inteligências, mas a sociedade ocidental considera inteligentes somente pessoas que tenham altas habilidades matemáticas e linguísticas. Se um indivíduo que tenha habilidade musical escolher uma profissão que exija habilidade matemática, provavelmente não será um dos melhores profissionais. Os famosos testes de QI mensuram apenas habilidades lógico-matemáticas e habilidades lógico- linguísticas. Tais testes são considerados instrumentos eficazes para medir a inteligência pela grande maioria dos psicólogos, resultando numa supervalorização dessas inteligências. O próprio Jean Piaget dedicou parte de suas pesquisas a estudar esses dois tipos de inteligências. De acordo com a Teoria das Inteligências Múltiplas, há vários tipos de inteligências, mas destaca apenas oito: Inteligência Lógico-Matemática — encontrada em pessoas que possuem facilidade em realizar cálculos rápidos e complexos, capacidade de raciocínio abstrato e destreza no estabelecimento de conexões mentais. O matemático Henri Poincoré e o físico Cesar Lattes são exemplos de possuidores desse tipo de inteligência. Inteligência Lógico-Linguística — encontrada em pessoas com enorme facilidade com a linguagem, excelente raciocínio semântico e sintático. O compositor e escritor Chico Buarque e linguista Noam Chomsky são excelentes detentores desta inteligência. Inteligência Corporal-Cinestésica — encontrada em pessoas que têm facilidade em solucionar problemas com os movimentos corporais, como os dançarinos e atletas. Dois bons exemplos deste tipo de inteligência são o jogador de futebol Edson Arantes do Nascimento (Pelé) e o jogador de basquete Michael Jordan. Inteligência Espacial — encontrada em pessoas que possuem noções mensuráveis de espaço físico e abstrato, como os arquitetos e pintores. Os pintores Cândido Portinari e Leonardo da Vinci são exemplos dessa inteligência. Inteligência Musical — encontrada em pessoas com facilidade em tocar instrumentos musicais e operar com sons, como os músicos. Exemplo: os músicos Villa-Lobos e Mozart. Inteligência Intrapessoal — encontrada em pessoas com facilidade de reconhecer e controlar as próprias emoções e o próprio comportamento. Exemplos: Dalai Lama e Madre Teresa de Calcutá. Inteligência Interpessoal — encontrada em pessoas com facilidade em lidar com outros indivíduos, reconhecem com facilidade as emoções e comportamentos dos outros. Exemplo: O humorista Jô Soares e Nelson Mandela. Inteligência Naturalista — encontrada em pessoas com facilidade de reconhecer e distinguir elementos da natureza, comum nos índios. Exemplo: Jaques Cousteau. Uma análise cuidadosa poderia oferecer quais são as inteligências mais usadas na “Era da Informação e Comunicação”. Para os empresários é, sem dúvida, a inteligência interpessoal, já que a boa convivência entre os colegas melhora o trabalho coletivo. A inteligência matemática continua em alta, devido ao seu constante uso nos meios da informática para o desenvolvimento de programas computacionais. Com o uso das NTICs, é necessário saber falar e escrever eficientemente, ou seja, expressar-se bem, por isso a inteligência linguística é muito exigida. Nos relacionamentos pessoais e familiares a inteligência que deve ser mais empregada é a intrapessoal, pois controlando as próprias emoções é possível evitar conflitos com outras pessoas. Parece bem provável que a inteligência interpessoal pressupõe a inteligência intrapessoal. O certo seria escolher a profissão de acordo com o tipo de inteligência de cada pessoa, mas isto é muito difícil de acontecer, em razão da imaturidade do jovem quando opta pelo curso que irá fazer na universidade. De acordo com Gardner, possuímos todas as inteligências, mas algumas agem melhor do que as outras, por isso é comum alunos terem facilidade em algumas matérias e dificuldades em outras. São raros os indivíduos que possuem dificuldade ou facilidade em todas as disciplinas. Conforme Gardner cada inteligência tem um componente