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ARCOweb - João Carlos Bross - A complexa arquitetura hospitalar http://www.arcoweb.com.br/entrevista/entrevista83.asp 1 de 5 5/7/2006 10:10 Arquitetura Interiores Office Design Lighting Entrevista Tecnologia Memória Artigos Especiais João Carlos Bross A complexa arquitetura hospitalar Arquiteto e professor na Fundação Getúlio Vargas, onde leciona a disciplina planejamento físico em saúde, e no Centro Paulista de Economia em Saúde, da Universidade Federal de São Paulo, na pós-graduação de Economia e Gestão em Saúde, João Carlos Bross dedicou sua vida profissional ao complexo segmento dos edifícios voltados para a área de saúde. Começou a trabalhar com projetos no setor logo após formar-se, em 1956, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Como diretor da Bross Consultoria e Arquitetura, que comemora 50 anos de vida com trabalhos realizados no Brasil e em países latino-americanos, comanda uma equipe de 12 arquitetos, quatro deles com MBA ou especialização em economia e gestão da saúde. Nesta entrevista a Cida Paiva, Bross fala dos aspectos que envolvem projetos para edifícios hospitalares. Entre eles, alguns relevantes, como a tendência à humanização dos ambientes e a necessidade de o arquiteto conhecer as tecnologias médicas que provocarão impacto sobre a nova organização do prédio, já antevendo situações de futuro crescimento. Quais os principais aspectos que envolvem a arquitetura de edifícios médico-hospitalares? Primeiro, as demandas em forma de prestação de serviços e remuneração deles. Segundo, as questões ligadas à incorporação de novas tecnologias médicas, que são exigências não só dos profissionais, como também do mercado. Por último, mas não menos importante, os arquitetos precisam compreender primeiro o negócio, para depois compreender o prédio. Um dos aspectos que têm marcado a posição de nosso grupo é procurar fazer exatamente essa interface entre conhecer a conjuntura e entender e recomendar o negócio, para depois cuidar do prédio. São essas as principais abordagens? A maneira de abordar o edifício não parte de um programa arquitetônico, mas de uma definição da estratégia do negócio. E o arquiteto tem que participar porque, entre outros aspectos, os maiores investimentos são feitos tanto na área de infra-estrutura do prédio como na tecnologia médica. O edifício e a tecnologia médica e da informação que vão dentro dele são os grandes capitais. Como esses capitais precisam ser alocados, se não houver viabilidade econômica fica comprometida qualquer forma de financiamento. Isso está representando uma mudança significativa na forma de os arquitetos abordarem os edifícios de saúde. Quais são essas mudanças? ARCOweb - João Carlos Bross - A complexa arquitetura hospitalar http://www.arcoweb.com.br/entrevista/entrevista83.asp 2 de 5 5/7/2006 10:10 Quando nos referimos à arquitetura hospitalar, é necessário que venhamos, progressivamente, tirando o foco do hospital. Entende-se o hospital como um local de longa permanência, quando, na realidade, estão surgindo novos tipos de edifícios, voltados para pacientes submetidos a procedimentos de baixo risco e de curta permanência. Há quanto tempo se tem notado essa tendência? Ela surgiu há cerca de dez anos e constrói uma rede hierarquizada de estabelecimentos de saúde. De maneira geral, os hospitais são compreendidos pelos usuários como o lugar que resolve tudo. Não é tanto. Precisamos orientar as populações no sentido de que há necessidade, até sob o ponto de vista operacional e econômico, de criar unidades que tenham uma progressão de complexidades. Não podemos resolver problemas ortopédicos simples em hospitais de ponta, por exemplo. Nestes serão tratados os casos de alta complexidade, enquanto os de menor grau ficarão a cargo da base da rede. E essa dinâmica envolve a arquitetura hospitalar? Sim. Uma tendência futura é os hospitais se unirem em rede, operacionalmente. Ou seja, surgirão novas atribuições, que permitirão ao usuário caminhar dentro de uma rota entre hospitais, por níveis de complexidade - clínicas, policlínicas, ambulatórios. Alguns hospitais de São Paulo já têm seus satélites. O Albert Einsten tem um em Alphaville. Outros estão procurando adotar essa estratégia, para que essa complexidade tenha seus resultados maximizados, atendendo a procedimentos de curta permanência e baixo risco, como as cirurgias plásticas, tratamentos nutricionais, endocrinológicos, problemas bucomaxilares. Uma pessoa que tenha de fazer um exame endoscópico, por imagens e gráficos, não precisa ir para o hospital. Com isso, haverá alívio progressivo da utilização do hospital, que se distribuirá para outras unidades. Grandes laboratórios de São Paulo já têm