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GE ST ÃO D E CU ST OS E F OR M AÇ ÃO D E PR EÇ OS GESTÃO DE CUSTOS E GESTÃO DE CUSTOS E FORMAÇÃO DE PREÇOSFORMAÇÃO DE PREÇOS Itamar Miranda Machado www.iesde.com.br Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-3070-5 Itamar Miranda Machado Gestão de Custos e Formação de Preços IESDE Brasil S.A. Curitiba 2012 Edição revisada CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________________________ M129g Machado, Itamar Miranda Gestão de custos e formação de preços / Itamar Miranda Machado. - 1.ed., rev. - Curiti- ba, PR : IESDE Brasil, 2012. 224p. : 24 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-3070-5 1. Gestão de custo. 2. Custeio baseado em atividades. 3. Controle de custo. 4. Preço - Determinação. I. Título. 12-6341. CDD: 658.1552 CDU: 657.44 03.09.12 12.09.12 038692 ________________________________________________________________________________ © 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: IESDE Brasil S.A. IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. Itamar Miranda Machado Mestre em Contabilidade – concentração em Controladoria pela Universidade de São Paulo (USP), sendo pós-graduado em Ciências Contábeis pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e graduado em Ciências Contábeis pela Pontifí- cia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Atua há mais de 12 anos como professor de cursos de pós-graduação: Especialização, MBA e Mestrado para executivos, lecionando em ins- tituições como Ibmec, Fundação Dom Cabral (FDC), Fundação Getulio Vargas (FGV), IEC/PUC Minas, UNA, FEAD, Newton Paiva. Foi coordena- dor do Curso de MBA em Gestão de Negócios e Coordenador Geral das Faculdades do Ibmec- -MG. Lecionou também em cursos de gradua- ção em Ciências Contábeis, Administração, Eco- nomia e Direito no Ibmec-MG e PUC Minas. Em sua carreira profissional atuou como exe- cutivo em várias empresas, tendo gerenciado a área Administrativa e Financeira da ELA Trans- portes S/A (grupo Asamar), também foi Gerente de Contabilidade Internacional da Construtora Andrade Gutierrez S/A e Diretor de Auditoria In- terna e de Controladoria das Empresas Probank S/A e Via Telecom S/A. Atualmente é consultor de empresas em áreas ligadas à Controladoria e Finanças e com assessoria ao planejamento tributário e orça- mento empresarial. su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io Introdução à gestão de custos e conceitos básicos 11 11 | Introdução à gestão de custos 14 | Terminologias aplicadas à gestão de custos 16 | A gestão dos custos e os princípios da contabilidade 20 | Comportamento, classificação e terminologias aplicadas à gestão de custos Método de Custeio por Absorção 37 37 | Métodos de custeio 38 | Custeio por Absorção 51 | Comprar ou fabricar 54 | A influência dos impostos indiretos nos custos dos produtos Método de Custeio Variável 67 67 | Conceito 69 | Diferença entre o método do Custeio por Absorção e o Custeio Variável 86 | Exemplo de decisão com base apenas na contribuição marginal Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 101 101 | Ponto de equilíbrio – relação entre custo X volume X lucro 105 | Ponto de equilíbrio e lucro 106 | Aplicação rápida (simplificada) da fórmula 108 | Exemplos de cálculos do ponto de equilíbrio e do lucro desejado 113 | Retorno sobre Investimento por produto 115 | Pay Back 117 | Ponto de equilíbrio às avessas 119 | Ponto de equilíbrio em receitas 120 | Margem de Segurança (MS) 121 | Grau de Alavancagem Operacional (GAO) Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 137 137 | Ponto de Equilíbrio Contábil, Econômico e Financeiro 144 | Ponto de equilíbrio envolvendo mais de um produto ou serviço 152 | A margem de contribuição quando há fator limitativo Custeio ABC – Activity Based Costing 171 171 | Custeio ABC 183 | Custeio ABC versus Custeio Variável versus Custeio por Absorção Formação do preço de venda 195 195 | Formação do preço de venda 196 | Aspectos mercadológicos que influenciam os preços 201 | Formação do preço utilizando a fórmula do ponto de equilíbrio 208 | Formação do preço utilizando a fórmula do Mark-up 211 | Exemplo de utilização conjunta das duas fórmulas para formação do preço Referências 223 Apresentação G estão de C ustos e Form ação de P reços A disciplina Gestão de Custos e Forma- ção de Preços tem como objetivo principal mostrar a importância da administração dos custos e da formação de preços no proces- so de tomada de decisão dentro de uma or- ganização. Para isso, apresenta a relevância da segregação dos custos e das despesas de acordo com o seu comportamento: fixo ou va- riável e também a influência da relação custo X volume X lucro na otimização do resultado da empresa e na formação de preço. Esse livro apresenta um capítulo que trata dos termos utilizados na gestão de custos, principalmente quanto à classificação dos custos e despesas em diretos e indiretos e quanto ao comportamento: fixo ou variável. Também apresenta o funcionamento do Custeio por Absorção, enfatizando à ques- tão do rateio dos custos indiretos. Quanto ao funcionamento do Custeio Variável, a ênfase é a segregação entre fixo e variável e a impor- tância da contribuição marginal no processo decisório. Há uma importante abordagem sobre ponto de equilíbrio apresentando a relação custo X volume X lucro, demonstrando como a variação dos custos (e despesas) fixos, dos variáveis, do volume de venda e do lucro in- terferem na formação do preço e no resultado das empresas. Continuando, o tema ponto de equilí- brio apresenta aspectos mais avançados que podem contribuir no processo orçamentário sobre a definição de metas, em termos do volume de vendas que deve ser atingido para G estão de C ustos e Form ação de P reços que se possa alcançar o lucro desejado pelos acio- nistas e manter o caixa em equilíbrio, pois além do ponto de equilíbrio contábil (tradicional), explica como calcular os pontos de equilíbrio econômico e financeiro. Também trata da questão do ponto de equilíbrio quando a empresa trabalha com mais de um produto ou serviço. Apresenta o funcionamento do Custeio ABC (Custeio Baseado em Atividades), enfatizando o fato que as atividades consomem recursos e os produtos consomem atividades, por isso, antes de lançar um custo ou uma despesa para o produto, primeiro devem ser apropriados às atividades e, em seguida, essas aos produtos que a consomem. Finalizando, apresenta alguns aspectos merca- dológicos relacionados à formação de preços, prin- cipalmente a questão da concorrência, mas sua ênfase maior é no cálculo do preço, tendo como base os custos e as despesas, para isso demonstra como calcular utilizando a fórmula do ponto de equilíbrio e a fórmula da Mark-up. Introdução à gestão de custos e conceitos básicos Introdução à gestão de custos O início da contabilidade se deu com a necessidade de se registrar e apurar o patrimônio das entidades e suas mutações. Ao longo dos anos esses registros foram aprimorados para o atendimento a outras necessidades dos usuários, principalmente investidores e credores que passaram a ter na con- tabilidade um meio de informações para análise de investimentos e conces- são de créditos. Também o governo passou a utilizá-la como forma de se apurar o resultado para cobrança de impostos. A contabilidade direcionada para avaliação patrimonial, cujos principais usuários são os investidores e os credores é chamada de ContabilidadeFi- nanceira. Com a Revolução Industrial, ganhou importância uma relevan- te ramificação que é a chamada Contabilidade de Custos e, no século XX, houve o surgimento da Contabilidade Gerencial, também chamada Gestão de Custos, voltada para o público interno. A seguir um breve resumo históri- co dessa evolução. Da contabilidade financeira à contabilidade de custos A contabilidade financeira (societária) teve seu desenvolvimento na Era Mercantilista, naquela época, a predominância era a atividade comercial, a única preocupação com os custos era verificar quanto se pagou pela mer- cadoria (estoque) e consequentemente qual seria o valor de venda que, na maioria das vezes, era calculado simplesmente aplicando um percentual em cima do valor de compra. A equação para se chegar ao custo da mercadoria vendida era muito sim- ples, aplicava-se o seguinte cálculo: Custo da Mercadoria Vendida (CMV) = Estoque inicial (Ei) + Compras (C) – Estoque final (Ef ), ou seja: CMV = Ei + C – Ef 11 12 Introdução à gestão de custos e conceitos básicos Até hoje, algumas empresas de pequeno e médio porte que se dedicam apenas à atividade comercial utilizam-se dessa fórmula. É muito comum ou- virmos o termo: “fechado para balanço” ou “fechado para inventário”, isso quer dizer que a empresa está fazendo a contagem física do estoque, ou seja, está apurando o estoque final para poder aplicar a fórmula. Assim, se a empresa no final do ano anterior tinha um estoque de R$10.000,00; efetuou compras durante o ano no valor de R$5.000,00 e seu estoque final é de R$8.000,00 teremos: CMV = 10.000 + 5.000 – 8.000 CMV = 7.000 Dessa forma, no Balanço Patrimonial constará: Estoque = R$8.000,00 e na Demonstração do Resultado de Exercício (DRE) constará: CMV = R$7.000,00. Com o início da Revolução Industrial (século XVIII) começou a ganhar im- portância a chamada contabilidade de custos, pois, a partir daí, não bastava calcular apenas a variação, de um período para outro, do estoque da merca- doria vendida, era preciso calcular o custo de fabricação do produto, que é composto por consumo de matéria-prima, materiais de consumo, mão de obra, horas de máquinas e equipamentos (depreciação) etc., ou seja, para fabricação de um bem ou serviço há consumo de recursos: materiais, físi- cos, humanos, tecnológicos e ambientais. Portanto, foi uma época de muito desenvolvimento da contabilidade de custos, mas ainda assim, era utiliza- da apenas para fins de melhor mensuração dos custos com a finalidade de apurar o resultado do exercício, gerando melhores informações para que a contabilidade financeira pudesse mensurar melhor o valor patrimonial das entidades. Da contabilidade de custos à gestão de custos (contabilidade gerencial) A contabilidade de custos era bastante operacional, seu objetivo era, sim- plesmente, calcular o custo da produção. O grande salto em termos de quali- dade das informações aconteceu no século XX e mais especialmente nas suas últimas três décadas (anos 1970, 1980 e 1990) com o surgimento da chama- da contabilidade gerencial ou gestão de custos, nesse período a contabili- dade de custos deixou de ser tratada apenas como suporte para a contabi- lidade financeira e passou a ser vista com enfoque gerencial. Introdução à gestão de custos e conceitos básicos 13 O período entre o final da década de 1960 e início da década de 1970 foi marcado por relevantes fatos que geraram uma grande crise econômica no país. Os principais fatores foram: Surgimento do grande déficit � público brasileiro, entre os fatores causa- dores desse déficit se destacam: o início dos pagamentos das aposen- tadorias com falta de planejamento por parte dos órgãos governamen- tais, pagamento de muitos financiamentos efetuados para construção de Brasília, muitos deles tiveram carência de dez anos e começaram a vencer no início dos anos 1970. Com isso, o governo aumentou a emis- são de moeda, gerando, também, aumento da inflação. Abertura de crédito direto ao consumidor pelas grandes lojas de de- � partamento, isso ocasionou a quebra de pequenos comerciantes que não tinham capital de giro para conceder créditos, portanto, deixaram de vender e quebraram. Aumento significativo do barril de petróleo, que chegou a subir de � US$8,00 a US$30,00. Como o Brasil é um país com grandes dimensões geográficas e o transporte se concentra em rodovias, houve aumen- to do custo do frete que, certamente, foi repassado para os produtos, contribuindo muito para o processo inflacionário. Naquela época o Brasil importava quase 70% do petróleo consumido. Em função disso, as empresas se viram obrigadas a uma maior otimização dos seus resultados como meio de sobrevivência, pois os clientes, afetados pela crise, começaram a se empenhar mais em negociação de preços, nessa época as atividades de compras passaram a se concentrar num setor único, nascendo os chamados “Departamento de Compras ou Departamento de Suprimentos”, aumentando o grau de dificuldades para se executar uma boa venda, gerando, inclusive, calorosas negociações entre compradores e ven- dedores, fato que se repete até os dias atuais. Com esse aumento de competitividade, as empresas se viram obriga- das a buscar respostas para questionamentos como: meu preço de venda é R$100,00, mas o cliente está pressionando, pois há concorrentes vendendo por R$80,00, qual é o custo real dos meus produtos? Será que também pode- mos vender por R$80,00? Com isso, quantas unidades teremos que vender a mais para termos o mesmo lucro? Assim nasceu a gestão de custos, com o objetivo de fornecer respostas a questionamentos como esses. Para isso, utiliza-se dos dados gerados pela 14 Introdução à gestão de custos e conceitos básicos contabilidade de custos dando-lhes um formato mais gerencial, transfor- mando-os em informações que possam auxiliar o processo decisório. Dessa forma, a contabilidade de custos, que na Era Mercantilista somente calculava o custo da variação do estoque, ganhou maior importância com a Revolução Industrial e nos dias de hoje é uma atividade primordial para as empresas, não só as comerciais e industriais, mas acima de tudo para as pres- tadoras de serviços, onde nem sempre os processos são bem delimitados como na indústria. No enfoque gerencial, a contabilidade de custos é estudada com a uti- lização de termos como: gestão de custos, administração de custos, custos para tomada de decisões e outros, ficando o termo “contabilidade” como a parte operacional desse processo. Nesse nosso estudo utilizaremos o termo “gestão de custos”. Terminologias aplicadas à gestão de custos Tão importante quanto uma estratégia bem definida de comercialização e elaboração do preço de venda, são as análises dos componentes que afetam os custos e, consequentemente, os resultados de uma empresa. Por isso, é importante entender os conceitos e termos aplicados à gestão de custos. Conceitos básicos Investimento Significa a aquisição de um bem que normalmente é utilizado por longos períodos na produção ou manutenção das atividades da empresa. Exemplos: Bens do ativo imobilizado (veículos, imóveis, máquinas, equipamentos � etc.). Estoque de matéria-prima e de mercadoria para revenda. � À medida que os bens do imobilizado são utilizados, sofrem perda do seu valor econômico. Essa perda do valor econômico será reconhecida como despesa ou custo, com o nome de depreciação. Introdução à gestão de custos e conceitos básicos 15 Quando as mercadorias estocadas são vendidas, são transferidas para a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) com o nome de Custo das Mercadorias Vendidas (CMV). Quando a matéria-prima e o material de consumo são requisitados para uso na produção incorporam o custo do produto, que depois de vendido será transferido para a DRE com o nome de Custo dos Produtos Vendidos (CPV). Custos São todos os gastos envolvidos na aquisição ou na fabricação de um pro- duto ou serviço. São denominados custos dos produtos. Portanto, são todosos recursos consumidos no processo produtivo. Despesas São todos os bens ou serviços consumidos com o propósito de obtenção de receitas, incluindo as atividades de apoio. As despesas estão relaciona- das com a administração e a comercialização. São denominadas despesas do período, uma vez que não se referem aos produtos, pois existem indepen- dentemente da produção. Comparação entre custo e despesa Tabela 1 Custo Despesa Salário do pessoal da produção. Salário do pessoal administrativo e de vendas. Aluguel da unidade produtiva. Aluguel do escritório. Prêmio sobre produção. Comissão sobre vendas. Depreciação dos bens utilizados na produção. Depreciação dos bens utilizados na admi- nistração e vendas. Matéria-prima (sempre será custo). Gastos com propaganda (sempre serão despesa). Ita m ar M ira nd a M ac ha do . 16 Introdução à gestão de custos e conceitos básicos Exercício de fixação Classificar os eventos abaixo em: investimento, custo ou despesa. Enunciado Resposta Compra à vista de matéria-prima para estoque. Investimento Requisição de matéria-prima para utilização. Custo Compra de equipamento para o setor administrativo. Investimento Depreciação do equipamento comprado no item anterior. Despesa Compra de uma máquina para a linha de produção. Investimento Depreciação da máquina comprada no item anterior. Custo Salário dos funcionários da produção. Custo Salário dos funcionários administrativos. Despesa Salário e comissão dos vendedores. Despesa Depreciação do escritório onde funcionam os setores administrativos. Despesa A gestão dos custos e os princípios da contabilidade Para uma adequada forma de se calcular os custos de um produto ou ser- viço são necessários que todos os custos de produção estejam apurados de acordo com o consumo real. Por exemplo: suponhamos que uma empresa adquiriu no mês 3 000kg de matéria-prima pelo valor unitário de R$5,00 o kg, perfazendo o total de R$15.000,00 (3 000kg . R$5,00). Nesse mês específico fabricou e vendeu 100 unidades e, para isso, consumiu 1 000kg de matéria- -prima. Não se pode atribuir às 100 unidades produzidas e vendidas o valor integral de R$15.000,00, pois esse valor se refere a 3 000kg de matéria-prima e o consumo foi de apenas 1 000kg. Dessa forma, o registro deve ser da se- guinte forma: DRE – Custo do produto vendido: 1 000 kg . R$5,00 = R$5.000,00 Ativo – Estoque de matéria-prima: 2 000 kg . R$5,00 = R$10.000,00 Portanto, para apuração do resultado do mês será confrontada a receita de venda das 100 unidades com o seu real custo de produção de R$5.000,00 (nesse caso, para facilitar o entendimento, estamos considerando que houve apenas custo com matéria-prima). Introdução à gestão de custos e conceitos básicos 17 Essa forma de registro confrontando o custo efetivo das unidades vendi- das com a sua respectiva receita, dá-se em obediência ao chamado princípio da competência, cujo entendimento será apresentado a seguir. Princípios da contabilidade Com o objetivo de se estabelecer uma harmonização das informações contábeis das empresas, evitando que cada uma faça os registros da forma que melhor lhe convier, os órgãos oficiais, tanto do Brasil como internacio- nais, estabeleceram padrões para se elaborar a contabilidade das empresas, a esses padrões, no Brasil, dá-se o nome de princípios de contabilidade. Esses princípios representam um conjunto de conceitos, normas e pro- cedimentos desenvolvidos pela teoria contábil e utilizados como elementos disciplinadores na escrituração de eventos e transações, e na elaboração de demonstrações financeiras. Tendo em vista a natural evolução da Ciência Contábil nos últimos anos, o Conselho Federal de Contabilidade aprovou em 29/12/1993 a Resolução 750/93, que deu novo enfoque e redação aos princípios de contabilidade. Posteriormente, em 2010 foi publicada a Resolução CFC 1.282/2010 que atu- alizou os princípios de contabilidade1. É importante observar o que diz os parágrafos 1.º e 2.º do Artigo 1.º da Resolução 750/93. Art. 1.º (...) § 1.º A observância dos Princípios de Contabilidade é obrigatória no exer- cício da profissão e constitui condição de legitimidade das Normas Brasilei- ras de Contabilidade (NBC). § 2.º Na aplicação dos Princípios de Contabilidade há situações concretas e a essência das transações deve prevalecer sobre seus aspectos formais. Princípios de contabilidade no Brasil Entidade; � Continuidade; � 1 Com a Resolução CFC 1.282/2010 a denomina- ção passou de Princípios Fundamentais de Conta- bilidade para Princípios de Contabilidade. Essa re- solução alterou a redação de diversos artigos da Re- solução 750/93 e excluiu o princípio da atualização monetária. 18 Introdução à gestão de custos e conceitos básicos Oportunidade; � Registro pelo valor original; � Competência; � Prudência. � Para gestão de custos o mais relevante é o princípio da competência, por isso, será dada ênfase a ele.2 Princípio da Competência O Art. 9.º da Res. 750/93 do Conselho Federal de Contabilidade alterado pela Resolução CFC 1.282/2010, menciona que “ O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconheci- dos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento”. Assim, as receitas, os custos e as despesas serão sempre reconhecidos se- gundo o fato gerador e não segundo o fluxo de recursos financeiros, ou seja, não importa se houve entrada ou saída de dinheiro, o fato aconteceu e deve ser contabilizado. Exemplo Supondo que a Cia. Competência tenha sido constituída em 1.° de janeiro com capital inicial igual a zero (apenas para ilustrar) e que durante o mês de janeiro ocorreram as seguintes transações: Compra a prazo de mercadorias por R$30.000,00.1. Venda a prazo de 100% do estoque de mercadorias por R$80.000,00.2. Contabilização da folha de pagamento de salários no valor de 3. R$12.000,00 que será pago no dia 5 de fevereiro. Contabilização do 13.4. o salário referente ao mês de janeiro na proporção de 1/12 sobre a folha de pagamento: R$12.000,00 . 1/12 = R$1.000,00. 2 Os interessados pelo tema poderão consultar as bibliografias relacionadas à Teoria da Contabilidade. Como sugestão: IUDÍCI- BUS, Sérgio de. Teoria da Contabilidade. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010. Introdução à gestão de custos e conceitos básicos 19 Balanço e DRE em 31/01/X1 Ativo Inicial (R$) Item 1 (R$) Item 2 (R$) Item 3 (R$) Item 4 (R$) Caixa e bancos 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Estoque 30.000,00 0,00 0,00 0,00 Clientes 80.000,00 80.000,00 80.000,00 Total do Ativo 0,00 30.000,00 80.000,00 80.000,00 80.000,00 Passivo Inicial Item 1 Item 2 Item 3 Item 4 Exigibilidades 0,00 30.000,00 30.000,00 42.000,00 43.000,00 Fornecedores 30.000,00 30.000,00 30.000,00 30.000,00 Salários a pagar 12.000,00 12.000,00 Provisão 13.o salário 1.000,00 Patrimônio Líquido 0,00 0,00 50.000,00 38.000,00 37.000,00 Capital Social 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Lucros Acumulados 50.000,00 38.000,00 37.000,00 Total Passivo + PL 0,00 30.000,00 80.000,00 80.000,00 80.000,00 DRE Inicial Item 1 Item 2 Item 3 Item 4 Receita de Vendas 80.000,00 80.000,00 80.000,00 CMV (30.000,00) (30.000,00) (30.000,00) Despesas com salário (12.000,00) (12.000,00) Despesas c/13.o salário ( 1.000,00) Lucro 50.000,00 38.000,00 37.000,00 Observa-se no exemplo apresentado que embora a empresa tenha exe- cutado quatro transações no período, obtendo um lucro de R$37.000,00, seu caixa não se alterou, pois sua compra de mercadorias e sua respectiva venda foram a prazo e também suas despesas com salário e com 13.o salário ainda não foram pagas. Esse exemplo deixa bem clara a diferença entre o chamado “regime de caixa” e o de “competência”, pois mesmo não tendo movimentação financei- ra as transações foram registradas normalmente. Se a empresa efetuasse sua contabilidade de acordo com a movimentação financeira (regime de caixa) não teria contabilizado nada em janeiro, pois não houve entradas nemsaídas de recursos financeiros nesse período. Ita m ar M ira nd a M ac ha do . 20 Introdução à gestão de custos e conceitos básicos Com isso, pode-se concluir que todas as transações devem ser registradas de acordo com sua ocorrência (fato gerador) e não simplesmente com seu pagamento e/ou recebimento (fato financeiro). Comportamento, classificação e terminologias aplicadas à gestão de custos Comportamento dos custos e despesas O comportamento está relacionado à variação dos elementos de custos e despesas em relação ao nível de atividades, ou seja, como um determinado gasto se comporta em relação às variações no volume de produção e/ou de venda. Um gasto pode se comportar de forma estável em relação ao volume de produção ou vendas, ou seja, não sofre alterações relevantes em função do nível de atividades, a esses gastos dá-se o nome de custos e despesas fixos. Mas, pode ter um comportamento que acompanha o nível de atividades, ou seja, aumenta ou diminui proporcionalmente ao volume. Se o nível de atividades reduzir, esses gastos diminuem e, se aumentar, os gastos também aumentam, por isso, são chamados de custos e despesas variáveis. Custos e despesas fixos São aqueles cujo total permanece constante, independentemente de va- riações no nível de atividade, dentro da capacidade instalada. Podem sofrer alterações em função do aumento de preços dos seus elementos, mas não em função do volume de produção e venda. Exemplo de custos e despesas fixos Aluguel; � Energia elétrica (iluminação); � Água e telefone; � Salários e encargos. � Por exemplo: se determinado funcionário tem um salário de R$1.000,00, independente da quantidade produzida ou, até mesmo, se nada produziu, terá direito de receber seu salário no final do mês. CF R$ q Introdução à gestão de custos e conceitos básicos 21 O mesmo pode ser entendido pelo aluguel, não importa se houve produ- ção ou não, se houve venda ou não, o aluguel terá que ser pago da mesma forma, pois o proprietário do imóvel não tem absolutamente nada a ver com o volume de atividades da empresa. Por isso, os custos e despesas fixos podem ser entendidos da seguinte forma: É a capacidade disponibilizada de recursos para serem utilizados na produção independente da ocorrência dela, ou seja, independente se houve produção ou não. Custos e despesas variáveis São aqueles cujo total varia de forma diretamente proporcional às altera- ções nos volumes de produção e venda. Portanto, alteram-se em relação ao nível de atividades. Exemplos de custos e despesas variáveis Matéria-prima; � Material de consumo; � Comissão, prêmio por produção. � Exemplo 1 Supondo que a empresa gasta R$10,00 de matéria-prima por unidade produzida, se não produzir nada não haverá consumo de matéria-prima, mas se produzir uma unidade terá um custo variável de R$10,00; duas unidades = R$20,00; três unidades = R$30,00 e assim por diante. Se uma empresa tiver a seguinte composição de custos e despesas: Salário mensal R$1.000,00 Aluguel mensal R$2.000,00 Matéria-prima por unidade R$10,00 Comissão sobre vendas 5% Preço de venda por unidade R$30,00 Quantidade produzida e vendida no mês 200 unidades CV R$ q 22 Introdução à gestão de custos e conceitos básicos DRE – Demonstração de Resultado do Exercício Receita bruta de vendas 200 unid . R$30,00 = R$6.000,00 (–) Custos e despesas variáveis Matéria-prima Comissão 5% 200 unid . R$10,00 = R$6.000,00 . 5% = (R$2.000,00) (R$300,00) (=) Contribuição marginal R$3.700,00 (–) Custos e despesas fixos Salário Aluguel (R$1.000,00) (R$2.000,00) (=) Lucro operacional R$700,00 Se a quantidade produzida e vendida passar de 200 para 240 unidades e, supondo que a empresa tenha capacidade instalada para produzir essa quantidade, sendo assim, haverá alteração nos valores da receita, dos custos com matéria-prima e comissão, mas os custos com salário e aluguel se man- terão estáveis, portanto o resultado ficará da seguinte forma: DRE – Demonstração de Resultado do Exercício: considerando 240 unidades Receita bruta de vendas 240 unid . R$30,00 = R$7.200,00 (–) Custos e despesas variáveis Matéria-prima Comissão 5% 240 unid . R$10,00 = R$7.200,00 . 5% = (R$2.400,00) (R$360,00) (=) Contribuição marginal R$4.440,00 (–) Custos e despesas fixos Salário Aluguel (R$1.000,00) (R$2.000,00) (=) Lucro operacional R$1.440,00 Portanto, houve um aumento de 20% no volume de vendas e o lucro teve um crescimento de quase 106%, ou seja, mais que dobrou, passando de R$700,00 para R$1.440,00. Isso porque os custos e despesas fixos se man- tiveram estáveis. Introdução à gestão de custos e conceitos básicos 23 Exemplo 2: cálculo do custo unitário Supondo que a Cia. Delta tenha os seguintes custos na área produtiva: Custo fixo mensal R$15.000,00 Custo variável por unidade produzida R$4,00 Mês 1: no primeiro mês a empresa produziu 5 000 unidades. Custos e despesas fixos R$15.000,00 Custos e despesas variáveis: 5 000 unid . R$4,00 = R$20.000,00 Custo total de produção R$35.000,00 Para obtermos o custo unitário de cada unidade produzida, basta dividir- mos esse resultado pelo número total de unidades produzidas: Custo unitário = R$35.000,00 5 000 unid. = R$7,00 Mês 2: no segundo mês a empresa produziu 6 000 unidades, 1 000 a mais que no mês anterior. Custos e despesas fixos R$15.000,00 Custos e despesas variáveis: 6 000 unid . R$4,00 = R$24.000,00 Custo total de produção R$39.000,00 Custo unitário = R$39.000,00 6 000 unid. = R$6,50 Comparação: Custo fixo Custo variável Custo total Quantidade produzida Custo unitário Mês 1 R$15.000,00 R$20.000,00 R$35.000,00 5 000 R$7,00 Mês 2 R$15.000,00 R$24.000,00 R$39.000,00 6 000 R$6,50 Nota-se, portanto, que o custo unitário reduziu de R$7,00 para R$6,50, isso ocorreu porque os custos e despesas fixos totais acabaram diluídos, no mês 2, por 1 000 unidades a mais. Dessa forma, quanto maior a quantidade produzida pela empresa, mais competitiva ela se torna, pois menor será o seu custo unitário. 24 Introdução à gestão de custos e conceitos básicos Exercício de fixação Classificar os eventos a seguir em custo e despesa e também conforme o seu comportamento: fixo ou variável. Enunciado Conceito Comportamento Salário dos funcionários da produção. Custo Fixo Matéria-prima. Custo Variável Salário dos funcionários administrativos. Despesa Fixa Comissão paga aos vendedores. Despesa Variável Energia elétrica que ilumina a unidade fabril. Custo Fixo Energia elétrica que movimenta as máquinas da produção. Custo Variável Água, energia e telefone do escritório administra- tivo e comercial. Despesa Fixa Filme de raio X para um laboratório de radiologia. Custo Variável Hora-extra dos funcionários da produção. Custo Fixo Classificação dos custos Além do comportamento dos custos: fixos ou variáveis, outra importante diferenciação diz respeito à classificação dos custos que está vinculada à re- lação existente entre um elemento de custo e o objeto de custeio. Objeto de custeio pode ser um produto, uma família de produto, uma unidade de negócios etc., ou seja, aquilo que se deseja calcular o custo de acordo com a necessidade dos gestores em analisar os resultados. Um custo pode ser classificado como direto ou indireto, conforme a seguir. Custo direto É aquele que está diretamente relacionado com o produto (bem ou servi- ço), não há necessidade de fazer rateio. Para o comércio, custo direto será o valor pago pela mercadoria, para a indústria e prestação de serviço serão os custos que podem ser plenamente identificados com o produto ou serviço. Introdução à gestão de custos e conceitos básicos 25 Exemplos: Mão de obra direta – salário dos funcionários da produção; � Material direto – matéria-prima. � Custo indireto É aquele que está relacionado com o bem ou serviço, mas de forma in- direta. São os chamados “custos comuns”, ou seja, referem-se a mais de um objeto de custeio. Para serem apropriados precisam ser rateados.Exemplos: Mão de obra indireta – salário de supervisores; � Material indireto – materiais de consumo; � Aluguel; � Departamento de manutenção. � Exemplo de apropriação dos custos diretos e indiretos Suponhamos que uma fábrica de móveis produz 200 mesas e 300 armá- rios por mês. Os dois produtos são fabricados na mesma unidade e contam com a seguinte composição de custos: Custos diretos Madeira: R$100,00 o m², sendo que cada mesa consome 1,2m² de ma- � deira e cada armário 1,6m². Salários dos funcionários que trabalham somente com a produção das � mesas: R$11.000,00. Salários dos funcionários que trabalham somente com a produção dos � armários: R$14.000,00. Custos indiretos Cola: R$6.000,00 para toda produção do mês. É rateada proporcional- � mente à quantidade de madeira consumida por cada produto. 26 Introdução à gestão de custos e conceitos básicos Salários dos supervisores que atuam nas duas linhas de produção: � R$5.000,00. São rateados para os dois produtos proporcional ao salário direto de cada um. Aluguel: R$3.000,00 por mês, sendo rateado proporcional à quantida- � de produzida. Cálculo dos custos indiretos Cola – R$6.000,00 � : proporcional à quantidade de madeira. Cálculo da quantidade de madeira Qtd. de madeira % para cada produto Mesa 200 unidades . 1,2m² = 240m² 240 / 720 = 33,33% Armário 300 unidades . 1,6m² = 480m² 480 / 720 = 66,67% Total = 720m² Mesa: R$6.000,00 . 33,33% = R$2.000,00 Armário: R$6.000,00 . 66,67% = R$4.000,00 Supervisores – R$5.000,00 � : proporcional à mão de obra direta. Mão de obra direta % para cada produto Mesa R$11.000,00 R$11.000,00 / R$25.000,00 = 44% Armário R$14.000,00 R$14.000,00 / R$25.000,00 = 56% Total R$25.000,00 Mesa: R$5.000,00 . 44% = R$2.200,00 Armário: R$5.000,00 . 56% = R$2.800,00 Aluguel – R$3.000,00 � : proporcional à quantidade produzida. Quantidade produzida % para cada produto Mesa 200 200 / 500 = 40% Armário 300 300 / 500 = 60% Total 500 Mesa: R$3.000,00 . 40% = R$1.200,00 Armário: R$3.000,00 . 60% = R$1.800,00 Introdução à gestão de custos e conceitos básicos 27 Custo total de cada produto Mesa Armário Total Custo direto Material Mão de obra R$24.000,00 R$11.000,00 R$48.000,00 R$14.000,00 R$72.000,00 R$25.000,00 Total do custo direto R$35.000,00 R$62.000,00 R$97.000,00 Custo indireto Material (cola) Supervisores Aluguel R$2.000,00 R$2.200,00 R$1.200,00 R$4.000,00 R$2.800,00 R$1.800,00 R$6.000,00 R$5.000,00 R$3.000,00 Total do custo indireto R$5.400,00 R$8.600,00 R$14.000,00 Custo total R$40.400,00 R$70.600,00 R$111.000,00 Quantidade produzida 200 300 Custo unitário R$202,00 R$235,33 Outra questão importante nessa classificação entre direto e indireto é que determinado gasto pode ser considerado direto até um determinado ponto de análise e indireto à medida que vai-se expandindo a forma de ana- lisar. Exemplo: Suponhamos que uma escola possua cursos de graduação e pós-graduação e deseja calcular o resultado de cada uma das duas unidades de negócios. A remuneração paga aos professores e o material didático são custos diretos de cada uma das duas unidades de negócios, além disso, cada uma das áreas (graduação e pós-graduação) tem um coordenador que também é custo direto. Mas, a escola decidiu expandir a análise chegando ao resultado de cada curso, para isso, foi necessário ratear o valor da remuneração do co- ordenador da graduação para os seus respectivos cursos, da mesma forma, deverá ratear o valor da remuneração do coordenador da pós-graduação também para os seus respectivos cursos. Apenas para exemplificar, supondo que além dos custos mencionados há também o aluguel, energia elétrica e água do prédio onde funcionam as duas unidades de negócios com seus respectivos cursos, teremos: 28 Introdução à gestão de custos e conceitos básicos Análise das unidades de negócios Custo direto: professores, material didático e coordenadores. Custo indireto: aluguel, energia elétrica e água. Análise dos cursos Custo direto: professores e material didático. Custo indireto: aluguel, energia elétrica, água e coordenadores. Portanto, os coordenadores que são custos diretos ao se analisar apenas as duas unidades de negócios, passam a ser custos indiretos em relação aos cursos. Classificações complementares Além do comportamento, fixo e variável e também da classificação, direto e indireto, existem outras terminologias que são utilizadas em complemento às citadas. Custo evitável “É aquele que pode ser eliminado no todo em parte pela escolha de uma al- ternativa em detrimento de outra” (GARRISON; NOREEN; BREWER, 2007, p. 494). Exemplo: se uma pessoa optar por ir ao trabalho de ônibus estará evitan- do o custo com o combustível do seu carro. Custo inevitável “É um custo que já foi incorrido e não pode mais ser evitado” (GARRISON; NOREEN; BREWER, 2007, p. 494), ou seja, é aquele que permanece indepen- dente da decisão a ser tomada, também chamado de custo irrecuperável. Exemplo: se uma pessoa optar por ir ao trabalho de ônibus estará evi- tando o custo com o combustível do seu carro, mas não estará evitando o custo com depreciação do seu carro. Portanto, a depreciação é inevitável ou irrecuperável. Introdução à gestão de custos e conceitos básicos 29 Custo diferencial ou incremental “É a diferença entre os custos de duas alternativas quaisquer” (GARRISON; NOREEN; BREWER, 2007, p. 40). Normalmente são chamados de custos margi- nais, pois podem aumentar ou diminuir em função da alternativa escolhida. Exemplo: se uma pessoa optar por ir ao trabalho de ônibus ao invés do seu próprio carro, a diferença do preço da passagem e o custo com combus- tível, pneu, manutenção e estacionamento é um custo diferencial. Custo de oportunidade “É o benefício em potencial que é sacrificado quando uma alternativa é es- colhida em detrimento de outra” (GARRISON; NOREEN; BREWER, 2007, p. 41). Exemplo: se uma pessoa optar por ir ao trabalho de ônibus ao invés do seu próprio carro, poderá ter um custo menor, no entanto, poderá levar duas horas a mais pelo tempo de ir e vir de ônibus. O que se poderia fazer nessas duas horas é o custo de oportunidade. Os autores Garrison, Noreen e Brewer (2007, p. 41) mencionam ainda o seguinte exemplo para custo de oportunidade: Suponhamos que a Neiman Marcus esteja pensando em investir uma quantia elevada em terrenos nos quais construiria posteriormente uma nova loja. Em lugar de aplicar o dinheiro em terrenos, a empresa poderia investi-lo em títulos de baixo risco. Se os terrenos fossem comprados, o custo de oportunidade seria o rendimento do investimento em títulos, que teria sido obtido se fossem comprados em lugar dos terrenos. Observação importante: os termos anteriores não são excludentes, mas sim complementares, por exemplo; depreciação das máquinas utilizadas na produção de um único produto: Conceito � – custo porque se trata de um gasto com bens utilizados na produção. Comportamento � – fixo porque, normalmente, é calculado conside- rando uma taxa mensal independente da quantidade produzida. Classificação � – direto porque a máquina é utilizada na produção de um único produto. Classificação complementar � – inevitável, pois uma vez que se adqui- riu a máquina, haverá a depreciação. 