genético, mas pode ser desenvolvida por meio de estudo. As inteligências também podem se articular conjuntamente para realizar operações mentais e, por consequência, resolver problemas. A Teoria das Inteligências Múltiplas causou grande alvoroço na Educação, mas na prática houve muitas confusões. Era comum encontrarmos vídeos com um bebê engatinhando como exemplo de inteligência corporal, constituindo-se uma grande imprecisão, pois só pode ser considerada inteligência corporal se houver o uso do cérebro para resolver problemas com os movimentos do corpo. Havia docente que dizia que criança hiperativa possuía inteligência corporal e deveria ficar andando pela sala para aprender, por exemplo, matemática. Hoje em dia, a Teoria das Inteligências Múltiplas continua sendo debatida mundo a fora, mas eliminou-se a euforia inicial de que seria a solução para as dificuldades de aprendizagem. O fato de ser complicado o seu uso como método pedagógico, não significa que deva ser descartada, pois pode ser um excelente recurso para conhecer melhor o aluno. Quanto ao debate se há uma ou mais inteligências, ainda não há suporte suficiente para tal afirmação. Sem entrar em contradição com a Teoria das Inteligências Múltiplas, Gardner nunca negou a existência de uma inteligência geral, pois considera que ela poderia ser a coordenadora de outras inteligências. Já os defensores da inteligência geral nunca disseram que o ser humano não possui distintas habilidades ou diferentes talentos. O que os psicometristas designam como “talentos”, Gardner chama de inteligências. Desse modo, além das divergências teóricas, parece haver também uma questão de escolha semântica. Capítulo IV O Cérebro Humano Com as novas descobertas sobre o funcionamento do cérebro cresce a esperança de melhorar a inteligência humana e encontrar a cura para doenças degenerativas do sistema nervoso central, como o Mal de Parkinson e o Mal de Alzheimer. De acordo com Ratey (2002, p. 30), os cientistas, durante muitos anos, acreditavam que o cérebro era formado na infância e constituía uma rede de conexões fixas e imutáveis. Hoje, sabe-se que é um ecossistema dinâmico e que possui grande plasticidade, podendo ser moldado conforme o uso, mas, de fato, a maior parte da formação ocorre na infância e continua se transformando lentamente por toda a vida. Como prova da plasticidade cerebral, Ratey cita o exemplo de uma de suas pacientes portadora de autismo: Temple Grandin que não conseguia relacionar-se com nenhuma pessoa, mas que possuía uma memória fotográfica espantosa e uma grande habilidade para cálculos. Mesmo tendo habilidades fantásticas não era capaz de obter sucesso profissional e pessoal, no entanto tudo começou a mudar quando foi submetida a técnicas terapêuticas para controlar seu próprio comportamento: lia negociações e debates de paz em jornais; depois, sozinha, simulava essas situações, como uma espécie de teatro, posteriormente tentava colocar em prática no seu cotidiano. Dessa forma, Grandin desenvolveu circuitos neurais novos na região responsável pelas relações sociais, conseguindo superar as dificuldades interpessoais e alcançar êxito profissional e pessoal, inclusive, cursou doutorado em zootecnia (RATEY, 2002). Outra prova da plasticidade cerebral, vem de pesquisas realizadas por Michael Merzenich, envolvendo macacos adultos. Ele implantou eletrodos nos cérebros de macacos, na região de coordenação motora fina dos dedos; em seguida, aplicou uma grande gama de exercícios físicos: os macacos tinham de pegar, repetidamente, bolinhos em distintos tamanhos de tigelas, consequentemente, houve um aumento da região do cérebro que foi exercitada. (RATEY, 2002) Tanto as pesquisas com macacos quanto o caso de Grandin levam a acreditar que possam ocorrer mudanças significativas na estrutura cerebral de adultos quando se praticam exercícios físicos e mentais. Assim, a melhor maneira de ter um cérebro saudávele com excelente desempenho é