unidades diagnósticas. A proposta é que o atendimento esteja fisicamente mais próximo do usuário. Além da tecnologia médica, os sistemas de transmissão de informações também interferem na concepção dos edifícios de saúde? Todas essas mudanças procuram criar uma visão, por parte do usuário, de que os sistemas público e privado precisam atuar mais na promoção da saúde e na prevenção da doença. Ou seja, não deixar acontecer a hospitalização. Isso envolve não só um novo arranjo para o edifício, como também a possibilidade, que se faz a cada dia mais latente, de contar com a telemática, que é a telecomunicação de dados individuais sobre casos clínicos ou cirúrgicos. É a telemedicina. O médico pode estar numa posição geográfica e consultar um paciente a 30 ou 300 quilômetros de distância. Os impactos desses avanços vão se dar não diretamente sobre o prédio, mas sobre a nova organização do prédio. De que forma essas mudanças atuam nas antigas edificações hospitalares, concebidas para atender a outras solicitações do mercado? Estamos muito próximos de observar rearranjos que são feitos dentro dos prédios. A oferta de camas, por exemplo, diminuirá progressivamente, uma vez que o tempo de internação é mais curto. O período de internação está diminuindo e a taxa de ocupação, ARCOweb - João Carlos Bross - A complexa arquitetura hospitalar http://www.arcoweb.com.br/entrevista/entrevista83.asp 3 de 5 5/7/2006 10:10 aumentando. Ou seja, com o mesmo número de leitos é possível atender mais pacientes. Isso, de certa forma, levará grandes hospitais a uma reciclagem, porque vão produzir mais com menor número de leitos. A tecnologia médica e a da informação estão caminhando entrosadas, o que permitirá a tomada de decisões mais rápida e com mais competência. Em vez de se coletar uma série de exames em laudos escritos, esse trabalho já é feito virtualmente. Nesse caso, qual o papel do arquiteto? Ele precisa estar junto do processo de estabelecimento da estratégia da empresa, para também definir o seu trabalho. Ou seja, “o que vou fazer, para quem vou fazer e como vou fazer”. O “como vou fazer” representa uma incorporação de tecnologia de espaços para que se faça melhor, mais e a menor custo. A compreensão do arquiteto no que se refere ao edifício de saúde precisa ter um aprimoramento maior e incorporar um conhecimento muito grande. Por isso é importante que o profissional participe dos estudos que, tecnicamente, se chamam de tendências. Qual a tendência da engenharia genética sobre o futuro dos edifícios de saúde? Qual a tendência da incorporação da telemática nesses edifícios? Qual o impacto do relacionamento com outros estabelecimentos de saúde, formando uma rede? Diante desses progressos, cada vez mais rápidos, quais as estratégias utilizadas pelo projeto arquitetônico para incorporar expansões e alterações de uso? Vamos tomar como referência dois aspectos. Primeiro, há espaços físicos ainda muito grandes para guarda de prontuários de pacientes. Esse documento passará, progressivamente, para arquivodigital e, em conseqüência, essa área terá outra destinação. Existem as atividades-fim, que atendem aos pacientes através da competência dos médicos. E também um conjunto de atividades-meio - suprimentos, administração, serviços gerais -, que estão sendo terceirizadas. Portanto, dentro da logística de suprimentos, não é mais necessário que a cozinha fique próxima. Isso indica a necessidade de examinar a terceirização das atividadesmeio, o que representará um impacto muito grande: se as áreas-meio forem transferidas, haverá locais nos hospitais existentes que poderão ser ocupados com atividades-fim. E edifícios que não têm espaço territorial para crescer para fora têm que encontrar mecanismos de rearranjos internos. Esse rearranjo depende de toda uma estratégia em que o arquiteto é o comandante. Não é possível reformar meio centro cirúrgico e também o hospital não pode deixar de operar. Como isso deve ser resolvido? Essa progressiva reformulação interna, ou mesmo expansão, tem que ser uma atribuição muito firme do arquiteto, junto com as engenharias e até com a própria construtora. O hospital que não adequar constantemente seus espaços está fadado ao insucesso, pois ficará senil. A abordagem do projeto de hoje exige do arquiteto um ensaio, uma modelagem do que podem ser tendências de alteração interna, como a incorporação de novos equipamentos ou serviços. Essa abordagem se faz necessária para manter a excelência e a vantagem competitiva. Se o prédio não for projetado para receber algumas adequações, terá cerceada a sua oferta. Estabelecida a estratégia da empresa que ocupa o edifício, o arquiteto precisa discutir com os dirigentes e os estrategistas da companhia quais as áreas que