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�PAGE � �PAGE �20� PROF. WAGNER VIEIRA DE CARVALHO Licenciado em Português e Latim pela UFMG Bacharel em Direito pelo UNIBH Especialização em Língua Portuguesa pelo UNIBH Mestre em Educação pela UNIMARCO/SP LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS Belo Horizonte 2018 SUMÁRIO 1. ESTRATÉGIA DE LEITURA DE OLGA MOLINA 03 2. RESUMO 03 3. CÓDIGO PARA REVISÃO TEXTUAL 04 4. CONCEITO DE TEXTO 05 4.1.1 Roteiro de leitura sobre coerência 06 4.1.2 Texto e exercícios sobre coerência 06 4.1.3 Texto e exercícios sobre coesão 11 4.1.4 Conectores do português escrito padrão 19 4.1.5 Recursos de coesão 19 5. PARÁGRAFO: ROTEIRO DE LEITURA 21 5.1.1 Texto e exercício sobre parágrafo 22 5.1.2 Esquema sobre os tipos de introdução e desenvolvimento de parágrafo 28 5.1.3 Como organizar o parágrafo 28 6. FICHAMENTO 32 7. RESENHA 33 7.1 Dois exemplos de resenha acadêmica 35 8. ARGUMENTAÇÃO LÓGICA E RETÓRICA 37 8.1 Como verificar o valor lógico-material de um argumento 40 8.1.1 Exercícios de argumentação 40 8.1.2 Tipos de falácia 45 8.1.3 Texto sobre falácias não-formais 49 9. CONCEITO DE REVISÃO E EDIÇÃO DE TEXTOS E COMO SIMPLIFICAR TEXTOS INFORMATIVOS 67 10. CORRESPONDÊNCIA EMPRESARIAL 68 10.1 Currículo 75 10.2 Requerimento 79 10.3 Ata 80 1. ESTRATÉGIA DE LEITURA DE OLGA MOLINA Objetivo Desenvolver a habilidade de ler textos técnico-informativos. Passos Registrar, por escrito, o título e subtítulos do texto. Dessa forma, já se visualiza o esquema seguido pelo autor. Formular perguntas sobre o texto, antes de lê-lo, fundamentadas apenas no esquema seguido pelo autor, ou seja, no título, subtítulos e, se houver, nas informações não-verbais: gráficos, charges, tabelas, etc. Ler todo o texto e fazer um levantamento apenas das palavras não compreendidas pelo contexto. Identificar e transcrever, com suas palavras, as idéias principais do texto, apoiando-se em dois critérios: no seu objetivo de leitura e nas marcas textuais normalmente usadas para destacar idéias, como CAIXA-ALTA, negrito, itálico, sublinhado, aspas e, principalmente, no título e subtítulos (esquema do texto). Resumir o texto e, finalmente, resenhá-lo. REFERÊNCIA MOLINA, Olga. Lendo e aprendendo. In: ______. Ler para aprender: desenvolvimento de habilidades de estudo. São Paulo: EPU, 1992. cap. 2, p. 25-53. 2. RESUMO Conceito “[...] forma de reunir e apresentar por escrito, de maneira concisa, coerente e freqüentemente seletiva, as informações básicas de um texto preexistente. Em outras palavras, é a condensação de um texto, pondo-se em destaque os elementos de maior interesse e importância.” (FLÔRES et al., 1992, p.138). Características Apresentar, de forma sucinta, objetiva, o assunto da obra, texto, artigo, etc.; ser seletivo e não mera repetição das idéias do autor; evitar transcrições de frases do original; utilizar suas próprias palavras. Quando citar as do autor, colocá-las entre aspas; empregar linguagem clara, objetiva e econômica. Optar por palavras e expressões curtas; preferir a forma impessoal, ou seja, discurso em 3ª pessoa do singular ou do plural; o resumo deve ser composto de uma seqüência de frases concisas, diretas e interligadas (coesão); apresentar referência segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). REFERÊNCIA FLÔRES, L. L. et al. Redação: o texto técnico-científico e o texto literário. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1992. 3. CÓDIGO PARA REVISÃO TEXTUAL ABR. = abreviatura AL. = alinhar AC = acentuação CA = caixa-alta (letra maiúscula) CB = caixa-baixa (letra minúscula) CN = concordância nominal CO1 = coerência (lexical, narrativa e argumentativa) CO2 = coesão (emprego de conjunções, advérbios, pronomes, etc.) CP = colocação pronominal CONJ. V. = conjugação verbal CR. = crase CV = concordância verbal DE = dar espaço DIAG. = diagramação (distribuição harmônica do texto pela página) ED. = edição EPD = eliminar palavras desnecessárias FORM. = formatar FP = faltou palavra HIF. = hifenizar ITAL. = italicizar NEG. = negritar ORT. = ortografia PAR. = paragrafação (divisão e desenvolvimento dos parágrafos no texto) PD = palavra desnecessária RI = referência incorreta (fora dos padrões da ABNT) TA = tirar aspas TE = tirar espaço VG = vírgula 4. CONCEITO DE TEXTO Etimologia Do latim textu- (entrelaçamento, tecido), derivado do verbo texere (tecer, tramar, urdir; construir, edificar), cuja origem remonta ao sânscrito taks (fabricar). Conceito “[...] unidade lingüística concreta (perceptível pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), em uma situação de interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua extensão.” (KOCH; TRAVAGLIA, 1993, p. 8-9). “[...] o texto se constitui de um conjunto de pistas destinadas a orientar o leitor na construção do sentido [...].” (KOCH, 2003, p. 62) REFERÊNCIAS KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e coerência. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1993. KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003. Prof. Wagner Carvalho Conteúdo: Coerência e coesão Referência FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. 8. ed. São Paulo: Ática, 1994. 