mantê-lo em pleno funcionamento por meio de muitos desafios. A plasticidade cerebral, ocasionada pelos exercícios físicos e mentais, faz com que haja crescimento de dendritos, axônios e o surgimento de novas células (neurônios e gliais), este fenômeno foi designado pelos cientistas de neurogênese. A estrutura cerebral é composta por, aproximadamente, cem bilhões de células nervosas, que se comunicam por meio de mais de cem trilhões de ramificações chamadas de dendritos e axônios. Enquanto os axônios levam informações aos neurônios, os dendritos recebem informações. Entre os axônios e os dendritos, há um hiato, conhecido como fenda sináptica. É nesse espaço que passam os mensageiros eletroquímicos (neurotransmissores) que carregam as informações de um neurônio para o outro. A plasticidade cerebral causou uma exagerada euforia nas mídias de divulgação científica, devido à possibilidade de aumentar o poder cognitivo, seja por meio de exercícios físicos e intelectuais ou por meio de drogas farmacológicas. Até o momento, nenhuma droga mostrou-se tão eficaz para potencializar a inteligência, já os exercícios físicos e intelectuais provocam alterações limitadas em cérebros adultos conforme a idade avança, mas não deixam de ser uma importante opção para que o cérebro envelheça com saúde. (RATEY, 2002) Retornando um pouco sobre o velho debate inatismo versus empirismo, só que agora trazendo o gene como ator da natureza. O que determina nossa inteligência, os genes ou ambiente em que vivemos? Os cientistas atuais demonstram certa tendência para a formação genética da personalidade e da inteligência. Percebe-se que criou um excessivo entusiasmo em torno do Projeto Genoma, em que havia uma expectativa de encontrar, pelos menos, cem mil genes humanos, com um percentual de trinta e cinco por cento para a formação do cérebro; todavia, os cientistas tiveram uma decepção quando descobriram que a quantidade total de genes não ultrapassava trinta mil genes. A probabilidade de encontrar o gene ou os genes que determinariam a inteligência tornou-se mais difícil, ou talvez impossível; embora, não se descarte tal realidade. Os milhares de genes encontrados não permitem explicar a complexidade cerebral por trás de mais de cem bilhões de neurônios e cem trilhões de ramificações sinápticas, seria uma tentativa reducionista de elucidar a inteligência humana. A descoberta da real quantidade de genes humanos não contribuiu muito para o debate genes versus ambiente, mesmo considerando que os genes humanos são poucos para esclarecer o funcionamento do cérebro, não devemos descartar a possibilidade de sua influência na formação da inteligência; pois, a explicação poderia não estar na quantidade de genes, mas na complexidade das combinações de letras do sequenciamento genético. Algumas características do comportamento humano são mais herdáveis do que outras, por exemplo, o senso de humor, a preferência alimentar, as atitudes sociais e políticas possuem baixa influência genética e forte influência do ambiente compartilhado, já o temperamento comportamental é mais hereditário do que adquirido. Quando se trata de inteligência há um equilíbrio de forças; porém, ainda há um caloroso debate entre geneticistas e ambientalistas. Por mais de cinquenta anos, vozes sensatas pediram o fim do debate. Declarou-se de tudo a respeito da natureza versus ambiente, de morta e determinada a inútil e equivocada, uma falsa dicotomia. Todos, com algum bom senso, sabem que os seres humanos são produto de uma permuta entre os dois. Mas, ninguém consegue deter o debate”. (RIDLEY, 2004, p. 115) Na década de 1920, os primeiros testes de QI eram superficiais e tendenciosos culturalmente. Tais testes levaram os cientistas a acreditar piamente que a inteligência era hereditária, isto induziu o governo dos EUA e de muitos países europeus, de forma absurda e preconceituosa, a esterilizar deficientes intelectuais para evitar que estes transmitissem seus