30 Introdução à gestão de custos e conceitos básicos Ampliando seus conhecimentos (GARRISON; NOREEN; BREWER, 2007) Neste capítulo, examinamos algumas das maneiras pelas quais os adminis- tradores classificam custos. O modo pelo qual os custos serão usados – para a elaboração de relatórios externos, predizer o comportamento de custos, alocar custos a objetos de custos, ou na tomada de decisões – determinará como eles são classificados. Para fins de avaliação de estoques, e determinação de despesas para in- clusão no balanço e na demonstração do resultado do exercício, os custos são classificados como custos de produto ou custos de período (despesas). Os custos de produto são alocados a estoques e são tratados comoativos até que os produtos sejam vendidos. No momento da venda, os custos de produto tornam-se custos de produtos vendidos na demonstração de resultado. Em contraste, e de acordo com as práticas contábeis usuais, baseadas no Regime de Competência, os custos de período são inseridos diretamente como des- pesa na demonstração de resultado do período em que são incorridos. Numa empresa comercial o custo do produto é aquilo que foi pago pela empresa pelas mercadorias adquiridas. Para elaboração de relatórios financei- ros externos de uma empresa industrial, os custos de produto correspondem a todos os custos de produção. Nos dois tipos de empresa, os custos de venda e de administração são tratados como custos de período e lançados como despesas à medida que são incorridos. Para fins de predição do comportamento de custos – como os custos reagi- rão a variações do nível de atividade – os administradores comumente classi- ficam os custos em duas categorias – variáveis e fixos. Os custos variáveis, em termos totais são estritamente proporcionais ao nível de atividade. O custo variável unitário é constante. Os custos fixos, em termos de valor total, não se alteram quando há variações do nível de atividade dentro da faixa relevante. O custo fixo médio por unidade cai com o aumento do número de unidades. Para fins de alocação de custos aos objetos de custo, tais como produtos ou departamentos, os custos são classificados como diretos ou indiretos. Os custos diretos podem ser convenientemente associados a objetos de custo. Os custos indiretos não podem ser convenientemente associados a objetos de custo. Introdução à gestão de custos e conceitos básicos 31 Para a finalidade de tomada de decisões, os conceitos de custo e receita diferenciais, custo de oportunidade e custo irrecuperável são de importância vital. Custos e receitas diferenciais são os custos e receitas que diferem entre alternativas. Custo de oportunidade é benefício sacrificado quando uma alter- nativa é selecionada em detrimento de outra. Custo irrecuperável é um custo incorrido no passado e que por isso não pode ser alterado. Os custos diferen- ciais e os custos de oportunidade devem ser cuidadosamente considerados na tomada de decisões. Os custos irrecuperáveis são sempre irrelevantes na tomada de decisões, e devem ser ignorados. Essas várias classificações de custos são maneiras diferentes de encarar os custos. Um custo específico, como o custo do queijo utilizado num taco servido na Taco Bell, poderia ser custo de produção, custo de produto, custo variável, custo direto e custo diferencial – tudo ao mesmo tempo. Podemos classificar a Taco Bell como uma empresa fabricante de alimentação rápida. O custo do queijo num taco seria considerado um custo de produção e, como tal, também seria um custo de produto. Além disso, o custo de queijo seria considerado variável em função dos números de tacos servidos, e seria um custo direto do fornecimento de tacos. Finalmente, o custo do queijo num taco seria considerado um custo diferencial de produzir e servir tacos. Atividades de aplicação 1. Um equipamento adquirido para unidade de produção deve ser clas- sificado como: a) custo fixo. b) custo variável. c) investimento. d) despesa. 2. Coloque Verdadeiro (V) ou Falso (F) para as situações a seguir. Um gasto com propaganda deve ser registrado como despesa. )( Custos fixos são todos os gastos que, normalmente, são utilizados )( por longos períodos na produção. 32 Introdução à gestão de custos e conceitos básicos O salário do pessoal da produção deve ser registrado como custo. )( Custo variável são os gastos que permanecem constantes )( independente do volume de produção. Um veículo adquirido para uso do departamento administrativo )( deve ser registrado como investimento. 3. Um escritório de advocacia presta serviços para diversos clientes, con- siderando que os advogados conseguem anotar as horas gastas em cada processo, classifique os gastos abaixo em custos diretos (D) e in- diretos (I) em relação a cada um dos processos defendidos pelo escri- tório. Aluguel do escritório. )( Salário por hora de cada advogado. )( Gastos com pagamento das taxas para registros dos processos )( nos cartórios. Salário mensal da secretária que auxilia a todos os advogados )( do escritório. 4. Calcule o custo unitário dos produtos A e B, considerando os seguintes custos: Custo direto Produto A Produto B Matéria-prima R$13.000,00 R$7.000,00 Salário do pessoal da produção R$6.000,00 R$4.000,00 Custo Indireto Salário dos supervisores: R$3.000,00 rateado proporcionalmente à mão de obra direta. Aluguel: R$5.000,00 por mês rateado proporcionalmente à quantidade produzida, considerando que a empresa produz 700 unidades do produto A e 300 unidades do produto B. 5. Assinale a alternativa correta. a) Custo de oportunidade também pode ser chamado de custo irre- cuperável. b) A depreciação é um exemplo clássico de custo evitável. Introdução à gestão de custos e conceitos básicos 33 c) Custo inevitável também pode ser chamado de custo marginal. d) Custo incremental é o valor que se paga a mais ou a menos em função da escolha de uma alternativa em detrimento de outra. 6. Classifique os custos abaixo em fixo ou variável em função do seu comportamento. a) Combustível para uma empresa de ônibus. b) Aluguel da fábrica. c) Pão e salsicha para um carrinho de cachorro quente. d) Material didático distribuído aos alunos de uma escola. e) Salário do pessoal da produção. Gabarito 1. C 2. V, F, V, F, V 3. I, D, D, I 4. Produto A Produto B Custo direto Matéria-prima R$13.000,00 R$7.000,00 Salário do pessoal da produção R$6.000,00 R$4.000,00 Total dos custos diretos R$19.000,00 R$11.000,00 Custo indireto * Salário dos supervisores R$1.800,00 R$1.200,00 Aluguel R$3.500,00 R$1.500,00 Total dos custos indiretos R$5.300,00 R$2.700,00 Custo total: direto + indireto R$24.300,00 R$13.700,00 Quantidade produzida 700 unid. 300 unid. Custo unitário R$34,71 R$45,67 34 Introdução à gestão de custos e conceitos básicos * Custo indireto: Salário dos supervisores: R$3.000,00 rateado proporcionalmente à mão de obra direta. Total da mão de obra direta: R$10.000,00 Prod. A: R$6.000,00 / R$10.000,00 = 60% . R$3.000,00 = R$1.800,00 Prod. B: R$4.000,00 / R$10.000,00 = 40% . R$3.000,00 = R$1.200,00 Aluguel: R$5.000,00 por mês rateado proporcionalmente à quantida- de produzida, considerando que a empresa produz 700 unidades do produto A e 300 unidades do produto B. Total da quantidade produzida: 1 000 unidades Prod. A: 700 / 1 000 = 70% . R$5.000,00 = R$3.500,00 Prod. B: 300 / 1 000 = 30% . R$5.000,00 = R$1.500,00 5. D 6. a) Variável b) Fixo c) Variável d) Variável e) Fixo Método de Custeio por Absorção Métodos de custeio Método de custeio é a forma como os custos são tratados para se chegar ao custo total de fabricação e também para se calcular o custo unitário de um produto. Um sistema de custos tem como principal objetivo transformar dados em informações, ou seja, todos os custos de produção, sejam eles diretos ou indiretos, fixos ou variáveis são registrados, portanto há uma entrada de dados, que após serem processados geram a informação final do custo total e/ou unitário. Os métodos de custeio estão relacionados à etapa do “processamento”, pois a informação será gerada de acordo com o método que fora utilizado. Sendo assim, para os mesmos dados, teremos informações diferenciadas em função do método escolhido. Entrada de dados Custos diretos Custos indiretos (fixos e variáveis) Métodos de custeio Custo total de fabricação e custo unitário Processamento Informações Ita m ar M ira nd a M ac ha do . Figura 1 – Esquema de um sistema de custos. A adoção de um método de custeio tem que ser muito bem analisada. Cada empresa tem sua realidade, ou seja, forma de fabricação, qualidade de seus recursos humanos,culturas internas, necessidades diferenciadas de in- formações e outros. Portanto, um método de custeio que deu certo numa empresa não quer dizer que, necessariamente, dará certo em outra. Dessa forma, para que haja boas informações é necessário que haja qua- lidade na entrada dos dados, por isso, deve haver muito comprometimento 37 38 das pessoas que farão os apontamentos e os inputs. Essas pessoas devem estar devidamente treinadas e qualificadas para exercer essas atividades. Outro ponto relevante é determinar o que deve ser controlado, pois se uma informação não irá contribuir para o processo de tomada de decisões é desnecessário consumir energias no seu controle, uma vez que não vai gerar benefícios. Na escolha do método é necessário sempre levar em consideração que: Uma informação não deve custar mais que seu benefício econômico, ou seja, que o benefício que ela gera. Existem alguns métodos de custeio internacionalmente aplicados. A seguir, serão enfatizados os três métodos mais utilizados tanto no Brasil como na maioria dos países. Esses métodos são: Custeio por Absorção; � Custeio Variável (direto); � Custeio ABC – Custeio Baseado em Atividades. � Custeio por Absorção Como o próprio nome menciona, as unidades produzidas absorvem todos os custos diretos e indiretos independente se seu comportamento é fixo ou variável. Na maioria dos países, inclusive no Brasil, esse método é o oficial da con- tabilidade financeira e fiscal. No comércio o custo da mercadoria vendida é composto pelo valor pago pela mercadoria mais frete e seguro, menos os créditos de impostos. Na in- dústria e na empresa de prestação de serviços todos os componentes re- lacionados ao processo produtivo compõem o custo do bem ou do servi- ço, como por exemplo: mão de obra, matéria-prima líquida dos créditos de impostos, depreciação dos equipamentos utilizados na produção, aluguel, água, luz, telefone etc., consumidos nos departamentos produtivos. Método de Custeio por Absorção Método de Custeio por Absorção 39 Importante destacar que os produtos absorvem todos os custos, sendo que as despesas são consideradas do período, por isso, independente da pro- dução elas são registradas diretamente no resultado (DRE). Assim, vale res- saltar que nesse método apenas os custos são lançados para os produtos. No final de cada período (mês ou ano) haverá alguns produtos que ainda não estarão acabados, ou seja, estarão em processo de fabricação, esses pro- dutos são chamados de estoque de produtos em elaboração. Quando os pro- dutos estiverem prontos para serem vendidos são chamados de estoque de produtos acabados. Quando for vendido, será baixado da conta estoque de produtos acaba- dos e lançado como custo do produto vendido na Demonstração do Resul- tado do Exercício (DRE). A figura 2 mostra esse fluxo. Ita m ar M ira nd a M ac ha do . DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO + Custos variáveis Estoque de produto em elaboração Custos indiretos Receita líquida (–) Custos dos produtos vendidos (=) Lucro bruto (–) Despesas comerciais (–) Despesas gerais e administrativas (=) Lucro operacional Estoque de produto acabado Custos fixos diretos Figura 2 – Fluxograma do Custeio por Absorção. 40 Nesse método, conforme mencionado, todos os custos serão apropriados para as unidades de produção, sendo assim, para se chegar ao custo unitário, somam-se todos os custos e no final divide-se pela quantidade produzida. O valor referente às unidades vendidas será transferido para a DRE e o corres- pondente aos produtos em elaboração e acabados ficarão no Ativo, dentro da conta “Estoques”. Exemplo de apropriação dos custos pelo Custeio por Absorção no setor industrial Suponhamos uma empresa com o seguinte balanço inicial: Balanço inicial – Cia. Industrial Ativo R$ Pat. Líquido R$ Caixa 1.000,00 Capital 1.300,00 Estoque de matéria-prima 100,00 Equipamentos 200,00 Total 1.300,00 Total 1.300,00 No período houve a seguinte movimentação: Custos no período Utilização de matéria-prima R$80,00 (Esse valor será baixado da conta “estoque de matéria- -prima do balanço”.) Mão de obra direta R$90,00 Custos indiretos de fabricação R$15,00 (Aluguel e taxas do depto. de produção.) Depreciação R$20,00 Custos da produção R$205,00 Unidades acabadas 20,0 Unidades em fase de elaboração 0,5 (1 unid. com grau de acaba- mento de 50%.) Total de unidades produzidas 20,5 Custo unitário: R$205,00 / 20,5 unid. R$10,00 Método de Custeio por Absorção Método de Custeio por Absorção 41 Resumo Custo dos produtos em elaboração: 0,5 . R$10,00 = R$5,00 Produtos acabados estocados: 20 . R$10,00 = R$200,00 Custo total da produção R$205,00 Considerando que, até esse ponto, não houve vendas nem despesas, não haverá demonstração do resultado e todos os custos de produção serão re- gistrados nas contas de “estoques”, conforme o balanço intermediário apre- sentado após o fluxo de caixa. Fluxo de caixa Saldo inicial R$1.000,00 Pagamentos Despesas com mão de obra R$(90,00) Custos indiretos de fabricação R$(15,00) Total de desembolsos R$(105,00) Saldo final R$895,00 Balanço intermediário – Cia. Industrial Ativo R$ Pat. Líquido R$ Caixa 895,00 Capital 1.300,00 Estoque de matéria-prima 20,00 Estoque de produto em elaboração 5,00 Estoque de produtos acabados 200,00 Equipamentos 200,00 (–) Depreciação acumulada (20,00) Total 1.300,00 Total 1.300,00 Nota-se que o total do Ativo não sofreu alteração, pois houve movimen- tação de contas apenas dentro do Ativo, trocou-se caixa, matéria-prima e depreciação dos equipamentos por estoque de produtos em elaboração e acabados. Considerando, agora, que houve vendas e também despesas no período, as demonstrações ficarão da seguinte forma: 42 Movimentação no final do período Quantidade vendida no mês 15 unidades Preço de venda R$12,00 Despesas administrativas R$20,00 Demonstrativos no final do período – DRE Receita de venda: 15 unid . R$12,00 = R$180,00 (–) CPV: 15 unid . R$10,00 = R$(150,00) (=) Lucro bruto R$30,00 (–) Despesas administrativas R$(20,00) (=) Resultado operacional R$10,00 Fluxo de caixa Saldo inicial R$1.000,00 Pagamentos Despesas com mão de obra R$(90,00) Custos indiretos de fabricação R$(15,00) Despesas administrativas R$(20,00) Total de desembolsos R$(125,00) Recebimentos Receita de vendas R$180,00 Total de recebimentos R$180,00 Saldo final R$1.055,00 Balanço final – Cia. Industrial Ativo R$ Pat. Líquido R$ Caixa 1.055,00 Capital 1.300,00 Estoque de matéria-prima 20,00 Lucros acumulados 10,00 Estoque de produto em elaboração 5,00 Estoque de produtos acabados 50,00 Equipamentos 200,00 Depreciação acumulada (20,00) Total 1.310,00 Total 1.310,00 Método de Custeio por Absorção Método de Custeio por Absorção 43 Resumo do custo total da produção DRE – Custo dos produtos vendidos 15,0 unid . R$10,00 = R$150,00 Ativo – Estoque de produto em elaboração 0,5 unid . R$10,00 = R$5,00 Ativo – Estoque de produto acabado 5,0 unid . R$10,00 = R$50,00 Total R$205,00 Nota-se, portanto, que o Custeio por Absorção estoca custos fixos e in- diretos, pois na composição do valor de R$205,00 há custos variáveis com matéria-prima, mas também custos indiretos e fixos como: mão de obra, alu- guel, taxas e depreciação. No exemplo apresentado, foi simples lançar os custos indiretos para as unidades de produção, pois a empresa trabalha somente com um produto, mas quando há diversos produtos ou serviços, de acordo com o Custeio por Absorção, haverá a necessidade de ratear esses custos para os diversos pro- dutos, em função disso será preciso instituir os critérios para estabelecer os rateios. Critérios de rateio dos custos indiretos Quando a empresa produz mais de um produto ou serviço há uma difi- culdade para se alocar os Custos Indiretos de Fabricação (CIF) aos produtos, pois esses custos são consumidos pelos produtos de forma indireta, sendo muito difícil, às vezes impossível, sua mensuração correta. Assim, os CIFssão alocados através de rateio, cujos critérios são definidos pela empresa. O grande problema disso é que todo critério de rateio, por melhor que seja a intenção, haverá uma boa parcela de subjetividade na sua aplicação. Por exemplo, é muito comum ratear os gastos com propaganda e publici- dade proporcional à receita de vendas de cada produto, no entanto, a re- ceita de um produto pode ser maior, não porque houve a propaganda, mas porque esse produto é vendido por um valor mais alto que os demais, ou o seu mercado é maior, por isso, consegue um volume maior de vendas. Outro exemplo: é muito comum ratear os gastos com aluguel do almoxari- fado proporcional à quantidade produzida, mas pode ser que um determi- nado produto tenha alto volume de produção, mas não fica estocado, pois é produzido sob encomenda e, ao ficar pronto, imediatamente é entregue aos clientes, portanto, utilizou muito pouco o espaço do almoxarifado, mas 44 foi atribuído a ele alto custo do aluguel em função do critério, nesse caso, volume de produção. Em função da subjetividade, todo critério de rateio pode ser questiona- do, por isso, nos dias atuais, para fins gerenciais, tem-se criticado muito sua aplicação. Obrigatoriedade do rateio Como o Custeio por Absorção é o método exigido pela legislação socie- tária e fiscal, para se apurar o custo unitário com o objetivo de se valorar o estoque, os custos indiretos necessitam ser rateados. Mas, vale destacar que essa obrigatoriedade é apenas para fins legais. A seguir um exemplo de como fazer o rateio. Supondo que determinada empresa produza na mesma unidade indus- trial dois produtos, ela tem um Custo Indireto de Fabricação, também cha- mado de Gastos Gerais de Fabricação (GGF), no valor de R$78.000,00 que será rateado para os dois produtos. Entendendo a tabela 1 com a composição dos custos Os itens 1 e 2 são os custos diretos com material e mão de obra, por-a) tanto não se trata de rateio e sim apropriação direta. Os itens 3 a 10 são os custos indiretos que são rateados conforme os b) critérios descritos na terceira coluna, por exemplo, quando menciona que o material indireto teve como base para seu critério de rateio o item1, significa que o material direto foi utilizado como base para rate- ar o material indireto. Para fazer o rateio parte-se do valor total de cada rubrica para se che-c) gar aos valores atribuídos a cada um dos produtos, por exemplo: Item 3 – rateio do material indireto � : valor total R$10.000,00 rate- ado proporcional ao material direto (item1). Material direto Produto A: R$40.000,00 / R$100.000,00 = 40% Produto B: R$60.000,00 / R$100.000,00 = 60% Método de Custeio por Absorção Método de Custeio por Absorção 45 Então: Material indireto Produto A: R$10.000,00 . 40% = R$4.000,00 Produto B: R$10.000,00 . 60% = R$6.000,00 Item 4 – rateio da supervisão � : valor total R$20.000,00 rateado pro- porcional à mão de obra direta (item 2). Mão de obra direta Produto A: R$18.000,00 / R$60.000,00 = 30% Produto B: R$42.000,00 / R$60.000,00 = 70% Então: Mão de obra indireta Produto A: R$20.000,00 . 30% = R$6.000,00 Produto B: R$20.000,00 . 70% = R$14.000,00 Item 5 – rateio do aluguel da fábrica � : valor total R$5.000,00 ratea- do proporcional à área ocupada (item13). Área ocupada – m² Produto A: 120m² / 200m² = 60% Produto B: 80m² / 200m² = 40% Então: Aluguel Produto A: R$5.000,00 . 60% = R$3.000,00 Produto B: R$5.000,00 . 40% = R$2.000,00 Item 6 – rateio das depreciações � : valor total R$8.000,00 rateado proporcional ao tempo de utilização das máquinas (item11). Tempo de utilização das máquinas (h) Produto A: 70h / 200h = 35% 46 Produto B: 130h / 200h = 65% Então: Depreciações Produto A: R$8.000,00 . 35% = R$2.800,00 Produto B: R$8.000,00 . 65% = R$5.200,00 Item 7 – rateio do transporte com pessoal � : valor total R$6.000,00 rateado proporcional à quantidade de funcionários diretos (item 14). Quantidade de funcionários diretos Produto A: 40 / 100 = 40% Produto B: 60 / 100 = 60% Então: Transporte de pessoal Produto A: R$6.000,00 . 40% = R$2.400,00 Produto B: R$6.000,00 . 60% = R$3.600,00 Item 8 – rateio da energia das máquinas � : valor total R$10.000,00 rateado proporcional à potência das máquinas (item 12). Potência das máquinas Produto A: 1 200 / 2 000 = 60% Produto B: 800 / 2 000 = 40% Então: Energia das máquinas Produto A: R$10.000,00 . 60% = R$6.000,00 Produto B: R$10.000,00 . 40% = R$4.000,00 Método de Custeio por Absorção Método de Custeio por Absorção 47 Item 9 – rateio da iluminação (energia) da fábrica � : valor total R$4.000,00 rateado proporcional à área ocupada (item 13). Área ocupada (m²) Produto A: 120m² / 200m² = 60% Produto B: 80m² / 200m² = 40% Então: Iluminação (energia) da fábrica Produto A: R$4.000,00 . 60% = R$2.400,00 Produto B: R$4.000,00 . 40% = R$1.600,00 Item 10 – rateio dos outros custos indiretos � : valor total R$15.000,00 rateado proporcional à quantidade produzida (item 14). Quantidade produzida Produto A: 4 000 unid. / 12 000 unid. = 33,33% Produto B: 8 000 unid. / 12 000 unid. = 66,67% Então: Outros CIFs Produto A: R$15.000,00 . 33,33% = R$5.000,00 Produto B: R$15.000,00 . 66,67% = R$10.000,00 48 Tabela 1 – Custos rateados Item Dados Item utilizado como base para o critério de rateio Prod. A R$ Prod. B R$ Total R$ 1 Material direto 40.000,00 60.000,00 100.000,00 2 Mão de obra direta 18.000,00 42.000,00 60.000,00 Total dos custos diretos 58.000,00 102.000,00 160.000,00 Custos indiretos de fabricação 3 Material indireto 1 4.000,00 6.000,00 10.000,00 4 Supervisão 2 6.000,00 14.000,00 20.000,00 5 Aluguel da fábrica 13 3.000,00 2.000,00 5.000,00 6 Depreciações 11 2.800,00 5.200,00 8.000,00 7 Transporte de pessoal 14 2.400,00 3.600,00 6.000,00 8 Energia das máquinas 12 6.000,00 4.000,00 10.000,00 9 Iluminação (energia) da fábrica 13 2.400,00 1.600,00 4.000,00 10 Outros CIFs 15 5.000,00 10.000,00 15.000,00 Total dos custos indiretos 31.600,00 46.400,00 78.000,00 Custo total (direto + indireto) 89.600,00 148.400,00 238.000,00 Dados de medição 11 Tempo de utilização das máquinas (horas) 70h 130h 200h 12 Potência das máquinas 1200 800 2 000 13 Área ocupada (m2) 120m2 80m2 200m2 14 Qtd. de funcionários diretos 40 60 100 15 Quantidade produzida 4 000 unid. 8 000 unid. 12 000 unid. Assim, o custo total dos produtos A e B ficou da seguinte forma: Prod. A Prod. B Total Custos diretos R$58.000,00 R$102.000,00 R$160.000,00 Custos indiretos R$31.600,00 R$46.400,00 R$78.000,00 Total direto + indireto R$89.600,00 R$148.400,00 R$238.000,00 Para se calcular o custo unitário de cada produto, deve-se dividir o custo total pela quantidade produzida: Produto A = R$89.600,00 4 000 = R$22,40 Produto B = R$148.400,00 8 000 = R$18,55 Método de Custeio por Absorção Método de Custeio por Absorção 49 Ponto para reflexão e análise Supondo que a empresa deseja obter um lucro de 10%, assim terá que vender o produto A por aproximadamente R$25,00, uma vez que o seu custo unitário é de R$22,40. Se os concorrentes estiverem vendendo por R$20,00, a empresa deve parar de vender o produto A? Observação: a empresa já opera com sua capacidade máxima e não com- porta redução significativa em seus custos. A participação de cada um dos produtos no mercado é exatamente a quantidade praticada, não há pers- pectiva de aumento dessa participação, pelo menos a médio prazo. Resposta Se compararmos o preço sugerido de venda no valor de R$20,00 com o custo unitário total de R$22,40, tomaremos a decisão errada que esse pro- duto deve ser retirado de linha, pois, aparentemente, estará gerando um prejuízo de R$2,40 por unidade. Mas, esse produto não deve ser retirado em função dos seguintes pontos: Se dividirmos os custos diretos desse produto no valor de R$58.000,00 a) pela quantidade produzida de 4 000 unidades, chegaremos ao custo direto unitário de R$14,50,portanto, vendendo por R$20,00, que é o mesmo preço dos concorrentes, o produto A estará conseguindo pagar os seus custos diretos de R$14,50 e, ainda, estará gerando R$5,50 por unidade, ajudando a cobrir o total dos custos indiretos da empresa. O valor de R$31.600,00 dos custos indiretos rateados para o produto b) A, continuarão, na sua grande maioria, existindo, portanto se retirar esse produto de linha, a empresa não reduzirá os custos indiretos na mesma proporção que o resultado direto desse produto. Conforme mencionado no item “a”, o produto A está gerando uma con-c) tribuição de R$5,50 por unidade para cobrir os custos indiretos, multi- plicando esse valor pela quantidade produzida de 4 000 unidades, che- ga-se ao valor total de R$22.000,00, se excluir esse produto a empresa perderá essa contribuição, mas continuará tendo os custos indiretos de R$31.600,00 que foram atribuídos, por rateio, ao produto A. Assim, somente seria viável a exclusão desse produto se dos R$31.600,00 de custos indiretos for possível reduzir mais de R$22.000,00. A expe- riência nos mostra que isso seria quase impossível, pois R$22.000,00 50 em relação a R$31.600,00 representa uma necessidade de redução de aproximadamente 70%, na prática, o máximo que se consegue redu- zir de custos fixos indiretos quando se elimina um produto é algo em torno de 15 a 20%. Nesse exemplo, portanto, a redução do custo fixo indireto seria algo em torno de R$6.000,00, ficando bem abaixo dos R$22.000,00. Vendendo o produto A pelo mesmo valor da concorrência, R$20,00 e, d) supondo que aplicando uma margem de lucro de 10% sobre os custos do produto B ele esteja com o seu preço de venda semelhante à con- corrência, ou seja, R$18,55 . 1,10 = R$20,41, o resultado será: Produto A: Receita: 4 000 unid . R$20,00 = Custo direto: 4 000 unid . R$14,50 = Resultado direto produto A R$80.000,00 R$(58.000,00) R$22.000,00 Produto B: Receita: 8 000 unid . R$20,41 = Custo direto: 8 000 unid . R$12,75 = Resultado direto produto B R$163.280,00 R$(102.000,00) R$61.280,00 Lucro direto dos produtos A + B R$83.280,00 Custo indireto total R$(78.000,00) Lucro operacional R$5.280,00 Se a empresa excluir o produto A e economizar 20% dos custos indiretos atribuídos, o resultado ficaria da seguinte forma: Produto A: Receita: 0 unid . R$20,00 = Custo direto: 0 unid . R$14,50 = Resultado direto produto A R$0,00 R$0,00 R$0,00 Produto B: Receita: 8 000 unid . R$20,41 = Custo direto: 8 000 unid. . R$12,75 = Resultado direto produto B R$163.280,00 R$(102.000,00) R$61.280,00 Lucro direto dos produtos A + B R$61.280,00 Custo indireto total* R$(71.680,00) Lucro operacional R$(10.400,00) * Custo indireto no valor de R$71.680,00 foi calculado da seguinte forma: houve uma redução de 20% sobre o valor de R$31.600,00 = R$6.320,00, portanto: R$78.000,00 – R$6.320,00 = R$71.680,00. Conclusão Se o produto A for excluído o lucro de R$5.280,00 passará para um pre- juízo de R$10.400,00, isso aconteceu porque a empresa deixará de ter um Método de Custeio por Absorção Método de Custeio por Absorção 51 resultado de R$22.000,00 desse produto contra uma economia dos custos indiretos de apenas R$6.320,00. Portanto, o rateio dos custos fixos indiretos para cada unidade de pro- dução, aumenta seu custo unitário reduzindo, portanto, o seu lucro quando comparado com o seu preço de venda. Isso poderá induzir os gestores a tomar decisões erradas, pois esse custo rateado não pode ser considerado como verdadeiro, porque além da subjetividade dos critérios de rateio, o custo unitário também está influenciado pela quantidade produzida, quanto maior for a quantidade, menor será o custo unitário, pois os custos fixos serão diluídos por maior volume e, consequentemente, seu valor será menor por unidade. É por situações como essa que Martins (2006, p.185) afirma: A alocação de custos fixos é uma prática contábil que pode, para efeito de decisão, ser perniciosa; por sua própria natureza, o valor a ser atribuído a cada unidade depende do volume de produção e, o que é muito pior, do critério de rateio utilizado. Por isso, decisões tomadas com base no “lucro” podem não ser as mais corretas. Comprar ou fabricar Esse é um questionamento rotineiro na vida das organizações, os ges- tores das áreas a cada instante pensam na melhor forma de otimizar seus resultados e uma delas, às vezes, é a chamada terceirização. Para ilustrar, vamos analisar a seguinte questão: Determinada empresa atua na fabricação de três produtos A, B e C e conta com as seguintes composições de custos: Custos Prod. A (R$) Prod. B (R$) Prod. C (R$) Total (R$) Materiais diretos 5.000,00 7.000,00 12.000,00 24.000,00 Mão de obra direta 3.000,00 5.000,00 8.000,00 16.000,00 Total do custo direto 8.000,00 12.000,00 20.000,00 40.000,00 Custos Indiretos de Fabricação – CIF 6.480,00 15.570,00 25.950,00 48.000,00 Total direto + indireto 14.480,00 27.570,00 45.950,00 88.000,00 Os R$48.000,00 de CIFs se referem a aluguel, energia elétrica, água, tele- fone, mão de obra indireta, materiais de consumo, entre outros. Eles foram rateados aos produtos, pelos critérios adotados pela empresa, chegando aos valores mencionados em cada um dos três produtos. 52 Dados para análise Fabrica-se 1 000 unidades do produto A por mês, então, seu custo uni- � tário é de R$14,48 (R$14.480,00 / 1 000 unidades). Essa empresa recebe uma proposta de um fornecedor que oferece esse � produto, com o mesmo padrão de qualidade, por R$10,00 a unidade. Assim, surge o questionamento: Você deixaria de fabricar o produto A e o compraria do fornecedor? Por quê? Resposta Se compararmos o valor de R$10,00 ofertado pelo fornecedor com o valor de R$14,48 que custa para produzir internamente, certamente chegaríamos à conclusão que a proposta é vantajosa, mas vamos a uma análise mais de- talhada e elaborada: Os custos do produto A estão divididos da seguinte forma: Custo direto (materiais + mão de obra): R$8.000,00 / 1 000 unid. = R$8,00 Custos indiretos de fabricação: R$6.480,00 / 1 000 unid. = R$6,48 Total: R$14.480,00 R$14,48 Se, com a compra, houver eliminação total dos CIFs valerá a pena aceitar, pois a economia será de R$4,48 por unidade. Fabricar Comprar Custo direto (materiais + mão de obra): R$8,00 R$10,00 Custos indiretos de fabricação: R$6,48 R$0,00 Total: R$14,48 R$10,00 economia de R$4,48 Se, com a compra, a economia nos CIFs for de R$2,00 por unidade haverá um empate: Fabricar Comprar Custo direto (materiais + mão de obra): R$8,00 R$10,00 Custos Indiretos de Fabricação: R$6,48 R$4,48 (valor remanescente) Total: R$14,48 R$14,48 Método de Custeio por Absorção Método de Custeio por Absorção 53 Portanto, para valer a pena aceitar a proposta do fornecedor, a economia nos CIFs deverá ser maior que R$2,00, ou seja, deve-se cortar mais de 30% dos custos indiretos atribuídos a esse produto, o que é uma tarefa muito difícil. Outra consideração importante a ser feita é que, aceitando a proposta do fornecedor, poderá haver eliminação total dos CIFs para o produto A, mas não para a empresa, ou seja, os R$6.480,00 não serão eliminados e sim serão redistribuídos para os produtos B e C, isso acontecendo, o resultado global da empresa ficaria da seguinte forma: Custos diretos: (R$) Produto A: 10.000,00 (valor a ser pago ao fornecedor) Produto B: 12.000,00 Produto C: 20.000,00 Total dos custos diretos: 42.000,00 Custos Indiretos de Fabricação: 48.000,00 Total dos custos da empresa: 90.000,00 Portanto, houve otimização dos custos do produto A que caiu de R$14.480,00 para R$10.000,00, mas, isso prejudicou o resultado global da empresa que tinha um custo total de R$88.000,00 e passou a ter de R$90.000,00. Conclusão Novamente vem a questão do rateio dos custos fixos indiretos, ou seja, ratear o valor de R$48.000,00 para os três produtos, poderá confundir os ges- tores ao elaborar uma análise para tomada de decisão, caso não houvesse o rateio, ficaria claroque o custo direto do produto A é de R$8,00 por unidade e que, portanto, não vale a pena aceitar a proposta do fornecedor de R$10,00. Importante Todo processo de gestão organizacional deverá ter como premissa básica que o resultado global da empresa deve prevalecer em detrimento do resul- tado individual das áreas e/ou produtos. Sendo assim, o gestor do produto A terá que entender que de nada adiantará melhorar o resultado do seu pro- duto, prejudicando o resultado global da empresa. Quando há conflitos, entre os interesses da empresa e os das áreas, deve prevalecer o interesse global da empresa. O grau de autoridade dos gestores deve ser compatível com seu grau de responsabilidade, esperando-se deles uma atitude empreendedora. 54 A influência dos impostos indiretos nos custos dos produtos Os impostos indiretos são aqueles que incidem sobre a Receita, indepen- dente se a empresa terá lucro ou prejuízo, só pelo fato de se emitir a nota fiscal haverá incidência desses impostos. São chamados de indiretos pelo fato de serem pagos não pela empresa, mas pelo cliente, uma vez que estão embutidos no preço da mercadoria. Também são chamados de impostos operacionais. Os impostos indiretos são: Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); � Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS); � Impostos Sobre Serviços (ISS); � Programa de Integração Social (PIS); � Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS). � Exceto o ISS, para todos os outros há uma forma de compensação para não haver bi-tributação, a esse mecanismo de compensação dos tributos chamamos de não cumulatividade, ou seja, em cada etapa, desconta-se o valor pago na etapa anterior. Para exemplificar, será mencionado o ICMS, mas os demais seguem a mes- ma sistemática respeitando as alíquotas de cada um e suas especificidades. ICMS O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) incide sobre as operações de venda de mercadorias e prestação de serviço de transporte e comunicação. As empresas industriais e comerciais devem excluir do valor a ser lançado no estoque a quantia que se referir ao ICMS. Esse imposto não é cumulativo, ou seja, deve ser compensado a cada operação de compra e venda, por isso não constitui em custo para a empresa, deve ser considerado como imposto pago antecipadamente, por isso, será registrado no Ativo como imposto a recuperar ou a compensar. Método de Custeio por Absorção Método de Custeio por Absorção 55 Quando se compra uma mercadoria no valor de R$100.000,00, com ICMS de 18% já incluído no preço, na realidade pagou-se R$82.000,00 pela mer- cadoria e R$18.000,00 de ICMS. Esse valor de R$18.000,00 será compensado com o ICMS sobre as vendas do período. Exemplo: supondo que a indústria vende uma determinada mercadoria para o distribuidor por R$100,00, com ICMS incluso de 18%. O distribuidor revende essa mercadoria para o varejista por R$150,00, que a revende para o Sr. Antônio (consumidor final) por R$250,00. Vejamos como fica a apuração do ICMS, considerando que houve apenas essa movimentação nas empresas envolvidas: Indústria Distribuidor Varejista Valor da venda R$100,00 R$150,00 R$250,00 ICMS – 18% R$18,00 R$27,00 R$45,00 Crédito operação anterior – R$(18,00) R$(27,00) ICMS a recolher R$18,00 R$9,00 R$18,00 É como se o distribuidor fizesse o seguinte raciocínio com o fisco (gover- no): “eu tenho que pagar o valor de R$27,00 de ICMS, no entanto, quando adquirimos a mercadoria, veio incluso no preço e, portanto, já pagamos o valor de R$18,00, sendo assim, teremos que pagar apenas mais R$9,00”. Nota-se, portanto, que o ICMS é devido apenas sobre o valor agregado (diferença entre o valor da venda e da compra), por isso é considerado um imposto não cumulativo. Na maioria dos países o ICMS é chamado de Im- posto sobre Valor Agregado (IVA), realmente esse nome IVA reflete melhor a característica do imposto. Resumo do ICMS pago em toda cadeia: Valor final da mercadoria vendida R$250,00 Alíquota 18% ICMS total R$45,00 O valor total do ICMS foi recolhido em cada fase, de acordo com o valor agregado de cada um: 56 Contribuintes Valor agregado Alíquota ICMS Indústria R$100,00 18% R$18,00 Distribuidor R$50,00 18% R$9,00 Varejista R$100,00 18% R$18,00 Total R$250,00 18% R$45,00 Observação: o Sr. Antônio (consumidor final), não revendendo a merca- doria a ninguém, foi quem ficou com o custo total do imposto, pois, não teve como repassá-lo, por ter sido o último na cadeia de negociação. Forma de apresentação do ICMS no Balanço e na DRE do distribuidor Balanço inicial do distribuidor:1 – Ativo (R$) Passivo (R$) Caixa 50,00 Exigibilidade Patrimônio Líquido 50,00 Capital 50,00 Total 50,00 Total 50,00 O distribuidor ao adquirir a mercadoria da indústria por R$100,00 efe-2 – tuou o seguinte registro no seu balanço: Ativo (R$) Passivo (R$) Caixa 50,00 Exigibilidade 100,00 Estoque 82,00 Fornecedores 100,00 ICMS a recuperar 18,00 Pat. Líquido 50,00 Capital 50,00 Total 150,00 Total 150,00 Portanto, o estoque é lançado pelo valor da compra deduzido do ICMS, uma vez que esse será recuperado no momento em que houver ICMS a pagar, portanto esse imposto não se constitui em custo para a empresa e sim como um “vale fiscal”, por isso é um Ativo, um direito, pois será recuperado nas transações futuras. Método de Custeio por Absorção Método de Custeio por Absorção 57 Custo da mercadoria* = Preço compra – Impostos indiretos** * Estoque (ativo) ** Crédito fiscal (ativo) O distribuidor revende a mercadoria para o varejista por R$150,00 a prazo.3 – DRE Receita bruta de vendas R$150,00 (–) ICMS (150 . 