5. ROTEIRO DE LEITURA SOBRE COERÊNCIA Questões Com suas palavras, conceitue os três tipos de coerência: narrativa, figurativa e argumentativa. Redija três textos pequenos, com no mínimo três parágrafos, em que sobressaiam: no primeiro, alguma coerência narrativa; no segundo, figurativa; no terceiro, argumentativa. Ao final, intitule seus textos. Solucione os exercícios da apostila sobre coerência e coesão. COERÊNCIA Observe o texto que segue: Havia um menino muito magro que vendia amendoins numa esquina de uma das avenidas de São Paulo. Ele era tão fraquinho, que mal podia carregar a cesta em que estavam os pacotinhos de amendoim. Um dia, na esquina em que ficava, um motorista, que vinha em alta velocidade, perdeu a direção. O carro capotou e ficou de rodas para o ar. O menino não pensou duas vezes. Correu para o carro e tirou de lá o motorista, que era um homem corpulento. Carregou-o até a calçada, parou um carro e levou o homem para o hospital. Assim, salvou-lhe a vida. Esse texto, uma redação escolar, apresenta uma incoerência: se o menino era tão fraco que quase não podia carregar a cesta de amendoins, como conseguiu carregar um homem corpulento até o carro? Quando se fala em redação, sempre se aponta a coerência das idéias como uma qualidade indispensável para qualquer tipo de texto. Mas nem todos explicam de maneira clara em que consiste essa coerência, sobre a qual tanto se insiste, e como se pode consegui-la. Coerência deve ser entendida como unidade do texto. Um texto coerente é um conjunto harmônico, em que todas as partes se encaixam de maneira complementar de modo que não haja nada destoante, nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo. No texto coerente, não há nenhuma parte que não se solidarize com as demais. Todos os elementos do texto devem ser coerentes. Vamos mostrar apenas três dos níveis em que a coerência deve ser observada: coerência narrativa; coerência figurativa; coerência argumentativa. Vamos partir de exemplos de incoerências, mais simples de perceber, para mostrar o que é coerência. Coerência narrativa É incoerente narrar uma história em que alguém está descendo uma ladeira num carro sem freios, que pára imediatamente,depois de ser brecado, quando uma criança lhe corta a frente. A preocupação com a coerência e a unidade do texto pressupõe que se conjuguem apropriadamente esses elementos. Se na narrativa aparecem indicadores de que um personagem é tímido, frágil e introvertido, seria incoerente atribuir a esse mesmo personagem o papel de líder e agitador dos foliões por ocasião de uma festa pública. Obviamente, a incoerência deixaria de existir se algum dado novo justificasse a transformação do referido personagem. Uma bebedeira, por exemplo, poderia desencadear essa mudança. Muitos outros casos de incoerência desse tipo podem ser apontados. Dizer, por exemplo, que um personagem foi a uma partida de futebol, sem nenhum entusiasmo, pois já esperava ver um mau jogo, e, posteriormente, afirmar que esse mesmo personagem saiu do estádio decepcionado com o mau futebol apresentado é incoerente. Quem não espera nada não pode decepcionar-se. É incoerente ainda dizer que alguém é totalmente indiferente em relação a uma pessoa e caiu em prantos quando soube que ela casou-se e viajou para o exterior. As incoerências podem ser utilizadas para mostrar a dupla face de um mesmo personagem, mas esse expediente precisa ficar esclarecido de algum modo no decorrer do texto. Coerência figurativa Suponhamos que se deseje figurativizar o tema “despreocupação”. Podem-se usar figuras como “pessoas deitadas à beira de uma piscina”, “drinques gelados”, “passeios pelos shoppings”. Não caberia, no entanto, na figurativização desse tema, a utilização de figuras como “pessoas indo apressadas para o trabalho”, “fábricas funcionando a pleno vapor”. Por coerência figurativa entende-se a articulação harmônica das figuras do texto, com base na relação de significado que mantêm entre si. As várias figuras que ocorrem num texto devem articular-se de maneira coerente para constituir um único bloco temático. A ruptura dessa coerência pode produzir efeitos desconcertantes. Todas as figuras que pertencem ao mesmo tema devem pertencer ao mesmo universo de significado. Resumidamente, vamos relembrar que manipulação é a fase em que alguém é induzido a querer ou dever realizar uma ação; competência, a fase em que esse alguém adquire um poder ou um saber para realizar aquilo que ele quer ou deve; performance, a fase em que de fato se realiza a ação; sanção, a fase em que se recebe a recompensa ou o castigo por aquilo que se realizou. Essas quatro fases se pressupõem, isto é, a posterior depende da anterior. Assim, por exemplo, um sujeito só pode fazer alguma coisa (performance) se souber ou puder fazê-la (competência). Constitui, portanto, uma incoerência narrativa relatar uma ação realizada por um sujeito que não tinha competência para realizá-la. A título de exemplo, vamos citar um desses equívocos cometidos em redação, relatado pela Prof. Diana Luz Pessoa de Barros num livro sobre redação no vestibular: Lá dentro havia uma fumaça formada pela maconha e essa fumaça não deixava que nós víssemos qualquer pessoa, pois ela era muito intensa. Meu colega foi à cozinha me deixando sozinho, fiquei encostado na parede da sala e fiquei observando as pessoas que lá estavam. Na festa havia pessoas de todos os tipos: ruivas, brancas, pretas, amarelas, altas, baixas, etc. Nesse caso, o sujeito não podia ver e viu. O texto tornar-se-ia coerente se o narrador dissesse que ficara encostado à parede imaginando as pessoas que estavam por detrás da cortina de fumaça. Outros casos de incoerência narrativa podem ocorrer. Se, por exemplo, um personagem adquire um objeto de outro, é claro que esse outro deixou de possuí-lo. Assim, é incoerente relatar, numa certa altura da narrativa, que roubaram de uma senhora um valiosíssimo colar de pérolas e, numa passagem posterior, sem dizer que ela o tenha recuperado, referir-se ao mesmo colar envolvendo o pescoço da mesma senhora numa recepção de gala. Um outro tipo de incoerência narrativa pode ocorrer em relação à caracterização dos personagens e às ações atribuídas a eles. No percurso da narrativa, os personagens são descritos como possuidores de certas qualidades (alto, baixo, frágil, forte), atribuem-se a eles certos estados de alma (colérico, corajoso, tímido, introvertido, apático, combativo). Essas qualidades e estados de alma podem combinar-se ou repelir-se, alguns comportamentos dos personagens são compatíveis ou incompatíveis com determinados traços de sua personalidade. Suponhamos, a título de exemplo, que se pretenda figurativizar o tema do requinte e da sofisticação para caracterizar certo personagem. Para ser coerente, é necessário