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Resenha MERCADOR DE VENEZA

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Resenha crítica MERCADOR DE VENEZA
Douglas Gomes de Sá Santana
Direção: Michael Radford. EUA, Itália, Luxemburgo e Reino Unido. 2004. 131min, Dolby Digital, Color, 35mm. 
Peça originalmente escrita por William Shakespeare e adaptada às telas por Michael Radford, O Mercador de Veneza gira em torno, essencialmente, da dívida entre Shylock (Al Pacino), o credor judeu, e Antônio (Jeremy Irons), o mercador cristão. Este último, cujos barcos que carregam sua riqueza navegam todos em alto-mar, contrai tal débito a fim de que Bassânio (Joseph Collins), seu falido amigo e amante, possa dignamente tentar a sorte ante um desafio do qual, se vitorioso, terá para si Portia (Lynn Collins), uma jovem e bela herdeira habitante dos arredores de Veneza. 
	Contudo, uma trama inofensiva torna-se mortífera devido aos intensos conflitos provocados por imposições católicas aos judeus, a escapada da filha única de Shylock, Jéssica (Zuleikha Robinson), motivada pelo amor correspondido pelo cristão Lorenzo (Charlie Cox), a incerteza do retorno das navegações do mercador para a quitação da dívida e, principalmente, da condição estabelecida caso o acordo não fosse devidamente cumprido: o corte de uma libra da carne de Antônio. 
	Radford acerta quando, logo na primeira cena, escancara o entrave condutor da trama: uma grande cruz imponente que vagueia pelos canais venezianos; a confusão e brigas nas ruas entre aqueles que usam os chapéus vermelhos (os judeus) e os que não o utilizam (os cristãos); o cuspe antissemita de Antônio direcionado ao inofensivo Shylock. Tudo isso embalado pelos brados de um membro do clérigo que afirma vigorosamente as distinções entre cristãos e não cristãos. 
	Os planos fechados, dominantes no longa, criam uma atmosfera intimista e de bastante expressão que, juntamente com a fotografia fria para as cenas mais tensas e dramáticas, exalta as relações entre personagens e enaltece a importância dessas interações e suas simbologias dentro do contexto de choques. A trilha sonora (e ausência dela), em oposição, não tem um grande destaque, mas é importante peça para a condução do enredo e a construção da sensibilidade do espectador. Isso pode ser fortemente observado, por exemplo, durante o brilhante monólogo carregado de vingança de Al Pacino àqueles que julga terem ajudado sua filha no escape que é, por certo, um dos pontos altos da trama. 
	O enredo multifacetado se mantém consistente e consegue envolver o espectador em seus pontos mais expressivos. Seja na busca e crescente romance de Bassânio e Portia, seja na divergência entre Shylock e Antônio ou posteriormente, no cruzamento inesperado dessas duas facetas no tribunal de quitação da dívida, quando Portia, tornada esposa do vitorioso Bassânio e com o poder concebido a ela por suas riquezas, consegue junto a sua acompanhante Nerissa (Heather Goldenhersh) defender Antonio no julgamento travestida de homem no lugar de seu tio, o verdadeiro advogado. 
	Além disso, as personagens, de forma geral, exibem bom desenvolvimento de suas histórias individuais e é possível compreender claramente o papel de cada uma com o avanço da narrativa. Contudo, há um choque perceptível entre a credulidade de algumas atuações, pois enquanto Al Pacino e Jeremy Irons destacam-se e a seus personagens, Joseph Fiennes e Lynn Collins foram pouco convincentes, particularmente Fiennes que, por vezes, parece um pouco forçoso em sua atitude de galã. 
	Quanto à produção, orçada em torno de 18 milhões de dólares, de certo foi bem investida nas locações, figurino e principalmente com a cenografia – chefiada por Bruno Rubeo e premiada em dois eventos internacionais - que valorizaram enormemente a peça. De modo geral, é um ótimo filme para aqueles que buscam se inteirar das tragédias shakespearianas de maneira mais descontraída e acessível.

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