18%) R$(27,00) (=) Receita líquida de vendas R$123,00 (–) CMV R$(82,00) Lucro R$41,00 Ativo (R$) Passivo (R$) Caixa 50,00 Exigibilidade 127,00 Estoque 0,00 Fornecedores 100,00 ICMS a recuperar 18,00 ICMS a pagar 27,00 Clientes 150,00 Patrimônio Líquido 91,00 Capital 50,00 Lucros acumulados 41,00 Total 218,00 Total 218,00 No momento do pagamento do ICMS a empresa fará a compensação en-4 – tre o valor a pagar e o valor a recuperar. Se o saldo for a pagar fará o de- sembolso; se for a recuperar, o saldo continuará no Ativo da empresa para compensação futura. No caso desse exemplo, a empresa deverá recolher o valor de R$9,00, pois tem R$27,00 a pagar e R$18,00 a recuperar. Ativo (R$) Passivo (R$) Caixa 41,00 Exigibilidade 100,00 Estoque 0,00 Fornecedores 100,00 ICMS a recuperar 0,00 ICMS a pagar 0,00 Clientes 150,00 Patrimônio Líquido 91,00 Capital 50,00 Lucros acumulados 41,00 Total 191,00 Total 191,00 58 Observação: o lucro de R$41,00 deve ser demonstrado na DRE conforme apresentado no item 3, mas também pode ser entendido da seguinte forma: DRE1 Valor da venda R$150,00 Valor da compra R$(100,00) Diferença R$50,00 ICMS sobre o diferença R$(9,00) Lucro R$41,00 PIS e Cofins As empresas que recolhem o Imposto de Renda pelo lucro real, também podem fazer a compensação dessas duas contribuições, de forma semelhan- te ao ICMS. As alíquotas são: Cofins 7,6% e PIS 1,65%. As empresas que recolhem o Imposto de Renda pelo lucro presumido não podem fazer essa compensação, no entanto, a alíquota é reduzida: Cofins 3% e PIS 0,65%. Isso se torna um fator importante quando a empresa vai fazer a opção pela forma de tributação do Imposto de Renda, principalmente empresas de prestação de serviço com grande concentração de mão de obra, pois se optar pelo lucro real irá recolher o total de 9,25% de PIS e Cofins, mas terá poucos créditos (valores a recuperar), uma vez que sobre a mão de obra não há que se falar em compensação de impostos. Ampliando seus conhecimentos 1 Obs.: Essa não é uma forma correta de apre- sentação da DRE, aqui foi demonstrado apenas para explicar, de forma dife- rente, o lucro de R$41,00. Conforme mencionado, a forma correta é a apre- sentada no item 3, pois realmente o custo da mercadoria foi de R$82,00 e não de R$ 100,00. A lei- tura que deve ser feita é a seguinte:se nesse país não existissem impostos, a empresa teria comprado a mercadoria por R$82,00 e revendido por R$123,00 (receita líquida). Sistema de Custeio por Absorção (CREPALDI, 2002) O custeio representa um elemento essencial das atividades de contabi- lidade gerencial de uma empresa. O custo trata de estabelecer as despesas usadas por um produto, um grupo de produtos, uma atividade específica ou um conjunto de atividades da empresa. Método de Custeio por Absorção Método de Custeio por Absorção 59 O Custeio por Absorção ou custeio pleno consiste na apropriação de todos os custos (sejam eles fixos ou variáveis) [referentes] à produção do período. Os gastos não fabris (despesas) são excluídos. É o método derivado da apli- cação dos princípios fundamentais de contabilidade e é, no Brasil, adotado pela legislação comercial e pela legislação fiscal. Não é um princípio contábil em si, mas uma metodologia decorrente da aplicação desses princípios. Dessa forma, o método é válido para a apresentação de demonstrações financeiras e para o pagamento do Imposto de Renda. A distinção principal no Custeio por Absorção é entre custos e despesas. A separação é importante porque as despesas são jogadas imediatamente contra o resultado do período, enquanto somente os custos relativos aos pro- dutos vendidos terão idêntico tratamento. Os custos relativos aos produtos em elaboração e aos produtos acabados que não tenham sido vendidos esta- rão ativados nos estoques desses produtos. Nesse método, todos os custos são alocados aos produtos fabricados. Assim, tanto os custos diretos como os indiretos incorporam-se aos produtos. Os primeiros, pela apropriação direta e os indiretos, por sua atribuição por meio de critério de rateio.” O texto a seguir apresenta uma crítica do rateio do custo fixo para as unida- des de produto e mostra de forma clara como esse procedimento pode preju- dicar uma análise gerencial. Crítica ao custo fixo unitário, no Custeio por Absorção (MAHER, 2001) Tratar os custos fixos como custos unitários pode ser enganoso. Um custo fixo unitário é função tanto da quantia do custo fixo como do volume de ativi- dade. Qualquer custo fixo unitário é válido apenas quando a produção é igual à quantidade utilizada para calcular o custo fixo unitário. Por exemplo, o gerente de uma fábrica observou que os custos fixos de manutenção tinham caído de R$12,00 por unidade produzida, em maio, para 60 R$10,00 por unidade, em agosto. Estava indo parabenizar o gerente do de- partamento de manutenção pela redução do custo, quando resolveu parar na sala do Controller. Lá, soube que os custos de manutenção tinham au- mentado, de R$12.000,00 em maio para R$18.000,00 em agosto. A produção, contudo, tinha também aumentado, de 1 000 unidades em maio para 1 800 unidades em agosto. Isso explicava a redução no custo unitário, de R$12,00 (= R$12.000,00 / 1 000 unidades) para R$10,00 (= R$18.000,00 / 1 800 unidades). O gerente da fábrica sabia que custos de manutenção deviam ser fixos – não deviam aumentar quando a produção aumentasse. No entanto, ao fazer investigações adicionais, veio a saber que o gerente do departamento de ma- nutenção tinha contratado vários empregados temporários, para resolver um problema de alto absenteísmo que havia ocorrido em agosto. A moral dessa história é que a conversão de custos de produção fixos em custos unitários que é feita sob o Custeio por Absorção, pode ser enganosa. Frequentemente, os administradores têm que converter custos fixos de pro- dução “unitários” (os R$12,00 e os R$10,00 do exemplo anterior) de volta para seu valor total, quando avaliam desempenho e tomam decisões”. Atividades de aplicação 1. Considerando as informações a seguir calcule o custo unitário do pro- duto de acordo com o método do Custeio por Absorção, considerando que a empresa produziu 100 peças no período: Compra de equipamento R$500,00 Compra de matéria-prima R$600,00 Gastos com salário do pessoal da produção R$200,00 Consumo de matéria-prima R$300,00 Gastos com salário do pessoal administrativo R$100,00 2. Considerando as informações a seguir calcule o custo do produto ven- dido, conforme o método do Custeio por Absorção. Método de Custeio por Absorção Método de Custeio por Absorção 61 Gastos com salário do pessoal da produção R$100,00 Consumo de matéria-prima R$400,00 Gastos com aluguel, água, luz e telefone da fábrica R$200,00 Gastos com propaganda e publicidade R$300,00 Foram produzidas 100 peças, mas foram vendidas apenas 80 peças. 3. Considerando as informações a seguir calcule o valor do estoque de produto em elaboração e o estoque do produto acabado de acordo com o método do Custeio por Absorção. Gastos com salário do pessoal da produção R$300,00 Consumo de matéria-prima R$500,00 Gastos com aluguel, água, luz e telefone da fábrica R$200,00 90 peças foram totalmente produzidas. 20 peças foram produzidas parcialmente, estando com grau de acaba- mento de 50%. 4. Considerando as informações a seguir calcule o custo total de cada produto de acordo com o Custeio por Absorção, preenchendo os valo- res dos custos indiretos: Produto A R$ Produto B R$ Total R$ Material direto 1.000,00 1.500,00 2.500,00 Mão de obra direta 300,00 700,00 1.000,00 Material indireto 600,00 Supervisão 400,00 Depreciação 500,00 Total 5.000,00 Critérios de rateio dos custos indiretos: Material indireto proporcional ao material direto. � Supervisão proporcional à mão de obra direta. � Depreciação proporcional à quantidade produzida, considerando � que a empresa produz 80 unidades do produto A e 120 unidades do produto B. 62 5. A Empresa XYZ produz os produtos A e B. Produto A Produto B Custos diretos R$10.000,00 R$12.000,00 Custos indiretos R$4.000,00 R$8.000,00 Total R$14.000,00 R$20.000,00 Quantidade produzida 200 unid. 500 unid. Custo unitário R$70,00 R$40,00 O principal fornecedor da empresa fez uma proposta de fornecer o pro- duto A por R$60,00 a unidade, com isso, a empresa reduzirá o custo indireto desse produto em R$1.000,00. Vale a pena terceirizar? Por quê ? 6. A Empresa ABC adquire uma mercadoria por R$100,00 e revende por R$180,00. Considerando que a alíquota de ICMS é de 12%, qual o lucro dessa operação? Apresente a demonstração do resultado. Gabarito 1. Gastos com salário do pessoal da produção R$200,00 Consumo de matéria-prima R$300,00 Total dos custos R$500,00 Resposta: R$500,00 / 100 peças = R$5,00 por peça 2. Gastos com salário do pessoal da produção R$100,00 Consumo de matéria-prima R$400,00 Gastos com aluguel, água, luz e telefone da fábrica R$200,00 Total dos custos de produção R$700,00 Quantidade produzida 100 peças Custo unitário R$7,00 Resposta: custo dos produtos vendidos = 80 peças . R$7,00 = R$560,00. Método de Custeio por Absorção Método de Custeio por Absorção 63 3. Gastos com salário do pessoal da produção R$300,00 Consumo de matéria-prima R$500,00 Gastos com aluguel, água, luz e telefone da fábrica R$200,00 Total dos custos de produção R$1.000,00 Quantidade produzida: – 90 peças acabadas – 10 peças (equivalentes a 20 peças com grau de acabamento de 50%) 100 peças Custo unitário R$10,00 Resposta: – Estoque de produto em elaboração: equivalente a 10 peças . R$10,00 = R$100,00 – Estoque de produto acabado: 90 peças . R$10,00 = R$900,00 4. Produto A R$ Produto B R$ Total R$ Material direto 1.000,00 1.500,00 2.500,00 Mão de obra direta 300,00 700,00 1.000,00 Material indireto 240,00 360,00 600,00 Supervisão 120,00 280,00 400,00 Depreciação 200,00 300,00 500,00 Total 1.860,00 3.140,00 5.000,00 Critérios de rateio dos custos indiretos: Material indireto proporcional ao material direto: � Produto A: R$1.000,00 / R$2.500,00 = 40% Produto B: R$1.500,00 / R$2.500,00 = 60% Então: Produto A: R$600,00 . 40% = R$240,00 Produto B: R$600,00 . 60% = R$360,00 64 Supervisão proporcional à mão de obra direta � Produto A: R$300,00 / R$1.000,00 = 30% ProdutoB: R$700,00 / R$1.000,00 = 70% Então: Produto A: R$400,00 . 30% = R$120,00 Produto B: R$400,00 . 70% = R$280,00 Depreciação proporcional à quantidade produzida, considerando � que a empresa produz 80 unidades do produto A e 120 unidades do produto B. Produto A: 80 / 200 = 40% Produto B: 120 / 200 = 60% Então: Produto A: R$500,00 . 40% = R$200,00 Produto B: R$500,00 . 60% = R$300,00 5. Não vale a pena, pois a empresa pagará o valor de R$12.000,00 para o fornecedor: 200 unidades . R$60,00. No entanto, os custos indiretos te- rão redução de apenas R$1.000,00, permanecendo R$3.000,00. Sendo assim, o custo total será de: R$12.000,00 de custos diretos + R$3.000,00 de custos indiretos remanescentes, totalizando R$15.000,00, enquanto que ao produzi-lo o custo total é de R$14.000,00. Portanto, se aceitar a proposta do fornecedor o custo total terá aumento de R$1.000,00. 6. Demonstração do resultado Receita bruta de vendas R$180,00 (–) ICMS sobre vendas 12% R$(21,60) (=) Receita líquida R$158,40 (–) Custo da mercadoria vendida: R$100,00 menos 12% de ICMS R$(88,00) (=) Lucro bruto R$70,40 Método de Custeio por Absorção Método de Custeio Variável Conceito No Custeio por Absorção o grande foco é a separação entre custos e des- pesas, alocando para as unidades de produção todos os custos (fixo + variá- vel) e as despesas consideradas do período. Já no Custeio Variável a segrega- ção se dá em função do comportamento dos custos e das despesas, ou seja, separam-se os custos e as despesas variáveis dos custos e das despesas fixos, conforme quadro 1 comparativo. Quadro 1 – Comparação Custeio por Absorção Custeio Variável Receita líquida Receita líquida (–) Custo fixo e variável (–) Custo e despesa variável Lucro bruto Margem de contribuição (–) Despesa fixa e variável (–) Custo e despesa fixo Lucro operacional Lucro operacional Estoque Estoque Custo fixo + variável Apenas custo variável Ita m ar M ira nd a M ac ha do . Contribuição marginal A diferença entre a receita líquida e os custos e despesas variáveis cha- ma-se contribuição marginal ou como é mais conhecida “margem de contri- buição”. Essa medida é importante na análise dos resultados por parte dos gestores da empresa, pois o termo “contribuição” representa quanto cada produto, ou família de produto, ou unidade de negócios, ou região, ou seg- mento etc. está contribuindo para cobrir os gastos fixos da empresa e, con- sequentemente, para geração do lucro. Os custos fixos, até a capacidade produtiva, apresentam um comporta- mento razoavelmente constante, assim separando os fixos dos variáveis é possível calcular quanto que um aumento no volume de vendas irá gerar de resultado, pois aumentando o volume, até a capacidade produtiva, os fixos 67 68 Método de Custeio Variável se manterão estáveis e os variáveis aumentarão de forma proporcional ao volume. Isso facilita muito a tomada de decisão quanto à viabilidade de uma encomenda especial, formação do preço de venda e também a análise de lu- cratividade por produto, unidade de negócios, por segmento, por região etc. O Custeio Variável também é chamado de custeio direto ou custeio marginal: Custeio direto � porque aloca-se para os produtos apenas os custos va- riáveis, portanto os diretamente relacionados a eles. Custeio marginal � porque, com esse método, é possível calcular a mar- gem de contribuição de cada produto. A figura abaixo apresenta o fluxo dos custos variáveis e dos custos fixos até chegarem à demonstração do resultado de acordo com o Custeio Variável. Ita m ar M ira nd a M ac ha do . DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO Custos variáveis diretos Custos fixos diretos + Custos fixos e variáveis indiretos Estoque de produto em elaboração Estoque de produto acabado Receita líquida (–) Custos variáveis (–) Despesas variáveis (=) Contribuição marginal (–) Custos fixos (–) Despesas fixas comerciais (–) Despesas fixas gerais e adm. (=) Lucro operacional Figura 1 – Fluxograma do Custeio Variável. Método de Custeio Variável 69 Diferença entre contribuição marginal e margem de contribuição O termo contribuição marginal é a diferença entre a receita e os custos e as despesas variáveis, enquanto margem de contribuição é a relação percen- tual entre a contribuição marginal e as vendas, por exemplo: Receita R$1.000,00 (–) Custos e despesas variáveis R$(600,00) (=) Contribuição marginal R$400,00 (–) Custos e despesas fixos R$(100,00) (=) Lucro operacional R$300,00 Margem de contribuição = Contribuição marginal Receita Margem de contribuição = R$400,00 R$1.000,00 = 0,40 Portanto, nesse exemplo, a margem de contribuição é de 40%. Isso signi- fica que, mantidos os custos e despesas fixos, para cada R$1,00 de aumento nas vendas aumenta-se o resultado em R$0,40. Se os custos fixos e variáveis estivessem juntos, conforme apresenta o Custeio por Absorção, não seria possível chegar a essa conclusão, que, embora simples, é importantíssima para as análises gerenciais. Em resumo: contribuição marginal é o valor absoluto da diferença entre receitas e custos e despesas variáveis e margem de contribuição é quanto esse valor representa em termos percentuais. Embora o correto seja contribuição marginal quando estivermos nos re- ferindo ao valor, o mercado adotou como prática utilizar o termo margem de contribuição, por isso, nesse livro, utilizaremos os dois termos, para que o leitor possa se familiarizar com ambos. Diferença entre o método do Custeio por Absorção e o Custeio Variável No � Custeio por Absorção os custos fixos diretos e indiretos são aloca- dos/rateados às unidades de produtos. Como as quantidades produzi- das e não vendidas vão para o estoque, consequentemente, os custos 70 Método de Custeio Variável fixos atribuídos a essas unidades são estocados ao invés de serem lan- çados na DRE. No � Custeio Variável os custos fixos e os custos variáveis indiretos vão diretamente para o resultado do período (DRE). Portanto, vão para o estoque de produtos em elaboração e de produtos acabados somente os custos variáveis diretos. Processo decisório pelo Custeio por Absorção e pelo Custeio Variável A seguir será apresentada uma situação que demonstra a diferença na análise para tomada de decisão de acordo com o método utilizado: absorção ou variável. Supondo que uma empresa apresentasse os seguintes dados: Dados Preço R$100,00 p/unid. Custo variável R$60,00 p/unid. Custo fixo R$25.000,00 p/mês Despesa fixa R$5.000,00 p/mês Qtd. vendida 1 000 unid. p/mês Demonstração do resultado pelo Custeio por Absorção Receita R$100.00,00 Custos R$(85.000,00) Lucro bruto R$15.000,00 Despesas R$(5.000,00) Lucro operacional R$10.000,00 Cálculo do custo total: Custo variável: 1 000 unidades . R$60,00 = R$60.000,00 Custo fixo .......................................... = R$25.000,00 Custo total ....................................... = R$85.000,00 Cálculo do Custo Unitário: R$85.000,00 / 1 000 unidades = R$85,00. Situação problema Além das 1 000 unidades já certas de todo mês, essa empresa recebeu um pedido especial de 300 unidades. Mas, o cliente colocou como condição que somente pagará R$75,00 por unidade para esse montante adicional, consi- derando que: Método de Custeio Variável 71 a empresa tem capacidade produtiva para esse volume adicional, por- � tanto não terá aumento do seu custo fixo; como se trata de uma venda para fora do mercado habitual, não ha- � verá impacto com os demais clientes pelo fato de estar vendendo por um preço mais baixo. Tomada de decisão Você aceitaria essa proposta do cliente? Afinal, o preço sugerido por ele de R$75,00 está abaixo do custo unitário de R$85,00, calculado de acordo com o Custeio por Absorção. Análise da decisão pelo Custeio por Absorção Analisando pelo Custeio por Absorção provavelmente a proposta seria recusada, pois o custo unitário de R$85,00 está acima do preço de venda sugerido pelo cliente de R$75,00. Poderia-seaté evoluir no cálculo do custo unitário, pois aumentando a quantidade produzida, o custo fixo será diluído por mais unidades, assim, o custo unitário ficará menor, vejamos o cálculo: Aumentando 300 unidades, o total produzido passará para 1 300 unida- des, portanto: 1 300 unidades . R$60,00 = R$78.000,00 de custo variável + R$25.000,00 de custo fixo = R$103.000,00 de custo total. Custo total = Quantidade total = R$103.000,00 1 300 unid. = R$79,23 por unidade Assim, mesmo recalculando o custo unitário, este ficou acima do preço sugerido pelo cliente, portanto, analisando por esse método, haveria grande chance de se recusar a proposta. Análise da decisão pelo Custeio Variável Para facilitar, o primeiro passo será reclassificar a demonstração do re- sultado pelo método do Custeio por Absorção para o modelo do Custeio Variável. 72 Método de Custeio Variável Dados Preço R$100,00 p/ unid. Custo variável R$60,00 p/ unid. Custo fixo R$25.000,00 p/ mês Despesa fixa R$5.000,00 p/ mês Qtd. vendida 1 000 unid. p/ mês Demonstração do resultado pelo Custeio Variável Receita R$100.000,00 Custo variável (1 000 unid . R$60,00) R$(60.000,00) Margem de contribuição R$40.000,00 Custo e despesa fixo R$(30.000,00) Lucro operacional R$10.000,00 Com uma demonstração do resultado nesse formato, a análise e o proces- so decisório ficam bem mais simples, o gestor não precisará ser nenhum espe- cialista em contabilidade ou finanças para deduzir o seguinte: considerando que a empresa possua capacidade produtiva, mesmo aceitando a proposta, o custo e a despesa fixos se manterão em R$30.000,00, somente o custo va- riável vai se alterar, como essa alteração será na proporção de R$60,00 por unidade, vendendo essas 300 unidades por R$75,00 a contribuição marginal aumentará R$15,00 por unidade, assim, o resultado operacional aumentará: R$15,00 . 300 unidades = R$4.500,00. Comprovando: Encomenda especial: Receita: 300 unidades . R$75,00 = R$22.500,00 Custo variável: 300 unidades . R$60,00 = R$(18.000,00) Marg. contribuição: 300 unidades . R$15,00 = R$4.500,00 Demonstrativo de resultado – pelo Custeio Variável Vendas normais Encomenda especial Total Receita líquida R$100.000,00 R$22.500,00 R$122.500,00 (–) Custo variável R$(60.000,00) R$(18.000,00) R$(78.000,00) (=) Margem de contribuição R$40.000,00 R$4.500,00 R$44.500,00 (–) Custo e despesa fixo R$(30.000,00) (=) Resultado operacional R$14.500,00 Portanto, mesmo aceitando uma encomenda especial a um preço 25% menor que o preço normal, resultou num lucro operacional 45% maior, ou seja, passou de um lucro operacional de R$10.000,00 para R$14.500,00. Método de Custeio Variável 73 Conclusão Pelo Custeio por Absorção � provavelmente a proposta seria rejeitada, pois a comparação seria entre preço de venda de R$75,00 e custo uni- tário de R$85,00, portanto, custo maior que o preço. Pelo Custeio Variável � a proposta seria aceita, pois a comparação seria entre o preço de venda de R$75,00 e o custo variável de R$60,00, por- tanto, custo variável menor que o preço, consequentemente, margem de contribuição unitária positiva. Portanto, a proposta é economicamente viável, pois a margem de con- � tribuição aumentou R$4.500,00 e o custo fixo se manteve, assim, o au- mento da margem de contribuição refletiu diretamente no aumento do lucro operacional. O problema da análise pelo custo unitário A tomada de decisão baseando-se no custo unitário pode ser um dificul- tador muito grande para otimização do resultado, esse tópico demonstrará como a análise pelo custo unitário poderá levar a decisões erradas. Voltando ao exemplo apresentado no item anterior, pelo Custeio por Absorção, vimos que o custo unitário se alterou em função do volume, vamos relembrar os dados: Preço de venda R$100,00 p/unid. Custo variável R$60,00 p/unid. Custo fixo R$25.000,00 p/mês Despesa fixa R$5.000,00 p/mês Considerando que a empresa tem capacidade produtiva para até 1 500 unidades por mês e lembrando que as despesas não compõem o custo uni- tário dos produtos, o custo unitário irá se alterar em função da quantidade produzida, conforme quadro a seguir: 74 Método de Custeio Variável Item 1 2 3 4 5 6 Qtd. produzida Custo variável unitário (R$) Custo variável total (1 . 2) (R$) Custo fixo mensal (R$) Custo total da produção (3 + 4) (R$) Custo unitário (5 / 1) (R$) 1 000 60,00 60.000,00 25.000,00 85.000,00 85,00 1 100 60,00 66.000,00 25.000,00 91.000,00 82,73 1 200 60,00 72.000,00 25.000,00 97.000,00 80,83 1 300 60,00 78.000,00 25.000,00 103.000,00 79,23 1 400 60,00 84.000,00 25.000,00 109.000,00 77,86 1 500 60,00 90.000,00 25.000,00 115.000,00 76,67 Nota-se que o custo unitário variou no intervalo de R$76,67 a R$85,00, portanto, o custo unitário é influenciado mais pelo volume de produção do que pela estrutura de custos da empresa ou, até mesmo, pelos critérios uti- lizados para rateio. O desejo de todos os executivos e gestores de empresas é saber o custo uni- tário dos seus produtos. Eles acreditam que sabendo o custo unitário todas as decisões de venda ficam mais fáceis. Mas, o quadro anterior mostra de forma muito clara que custo unitário não existe, pois ele depende do volume de pro- dução. Baseando-se nos dados anteriores, tente responder a pergunta: Qual é o custo unitário dos seus produtos ? A resposta será: depende, pois se estivermos produzindo 1 000 unidades por mês o custo unitário � será de R$85,00. se estivermos produzindo 1 300 unidades por mês o custo unitário � será de R$79,23. se estivermos produzindo 1 500 unidades por mês o custo unitário � será de R$76,67. Portanto, pode-se afirmar que o custo unitário é ilusório e essa ilusão poderá levar os gestores a tomarem decisões erradas, como no exemplo apresentado, a empresa recebeu uma proposta para vender 300 unidades a um preço de R$75,00 e poderia ter recusado se fizesse a análise baseando- -se no custo unitário, pois este está, no mínimo em R$76,67, ou seja, acima Método de Custeio Variável 75 do preço ofertado. Mas, independente se a empresa produzirá ou não essa quantidade adicional o custo fixo de R$25.000,00 por mês existe, portanto ele não pode ser considerado numa análise como esta. Sendo assim, até a capacidade produtiva os custos fixos se manterão razoavelmente estáveis, portanto, para vendas adicionais (encomenda es- pecial) a recomendação é comparar o preço de venda com o custo variável unitário, se gerar margem de contribuição unitária positiva a proposta será considerada economicamente viável. O problema do rateio das despesas e dos custos fixos indiretos Na análise de lucratividade de um produto ou de uma unidade de negó- cios o rateio também pode destorcer o resultado levando a tomadas de de- cisões erradas. No exemplo a seguir, suponhamos que uma empresa tenha três filiais e um escritório (sede) onde funciona a administração central. Demonstração do resultado por filial Filial A Filial B Filial C Total Receita R$1.000,00 R$800,00 R$700,00 R$2.500,00 (–) Custo variável R$(400,00) R$400,00) R$400,00) R$1.200,00) (=) Contribuição marginal R$600,00 R$400,00 R$300,00 R$1.300,00 (–) Despesas fixas R$(100,00) R$(100,00) R$(100,00) R$(300,00) (=) Lucro operacional da filial R$500,00 R$300,00 R$200,00 R$1.000,00 (–) Despesas da adm. central (sede) R$(750,00) (=) Lucro operacional R$250,00 O presidente da empresa acha que deve ratear as despesas da administra- ção central para as três filiais, afinal a administração trabalha em função delas. Nota-se que as filiais, embora tenham preços de venda diferenciados, têm a mesma estrutura e vendem o mesmo volume, pois as despesas fixas de cada uma é de R$100,00 e o custo variável é de R$400,00. Ao discutir os critérios para fazer o rateio dos gastos da administração cen- tral, os gerentes das filiais B e C sugeriram que se fizesse em função da Receita, evidentemente, o gerente da filial A não concordou, pois não é justo penalizá- lo pelo fato de conseguirvender por um valor melhor que os demais. 76 Método de Custeio Variável Após tentarem uma série de outros critérios e não terem chegado a nenhum consenso, o presidente impôs sua condição de gestor e decidiu ratear dividindo as despesas da sede por três, uma vez que a administração central trabalha igualmente para as três unidades. Com isso a demonstração do resultado passou a ter o seguinte formato: Demonstração do resultado por filial Filial A Filial B Filial C Total Receita R$1.000,00 R$800,00 R$700,00 R$2.500,00 (–) Custo Variável R$(400,00) R$(400,00) R$(400,00) R$(1.200,00) (=) Contribuição marginal R$600,00 R$400,00 R$300,00 R$1.300,00 (–) Despesas fixas R$(100,00) R$(100,00) R$(100,00) R$(300,00) (=)Lucro operacional da filial R$500,00 R$300,00 R$200,00 R$1.000,00 (–) Despesas da adm. central (sede) R$(250,00) R$(250,00) R$(250,00) R$(750,00) (=) Lucro operacional R$250,00 R$50,00 R$(50,00) R$250,00 Se essa situação for se repetindo mês a mês, uma decisão que a empresa poderá tomar é de fechar a filial C, uma vez que está apresentando resultado negativo. É possível que seja feito o seguinte raciocínio: “vamos fechar a filial C, assim economizaremos R$50,00 do seu prejuízo + R$50,00 que reduzire- mos nas despesas da sede com o fechamento dessa filial, portanto o resulta- do global irá melhorar em R$100,00, passando de R$250,00 para R$350,00.” Demonstração do resultado por filial após o fechamento da filial C Filial A Filial B Filial C Total Receita R$1.000,00 R$800,00 R$1.800,00 (–)Custo Variável R$(400,00) R$(400,00) R$(800,00) (=)Contribuição marginal R$600,00 R$400,00 R$0,00 R$1.000,00 (–)Despesas fixas R$(100,00) R$(100,00) R$(200,00) (=)Lucro operacional da filial R$500,00 R$300,00 R$0,00 R$800,00 (–)Despesas da adm. central (sede) R$(350,00) R$(350,00) R$(700,00) (=)Lucro operacional R$150,00 R$(50,00) R$0,00 R$100,00 Método de Custeio Variável 77 Ao invés do resultado melhorar em R$100,00 como se esperava, piorou em R$150,00, pois reduziu de R$250,00 para R$100,00. Isso aconteceu porque a empresa deixou de ter um resultado operacional de R$200,00 da filial C e eco- nomizou apenas R$50,00 na sede, portanto o resultado piorou em R$150,00. As despesas da sede reduziram para R$700,00, mas como agora só restam duas filiais, o rateio terá que ser feito para elas cabendo R$350,00 para cada uma. Como a filial B tem um resultado operacional de R$300,00 ao receber um rateio de R$350,00 acabou ficando com o seu resultado final negativo em R$50,00, conforme apresentado na DRE. Dentro da política de que deu prejuízo fecha-se a filial, então, nesse caso, terá que fechar a filial B também. Fechando essa unidade a administração central se comprometeu a reduzir as despesas da sede em R$100,00, ou seja, irão reduzir o dobro do que foi reduzido no fechamento da filial C. Assim, as despesas reduzirão para R$600,00. Demonstração do resultado por filial após o fechamento das filiais B e C Filial A Filial B Filial C Total Receita R$1.000,00 R$1.000,00 (–)Custo Variável R$(400,00) R$(400,00) (=)Contribuição marginal R$600,00 R$0,00 R$0,00 R$600,00 (–)Despesas fixas R$(100,00) R$(100,00) (=)Lucro operacional da filial R$500,00 R$0,00 R$0,00 R$500,00 (–)Despesas da adm. central (sede) R$(600,00) R$(600,00) (=)Lucro operacional R$(100,00) R$0,00 R$0,00 R$(100,00) Dentro da política de que deu prejuízo fecha-se a filial, então, nesse caso, terá que fechar a filial A também, consequentemente fechando a empresa. Conclusão A empresa fechou (quebrou) sem entender por que. Na cabeça dos � seus gestores tudo fora feito da forma correta, ou seja, rateou-se a sede de maneira igual para as três filiais, à medida que uma filial gerava pre- juízo era fechada e simultaneamente reduzia-se as despesas da sede, rateando as despesas remanescentes para as demais filiais. 78 Método de Custeio Variável O que ocasionou o prejuízo das filiais foi o rateio das despesas da sede, � pois o resultado antes do rateio era positivo para todas elas. Quando se rateia os gastos comuns, nesse caso, as despesas adminis- � trativas, os gestores perdem a noção do global e começam a analisar a empresa como se fossem três ilhas (filiais) independentes, com vida própria separadas, mas a empresa é um sistema aberto e deve ser ana- lisada como um “todo”. O importante, numa análise, é que as três filiais juntas consigam gerar � resultado operacional suficiente para cobrir as despesas administra- tivas e sobrar lucro, independente de quanto está sendo gerado por cada uma. Para finalizar o exemplo, vamos supor que houvesse a possibilidade de abrir uma quarta filial (D) que poderia gerar um resultado operacional de R$100,00. Quando se analisa com rateio, corre-se o risco do seguinte raciocí- nio: “jamais devemos abrir uma filial com resultado operacional de R$100,00, pois a filial C que gera resultado de R$200,00 no final dá prejuízo, com apenas R$100,00 o resultado final será pior ainda.” Conforme comentado, o rateio prejudica a análise do resultado global, os gestores se apegam mais ao resultado por unidade, nesse caso específico, deixam de abrir a filial porque dará prejuízo e não verificam que abrindo essa nova unidade o resultado final aumentará para R$350,00. Vejamos como fi- caria o resultado, caso decidissem por abrir a filial D: Demonstração do resultado por filial após abertura da filial D Filial A Filial B Filial C Filial D Total Receita R$1.000,00 R$800,00 R$700,00 R$600,00 R$3.100,00 (–)Custo Variável R$(400,00) R$(400,00) R$(400,00) R$(400,00) R$(1.600,00) (=)Contrib. marginal R$600,00 R$400,00 R$300,00 R$200,00 R$1.500,00 (–)Despesas fixas R$(100,00) R$(100,00) R$(100,00) R$(100,00) R$(400,00) (=) Lucro operac. da filial R$500,00 R$300,00 R$200,00 R$100,00 R$1.100,00 (–)Despesas adm. central R$(188,00) R$(188,00) R$(188,00) R$(188,00) R$(750,00) (=) Lucro operacional R$313,00 R$113,00 R$13,00 R$(88,00) R$350,00 É interessante observar que a filial C de repente passou a gerar lucro, dando a falsa impressão que melhorou sua performance, mas o que gerou Método de Custeio Variável 79 essa melhoria no resultado foi que o rateio passou a ser feito por quatro uni- dades, reduzindo o valor para cada uma. O lucro operacional da filial C antes do rateio continua sendo de R$200,00. Voltando à situação inicial, o raciocínio deveria ser o seguinte: Demonstração do resultado por filial Filial A Filial B Filial C Total Receita R$1.000,00 R$800,00 R$700,00 R$2.500,00 (–) Custo Variável R$(400,00) R$(400,00) R$(400,00) R$(1.200,00) (=) Contribuição marginal R$600,00 R$400,00 R$300,00 R$1.300,00 (–) Despesas fixas R$(100,00) R$(100,00) R$(100,00) R$(300,00) (=) Lucro operacional da filial R$500,00 R$300,00 R$200,00 R$1.000,00 (–) Despesas da adm. central (sede) R$(750,00) (=) Lucro operacional R$250,00 Os produtos estão contribuindo com R$1.300,00 para o resultado final. � As filiais geraram lucro de R$1.000,00. � A empresa gerou lucro de R$250,00. � Com esse raciocínio nenhuma filial seria fechada e a decisão de abertura da filial D seria inquestionável, pois claramente ter-se-ia visão de que o resul- tado global subiria para R$350,00 com a abertura dessa nova unidade. Diferença de resultado do Custeio por Absorção e do Custeio Variável quando há estoque inicial e/ou final No Custeio por Absorção o volume de produção do período pode influen- ciar mais o resultado do que o próprio volume de vendas, pois quanto mais produzir, menor será o custo unitário, isso quer dizer que se houver um au- mento nas vendas, mas uma queda na produção, o resultado poderá cair ao invés de acompanhar a melhoria das vendas. Já no Custeio Variável o resul- tado será diretamente influenciado pelo volume de vendas, quanto maiores as vendas melhor será o resultado, pois estará otimizando os custos com a estrutura, ou seja, estará fazendo melhor aproveitamento dos custos fixos. 80 Método de Custeio Variável O exemplo a seguir, adaptadode Martins (2006, p.198-201) mostra clara- mente o efeito do descasamento entre o volume de produção e o de vendas no resultado final. A diferença entre o volume produzido e o vendido ficará dentro do Estoque no Ativo da empresa. Suponhamos que a Cia. Sem Nexo ao longo de três anos teve o seguinte comportamento de produção e vendas. Quantidade produzida Quantidade vendida Estoque final 1.° ano 60 000 40 000 20 000 2.° ano 50 000 60 000 10 000 3.º ano 50 000 60 000 0 Preço de venda: R$75,00 por unidade Custo variáveis: R$30,00 por unidade Custos fixos: R$2.100.000,00 por ano Demonstração de resultado Método do Custeio por Absorção 1.° ano 2.º ano 3.º ano 4.º ano Receita de vendas R$3.000.000,00 R$4.500.000,00 R$4.500.000,00 R$12.000.000,00 Custo do produto vendido R$(2.600.000,00) R$(4.200.000,00) R$(4.300.000,00) R$(11.100.000,00) Lucro R$400.000,00 R$300.000,00 R$200.000,00 R$900.000,00 Estoque final R$1.300.000,00 R$700.000,00 — Método do custeio por variável 1.° ano 2.º ano 3.º ano 4.º ano Receita de vendas R$3.000.000,00 R$4.500.00,00 R$4.500.000,00 R$12.000.000,00 Custo variável R$(1.200.000,00) R$(1.800.000,00) R$(1.800.000,00) R$(4.800.000,00) Marg. contribuição R$1.800.000,00 R$2.700.000,00 R$2.700.000,00 R$7.200.000,00 Custo fixo R$(2.100.000,00) R$(2.100.000,00) R$(2.100.000,00) R$(6.300.000,00) Lucro R$300.000,00 R$600.000,00 R$600.000,00 R$900.000,00 Estoque final R$600.000,00 R$300.000,00 — Método de Custeio Variável 81 Cálculos do 1.º ano Pelo Custeio por Absorção Receita de vendas: 40 000 unidades vendidas . R$75,00 = R$3.000.000,00 Custo do produto vendido: Custo Variável: 60 000 unid. produzidas . R$30,00 = R$1.800.000,00 Custo fixo mensal: R$2.100.000,00 Custo total da produção: R$3.900.000,00 Custo unitário: R$3.900.000,00 / 60 000 unidades produzidas = R$65,00 Custo do produto vendido: 40 000 unid. vendidas . R$65,00 = R$2.600.000,00 Estoque de produto acabado: 20 000 unid. vendidas . R$65,00 = R$1.300.000,00 Total R$3.900.000,00 Pelo Custeio Variável Receita de vendas: 40 000 unidades vendidas . R$75,00 = R$3.000.000,00 Custo Variável: 40 000 unid. vendidas . R$30,00 = R$1.200.000,00 Estoque de produto acabado: 20 000 unid. vendidas . R$30,00 = R$600.000,00 Comentários Houve diferença de R$700.000,00 no resultado entre os dois métodos, essa diferença está refletida no estoque, conforme resumo a seguir: Resultado Estoque Custeio por Absorção R$400.000,00 R$1.300.000,00 Custeio Variável R$(300.000,00) R$600.000,00 Diferença R$700.000,00 R$700.000,00 82 Método de Custeio Variável Essa diferença foi ocasionada porque no Custeio Variável o custo fixo de R$2.100.000,00 foi lançado pelo seu valor integral diretamente na DRE. En- quanto no Custeio por Absorção ele compôs o valor do custo total da pro- dução, sendo apropriado para resultado apenas a parcela correspondente às 40 000 unidades vendidas, portanto, uma parte do custo fixo foi para o Estoque. O cálculo pode ser assim entendido: Efeito do custo fixo no estoque pelo Custeio por Absorção: Custo fixo de R$2.100.000,00 / 60 000 unidades produzidas = R$35,00 � por unidade. Estoque: 20 000 unidades � . R$35,00 = R$700.000,00. Portanto, no Custeio por Absorção, dentro do Estoque de R$1.300.000,00 há R$700.000,00 que se refere ao custo fixo do período + R$600.000,00 de custo variável, por isso o nome “absorção”, pois os produtos absorvem todos os custos sejam fixos ou variáveis. Cálculos do 2.º ano Pelo Custeio por Absorção No 2.º ano foram produzidas 50 000 unidades e vendidas 60 000, portan- to o Estoque abaixou de 20 000 para 10 000 unidades. Receita de vendas: 60 000 unidades vendidas . R$75,00 = R$4.500.000,00. Custo do produto vendido: como havia estoque inicial é necessário calcu- lar o custo médio ponderado unitário. Custo Variável: 50 000 unid. produzidas . R$30,00 = R$1.500.000,00 Custo fixo mensal: R$2.100.000,00 Custo total da produção: R$3.600.000,00 Ref. 50 000 unid. Estoque inicial: 20 000 unid. produzidas . R$65,00 = R$1.300.000,00 Ref. 20 000 unid. Custo total da produção + Estoque inicial = R$4.900.000,00 Ref. 70 000 unid. Método de Custeio Variável 83 Custo unitário médio: R$4.900.000,00 / 70 000 unidades produzidas = R$70,00 Custo do produto vendido: 60 000 unid. vendidas . R$70,00 = R$4.200.000,00 Estoque de produto acabado: 10 000 unid. vendidas . R$70,00 = R$700.000,00 Total R$4.900.000,00 Pelo Custeio Variável Receita de vendas: 60 000 unid. vendidas . R$75,00 = R$4.500.000,00 Custo variável: 60 000 unid. vendidas . R$30,00 = R$1.800.000,00 Estoque de produto acabado: 10 000 unid. vendidas . R$30,00 = R$300.000,00 Comentários Mesmo tendo vendido 50% a mais do que o 1.