que todas as figuras encaminhem para o tema do requinte. Pode-se citar, ao descrever sua casa: a lareira, o tapete persa, os cristais da Boêmia, a porcelana de Sèvres, o doberman ressonando no tapete, um quadro de Portinari e outras figuras do mesmo campo de significado. Constituiria incoerência figurativa gritante incluir nesse conjunto de elementos Agnaldo Timóteo cantando na vitrola um bolero sentimentalóide. Essa ruptura se justificaria se a intenção fosse o humor, a piada, a ridicularização, ou mostrar o paradoxo de que o requinte é apenas exterior. Sem essas intenções definidas de denunciar o paradoxo ou de ridicularizar, as figuras pertencentes a um mesmo tema devem articular-se harmoniosamente. Um último exemplo. Suponhamos que se queira mostrar a vida no Pólo Norte. Podem-se para isso usar figuras como “neve”, “pessoas vestidas com roupas de pele”, “renas”, “trenós”. Não se podem, porém, utilizar figuras como “palmeiras”, “cactos”, “camelos”, “estradas poeirentas”. Coerência argumentativa Quando se defende o ponto de vista de que o homem deve buscar o amor e a amizade, não se pode dizer em seguida que não se deve confiar em ninguém e que por isso é melhor viver isolado. Num esquema de argumentação, joga-se com certos pressupostos ou certos dados e deles se fazem inferências ou se tiram conclusões que estejam verdadeiramente implicados nos elementos lançados como base do raciocínio que se quer montar. Se os pressupostos ou os dados de base não permitem tirar as conclusões que foram tiradas, comete-se a incoerência de nível argumentativo. Se o texto parte da premissa de que todos são iguais perante a lei, cai na incoerência se defender posteriormente o privilégio de algumas categorias profissionais não estarem obrigadas a pagar imposto de renda. O argumentador pode até defender essas regalias, mas não pode partir da premissa de que todos são iguais perante a lei. Assim também é incoerente defender o ponto de vista contrário a qualquer tipo de violência e ser favorável à pena de morte, a não ser que não se considere a ação de matar como uma ação violenta. EXERCÍCIO Sublinhe, classifique e justifique os tipos de incoerência encontrados nos cinco textos abaixo. Texto 1 Devo confessar que morria de inveja de minha coleguinha por causa daquela boneca que o pai lhe trouxera da Suécia: ria, chorava, balbuciava palavras, tomava mamadeira e fazia xixi. Ela me alucinava. Sonhei com ela noites a fio. Queria dormir com ela uma noite que fosse. Um dia, minha vizinha esqueceu-a em minha casa.. Fui dormir e, no dia seguinte, quando acordei, lá estava a boneca no mesmo lugar em que minha amiguinha havia deixado. Imaginando que ela estivesse preocupada, telefonei-lhe e ela mais do que depressa veio buscá-la. Texto 2 Conheci Sheng no primeiro colegial e aí começou um namoro apaixonado que dura até hoje e talvez para sempre. Mas não gosto da sua família: repressora, preconceituosa, preocupada em manter as milenares tradições chinesas. O pior é que sou brasileira, detesto comida chinesa e não sei comer com pauzinhos. Em casa, só falam chinês e de chinês eu só sei o nome do Sheng. No dia do seu aniversário, já fazia dois anos de namoro, ele ganhou coragem e me convidou para jantar em sua casa. Eu não podia recusar e fui. Fiquei conhecendo os velhos, conversei com eles, ouvi muitashistórias da família e da China, comi tantas coisas diferentes que nem sei. Depois fomos ao cinema eu e o Sheng. Texto 3 Era meia-noite. Oswaldo preparou o despertador para acordar às seis da manhã e encarar mais um dia de trabalho. Ouvindo o rádio, deu conta de que fizera sozinho a quina da loto. Fora de si, acordou toda a família e bebeu durante a noite inteira. Às quinze para as seis, sem forças sequer para erguer-se da cadeira, o filho mais velho teve de carregá-lo para a cama. Não tinha mais força nem para erguer o braço. Quando o despertador tocou, Oswaldo, esquecido da loteria, pôs-se imediatamente de pé e ia preparar-se para ir trabalhar. Mas o filho, rindo, disse: pai, você não precisa trabalhar nunca mais na vida. Texto 4 O quarto espelha as características de seu dono: um esportista, que adorava a vida ao ar livre e não tinha o menor gosto pelas atividades intelectuais. Por toda a parte, havia sinais disso: raquetes de tênis, prancha de surf, equipamento de alpinismo, skate, um tabuleiro de xadrez com as peças arrumadas sobre uma mesa e as obras completas de Shakespeare. Texto 5 Embora existam políticos competentes e honestos, preocupados com as legítimas causas populares, os jornais, na semana passada, noticiaram casos de corrupção comprovada, praticados por um político eleito pelo povo. Isso demonstra que o povo não sabe escolher seus governantes. COESÃO TEXTUAL Quando lemos com atenção um texto bem construído, não nos perdemos por entre os enunciados que o constituem, nem perdemos a noção de conjunto. Com efeito, é possível perceber a conexão existente entre os vários segmentos de um texto e compreender que todos estão interligados entre si. A título de exemplificação do que foi dito, observe-se o texto que vem a seguir: É sabido que o sistema do Império Romano dependia da escravidão, sobretudo para a produção agrícola. É sabido ainda que a população escrava era recrutada principalmente entre prisioneiros de guerra. Em vista disso, a pacificação das fronteiras fez diminuir consideravelmente a população escrava. Como o sistema não podia prescindir da mão-de-obra escrava, foi necessário encontrar outra forma de manter inalterada essa população. Como se pode observar, os enunciados desse texto não estão amontoados caoticamente, mas estritamente interligados entre si: ao se ler, percebe-se que há conexão entre cada uma das partes. A essa conexão interna entre os vários enunciados presentes no texto dá-se o nome de coesão. Diz-se, pois, que um texto tem coesão quando seus vários enunciados estão organicamente articulados entre si, quando há concatenação entre eles. A coesão de um texto, isto é, a