ele entende serem passíveis de alterações. ARCOweb - João Carlos Bross - A complexa arquitetura hospitalar http://www.arcoweb.com.br/entrevista/entrevista83.asp 4 de 5 5/7/2006 10:10 É possível trabalhar com modelos para o desenvolvimento da arquitetura hospitalar, assim como ocorre, por exemplo, com os edifícios administrativos? A concepção não consolida um prédio. Ela oferece o edifício para uso naquele momento, mas já antevendo algumas situações de futuro crescimento e acréscimo de novas tecnologias. Não existe um modelo. É necessário analisar os processos e atividades que ocorrem dentro daquele espaço. Uma das propostas é que, definida a expectativa do empreendedor, faça-se um modelo teórico do hospital. Uma das abordagens é que se realize estudo de viabilidade do negócio, daquilo que será feito dentro do prédio, para verificar a consistência de retorno do capital investido. Antes de tomar essa decisão, é preciso ter a garantia de que o que será feito dentro do prédio liberará recursos para o retorno do capital. Como o valor investimento e o valor tecnologia são os capitais mandatórios, muitas vezes o arquiteto precisa estar consciente da necessidade de adequação de seu projeto e adequação do valor do investimento à disponibilidade financeira. E de que maneira a tecnologia da construção é aplicada nesse processo? O hospital precisa de uma ossatura, uma estrutura, e fechamentos que permitam constante flexibilidade. É necessário organizar as instalações e estruturas de tal forma que se possam adequar, com certa facilidade, os ambientes internos. Algumas adequações podem ser previstas. É possível ter uma área-fim, que no futuro exigirá expansão, colocada ao lado de uma área-meio passível de ser remanejada, como, por exemplo, a administração. Há uma grande diferença dos edifícios convencionais. Por isso chamamos de instalações prediais e instalações especiais aquelas diferenciadas pela utilização de determinados equipamentos. A modulação do edifício em 1,25 metro é adequada a todos os padrões dimensionais de fechamentos, revestimentos etc. No momento em que o arquiteto compreender o partido, a volumetria do prédio, ele tem que interagir com os engenheiros e apresentar algumas antevisões ligadas a prováveis rearranjos internos, dentro de possíveis expansões. E a questão plástica da edificação? A questão ambiental é muito importante porque estudos feitos no Brasil e em outros países mostram que o espaço físico é um componente na recuperação dos pacientes. O termo hospitalização, por exemplo, está sendo substituído por hospedagem. O desenho baseado em evidências mostra claramente que há uma certeza de que o paciente se sente melhor, menos estressado, psicologicamente mais relaxado. O emocional do usuário precisa ser atendido. Não é só a chamada humanização, que se faz através dos profissionais, mas a ambientação que participa e contribui para ela. Os hospitais de última geração já estão considerando esse aspecto com muito entusiasmo. A idéia é tirar do paciente aquela imagem de edifício cheirando a formol e cheio de azulejos e oferecer a ele um prédio com ambientes mais aconchegantes. Trata-se de uma vantagem competitiva para as empresas do setor hospitalar? Sim. Imagine dois estabelecimentos em igualdade de condições, de competência e de tecnologia, mas um deles oferece uma nova opção, o ambiente, um prédio moderno, recém-construído. É um componente do processo ARCOweb - João Carlos Bross - A complexa arquitetura hospitalar http://www.arcoweb.com.br/entrevista/entrevista83.asp 5 de 5 5/7/2006 10:10 de qualidade e da própria estratégia empresarial que hoje começa a tomar corpo, até punindo empresas que ainda não assumem essa postura. O arquiteto já precisa partir dessa visão, pois há uma exigência de procedimento nesse sentido por parte dele. Em nosso escritório existem 16 profissionais de nível superior, dos quais seis já são titulados e quatro profissionais arquitetos com MBA em economia e gestão da saúde. O estabelecimento oferecer requisitos humanísticos, além daqueles de caráter técnico, não se trata de uma questão mercenária, mas de foco. Publicada originalmente em FINESTRA Edição 45 Abril de 2006 veja também SÉRGIO TEPERMAN - "Meu escritório procurou reproduzir a imagem do cliente, e não a do autor do projeto" Sérgio Ferro - Remanescente do trio contestador que trincou o concreto da escola paulista Roberto Loeb - Um dos "desalinhados" dos anos 80 contestava a ortodoxia do concreto na arquitetura Paulista Manfredo Gruenwald - A consolidação do modernismo na arquitetura paulistana patrocínio informe publicitário Selecione a categoriaSelecione a categoria Índice Notícias Agenda Fórum Envie por e-mail busca
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