º ano, que passou de 40 000 para 60 000 unidades vendidas, pelo Custeio por Absorção o lucro caiu, por- tanto como explicar que no 2.º ano foram vendidas 20 000 unidades a mais e o lucro caiu? Esse questionamento pode ser explicado em função de dois fatores: No 2.º ano produziu-se 10 000 unidades a menos, por isso, o custo mé-1. dio unitário subiu de R$65,00 para R$70,00. Isso confirma a afirmação que, por esse método, o resultado é mais influenciado pelo volume de produção do que de venda. No 2.º ano está sendo descarregada uma parte do custo fixo de R$700 2. mil do 1.º ano, portanto, além dos custos variáveis e fixos do próprio período, ainda há parte dos custos fixos do ano anterior que estavam estocados e, agora, foram para resultado. Pelo Custeio Variável no 1.º ano a empresa não vendeu o suficiente para gerar margem de contribuição que fosse capaz de cobrir os custos fixos, por isso, o resultado foi negativo. No 2.º ano as vendas aumentaram 50%, com isso, a empresa passou a gerar resultado positivo, gerando margem de con- tribuição suficiente para cobrir os fixos e gerar lucro. 84 Método de Custeio Variável Cálculos do 3.º ano Pelo Custeio por Absorção No 3.º ano foram produzidas 50 000 unidades e vendidas 60 000, portan- to o Estoque zerou. Nesse ano, os volumes de produção e de vendas foram exatamente iguais ao 2.º ano, por isso, pela lógica, os resultados dos dois anos deveriam ser iguais. Receita de vendas: 60 000 unidades vendidas . R$75,00 = R$4.500.000,00 Custo do produto vendido: como havia estoque inicial é necessário calcu- lar o custo médio ponderado unitário. Custo variável: 50 000 unid. produzidas . R$30,00 = R$1.500.000,00 Custo fixo mensal: R$2.100.000,00 Custo total da produção: R$3.600.000,00 Ref. 50 000 unid. Estoque inicial: 10 000 unid. produzidas . R$70,00 = R$700.000,00 Ref. 10 000 unid. Custo total da produção + Estoque inicial = R$4.300.000,00 Ref. 60 000 unid. Como foram vendidas as 60 000 unidades é desnecessário calcular o custo unitário, pois o custo total será exatamente os R$4.300.000,00. Mas, apenas para fins didáticos e aprimorar o raciocínio, o cálculo é o seguinte: Custo unitário médio: R$4.300.000,00 / 60 000 unidades produzidas = R$71,67 Custo do produto vendido: 60 000 unid. vendidas . R$71,67 = R$4.300.000,00 Estoque de produto acabado: zero unidades R$0,00 Total R$4.300.000,00 Pelo Custeio Variável Receita de vendas: 60 000 unid. vendidas . R$75,00 = R$4.500.000,00 Custo variável: 60 000 unid. vendidas . R$30,00 = R$1.800.000,00 Estoque de produto acabado: zero unidades R$0,00 Comentários No Custeio por Absorção, mesmo tendo produzido e vendido as mesmas quantidades que o ano anterior, o resultado caiu de R$300 mil para R$200 mil, isso ainda é reflexo dos custos fixos que foram para o Estoque no 1.º ano, Método de Custeio Variável 85 que influenciaram o custo médio unitário do 2.º ano. No 3.º ano o reflexo foi ainda maior porque seu custo de produção foi acrescido ao custo do ano anterior que já teria sido calculado fazendo uma média com o 1.º ano. Pelo Custeio Variável o resultado foi exatamente igual ao do ano anterior, uma vez que produziu e vendeu a mesma quantidade. Conclusão No Custeio por Absorção, pelo fato de estocar custo fixo,o resultado � terá grande influência do volume de produção, pois quanto mais pro- duzir menor será o custo unitário. Se produzir num período e vender no outro, o custo fixo será considerado no momento da venda e não no momento em que incorreu. Assim, o volume de produção impacta mais o resultado que o próprio volume de vendas. O Custeio Variável considera todo o custo fixo no período em que � ocorreu, lançando para o Estoque apenas o custo variável, portanto esse método não sofre influência do volume de produção. O impor- tante é vender um volume que consiga gerar margem de contribuição suficiente para cobrir os custos fixos e gerar lucro. É importante ressaltar que no final dos três anos os resultados acumula- � dos pelos dois métodos se igualaram, isso ocorre porque a diferença do resultado está exatamente no custo fixo que vai para Estoque no mé- todo por absorção, como no final dos três anos não há Estoque, então, não há custo fixo estocado, portanto os resultados serão os mesmos. Importante: quando não houver estoque inicial e final de produtos aca- bados ou em elaboração o resultado pelos dois métodos será o mesmo. Considerações finais sobre a diferença entre o Custeio por Absorção e o Custeio Variável O Custeio por Absorção é o método aceito pela legislação contábil e fis- � cal por obedecer, com maior rigor, o Princípio da Competência, pois o sacrifício para se produzir um bem somente será refletido na demons- tração do resultado quando o produto for vendido, enquanto não for vendido os custos (fixos + variáveis) permanecerão no estoque. 86 Método de Custeio Variável O Custeio Variável considera como sacrifício para produzir um produto � apenas os custos variáveis, considera que os custos fixos estão relacio- nados com a estrutura do período necessária para se produzir e não com o volume efetivamente produzido, por isso, considera que o custo fixo deve ser apropriado no período em que incorreu. Alguns profissio- nais da área consideram que esse é o verdadeiro Regime de Compe- tência, pois independente se houve produção ou não os custos fixos existiram, enquanto os variáveis só existirão se houver produção, por isso, aceita-se o fato dos variáveis serem alocados diretamente para as unidades de produção e os fixos alocados diretamente no período em que ocorreram. Esse método é aceito somente para fins gerenciais. Para calcular o custo unitário, o Custeio por Absorção rateia os custos � fixos e os indiretos, isso pode levar à tomada de decisões erradas, con- forme visto nos exemplos apresentados. Quando não houver estoque inicial e final o resultado pelos dois mé- � todos será igual, portanto, para uma análise da situação global da empresa ao longo dos anos, as distorções geradas pelo Custeio por Absorção não serão muito relevantes, por isso, para análises de longo prazo pode ser utilizado. Mas, para se analisar o resultado ano a ano, a lucratividade por produto, área de negócios, segmentos, regiões etc., o Custeio Variável tem maior eficácia. Exemplo de decisão com base apenas na contribuição marginal A empresa XYZ, localizada em Minas Gerais, produz dois tipos de produto o A e o B. Essa empresa já tem mercado certo dentro do estado e apresenta os seguintes dados: Produto A Produto B Preço líquido unitário de venda: R$120,00 R$150,00 Custo variável: R$80,00 R$100,00 Quantidade vendida mensalmente: 2 000 unid. 1 500 unid. Custo fixo mensal: R$80.000,00 Despesa fixa mensal: R$30.000,00 Método de Custeio Variável 87 Demonstração do resultado Produto A Produto B Total Receita líquida R$240.000,00 R$225.000,00 R$465.000,00 (–) Custo Variável R$(160.000,00) R$(150.000,00) R$(310.000,00) (=) Margem de contribuição R$80.000,00 R$75.000,00 R$155.000,00 (–) Custo fixo R$(80.000,00) (–) Despesa fixa R$(30.000,00) (=) Resultado operacional R$45.000,00 Essa empresa percebe uma boa aceitação do produto “B” no estado de São Paulo, onde as vendas desse produto poderiam aumentar em 500 unid./ mês. No entanto, para conseguir fabricar esse excedente, teria que diminuir a produção do produto “A” na mesma proporção, pois a capacidade máxima de produção da empresa é de 3 500 unid./mês. Para atender a essa nova situação, as despesas fixas aumentariam em R$10.000,00 em função da implantação de uma estrutura comercial em São Paulo. Você mudaria sua estratégia de vendas? Resposta: não, pois o aumento da margem de contribuição não foi sufi- ciente para cobrir o aumento das despesas fixas, conforme cálculo a seguir: A margem de contribuição unitária do produto A é de R$40,00; a do pro- duto B é de R$50,00, sendo assim, cada unidade que a empresa deixar de produzir do produto A para produzir uma a mais do produto B haverá um incremento de R$10,00 na margem de contribuição. Como a proposta é transferir a produção de vendas de 500 unidades de um produto para outro, haverá aumento de 500 unid . R$10,00 = R$5.000,00 na margem de contribuição contra um aumento de R$10.000,00 nas despe- sas fixas, portanto o resultado terá uma redução de R$5.000,00. Variação da margem de contribuição: 500 unid . R$10,00 = R$5.000,00 Variação nas despesas fixas: R$(10.000,00) Variação do resultado operacional: R$(5.000,00) 88 Método de Custeio Variável E se essa nova situação se apresentasse dentro do estado de Minas Gerais onde não seria necessário o aumento da estrutura comercial, o que você faria? Resposta: se a situação fosse em Minas Gerais não seria necessário o au- mento das despesas fixas, assim o aumento da margem de contribuição se refletirá diretamente no resultado, aumentando o lucro operacional, por isso, seria viável a nova situação. Variação da margem de contribuição: 500 unid . R$10,00 = R$5.000,00 Variação nas despesas fixas: R$0,00 Variação do resultado operacional: R$5.000,00 Ampliando seus conhecimentos Com a finalidade de ampliar os conhecimentos sobre a diferença entre os métodos de Custeio por Absorção e variável, a seguir a opinião de alguns autores a respeito. As vantagens do Custeio Variável e o enfoque de contribuição (GARRISON; NOREEN; BREWER, 2007) Como dito anteriormente, mesmo que o enfoque de absorção seja usado para fins de elaboração de relatórios externos, o Custeio Variável, em conjunto com demonstrações de resultado no formato de contribuição, representa uma al- ternativa atraente para uso em relatórios internos. As vantagens do Custeio Variável podem ser resumidas da seguinte maneira: Os dados exigidos para análise CVL (Custo X Volume X Lucro) podem ser 1. retirados diretamente de uma demonstração de resultado no formato de contribuição. Esses dados não estão disponíveis numa demonstra- ção de resultado convencional, elaborada com base no método de Cus- teio por Absorção. No Custeio Variável, o lucro de um período não é afetado por variações 2. de estoque. Outras coisas sendo iguais (isto é: preço de venda, custos, Método de Custeio Variável 89 compostos de vendas etc.), os lucros variam na mesma direção das ven- das, quando é usado o Custeio Variável. Os administradores comumente supõem que os custos unitários de 3. produtos são variáveis. Esse é um problema no Custeio por Absorção, pois os custos unitários de produtos são combinações de custos fixos e custos variáveis. No Custeio Variável, os custos unitários dos produtos não contêm os custos fixos. O impacto dos custos fixos sobre o lucro é realçado no Custeio Variá-4. vel e no enfoque de contribuição. O valor total de custos fixos aparece explicitamente na demonstração de resultado, salientando que o valor integral dos custos fixos precisa ser coberto para que a empresa seja realmente rentável. Em contraste, no Custeio por Absorção, os custos fi- xos são misturados com os custos variáveis e ficam enterrados no custo dos produtos vendidos e nos estoques finais. Os dados de Custeio Variável facilitam a estimação da rentabilidade de 5. produtos, clientes, e outros segmentos das operações. No Custeio por Absorção, a rentabilidadeé obscurecida por alocações arbitrárias de custos fixos. Custeio Variável se alia bem a métodos de controle de custos, tais como 6. custos padrões e orçamentos flexíveis. O lucro operacional líquido do Custeio Variável se aproxima mais do flu-7. xo líquido de caixa do que o lucro operacional líquido calculado pelo método de Custeio por Absorção. Isso é particularmente importante no caso de empresas com possíveis problemas de fluxo de caixa. Com todas essas vantagens, seria o caso de perguntar por que o Custeio por Absorção continua a ser usado quase exclusivamente na elaboração de relatórios externos, e por que também é a escolha predominante no caso de relatórios internos. Isso se deve, em parte, à tradição, mas o Custeio por Ab- sorção também é atraente para muitos contadores e administradores porque eles acreditam que se associa melhor os custos às receitas. Os defensores do Custeio por Absorção argumentam que todos os custos de produção devem ser atribuídos a produtos para associar adequadamente os custos de produ- ção de unidades produzidas às suas receitas quando são vendidas. Os custos fixos de depreciação, impostos, seguros, salários de supervisão, e assim por 90 Método de Custeio Variável diante, são tão essenciais à fabricação de produtos quanto o são os custos variáveis. Os defensores do Custeio Variável alegam que os custos fixos de produ- ção não são realmente os custos de qualquer unidade produzida específica. Esses custos são incorridos para que se tenha a capacidade de fazer produtos durante um dado período, e serão incorridos mesmo que nada seja produ- zido durante o período. Além do mais, quer uma unidade seja produzida ou não, os custos fixos de produção serão exatamente os mesmos. Portanto, os defensores do Custeio Variável argumentam que os custos fixos de produção não fazem parte dos custos de produção de uma unidade específica e, conse- quentemente, o princípio de associação de custos a receitas determina que os custos fixos de produção devam ser lançados ao período corrente. De qualquer maneira, o Custeio por Absorção é o método geralmente aceito na elaboração de relatórios financeiros externos compulsórios e decla- rações de rendimentos. Talvez por causa do custo e da possível confusão de se manter dois sistemas de custeio separados – um para relatórios externos e outro para relatórios internos – a maioria das empresas usa o Custeio por Absorção tanto em relatórios externos quanto em relatórios internos. Eliseu Martins (2006) afirma: “Do ponto de vista decisorial, verificamos que o Custeio Variável tem condições de propiciar muito mais rapidamente informações vitais à empresa; também o resultado medido dentro do seu critério parece ser mais informativo à adminis- tração, por abandonar os custos fixos e tratá-los contabilmente como se fossem despesas, já que são quase sempre repetitivos e independentes dos diversos pro- dutos e unidades”. Crepaldi (2002) ao comentar sobre a viabilidade do Custeio Variável também comenta sobre a questão do rateio. “A defesa do Custeio Variável repousa nos seguintes argumentos principais: Os custos fixos, por sua própria natureza, existem independentemente da fabricação ou não de determinado produto ou do aumento ou redução (dentro de certa faixa) da quantidade produzida. Os custos fixos podem ser encarados como encargos necessários para que a empresa tenha condições Método de Custeio Variável 91 de produzir e não como encargo de um produto específico; por não estarem vinculados a nenhum produto específico ou a uma unidade de produção, eles sempre são distribuídos aos produtos por meio de critérios de rateio, que contêm, em maior ou menor grau, a arbitrariedade. A maioria dos rateios é feita através da utilização de fatores que, na reali- dade, não vinculam cada custo a cada produto. Em termos de avaliação de estoque, o rateio é mais ou menos lógico. Todavia, para a tomada de decisão, o rateio (por melhor que sejam os critérios) mais atrapalha que ajuda. Basta verificar que a simples modificação de critérios de rateio pode fazer um produto não rentável passar a ser rentável e, é claro, isso não está correto; e, finalmente, o valor dos custos fixos a ser distribuído a cada produto depen- de, além dos critérios de rateio, do volume de produção. Assim, qualquer de- cisão em base do custo deve levar em conta também o volume de produção. Pior que isso, o custo de um produto pode variar em função da quantidade produzida de outro produto. Por essas razões e por sua grande utilidade para otimizar decisões, o Cus- teio Variável tende a ser cada vez mais utilizado. Todavia, tendo em vista que esse sistema não atende aos princípios funda- mentais de contabilidade e não é aceito pelas autoridades fiscais, sua utiliza- ção é limitada à contabilidade para efeitos internos da empresa.” (grifo nosso) Iudícibus e Marion (2000), fazem um resumo sobre os conceitos do Cus- teio por Absorção e do Custeio Variável, também comentam sobre a arbitra- riedade dos rateios e apontam maior eficácia para o Custeio Variável para as decisões internas. “A Contabilidade de Custos, quando procura custear o produto atribuin- do-lhe também uma parte do custo fixo, é conhecida como contabilidade de custos pelo método de custeamento “por absorção” ou global. Os custos fixos são “absorvidos” na produção ou alocados a ela de alguma forma, pelo menos os de fabricação. Alternativamente, existe um método de custeamento de produção, também já visto, que aloca à produção apenas os custos variáveis, consi- derando todos os custos fixos como custos de períodos. A premissa dessa 92 Método de Custeio Variável concepção é que, independendo os custos fixos do volume de produção (dentro de certos limites), não tem sentido alocar tais custos à produção, resul- tando esse rateio em alocações arbitrárias e até enganosas. Não é absolutamente finalidade deste tópico discutir vantagens e desvan- tagens do custeamento “por absorção” e do custeamento “direto” ou “variável”. Estes autores consideram que ambas as metodologias têm aplicação na prática empresarial. Na verdade, o problema de conceituação do custo fixo não é resol- vido de forma adequada, nem pelos fatores do custeio direto nem pelos de ab- sorção. Consideramos que a produção, de qualquer maneira, exigiu um “esfor- ço” por parte das facilidades da empresa, mesuráveis pelo nível de custos fixos e, portanto, estes devem ser alocados à produção de alguma forma proporcional ao uso que cada produto fez de tais facilidades. Isso, todavia, leva, em muitas circunstâncias, a critérios de rateio absolutamente arbitrários, embora aparen- temente lógicos. Um departamento produtivo eficiente é, por vezes, penalizado por uma grande carga de custos rateados de outro departamento ineficiente. Os seguidores do custeamento direto, por outro lado, levam demasia- damente a sério a definição contábil de custo fixo, isto é, de que o nível de custos fixos independe das variações de produção. Na verdade, poder-se-ia demonstrar que certos tipos de custos fixos poderiam ser evitados se não houvesse produção. Assim, as duas concepções são incompletas. Entretanto, se tivéssemos de escolher entre elas, para finalidade de tomada de decisões, sem dúvida escolherí- amos o custeamento direto. Cremos que, embora a definição contábil de custo fixo seja limitada, os efeitos perniciosos de rateios arbitrários (a não ser que por métodos quantitativos se obtenha, efetivamente, a base científica para os rateios) são piores do que tais limitações. Em certas circunstâncias, poderemos atribuir aos departamentos (e portanto à produção) certos tipos de custos fixos perfeitamente identificados com e no departamento (por exemplo, depreciação das máquinas utilizadas no departamento), e deixar os demais como custo de período. Trata-se de um meio-termo entre o custeamento direto puro e o Custeio por Absorção. Parece-nos uma abordagem bastante racional. Todavia, isso somente será possívelse tivermos uma departamenta- lização de custos. De qualquer forma, as vantagens do custeamento direto para certas tomadas de decisões são evidenciáveis.” (grifo nosso) Método de Custeio Variável 93 Atividades de aplicação 1. Considerando as informações abaixo, calcule a margem de contribui- ção e o lucro operacional: Preço de venda R$200,00 por unidade Matéria-prima R$100,00 por unidade Salário R$10.000,00 por mês Comissão 10% sobre vendas Aluguel R$2.000,00 por mês Quantidade vendida 250 unidades 2. A Empresa Dourada fabrica e vende 500 peças por mês, embora tenha capacidade para produzir até 700 peças. Sua composição de preço e custo é a seguinte: Preço de venda R$50,00 por unidade Matéria-prima R$20,00 por unidade Custo fixo R$10.000,00 por mês Demonstração do resultado pelo Custeio por Absorção: Receita de venda 500 peças . R$50,00 = R$25.000,00 Custo do produto vendido (500 peças . R$20,00) + R$10.000,00 = R$(20.000,00) Lucro operacional R$5.000,00 Custo unitário pelo Custeio por Absorção: R$20.000,00 / 500 peças = R$40,00 Essa empresa recebe uma encomenda especial para vender mais 100 peças no mês pelo preço unitário de R$30,00. Considerando que pelo Custeio por Absorção o custo unitário é de R$40,00, do ponto de vista econômico-financeiro vale a pena aceitar a proposta? Faça a demons- tração pelo método do Custeio Variável. 3. A Cia. ABC fabrica aparelhos celulares e tem a seguinte estrutura de preço X custo X volume: Preço de venda do aparelho R$500,00 Custo variável unitário R$300,00 Custo e despesa fixo R$50.000,00 94 Método de Custeio Variável Aparelhos vendidos mensalmente: 300 Demonstração do resultado Receita 300 aparelhos . R$500,00 = R$150.000,00 (–) Custos + Despesas variáveis: 300 aparelhos . R$300,00 = R$(90.000,00) (=) Contribuição marginal: 300 aparelhos . R$200,00 = R$60.000,00 (–) Custos + Despesas fixos: R$(50.000,00) (=) Lucro R$10.000,00 Essa empresa recebe uma proposta de um revendedor que garante a venda de mais 100 aparelhos por mês, no entanto, para esses 100 aparelhos adicionais pagarão somente a quantia de R$420,00 cada. Para atender a essa produção adicional terá que se estruturar melhor, e suas despesas fixas aumentarão R$10.000,00 por mês. Pede-se: a) Faça o demonstrativo de resultado apresentando o novo resultado com essa proposta do revendedor. Resultado com a proposta do revendedor Vendas atuais Proposta do revendedor Total Receita R$150.000,00 (–) Custo variável R$(90.000,00) (=) Margem de contribuição R$60.000,00 (–) Custo fixo e despesa fixa R$(50.000,00) (=) Resultado operacional R$10.000,00 b) Considerando as informações disponíveis e analisando apenas do ponto de vista econômico-financeiro, você aceitaria a proposta do revendedor? Justifique sua resposta. 4. Coloque Verdadeiro (V) ou Falso (F) para as situações a seguir: Margem de contribuição é o resultado da receita menos os )( custos dos produtos vendidos. Método de Custeio Variável 95 Margem de contribuição é o resultado da receita menos os )( custos variáveis e as despesas variáveis. O Custeio Variável não rateia as despesas fixas, rateia apenas os )( custos fixos para as unidades produzidas. O Custeio Variável é o método exigido pela legislação contábil e )( fiscal. No Custeio Variável a separação é entre variável e fixo, enquanto )( no absorção é entre custo e despesa. 5. A Empresa Prateada apresenta a seguinte situação de produção e ven- da no período: Preço de venda R$250,00 Custo variável unitário R$120,00 Custo fixo R$12.000,00 Quantidade produzida: 300 peças Quantidade vendida: 200 peças Faça a demonstração do resultado pelo Custeio por Absorção e pelo Custeio Variável. 6. A Empresa XWZ atua com dois produtos, conforme a seguir: Produto A Produto B Preço de venda R$100,00 R$150,00 Custo variável unitário R$80,00 R$120,00 Margem de contribuição R$20,00 R$30,00 Essa empresa tem a possibilidade de vender 100 peças a mais do pro- duto B, mas, para isso, deverá reduzir as vendas do produto A na mes- ma proporção, ou seja, reduzir 100 peças. No entanto, os custos fixos irão aumentar em R$600,00 no período. Vale a pena adotar a nova política de comercialização, ou seja, reduzir as vendas do produto A e aumentar as vendas do produto B em 100 peças? Justifique fazendo os cálculos. 96 Método de Custeio Variável Gabarito 1. Receita de venda 250 unidades . R$200,00 = R$50.000,00 (–) Custo e despesa variável Matéria-prima Comissão 250 unidades . R$100,00 = R$50.000,00 . 10% = R$(25.000,00) R$(5.000,00) (=) Margem de contribuição R$20.000,00 (–) Custo e despesa fixo Salário Aluguel R$(10.000,00) R$(2.000,00) Lucro operacional R$8.000,00 2. Demonstração do resultado pelo custeio por variável Vendas atuais Venda adicional Total Receita de venda R$25.000,00 R$3.000,00 R$28.000,00 (–) Custo variável R$(10.000,00) R$(2.000,00) R$(12.000,00) (=) Margem de contribuição R$15.000,00 R$1.000,00 R$16.000,00 (–) Custo fixo R$(10.000,00) R$(10.000,00) (=) Lucro operacional R$5.000,00 R$1.000,00 R$6.000,00 Vale a pena aceitar a proposta, pois como a empresa tem capacidade produtiva, seus custos fixos se manterão em R$10.000,00. O preço su- gerido pelo cliente de R$30,00 é maior que o custo variável unitário de R$20,00, gerando margem de contribuição unitária de R$10,00 por unidade vendida, como se trata da venda de 100 unidades adicionais o lucro aumentará em R$1.000,00, conforme visto na demonstração do resultado pelo Custeio Variável. 3. a) Faça o demonstrativo de resultado apresentando o novo resultado com essa proposta do revendedor. Método de Custeio Variável 97 Resultado com a proposta do revendedor Vendas atuais Proposta do revendedor Total Receita R$150.000,00 R$42.000,00 R$192.000,00 (–) Custo variável R$(90.000,00) R$(30.000,00) R$(120.000,00) (=) Margem de contribuição R$60.000,00 R$12.000,00 R$72.000,00 (–) Custo fixo e despesa fixa R$(50.000,00) R$(10.000,00) R$(60.000,00) (=) Resultado operacional R$10.000,00 R$2.000,00 R$12.000,00 b) Considerando as informações disponíveis e analisando apenas do ponto de vista econômico-financeiro, você aceitaria a proposta do revendedor? Justifique sua resposta. Resposta: sim, aceitaria a proposta, pois o aumento da margem de contribuição de R$12.000,00 foi suficiente para cobrir o aumento de R$10.000,00 do custo fixo, aumentado o resultado operacional em 20%. 4. F, V, F, F, V 5. Custo da produção pelo Custeio por Absorção Custo variável 300 peças produzidas . R$120,00 = R$36.000,00 Custo fixo R$12.000,00 Custo total R$48.000,00 Quantidade produzida 300 peças Custo unitário R$48.000,00 / 300 peças = R$160,00 DRE pelo Custeio por Absorção Receita de vendas 200 peças vendidas . R$250,00 = R$50.000,00 (–) Custo do produto vendido 200 peças vendidas . R$160,00 = R$(32.000,00) Lucro operacional R$18.000,00 98 Método de Custeio Variável DRE pelo Custeio Variável Receita de vendas 200 peças vendidas . R$250,00 = R$50.000,00 Custo variável 200 peças vendidas . R$120,00 = R$(24.000,00) Margem de contribuição R$26.000,00 Custo fixo R$(12.000,00) Lucro operacional R$14.000,00 Explicação da diferença do resultado: no Custeio Variável o custo fixo foi todo lançado no resultado, enquanto no Custeio por Absorção, 1/3 dos custos fixos foram para estoque, pois a empresa produziu 300 pe- ças e vendeu apenas 200. 6. Vale a pena alterar a política de vendas, pois a cada unidade transfe- rida do produto A para o B a margem de contribuição aumentará em R$10,00 por peça, gerando uma margem adicional total de R$1.000,00, enquanto os custos fixos aumentarão em R$600,00, conforme abaixo: Variação da margem de contribuição: 100 unid . R$10,00 = R$1.000,00 Variação nas despesas fixas: R$(600,00) Variação do resultado operacional: R$400,00 Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – relação entre custo X volume X lucro A análise da relaçãoentre o custo, o volume e o lucro é uma das ferra- mentas de grande poder informativo para os gestores, pois mostra como a variação do volume das atividades, do custo1 e do preço de venda pode im- pactar o resultado da empresa. A junção desses três fatores permite calcular o ponto de equilíbrio, apresentando a influência conjunta ou isolada de cada um deles. Conforme Martins (2006, p. 257) “o ponto de equilíbrio nasce da conjun- ção dos custos e das despesas totais com as receitas totais”, ou seja, é o ponto onde o resultado da empresa é igual a zero, pois, o valor das receitas é exata- mente igual à soma dos custos e das despesas. Ponto de equilíbrio também é chamado de ponto de ruptura, uma vez que rompe (ultrapassa) o volume de atividades que geram prejuízo. Quando a empresa estiver com nível de atividades abaixo do ponto de equilíbrio seus custos e despesas serão maiores do que as receitas, encontrando-se, por isso, na faixa do prejuízo, quando o nível de atividade estiver acima do ponto de equilíbrio entrará na faixa do lucro, conforme exposto no gráfico a seguir. Também é chamado de break-even point que é sua tradução para a língua inglesa, termo bastante utilizado nas bibliografias brasileiras. O ponto de equi- líbrio pode ser calculado tanto em unidades (volume) como em receitas (R$). 1 No estudo do ponto de equilíbrio sempre que es- tivermos nos referindo a custo, o leitor deve enten- der custo + despesa. 101 102 Gráfico do ponto de equilíbrio PE Receita Total Custo Total R$ Volume Variável Fixo P L Fórmula do ponto de equilíbrio A empresa obterá seu ponto de equilíbrio quando suas receitas totais forem iguais aos seus custos e despesas totais, pode ser expresso pela se- guinte fórmula: RT = CT RT = CV + CF (Ru . q) = (CVu . q) + CF (Ru – CVu)q = CF (MCu)q = CF portanto: Ponto de equilíbrio: CF MCu = q Onde: RT = Receita Total CT = Custo Total (incluindo as despesas) CV = Custo Variável Total (incluindo a despesa variável) Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 103 CF = Custo Fixo (incluindo a despesa fixa) Ru = Receita unitária CVu= Custo Variável unitário (incluindo a despesa variável) CF = Custo Fixo Total (incluindo a despesa fixa) q = quantidade MCu = Margem de Contribuição unitária Exemplo de cálculo do ponto de equilíbrio Suponhamos que uma escola tenha a seguinte estrutura de valores: Receita por aluno R$500,00 Custo variável por aluno R$100,00 Custo fixo mensal por curso R$8.000,00 Ponto de equilíbrio: CF MCu = q Lembrando que MCu = Ru – CVu Essa fórmula será utilizada para resolver todas as questões a seguir: Quantos alunos serão necessários para que se possa abrir a turma sem 1. que haja prejuízo, ou seja, para atingir o ponto de equilíbrio? Resposta: PE: R$8.000,00 R$500,00 – R$100,00 = 20 alunos Comprovação Receita 20 alunos . R$500,00 = R$10.000,00 (–) Custo Variável 20 alunos . R$100,00 = R$(2.000,00) (=) Margem de contribuição R$8.000,00 (–) Custo fixo R$(8.000,00) (=) Lucro operacional R$0,00 104 Supondo que haja 30 alunos interessados em fazer o curso, desde que 2. o preço seja reduzido, qual deverá ser o preço mínimo a ser cobrado para atingir o ponto de equilíbrio considerando essa quantidade de alunos? Resposta: PE: R$8.000,00 Ru – R$100,00 = 30 alunos R$8.000,00 = 30(Ru – R$100,00) R$8.000,00 = 30 Ru – R$3.000,00 R$8.000,00 + R$3.000,00 = 30 Ru Ru: R$11.000,00 30 = R$366,67 Comprovação Receita 30 alunos . R$366,67 = R$11.000,00 (–) Custo Variável 30 alunos . R$100,00 = R$(3.000,00) (=) Margem de contribuição R$8.000,00 (–) Custo fixo R$(8.000,00) (=) Lucro operacional R$0,00 Voltando aos dados originais, se a empresa deseja um lucro de 3. R$2.000,00 por curso, quantos alunos serão necessários para atingir esse resultado? Resposta: agora entrou um fator novo, que é o cálculo do lucro, esse assunto é tema do próximo tópico, mas já adiantando, para esse cálcu- lo devemos somar o valor do lucro ao custo fixo, ficando da seguinte forma: PE: R$8.000,00 + R$2.000,00 R$500,00 – R$100,00 = 25 alunos Comprovação Receita 25 alunos . R$500,00 = R$12.500,00 (–) Custo Variável 25 alunos . R$100,00 = R$(2.500,00) (=) Margem de contribuição R$10.000,00 (–) Custo fixo R$(8.000,00) (=) Lucro operacional R$2.000,00 Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 105 Ponto de equilíbrio e lucro No ponto de equilíbrio o lucro é igual a zero. Para calcular quantas unida- des serão necessárias para obter o lucro desejado, basta, na fórmula, acres- centar o valor do lucro. Relembrando, a fórmula do ponto de equilíbrio nasce com a seguinte equação: RT = CT (Receita Total = Custo Total) Para se obter lucro é necessário que a receita total seja igual à soma do custo total + lucro, portanto: RT = CT + L, desmembrando essa fórmula, teremos: Lucro desejado: CF + L MCu = q Lembrando que MCu = Ru – CVu Exemplo de cálculo Dados: Preço R$100,00 p/unid. Custo variável R$60,00 p/unid. Custo fixo R$25.000,00 p/mês Despesa fixa R$5.000,00 p/mês Cálculo do ponto de equilíbrio: Ponto de equilíbrio: CF MCu = q No ponto de equilíbrio o lucro é igual a zero, portanto a fórmula se escre- ve da seguinte maneira: PE: R$25.000,00 + R$5.000,00 + R$0,00 R$100,00 – R$60,00 = 750 unid. 106 Demonstração do resultado Receita 750 unid . R$100,00 = R$75.000,00 (–) Custo Variável 750 unid . R$60,00 = R$(45.000,00) (=) Margem de contribuição R$30.000,00 (–) Custo e despesa fixo R$25.000,00 + R$5.000,00 = R$(30.000,00) (=) Lucro operacional R$0,00 Supondo que a empresa desejasse um lucro de R$10.000,00 por mês, o cálculo da quantidade para se atingir esse resultado ficaria da seguinte forma: Lucro desejado: CF + L MCu = q R$25.000,00 + R$5.000,00 + R$10.000,00 R$100,00 – R$60,00 = 1 000 unid. Demonstração do resultado Receita 1 000 unid . R$100,00 = R$100.000,00 (–) Custo Variável 1 000 unid . R$60,00 = R$(60.000,00) (=) Margem de contribuição R$40.000,00 (–) Custo e despesa fixo R$25.000,00 + R$5.000,00 = R$(30.000,00) (=) Lucro operacional R$10.000,00 Aplicação rápida (simplificada) da fórmula No exemplo anterior foram efetuados os seguintes cálculos: Ponto de equilíbrio: R$25.000,00 + R$5.000,00 + R$0,00 R$100,00 – R$60,00 = 750 unid. Lucro desejado de R$10.000,00: R$25.000,00 + R$5.000,00 + R$10.000,00 R$100,00 – R$60,00 = = 1 000 unid. Há uma maneira mais rápida (mais simples) de se fazer o cálculo do lucro considerando o seguinte raciocínio: Sabe-se que a margem de contribuição unitária é de R$40,00. � Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 107 Sabe-se que o ponto de equilíbrio é de 750 unidades. � Assim, basta efetuar o seguinte cálculo: lucro desejado divido pela margem de contribuição unitária. R$10.000,00 R$40,00 = 250 unid. Portanto, para obter o lucro de R$10.000,00 serão necessárias 250 unida- des acima do ponto de equilíbrio, ou seja: 750 + 250 = 1 000 unidades. Se desejar um lucro de R$20.000,00, o cálculo será: R$20.000,00 R$40,00 = 500 unid. Então: 750 unidades para atingir o ponto de equilíbrio + 500 unidades = 1 250 unidades para obter o lucro de R$20.000,00. O raciocínio é o seguinte: a empresa precisa de 750 margens de contribui- ção unitária para atingir o ponto de equilíbrio, portanto para cada unidade que vender acima do ponto de equilíbrio o lucro será proporcional à margem de contribuição unitária multiplicada pela quantidade, por exemplo: Qtd. vendida Qtd. acima do ponto de equilíbrio x Marg. contribuição Lucro 750 unid. Zero . R$40,00 = R$0,00 751 unid. 01 . R$40,00 = R$40,00 752 unid. 02 . R$40,00 = R$80,00 753 unid. 03 . R$40,00 = R$120,00 1 000 unid. 250 . R$40,00 = R$10.000,00 1 250 unid. 500 . R$40,00 = R$20.000,00 Importante: para cálculo do lucro desejado, em hipótese alguma vale a aplicação da regra de três, pois os custos e as despesas fixos, até a capacidadeinstalada, não se alteram, prova disso que para atingir o lucro de R$10.000,00 será necessário vender 1 000 unidades, para dobrar o lucro, passando-o para R$20.000,00, não será necessário dobrar a quantidade, mas, sim, aumentar em 25% passando de 1 000 para 1 250 unidades. 108 Exemplos de cálculos do ponto de equilíbrio e do lucro desejado Exemplo 1 Nesse exemplo será apresentado como as variações da relação custo, volume e lucro interferem no cálculo do ponto de equilíbrio, do preço de venda e do lucro desejado. A Cia. Balança Mas Não Cai atua no segmento de aviação e sua rota Brasil- -Argentina tem as seguintes características: Preço da passagem: R$250,00 Custo variável por passageiro: R$50,00 Custo fixo por voo: R$20.000,00 Para resolver todos os itens será adotada a fórmula do ponto de equilíbrio e do lucro desejado, que acrescenta à fórmula do lucro. CF + L MCu = q CF + L Ru – CVu = q Sabemos que MCu = Ru – CVu, então trabalharemos com esses itens abertos na fórmula, conforme a seguir: Calcular quantos passageiros serão necessários por voo para atingir o a) ponto de equilíbrio. R$20.000,00 R$250,00 – R$50,00 = 100 passageiros Demonstração do resultado Receita 100 passageiros . R$250,00 R$25.000,00 (–) Custo variável 100 passageiros . R$50,00 R$(5.000,00) (=) Margem de contribuição R$20.000,00 (–) Custo fixo R$(20.000,00) (=) Lucro operacional R$0,00 Calcular quantos passageiros serão necessários para obter lucro de b) R$10.000,00. R$20.000,00 + R$10.000,00 R$250,00 – R$50,00 = 150 passageiros Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 109 Demonstração do resultado Receita 150 passageiros . R$250,00 R$37.500,00 (–) Custo variável 150 passageiros . R$50,00 R$(7.500,00) (=) Margem de contribuição R$30.000,00 (–) Custo fixo R$(20.000,00) (=) Lucro operacional R$10.000,00 Comentário: nesse item verificamos a influência do lucro no volume, sendo necessários 50 passageiros acima do ponto de equilíbrio para atingir o lucro desejado de R$10.000,00. A empresa tem conseguido, em média, 120 passageiros por voo. Dian-c) te disso, para obter o lucro de R$10.000,00 quanto deverá ser o preço da passagem? R$20.000,00 + R$10.000,00 Ru – R$50,00 = 120 passageiros R$30.000,00 = 120(Ru – R$50,00) R$30.000,00 = 120 Ru – R$6.000,00 R$30.000,00 + R$6.000,00 = 120 Ru Ru: R$36.000,00 120 = R$300,00 Demonstração do resultado Receita 120 passageiros . R$300,00 R$36.000,00 (–) Custo variável 120 passageiros . R$50,00 R$(6.000,00) (=) Margem de contribuição R$30.000,00 (–) Custo fixo R$(20.000,00) (=) Lucro operacional R$10.000,00 Comentário: nesse item foi apresentada a influência do volume e do lucro no preço da passagem, ou seja, considerando a realidade atual da empresa: ocupação de 120 passageiros por voo e um lucro deseja- do de R$10.000,00, mantendo os mesmos custos, a empresa terá que passar o preço da passagem para R$300,00. A empresa tem conseguido, em média, 120 passageiros por voo. Dian-d) te disso, para obter o lucro de R$10.000,00 quanto deverá ser o custo variável considerando o preço da passagem atual de R$250,00? 