conexão entre os vários enunciados obviamente não é fruto do acaso, mas das relações de sentido que existem entre eles. Essas relações de sentido são manifestadas, sobretudo, por certa categoria de palavras, as quais são chamadas conectivos ou elementos de coesão. Sua função no texto é exatamente a de pôr em evidência as várias relações de sentido que existem entre os enunciados. No caso do texto citado anteriormente, pode-se observar a função de alguns desses elementos de coesão. A palavra ainda no primeiro parágrafo (“É sabido ainda que” ...) serve para dar continuidade ao que foi dito anteriormente e acrescentar um outro dado: que o recrutamento de escravos era feito junto dos prisioneiros de guerra. O segundo parágrafo inicia-se com a expressão em vista disso, que estabelece uma relação de implicação causal entre o dado anterior e o que vem a seguir: a pacificação das fronteiras diminui o fornecimento de escravos porque estes eram recrutados principalmente entre os prisioneiros de guerra. O terceiro parágrafo inicia-se pelo conectivo como, que manifesta outra relação causal, isto é: foi necessário encontrar outra forma de fornecimento de escravos porque o sistema não podia prescindir deles. São várias as palavras que, num texto, assumem a função de conectivo ou de elemento de coesão: as preposições: a, de, para, com, por, etc.; as conjunções: que, para que, quando, embora, mas, e, ou, etc,. os pronomes: ele, ela, seu, sua, este, esse, aquele, que, o qual, etc.; os advérbios: aqui, aí, lá, assim, etc. O uso adequado desses elementos de coesão confere unidade ao texto e contribui consideravelmente para a expressão clara das idéias. O uso inadequado sempre tem efeitos perturbadores, tornando certas passagens incompreensíveis. Para dar idéia da importância desses elementos na construção das frases e do texto, vamos comentar sua funcionalidade em algumas situações concretas da língua e mostrar como o seu mau emprego pode perturbar a compreensão. A coesão no período composto O período composto, como o nome indica, é constituído de várias orações, que, se não estiverem estruturadas com coesão, de acordo com as regras do sistema lingüístico, produzem um sentido obscuro, quando não, incompreensível. O período que segue é plenamente compreensível porque os elementos de coesão estão bem empregados: Se estas indústrias são poluentes, devem abandonar a cidade, para que as boas condições de vida sejam preservadas. Esse período consta de três orações, e a oração principal é: devem abandonar a cidade; antes da principal vem uma oração que estabelece a condição que vai determinar a obrigação de as indústrias abandonarem a cidade (o conectivo, no caso, é a conjunção se); depois da oração principal segue uma terceira oração, que indica a finalidade que se quer atingir com a expulsão das indústrias poluentes (o conectivo é a conjunção para quê). Muitas vezes, nas suas redações, os alunos constroem períodos incompreensíveis, por descuidarem dos princípios de coesão. Não é raro, por exemplo, ocorrerem períodos desprovidos da oração principal, como nos exemplos que seguem: O homem que tenta mostrar a todos que a corrida armamentista que se trava entre as grandes potências é uma loucura. Ao dizer que todo o desejo de que os amigos viessem à sua festa desaparecera, uma vez que seu pai se opusera à realização. No primeiro período temos: o homem; que tenta mostrar a todos: oração subordinada adjetiva; que a corrida armamentista é uma loucura: oração subordinada substantiva objetiva direta; que se trava entre as grandes potências: oração subordinada adjetiva. A segunda oração está subordinada àquela que seria a primeira, referindo-se ao termo homem; a terceira é subordinada à segunda; a quarta à terceira. A primeira oração está incompleta. Falta-lhe o predicado. O aluno colocou o termo a que se refere a segunda oração, começou uma sucessão de inserções e “esqueceu-se” de desenvolver a idéia principal. No segundo período, só ocorrem orações subordinadas. Ora, todos sabemos que uma oração subordinada pressupõe a presença de uma principal. A escrita não exige que os períodos sejam longos e complexos, mas que sejam completos e que as partes estejam absolutamente conectadas entre si. Para evitar deslizes como o apontado, graves porque o período fica incompreensível, não é preciso analisar sintaticamente cada período que se constrói. Basta usar a intuição lingüística que todos os falantes possuem e reler o que se escreveu, preocupado com verificar se tem sentido aquilo que acabou de ser redigido. Ao escrever, devemos ter claro o que pretendemos dizer e, uma vez escrito o enunciado, devemos avaliar se o que foi escrito corresponde àquilo que queríamos dizer. A escolha do conectivo adequado é importante, já que é ele que determina a direção que se pretende dar ao texto, é ele que manifesta as diferentes relações entre os enunciados. EXERCÍCIO Questões de 1 a 4 Nas questões de 1 a 4, apresentamos alguns segmentos de discurso separados por ponto-final. Retire o ponto-final e estabeleça entre eles o tipo de relação que lhe parecer compatível, usando para isso os elementos de coesão adequados. Questão 1 O solo do nordeste é muito seco eaparentemente árido. Quando caem as chuvas, imediatamente brota a vegetação. Questão 2 Uma seca desoladora assolou a região Sul, principal celeiro do país. Vai faltar alimento, e os preços vão disparar. Questão 3 Vai faltar alimento, e os preços vão disparar. Uma seca desoladora assolou a região Sul, principal celeiro do país. Questão 4 O trânsito em São Paulo ficou completamente paralisado dia 15, das 14 às 18 horas. Fortíssimas chuvas inundaram a cidade. Questões de 5 a 8 As questões de 5 a 8 apresentam problemas de coesão por causa do mau uso do conectivo, isto é, da palavra que estabelece a conexão. A palavra ou expressão conectiva inadequada vem em destaque. Procure descobrir a razão dessa impropriedade de uso e substituir a forma errada pela correta. Questão 5 Em São