genes a gerações futuras, com a nítida pretensão de criar uma sociedade de pessoas com “inteligência superior”. Estas ideias de aptidões naturais disseminaram- se até as camadas populares e, até hoje, é comum ouvir indivíduos afirmarem que seus filhos são inteligentes ou não porque “puxaram” aos seus pais (RIDLEY, 2004, p. 117). Os testes atuais sofreram diversas mudanças, todavia, dificilmente se livraram da influência cultural e epistemológica. Seus defensores alegam que os testes podem mensurar a inteligência geral, caracterizada pelo termo Fator G e amparam-se em anos de pesquisas, principalmente com gêmeos idênticos, e dados estatísticos para sustentar a tese de uma inteligência única. Contudo, como foram citados no capítulo sobre Inteligências Múltiplas, os testes não conseguem explicar porque há pessoas, por exemplo, com altas habilidades matemáticas que possuem enorme dificuldade com habilidades linguísticas e vice-versa. (SPEARMAN, apud Ridley, 2004) A ideia de uma inteligência geral, coordenadora dos diversos talentos, é plenamente aceitável e suscetível à confirmação científica, entretanto, atribuir que os testes de QI possam medir uma inteligência global é um grande equívoco. Tais testes mensuram muito bem a capacidade de raciocínio lógico-matemático e lógico-linguístico e, talvez, raciocínio espacial; mas, não conseguem aferir habilidades práticas e criativas. São testes que têm alta correlação com as habilidades acadêmicas, mas deixam uma lacuna imensa quando se trata de como as pessoas usam a inteligência para resolver problemas no cotidiano. (RIDLEY, 2004) Uma característica que parece ter uma boa correlação com uma suposta inteligência geral é o tamanho do cérebro. A correlação entre QI e tamanho cerebral corresponde a quarenta por cento, mas isto, ainda, deixa uma grande probabilidade de haver um gênio com cérebro pequeno e um néscio com cérebro grande, como já foi constatado em diversos experimentos científicos, no entanto se deve levar em consideração esse percentual e efetuar novas pesquisas para obter resultados mais fidedignos. Recentes estudos apontam que, talvez, não seja o tamanho total do cérebro que determine a inteligência, mas o tamanho da região responsável por determinada habilidade, como foi observado no cérebro de Albert Einstein, que possuía o lobo parietal bem maior do que de outras pessoas (Cerca de 15% mais largo), esta região é responsável pelo raciocínio matemático e visuo-espacial, que permitem fazer cálculos e manipular imagens mentalmente, algo que Einstein fazia com tanta facilidade. Embora, estudo com gêmeos idênticos demonstrem a influência genética na formação da inteligência, também mostram a relevância do ambiente. O QI é aproximadamente cinquenta por cento aditivamente genético, vinte e cinco por cento influenciado pelo ambiente compartilhado e vinte e cinco por cento influenciado por fatores ambientais exclusivamente do indivíduo (RIDLEY, 2004, p. 118). Atualmente, a maior parte dos cientistas considera que tanto os fatores genéticos quanto os ambientais agem para formar a inteligência, mas, ainda com uma leve tendência para as causas hereditárias. Muitos pesquisadores defendem que o ambiente é um ativador dos genes (responsáveis por características físicas e comportamentais), inclusive a inteligência, dessa forma, não existiria a dicotomia natureza versus ambiente, mas natureza via ambiente. A explicação sobre as interações do organismo com a experiência vivenciada já havia sido estudada por Piaget, porém, os estudos desse psicólogo diferem muito das interações mencionadas pelos geneticistas. Os geneticistas acreditam que os genes influenciam o comportamento e são ativados por meio de interações com o ambiente. A interação a que se refere Piaget é de fundo epistemológico, levando-se em consideração que o conhecimento não é inato nem ambiental, mas construído pela interação entre os dois fatores, formandoos esquemas mentais do conhecimento. Capítulo