110 R$20.000,00 + R$10.000,00 R$250,00 – CVu = 120 passageiros R$30.000,00 = 120 (R$250,00 – CVu) R$30.000,00 = R$30.000,00 – 120 CVu R$30.000,00 – R$30.000,00 = –120 CVu CVu: R$0,00 –120 = R$0,00 Demonstração do resultado Receita 120 passageiros . R$250,00 R$30.000,00 (–) Custo variável 120 passageiros . R$0,00 R$0,00 (=) Margem de contribuição R$30.000,00 (–) Custo fixo R$(20.000,00) (=) Lucro operacional R$10.000,00 Comentário: nesse item foi apresentada a influência do volume e do lucro no custo variável, ou seja, considerando a realidade atual da em- presa: ocupação de 120 passageiros por voo e um lucro desejado de R$10.000,00, mantendo os mesmos custos fixos, o custo variável teria que cair para zero, o que, nessa atividade, é praticamente impossível. A empresa tem conseguido, em média, 120 passageiros por voo. Dian-e) te disso, para obter o lucro de R$10.000,00 quanto deverá ser o custo fixo, mantendo os demais dados iniciais? CF + R$10.000,00 R$250,00 – R$50,00 = 120 passageiros R$10.000,00 + CF = 120 (R$250,00 – R$50,00) R$10.000,00 + CF = R$24.000,00 CF = R$24.000,00 – R$10.000,00 CF = R$14.000,00 Demonstração do resultado Receita 120 passageiros . R$250,00 R$30.000,00 (–) Custo Variável 120 passageiros . R$50,00 R$(6.000,00) (=) Margem de contribuição R$24.000,00 (–) Custo fixo R$(14.000,00) (=) Lucro operacional R$10.000,00 Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 111 Comentário: nesse item foi apresentada a influência do volume e do lucro no custo fixo, ou seja, considerando a realidade atual da em- presa: ocupação de 120 passageiros por voo e um lucro desejado de R$10.000,00, mantendo os mesmos custos variáveis, o custo fixo teria que cair para R$14.000,00. Calcular quantos passageiros serão necessários para obter o lucro de f ) 10% sobre a Receita Total (RT). R$20.000,00 + 0,10 RT R$250,00 – R$50,00 = q Inicialmente há duas incógnitas, a RT e a quantidade, mas sabe-se que RT = Receita unitária . quantidade e a receita unitária é conhecida = R$250,00, portanto temos: RT = Ru . q RT = R$250,00 . q ou seja, RT = 250,00q Portanto, na fórmula onde consta RT substituiremos por R$250,00q R$20.000,00 + (0,10 . R$250,00q) R$250,00 – R$50,00 = q R$20.000,00 + R$25,00q = R$200,00q R$20.000,00 = R$200,00q – R$25,00q R$20.000,00 = R$175,00q q: R$20.000,00 R$175,00 = 114,29 passageiros2 Demonstração do Resultado Receita total 114,29 passageiros . R$250,00 R$28.572,50 (–) Custo Variável 114,29 passageiros . R$50,00 R$(5.714,50) (=) Margem de contribuição R$22.858,00 (–) Custo fixo R$(20.000,00) (=) Lucro operacional R$2.858,00 Lucro operacional: Receita total: R$2.858,00 R$28.572,50 = 10% Comentário: nesse item foi apresentada a influência do lucro sobre o volume, serão necessários 114,29 passageiros acima do ponto de equi- líbrio para se atingir o lucro desejado. 2 Observação: nesse caso, pode-se arredondar a quantidade, pois não há como ter 114,29 passagei- ros. Sempre que arredon- dar a quantidade deve ser para cima, pois é melhor sobrar do que faltar. Assim, poder-se-ia consi- derar 115 passageiros. 112 Exemplo 2 Nesse exemplo será apresentado como aplicar a fórmula de maneira rápida (simplificada). Suponhamos que determinada clínica que presta serviços de atendimen- to odontológico tenha duas linhas de produtos e está estudando a possibili- dade de fazer uma campanha publicitária. As duas linhas de produtos são: obturação normal aqui chamada de produto A; � obturação de canal aqui chamada de produto B; � A clínica apresenta os seguintes dados: Produto A Produto B Preço unitário R$30,00 R$60,00 (–) Custo variável unitário (R$10,00) (R$25,00) (=)Margem de contribuição unitária R$20,00 R$35,00 Custo fixo mensal R$1.500,00 R$2.000,00 Quantidades mensais 200 atendimentos 200 atendimentos Demonstração do resultado – situação atual Produto A Produto B Total Receita do serviço R$6.000,00 R$12.000,00 R$18.000,00 (–) Custo Variável R$(2.000,00) R$(5.000,00) R$(7.000,00) (=) Marg. contribuição R$4.000,00 R$7.000,00 R$11.000,00 (–) Custo fixo mensal R$(1.500,00) R$(2.000,00) R$(3.500,00) (=) Lucro operacional R$2.500,00 R$5.000,00 R$7.500,00 Observação: para cálculo da receita e do custo variável basta multiplicar a quantidade pelos valores unitários. A campanha publicitária que está sendo estudada vai gerar uma despesa fixa mensal adicional de R$500,00 para os serviços de obturações normais (produto A) e de R$1.000,00 para as obturações de canal (produto B). O pro- prietário da clínica concorda em fazer a campanha, desde que essa traga uma quantidade adicional de atendimentos que sejam suficientes para cobrir os gastos com a campanha. Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Pontode equilíbrio – aspectos iniciais 113 Diante disso, solicitou à sua equipe de marketing que calcule quantos atendimentos a mais de cada produto serão necessários para cobrir os gastos com a campanha mantendo o mesmo lucro por produto. Como a resposta tinha que ser rápida, foi utilizada a forma simplificada de se fazer o cálculo, conforme a seguir. Produto A: Gasto com a campanha R$500,00 = 25 atendimentos adicionais Margem de contribuição unit. R$20,00 Portanto, deverá aumentar a quantidade de atendimentos de 200 para 225, isso representa um acréscimo de 12,5%. Produto B: Gasto com a campanha R$1.000,00 = 28,57 atendimentos adicionais Margem de contribuição unitária R$35,00 Portanto, deverá aumentar a quantidade de atendimentos de 200 para 228,57 (ou 229), isso representa um acréscimo de 14,3%. Conclusão: se conseguir esses acréscimos nas quantidades de atendi- mentos dos dois produtos, a campanha publicitária poderá ser feita, pois, mesmo aumentando as despesas mensais o lucro se manterá o mesmo, con- forme demonstração do resultado a seguir: Produto A Produto B Total Receita do serviço R$6.750,00 R$13.714,29 R$20.464,29 (–) Custo Variável R$(2.250,00) R$(5.714,29) R$(7.964,29) (=) Marg. contribuição R$4.500,00 R$8.000,00 R$12.500,00 (–) Custo fixo mensal R$(2.000,00) R$(3.000,00) R$(5.000,00) (=) Lucro operacional R$2.500,00 R$5.000,00 R$7.500,00 Retorno sobre Investimento por produto Retorno sobre Investimento significa qual o percentual que o lucro está remunerando o valor que foi empregado (investido) no negócio ou especifi- camente no produto. Fórmula para cálculo do Retorno sobre Investimento (ROI – Return On Investment): 114 ROI = Lucro Investimento . 100 Utilizando os dados originais (iniciais) do exemplo anterior (clínica odon- tológica), será calculado o Retorno sobre Investimento de cada um dos pro- dutos e também o global da clínica. Além dos custos fixos de cada linha de serviço, a clínica tem uma despesa fixa mensal, comum às duas linhas, no valor de R$2.500,00. Portanto, sua demonstração do resultado apresenta o seguinte: Produto A Produto B Total Receita do serviço R$6.000,00 R$12.000,00 R$18.000,00 (–) Custo Variável R$(2.000,00) R$(5.000,00) R$(7.000,00) (=) Margem de contribuição R$4.000,00 R$7.000,00 R$11.000,00 (–) Custo fixo mensal R$(1.500,00) R$(2.000,00) R$(3.500,00) (=) Lucro operacional dos serviços R$2.500,00 R$5.000,00 R$7.500,00 (–) Despesa fixa comum R$(2.500,00) (=) Lucro operacional da empresa R$5.000,00 A empresa efetuou os seguintes investimentos: � Produto A: R$40.000,00 � Produto B: R$60.000,00 � Comum aos dois produtos: R$20.000,00 � Investimento total: R$120.000,00 Cálculo do ROI por produto Produto A : R$2.500,00 R$40.000,00 . 100 = 6,25% a.m. Produto B : R$5.000,00 R$60.000,00 . 100 = 8,33% a.m. Produto C : R$5.000,00 R$120.000,00 . 100 = 4,17% a.m. Análises Para concluir se é vantagem investir nesse negócio (clínica odontológi-a) ca), os proprietários deverão comparar o retorno sobre o investimento Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 115 da clínica que foi de 4,17% a.m. (ao mês) com seu custo de oportuni- dade, ou seja, responder a seguinte pergunta: O valor de R$120.000,00 investido em outro negócio teria um retorno maior ou menor que 4,17% a.m.? se a resposta for menor, então investir na clínica é vantajoso; � se a resposta for maior, então não é vantagem investir em odonto- � logia, os proprietários deveriam pegar esse valor investido e colo- car em outro negócio com maior rentabilidade. A análise por produto apresenta qual deles gera melhor retorno, sen-b) do assim, suponhamos que os proprietários estivessem dispostos a investir mais R$50.000,00 e que houvesse mercado potencial para ambos. Para qual dos dois produtos deveria ser direcionado o novo investimento? Resposta: para o produto B, pois gera um ROI de 8,33% enquanto o produto A gera 6,25%. Pay Back Pay Back é o tempo de retorno do investimento, ou seja, é o tempo entre o investimento inicial e o momento no qual o lucro líquido acumulado se iguala ao valor desse investimento. O Pay Back é uma das técnicas de análise financeira mais comuns para se avaliar o retorno sobre o investimento. Calcula o número de períodos ou quanto tempo o investidor irá precisar para recuperar o investimento realizado. O Retorno sobre Investimento (ROI) apresenta o retorno em percentual, enquanto o pay back apresenta em quantidade de períodos, ou seja, o prazo que o investimento será recuperado. A fórmula do Pay Back (PB) é inversa à do Retorno sobre Investimento, conforme a seguir: PB = Investimento Lucro 116 Utilizando os dados da clínica odontológica teremos os seguintes pay backs: Produto A : R$40.000,00 R$2.500,00 = 16 meses Produto B : R$60.000,00 R$5.000,00 = 12 meses Clínica : R$120.000,00 R$5.000,00 = 24 meses ROI Pay Back Produto A 6,25% a.m. 16 meses Produto B 8,33% a.m. 12 meses Clínica 4,17% a.m. 24 meses Portanto, assim como o ROI, através do Pay Back também é possível con- cluir que o produto B é melhor, pois o prazo de retorno do investimento é de 12 meses, enquanto do produto A é de 16 meses. A seguir outro exemplo de cálculo do Pay Back: A Cia. Amorosa é uma empresa de telefonia móvel (celular) e resolve fazer uma promoção para o dia dos namorados. Para cada novo assinante será dado um aparelho que custa R$400,00. Levando-se em consideração os dados a seguir, quantos meses serão necessários para cobrir esse investimento? Custo do aparelho (investimento) R$400,00 Assinatura mensal R$20,00 Receita por minuto R$0,40 Custo variável por minuto R$0,03 Importante: cada usuário utiliza em média 100 minutos por mês. Resposta: Para efetuar o cálculo do prazo de retorno do investimento será necessá- rio calcular o lucro, para em seguida, o Pay Back. Lucro = RT – CT RT: R$20,00 + (100 min . R$0,40) = R$60,00 CT: 100 min . R$0,03 = R$3,00 Lucro = R$57,00 Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 117 Cálculo do Pay Back: PB = Investimento Lucro PB = R$400,00 R$57,00 = 7,02 meses Portanto, a Cia. Amorosa começará a obter resultado após o 7.º mês, pois, até então, apenas recuperou o valor do investimento com o aparelho que fora subsidiado ao novo assinante, por isso, irão exigir um contrato de fideli- dade de, no mínimo, 12 meses para que possam obter algum lucro. Vale destacar, que o conceito do pay back é exatamente igual ao do ponto de equilíbrio, ou seja, ambos calculam a quantidade que se precisa para que o resultado seja igual a zero. No caso do pay back essa quantidade é dada em períodos de tempo: dias, meses ou anos. Ponto de equilíbrio às avessas Ponto de equilíbrio às avessas se dá quando um determinado produto apresenta margem de contribuição negativa, nesse caso, quanto maior o volume de vendas, pior será o resultado. Muitas vezes um produto, embora tenha resultado negativo, é estratégico para a empresa mantê-lo, pois pode ser um atrativo para outros produtos de melhor rentabilidade. Um exemplo clássico é a edição, impressão e distribuição de jornais, nor- malmente a venda em si do jornal gera prejuízo, mas o ganho está na venda de anúncios e classificados, conforme exemplo a seguir: O jornal ABC Times tem as seguintes informações: Receita com anúncios e classificados R$25.000,00 por mês Custo variável total com edição dos anúncios e classificados R$10.000,00 por mês Preço de venda do jornal R$2,00 por exemplar Custos variáveis de edição e distribuição R$3,00 por exemplar Custos + Despesas fixas: R$10.000,00 por mês 118 Pede-se: 1 – Calcular quantos exemplares deverão vender por mês para atingir o ponto de equilíbrio. Teremos o ponto de equilíbrio quando: RT = CT RT = CVT + CF R$25.000,00 + R$2,00q = R$10.000,00 + R$3,00q + R$10.000,00 R$25.000,00 – R$10.000,00 – R$10.000,00 = R$3,00q – R$2,00q q = R$5.000,00 R$1,00 = 5 000 Demonstraçãodo resultado Anúncios e classificados Venda do jornal Total Receita R$25.000,00 R$10.000,00 R$35.000,00 (–) Custo Variável R$(10.000,00) R$(15.000,00) R$(25.000,00) (=) Margem de contribuição R$15.000,00 R$(5.000,00) R$10.000,00 (–) Custo fixo R$(10.000,00) (=)Lucro operacional R$0,00 2 – Calcular quantos exemplares deverão vender para obter um lucro de R$2.000,00 por mês. Teremos o lucro de R$2.000,00 quando: RT = CT + L RT = CVT + CF + L R$25.000,00 + R$2,00q = R$10.000,00 + R$3,00q + R$10.000,00 + R$2.000,00 R$25.000,00 – R$10.000,00 – R$10.000,00 – R$2.000,00 = R$3,00q – R$2,00q q = R$3.000,00 R$1,00 = 3 000 Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 119 Demonstração do resultado Anúncios e classificados Venda do jornal Total Receita R$25.000,00 R$6.000,00 R$31.000,00 (–) Custo variável R$(10.000,00) R$(9.000,00) R$(19.000,00) (=) Margem de contribuição R$15.000,00 R$(3.000,00) R$12.000,00 (–) Custo fixo R$(10.000,00) (=) Lucro operacional R$2.000,00 Vale destacar que para obter lucro será necessário vender menos que 5 000 exemplares, como nesse caso, para obter o lucro de R$2.000,00 é ne- cessário vender 3 000 exemplares apenas, pois como a margem de contribui- ção é negativa, quanto mais vender, pior será o resultado. No entanto, se o jornal tiver baixa distribuição não conseguirá vender anúncios e classificados. Portanto, mesmo com a margem negativa a empre- sa é obrigada a vender o jornal. Ponto de equilíbrio em receitas Quando a empresa trabalha com diversas unidades diferentes de produ- tos, como é o caso de um supermercado que atua com kg, litro, pacote, fardo, lata etc., é muito difícil calcular o ponto de equilíbrio em quantidades, nesse caso, o cálculo pode ser feito em receitas totais, possibilitando responder a pergunta: Quanto precisamos faturar para alcançar o ponto de equilíbrio? Assim, para calcular o ponto de equilíbrio em receita ao invés de utilizar a margem de contribuição unitária, utiliza-se a margem em percentual, que é encontrada dividindo o valor da margem de contribuição pela receita. Por exemplo: Receita R$100.000,00 (–) Custo variável R$(60.000,00) (=) Marg. contribuição R$40.000,00 (–) Custos e desp. fixos R$(30.000,00) (=) Lucro operacional R $10.000,00 Demonstração do resultado Cálculo da Margem de Contribuição Percentual – MC% MC% = R$40.000,00 R$100.000,00 = 0,4040% 120 Cálculo da receita para atingir o ponto de equilíbrio, que chamamos de receita equilíbrio: Receita equilíbrio: CF MC% = R$ Receita equilíbrio = R$30.000,00 0,40 = R$75.000,00 Cálculo do custo variável: se a MC% é de 40%, significa que o custo variá- vel representa 60% da receita, portanto: R$75.000,00 . 60% = R$45.000,00. Demonstração do resultado Receita R$75.000,00 (–) Custo variável R$(45.000,00) 60% (=) Marg. contribuição R$30.000,00 40% (–) Custos e desp. fixos R$(30.000,00) (=) Lucro operacional R$0,00 Margem de Segurança (MS) O cálculo do ponto de equilíbrio em receita permite o cálculo da Margem de Segurança. Margem de Segurança é o excesso de vendas em relação ao ponto de equilíbrio. Ela demonstra até quanto as vendas podem cair para que a em- presa não entre na zona do prejuízo, é calculada pela fórmula: MS= Receitas atuais – Receitas no ponto de equilíbrio Receitas atuais No exemplo anterior, apresentado para se calcular o PE em receita, a em- presa apresentou uma receita total de R$100.000,00 e obteve um lucro de R$10.000,00, no PE apresentou uma receita total de R$75.000,00. Com isso, apresenta a seguinte Margem de Segurança: MS: R$100.000,00 – R$75.000,00 R$100.000,00 = 25% Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 121 Normalmente o resultado da equação é multiplicado por 100 para que seja apresentado em percentual. A Margem de Segurança de 25% significa que as vendas dessa empresa poderão cair no máximo 25% para que não tenha prejuízo, acima desse per- centual começará a entrar na zona do prejuízo. Grau de Alavancagem Operacional (GAO) Garrison, Noreen e Brewer (2007, p. 200) mencionam que Grau de Alavancagem Operacional (GAO) é a medida de sensibilidade do lucro operacional líquido às variações percentuais das vendas. A alavancagem operacional funciona como um fator multiplicador: se ela é alta, uma pequena variação percentual das vendas pode levar a uma variação percentual muito maior do lucro operacional líquido. O GAO determina a proporção entre o lucro e o volume de vendas, ou seja, serve como instrumento para responder a seguinte pergunta: Para aumentar o lucro em X% quanto devemos aumentar o volume de vendas? O Grau de Alavancagem Operacional (GAO) é o resultado da fórmula: GAO = Margem de contribuição Lucro operacional GAO = 40.000 10.000 = 4 Assim, a cada 1% de aumento no volume de vendas atual corresponderá a um aumento de 4% no lucro. Demonstração do Resultado Receita R$100.000,00 (–) Custo variável R$(60.000,00) (=) Marg. contribuição R$40.000,00 (–) Custos e desp. fixos R$(30.000,00) (=) Lucro operacional R$10.000,00 122 Aplicando as perguntas 1 – Se aumentar o volume em 20% em quanto aumentará o lucro? Cálculo: 20% . 4 = 80% Portanto, se o lucro atual é de R$10.000,00 com aumento de 80% passará para R$18.000,00, conforme demonstrado a seguir: Receita líquida R$100.000,00 . 1,20 = R$120.000,00 (–) Custo variável R$(60.000,00) . 1,20 = R$(72.000,00) (=) Margem de contribuição R$40.000,00 R$48.000,00 (–) Custo + Despesa fixo R$(30.000,00) R$(30.000,00) Lucro R$10.000,00 R$18.000,00 2 – Para aumentar o lucro em 100% quanto deverá aumentar o volume de vendas ? O GAO também pode ser calculado utilizando a seguinte fórmula: GAO = Porcentagem de acréscimo no lucro Porcentagem de acréscimo no volume Assim teremos: 100% x = 4 Então: 100% = 4x .:. x = 100% 4 .:. x = 25% Portanto, para dobrar o lucro, a empresa deverá aumentar o volume em 25% , conforme demonstrado a seguir: Receita líquida R$100.000,00 . 1,25 = R$125.000,00 (–) Custo variável R$(60.000,00) . 1,25 = R$(75.000,00) (=) Margem de contribuição R$40.000,00 R$50.000,00 (–) Custo + Despesa fixo R$(30.000,00) R$(30.000,00) Lucro R$10.000,00 R$20.000,00 O cálculo da Margem de Segurança (MS) e do Grau de Alavancagem Ope- racional (GAO) auxiliam na tomada de decisão sobre qual melhor estrutura para cada projeto, respondendo ao questionamento: Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 123 Para esse projeto ou para essa empresa é melhor que se tenha mais custo fixo ou é melhor que se tenha mais custo variável? Para responder esse questionamento será apresentado o exemplo a seguir: As empresas A e B apresentam as seguintes demonstrações de resultado: Empresa A Empresa B Receita R$100.000,00 R$100.000,00 (–) Custo variável R$(60.000,00) R$(30.000,00) (=) Marg. contribuição R$40.000,00 R$70.000,00 (–) Custo fixo R$(30.000,00) R$(60.000,00) (=) Lucro operacional R$10.000,00 R$10.000,00 As duas empresas apresentam a mesma receita e o mesmo lucro opera- cional, diante disso responda: Qual das duas empresas apresenta a melhor estrutura? Por quê? Para responder a essa pergunta é recomendável calcular a Margem de Segurança (MS) e o Grau de Alavancagem Operacional (GAO) de cada uma? Primeiro passo � : calcular o ponto de equilíbrio em receita Receita equilíbrio: CF MC% = R$ Empresa A Cálculo da MC% Margem de Contribuição = R$40.000,00 = 0,40 Receita R$100.000,00 Ponto de equilíbrio em receita: Custo fixo = R$30.000,00 = R$75.000,00 MC% 0,40 124 Empresa B Cálculo da MC% Margem de Contribuição = R$70.000,00 = 0,70 Receita R$100.000,00 Ponto de equilíbrio em receita: Custo Fixo = R$60.000,00 = R$85.714,00 MC% 0,70 Segundo passo � : calcular a Margem de Segurança (MS): MS = Receitas atuais – Receitas no ponto de equilíbrio Receitas atuais Empresa A R$100.000,00 – R$75.000,00 = 25% R$100.000,00 Empresa B R$100.000,00– R$85.714,00 = 14,3% R$100.000,00 Terceiro passo � : calcular o Grau de Alavancagem Operacional (GAO). GAO = Margem de contribuição Lucro operacional Empresa A Empresa B R$40.000,00 = 4 R$70.000,00 = 7 R$10.000,00 R$10.000,00 Resumo: Empresa A Empresa B MS 25% 14,3% GAO 4 7 Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 125 Depois de calculados a MS e o GAO é possível responder a pergunta: Qual das duas empresas apresenta a melhor estrutura? Por quê? Os resultados mostram que: para cada 1% de aumento no volume de vendas a empresa A aumen- � tará o seu lucro em 4% e a empresa B em 7%, portanto, num merca- do aquecido, de vendas crescentes, a empresa B apresenta melhor estrutura, uma vez que tem maior Grau de Alavancagem Operacional (GAO); se o mercado estiver recessivo, com as vendas em queda, a empresa � A apresenta melhor estrutura, uma vez que possui maior Margem de Segurança (MS). A empresa A suporta uma queda de até 25% no volu- me de vendas para não ter prejuízo, enquanto a empresa B suporta no máximo 14,3%; para uma resposta objetiva é necessário saber o comportamento do � mercado; mercado em crescimento – terá melhor estrutura a empresa que apre- � sentar o maior GAO, nesse caso, a empresa B; mercado em queda – terá melhor estrutura a empresa que apresentar � a maior Margem de Segurança, nesse caso, a empresa A. Para comprovar vamos apresentar uma situação onde o volume de vendas pode variar 20% para cima ou para baixo: Situação 1: se aumentar o volume de vendas em 20% como ficará o resultado dessas empresas? Empresa A Empresa B Receita R$120.000,00 R$120.000,00 (–) Custo Variável R$(72.000,00) R$(36.000,00) (=) Marg. contribuição R$48.000,00 R$84.000,00 (–) Custo fixo R$(30.000,00) R$(60.000,00) (=) Lucro operacional R$18.000,00 R$24.000,00 Para se chegar a esses lucros não seria necessário fazer as demonstrações dos resultados, bastaria os seguintes cálculos: 126 (1 + (GAO . aumento do volume)) . Lucro operacional atual Empresa A: (1 + (4 . 0,20)) . R$10.000,00 .:. 1,80 . R$10.000,00 = R$18.000,00 Empresa B: (1 + (7 . 0,20)) . R$10.000,00 .:. 2,40 . R$10.000,00 = R$24.000,00 Situação 2: se reduzir o volume de vendas em 20% como ficará o resulta- do dessas empresas? Empresa A Empresa B Receita R$80.000,00 R$80.000,00 (–) Custo variável R$(48.000,00) R$(24.000,00) (=) Marg. contribuição R$32.000,00 R$56.000,00 (–) Custo fixo R$(30.000,00) R$(60.000,00) (=) Lucro operacional R$2.000,00 R$(4.000,00) Cálculos diretos sem a necessidade da demonstração do resultado: Lucro operacional atual – (Lucro operacional atual . (GAO . aumento do volume)) Empresa A: R$10.000,00 – (R$10.000,00 . (4 . 0,20)) .:. R$10.000,00 – R$8.000,00 = R$2.000,00 Empresa B: R$10.000,00 – (R$10.000,00 . (7 . 0,20)) .:. R$10.000,00 – R$14.000,00 = R$(4.000,00) Importante Numa economia em crescimento a empresa que apresentar o melhor GAO terá maior resultado, por outro lado numa economia recessiva também terá maior queda. Numa economia em recessão a melhor estrutura será da empresa que tiver maior Margem de Segurança, pois suportará uma maior queda nas vendas. Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 127 Diálogo inicial “Prem, um estudante de pós-graduação em engenharia à época, iniciou a Acoustic Concepts para comercializar um novo tipo radical de alto-falante que havia projetado para sistemas de som automotivos. O alto-falante, com o nome de Sonic Blaster, usa um microprocessador avançado e software próprio para aumentar a amplificação a níveis impressionantes. Prem contratou uma empresa de produtos eletrônicos de Taiwan para fabricar o alto-falante. Com capital inicial fornecido por sua família, Prem fez um pedido ao fabricante e colocou anúncios em publicações especializadas em automóveis. O Sonic Blaster foi um sucesso quase imediato, e as vendas cresceram a ponto de que Prem transferiu a sede de seu apartamento para um local alu- gado num parque industrial próximo. Contratou também uma recepcionista, um contador, um gerente de vendas, e uma pequena equipe de vendas para comercializar os alto-falantes em lojas locais. O contador, Bob Luchinni, havia trabalhado para diversas empresas de pequeno porte. Nas quais também havia atuado como assessor, além de contador e escriturário. A seguinte con- versa ocorreu logo após a contratação de Bob: Prem: Bob, eu tenho muitas perguntas sobre finanças da empresa, e espero que possa respondê-las. Bob: Estamos em ótima situação. O empréstimo de sua família será liquidado dentro de uns poucos meses. Prem: Eu sei, mas estou preocupado com os riscos que assumi expandindo as operações. O que aconteceria se aparecesse um concorrente no mercado e nossas vendas caíssem? Quanto as vendas poderiam cair sem que passás- semos a ter prejuízo? Outra questão que estou tentando resolver é saber quanto nossas vendas precisam subir para justificar a grande campanha de marketing que o pessoal de vendas está propondo. Bob: O marketing sempre quer mais dinheiro para propaganda. Prem: E estão sempre me pedindo para reduzir o preço de venda de alto-falante. Concordo com eles que um preço mais baixo aumentaria nosso volume, mas não sei se o volume adicional compensaria a perda de receita com o preço mais baixo. Ampliando seus conhecimentos O diálogo a seguir (GARRISON; NOREEN; BREWER, 2007) ilustra a necessi- dade do cálculo e da análise da relação: custo X volume X lucro. 128 Bob: Parece que todas essas questões estão ligadas a um tipo de algum modo [sic] às relações entre nossos preços de venda, nossos custos e nosso volu- me. Não devemos ter qualquer problema em chegar a respostas. Precisarei de um dia ou dois, porém, para coletar alguns dados. Prem: Por que não marcamos uma reunião para daqui a três dias? Isso será na quinta-feira. Bob: Isso parece bom. Terei algumas respostas preliminares para você, bem como um modelo que poderá usar para responder perguntas semelhantes no futuro. Prem: Ótimo. Estarei aguardando você para ver o que consegue. Diálogo final É a manhã de quinta-feira, e Prem Narayan e Bob Luchinni estão dis- cutindo os resultados da análise feita por Bob. Prem: Bob, tudo que você me mostrou até agora parece bastante claro. Posso ver qual será o impacto de algumas das sugestões do gerente de ven- das sobre nosso lucro. Algumas sugestões são muito boas, e outras nem tanto. Também entendo que nosso ponto de equilíbrio é igual a 350 alto- -falantes, o que nos obriga a garantir que não caiamos abaixo desse ní- vel de vendas. O que realmente me preocupa é que estamos vendendo somente 400 alto-falantes por mês. Como você chamou essa folga de 50 alto-falantes? Bob: Essa é a margem de segurança. Prem: Essa folga tão pequena me deixa bastante nervoso. O que podemos fazer para aumentá-la? Bob: Precisaremos aumentar as receitas de venda, diminuir o ponto de equilí- brio, ou ambas as coisas. Prem: E para diminuir o ponto de equilíbrio precisaremos reduzir nossas despe- sas fixas ou aumentar nossa margem de contribuição por unidade? Bob: Exatamente. Prem: E, para aumentar nossa margem de contribuição precisaremos elevar nosso preço de venda ou diminuir o custo variável unitário? Bob: Correto.” Os exemplos e exercícios apresentados nesse capítulo, mostram como efetuar os cálculos para responder perguntas como as que Prem fez para o seu contador Bob nesse diálogo. Questionamentos como esses são feitos a todos instantes dentro das organizações. Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 129 Atividades de aplicação 1. Considerando as informações abaixo, calcule quantas unidades serão necessárias para atingir o ponto de equilíbrio e elabore a demonstra- ção do resultado. Receita unitária R$200,00 Custo variável unitário R$120,00 Custo fixo mensal R$20.000,00 2. A Empresa CDL deseja obter um lucro de R$10.000,00 por mês, consi- derando os dados a seguir, calculequantas unidades terá que vender para atingir esse lucro. Elabore a demonstração do resultado. Receita unitária R$300,00 Custo variável unitário R$200,00 Custo fixo mensal R$30.000,00 3. A Empresa XYZ deseja calcular o preço de venda do seu produto. Ela possui um mercado potencial para vender 1 000 unidades por mês e deseja obter um lucro de R$10.000,00. Qual deverá ser o preço consi- derando os custos a seguir? Elabore a demonstração do resultado. Custo variável unitário R$100,00 Custo fixo mensal R$40.000,00 4. Calcule quantas unidades serão necessárias vender para obter um lu- cro de 10% sobre a receita total, considerando as informações a seguir. Elabore a demonstração do resultado. Receita unitária R$100,00 Custo variável unitário R$60,00 Custo fixo mensal R$30.000,00 5. Determinado investidor efetuou investimentos numa empresa que trabalha com dois produtos. Ele deseja investir mais R$50.000,00 e quer saber em qual produto deve investir, considerando que há mer- cado suficiente para aumentar as vendas dos dois produtos, basean- do-se na demonstração do resultado a seguir, em qual produto você recomenda que ele faça seu novo investimento? 130 Produto A Produto B Receita R$40.000,00 R$60.000,00 (–) Custo Variável R$(10.000,00) R$(20.000,00) (=) Margem de contribuição R$30.000,00 R$40.000,00 (–) Custo fixo anual R$(20.000,00) R$(25.000,00) (=) Lucro operacional R$10.000,00 R$15.000,00 Os investimentos iniciais nesses produtos foram de: Produto A: R$80.000,00 Produto B: R$100.000,00 6. Considerando a demonstração do resultado a seguir, calcule o ponto de equilíbrio em receita e elabore a demonstração do resultado. Receita R$80.000,00 (–) Custo variável R$(56.000,00) (=) Margem de contribuição R$24.000,00 (–) Custo fixo mensal R$(15.000,00) (=) Lucro operacional R$9.000,00 7. Calcule o prazo de retorno (pay back) do investimento abaixo: Receita R$100.000,00 (–) Custo variável R$(30.000,00) (=) Margem de contribuição R$70.000,00 (–) Custo fixo mensal R$(40.000,00) (=) Lucro operacional R$30.000,00 Os investimentos efetuados: R$450.000,00. 8. As Empresas X e Y apresentam as seguintes demonstrações de resulta- dos: Empresa X Empresa Y Receita R$500.000,00 R$600.000,00 (–) Custo variável R$(300.000,00) R$(300.000,00) (=) Margem de contribuição R$200.000,00 R$300.000,00 (–) Custo fixo anual R$(100.000,00) R$(200.000,00) (=) Lucro operacional R$100.000,00 R$100.000,00 Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 131 Em que situação cada uma dessas empresas apresenta melhor estru- tura? Por quê? Obs.: faça sua análise após calcular o GAO e a Margem de Segurança. Gabarito 1. PE: R$20.000,00 R$200,00 – R$120,00 = 250 unidades Demonstração do resultado Receita 250 unid . R$200,00 = R$50.000,00 (–) Custo variável 250 unid . R$120,00 = R$(30.000,00) (=) Margem de contribuição R$20.000,00 (–) Custo fixo R$(20.000,00) (=) Lucro operacional R$0,00 2. Lucro desejado: R$30.000,00 + R$10.000,00 R$300,00 – R$200,00 = 400 unidades Demonstração do resultado Receita 400 unid . R$300,00 = R$120.000,00 (–) Custo variável 400 unid . R$200,00 = R$(80.000,00) (=) Margem de contribuição R$40.000,00 (–) Custo fixo R$(30.000,00) (=) Lucro operacional R$10.000,00 3. R$40.000,00 + R$10.000,00 Ru – R$100,00 = 1 000 R$50.000,00 = 1 000Ru + R$100.000,00 R$50.000,00 + R$100.000,00 = 1 000Ru Ru = R$150.000,00 1 000 = R$150,00 Demonstração do resultado Receita 1 000 unid . R$150,00 = R$150.000,00 (–) Custo variável 1 000 unid . R$100,00 = R$(100.000,00) (=) Margem de contribuição R$50.000,00 (–) Custo fixo R$(40.000,00) (=) Lucro operacional R$10.000,00 132 4. R$30.000,00 + 0,10RT R$100,00 – R$60,00 = q RT = Ru . q RT = R$100,00 . q, ou seja, RT = 100,00q Portanto, na fórmula onde consta RT substituiremos por R$100,00q: R$30.000,00 + (0,10 . R$100,00q) R$100,00 – R$60,00 = q R$30.000,00 + R$10,00q = R$40,00q R$30.000,00 = R$40,00q – R$10,00q R$30.000,00 = R$30,00q q: R$30.000,00 R$30,00 = 1 000 unidades Demonstração do resultado Receita 1 000 unid . R$100,00 = R$100.000,00 (–) Custo variável 1 000 unid . R$60,00 = R$(60.000,00) (=) Margem de contribuição R$40.000,00 (–) Custo fixo R$(30.000,00) (=) Lucro operacional R$10.000,00 Comprovando Lucro Receita Total R$10.000,00 R$100.000,00 = 10% 5. Retorno sobre o investimento: Produto A: R$10.000,00 R$80.000,00 . 100 = 12,5% a.a. Produto B: R$15.000,00 R$100.000,00 . 100 = 15% a.a. Considerando que há mercado para os dois produtos, recomendaria o investimento dos R$50.000,00 no produto B, pois esse produto gera um retorno de 15% a.a. sobre o investimento, enquanto o produto A gera de 12,5% a.a. Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais 133 6. 1.º Passo: calcular a margem de contribuição percentual � Margem de contribuição Receita = R$24.000,00 R$80.000,00 = 0,30 2.º Passo: calcular o ponto de equilíbrio em receita: � Custo Fixo MC% = R$15.000,00 0,30 = R$50.000,00 Demonstração do resultado Receita R$50.000,00 (–) Custo variável R$(35.000,00) 70% da receita total (=) Margem de contribuição R$15.000,00 30% da receita total (–) Custo fixo mensal R$(15.000,00) (=) Lucro operacional R$0,00 7. PB = R$450.000,00 R$30.000,00 = 15 meses Portanto, a empresa começará a obter resultado após o 15.º mês, pois, até então, apenas recuperou o valor do investimento. 8. Primeiro passo � : calcular o ponto de equilíbrio em receita. Empresa X Cálculo da MC% Margem de contribuição Receita = R$200.000,00 R$500.000,00 = 0,40 Ponto de equilíbrio em receita: Custo fixo MC% = R$100.000,00 0,40 = R$250.000,00 Empresa Y Cálculo da MC% Margem de contribuição Receita = R$300.000,00 R$600.000,00 = 0,50 134 Ponto de equilíbrio em receita: Custo fixo MC% = R$200.000,00 0,50 = R$400.000,00 Segundo passo � : calcular a Margem de Segurança (MS). MS = Receitas atuais – Receitas no ponto de equilíbrio Receitas atuais Empresa X Empresa Y R$500.000,00 – R$250.000,00 R$500.000,00 = 50% R$600.000,00 – R$400.000,00 R$600.000,00 = 33,3% Terceiro passo � : calcular o Grau de Alavancagem Operacional (GAO). GAO = Margem de contribuição Lucro operacional Empresa X Empresa Y R$200.000,00 R$100.000,00 = 2 R$300.000,00 R$100.000,00 = 3 Resumo: Empresa X Empresa Y MS: 50% 33,3% GAO: 2 3 Resposta: Mercado em crescimento: terá melhor estrutura a empresa que � apresentar o maior GAO, nesse caso, a Empresa Y. Mercado em queda: terá melhor estrutura a empresa que apresen- � tar a maior margem de segurança, nesse caso, a Empresa X. Ponto de equilíbrio – aspectos iniciais Ponto de equilíbrio – aspectos complementares Ponto de Equilíbrio Contábil, Econômico e Financeiro O ponto de equilíbrio tradicional, que nos remete para resultado igual a zero, é chamado de Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC). O Ponto de Equilíbrio Econômico (PEE) está relacionado com o lucro de- sejado pelos acionistas, ou seja, o retorno sobre o capital próprio da empresa (patrimônio líquido). O Ponto de Equilíbrio Financeiro (PEF) apresenta qual o volume de vendas necessário para manter o caixa da empresa em equilíbrio. Para ilustrar essas três modalidades de ponto de equilíbrio será utilizado um exemplo adaptado de Eliseu Martins (2006). Considerando as informações abaixo será calculado o PEC, PEE e PEF. Preço de venda: R$8.000,00 por unidade Custos e despesas variáveis: R$6.000,00 por unidade Custos e despesas fixos: R$4.000.000,00 por ano Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC) O Ponto de Equilíbrio Contábil ocorre quando as receitas totais são iguais aos custos e despesas totais, portanto, nesse ponto, o resultado é igual a zero. O PEC é calculado utilizando a fórmula: PEC: Custos fixos + Despesas fixas Contribuição marginal unitária = q PEC: R$4.000.000,00 R$8.000,00 – R$6.000,00 = 2 000 unidades137 138 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares Demonstração do resultado Receita 2 000 unid . R$8.000,00 = R$16.000.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 2 000 unid . R$6.000,00 = R$(12.000.000,00) (=) Contribuição marginal R$4.000.000,00 (–) Custos e despesas fixos R$(4.000.000,00) (=) Lucro contábil R$0,00 Observação: algumas literaturas tratam o termo contribuição marginal como margem de contribuição, portanto são termos análogos. Ponto de Equilíbrio Econômico (PEE) Ponto de Equilíbrio Econômico (PEE) apresenta qual a quantidade que deverá ser vendida para que se possa remunerar o acionista de acordo com a sua expectativa de retorno sobre o investimento. Dando continuidade ao exemplo anterior, supondo que a empresa tives- se patrimônio líquido no início do ano no valor de R$10.000.000,00 e os acio- nistas tenham uma expectativa de retorno de 10% a.a., portanto a empresa deverá gerar um lucro mínimo anual de R$1.000.000,00. Assim, para os donos (sócios ou acionistas), lucro será quando o resultado ultrapassar R$1.000.000,00, pois até esse valor foi simplesmente uma remu- neração do seu capital investido na empresa. A fórmula para o cálculo do PEE se dá da seguinte forma: PEE: Custos fixos + Despesas fixas + Retorno desejado Contribuição marginal unitária = q PEE: R$4.000.000,00 + R$1.000.000,00 R$8.000/u – R$6.000/u = 2 500 unidades Demonstração do resultado Receita 2 500 unid . R$8.000,00 = R$20.000.