Paulo já não chove há mais de dois meses, apesar de que já se pensa em racionamento de água e energia elétrica. Questão 6 As pessoas caminham pelas ruas, despreocupadas, como se não existisse perigo algum, mas o policial continua folgadamente tomando o seu café no bar. Questão 7 Talvez seja adiado o jogo entre Botafogo e Flamengo, pois o estado do gramado do Maracanã não é dos piores. Questão 8 Uma boa parte das crianças mora muito longe, vai à escola com fome, onde ocorre o grande número de desistências. Questão 9 Leia o período que segue: Chegaram instruções repletas de recomendações para que os participantes do congresso, que, por sinal, acabou não se realizando por causa das fortes chuvas, que inundaram a cidade e paralisaram todos os meios de comunicação. É totalmente compreensível o seu conteúdo? Qual o seu grande defeito? EXERCÍCIO Para cada um dos exercícios, você terá um “texto básico” onde não está ainda realizada a coesão. Essa tarefa caberá a você, à medida que for capaz de substituir os termos repetidos pelos elementos constantes dos mecanismos de coesão já estudados. Você deverá, em primeiro lugar, fazer um levantamento de sinônimos ou expressões adequadas e substituir os termos que se repetem. Assim, no exercício 1, é importante saber que baleias podem ser chamadas de cetáceos, grandes animais marinhos; que China, no exercício 3, pode ser chamada de grande país amarelo, gigante amarelo, etc. Esse levantamento permitirá uma maior agilidade no uso da coesão lexical. 1. Construa uma nova versão do texto abaixo, utilizando, em relação à palavra baleia, os mecanismos de coesão que julgar adequados. Todos os anos dezenas de baleias encalham nas praias do mundo e até há pouco nenhum oceanógrafo ou biólogo era capaz de explicar por que as baleias encalham. Segundo uma hipótese corrente, as baleias se suicidariam ao pressentir a morte, em razão de uma doença grave ou da própria idade, ou seja, as baleias praticariam uma espécie de eutanásia instintiva. Segundo outra, as baleias se desorientariam por influência de tempestades magnéticas ou de correntes marinhas. Agora, dois pesquisadores do Departamento de História Natural do Museu Britânico, com sede em Londres, encontraram uma resposta científica para o suicídio das baleias. De acordo com Katharine Parry e Michael Moore, as baleias são desorientadas de suas rotas em alto-mar para as águas rasas do litoral por ação de um minúsculo verme de apenas 2,5 centímetros de comprimento. 2. Construa uma nova versão do texto abaixo, utilizando, em relação à palavra Vera, os mecanismos de coesão que julgar adequados. Desde cedo o rádio noticiava: um objeto voador não identificado estava provocando pânico entre os moradores da Valéria. A primeira reação de Vera foi sair da cama e correr para o porto. Fazia seis meses que Vera andava trabalhando em Parintins. Vera levantava cedo todos os dias e passava a manhã inteira conversando com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Vera estava em Parintins, tentando convencer os trabalhadores a mudar a técnica do plantio da várzea. 3. Faça o mesmo exercício em relação à palavra China no texto abaixo: A China é mesmo um país fascinante, onde tudo é dimensionado em termos gigantescos. A China é uma civilização milenar. A China abriga, na terceira maior extensão territorial planetária (com 9 960 547 km²), cerca de 1 bilhão e 100 mil habitantes, ou seja, um quarto de toda a humanidade. Mencionar tudo o que a China, um tanto misteriosa, tem de grande ocuparia um espaço também exagerado. 4. Idem. Durante mais de um ano, o artista plástico baiano Emanoel Araújo empreendeu um mergulho profundo, em busca da produção artística dos negros no Brasil. O resultado pode ser visto na exposição “A mão Afro-Brasileira”. A paciente pesquisa do artista plástico baiano Emanoel Araújo exigiu fôlego redobrado. Para chegar às raízes negras da arte brasileira, o artista plástico baiano Emanoel Araújo desceu ao século XVIII, na produção do Barroco e do Rococó. Para avaliar o momento atual de produção dos artistas negros, o artista plástico baiano Emanoel Araújo convocou 68 artistas negros a enviar obras para a exposição. 5. Idem. Muita gente votou, nas últimas eleições. Muita gente pensava que as coisas iriam mudar radicalmente, mas muita gente estava enganada. O Brasil parece que levará ainda um tempo muito grande para amadurecer. Aquilo de que precisa o Brasil, entretanto, para chegar a ficar maduro, é manter arejada e viva a democracia. EXERCÍCIOS DE COESÃO Empregue, nas lacunas abaixo, os conectivos adequados: Os moradores conseguiram a construção de uma passarela ___________ lutaram. ___________ lutarem, os moradores conseguiram a construção de uma passarela. ___________ lutaram, os moradores acabaram por conseguir a construção da passarela. ___________ conseguir a construção da passarela, os moradores lutaram. Os moradores lutaram; ______________ conseguiram a construção da passarela. ___________ os moradores não tivessem lutado, não conseguiriam a construção da passarela. Idem. No Bairro Lagoinha, ___________ se localiza o UNI-BH, será construída uma passarela ______________ seus estudantes tanto lutaram. Ontem, em frente ao UNI, _____________________ os alunos reivindicaram uma passarela, houve conflitos. __________________ dos conflitos, chegou a polícia. __________________ a polícia chegou, não encontrou mais nada. ______________ estavam os estudantes? A polícia veio, ________________ não encontrou os manifestantes. __________________ a polícia ter vindo logo, ______________ chegou, nada mais havia. Preencha as lacunas com o pronome relativo cujo (cuja, cujos, cujas), precedido, quando for o caso, da adequada preposição ou locação prepositiva. Modelo: Encontramo-nos numa livraria em cuja sobreloja se pode conversar à vontade. Por trás do balcão, estava sentada uma mulher ___________ rosto não se destacava à primeira vista. Quando tornei a mim, ele concluía uma frase ____________ princípio não