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Cultura e Identidade Latino-americana Prof. Sandro Martins Costa Mendes Presenças do outro Eric Landowski Landowski fala da presença e usa a “língua” da semiótica. “Se o discurso (verbal, claro, mas também o do olhar, do gesto, da distância mantida) nos interessa, é porque ele preenche não só uma função de signo numa perspectiva comunicacional, mas porque tem ao mesmo tempo valor de ato: ato de geração de sentido, e, por isso mesmo, ato de presentificação. Daí essa ambição talvez desmedida: a semiótica do discurso que gostaríamos de empreender – a do discurso como ato -, deveria ser, no fundo, algo como uma poética da presença” (p. X) Texto de Landowski se baseia nos textos de nossa cotidianidade, tecida de uma infinidade de discursos sociais e de imagens, de usos estratificados e de práticas singulares em cujo entrelaçamento o sentido ora se faz, ora se dissolve. Corpus do trabalho do Landowski: Registros diversos: boatos, lugares comuns ou expressões oficiais, cenas de rua, cartas de amor ou de negócios, relatos de viagem e fotos de moda, artigos de imprensa ou de fragmentos literários. Também inclui os espaços de nossos encontros rotineiros: a praça púbica, o café, o teatro, a sala de visitas, por exemplo. Landowski percorre três caminhos (quase peircianos), mas parte do que seria o segundo caminho: o Outro (alter ego), para depois tratar do Um (ego). Então, coloca em primeiro lugar o regime de alteridade do não-si, segundo o qual os sujeitos se identificam reciprocamente (1ª parte, identificações) para poder, apenas em seguida, ir ao encontro do si (aquele que diz e se diz eu), e falar de sua eventual presença para si mesmo (2ª parte presentificações) para depois surgir a figura do Terceiro que lhe envia a própria imagem, representando-o (3ª parte representações) PARTE 1 identificações Como viver a presença da estranheza diante de nós (cap. 1) Práticas identitárias recorridas pelo outro para dar sentido à sua alteridade (cap. 2) Como estar ali de passagem e ainda ser ali si mesmo (cap. 3) O livro é de semiótica, mas pouco apresenta de semiótica mais complexa, mas sim, de forma prática. PARTE 2 presentificações Sujeito descobre a si mesmo, através da: • Moda; • Leitura de imagem (publicitária) • Prática de escritura (carta) PARTE 3 representações • Representação política – Eles. • Nos reconhecemos nessa terceira pessoa? PARTE 1 IDENTIICAÇÕES Buscas de Identidade, Crises de Alteridade Sentido e diferença Na língua só se podem identificar unidades pela observação das diferenças que as interdefinem. Relação sobre os termos que está na base do procedimento semiótico “Para que o mundo faça sentido e seja analisável enquanto tal, é preciso que ele nos apareça como um universo articulado – como um sistema de relações no qual, por exemplo, o “dia” não é a “noite”, vida se opõe à morte, cultura se diferencia da natureza.” Portanto, reconhecimento de uma diferença. O Sujeito (eu ou nós), considerado como uma grandeza sui generis a constituir-se do ponto de vista de sua “identidade” . Condenado a só poder construir-se pela diferença. Sujeito tem necessidade de um ele - dos outros (eles) – para chegar à existência semiótica. Duas razões para isso: O que dá forma à minha identidade não é só a maneira pela qual, reflexivamente, eu me defino (ou tento) em relação à imagem que outro envia de mim mesmo; é também a maneira pela qual objetivo a alteridade do outro atribuindo um conteúdo específico à diferença que me separa dele. A emergência do sentimento de identidade parece passar necessariamente pela intermediação de uma alteridade a ser construída. EU através da imagem que o outro tem de mim (e me manda); através da diferença que vejo no outro. Porém, o outro que antes estava tão distante, agora está aqui, e precisamos coexistir. Então não basta mais apenas entender ou mitificar a cultura do outro. Agora é preciso viver com ela. “É neste contexto que se desenvolve doravante, aqui e ali, um discurso social da conquista ou da reconquista de uma identidade concebida como ameaçada e que ressurgem práticas de enfrentamento sociocultural de caráter às vezes dramático que acreditávamos ter desaparecido, como se se tratasse de reduzir mais uma vez o dessemelhante – primeiramente o estrangeiro, o gringo, mas também o marginal, o excluído, o transviado etc – a uma posição de pura