V Teoria Interacionista de Jean Piaget Compreende-se melhor a teoria de Jean Piaget, se houver conhecimento sobre alguns aspectos da vida desse autor. Nasceu em 1896, mesmo ano de Lev Semiovich Vygotsky, em Neuchâtel na Suíça e faleceu em 1980. De sua imensa curiosidade e intenso trabalho, resultaram diversos livros, artigos e monografias. Na infância, foi um garoto prodígio, tanto que, com apenas dez anos de idade, publicou um artigo sobre um pardal albino; aos onze anos, tornou-se assistente do diretor do Museu de História Natural de Neuchâtel. Aos vinte anos, já possuía mais de vinte e cinco pesquisas sobre moluscos. Em 1915 completou seu curso superior em Biologia e, em 1918, terminou seu doutorado sobre os moluscos de Valais (AZENHA, 2003). Preocupado com gênese do conhecimento, foi o pesquisador que mais contribuiu, até os dias atuais, para o estudo detalhado do desenvolvimento intelectual dos seres humanos. Além de ser formado em Biologia, Piaget também possuía formação acadêmica em Filosofia, sendo que desta última disciplina extraiu ideias da obra de Emanuel Kant, filósofo que conseguiu conciliar o empirismo com o racionalismo. As pesquisas de Piaget tinham por objetivo descobrir como as crianças constroem as noções lógicas de tempo, espaço, objeto, de causalidade e de resolução de problemas. Piaget iniciou suas pesquisas ao lado dos psicólogos franceses, Alfred Binet e Théodore Simon, criadores do famoso Teste de QI — (Ver Capítulo II), como o exame ficou conhecido posteriormente; que, segundo os autores, prometiam medir a inteligência dos indivíduos de acordo com a idade mental de cada um. Enquanto Binet e Simon concentraram suas pesquisas no resultado das respostas corretas das crianças nos testes para detectar as dificuldades de aprendizagem, Piaget seguiu outra linha em seus estudos e apostou em descobrir por que as crianças cometem erros nos processos mentais. O maior mérito de Piaget foi afirmar que as crianças erravam porque eram “forçadas” a pensar como adultos. Ele considerava que a lógica das crianças segue uma lógica peculiar que é qualitativamente distinta da lógica dos adultos. Piaget aspirava investigar como a lógica infantil se transforma na adulta no processo dialético entre o ser e o mundo (DAVIS, 1994). Mecanismo de equilibração Jean Piaget percebeu que todo organismo vivo mantém um estado de equilíbrio ou de adaptação com o meio, superando desequilíbrios que provocam um processo ativo e contínuo, que resultam na procura de um novo e superior estado de equilíbrio, definido como processo de equilíbrio majorante. Da mesma forma que outros organismos vivos, o desenvolvimento da inteligência humana possui grandes e sucessivos estados de desequilíbrios e equilíbrios por meio de uma intricada interação entre o organismo e o ambiente, no caso da aprendizagem, entre o indivíduo e o objeto do conhecimento. A equilibração é um processo endógeno, o equilíbrio não é estático, por isso se alterna ininterruptamente com o desequilíbrio. Há três importantes tipos de Equilibração: Equilibração por Regulação, que acontece quando o aprendiz controla o comportamento depois de variadas correções e repetições, por exemplo, ao aprender a dirigir, o indivíduo corrige repetidamente seus movimentos no uso do câmbio, embreagem, freio, acelerador e volante até aprender. Equilibração por Coordenação ocorre quando o aprendiz necessita de uma ou mais habilidades para efetivar uma determinada tarefa, por exemplo, para pintar um quadro precisa coordenar as noções de espaço, de textura da tinta e dos movimentos motores finos com o pincel. Equilibração por Compensação ocorre no momento em que o aprendiz substitui uma deficiência, compensando-a com outro tipo de habilidade, por exemplo, o deficiente visual desenvolve muito mais a audição do que as pessoas que enxergam para compensar a ausência do sentido visual. (MATUI, 1996). Na aprendizagem, dois mecanismos são acionados para alcançar