ouvi. Apreciei muito o seu discurso ________________ estilo vou escrever. O médico te receitou umas lentes ______________ grau tua visão melhorará. Aquela criança, ____________ destino nos interessamos, tem merecido o nosso amparo. Eis o texto bíblico ____________ interpretação houve erudita controvérsia. Disse-me que o amigo, ____________ casa iríamos jogar, era homem muito simples. Reúna, num só período, cada grupo de orações independentes, interligando-as pelo pronome relativo cujo (cuja, cujos, cujas), antecedido, ou não, de preposição ou locução prepositiva. Adapte a redação dos enunciados à sua nova estrutura. Na prateleira se alinhavam vários objetos de tom avermelhado. Ele tinha predileção especial por essa cor. Tinha poucos amigos. Na presença desses amigos ele se sentia completamente à vontade. Saímos juntos do edifício da universidade. Em uma das salas do edifício, reunira-se toda a equipe que trabalhara naquele projeto. O jornal divulgara a relação de todos os seuscolaboradores. No número dos colaboradores, eu estava incluído. O conferencista tratou de vários problemas literários. O auditório nem sequer suspeitava da existência desses problemas. Tirei da gaveta um colete velho. No bolso do colete, trazia as cinco moedas de ouro. CONECTORES DO PORTUGUÊS ESCRITO PADRÃO Indicando seriação: e, assim, quer ... quer, seja ... seja, mas ainda, não só – mas também / senão também / como também, bem como, etc. Oposição: mas, contudo, todavia, embora, porém, no entanto, não obstante, antes, etc. Relação seqüencial de tempo: quando, enquanto, logo que, mal (= logo que), sempre que, assim que, desde que, antes que, depois que, até que, agora que, então. Causa: porque, que, pois, como, porquanto, visto que, visto como, já que, uma vez que, desde que, na medida em que (= pelo fato de que), então, daí. Conseqüência: de sorte que, de modo que, de forma que, de maneira que, sem que, por conseguinte, portanto, porquanto, etc. Finalidade: assim, para que, a fim de que, etc. Condição: se, caso, contanto que, desde que, salvo se, sem que (= se não), a não ser que, a menos que, dado que, porventura se. Concessão opositiva: embora, conquanto, que, ainda que, mesmo que, ainda quando, mesmo quando, posto que, por mais que, por muito que, por menos que, se bem que, em que (pese) a, nem que, dado que, sem que (= embora não), apesar de que. Comparação: como, como se, etc. Proporcionalidade: à proporção que, à medida que, ao passo que, etc. RECURSOS DE COESÃO Epíteto: palavra ou frase que qualifica pessoa ou coisa. Glauber Rocha fez filmes memoráveis. Pena que o cineasta mais famoso do cinema brasileiro tenha morrido tão cedo. Nominalizações: quando se emprega um substantivo que se refere a um verbo enunciado anteriormente, ou vice-versa, um verbo que retoma um substantivo já expresso. Eles foram testemunhar sobre o caso. O juiz disse, porém, que tal testemunho não era válido por serem parentes do assassino. Ele não suportou a desfeita diante de seu próprio filho. Desfeitear um homem de bem não era coisa para se deixar passar em branco. Palavras ou expressões sinônimas ou quase-sinônimas. Os quadros de Van Gogh não tinham nenhum valor em sua época. Houve telas que serviram até de porta de galinheiro. Repetição de palavra Podemos repetir uma palavra (com ou sem determinante) quando não for possível substituí-la por outra. “A propaganda, seja ela comercial ou ideológica, está sempre ligada aos objetivos e aos interesses da classe dominante. Essa ligação, no entanto, é ocultada por uma inversão: a propaganda sempre mostra que quem sai ganhando com o consumo de tal ou qual produto ou idéia não é o dono da empresa, nem os representantes do sistema, mas, sim, o consumidor. Assim, a propaganda é mais um veículo da ideologia dominante.” (Maria Lúcia de Arruda Aranha). Um termo-síntese O país é cheio de entraves burocráticos. É preciso preencher um sem-número de papéis. Depois pagar uma infinidade de taxas. Todas essas limitações acabam prejudicando o importador. Pronomes Vitaminas fazem bem à saúde. Mas não devemos tomá-las ao acaso. Há uma grande diferença entre Paula e Joana. Esta guarda rancor de todos, enquanto aquela tende a perdoar. Numerais Recebemos dois telegramas. O primeiro confirmava a sua chegada: o segundo dizia justamente o contrário. Advérbios pronominais (aqui, ali, lá, aí) Não podíamos deixar de ir ao Louvre. Lá está a obra-prima de Leonardo da Vinci: a Mona Lisa. Elipse O ministro foi o primeiro a chegar. (Ele) Abriu a sessão às oito em ponto e (ele) fez então seu discurso emocionado. Repetição do nome próprio (ou parte dele) Lygia Fagundes Telles é uma das principais escritoras brasileiras da atualidade. Telles é autora de Antes do baile verde, um dos melhores livros de contos de nossa literatura. Metonímia O governo tem-se preocupado com os índices de inflação. O Planalto diz que não aceita qualquer remarcação de preço. Associação: uma palavra retoma outra porque mantém com ela, em determinado contexto, vínculos precisos de significação. São Paulo é sempre vítima das enchentes de verão. Os alagamentos prejudicam o trânsito, provocando engarrafamentos até de 200 quilômetros. Disciplina: Leitura e Produção de Textos Prof. Wagner Carvalho Conteúdo: Parágrafo ROTEIRO DE LEITURA Depois de ler o texto a seguir, redija com suas palavras uma definição de parágrafo. Cite e explique as principais qualidades de um parágrafo. Conceitue tópico frasal. Cite e explique os tipos de desenvolvimento de tópico frasal. Resolva os exercícios de II a IV e os seguintes sobre parágrafo. A UNIDADE DE COMPOSIÇÃO DO TEXTO: O PARÁGRAFO Conceito de parágrafo Unidade de composição – formada por um ou mais de um período – que gira em torno de uma idéia-núcleo. Dessa idéia-núcleo podem irradiar-se outras, secundárias – desde que a ela associadas pelo sentido. Na página manuscrita ou impressa, indica-se materialmente o parágrafo por pequeno recuo de margem. Exemplo Quando tio Severino voltou da fazenda, trouxe para Luciana um periquito. Não era um cara-suja ordinário, de uma cor só, pequenino e mudo. Era um periquito grande, com manchas amarelas, andava torto, inchado, e fazia: ‘Eh! eh!’ Luciana recebeu-o, abriu muito os olhos espantados, estranhou que aquela maravilha viesse dos dedos curtos e nodosos do tio Severino, deu um grito selvagem, mistura de admiração e triunfo. (Graciliano Ramos, Insônia, 77). No primeiro parágrafo, a idéia-núcleo é a chegada do periquito, presente de tio Severino a Luciana; por isso, tudo o que aí se contém diz respeito ao periquito, e unicamente a ele. O segundo, que tem por idéia-núcleo a reação de Luciana ao receber o inesperado presente, se concentra por inteiro na informação do modo como se comportou a menina. Estão ambos, portanto, bem estruturados; pois que, como se vê, em cada um deles se agrupam idéias do mesmo teor. Isto nos ensina que mudança de rumo das idéias obriga a abertura de novo parágrafo. Qualidades do parágrafo Entre outras, sobressaem duas, que lhe são básicas: unidade e coerência, por sinal interdependentes. Para alcançá-las, faz-se imperioso não fragmentar em blocos distintos o conjunto constituído pela idéia-núcleo com as suas ramificações. Daí decorre, naturalmente, não ter importância maior a extensão do parágrafo, que pode, com efeito, constar até de uma só linha, ou estender-se por número de linhas sensivelmente grande. Por outro lado, cumpre dispor as idéias metodicamente, encadeando-as sem ofensa da ordenação lógica do pensamento – o que equivale a dizer: sem lhe violentar a seqüência natural, nem deixá-las perder-se no emaranhado das contradições ou do absurdo. Porque somente a disciplina do pensamento, aliada ao domínio progressivo dos meios de expressão do idioma, é o que irá aos poucos emprestando a desejável eficácia à nossa capacidade de comunicação. O trecho seguinte documenta os traços que acabamos de ressaltar: um parágrafo curto e um longo; cada um deles com unidade temática e coerência de ordenação: Na noite de estréia, o grande circo estava todo iluminado e cheio de gente. A sua banda de música tocava dobrados alegres. Começou a função. O diretor do circo disse: ‘Respeitável público’ — e fez a apresentação dos artistas. O primeiro número foi o dos malaios malabaristas. Veio depois o homem-sapo. Depois, a moça que trabalhava no arame com uma sombrinha chinesa na mão. Depois, os quatro irmãos do trapézio voador. Em seguida, a música deu uma gargalhada e apareceram cinco palhaços. Finalmente chegou a vez do Elefante Basílio. Ele entrou na arena no meio de palmas e gritos. Estava encabuladíssimo porque lhe tinham posto na cabeça um chapéu de palhaço, e no pescoço, uma gola colorida de Pierrô. Seu Matias, deculotes brancos, botas lustrosas de verniz e casaco encarnado com botões e alamares dourados, estava muito faceiro. Fez o elefante tocar gaita, sentar numa banqueta, equilibrar-se em cima de quatro garrafas de pau, erguê-lo no ar com a tromba ... (Érico Veríssimo, Gente, 171) No parágrafo de abertura, o escritor descreve concisamente o aspecto do circo na noite de estréia; para tanto, bastaram-lhe dois breves períodos, em que ele reuniu os elementos suficientes para comporem a “cor local” do ambiente onde se iriam desenrolar os acontecimentos narrados depois. Tais acontecimentos haveriam de vir, necessariamente, englobados em outro parágrafo – uma vez que já agora não se tratava da mesma pintura de ambiente, mas sim de uma sucessão de fatos ocorridos durante o espetáculo, ou seja, a apresentação dos artistas e suas habilidades pelo diretor do circo. Fatos pertencentes a uma só e única área de interesses, e, portanto, interligados pelo sentido (o que lhes dá unidade) e dispostos em correta conexão lógica (daí a sua coerência). Construção do parágrafo Evidentemente, não pode haver moldes rígidos para a construção do parágrafo – tanto é verdade que tudo depende, em grande parte, da natureza do assunto, do gênero de composição, das preferências de quem escreve, e, até (ainda que menos freqüentemente), de certo arbítrio pessoal. Tal possibilidade de variação não impede, contudo, que se deixe de recomendar aos estudantes aquele tipo de estrutura que a experiência tem demonstrado ser não só o mais encontradiço, senão também o mais adequado para assegurar a unidade e coerência do parágrafo. Parágrafo-modelo: o tópico frasal Isto posto, passemos a examinar alguns dos diferentes modos de construir esse parágrafo-modelo. De maneira geral, ele começa por um ou dois períodos, quase sempre breves, em que se encerra a idéia-núcleo. É o que se chama tópico frasal, que pode, não raro, ele mesmo representar sozinho todo o parágrafo. O mais comum, porém, é que o seu conteúdo genérico vá ser em seguida especificado por meio de variados processos de explanação, com os quais o autor torna mais precisa, ou justifica, ou fundamenta, a sua declaração inicial —, oferecendo para isto detalhes, razões, fatos, comparações, exemplos, etc. É óbvio que nem sempre se obedece a esse esquema: idéia-núcleo obrigatoriamente no começo, e posterior desenvolvimento dela. Mas não há dúvida que a maioria dos parágrafos se enquadra nesta linha. Eis, a respeito do assunto, o depoimento do professor Othon M. Garcia, (CPM, p. 192 e 193) que foi, entre nós, quem mais amplamente estudou a teoria do parágrafo (é o autor, aliás, a quem se deve a cunhagem da designação tópico frasal): “Pesquisa que fizemos em muitas centenas de parágrafos de inúmeros autores, permite-nos afirmar com certa segurança que mais de 60% deles apresentam tópico frasal inicial”. E prossegue o citado especialista: “Se a maioria dos parágrafos apresenta essa estrutura, é natural que a tomemos como padrão para ensiná-la aos nossos alunos. Assim fazendo, haveremos de verificar que o tópico frasal constitui um meio muito eficaz de expor ou explanar idéias. Enunciando logo de saída a idéia-núcleo, o tópico frasal garante de antemão a objetividade, a coerência e a unidade do parágrafo, definindo-lhe