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 2 500 unid . R$6.000,00 = R$(15.000.000,00) (=) Contribuição marginal R$5.000.000,00 (–) Custos e despesas fixos R$(4.000.000,00) (=) Lucro contábil R$1.000.000,00 (–) Retorno desejado R$(1.000.000,00) Resultado econômico R$0,00 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 139 Se a empresa estiver vendendo 2 300 unidades por mês estará com lucro contábil, pois estará vendendo 300 unidades acima do Ponto de Equilíbrio Contábil, mas terá prejuízo econômico, pois estará 200 unidades abaixo do Ponto de Equilíbrio Econômico. Nesse caso, para calcular os resultados contábil e econômico, basta mul- tiplicar essas quantidades mencionadas pela contribuição marginal unitária, conforme a seguir: Resultado contábil: 300 unidades acima do PEC . R$2.000,00 = R$600.000,00. Resultado econômico: 200 unidades abaixo do PEE . R$2.000,00 = R$(400.000,00). Assim, a empresa terá lucro contábil de R$600.000,00 e prejuízo econô- mico de R$400.000,00, uma vez que os acionistas desejam um lucro mínimo de R$1.000.000,00. Ponto de Equilíbrio Financeiro (PEF) O Ponto de Equilíbrio Financeiro (PEF) calcula quantas unidades será ne- cessário vender para que não haja alteração no caixa de um período para outro, ou seja, está relacionado com a geração de caixa. Os resultados contábil e econômico são apurados de acordo com o Regime de Competência, portanto, os Pontos de Equilíbrio Contábil e Eco- nômico são diferentes do Ponto de Equilíbrio Financeiro. Dando continuidade ao exemplo anterior, suponhamos que dentro dos custos e despesas fixos de R$4.000.000,00 haja uma despesa com deprecia- ção de R$800.000,00. A depreciação é uma despesa que não gera desembol- so de caixa, dessa forma, os custos e despesas fixos desembolsáveis são de R$3.200.000,00 no ano. Portanto, o Ponto de Equilíbrio Financeiro (PEF) será obtido quando a em- presa obtiver uma contribuição marginal total no valor de R$3.200.000,00, que será capaz de cobrir os custos e despesas fixos desembolsáveis. PEF: Custos e despesas fixos desembolsáveis Contribuição marginal unitária = q PEF: R$4.000.000,00 – R$800.000,00 R$8.000,00 – R$6.000,00 = 1 600 unidades 140 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares Demonstração do resultado Receita 1 600 unid . R$8.000,00 = R$12.800.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 1 600 unid . R$6.000,00 = R$(9.600.000,00) (=) Contribuição marginal R$3.200.000,00 (–) Custos e despesas fixos desembolsáveis R$(3.200.000,00) (=) Resultado financeiro R$0,00 Se a empresa estiver vendendo 1 600 unidades, não terá problemas de caixa, conforme demonstrado, mas estará com um prejuízo contábil de R$800.000,00. Não estará, também, conseguindo remunerar o acionista que deseja um retorno R$1.000.000,00, conforme demonstração a seguir: Receita 1 600 unid . R$8.000,00 = R$12.800.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 1 600 unid . R$6.000,00 = R$(9.600.000,00) (=) Contribuição marginal R$3.200.000,00 (–) Custos e despesas fixos desembolsáveis R$(3.200.000,00) (=) Resultado financeiro R$0,00 Depreciação R$(800.000,00) Resultado contábil R$(800.000,00) Lucro desejado R$(1.000.000,00) (=) Resultado econômico R$(1.800.000,00) O cálculo do PEF apresentado é bastante simplista, pois não está levando em consideração outros compromissos financeiros, além dos custos e despe- sas, como necessidade de novos investimentos e valores a pagar constantes no passivo circulante, portanto devemos evoluir nesse cálculo considerando essas outras situações que também geram desembolso de caixa no período. A esse cálculo chamaremos de PEF2. Supondo que além do pagamento dos custos e despesas fixas, que somam R$3.200.000,00, a empresa tenha um empréstimo no valor de R$2.000.000,00 a pagar no período. Então, sua necessidade de caixa será: R$3.200.000,00 de custos e despesas fixos + R$2.000.000,00 de empréstimos e, ainda, o valor correspondente aos custos e despesas variáveis. Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 141 Logo o Ponto de Equilíbrio Financeiro para conseguir esse objetivo será: PEF2: Custos e despesas fixos desembolsáveis + Outras necessidades de caixa Contribuição marginal unitária = q PEF2: (R$4.00.000,00 – R$800.000,00) + R$2.000.000,00 R$8.000,00 – R$6.000,00 = 2 600 unidades Demonstração do Resultado Receita 2 600 unid . R$8.000,00 = R$20.800.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 2 600 unid . R$6.000,00 = R$(15.600.000,00) (=) Contribuição marginal R$5.200.000,00 (–) Custos e despesas fixo desembolsáveis R$(3.200.000,00) (–) Pagamento do empréstimo R$(2.000.000,00) Resultado financeiro R$0,00 Na forma apresentada estamos admitindo que todas as receitas foram rece- bidas e todos os custos e despesas (exceto a depreciação, é claro) foram pagos, mas, na prática, nem todas as receitas, custos e despesas são recebidos e pagos durante o ano. Entrar nesse nível de detalhe é um excesso de preciosismo, pois, da mesma forma que uma parte das receitas, dos custos e das despesas do ano 2 somente afetarão o caixa do ano 3, uma parte desses itens do ano 1 estará afetando o caixa do ano 2, portanto, esses efeitos tendem a se anular. Mas, caso queira fazer esse tipo de consideração, será necessário estabelecer o percentual de recebimentos e pagamentos, conforme o cálculo a seguir: Receitas recebidas no ano: 95% � Custos e despesas variáveis pagos no ano: 96% � Custos e despesas fixos pagos no ano: 97% � Esses percentuais serão aplicados a cada um dos itens na fórmula: PEF2: ((R$4.000.000,00 – R$800.000,00) . 0,97) + R$2.000.000,00 (R$8.000,00 . 0,95) – (R$6.000,00 . 0,96) = q PEF2: R$3.104.000,00 + R$2.000.000,00 R$7.600,00 – R$5.760,00 = 2 774 unidades 142 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares Demonstração do resultado Receita 2 774 unid . R$8.000,00 . 0,95 = R$21.082.400,00 (–) Custos e despesas variáveis 2 774 unid . R$6.000,00 . 0,96 = R$(15.978.240,00) (=) Contribuição marginal R$5.104.160,00 (–) Custos e despesas fixo desembolsáveis R$3.200.000,00 . 0,97 = R$(3.104.000,00) (–) Pagamento do empréstimo R$(2.000.000,00) Resultado financeiro R$160,00* *Esse saldo foi gerado em função de arredondamento, pois a quantidade exata é 2 773,9 unidades que, para esse cálculo, foram arredondadas para 2 774. Exercício de fixação A Cia. Equilibrada apresenta os dados abaixo. Calcular os Pontos de Equi- líbrio Contábil (PEC), Econômico (PEE) e Financeiro (PEF). Preço de venda: R$1.000,00 por unidade Custos e despesas variáveis: R$600,00 por unidade Custos e despesasfixos: R$1.000.000,00 por ano Informações adicionais Dentro dos custos e despesas fixos R$200.000,00 se refere à deprecia-a) ção. Essa informação será utilizada para calcular o PEF. A Cia. tem um empréstimo no valor de R$500.000,00 a ser pago nesse b) ano. Essa informação será utilizada para calcular o PEF. O patrimônio líquido no início do ano era de R$5.000.000,00 ao qual os c) sócios desejam uma rentabilidade de 12%. Essa informação será utili- zada para calcular o PEE. Do lucro obtido no item anterior os acionistas desejam que 20% seja d) distribuído de dividendos. Essa informação será utilizada para calcular o PEF. Cálculo do Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC) PEC: Custos fixos + Despesas fixas Contribuição marginal unitária = q Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 143 PEC: R$1.000.000,00 R$1.000,00 – R$600,00 = 2 500 unidades Demonstração do resultado Receita 2 500 unid . R$1.000,00 = R$2.500.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 2 500 unid . R$600,00 = R$(1.500.000,00) (=) Contribuição marginal R$1.000.000,00 (–) Custos e despesas fixos R$(1.000.000,00) (=) Resultado contábil R$0,00 Cálculo do Ponto de Equilíbrio Econômico (PEE) Conforme consta na letra “c” o patrimônio líquido é de R$5.000.000,00 e os sócios desejam uma rentabilidade de 12%. Lucro desejado: R$5.000.000,00 . 12% = R$600.000,00 PEE: Custos fixos + Despesas fixas + Retorno desejado Contribuição marginal unitária = q PEE: R$1.000.000,00 + R$600.000,00 R$1.000,00 – R$600,00 = 4 000 unidades Demonstração do resultado Receita 4 000 unid . R$1.000,00 = R$4.000.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 4 000 unid . R$600,00 = R$(2.400.000,00) (=) Contribuição marginal R$1.600.000,00 (–) Custos e despesas fixos R$(1.000.000,00) (=) Lucro contábil R$600.000,00 (–) Retorno desejado R$(600.000,00) Resultado econômico R$0,00 Cálculo do Ponto de Equilíbrio Financeiro (PEF) Dados Preço de venda: R$1.000,00 por unidade Custos e despesas variáveis: R$600,00 por unidade Custos e despesas fixos: R$1.000.000,00 por ano Depreciação: R$200.000,00 por ano Pagamento de empréstimo: R$500.000,00 por ano Dividendos de 20% . R$600.000,00 R$120.000,00 por ano 144 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares PEF2: Custos e despesas fixos desembolsáveis + Empréstimos + Dividendos Contribuição marginal unitária = q PEF2: (R$1.000.000,00 – R$200.000,00) + R$500.000,00 + R$120.000,00 R$1.000,00 – R$600,00 = 3 550 unidades Demonstração do resultado Receita 3 550 unid . R$1.000,00 = R$3.550.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 3 550 unid . R$600,00 = R$(2.130.000,00) (=) Contribuição marginal R$1.420.000,00 (–) Custos e despesas fixo desembolsáveis R$1.000.000,00 – R$200.000,00 = R$(800.000,00) (–) Pagamento do empréstimo R$(500.000,00) (–) Pagamento de dividendo R$(120.000,00) (=) Resultado financeiro R$0,00 Resumo PEC: 2 500 unidades PEE: 4 000 unidades PEF: 3 550 unidades Para fins orçamentários deve-se ter como meta o maior dos três, nesse exemplo, seria o Ponto de Equilíbrio Econômico. Ponto de equilíbrio envolvendo mais de um produto ou serviço Quando a empresa trabalha com mais de um produto há limitações para se calcular o ponto de equilíbrio, pois os produtos têm margens de contribuição diferentes, assim, é possível estabelecer diversas combinações para se chegar ao ponto de equilíbrio da empresa, por exemplo, considerando que a loja de roupas Via Lacta venda camisas e calças e que tenha os seguintes dados: Camisa Calça Preço de venda unitário R$100,00 R$200,00 (–) Custo variável unitário R$(60,00) R$(100,00) (=) Margem de contribuição R$40,00 R$100,00 Custo fixo mensal: R$5.500,00 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 145 Essa empresa atingirá seu ponto de equilíbrio quando a soma das mar- gens de contribuição dos dois produtos atingir R$5.500,00. Isso pode ocorrer com diversas combinações de vendas, para exemplificar serão apresentadas três, entre várias hipóteses possíveis: Qtd. MCu MC Total Camisas 60 R$40,00 R$2.400,00 Calças 31 R$100,00 R$3.100,00 R$5.500,00 Qtd. MCu MC Total Camisas 70 R$40,00 R$2.800,00 Calças 27 R$100,00 R$2.700,00 R$5.500,00 Qtd. MCu MC Total Camisas 80 R$40,00 R$3.200,00 Calças 23 R$100,00 R$2.300,00 R$5.500,00 No entanto, há uma maneira que, de certa forma, possibilita calcular o ponto de equilíbrio, pelo menos, de forma aproximada. Para esse cálculo, adota-se como premissa, que o mix atual de vendas, ou seja, que a proporção de vendas de cada produto em relação ao total continuará o mesmo para os períodos seguintes. O que não impede que a empresa a cada período que julgar conveniente vá atualizando o mix. Esse mix pode ser calculado em função da quantidade vendida, mas, se as unidades forem muito variadas o cálculo deve ser feito em função da receita total ou da margem de contribuição total, sendo que essa última apresenta menos distorções. Nesse modelo, para estabelecer o ponto de equilíbrio de diversos produ- tos é necessário que se calcule o valor da margem de contribuição unitária média. Essa média deve ser a ponderada, ou seja, deve-se levar em conside- ração a margem de contribuição unitária de cada produto ponderando com o mix de cada um. O grande objetivo do mix é possibilitar o cálculo da média ponderada da margem de contribuição unitária. Sem ele seria praticamente impossível calcular o ponto de equilíbrio. 146 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares No exemplo a seguir foi utilizada a quantidade vendida para se determi- nar o mix em função das unidades serem semelhantes (peças de roupas). Supondo que a loja de roupas Via Lacta, para cada quatro produtos ven- didos, vende-se três camisas e uma calça, considerando os dados a seguir, vamos calcular o ponto de equilíbrio. Cálculo do mix: Camisa: 3 peças / 4 = 75% � Calça: 1 peça / 4 = 25% � Camisa Calça Preço de venda unitário R$100,00 R$200,00 (–) Custo variável unitário R$(60,00) R$(100,00) (=) Margem de contribuição R$40,00 R$100,00 Mix 75 % 25 % Custo fixo mensal: R$5.500,00 Primeiro passo � : calcular a margem de contribuição unitária ponderada. Camisa Preço de venda: R$100,00 . 75% = R$75,00 Custo variável: R$60,00 . 75% = R$45,00 R$30,00 Calça Preço de venda: R$200,00 . 25% = R$50,00 Custo variável: R$100,00 . 25% = R$25,00 R$25,00 Então: Camisa Calça Média ponderada Preço médio de venda R$75,00 R$50,00 R$125,00 (–) Custo variável R$(45,00) R$(25,00) R$(70,00) (=) Marg. contribuição R$30,00 R$25,00 R$55,00 Segundo passo � : calcular quantas unidades no total será necessário vender para atingir o ponto de equilíbrio. Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 147 PE: Custo fixo MCu ponderada = R$5.500,00 R$55,00 = 100 unidades Terceiro passo � : calcular quantas unidades será necessário vender por produto para atingir o ponto de equilíbrio. 100 unidades total = 75% de camisas 25% de calças = 75 camisas = 25 calças Quarto passo � : comprovar elaborando a demonstração do resultado. Camisa Calça Total Receita R$7.500,00 R$5.000,00 R$12.500,00 (–) Custo variável R$(4.500,00) R$(2.500,00) R$(7.000,00) (=) Margem de contribuição R$3.000,00 R$2.500,00 R$5.500,00 (–) Custo fixo mensal R$(5.500,00) (=) Lucro R$0,00 Atenção: para cálculo da receita e do custo variável deve-se considerar os valores unitários praticados junto ao mercado multiplicado pela quantidade que se espera vender de cada produto, exemplo: Receita das camisas: 75 unidades . R$100,00 = R$7.500,00 Receita das calças: 25 unidades . R$200,00 = R$5.000,00 Custo variável das camisas: 75 unidades . R$60,00 = R$4.500,00 Custo variável das calças: 25 unidades . R$100,00 = R$2.500,00 Quando não houver restrições de mercado, como limitação no volume de vendas, deve-se privilegiar a venda do produto com maior margem de contribuição unitária, nesse exemplo apresentado, se a empresa conseguir aumentar a participação da venda das calças, o mix vai se alterar possibili- tando uma venda menorpara se atingir o ponto de equilíbrio, uma vez que a venda de calças gera melhor margem de contribuição. Por exemplo, se o mix alterar, passando para 60% de camisas e 40% de calças, teremos: Primeiro passo � : calcular a margem de contribuição unitária ponde- rada. Camisa Preço de venda: R$100,00 . 60% = R$60,00 (–)Custo variável: R$60,00 . 60% = R$(36,00) R$24,00 148 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares Calça Preço de venda: R$200,00 . 40% = R$80,00 (–) Custo variável: R$100,00 . 40% = R$(40,00) R$40,00 Então: Camisa Calça Média ponderada Preço médio de venda R$60,00 R$80,00 R$140,00 (–) Custo variável R$(36,00) R$(40,00) R$(76,00) (=) Marg. contribuição R$24,00 R$40,00 R$64,00 Segundo passo � : calcular quantas unidades no total será necessário vender para atingir o ponto de equilíbrio. PE = Custo fixo = R$5.500,00 = 85,93 unidades MCu ponderada R$64,00 Terceiro passo � : calcular quantas unidades será necessário vender por produto para atingir o ponto de equilíbrio. 85,93 unidades total = 60% de camisas = 51,56 camisas 40% de calças = 34,37 calças Quarto passo � : comprovar elaborando a demonstração do resultado. Camisa Calça Total Receita R$5.156,25 R$6.875,00 R$12.031,25 (–) Custo variável R$(3.093,75) R$(3.437,50) R$(6.531,25) (=) Margem de contribuição R$2.062,50 R$3.437,50 R$5.500,00 (–) Custo fixo mensal R$(5.500,00) (=) Lucro R$0,00 Verifica-se, portanto, que uma alteração no mix resultou numa redução da quantidade total de 100 para aproximadamente 86 peças, ou seja, uma queda de 14% na necessidade de venda para se atingir o ponto de equilíbrio. Dando continuidade ao exemplo: Se a empresa desejar um lucro de R$2.500,00, quantas unidades de a) calças e de camisas deverá vender, considerando o mix de 60% para as camisas e 40% para as calças? Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 149 Lucro desejado = Custo fixo + Lucro MCu ponderada =R$5.500,00 + R$2.500,00 R$64,00 = 125 unidades 125 unidades total = 60% de camisas 40% de calças = 75 camisas = 50 calças Demonstração do resultado Camisa Calça Total Receita R$7.500,00 R$10.000,00 R$17.500,00 (–) Custo variável R$(4.500,00) R$( 5.000,00) R$( 9.500,00) (=) Margem de contribuição R$3.000,00 R$5.000,00 R$8.000,00 (–) Custo fixo mensal R$(5.500,00) (=) Lucro R$2.500,00 Se a empresa desejar um lucro de 10% sobre a Receita Total, quantas b) unidades de calças e de camisas deverá vender, considerando o mix de 60% para as camisas e 40% para as calças? Lucro desejado = Custo fixo + Lucro MCu ponderada = R$5.500,00 + 0,10 RT R$64,00 = q Não temos a Receita Total (RT), mas sabemos que RT = Ru . q e a Receita unitária (Ru) é conhecida. Lembrando que sempre que estamos trabalhando com mais de um produto todos os valores utilizados são os valores médios ponderados. Receita unitária média ponderada Camisa: R$100,00 . 60% = R$60,00 Calça : R$200,00 . 40% = R$80,00 Média ponderada = R$140,00 Portanto: RT = Ru . q RT = R$140,00q Então, na fórmula, onde consta RT substituiremos por R$140,00q. R$5.500,00 + (0,10 . R$140,00q) R$64,00 = q R$5.500,00 + R$14,00q = R$64,00q R$5.500,00 = R$64,00q – R$14,00q 150 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares R$5.500,00 = R$50,00q q = R$5.500,00 R$50,00 .:. q = 110 unidades 110 unidades total = 60% de camisas = 66 camisas 40% de calças = 44 calças Demonstração do resultado Camisa Calça Total Receita R$6.600,00 R$8.800,00 R$15.400,00 (–) Custo variável R$(3.960,00) R$( 4.400,00) R$( 8.360,00) (=) Margem de contribuição R$2.640,00 R$4.400,00 R$7.040,00 (–) Custo fixo mensal R$(5.500,00) (=) Lucro R$1.540,00 Comprovando Lucro R$1.540,00 = 10% Receita Total R$15.400,00 Portanto, se conseguir vender 66 camisas e 44 calças chegará ao lucro de R$1.540,00 que representa 10% da receita total de R$15.400,00. A seguir, será apresentada uma situação onde parte dos custos fixos é identificada com os produtos e outra parte é comum aos dois. A Cia. Diretiva apresenta os seguintes dados: Produto A Produto B Preço unitário R$100,00 R$120,00 (–) Custo variável R$(60,00) R$(70,00) (=) Margem de contribuição R$40,00 R$50,00 Custo fixo mensal: R$46.000,00 Vamos calcular quantas unidades de cada produto terá que vender para atingir o Ponto de Equilíbrio, considerando que a empresa conseguiu iden- tificar e alocar corretamente parte dos custos fixos para cada um dos produ- tos, ficando assim distribuído: Produto A: R$10.000,00 � Produto B: R$16.000,00 � Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 151 Comum aos dois produtos: R$20.000,00 � Inicialmente é preciso calcular quantas unidades cada produto tem que vender para se pagar. Produto A � = R$10.000,00 R$40,00 = 250 unidades Demonstração do resultado Receita 250 unid . R$100,00 = R$25.000,00 (–) Custo variável 250 unid . R$60,00 = R$(15.000,00) (=) Margem de contribuição R$10.000,00 (–) Custo fixo R$(10.000,00) (=) Lucro R$0,00 Produto B � = R$16.000,00 R$50,00 = 320 unidades Demonstração do resultado Receita 320 unid . R$120,00 = R$38.400,00 (–) Custo variável 320 unid . R$70,00 = R$(22.400,00) (=) Margem de contribuição R$16.000,00 (–) Custo fixo R$(16.000,00) Lucro R$0,00 No entanto, além dos produtos terem que se pagar, precisam contribuir para pagar os custos fixos de R$20.000,00 comum aos dois. Para isso, é ne- cessário calcular o mix, uma das formas de se fazer esse cálculo é em função da quantidade necessária de cada um para se pagar, portanto, teremos: Produto A: 250 unid. 43,86% Produto B: 320 unid. 56,14% Total: 570 unid. 100,00% Margem de contribuição unitária média ponderada: Produto A: R$40,00 . 43,86% = R$17,54 Produto B: R$50,00 . 56,14% = R$28,07 Total: R$45,61 Cálculo: R$20.000,00 R$45,61 = 438,5 unidades 152 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares Sendo: 439 unidades total = 43,86% do produto A = 193 unid. 56,14% do produto B = 246 unid. Quantidade total de cada produto: Para se pagar Contribuir para o custo comum Total Produto A 250 unid. + 193 unid. = 443 unid. Produto B 320 unid. + 246 unid. = 566 unid. Total: 1 009 unid. Demonstração do resultado Produto A Produto B Total Receita R$44.300,00 R$67.920,00 R$112.220,00 (–) Custo variável R$(26.580,00) R$( 39.620,00) R$( 66.200,00) (=) Margem de contribuição R$17.720,00 R$28.300,00 R$46.020,00 (–) Custo fixo dos produtos R$(10.000,00) R$(16.000,00) R$(26.000,00) (=) Lucro dos produtos R$7.720,00 R$12.300,00 R$20.020,00 (–) Custo fixo da empresa R$(20.000,00) (=) Resultado *R$20,00,00 * Esse resultado foi em função de arredondamento de 438,5 para 439 unidades, se utilizar todas as casas decimais, o resultado será igual a zero. A margem de contribuição quando há fator limitativo Para definição de qual produto a empresa deve concentrar maiores es- forços para vender, normalmente, utiliza-se a análise da margem de contri- buição unitária. De modo geral, o produto com maior margem unitária é o melhor e, portanto, deve ser o escolhido. No entanto, quando há algum tipo de restrição, por exemplo, capacida- de de produção, mercado, tempo de produção etc., não podemos analisar simplesmente a margem de contribuição unitária para escolha do melhor produto, é necessário analisar a margem de acordo com o fato limitativo. Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 153 Para ilustrar será apresentado o exemplo a seguir. A Cia. Restritiva apresenta os seguintes dados: Produto X Produto Y Preço unitário R$20,00 R$40,00 (–) Custo variável R$(8,00) R$(20,00) (=) Margem de contribuição R$12,00 R$20,00 Se houver uma pergunta simples e direta: qual dos dois produtos gera maior lucratividade? A resposta, também simples e objetiva, será: o melhor é o produto Y, pois gera maior margem de contribuição unitária. Para cada unidade desse pro- duto que for vendida haverá um ganho de R$20,00, enquanto cada unidade do produto X gera um ganho de apenas R$12,00. Se a empresa tiver as restrições mencionadas a seguir a análisemuda completamente, vejamos: Restrições identificadas Tempo disponível por mês para produzir: 250 horas. � O mercado absorve as seguintes quantidades mensalmente: � Produto X: 600 unidades; � Produto Y: 300 unidades. � Capacidade produtiva: � Produto X: 4 unidades por hora; � Produto Y: 2 unidades por hora. � Análise Hipótese 1 � : privilegiar o produto Y que gera maior margem de contri- buição unitária. Em uma hora é possível produzir 2 unidades desse produto, como o mer- cado absorve 300 unidades, teremos: 154 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares Tempo total disponível: 250h (–) Produto Y: 300 unid. / 2 unid. por hora = (150)h (=) Tempo que sobrará para produzir o produto X = 100h É possível produzir 4 unidades por hora do produto X, como restaram 100h para esse produto, então: 4 unid . 100h = 400 unidades. Quantidade a ser vendida Produto X = 400 unid. � Produto Y = 300 unid. � Cálculo da margem de contribuição total e do lucro considerando que a empresa tenha R$10.000,00 de custo fixo mensal: MC do produto X: 400 unid . R$12,00 = R$4.800,00 MC do produto Y: 300 unid . R$20,00 = R$6.000,00 (=) Margem de contribuição total R$10.800,00 (–) Custo fixo mensal R$(10.000,00) (=) Lucro R$800,00 Hipótese 2 � : privilegiar o produto X que gera maior margem de contri- buição unitária por hora. Embora o produto Y gere maior margem de contribuição unitária o seu tempo de produção é maior. Como um dos fatores limitativos importan- tes dessa empresa é a quantidade de horas trabalhadas, deve-se calcular a margem de contribuição unitária horária: Produto X Produto Y Preço unitário R$20,00 R$40,00 (–) Custo variável unitário R$(8,00) R$(20,00) (=) Margem de contribuição unitária R$12,00 R$20,00 Produção por hora . 4 unid. . 2 unid. (=) Margem de contribuição por hora R$ 48,00 R$ 40,00 Portanto, em uma hora o produto X pode gerar um ganho de R$48,00, enquanto o produto Y de R$40,00. Privilegiando o produto X: em uma hora é possível produzir 4 unidades desse produto, como o mercado absorve 600 unidades, teremos: Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 155 Tempo total disponível: 250h (–) Produto X: 600 unid. / 4 unid. por hora = (150)h (=) Tempo que sobrará para produzir o produto Y = 100h É possível produzir 2 unidades por hora do produto Y, como restaram 100h para esse produto, então: 2 unid . 100h = 200 unidades. Quantidade a ser vendida Produto X = 600 unid. � Produto Y = 200 unid. � Cálculo da margem de contribuição total e do lucro considerando que a empresa tenha R$10.000,00 de custo fixo mensal: MC do produto X: 600 unid . R$12,00 = R$7.200,00 MC do produto Y: 200 unid . R$20,00 = R$4.000,00 (=) Margem de contribuição total R$11.200,00 (–) Custo fixo mensal R$(10.000,00) (=) Lucro R$1.200,00 Conclusão No primeiro momento, houve uma tendência de privilegiar o produto Y por gerar maior margem de contribuição unitária, conforme visto na hipóte- se 1, mas sempre que houver fator limitativo, deve-se considerar a margem de contribuição unitária em função do fator limitativo e não simplesmente a margem unitária. Nesse caso, em uma hora é possível auferir um ganho de R$48,00 com o produto X por produzir 4 unidades por hora, enquanto será possível um ganho de apenas R$40,00 com o produto Y em função de pro- duzir 2 unidades por hora. Privilegiando o produto X (hipótese 2) o lucro aumentou em 50% pas- sando de R$800,00 para R$1.200,00. Portanto, esse é um importante fator de análise numa tomada de decisão desse gênero. Ampliando seus conhecimentos O texto a seguir ajuda a compreender essa questão do ponto de equilí- brio quando se trabalha com mais de um produto. 156 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares Análise CVL (custo, volume e lucro) multiprodutos (MAHER, 2001) A Dual Autos vende dois modelos de carros, Sport e Deluxe. Os preços e custos dos dois são os seguintes: Sport Deluxe Preço de venda médio R$25.000,00 R$35.000,00 Menos custos variáveis médios R$20.000,00 R$25.000,00 Margem de contribuição unitária média R$5.000,00 R$10.000,00 Os custos fixos mensais médios são de R$300.000,00. [...] O gerente da Dual Autos tem acompanhado um debate que dois mem- bros da equipe de venda vêm travando a respeito do ponto de equilíbrio da companhia. De acordo com um deles, a companhia precisa vender 60 carros por mês, para não ter lucro nem prejuízo. O outro, contudo, argumenta que vender 30 carros por mês é o suficiente. Quem está com a razão ? A resposta de 60 carros está correta, se apenas o modelo Sport for vendido; também a de 30 carros por mês, se apenas o modelo Deluxe for vendido. Na realidade a com- panhia tem diversos pontos de equilíbrio. [...] A análise CVL de muitos produtos é muito mais complexa do que a análise de um produto. Como o exemplo da Dual Autos ilustra, mesmo no caso de apenas dois produtos, a quantidade de soluções possíveis é grande, porque muitas combinações de produtos levarão a determinado lucro [...]. Simplificação da análise CVL multiprodutos Para simplificar a análise, os administradores muitas vezes pressupõem que os produtos são fabricados e vendidos em determinada combinação, e calculam o ponto de equilíbrio ou o volume desejado de acordo com dois métodos: combinação fixa de produtos ou margem de contribuição ponderada. Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 157 Combinação fixa de produtos Para utilizar o método da combinação fixa de produtos, os administradores definem um “pacote” de produtos em uma combinação típica, e então calcu- lam o ponto de equilíbrio ou o volume desejado para o pacote. Por exemplo, suponha que o administrador da Dual Autos aceite que os modelos Sport e Deluxe sejam vendidos na proporção 3:1, isto é, de cada quatro carros vendi- dos, três sejam Sport e um seja Deluxe. Definindo X como um pacote de três Sport e um Deluxe, a margem de contribuição desse pacote seria: Sport: 3 . R$5.000,00................. R$15.000,00 Deluxe: 1 . R$10.000,00 .......... R$10.000,00 Margem de contribuição ....... R$25.000,00 Agora o ponto de equilíbrio pode ser calculado: X = Custos fixos Margem de Contribuição unitária X = R$300.000,00 R$25.000,00 X = 12 pacotes X se refere ao ponto de equilíbrio em pacotes. Isso significa que a venda de 12 pacotes de três Sports e um Deluxe por pacote, totalizando 36 Sports e 12 Deluxe, é necessária para que a companhia não tenha lucro ou prejuízo. Margem de contribuição ponderada O método da margem de contribuição ponderada também exige que a companhia pressuponha determinada combinação de produtos, que vamos admitir seja 75% de Sports e 25% de Deluxes. O problema pode ser resolvi- do mediante a utilização de uma margem de contribuição unitária ponde- rada. Quando a companhia pressupõe uma combinação fixa de produtos, a margem de contribuição da companhia é a margem de contribuição pondera- da de todos os seus produtos. Para a Dual Autos, a margem de contribuição ponderada pode ser calcula- da pela multiplicação da proporção de cada produto na combinação fixa pela margem de contribuição unitária de cada produto: 158 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares (0,75 . R$5.000,00) + (0,25 . R$10.000,00) = R$6.250,00 O ponto de equilíbrio da companhia seria então: X = R$300.000,00 R$6.250,00 X = 48 carros X se refere ao ponto de equilíbrio em unidades. A pressuposição da combi- nação fixa significa que a Dual Autos deve vender 36 (= 0,75 . 48) Sports e 12 (= 0,25 . 48) Deluxes, para não ter lucro ou prejuízo. Atividades de aplicação 1. A Clínica Doutor atende a consultas na área de saúde pelo SUS, por convênio e também para clientes particulares. Sua situação atual é a seguinte: SUS Convênio Particular Preço da consulta R$5,00 R$25,00 R$60,00 (–) Custo variável unitário R$(4,00) R$(4,00) R$(4,00) (=) Margem de contribuição R$1,00 R$21,00 R$56,00 Qtd. de atendimentos = 500 150 250 100 Mix 150/500 = 30% 250/500 = 50% 100/500 = 20% Despesa fixa mensal: R$10.000,00 Demonstraçãodo resultado Atual SUS Convênio Particular Total Receita R$750,00 R$6.250,00 R$6.000,00 R$13.000,00 (–) Custo variável R$(600,00) R$(1.000,00) R$(400,00) R$(2.000,00) (=) Margem de contribuição R$150,00 R$5.250,00 R$5.600,00 R$11.000,00 (–) Despesa fixa mensal R$(10.000,00) (=) Lucro R$1.000,00 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 159 Pede-se: a) Para obter o lucro de R$5.000,00, qual será o valor da consulta de particulares, mantendo as demais condições inalteradas? b) Calcular e demonstrar como obter o lucro de R$5.000,00, au- mentando a consulta de particulares para R$80,00, reduzindo a quantidade de atendimentos pelo SUS e aumentando pelo convênio, de forma que não haja alteração na quantidade total de atendimentos. 2. A Cia. Celular tem dois planos de telefonia móvel: Smart Ideal Receita mensal por usuário R$50,00 R$90,00 Custo variável por usuário R$10,00 R$20,00 Custo fixo mensal, incluindo: aluguel, salários e encargos, água, luz, telefone, depreciação dos equipamentos e outros: R$520.000,00 por mês. Pede-se: a) Se trabalhar com 60% do plano Smart e 40% do plano Ideal, quantos usuários de cada plano necessitará no mês, para atingir seu ponto de equilíbrio? Elabore o demonstrativo de resultado. b) Se você tivesse que escolher em trabalhar apenas com um tipo de plano (Smart ou Ideal), baseando-se nos dados originais deste exer- cício, qual tipo de plano você optaria? Por quê? 3. A Cia. Celular tem dois planos de telefonia móvel: Smart Ideal Receita mensal por usuário R$50,00 R$90,00 Custo variável por usuário R$10,00 R$20,00 Custo fixo mensal, incluindo: aluguel, salários e encargos, água, luz, telefone, depreciação dos equipamentos e outros: R$520.000,00 por mês. 160 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares Pede-se: a) Se trabalhar com 60% do plano Smart e 40% do plano Ideal, quantos usuários de cada plano necessitará no mês, para atingir um lucro mensal de R$130.000,00? Elabore a demonstração do resultado. b) Se trabalhar com 60% do plano Smart e 40% do plano Ideal, quantos usuários de cada plano necessitará no mês, para atingir um lucro mensal de 20% sobre a Receita Total? Elabore a demonstração do resultado. 4. A Cia. Desequilibrada apresentava as seguintes características: Receita R$6.000,00 por unidade Custos variáveis R$4.000,00 por unidade Custos + Desp. fixas R$800.000,00 por ano Informações adicionais a) Dentro dos custos e despesas fixas R$100.000,00 se refere à depre- ciação. b) A Cia. tem empréstimos no valor de R$200.000,00 cujo pagamento total será efetuado nesse ano. c) O patrimônio líquido no início do ano era de R$1.000.000,00 ao qual os acionistas desejam uma rentabilidade de 30%. d) Do lucro obtido no item anterior os acionistas desejam que 10% seja distribuído como dividendos. Pede-se: calcular o Ponto de Equilíbrio Contábil, Econômico e Finan- ceiro em quantidades. 5. A Cia. GN apresenta as seguintes informações: Preço de venda: R$2.000,00 por unidade Custos e desp. variáveis: R$1.200,00 por unidade Custos e desp. fixas: R$1.000.000,00 por ano Dentro dos custos fixos R$200.000,00 se refere à depreciação; a em- presa deverá pagar R$400.000,00 de empréstimos no período e dos custos fixos desembolsáveis apenas 80% serão pagos dentro do ano. Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 161 Calcule quantas unidades terá que vender para atingir o Ponto de Equi- líbrio Financeiro? 6. A Cia. Executiva deseja fazer o seu orçamento e quer estabelecer suas metas de vendas para o ano, baseando-se nas informações a seguir, qual a quantidade mínima que deverá vender para atingir sua meta? Obs.: para isso, calcule o PEC, PEE e PEF. Preço de venda: R$500,00 por unidade Custos e desp. variáveis: R$300,00 por unidade Custos e desp. fixas: R$600.000,00 por ano Depreciação já inclusa nos custos fixos R$100.000,00 por ano Empréstimos a pagar R$300.000,00 por ano Lucro desejado R$120.000,00 por ano Gabarito 1. a) Para obter o lucro de R$5.000,00, qual será o valor da consulta de particulares, mantendo as demais condições inalteradas? Nesse caso, a incógnita é o preço da consulta de particulares que, aqui, chamaremos de “P”. Custo fixo + Lucro MCu ponderada = q R$10.000,00 + R$5.000,00 (0,30 . 1,00) + (0,50 . 21,00) + (0,20 . (P – 4,00) = 500 R$15.000,00 R$0,30 + R$10,50 + 0,20P – R$0,80 = 500 R$15.000,00 R$10,00 + 0,20P = 500 R$15.000,00 = 500 . (R$10,00 + 0,20P) R$15.000,00 = R$5.000,00 + 100P R$15.000,00 – R$5.000,00 = 100P P = R$10.000,00 100 .:. P = R$100,00 162 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares Demonstração do resultado SUS Convênio Particular Total Receita R$750,00 R$6.250,00 R$10.000,00 R$17.000,00 (–) Custo variável R$(600,00) R$(1.000,00) R$( 400,00) R$( 2.000,00) (=) Margem de contribuição R$150,00 R$5.250,00 R$9.600,00 R$15.000,00 (–) Despesa fixa mensal R$(10.000,00) (=) Lucro R$5.000,00 b) Ocorre que se aumentar o preço para R$100,00 haverá uma redu- ção no número de consultas particulares, os proprietários da clí- nica verificaram que o máximo que poderiam aumentar o preço seria para R$80,00. Diante disso, calcular e demonstrar como obter o lucro de R$5.000,00, aumentando a consulta de particulares para R$80,00, reduzindo a quantidade de atendimentos pelo SUS e aumentando pelo convênio, de forma que não haja alteração na quantidade to- tal de atendimentos. A incógnita será os mix de atendimentos do SUS e do convênio, o que reduzir num aumentará no outro. Chamaremos essa incógnita de “x”. O mix atual do SUS é de 30% e será reduzido em “x”, portanto será expresso na fórmula como: 0,30 – x. O mix atual do convênio é de 50% e será aumentado em “x”, por- tanto será expresso na fórmula como: 0,50 + x. Lembrando que com o preço da consulta de particulares aumen- tando para R$80,00, sua margem de contribuição unitária passará para R$76,00. R$10.000,00 + R$5.000,00 R$1,00(0,30 – x) + R$21,00(0,50 + x) + R$76,00(0,20) = 500 R$15.000,00 R$0,30 – R$x + R$10,50 + R$21,00x + R$15,20 = 500 R$15.000,00 R$26,00+ R$20,00x = 500 R$15.000,00 = 500 x (R$26,00 + R$20,00x) Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 163 R$15.000,00 = R$13.000,00 + R$10.000,00x R$15.000,00 – R$13.000,00 = R$10.000,00x x = R$2.000,00 R$10.000,00 .:. x = 0,20 Novo mix SUS: 0,30 – 0,20 = 0,10 ou 10% Convênio: 0,50 + 0,20 = 0,70 ou 70% Novas quantidades SUS: 500 . 10% = 50 atendimentos. Convênio: 500 . 70% = 350 atendimentos. Particular: não houve alteração, continuam os 100 atendimentos. Demonstração do resultado SUS Convênio Particular Total Receita R$250,00 R$8.750,00 R$8.000,00 R$17.000,00 (–) Custo variável R$(200,00) R$(1.400,00) R$(400,00) R$(2.000,00) (=) Margem de contribuição R$50,00 R$7.350,00 R$7.600,00 R$15.000,00 (–) Despesa fixa mensal R$(10.000,00) (=) Lucro R$5.000,00 2. a) Se trabalhar com 60% do plano Smart e 40% do plano Ideal, quantos usuários de cada plano necessitará no mês, para atingir seu ponto de equilíbrio? Elabore o demonstrativo de resultado. Primeiro passo � : calcular a Margem de Contribuição unitária pon- derada. Smart Preço de venda: R$50,00 . 60% = R$30,00 (–) Custo variável: R$10,00 . 60% = R$(6,00) R$24,00 164 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares Ideal Preço de venda: R$90,00 . 40% = R$36,00 (–) Custo variável: R$20,00 . 40% = R$(8,00) R$28,00 Então: Smart Ideal Média ponderada Preço médio de venda R$30,00 R$36,00 R$66,00 (–) Custo variável R$(6,00) R$(8,00) R$(14,00) (=) Margem de contribuição R$24,00 R$28,00 R$52,00 Segundo passo � : calcular quantas unidades no total será necessário vender para atingir o ponto de equilíbrio. PE = Custo fixo MCu ponderada = R$520.000,00 R$52,00 = 10 000 usuários Terceiro passo � : calcular quantas unidades será necessário vender por produto para atingir o ponto de equilíbrio. 10 000 usuários total = 60% de Smart = 6 000 usuários 40% de Ideal = 4 000 usuários Quartopasso � : comprovar elaborando a demonstração do resultado. Smart Ideal Total Receita R$300.000,00 R$360.000,00 R$660.000,00 (–) Custo variável R$(60.000,00) R$(80.000,00) R$(140.000,00) (=) Margem de contribuição R$240.000,00 R$280.000,00 R$520.00,00 (–) Custo fixo mensal R$(520.000,00) (=) Lucro R$0,00 b) Se você tivesse que escolher em trabalhar apenas com um tipo de plano (Smart ou Ideal), baseando-se nos dados originais deste exer- cício, qual tipo de plano você optaria? Por quê? Resposta: O plano escolhido é o Ideal, pois apresenta maior mar- gem de contribuição unitária. Cada usuário do Plano Smart gera uma contribuição de R$40,00 enquanto o Ideal gera R$70,00. Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 165 3. a) Se trabalhar com 60% do plano Smart e 40% do plano Ideal, quantos usuários de cada plano necessitará no mês, para atingir um lucro mensal de R$130.000,00? Elabore a demonstração do resultado. Primeiro passo � : calcular a Margem de Contribuição unitária pon- derada. Smart Preço de venda: R$50,00 . 