exterioridade”. Landowski fala da tentativa da formação de uma identidade europeia comum. E nessa tentativa, onde fica o Outro? Landowski diz que somos testemunhas de uma crise de alteridade. E vai encarar diferentes formas de articulação possíveis da relação entre o Nós e seu Outro ASSIMILAÇÃO VERSUS EXCLUSÃO Como todo mundo Achar que é “Todo mundo”. Frase empregada associada a um valor universal aos usos locais aos modos de viver, de agir e reagir, de sentir e de pensar que são “os nossos” “Sejam bem-vindos todos, de onde quer que tenham vindo, desde que todos, por mais longínquo seja o lugar de onde vieram, façam o mais rápido possível um esforço para tornar-se como nós!” Espera-se que a escola possa fazer com a língua, costumes, crenças, que os filhos sejam verdadeiros nós. O Nós entende que seus valores morais, sociais, estéticos e outros, forjados pela nação através do século de luta sempre por mais humanismo (ocidente, França) refinamento e democracia, têm, por definição um alcance universal. Então como os outros não querem ter? Sr. Todo Mundo Tem um pensamento contrário ao do Antropólogo. O antropólogo parte do postulado de que os comportamentos dos grupos humanos, quaisquer que sejam eles – inclusive aqueles dos mais “selvagens” – têm um sentido, ou, em outras palavras, obedecem a uma lógica própria que é possível descobrir e compreender. Sr. Todo Mundo Considera como adquirida a irracionalidade (se não a perversidade intrínseca) daqueles que pensam e agem em função de visões de mundo diferentes da sua. Quando muito, talvez ele atribua a algumas das esquisitices do estrangeiro um valor estético particular, ligado aos efeitos de estranhamento que elas exercem “administrado em dosagem moderada, o exotismo pode efetivamente ter seu encanto, como espetáculo a ser visto no local”. (p.6) No solo estrangeiro, dão cor local, mas dificilmente são toleradas como exportação, pois trazem desordem. As “estrangeirices” do estrangeiro, quer as achemos (conforme o contexto) pitorescas, encantadoras ou execráveis, são aqui objeto de um ´nico e mesmo modo de observação e avaliação. “A atenção se foca pontualmente num pequeno número de manifestações de superfície que nos apressamos seja a supervalorizar, seja a depreciar por si mesmas, sem nos preocuparmos com o lugar que elas ocupam nem, por conseguinte, com o significado que assumem no interior dos sistemas de valores, crenças e ação dos quais fazem parte. Para ser diferente, deveria, pelo menos, querer saber o que rege as idiossincrasias, tentar entender o sistema que as subentendem. Parece que as diferenças no Outro são como acidentes da natureza, e não como elementos que assumiram um sentido no interior de uma (outra) cultura. Desqualificação do outro, pois não parece ter uma identidade estruturada. Razões e paixões Sr. Todo Mundo tem pretensão racional. Acredita sersem ódio e sem preconceito. Não se considera, portanto, xenófobo. Quer “ajudar” o estrangeiro a livrar-se daquilo que faz com que ele seja outro, quer reduzir o Outro ao Mesmo Assimilação = razão Já o discurso de exclusão, passa pelo afeto. Por que não admitir que o estrangeiro nunca será dos nossos, que não deve se tornar um dos nossos? Que seu “odor” odioso deve-se à sua raça e não pode ser eliminado? O discurso de Exclusão procede de um gesto passional que tende à negação do Outro enquanto tal. Assimilar e excluir são atitudes que parecem se opor, mas guardam espécie de afinidade tácita. Não é difícil assinalar núcleo de pressupostos, ou melhor, preconceitos comuns aos dois. Padronização do mesmo ou eliminação do outro pretendem controlar fluxo vindo do exterior e impedir perturbação do equilíbrio interior. A alteridade só pode ser pensada como uma diferença vinda de alhures, e que assume, por natureza a forma de uma ameaça. Como se vê, assimilação e exclusão não passam das duas faces de uma única e mesma resposta à demanda de reconhecimento dos dessemelhante: “Tal como se apresenta, você não tem lugar entre nós”. LANDOWSKI, Eric. Presenças do outro. São Paulo: Perspectiva, 2012. Esses arquivos são apenas referências utilizadas em sala de aula para iniciar o debate e argumentação. Não funcionam, portanto, como único material de estudo. O texto aqui apresentado foi retirado do livro acima e tem finalidade didática, por isso não deve ser compartilhado.
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