um novo estado de equilíbrio. O primeiro recebe o nome de assimilação, através dele o organismo, sem alterar as estruturas desenvolve ações destinadas a atribuir significações, a partir de sua experiência anterior com os elementos dos quais interage. O outro mecanismo pelo qual o organismo tenta restabelecer um equilíbrio superior com o meio ambiente é chamado de acomodação; todavia, desta vez, o organismo é forçado a se modificar ou se transformar para se ajustar às demandas impostas pelo ambiente. (DAVIS, 1994) Neste processo de regulação entre a assimilação e a acomodação, chamado equilibração, é preciso compreender que na assimilação o sujeito oferece significados às palavras ou aos objetos, baseando-se em experiências prévias, assim, uma criança poderá reconhecer o “umbu” como fruto sem nunca tê-lo visto, pois a criança consegue classificá-lo identificando às similaridades com outros frutos os quais já havia conhecido anteriormente, isto é, quando uma informação (palavra ou objeto) é internalizada, esta passa por um processo de transformação para adaptar-se ao organismo vivo (cérebro) ou esquemas mentais (estrutura cognitiva formada por conhecimentos entrelaçados). Já na acomodação, quando uma informação é interiorizada, o indivíduo não possui conhecimentos anteriores, são os esquemas mentais do cérebro que se transformam para receber a nova informação, por exemplo, uma pessoa ao deparar-se com o vocábulo “hádron” do qual não havia nenhum conhecimento precedente, primeiro precisará conhecer o significado da palavra para que esta se incorpore ao organismo que, a partir deste momento, se transforma para adaptá-la à sua estrutura cognitiva. Na assimilação, é o sujeito que age sobre o meio, enquanto na acomodação é o meio que age sobre o sujeito. Esses dois processos adaptativos, que formam novos esquemas mentais, os transformam interiormente em constante organização, desorganização e reorganização, sendo extremamente relevantes para a formação da inteligência humana. Quando o aprendiz interage com o conhecimento, ocorrem conflitos que provocam desequilíbrio e, posteriormente, o equilíbrio. Esses conflitos não constituem dificuldade de aprendizagem, pelo contrário, são muito importantes para que esta ocorra. (MATUI, 1996) Fases do desenvolvimento da inteligência Neste “quadro” de múltiplos e contínuos processos de equilibração ocorre o desenvolvimento da inteligência humana, mas para Piaget esse processo acontece em quatro períodos distintos, de acordo com a idade da criança: sensório-motor (do nascimento aos dois anos de idade), pré-operatório (dois anos a sete), operatório-concreto (setes anos a onze ou doze), operatório formal (após os doze anos de idade). Período Sensório-Motor (0 a 2 anos de idade) é a etapa em que a criança ainda não possui pensamento e noções de volume, espaço, tempo e causalidade. Neste momento, a criança está presa à circunstância momentânea em que exerce apenas as habilidades práticas como balançar o corpo, apontar com o dedo, pegar, jogar e morder objetos. A criança, ao observar os movimentos de pessoas e objetos no ambiente em que vive, forma esquemas mentais de oscilações motores da realidade. Esses esquemas são construídos a partir de reflexos inatos, que são utilizados pela criança para interagir com o seu mundo, como o ato de sucção no peito da mãe ou na chupeta (DAVIS, 1994). Embora Piaget tenha sido o mais importante pesquisador da inteligência, equivocou-se ao dizer que as crianças não possuem noções de volume, espaço, tempo e causalidade. Pesquisas modernas demonstram que crianças de três meses já manifestam espanto quando um objeto some atrás de uma cortina e reaparece em uma forma diferente. Também reconhecem que o volume de água continua o mesmo quando é trocado de um copo para outro com diâmetros diferentes, ao contrário do que afirmava Piaget (GARDNER, 1998). Na educação brasileira, criou-se
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