60% = R$30,00 (–) Custo variável: R$10,00 . 60% = R$(6,00) R$24,00 Ideal Preço de venda: R$90,00 . 40% = R$36,00 (–) Custo variável: R$20,00 . 40% = R$(8,00) R$28,00 Então: Smart Ideal Média ponderada Preço médio de venda R$30,00 R$36,00 R$66,00 (–) Custo variável R$(6,00) R$(8,00) R$(14,00) (=) Margem de contribuição R$24,00 R$28,00 R$52,00 Segundo passo � : calcular quantas unidades no total será necessário vender para atingir o lucro desejado de R$130.000,00. Lucro desejado = Custo fixo MCu ponderada = R$520.000,00 + R$130.000,00 R$52,00 = = 12 500 usuários Terceiro passo � : calcular quantas unidades será necessário vender por produto para atingir o ponto de equilíbrio. 12 500 usuários total = 60% de Smart = 7 500 usuários 40% de Ideal = 5 000 usuários Quarto passo � : comprovar elaborando a demonstração do resultado. Smart Ideal Total Receita R$375.000,00 R$450.000,00 R$825.000,00 (–) Custo variável R$(75.000,00) R$(100.000,00) R$(175.000,00) 166 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares (=) Margem de contribuição R$300.000,00 R$350.000,00 R$650.00,00 (–) Custo fixo mensal R$(520.000,00) Lucro R$130.000,00 b) Se trabalhar com 60% do plano Smart e 40% do plano Ideal, quantos usuários de cada plano necessitará no mês, para atingir um lucro mensal de 20% sobre a Receita Total? Elabore a demonstração do resultado. Lucro desejado = Custo fixo + Lucro MCu ponderada = R$520.000,00 + 0,20 RT R$52,00 = q Não temos a Receita Total (RT), mas sabemos que RT = Ru . q e a Receita unitária (Ru) é conhecida. Lembrando que sempre que es- tamos trabalhando com mais de um produto todos os valores utili- zados são os valores médios ponderados. Receita unitária média ponderada Smart: R$50,00 . 60% = R$30,00 Ideal: R$90,00 . 40% = R$36,00 Média ponderada = R$66,00 Portanto: RT = Ru . q RT = R$66,00q Então, na fórmula, onde consta RT substituiremos por R$66,00q: R$520.000,00 + (0,20 . R$66,00q) R$52,00 = q R$520.000,00 + R$13,20q = R$52,00q R$520.000,00 = R$52,00q – R$13,20q R$520.000,00 = R$38,80q q = R$520.000,00 R$38,80 .:. q = 13 402 usuários 13 402 usuários total = 60% Plano Smart = 8.041,2 usuários 40% Plano Ideal = 5.360,8 usuários Smart Ideal Total Receita R$402.060,00 R$482.472,00 R$884.532,00 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 167 (–) Custo variável R$(80.412,00) R$(107.216,00) R$(187.628,00) (=) Margem de contribuição R$321.648,00 R$375.256,00 R$696.904,00 (–) Custo fixo mensal R$(520.000,00) (=) Lucro R$176.904,00 Comprovando: Lucro: R$176.904,00 = 20% Receita Total: R$884.532,00 4. Cálculo do Ponto de Equilíbrio Contábil – PEC PEC: Custos fixos + Despesas fixas Contribuição Marginal unitária = q PEC: R$800.000,00 R$6.000,00 – R$4.000,00 = 400 unidades Demonstração do resultado Receita 400 unid . R$6.000,00 = R$2.400.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 400 unid . R$4.000,00 = R$(1.600.000,00) (=) Contribuição marginal R$800.000,00 (–) Custos e despesas fixos R$(800.000,00) (=) Resultado contábil R$0,00 Cálculo do Ponto de Equilíbrio Econômico – PEE Conforme consta no item “c” o patrimônio líquido é de R$1.000.000,00 e os sócios desejam uma rentabilidade de 30%. Lucro desejado: R$1.000.000,00 . 30% = R$300.000,00 PEE: Custos fixos + Despesas fixas + Retorno desejado Contribuição Marginal unitária = q PEE: R$800.000,00 + R$300.000,00 R$6.000,00 – R$4.000,00 = 550 unidades Demonstração do Resultado Receita 550 unid . R$6.000,00 = R$3.300.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 550 unid . R$4.000,00 = R$(2.200.000,00) 168 Ponto de equilíbrio – aspectos complementares (=) Contribuição marginal R$1.100.000,00 (–) Custos e despesas fixos R$(800.000,00) (=) Lucro contábil R$300.000,00 (–) Retorno desejado R$(300.000,00) (=) Resultado econômico R$0,00 Cálculo do Ponto de Equilíbrio Financeiro – PEF Dados: Preço de venda: R$6.000,00 por unidade Custos e despesas variáveis: R$4.000,00 por unidade Custos e despesas fixos: R$800.000,00 por ano Depreciação: R$100.000,00 por ano Pagamento de empréstimo: R$200.000,00 por ano Dividendos de 10% . R$300.000,00 R$30.000,00 por ano PEF2: Custos e despesas fixos desembolsáveis + Empréstimos + Dividendos Contribuição Marginal unitária = q PEF2: (R$800.000,00 – R$100.000,00) + R$200.000,00 + R$30.000,00 R$6.000,00 – R$4.000,00 = = 465 unidades Demonstração do resultado Receita 465 unid . R$6.000,00 = R$2.790.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 465 unid . R$4.000,00 = R$(1.860.000,00) (=) Contribuição marginal R$930.000,00 (–) Custos e despesas fixo desembolsáveis R$800.000,00 – R$100.000,00 = R$(700.000,00) (–) Pagamento do empréstimo R$(200.000,00) (–) Pagamento de dividendo R$(30.000,00) (=) Resultado financeiro R$0,00 5. Dados: Preço de venda: R$2.000,00 por unidade Custos e despesas variáveis: R$1.200,00 por unidade Custos e despesas fixos: R$1.000.000,00 por ano Depreciação já inclusa dentro dos custos fixos: R$200.000,00 por ano Pagamento de empréstimo: R$400.000,00 por ano Ponto de equilíbrio – aspectos complementares 169 Do total dos custos e despesas fixos desembolsáveis apenas 80% fo- ram pagos no ano. PEF2: Custos e despesas fixos desembolsáveis + Empréstimos Contribuição Marginal unitária = q PEF2: ((R$1.000.000,00 – R$200.000,00) . 0,80) R$400.000,00 R$2.000,00 – R$1.200,00 = q Demonstração do resultado Receita 1 300 unid . R$2.000,00 = R$2.600.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 1 300 unid . R$1.200,00 = R$(1.560.000,00) (=) Contribuição marginal R$1.040.000,00 (–) Custos e despesas fixo desembolsáveis (R$1.000.000,00 – R$200.000,00) . 0,80 = R$(640.000,00) (–) Pagamento do empréstimo R$(400.000,00) (=) Resultado financeiro R$0,00 6. Preço de venda: R$500,00 por unidade Custos e desp. variáveis: R$300,00 por unidade Custos e desp. fixas: R$600.000,00 por ano Depreciação já inclusa nos custos fixos: R$100.000,00 por ano Empréstimos a pagar: R$300.000,00 por ano Lucro desejado: R$120.000,00 por ano PEC: R$600.000,00 R$500,00 – R$300,00 = 3 000 unidades PEE: R$600.000,00 + R$120.000,00 R$500,00 – R$300,00 = 3 600 unidades PEE: (R$600.000,00 – R$100.000,00) + R$300.000,00 R$500,00 – R$300,00 = 4 000 unidades Resumo: PEC: 3 000 unidades PEE: 3 600 unidades PEF: 4 000 unidades Para fins orçamentários deve-se ter como meta o maior dos três, nesse exemplo, seria o Ponto de Equilíbrio Financeiro. Custeio ABC – Activity Based Costing Custeio ABC Além dos custeios por absorção e do variável há também o Custeio ABC – Activity Based Costing, que traduzindo para o português significa Custeio Baseado em Atividades. Esse método de custeio originou-se na década de 1960 nos Estados Unidos pela General Electric, sendo mais difundido na década de 1980. No Brasil, começou a ser difundido na década de 1990 e ainda se encontra em fase de desenvolvimento devido às dificuldades de implantação.Vale ressaltar que não há um método de custeio perfeito, portanto, esse método é a mais nova tentativa de aprimorar as formas de apuração de custos e consequentemente de resultados. Objetivo Tem como objetivo principal a alocação, mais criteriosa, dos custos in- diretos e das despesas (overhead)1 aos bens ou serviços, a fim de reduzir as distorções provocadas pela arbitrariedade do rateio. Aplicação Sua aplicação é recomendável para empresas com as seguintes caracte- rísticas: que apresentem custos indiretos relevantes em relação aos custos to- � tais, sendo necessário sua alocação, a fim de determinar com maior precisão o custo do produto ou serviço; que produzem grande variedade de produtos ou serviços no mesmo am- � biente, com quantidades variadas e processos produtivos diferenciados; 1 Overhead é um termo utilizado para o conjun- to das despesas com a estrutura comercial e administrativa. 171 172 Custeio ABC – Activity Based Costing que trabalham com clientela diversificada em termos de volume � de encomendas, de especificações especiais, de serviços adicio- nais etc. O Custeio ABC não é aceito pela legislação contábil, portanto, sua apli- cação é somente para fins gerenciais, embora, a metodologia utilizada pelo ABC contribua muito para alguns aspectos fiscais, uma vez que utiliza práti- cas mais reais, com critérios mais bem definidos, para alocação dos custos indiretos aos produtos ao invés de adotar o rateio. No entanto, esse método não para na alocação apenas dos custos aos produtos, conforme determinam as normas contábeis, lança também as despesas aos produtos, pois aloca as despesas às atividades e, em segui- da, as atividades aos produtos, por isso, não é aceito para fins legais, já que tanto a legislação societária como a fiscal não permitem alocar as despesas aos produtos. Conceitos de atividades Para Noreen, Garrison e Brewer (2007, p. 260) “uma atividade é qualquer evento que causa o consumo de recursos gerais. Os custos de execução dessas atividades são atribuídos aos produtos que as causam” Para Martins (2006, p. 93) “atividade é uma ação que utiliza recursos huma- nos, materiais tecnológicos e financeiros para se produzirem bens ou serviços. É composta por um conjunto de tarefas necessárias ao seu desempenho”. Os dois autores mencionam que atividade é algo que consome recur- sos, é nessa linha que nasceu o Custeio ABC, pois já que atividade consome recurso, então primeiro deve-se mensurar quanto custa cada atividade re- levante e depois transferir o valor dessas atividades para os produtos que a consomem. Operacionalização Os custos variáveis e os custos fixos diretos são diretamente apropriados aos produtos e, conforme mencionado nos itens anteriores, os custos indi- retos e as despesas primeiro são atribuídos às atividades e, em seguida, os custos das atividades são alocados aos produtos e serviços. A forma de alo- cação dos custos indiretos e das despesas são através de rastreamento. Custeio ABC – Activity Based Costing 173 Diferença entre rateio e rastreamento Rateio � é uma forma arbitrária e subjetiva de alocar os custos indiretos aos produtos e serviços. Rastreamento � procura estabelecer uma relação de causa e efeito en- tre os agentes consumidores de recursos, ou seja, procura determinar a verdadeira relação entre o custo e a atividade através dos Direciona- dores de Custos (Cost Drivers). Esses direcionadores têm a finalidade de determinar a forma, o critério de rastreamento dos custos para sua real alocação às atividades e em se- guida aos produtos. Os Direcionadores de Custos estão divididos em duas categorias: Direcionadores de recursos � – determinam como alocar os custos e as despesas da empresa às atividades, uma vez que essas consomem recursos. Direcionadores de atividades � – determinam como alocar os custos das atividades aos produtos, uma vez que os produtos consomem ati- vidades. Ita m ar M ira nd a M ac ha do . Despesas (Overhead) Custos indiretos Produtos e/ou Serviços Despesas financeiras Atividades Direcionadores de recursos Direcionadores de atividades Figura 1 – Esquema básico de alocação dos custos indiretos e das despesas pelo Custeio ABC. Quando não se consegue estabelecer um direcionador de atividades, ou seja, quando não for possível estabelecer uma verdadeira relação entre a ati- vidade e o produto, os gastos não serão apropriados aos produtos, entrarão 174 Custeio ABC – Activity Based Costing num centro de custo chamado, por exemplo, ociosidade. Dessa forma, a soma dos resultados dos produtos será diferente do resultado global da empresa. Essa é uma importante diferença entre o Custeio ABC e o Custeio por Absorção, pois no absorção, conforme o próprio menciona, os produtos absorvem todos os custos, portanto, seriam alocados por algum critério de rateio, mesmo que subjetivo. Essa é uma diferença relevante entre os Custeios ABC e o absorção, pois se algum produto for retirado de linha, os custos indiretos que estavam alo- cados a ele e que não foram eliminados, pelo Custeio por Absorção, serão transferidos para os produtos remanescentes, interferindo de tal forma no seu resultado que pode até levá-lo a ter resultado negativo. Pelo Custeio ABC isso não ocorre, os custos remanescentes serão alocados como ociosidade, não interferindo no resultado dos demais produtos. Essa é uma considerável vantagem do ABC em relação ao absorção, pois os produtos remanescentes não serão penalizados pela decisão de se eliminar algum outro produto. Ita m ar M ira nd a M ac ha do . Direcionador: área ocupada, o comer- cial ocupa 50% do espaço, portanto: R$5.000,00. Direcionador: qtd. de funcionários, o marketing tem 60% dos funcionários do setor: R$5.000,00 . 60% = R$3.000,00. Direcionador: tempo gasto em cada atividade. Propa- ganda e publicidade ocupam 2/3 do tempo dos funcionári- os = R$3.000,00 . 66,7% = R$2.000,00. Aluguel R$10.000,00 Administrativa Financeira Vendas Pesquisa de mercado Prod. A Prod. B Prod. C Prod. n Propaganda e publicidade Marketing Comercial Figura 2 – Forma de apropriar as despesas para as atividades e estas para os produtos. Custeio ABC – Activity Based Costing 175 A figura 2 mostra um exemplo de como apropriar as despesas para as ati- vidades e estas para os produtos. Nesse exemplo, foi lançado o aluguel para a atividade “propaganda e publicidade”. Esse procedimento deve ser aplica- do para todos os gastos: água, luz, telefone, material de escritório, material de consumo, despesas com viagens etc., assim, chegaremos ao custo total dessa atividade, em seguida, o valor será transferido para os produtos que utilizaram essa atividade no mês. Direcionadores de recursos e de atividades Martins (2006, p. 99 e 291), faz uma relação entre os departamentos, as atividades que os compõem e os direcionadores: Departamentos Atividades Direcionadores Compras Comprar materiais � Desenvolver fornecedores � Quantidade de pedidos � Quantidade de fornecedores � Almoxarifado Receber materiais � Movimentar materiais � Quantidade de recebimentos � Quantidade de requisições � Administração da produção Programar produção � Controlar produção � Quantidade de produtos � Quantidade de lotes � Corte e costura Cortar � Costurar � Tempo de corte � Tempo de costura � Acabamento Acabar � Despachar produtos � Tempo de acabamento � Tempo de despacho � Administração Efetuar registros fiscais � Pagar fornecedores � Receber faturas � Quantidade de registros de entra- � das e saídas Quantidade de cheques emitidos � Quantidade de faturas emitidas � Vendas Visitar clientes � Emitir pedidos � Quantidade de visitas � Quantidade de pedidos de venda � Evidente que cada empresa deve avaliar seus processos e estabelecer seus critérios (direcionadores), por exemplo, para materiais de uso contínuo que não dependem de cotações rotineiras e esforços da área de compras não se deve atribuir o direcionador dequantidade de pedidos, talvez, pudesse ser utilizado, para esses casos, o tempo gasto em cada processo de compra. 176 Custeio ABC – Activity Based Costing Minicaso: Telefônica Telepraia Para exemplificar o Método do Custeio ABC será adotado o minicaso da Telefônica Telepraia e ao final serão comparados os resultados pelo Custeio ABC e Custeio Variável. A Telefônica Telepraia trabalha com dois planos e está analisando a viabi- lidade da manutenção desses planos, para isso, solicitou aos seus gestores um estudo através do Custeio Variável e do Custeio ABC. Depois de elaborar a demonstração de resultado pelos dois métodos de custeio, responda se a empresa deve deixar de atuar com algum plano e por quê? Dados Mudo Falante Receita por usuário R$80,00 R$150,00 Custo variável por usuário R$40,00 R$80,00 Esses valores devem ser multiplicados pela quantidade de usuários e transferidos para as linhas 1 e 2 da DRE. Mudo Falante Receita por usuário R$80,00 . 600 000 = R$48.000.000,00 R$150,00 . 400 000 = R$60.000.000,00 Transferir para Li- nha 1 da DRE Custo variável por usuário R$40,00 . 600 000 = R$24.000.000,00 R$80,00 . 400 000 = R$32.000.000,00 Transferir para Li- nha 2 da DRE Custos fixos Departamento operacional � Custos (R$) Direcionadores de Custos Mão de obra 10.000.000,00 Quantidade de usuários Depreciação dos equipamentos 5.000.000,00 Quantidade de minutos 15.000.000,00 Custeio ABC – Activity Based Costing 177 Qtd. de usuários Minutos Mudo 600 000 36 000 000 Falante 400 000 60 000 000 1 000 000 96 000 000 Observação: os equipamentos têm capacidade para operar até 120 000 000 de minutos. Cálculo da mão de obra Transferir para a linha 3 da DRE. Qtd. de usuários Valor Mudo 600 000 / 1 000 000 = 60% . R$10.000.000,00 = R$6.000.000,00 Falante 400 000 / 1 000 000 = 40% . R$10.000.000,00 = R$4.000.000,00 Cálculo da depreciação Transferir para a linha 4 da DRE. Nesse cálculo, há uma questão relevante, embora a quantidade de mi- nutos tenha sido de 96 000 000, os equipamentos têm capacidade para 120 000 000 de minutos. O grande diferencial do Custeio ABC é apropriar os custos de acordo com a verdadeira relação entre o custo e a atividade, sendo assim, para calcular a proporção há que considerar os 120 000 000. A diferença entre 96 000 000 e 120 000 000 é igual a 24 000 000 e esse valor será considerado como “ociosidade”, conforme a seguir: Qtd. de minutos Valor Mudo 36 000 000 / 120 000 000 = 30% . R$5.000.000,00 = R$1.500.000,00 Falante 60 000 000 / 120 000 000 = 50% . R$5.000.000,00 = R$2.500.000,00 Ociosidade 24 000 000 / 120 000 000 = 20% . R$5.000.000,00 = R$1.000.000,00 Departamento de planejamento e controle das operações � Atividades Custos (R$) Direcionadores de Custos Planejar 5.000.000,00 Horas trabalhadas Controlar 5.000.000,00 Horas trabalhadas 10.000.000,00 178 Custeio ABC – Activity Based Costing Horas trabalhadas Planejar Controlar Mudo 1 140 1 200 Falante 1 650 1 500 Ociosidade 210 300 3 000 3 000 Cálculo da atividade Planejar Transferir para a linha 5 da DRE. Qtd. de horas Valor Mudo 1 140 / 3 000 = 38% . R$5.000.000,00 = R$1.900.000,00 Falante 1 650 / 3 000 = 55% . R$5.000.000,00 = R$2.750.000,00 Ociosidade 210 / 3 000 = 7% . R$5.000.000,00 = R$350.000,00 Cálculo da atividade Controlar Transferir para a linha 6 da DRE. Qtd. de horas Valor Mudo 1 200 / 3 000 = 40% . R$5.000.000,00 = R$2.000.000,00 Falante 1 500 / 3 000 = 50% . R$5.000.000,00 = R$2.500.000,00 Ociosidade 300 / 3 000 = 10% . R$5.000.000,00 = R$500.000,00 Despesas fixas Departamento de marketing � Atividades Despesas (R$) Direcionadores de Custos Telemarketing 4.000.000,00 Atendimentos / Ligações Propaganda 10.000.000,00 Novos usuários mensais Outras 1.000.000,00 Não há direcionadores 15.000.000,00 Qtd. atend. e ligações Novos Usuários Mudo 12 000 5 600 Falante 8 000 2 400 20 000 8 000 Custeio ABC – Activity Based Costing 179 Cálculo da atividade Telemarketing Transferir para a linha 7 da DRE. Qtd. atend. e ligações Valor Mudo 12 000 / 20 000 = 60% . R$4.000.000,00 = R$2.400.000,00 Falante 8 000 / 20 000 = 40% . R$4.000.000,00 = R$1.600.000,00 Cálculo da atividade Propaganda Transferir para a linha 8 da DRE. Novos usuários Valor Mudo 5 600 / 8 000 = 70% . R$10.000.000,00 = R$7.000.000,00 Falante 2 400 / 8 000 = 30% . R$10.000.000,00 = R$3.000.000,00 Outras atividades de marketing no valor de R$1.000.000,00 não há direcio- nador, ou seja, não houve como estabelecer uma relação entre o custo e a atividade, assim, esse valor será lançado na linha 9 da DRE na coluna de “Não alocados”. Departamento administrativo � Atividades Despesas (R$) Direcionadores de Custos Emitir faturas 2.000.000,00 Quantidade de usuários Folha de pagamento 4.000.000,00 Quantidade de funcionários Treinamento 1.000.000,00 Horas de treinamento Outras 3.000.000,00 Não há direcionadores 10.000.000,00 Qtd. de funcionários Hs. treinamento Mudo 1 100 30 000 Falante 900 70 000 2 000 100 000 Obs.: as outras despesas administrativas se referem a diversos itens que não foram detectados direcionadores para alocação, exceto uma causa jurí- dica no valor de R$350.000,00 referente ao Plano Falante. 180 Custeio ABC – Activity Based Costing Cálculo da atividade Emitir Faturas Transferir para a linha 10 da DRE. Qtd. de usuários Valor Mudo 600 000 / 1 000 000 = 60% . R$2.000.000,00 = R$1.200.000,00 Falante 400 000 / 1 000 000 = 40% . R$2.000.000,00 = R$800.000,00 Cálculo da atividade Folha de Pagamento Transferir para a linha 11 da DRE. Qtd. de funcionários Valor Mudo 1 100 / 2 000 = 55% . R$4.000.000,00 = R$2.200.000,00 Falante 900 / 2 000 = 45% . R$4.000.000,00 = R$1.800.000,00 Cálculo da atividade Treinamento Transferir para a linha 12 da DRE. Horas de treinamento Valor Mudo 30 000 / 100 000 = 30% . R$1.000.000,00 = R$300.000,00 Falante 70 000 / 100 000 = 70% . R$1.000.000,00 = R$700.000,00 Outras atividades administrativas no valor de R$3.000.000,00, desse valor, apenas R$350.000,00 foi possível alocar para o Plano Falante por se tratar de uma causa jurídica relacionada a ele, para o restante não há direcionador, ou seja, não houve como estabelecer uma relação entre o custo e a atividade, assim, esse valor será lançado na linha 13 da DRE na coluna de “Não alocados”. Após esses cálculos, os valores serão transferidos para suas respectivas linhas e colunas na DRE pelo Custeio ABC: Custeio ABC – Activity Based Costing 181 Demonstração do resultado – Custeio ABC Mudo (R$) Falante (R$) Não alocados (R$) Total (R$) 1 Receita 48.000.000,00 60.000.000,00 108.000.000,00 (–) Custos 2 Variável (24.000.000,00) (32.000.000,00) (56.000.000,00) 3 Mão de obra (6.000.000,00) (4.000.000,00) (10.000.000,00) 4 Depreciação dos equipa-mentos (1.500.000,00) (2.500.000,00) (1.000.000,00) (5.000.000,00) 5 Planejar (1.900.000,00) (2.750.000,00) (350.000,00) (5.000.000,00) 6 Controlar (2.000.000,00) (2.500.000,00) (500.000,00) (5.000.000,00) Total dos custos (35.400.000,00) (43.750.000,00) (1.850.000,00) (81.000.000) (=) Lucro bruto 12.600.000,00 16.250.000,00 (1.850.000,00) 27.000.000,00 (–) Despesas fixas 7 Telemarketing (2.400.000,00) (1.600.000,00) (4.000.000,00) 8 Propaganda (7.000.000,00) (3.000.000,00) (10.000.000,00) 9 Outras de marketing (1.000.000,00) (1.000.000,00) 10 Emitir faturas (1.200.000,00) (800.000,00) (2.000.000,00) 11 Folha de pagamento (2.200.000,00) (1.800.000,00) (4.000.000,00) 12 Treinamentos (300.000,00) (700.000,00) (1.000.000,00) 13 Outras administrativas (350.000,00) (2.650.000,00) (3.000.000,00) Total das despesas (13.100.000,00) (8.250.000,00) (3.650.000,00) (25.000.000,00) (=) Resultado operacional (500.000,00) 8.000.000,00 (5.500.000,00) 2.000.000,00 Demonstração do resultado – Custeio Variável em R$ Mudo Falante Total Receita 48.000.000,00 60.000.000,00 108.000.000,00 (–) Custo variável (24.000.000,00) (32.000.000,00)(56.000.000,00) (=) Contribuição marginal 24.000.000,00 28.000.000,00 52.000.000,00 (–) Custos e despesas fixo Depto. operacional (15.000.000,00) Planejamento e controle (10.000.000,00) Marketing (15.000.000,00) Administrativo (350.000,00) (10.000.000,00) (=) Resultado operacional 24.000.000,00 27.650.000,00 2.000.000,00 182 Custeio ABC – Activity Based Costing Análise do minicaso Analisando pelo Custeio ABC poder-se-ia chegar à conclusão que o Plano Mudo deveria ser eliminado, pois apresentou resultado negativo de R$500.000,00. No entanto, mesmo o Custeio ABC adotando critérios de ras- treamento menos subjetivos que os critérios de rateios adotados pelo Cus- teio por Absorção, não há garantias que eliminando o Plano Mudo todo custo e despesa fixo no valor de R$24.500.000,00 atribuído a ele seja eliminado. Poderíamos aqui, fazer uma análise de cada atividade e verificar o que se poderia eliminar com a retirada desse produto, porém, como a margem de contribuição do Plano Mudo é de R$24.000.000,00, somente valerá a pena excluir esse produto se dos R$24.500.000,00 de custos e despesas fixos atri- buídos a ele, for possível eliminar mais de R$24.000.000,00, ou seja, reduzir aproximadamente 98%, o que é praticamente impossível. Para simplificar, dois itens chamam a atenção e são suficientes para con- clusão da análise, trata-se da depreciação e dos gastos com propaganda. Depreciação � : foi atribuído um valor de R$1.500.000,00 de depreciação ao Plano Mudo, os principais equipamentos de telefonia móvel são as torres de transmissão. O fato de eliminar um plano não possibilita a redução das torres, portanto, tendo ou não esse plano a depreciação continuará no mesmo valor total, ou seja, se eliminar o plano a depre- ciação apenas mudará de coluna, passará para a dos “Não alocados” gerando ociosidade nas torres de transmissão, não reduzindo os cus- tos e despesas totais da empresa. Essa é uma diferença fundamental em relação ao Custeio por Absorção, como nesse método os produtos absorvem todos os custos, a depreciação iria integralmente para o Plano Falante, reduzindo sua lucratividade. No Cus- teio ABC isso não ocorre, a manutenção ou não de um produto não interfere no resultado do outro. Propaganda � : foi atribuído ao Plano Mudo o valor de R$7.000.000,00 da atividade Propaganda, isso porque o direcionador utilizado é a en- trada de novos usuários e, no período, o Plano Mudo teve uma entrada de 70% de usuários. Esse direcionador pode ter alguma falha, pois, nor- malmente, a propaganda é institucional, as empresas costumam fazer propaganda direcionada a produtos somente em épocas especiais ou quando estão fazendo alguma promoção, portanto, talvez as despesas Custeio ABC – Activity Based Costing 183 com a atividade Propaganda devessem estar na coluna de “Não aloca- dos”. Caso a empresa insista em lançar a propaganda para os produtos deveria rever os critérios (direcionadores), pois a propaganda não é feita apenas para atrair novos usuários, mas, também, para manter os atuais, sendo assim, talvez pudesse adotar como direcionador a “Quan- tidade total de usuários” e não apenas “Novos usuários”. Se alterar o di- recionador para “Quantidade total de usuários” o valor de propaganda atribuído ao Plano Mudo reduz para R$6.000.000, uma vez, que possui 60% de usuários, assim, apenas com essa mudança, o resultado muda- ria de R$500.000,00 negativo para R$500.000,00 positivo. Portanto, somente com a análise desses dois itens fica claro que o Plano Mudo não deve ser eliminado, pois, os custos e despesas fixos totais atribuí- dos a esse plano não serão totalmente eliminados. Analisando pelo Custeio Variável essa decisão é mais simples ainda, pois como abrir mão de um produto que gera R$24.000.000,00 de margem de contribuição? Esse valor representa 46% da margem total. Isso mostra que o Plano Mudo é perfeitamente viável, pois contribui com R$24.000.000,00 para cobrir os custos e despesas fixos e para geração do lucro. Custeio ABC versus Custeio Variável versus Custeio por Absorção O Custeio ABC é um método eficaz para custear de forma aproximada os custos das atividades, com isso, é possível detectar se uma determinada atividade está ou não gerando valor para a empresa, ou seja, se está contri- buindo para otimização do resultado. O Custeio ABC embora tenha seus méritos, como tentar reduzir a arbitra- riedade e subjetividade do rateio, é um método complexo de ser implemen- tado e com resultados ainda questionáveis, uma vez que, por mais que os direcionadores tentem estabelecer uma verdadeira relação entre o custo e a atividade, ainda há alguma subjetividade nesse processo. Assim, não deve ser isoladamente utilizado para análise de viabilidade de um produto ou ser- viço e sim para viabilidade de uma atividade. O Custeio Variável, mesmo não conseguindo calcular o resultado final dos produtos, por não atribuir os custos indiretos, é um método mais simples e 184 Custeio ABC – Activity Based Costing eficaz para essas decisões gerenciais, pois, salvo raras exceções, quando a margem de contribuição for positiva, o produto será viável. O alerta que se faz à análise do Custeio Variável, é que quando a margem de contribuição percentual de um produto for muito baixa, aproximando- -se de zero, vale a pena verificar se a exclusão desse produto irá gerar uma redução de custo fixo maior que a margem de contribuição do pro- duto. Se a redução do custo fixo for maior que a margem vale a pena excluir o produto, caso contrário é melhor mantê-lo, pois por menor que seja a margem, estará contribuindo para o resultado final. O Custeio por Absorção para fins gerenciais deve ser abandonado, pois o rateio dos custos fixos e indiretos distorce toda a análise da lucratividade do produto, unidade de negócios, segmento etc. Diferenças de critérios dos métodos de custeio Absorção ABC Variável Custos variá- veis diretos Alocados direta- mente às unida- des de produ- tos. Alocados diretamente às uni- dades de produtos. Alocados diretamente às unidades de produtos. Custos variá- veis indiretos Alocados às uni- dades de produ- tos, por meio de rateio. Alocados às atividades e pos- teriormente às unidades de produtos, por meio de rastre- amento. Lançados como custo do período, não são ra- teados nem alocados às unidades do produto. Custos fixos Alocados às uni- dades de produ- tos, por meio de rateio. Alocados às atividades e pos- teriormente às unidades de produtos, por meio de rastre- amento. Lançados como custo do período, não são ra- teados nem alocados às unidades do produto. Despesas Lançados como despesas do pe- ríodo. Alocados às atividades e pos- teriormente às unidades de produtos, por meio de ras- treamento. Isso impede que esse método seja utilizado para fins societários e fiscais. As despesas variáveis são lançadas diretamen- te aos produtos e as fixas lançadas como despesas do período. Ampliando seus conhecimentos Michael Maher apresenta um exemplo que ilustra bem a aplicação do Custeio ABC, para análise de viabilidade de uma atividade. Custeio ABC – Activity Based Costing 185 Custeio baseado em atividades, em marketing e em administração Aplicar o custeio baseado em atividades, em serviços de marketing e administrativos (MAHER, 2001) O custeio baseado em atividades também pode ser aplicado às ativida- des de marketing e administração. Os princípios e métodos aplicáveis, são os mesmos que estão sendo discutidos nesse capítulo: Identifique atividades que consomem recursos. � Identifique os direcionadores de custos associados a cada atividade. � Calcule uma taxa de aplicação de cada direcionador de custo. � Atribua custos aos produtos, multiplicando a taxa de aplicação do direcio- nador pela quantidade de unidades do direcionador, consumidas pela ativi- dade de marketing ou de administração. Aplicando-se essa metodologia, calcula-se o custo de prestar um serviço administrativo ou de marketing, conformeilustramos no exemplo a seguir. Custo de um serviço, pelo custeio baseado em atividades A SU Company tem um serviço de atendimento de pedidos por telefone. Os clientes podem pedir o produto padrão ou o singular, ligando para um número 0800. A administração está preocupada com o custo desse serviço, e está considerando terceirizá-lo. Para isso, pediu a alguns fornecedores desse tipo de serviço que apresentassem suas propostas; a proposta de menor valor foi de R$30,00 por pedido. A companhia precisa então saber quanto lhe está custando prestar o serviço diretamente, para decidir se continua a fazê-lo e, se assim decidir, como aumentar sua eficiência do serviço em questão. A encar- regada do estudo fez o seguinte: Identificou as atividades que causam custos. Essas atividades foram: tomada do pedido, preenchimento do pedido, expedição do produto e devoluções pelos clientes. Essas atividades encontram-se na coluna (1) da tabela abaixo. 186 Custeio ABC – Activity Based Costing Identificou os direcionadores de custos. Os direcionadores das atividades encontram-se na coluna (2) da tabela. Calculou as taxas de aplicação dos direcionadores de custos. A coluna (3) da tabela apresenta os custos mensais estimados de cada atividade; a coluna (4), os volumes estimados dos direcionadores; a coluna (5), as taxas de aplica- ção dos direcionadores. SU Company – aplicação do Custeio ABC a um serviço de marketing (1) (2) (3) (4) (5) Atividade Direcionador de custo Custo Estimado Mensal Volume mensal estimado do direcionador Taxa de aplicação do direcionador Tomada do pedido Qtd. de pedidos R$5.000,00 1 000 R$5,00 Preenchimen- to do pedido Qtd. de pedidos R$3.000,00 1 000 R$3,00 Expedição dos produtos 1 – Qtd. de pedi- dos R$1.000,00 1 000 R$1,00 2 – Qtd. de unida- des expedidas R$6.000,00 3 000 R$2,00 Devolução pe- los clientes Qtd. de unidades expedidas R$10.000,00 1 000 R$10,00 Custo total R$21,00 Com base nessa análise, a administração determinou que o custo total da atividade era de R$21,00 por unidade – muito inferior à melhor proposta, R$30,00 por unidade. A administração decidiu então rejeitar a ideia de tercei- rizar o serviço, e tomou medidas para aumentar sua eficiência. Dispondo da informação de que as devoluções pelos clientes estavam saindo muito caras para a companhia (R$10,00 por unidade), a administração procurou identifi- car formas de diminuir a quantidade de devoluções. Melhorando a descrição dos produtos em suas peças de propaganda, a companhia conseguiu reduzir a quantidade de devoluções em aproximadamente 50%. Garrison, Noreen, Brewer (2007), apresentam algumas limitações do Cus- teio Baseado em Atividades. A implantação de um sistema de Custeio Baseado em Atividades é um em- preendimento de porte, que exige volume substancial de recursos. E, uma vez implantado, um sistema de Custeio Baseado em Atividades tem um custo de Custeio ABC – Activity Based Costing 187 manutenção superior ao de um sistema de custeio tradicional – é necessário cole- tar, validar e registrar periodicamente dados relativos a diversas medidas de ativi- dade. Os benefícios da precisão adicional podem não compensar esses custos. O Custeio Baseado em Atividades produz números, tais como margem de lucro, que divergem dos números produzidos pelos sistemas tradicionais de custeio. Mas, os administradores estão habituados a dirigir suas operações usando sistemas tradicionais de custeio, e esses sistemas são frequentemente utilizados em avaliações de desempenho. Essencialmente, o uso do Custeio Baseado em Atividades muda as regras do jogo. É da natureza humana que mudanças em organizações, particularmente aquelas que mudem as regras do jogo, acabem enfrentando resistências. Isso reforça mais uma vez a impor- tância do apoio da alta administração e da participação total dos administra- dores de linha, bem como da equipe do departamento de contabilidade, em qualquer iniciativa relacionada a Custeio Baseado em Atividades. Se o Custeio Baseado em Atividades for visto como uma iniciativa da área de contabilida- de, que não conta com o apoio total da alta administração, ele estará conde- nado ao fracasso. Na prática, a maioria dos administradores insiste em alocar todos os custos a produtos, clientes e outros objetos de custeio num sistema baseado em ativi- dades incluindo os custos de capacidade ociosa e sustentação da organização. Isso resulta em custos superestimados e lucros subestimados, além de erros na fixação de preços e em outras decisões cruciais. Os dados do Custeio Baseado em Atividades podem ser facilmente mal in- terpretados e devem ser usados com cuidado quando utilizados na tomada de decisões. Os custos atribuídos a produtos, clientes e outros objetos de custo são apenas potencialmente relevantes. Antes de tomarem qualquer decisão importan- te usando dados de Custeio Baseado em Atividades, os administradores devem identificar que custos são realmente relevantes para a decisão em questão. [...] os relatórios gerados pelos melhores sistemas de Custeio Baseado em Atividades não se encaixam nos princípios contábeis aceitos. Consequente- mente, uma organização envolvida com o uso do Custeio Baseado em Ativi- dades é obrigada a ter dois sistemas de custeio – um deles para o uso interno e outro para a preparação de demonstrações voltadas ao público externo. Isso é mais caro do que manter apenas um sistema, além de poder causar confu- são a respeito de qual é o sistema correto. 188 Custeio ABC – Activity Based Costing Atividades de aplicação 1. Assinale “V” se a alternativa for Verdadeira e “F” se for Falsa: O Custeio ABC apropria para os produtos apenas os custos )( variáveis, os fixos são lançados diretamente na DRE. O Custeio ABC apropria os custos e as despesas indiretas para as )( atividades e essas para os produtos. O Custeio ABC apropria para os produtos todos os custos e )( despesas, sendo que os indiretos são através de rateio. O Custeio ABC apropria para os produtos somente os custos e )( despesas fixos indiretos, sendo que os variáveis são lançados diretamente na DRE. 2. Qual das alternativas abaixo melhor caracteriza o tratamento dado aos custos fixos indiretos no Custeio ABC: a) São alocados às unidades de produtos por meio de rateio. b) São alocados às atividades e posteriormente às unidades de pro- duto, por meio de rastreamento. c) São alocados diretamente às unidades de produtos sem necessi- dade de rateio ou rastreamento. d) São lançados diretamente na DRE, não são alocados para as unida- des de produtos. 3. Considerando as informações abaixo, calcule o custo do almoxarifado para cada produto: Atividades Custo Direcionadores Receber materiais R$100.000,00 Qtd. de recebimentos Movimentar materiais R$60.000,00 Qtd. de requisições Informações adicionais No mês foram recebidas 1 200 caixas do produto A e 800 caixas do produto B. No mês foram feitas 300 requisições de caixas do produto A e 700 do produto B. Custeio ABC – Activity Based Costing 189 4. Considerando as informações a seguir, calcule o custo do departa- mento de corte e costura para cada produto: Atividades Custo Direcionadores Cortar R$3.000,00 Tempo de corte Costurar R$8.000,00 Tempo de costura Informações adicionais O tempo gasto para cortar camisas foi de 60 horas no mês e para cor- tar calças foi de 100 horas. O profissional que trabalha nessa função trabalha 200 horas por mês. O tempo gasto para costurar camisas foi de 140 horas no mês e para costurar calças foi de 220 horas. Há dois profissionais que trabalham nessa função e, juntos, trabalham 400 horas por mês. 5. Considerando as informações a seguir, calcule o custo do departa- mento de vendas, que deverá ser atribuído ao único produto: Atividades Custo Direcionadores Visitar clientes R$10.000,00 Qtd. de visitas Emitir pedidos de venda R$12.000,00 Qtd. de pedidos Informações adicionais Foram realizadas 120 visitas, mas a capacidadedo departamento é de realizar 150 visitas por mês. Foram emitidos 70 pedidos, mas a expectativa, considerando a capaci- dade de vendas e visitas, era de se emitir 100 pedidos. 6. O valor da depreciação dos equipamentos é de R$10.000,00 por mês. O direcionador utilizado como critério para lançar para os dois produ- tos é a quantidade produzida, considerando as informações a seguir, calcule o custo da depreciação por produto de acordo com o Custeio ABC e Custeio por Absorção: Produto A: 100 peças Produto B: 140 peças Capacidade produtiva 300 peças por mês. 190 Custeio ABC – Activity Based Costing Gabarito 1. F, V, F, F 2. B 3. Cálculo da atividade Receber Materiais Qtd. de recebimentos Valor Produto A 1 200 / 2 000 = 60% . R$100.000,00 = R$60.000,00 Produto B 800 / 2 000 = 40% . R$100.000,00 = R$40.000,00 Cálculo da atividade Movimentar Materiais Qtd. de requisições Valor Produto A 300 / 1 000 = 30% . R$60.000,00 = R$18.000,00 Produto B 700 / 1 000 = 70% . R$60.000,00 = R$42.000,00 Custo total do almoxarifado para cada produto Produtos Atividades TotalReceber materiais Movimentar materiais Produto A R$60.000,00 R$18.000,00 R$78.000,00 Produto B R$40.000,00 R$42.000,00 R$82.000,00 Total R$100.000,00 R$60.000,00 R$160.000,00 4. Cálculo da atividade Cortar Tempo de corte Valor Camisas: 60 / 200 = 30% . R$3.000,00 = R$900,00 Calças: 100 / 200 = 50% . R$3.000,00 = R$1.500,00 Ociosidade 40 / 200 = 20% . R$3.000,00 = R$600,00 Custeio ABC – Activity Based Costing 191 Cálculo da atividade Costurar Tempo de costura Valor Camisas: 140 / 400 = 35% . R$8.000,00 = R$2.800,00 Calças: 220 / 400 = 55% . R$8.000,00 = R$4.400,00 Ociosidade 40 / 400 = 10% . R$8.000,00 = R$800,00 Custo total do corte e costura para cada produto Produtos Atividades Total Corte Costura Camisas R$900,00 R$2.800,00 R$3.700,00 Calças R$1.500,00 R$4.400,00 R$5.900,00 Total dos produtos R$2.400,00 R$7.200,00 R$9.600,00 Ociosidade R$600,00 R$800,00 R$1.4000,00 Total geral R$3.000,00 R$8.000,00 R$11.000,00 5. Cálculo do custo atribuído ao produto Qtd. de visitas: 120 / 150 = 80% . R$10.000,00 = R$8.000,00 Emitir pedidos: 70 / 100 = 70% . R$12.000,00 = R$8.400,00 Total atribuído ao produto.............................. = R$16.400,00 O valor restante de R$5.600,00 será lançado como “ociosidade”. 6. Cálculo pelo Custeio ABC Produto A: 100 /300 peças = 33,33% � . R$10.000,00 = R$3.333,00 Produto B: 140 /300 peças = 46,67% � . R$10.000,00 = R$4.667,00 Total apropriado para os produtos:............................... = R$8.000,00 O restante = R$2.000,00 será considerado “ociosidade”. 192 Custeio ABC – Activity Based Costing Cálculo pelo Custeio por Absorção Como o próprio nome menciona, os produtos absorvem todos os cus- tos, então o valor integral de R$10.000,00 obrigatoriamente deve ser lançado aos dois produtos, portanto a proporção será em relação à quantidade produzida e não à capacidade de se produzir como é feito no Custeio ABC. Total produzido: 100 peças do produto A + 140 peças do produto B, totalizando 240 peças. Produto A: 100 /240 peças = 41,67% � . R$10.000,00 = R$4.167,00 Produto B: 140 /240 peças = 58,33% � . R$10.000,00 = R$5.833,00 Total apropriado para os produtos:.................................... = R$10.000,00 Nesse método não há ociosidade. Formação do preço de venda Formação do preço de venda Numa economia competitiva, onde não haja monopólio ou oligopólio, o preço é, na maioria das vezes, determinado por meio da negociação entre compradores e vendedores. Para o vendedor se constitui em sua principal fonte de recursos (receita). � Para o comprador se constitui, muitas vezes, no principal fator de custos. � Muitas empresas adotam como raciocínio a seguinte equação para for- mação do preço: Preço de venda = Custo + Lucro Ocorre que num mercado competitivo, os clientes podem não estar dispos- tos a cobrir os custos das empresas, assim, a fórmula aplicada passa a ser: Preço de venda – Lucro = Custo Onde o preço é regulado pelo mercado, o lucro é uma meta (desejo) da empresa, portanto é necessário adequar os custos para que seja possível obter o resultado desejado, assim, o foco passa a ser a formação do custo (target cost) e não do preço. Suponhamos que uma empresa tenha como política de preços aplicar 10% de margem de lucro sobre seus custos. Custos e despesas totais = R$100,00 � Irá cobrar de seus clientes R$110,00, que é o resultado de: R$100,00 � . 1,10. Pontos para reflexão Como ficará se os concorrentes estiverem praticando o preço de 1. R$80,00? 195 196 Formação do preço de venda Será que os clientes comprarão dessa empresa, deixando de pagar 2. R$80,00 para outro fornecedor, só porque reconhece que ela está sen- do justa, ou seja, ganhando apenas 10% sobre seus custos totais? E se o seu produto for pioneiro e de grande aceitação pelos clientes 3. que estão dispostos a pagar até R$130,00, ela deve continuar fiel à sua política cobrando apenas R$110,00, pois afinal sua política é aplicar 10% sobre os custos? Nos questionamentos 1 e 2, certamente a empresa precisará adequar seus preços aos dos concorrentes, para isso, terá que adequar seus custos para que, vendendo por R$80,00, consiga obter os resultados desejados. No questionamento 3 a empresa deverá aproveitar a oportunidade de obter melhor rentabilidade e, enquanto for possível, deverá vender por um preço próximo à R$130,00. Assim, pode-se afirmar que num mercado de competição perfeita, o preço de mercado é o grande balizador da formação do preço. Nesse raciocínio, o custo passa a ser importante, não para formar preço, mas para verificar se a empresa está competitiva ou não. Aspectos mercadológicos que influenciam os preços Antes de entrarmos nos cálculos, vamos verificar alguns aspectos relacio- nados ao mercado que influenciam as decisões dos gestores no momento da formação do preço. Demanda A demanda se constitui num dos principais fatores de determinação do preço. Tanto o preço pode determinar o nível de demanda, quanto a deman- da pode determinar o preço, ou seja: preço baixo pode determinar alta procura (aumento da demanda); e � alta demanda pode determinar aumento de preço, assim como baixa � demanda pode determinar redução do preço. Formação do preço de venda 197 Segundo Kotler (2000, p. 479) “em uma situação normal, demanda e preço são inversamente relacionados: quanto mais alto o preço, menor a quantida- de demandada”. Curvas de demanda: elasticidade e inelasticidade A relação preço X demanda determina o comportamento das curvas de demanda, que podem ser elástica ou inelástica. Elástica � : quando o aumento de preço resulta numa queda considerá- vel da demanda. Inelástica � : quando o aumento de preço não interfere de forma signi- ficativa na demanda. Suponhamos que determinada empresa vende seu produto por R$10,00 e tem uma demanda de 100 unidades. Então resolve aumentar o preço em 50% passando para R$15,00, vejamos os comportamentos: Situação elástica Enquanto o preço aumentou 50%, o volume diminuiu 60%, isso ocasio- nou uma queda no resultado de R$400,00: R$15,00 . 40 = R$600,00 R$10,00 . 100 = R$1 000,00 R$(400,00) Preço R$15,00 R$10,00 40 100 Qtd. Situação inelástica Enquanto o preço aumentou 50%, o volume diminuiu em apenas 10%, isso ocasionou uma melhoria de R$350,00 no resultado: 198 Formação do preço de venda R$15,00 . 90 = R$1.350,00 R$10,00 . 100 = R$1 000,00 R$(350,00) Preço R$15,00 R$10,00 90 100 Qtd. Preço de mercado – concorrência Normalmente, o preço de mercado é ditado pelos líderes, no entanto a empresa não deve ficar numa situação de acomodação, afinal ela também faz parte do mercado e pode tentar interferir. Daí a necessidade de acom- panhar constantemente a situação dos concorrentes. Um concorrente em situação financeira complicada, poderá baixar seus preços para alavancar re- cursos, fazendo como que o preço reduza substancialmente e, às vezes, de forma definitiva. Kotler (2000, p. 502) traz uma figura que espelha a reação frente uma redução de preço do concorrente: Não Não NãoSim Inferior a 2% Entre 2% e 4% Superior a 4% Sim Sim O concorrente redu- ziu o preço? É provável que o preço afete signifi- cativamente nossas vendas? Inclui um cupom de desconto para a pró- xima compra. Reduzir o preço em metade da redução realizada pela con- corrente. Reduzir o preço para o mesmo preço do concorrente. É provável que seja uma redução perma- nente do preço? De quanto foi a redução do preço do concorrente? Manter nosso preço no nível atual, continuar a observar o preço do concor- rente. (K O TL ER , 2 00 0. A da pt ad o. ) Figura 1 Formação do preço de venda 199 Preço de valor percebido A chave para a determinação de preço é a percepção de valor do produto para os clientes. Nesse sentido a estratégia de marketing é de fundamental importância, pois a propaganda é fator preponderante para transmitir a qua- lidade e a utilidade dos produtos paras os clientes. Segundo Kotler (2000, p. 488), a Caterpillar utiliza o valor percebido para determinar os preços de seus equipamentos de terraplanagem. Enquanto seus concorrentes vendem determinado trator por US$90 mil ela vende por US$100 mil e ainda é capaz de demonstrar porque seu trator oferece mais do que o do concorrente. Consegue transmitir aos clientes que, embora, es- tejam pagando US$10 mil a mais, estão recebendo benefícios equivalentes a US$20 mil, veja a explicação: Valor – US$ Explicação 90.000 é o preço do trator se for apenas equivalente ao trator do concorrente 7.000 é o preço premium pela durabilidade superior da Caterpillar 6.000 é o preço premium pela confiabilidade superior da Caterpillar 5.000 é o preço premium pelo serviço superior da Caterpillar 2.000 é o preço premium pelo maior período de garantia de peças da Caterpillar 110.000 é o preço normal para cobrir o valor superior da Caterpillar -10.000 desconto 100.000 preço final Cadeia de valores O valor percebido pelo cliente também está relacionado à cadeia de valo- res, ou seja, ao estabelecer o preço de venda há que se pensar no custo final do produto para o cliente, por exemplo: determinada lâmpada pode ter o preço maior que as convencionais, � mas consome menos energia elétrica; o preço da passagem de avião saindo de um aeroporto (A) poderá ser � superior a outro (B) na mesma cidade (região), mas que fica mais dis- tante do centro. Assim, ao comparar o preço da passagem e do trans- lado centro-aeroporto, pode-se concluir que o preço saindo do aero- porto (A), mesmo tendo o preço de sua passagem maior, terá o menor custo total para os clientes; 200 Formação do preço de venda o preço de determinado eletrodoméstico pode ser maior que o dos � concorrentes, no entanto o preço da assistência técnica (peças e ser- viços) será bem menor, resultando em grande ganho para o cliente, durante a vida útil do produto. Qualidade dos produtos A qualidade dos produtos percebida pelos clientes também será um dife- rencial no estabelecimento do preço, portanto, quanto maior o investimento em qualidade, menor será o custo com retrabalho, garantia e imagem da empresa, entre outros. Os gráficos a seguir demonstram como otimizar o re- sultado pela melhoria da qualidade: Pela mellhoria da qualidade, além da manutenção dos atuais clientes é possível a agregação de novos. Os clientes poderão estar dis- postos a pagar um preço mais alto pela mesma quan- tidade demandada, assim, amplia-se a Receita Total e consequentemente o lucro. C q A redução dos custos com retrabalho e substituição de peças em garantia con- duz a queda dos custos variáveis e consequen- temente dos custos totais. Mantendo-se constante a Receita Total, isso leva a um aumento do lucro. B q Situação inicial R$ Custos e receitas Curva da Receita Total Lucro máx. CF CT A q Como podemos verificar nos gráficos acima (A, B e C), a melhoria da quali- dade gera uma redução dos custos totais gerando maior lucratividade (gráfi- co B). Com essa melhoria, além dos clientes atuais estarem dispostos a pagar um pouco mais pelos produtos aumentando a margem de contribuição unitária, haverá também agregação de novos clientes aumentando a receita total e, consequentemente, o lucro da empresa (gráfico C). Formação do preço de venda 201 Preço em função de opcionais Alguns segmentos, como o automobilístico, elaboram o produto básico e para cada opcional há um valor agregado. Dessa forma, é possível que di- versos clientes tenham a chance de adquirir o mesmo produto, tendo como diferencial os opcionais que poderão variar de um para outro de acordo com a vontade, necessidade e disponibilidade financeira para adquirir os opcionais. Um veículo, por exemplo, da mesma marca e modelo, com a mesma car- roceria, cor e motor poderá ter o preço alterado em até 30% em função dos opcionais: roda de liga leve, ar condicionado, direção hidráulica, som, farol de neblina e muitos outros itens. Outros fatores Além dos pontos já mencionados existem uma série de outros fatores que interferem na determinação do preço, como: Situação geográfica – localização do vendedor e do comprador;4. Estratégia mercadológica, que poderá ser a vontade ou necessidade 5. de entrar num mercado; Situação macroeconômica;6. Ações governamentais: aumento de impostos, controle de preços e 7. outros; Situação de endividamento da empresa num determinado momento;8. Necessidade do usuário e sua disposição em adquirir o produto;9. E muitas outras situações.10. Formação do preço utilizando a fórmula do ponto de equilíbrio Quando for possível determinar a quantidade a ser vendida, para calcular o preço de venda, é possível adotar a fórmula do ponto de equilíbrio, tendo a receita unitária como incógnita. 202 Formação do preço de venda Fórmula: CF + L MCu = q Margem de Contribuição unitária (MCu) é igual a Receita unitária (Ru) menos Custo e Despesa Variável unitário (CVu), então a fórmula pode ser expressa da seguinte forma: CF + L Ru – CVu = q Para ilustrar serão apresentados dois exemplos. Exemplo 1 A Empresa Bom Preço tem uma demanda especial para vender 200 uni- dades de um produto que será confeccionado sob medida para o cliente e deseja calcular o seu preço. Além do custo variável, para atender essa de- manda seu custo fixo terá um acréscimo de R$10.000,00, pois precisará con- tratar alguns funcionários por prazo determinado, além de pequenas outras despesas que também aumentarão. O custo variável unitário é composto da seguinte forma: Matéria-prima R$20,00 Material de consumo R$5,00 Frete para entregar R$2,00 Comissão sobre vendas 3% sobre a receita total Como se trata de um cliente novo, onde a empresa tem interesse em a) continuar atendendo, para esse primeiro pedido, está pensando em não obter lucro. Então, o gerente comercial autorizou calcular o preço considerando apenas o ponto de equilíbrio, ou seja, onde a empresa não terá lucro nem prejuízo. Solução: Preço no ponto de equilíbrio: CF Ru – CVu = q Formação do preço de venda 203 Preço no ponto de equilíbrio: R$10.000,00 Ru – R$27,00 – 0,03Ru = 200 R$10.000,00 = 200(0,97Ru – R$27,00) R$10.000,00 = 194Ru – R$5.400,00 R$10.000,00 + R$5.400,00 = 194Ru Ru = R$15.400,00 194 .:. Ru = R$79,38 Portanto, para atender alcançando apenas o ponto de equilíbrio o pre- ço deverá ser R$79,38, comprovando: Receita 200 unid . R$79,38 = R$15.876,00 (–) Custos e despesas variáveis 200 peças . R$27,00 = R$(5.400,00) (–) Comissão sobre vendas R$15.876,00 . 3% = R$(476,00) (=) Contribuição marginal R$10.000,00 (–) Custos e despesas fixos R$(10.000,00) (=) Lucro R$0,00 O diretor comercial ao analisar os cálculos e também o mercado, fi-b) cou com receio de vender essas 200 unidades pelo preço de R$79,38, onde não haverá lucro, e o cliente efetuar novos pedidos querendopagar esse mesmo valor, então, achou que estrategicamente seria me- lhor considerar um lucro de, pelo menos, 10% sobre o preço de venda. Diante disso, o preço ficou da seguinte forma: Solução: Preço no ponto de equilíbrio: R$10.000,00 + 0,10 RT Ru – R$27,00 – 0,03Ru = 200 Não temos a Receita Total, mas sabemos que: RT = Ru . q RT = Ru . 200 ou escrevendo melhor: RT = 200Ru, portanto a fórmula ficará: Preço no ponto de equilíbrio: R$10.000,00 + (0,10 . 200 Ru) Ru – R$27,00 – 0,03Ru = 200 R$10.000,00 + 20Ru = 200(0,97Ru – R$27,00) R$10.000,00 + 20Ru = 194Ru – R$5.400,00 R$10.000,00 + R$5.400,00 = 194Ru – 20Ru 204 Formação do preço de venda Ru = R$15.400,00 174 .:. Ru = R$88,51 Portanto, para atingir o lucro de 10% sobre a Receita Total o preço de- verá ser R$88,51, comprovando: Receita 200 unid . R$88,51 = R$17.701,15 (–) Custos e despesas variáveis 200 peças . R$27,00 = R$(5.400,00) (–) Comissão sobre vendas R$17.701,15 . 3% = R$(531,03) (=) Contribuição marginal R$11.770,12 (–) Custos e despesas fixos R$(10.000,00) (=) Lucro R$1.770,12 Comprovação: Lucro Receita Total R$1.770,12 R$17.701,15 = 10% Ao informar o preço de R$88,51 para o cliente, este achou alto e soli-c) citou uma revisão do valor. A Empresa Bom Preço verificou que com o aumento do custo fixo em R$10.000,00 será possível produzir até 230 unidades, então fez uma proposta com quatro opções de preços para o cliente, considerando: 200, 210, 220 e 230 unidades. Os cálculos fo- ram os seguintes: 1.ª opção: 200 unidades (já calculado no item anterior = R$88,51). 2.ª opção: 210 unidades. Preço no ponto de equilíbrio: R$10.000,00 + (0,10 . 210Ru) Ru – R$27,00 – 0,03Ru = 210 R$10.000,00 + 21Ru = 210(0,97Ru – R$27,00) R$10.000,00 + 21Ru = 203,7Ru – R$5.670,00 R$10.000,00 + R$5.670,00 = 203,7Ru – 21Ru Ru = R$15.670,00 182,7 .:. Ru = R$85,77 Comprovando: Receita 210 unid . R$85,77 = R$18.011,70 (–) Custos e despesas variáveis 210 peças . R$27,00 = R$(5.670,00) (–) Comissão sobre vendas R$18.011,70 . 3% = R$(540,35) (=) Contribuição marginal R$11.801,35 (–) Custos e despesas fixos R$(10.000,00) (=) Lucro R$1.801,35 Formação do preço de venda 205 Comprovação: Lucro Receita Total R$1.801,35 R$18.011,70 = 10% 3.ª opção: 220 unidades. Preço no ponto de equilíbrio: R$10.000,00 + (0,10 . 220Ru) Ru – R$27,00 – 0,03Ru = 220 R$10.000,00 + 22Ru = 220(0,97Ru – R$27,00) R$10.000,00 + 22Ru = 213,4Ru – R$5.940,00 R$10.000,00 + R$5.940,00 = 213,4Ru – 22Ru Ru = R$15.940,00 191,4 .:. Ru = R$83,28 Comprovando: Receita 220 unid . R$83,28 = R$18.321,60 (–) Custos e despesas variáveis 220 peças . R$27,00 = R$(5.940,00) (–) Comissão sobre vendas R$18.321,60 . 3% = R$(549,65) (=) Contribuição marginal R$11.831,95 (–) Custos e despesas fixos R$(10.000,00) (=) Lucro R$1.831,95 Comprovação: Lucro Receita Total R$1.831,95 R$18.321,60 = 10% 4.ª opção: 230 unidades. Preço no ponto de equilíbrio: R$10.000,00 + (0,10 . 230Ru) Ru – R$27,00 – 0,03Ru = 230 R$10.000,00 + 23Ru = 230(0,97Ru – R$27,00) R$10.000,00 + 23Ru = 223,1R – R$6.210,00 R$10.000,00 + R$6.210,00 = 223,1Ru – 23Ru Ru = R$16.210,00 200,1 .:. Ru = R$81,01 Comprovando: Receita 230 unid . R$81,01 = R$18.632,18 (–) Custos e despesas variáveis 230 peças . R$27,00 = R$(6.210,00) (–) Comissão sobre vendas R$18.632,18 . 3% = R$(558,97) (=) Contribuição marginal R$11.863,21 (–) Custos e despesas fixos R$(10.000,00) (=) Lucro R$1.863,21 206 Formação do preço de venda Comprovação: Lucro Receita Total R$1.863,21 R$18.632,18 = 10% Resumo da proposta Qtd. Preço 1.ª opção 200 unid. R$88,50 2.ª opção 210 unid. R$85,77 Redução de 3,18% em relação à 1.ª opção. 3.ª opção 220 unid. R$83,28 Redução de 6,27% em relação à 1.ª opção. 4.ª opção 230 unid. R$81,01 Redução de 9,25% em relação à 1.ª opção. Essa redução do preço é possível em função da manutenção do custo fixo em R$10.000,00, independente da quantidade entre 200 a 230 unidades. A isso se dá o nome de ganho de produtividade. Exemplo 2 A Empresa KLM é fabricante de um determinado produto. Ano passado fa- bricou e vendeu 1 000 unidades. Seu demonstrativo de resultado pelo método por absorção apresentou o seguinte: DRE – Custeio por Absorção Receita R$10.000,00 (–) Custo dos produtos vendidos R$(6.000,00) (=) Lucro bruto R$4.000,00 (–) Despesas operacionais R$(3.000,00) (=) Lucro operacional R$1.000,00 Sabe-se que: dentro dos custos dos produtos vendidos 60% é custo variável e o res- � tante fixo; dentro das despesas operacionais temos comissão de 10% sobre ven- � das que são pagas aos vendedores; a direção da empresa, analisando as possíveis alternativas para aumen- � tar o lucro, verificou que há disponibilidade de produzir até 1 500 uni- dades. Por essa razão fizeram uma pesquisa de mercado que indicou a possibilidade de aumentar o volume de vendas em 35% se o preço de venda do produto for reduzido. Formação do preço de venda 207 Pergunta: Qual deverá ser o preço unitário do produto de forma a atingir o aumento no volume das vendas em 35% aumentando o lucro em 50%? Solução Inicialmente vamos estruturar os dados, pois é necessário segregar os custos e despesas fixos dos variáveis: Receita unitária: R$10.000,00 / 1 000 unid. = R$10,00 por unidade � Custo dos produtos vendidos = R$6.000,00 � CV = R$3.600,00 CF = R$2.400,00 Despesas operacionais = R$3.000,00 � DV = R$1.000,00 DF = R$2.000,00 Custo fixo + Despesa fixa: R$2.400,00 + R$2.000,00 = R$4.400,00 � Custo variável: R$3.600,00 / 1 000 unid. = R$3,60 por unidade � Despesa Variável: R$1.000,00, essa despesa se refere à 10% de comis- � são sobre vendas que são pagas aos vendedores, sendo assim, o valor monetário da comissão irá se alterar quando o preço de venda modifi- car, portanto, vamos tratar a despesa variável como 10% da receita ao invés de estabelecer um valor monetário. Resumo dos dados Preço de venda R$10,00 (esse valor vai se alterar, é a incógnita do exercício) Custo variável unitário R$3,60 Despesa variável unitária 0,10 Ru Custo e despesa fixo mensal R$4.400,00 Lucro desejado R$1.500,00 (R$1.000,00 atual + 50%) Possibilidade de venda 1 350 unid. (1 000 unidades atual + 35%) Agora é possível aplicar a fórmula: CF + L Ru – CVu = q 208 Formação do preço de venda Onde Ru é o preço unitário: R$4.400,00 + R$1.500,00 Ru – R$3,60 – 0,10 Ru = 1 350 R$5.900,00 = 1 350(0,9Ru – R$3,60) R$5.900,00 = 1 215Ru – R$4.860,00 R$5.900,00 + R$4.860,00 = 1 215Ru R$10.760,00 = 1 215Ru Ru = R$10.760,00 1 215 .:. Ru = R$8,86 Demonstração do resultado Receita 1 350 . R$8,86 R$11.955,56 (–) Custo variável 1 350 . R$3,60 R$(4.860,00) (–) Despesa variável R$11.955,56 . 10% R$(1.195,56) (=) Marg. contribuição R$5.900,00 (–) Custo + Despesa fixo R$(4.400,00) (=) Lucro R$1.500,00 Vale destacar que, normalmente, quando as empresas querem aumentar o resultado pensam em reduzir custo ou aumentar o preço. Nesse exemplo, a estratégia foi aproveitar a capacidade produtiva e aumentar o volume de vendas, mesmo que para isso seja necessário reduzir o preço de venda. Formação do preço utilizando a fórmula do Mark-up Mark-up é uma fórmula matemática que facilita chegar ao preço partindo dos custos. Tudo aquilo que se deseja inserir no preço coloca-se no denomi- nador na forma de taxa (i). Fórmula: Valor base 1 – i Para calcular o preço, considera-se como valor base o custo variável, sendo que para embutir o custo fixo e a despesa fixa no preço, deve-se calcular a Formação do preço de venda 209 relação: fixo versus receita para se chegar à taxa, por exemplo: receita R$100.000, custo e despesa fixo R$20.000, então a taxa será de 20%. Fórmula do Mark-up para cálculo do preço de venda Preço = Custo variável 1 – i Exemplo – suponhamos uma empresa com os dados a seguir: Custo variável unitário: R$100,00 Despesas financeiras: 5% sobre vendas Impostos sobre vendas: 10% Custo e despesa fixo: 12% sobre vendas Comissão sobre vendas: 3%Lucro desejado: 10% sobre vendas Preço = Custo variável unitário 1 – (% Impostos + % Comissão + % Desp. financeira + % Custo fixo + % Lucro) Preço = R$100,00 1 – (0,10 + 0,03 + 0,05 + 0,12 + 0,10) Preço = R$100,00 1 – (0,40) Preço = R$100,00 0,60 .:. Preço = R$166,67 Demonstração do resultado Preço de venda R$166,67 (–) Custo variável R$(100,00) (–) Impostos sobre vendas: 10% R$(16,67) (–) Comissão sobre vendas: 3% R$(5,00) (–) Despesas financeiras: 5% R$(8,33) (–) Fixo: 12% R$(20,00) (=) Lucro: 10% R$16,67 Então: R$16,67 R$166,67 = 10% Mark-up: fator de multiplicação Se, ao invés de trabalhar com o coeficiente divisor de 0,60 a empresa de- sejar transformá-lo num multiplicador, basta invertê-lo, aplicando a seguinte equação: 210 Formação do preço de venda Multiplicador: 1 0,60 = 1,6667 Portanto, o preço também pode ser calculado multiplicando o custo vari- ável por esse fator, assim teremos: R$100,00 . 1,6667 = R$166,67 Resumindo Utilizando o coeficiente divisor, a fórmula será: Preço: R$100,00 0,60 = R$166,67 Utilizando o fator de multiplicação, a fórmula será: R$100,00 . 1,6667 = R$166,67 O fator de multiplicação é bastante utilizado pelos lojistas para elabora- ção da tabela de preços a ser praticada pelos vendedores. Tratamento dado ao custo e despesa fixo O custo utilizado como base é o variável. Para se embutir o custo e a des- pesa fixo no preço é necessário transformá-lo em uma taxa, conforme visto no exemplo anterior, para isso deve se dividir o total de custo e despesa fixo pelo seu potencial de geração de receita. Havendo dificuldades para estabe- lecer esse potencial, pode se utilizar a receita orçada para o período. Não é uma prática correta adotar a receita atual, principalmente quando a empresa está com níveis de vendas bem abaixo da sua capacidade. Isso ocorrendo, a taxa ficará muito alta, aumentando demasiadamente o preço de venda do produto o que poderá gerar menores vendas e, consequente- mente, maiores taxas, virando uma bola de neve, por exemplo: Se o fixo for de R$120.000,00 e a receita atual da empresa estiver em R$1.000.000,00 a taxa será de 12%. Supondo que com a estrutura atual seja possível gerar uma receita de R$1.500.000,00, então, a taxa a ser utilizada deve ser de 8%. Utilizando a taxa de 12% estará sendo transferido para o preço a inefici- ência da empresa. Formação do preço de venda 211 Voltando ao exemplo anterior, se ao invés de utilizar 12% de custo fixo, adotasse a taxa de 8% sobre a receita potencial, o preço ficaria da seguinte forma: Preço = R$100,00 1 – (0,10 + 0,03 + 0,05 + 0,12 + 0,10) = R$166,67 Preço = R$100,00 1 – (0,10 + 0,03 + 0,05 + 0,08 + 0,10) Preço = R$100,00 1 – 0,36 Preço = R$100,00 0,64 .:. Preço = R$156,25 Utilizando a taxa de 12% ficará mais difícil para a área comercial vender o produto, pois o preço ficará mais alto = R$166,67 contra R$156,25. Daí surge o seguinte diálogo entre a área comercial e o departamento de controladoria: Comercial: – Eu não vendo porque nosso custo é muito alto. � Controladoria: – E o nosso custo é muito alto porque você não vende. � Verificamos, aqui, novamente, mais uma situação onde a inclusão do custo e despesa fixo nas análises gerenciais podem interferir negativamente no processo decisório. Exemplo de utilização conjunta das duas fórmulas para formação do preço Nesse exemplo serão adotadas as fórmulas do ponto de equilíbrio e do mark-up para formação do preço de venda. Supondo que a empresa de treinamento ITEC possua os seguintes dados: Receita por aluno: R$200,00 Custo variável por aluno: R$50,00 Custo fixo por curso: R$3.000,00 212 Formação do preço de venda Pede-se: Calcular quantos alunos serão necessários para obter lucro de R$1.200,00 por curso. Lucro desejado: CF + L Ru – CVu = q Lucro desejado: R$3.000,00 + R$1.200,00 R$200,00 – R$50,00 = 28 alunos Sabendo que sobre a receita terá que pagar 8% de impostos e sobre o lucro 30% de imposto de renda. Mantendo a mesma quantidade de alunos obtida no item anterior, quanto deverá ser a receita para obter o lucro líqui- do de R$1.200,00? Obs.: os impostos sobre a receita são considerados despesas variáveis, portanto entram no denominador da fórmula. O Imposto de Renda é cal- culado sobre o lucro, portanto, para obter o lucro líquido de R$1.200,00 terá que obter um lucro acima desse valor, sendo assim, teremos que aplicar a fórmula do mark-up e embutir o Imposto de Renda no lucro. A Receita unitária é a incógnita, será chamada de “Ru”. R$3.000,00 + R$1.200,00 1 – 0,30 Ru – R$50,00 – 0,08 Ru = 28 R$3.000,00 + R$1.714,29 0,92 Ru – R$50,00 = 28 R$4.714,29 = 28(0,92Ru – R$50,00) R$4.714,29 = 25,76Ru – R$1.400,00 R$6.114,29 = 25,76Ru Ru = R$6.114,29 25,76 .:. Ru = 237,36 Formação do preço de venda 213 Demonstração do resultado Receita 28 alunos . R$237,36 = R$6.646,00 (–) Impostos R$6.646,00 . 8% = R$(531,68) (–) Custo variável 28 alunos . R$50,00 = R$(1.400,00) (=) Margem de contribuição R$4.714,32 (–) Custo fixo R$(3.000,00) (=) Lucro antes do Imp.Renda R$1.714,32 (–) Imposto de Renda R$1.714,32 . 30% = R$(514,32) (=) Lucro líquido R$1.200,00 Ampliando seus conhecimentos No texto a seguir, Assef faz um resumo dos principais objetivos da correta formação de preços de venda. Importância estratégica (ASSEF, 2003) A correta formação de preços de venda é questão fundamental para a so- brevivência e o crescimento autossustentado das empresas, independente- mente de seus portes e de suas áreas de atuação. Somente através de uma política eficiente de preços, as empresas poderão atingir seus objetivos de lucro, crescimento a longo prazo, desenvolvimento de seus funcionários, atendimento qualificado a seus clientes etc. Política eficiente não significa, de modo algum, preços altos. Nem baixos. Pelo contrário! Além de perfeitamente identificada com o mercado de atua- ção, essa política deve contemplar a análise dos custos gerais da empresa, seu equilíbrio operacional e o retorno desejado pelos acionistas. 214 Formação do preço de venda É muito comum observarmos empresas que não têm a menor noção da lucratividade proporcionada por seus produtos e serviços, bem como, das ne- cessidades para atingir os respectivos equilíbrios operacionais. [...] Objetivos principais da correta formação de preços de venda De modo geral, os principais objetivos das políticas de preços para as em- presas são: Proporcionar, a longo prazo, o maior lucro possível. � Por que a longo prazo? Simples. A empresa é uma entidade que deve buscar, de modo geral, sua perpetuidade. Políticas de preço de curto prazo, voltados para a maximização dos lucros, devem ser utilizadas so- mente sob condições especiais, como, por exemplo, rara oportunidade de mercado. Permitir a maximização “lucrativa” da participação de mercado. � Maximizar a lucratividade significa vender considerando não apenas o faturamento, mas também a lucratividade das operações. Quantas ve- zes sua empresa não foi obrigada a vender “a preço de custo” ou até mesmo com prejuízo? Há várias razões para explicar essa sua posição: excesso de estoques, fluxo de caixa negativo, concorrência agressiva, sazonalidade etc. Saiba, porém, que essa prática é predatória e, a longo prazo, para os não excessivamente capitalizados, suicida. Participação de mercado deve ser buscada, obviamente, mas sempre de acordo com sua capacidade financeira. Maximizar a capacidade produtiva evitando ociosidades e desper- � dícios operacionais. Os preços de venda devem levar em consideração a capacidade de atendimento qualificado aos seus clientes, ou seja, de nada adianta, por Formação do preço de venda 215 exemplo, reduzir fortemente seus preços, se não houver como manter a qualidade ou os prazos de entrega. Preços acima do mercado podem igualmente levá-lo à ociosidade em sua estrutura de produção ou de pessoal. Esses custos “invisíveis” podem, a longo prazo, eliminá-lo da ati- vidade. Maximizaro capital empregado para perpetuar os negócios de � modo autossustentado. Em última instância, quando se aplica uma determinada quantia em qualquer negócio, o que se pretende é o seu retorno, ou seja, a amplia- ção do capital através dos lucros auferidos ao longo do tempo. Somen- te a correta fixação e mensuração dos preços de venda pode assegurar o caminho certo na busca desse objetivo. Atividades de aplicação 1. Supondo que uma escola tenha 30 alunos interessados em fazer o seu curso, considerando as informações abaixo, calcule o preço de venda: Custo variável por aluno R$100,00 Custo fixo mensal por curso R$10.000,00 Lucro desejado R$2.000,00 2. A Empresa Roy atualmente fabrica e vende 800 peças por mês e, está operando com prejuízo, conforme pode ser verificado em sua DRE. A empresa não tem capacidade produtiva para aumentar a produção e também não está conseguindo reduzir custo, sendo assim, sua última chance é tentar aumentar o preço. Calcule qual deve ser o preço de venda para que a empresa atinja seu ponto de equilíbrio, consideran- do os dados a seguir: Preço de venda: R$1.000,00 Custo variável unitário R$800,00 Comissão 5% do preço Custo fixo mensal R$150.000,00 216 Formação do preço de venda Demonstração do resultado – atual Receita 800 peças . R$1.000,00 = R$800.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 800 peças . R$800,00 = R$(640.000,00) (–) Comissão sobre vendas R$800.000,00 . 5% = R$(40.000,00) (=) Contribuição marginal R$120.000,00 (–) Custos e despesas Fixos R$(150.000,00) (=) Lucro contábil R$(30.000,00) 3. A Cia. Gananciosa deseja calcular seu preço de venda aplicando o Mark-up e conta com os seguintes dados: Custo por unidade R$100,00 ICMS 18% PIS e Cofins 9% Custos e despesas fixos 10% Lucro desejado sobre a receita 20% 4. A Cia. Gananciosa deseja calcular seu preço de venda aplicando o Mark-up e conta com os seguintes dados: Custo por unidade R$100,00 ICMS 18% Pis e cofins 9% Custos e despesas fixos 10% Lucro desejado sobre a receita 20% Além dos dados acima, a empresa tem que pagar 34% de Imposto de Renda. Para obter o lucro líquido de 20% sobre a receita, quanto deve- rá ser o preço de venda ? 5. A Cia. XYZ deseja calcular seu preço de venda aplicando o fator de multiplicação do Mark-up e conta com os seguintes dados: Custo variável unitário R$200,00 Impostos sobre a receita 28% Comissão sobre vendas 2% Custos e despesas fixos 15% Lucro desejado sobre a receita 10% Formação do preço de venda 217 6. A Cia. Formandos está calculando o valor da festa de formatura e conta com as seguintes informações: Valor do convite R$50,00 Custo variável por convidado R$10,00 Custo fixo R$8.000,00 a) Além das despesas acima os formandos desejam um lucro de R$4.000,00 para cobrir outros eventos que pretendem realizar. Quantos convites terão que vender para obter o lucro desejado? b) Sabe-se que sobre a receita terão que pagar imposto de 20% e so- bre o lucro 30% de imposto de renda. Mantendo a mesma quan- tidade de convidados do item anterior, quanto deverá ser o preço de cada convite para obter o lucro desejado de R$4.000,00? Gabarito 1. R$10.000,00 + R$2.000,00 Ru – R$100,00 = 30 R$12.000,00 = 30(Ru – R$100,00) R$12.000,00 = 30Ru – R$3.000,00 R$12.000,00 + R$3.000,00 = 30Ru R$15.000,00 = 30Ru Ru = R$15.000,00 30 .:. Ru = R$500,00 Demonstração do resultado Receita 30 alunos . R$500,00 = R$15.000,00 (–) Custos e despesas variáveis 30 alunos . R$100,00 = R$(3.000,00) (=) Contribuição marginal R$12.000,00 (–) Custos e despesas fixos R$(10.000,00) (=) Lucro contábil R$2.000,00 218 Formação do preço de venda 2. R$150.000,00 Ru – R$800,00 – 0,05Ru = 800 R$150.000,00 = 800(0,95Ru – R$800,00) R$150.000,00 = 760Ru – R$640.000,00 R$150.000,00 + R$640.000,00 = 760Ru R$790.000,00 = 760Ru Ru = R$790.000,00 760 .:. Ru = R$1.039,47 Demonstração do resultado Receita 800 peças . R$1.039,47 = R$831.578,95 (–) Custos e despesas variáveis 800 peças . R$800,00 = R$(640.000,00) (–) Comissão sobre vendas R$831.578,95 . 5% = R$(41.578,95) (=) Contribuição marginal R$150.000,00 (–) Custos e despesas fixos R$(150.000,00) (=) Lucro contábil R$0,00 3. Preço = R$100,00 1 – (0,18 + 0,09 + 0,10 + 0,20) Preço = R$100,00 1 – 0,57 Preço = R$100,00 0,43 .:. Preço = R$232,56 Demonstração do resultado Preço bruto R$232,56 (–) ICMS 18% R$(41,86) (–) PIS e Cofins 9% R$(20,93) (=) Preço líquido R$169,77 (–) Custo variável R$(100,00) (–) Custos e despesas fixos 10% R$(23,26) (=) Lucro R$46,51 Formação do preço de venda 219 4. Nesse caso, é necessário embutir o imposto de renda de 34% no lucro, para fazer isso, tem que aplicar o mark-up no percentual do lucro: Lucro = 20% 1 – 0,34 = 30,3% Preço = R$100,00 1 – (0,18 + 0,09 + 0,10 + 0,303) Preço = R$100,00 1 – 0,6730 Preço = R$100,00 0,3270 .:. Preço = R$305,84 Comprovando: Preço bruto R$305,81 (–) ICMS 18% R$(55,05) (–) PIS e Cofins 9% R$(27,52) (=) Preço líquido R$223,24 (–) Custo variável R$(100,00) (–) Custo e despesa fixo 10% R$(30,58) (=) Lucro antes do Imp. Renda R$92,66 30,3% sobre o preço bruto (–) Imposto de Renda: R$92,68 . 34% R$(31,50) (=) Lucro líquido 20% R$61,16 20% sobre o preço bruto 5. Somando todas as taxas, teremos: 0,28 + 0,02 + 0,15 + 0,10 = 0,55 Portanto: 1 – 0,55 = 0,45 Multiplicador: 1 0,45 = 2,2222 Custo variável: R$200,00 . 2,2222 Preço de venda: R$444,44 Comprovando: Preço R$444,44 (–) Impostos 28% R$(124,44) 220 Formação do preço de venda (–) Comissão 2% R$(8,89) (–) Custo variável R$(200,00) (–) Custo e despesa fixo 15% R$(66,67) (=) Lucro R$44,44 10% sobre o preço 6. a) R$8.000,00 + R$4.000,00 R$50,00 – R$10,00 = 300 convites b) A receita unitária é a incógnita, será chamada de “Ru”. R$8.000,00 + R$4.000,00 1 – 0,30 Ru – R$10,00 – 0,20 Ru = 300 R$8.000,00 + R$5.714,29 0,80Ru – R$10,00 = 300 R$13.714,29 = 300(0,80Ru – R$10,00) R$13.714,29 = 240Ru – R$3.000,00 R$13.714,29 + R$3.000,00 = 240Ru R$16.714,29 = 240Ru Ru = R$16.714,29 240 .:. Ru = R$69,64 Demonstração do resultado Receita bruta 300 convites . R$69,64 = R$20.892,86 (–) Impostos sobre a receita R$20.892,86 . 20% = R$( 4.178,57) (=) Receita líquida R$16.714,29 (–) Custos e despesas variáveis 300 convites . R$10,00 = R$(3.000,00) (=) Contribuição marginal R$13.714,29 (–) Custos e despesas fixos R$(8.000,00) (=) Lucro antes do Imp. Renda R$5.714,29 (–) Imposto de Renda R$5.714,29 . 30% = R$(1.714,29) (=) Lucro líquido R$4.000,00 Referências ASSEF, Roberto. Guia Prático de Formação de Preços: aspectos mercadológicos, tributários e financeiros para pequenas e médias empresas. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2003. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. 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