o propósito e evitando digressões impertinentes”. Das diversas maneiras de desenvolver o tópico frasal, destacaremos — com apoio nos exemplos abaixo — as que se apontam por mais usuais: TEXTO 1 TÓPICO FRASAL Desenvolvimento (por enumeração de detalhes) “As cousas, de fato, iam-lhe agora admiravelmente: Tinha a sua mesa boa e farta, um bom quarto de dormir, a mucama para lavar-lhe e engomar-lhe a roupa, um camarote no teatro de quando em quando, aos domingos um passeio à cidade, e lá uma vez por otura ‘soirée” em casa de alguma amiga. ‘Ah! Não se podia comparar a existência que levava agora com a peste de vida que curtira na rua do Rezende!” (Aluízio Azevedo, Pensão, 310) TEXTO 2 TÓPICO FRASAL Desenvolvimento (por paralelo e contraste) “Bastaria ler, em Plutarco, a vida de Demóstenes para sentir uma certa semelhança entre Rui e aquele que a cultura helênica apresenta como o tipo clássico do orador. Até mesmo em certos detalhes se aproximam: a compleição física doentia na mocidade, as dificuldades financeiras e sociais nos primeiros momentos, o cuidado e o apuro na composição dos discursos. Une-os ainda mais: uma luta de vida inteira contra a violência e a opressão. Uma luta pela liberdade. Ambos viveram sempre a advertir os seus povos contra os perigos e as tentações dos tiranos. Ambos tiveram mais as honras das consagrações populares do que das oficiais. Mas, de Demóstenes, conta-se que no exílio se tomou de fraqueza, enquanto em Rui o ânimo não se abateu em momento algum de adversidade.” (Álvaro Lins, Literária, 207-8) TEXTO 3 TÓPICO FRASAL Desenvolvimento (por apresentação de razões) “Os sábios nunca foram nem serão validos dos príncipes: são inábeis observadores da etiqueta e cerimonial das cortes, não podem mentir nem adular, e menos intrigar e cabalar para suplantar a uns e precipitar a outros, nem finalmente ocupar-se e entreter-se com as companhias, conversações e controvérsias palacianas.” (Marquês de Maricá, Máximas, 3.755) TEXTO 4 TÓPICO FRASAL Desenvolvimento (por ilustração com historieta anedótica) “O vezo de filar livros não é somente brasileiro, e nenhum escritor, mesmo entre os maiores, se livra dos botes dos filantes. Um centro feminino qualquer da Inglaterra pediu a G.B. Shaw que lhe oferecesse alguma de suas obras, para a biblioteca que estava organizando. Shaw respondeu, em carta, dizendo que um centro que não possuía cinco xelins para comprar um de seus livros não merecia ser uma sociedade. A presidente do centro não encavacou. Muito pelo contrário: vendeu o autógrafo do famoso escritor e apurou dez libras.” (Eduardo Frieiro, Livros, 113) Não raro assume o tópico frasal forma interrogativa, contendo-se então no desenvolvimento, ora a resposta à indagação feita, ora uma explicação ou esclarecimento da dúvida levantada, ora uma série de considerações que, conquanto não respondam propriamente à pergunta, tiveram nela o seu elemento desencadeador. TEXTO 5 TÓPICO FRASAL (a interrogação) Desenvolvimento (resposta à pergunta) “Quantos diabos há? Oh! O número é infinito! Um célebre demonógrafo, o Dr. Wier, diz que há, espalhados pela terra, 44.635.569 diabos! Mas outro doutor em demonologia, igualmente célebre, Blook, diz que esse cálculo fica muito aquém da verdade, porque cada homem tem um diabo que o acompanha sempre como a sua própria sombra, devendo portanto o número dos diabos ser igual ao número das criaturas de que se compõe a humanidade, — e isso sem contar os demônios vadios, que andam pelo ar, pelo solo e pelas águas, sem ocupação, passeando ...” (Olavo Bilac, Conferências, 142) TEXTO 6 TÓPICO FRASAL (a interrogação) Desenvolvimento (considerações sobre o sentimento provocado pela pergunta) “Por que me lembraria agora daquela velhinha de Florença? Há sentimentos antigos, dentro de nós, que não perdem a sua força, que não se deixam aniquilar pelo tempo e pelos acontecimentos; estão apenas reclinados como em cadeiras invisíveis, numa obscura sala de espera. Por serem tão antigos, permitem-se ficar de olhos fechados, silenciosos e anônimos, tão inativos como se não existissem. Mas, de repente, acordam, levantam-se dos seus lugares, acendem as luzes, fazem-se tão vivos e presentes que não resistimos ao seu poder e docilmente nos submetemos às revisões da memória e à sua crítica.” (Cecília Meireles, Ilusões, 31) Outros tipos de tópico frasal Se bem não quadre ao feitio padronizado que acabamos de recomendar para efeito didático, eis, a título de ilustração, algumas particularidades concernentes ao tópico frasal. Anote-se, em primeiro lugar, que ele pode localizar-se no fim do parágrafo:TEXTO 7 Vai o gado na estrada mansamente, rota segura e limpa, chã e larga, batida e tranqüila, ao tom monótono dos ‘eias!’ dos vaqueiros. Caem as patas no chão em bulha compassada. Na vaga doçura dos olhos dilatados transluz a inconsciente resignação das alimárias, oscilantes as cabeças, pendente a margem dos perigalhos, as aspas no ar em silva rasteira por sobre o dorso da manada. Dir-se-ia a paciência em marcha, abstrata de si mesma, ao tintinar dos chocalhos, em pachorrenta andadura, espertada automaticamente pela vara dos boiadeiros. Eis senão quando, não se atina por quê, a um acidente mínimo, um bicho inofensivo que passa a fugir, um grito de um pássaro na capoeira, o estalido de uma rama no arvoredo, se sobressalta uma das reses, abala, desfecha a correr, e após ela se arremessa, em douda arrancada, atropeladamente, o gado todo. Nada mais o reprime. Nem brados, nem aguilhadas, o detém, nem tropeços, voltas ou barrancos por d’avante. E lá vai incessantemente, o pânico em desfilada, como se os demônios o tangessem, léguas e léguas, até que, exausto o alento, esmorece e cessa, afinal, a carreira, como começou, pela cessação do seu impulso. Eis o estouro da boiada.” (Rui Barbosa, Excursão, 134) Este molde de dispor as idéias já demonstra preocupação estilística mais elaborada, por isso que denuncia a intenção, por parte do autor, de manter o leitor em expectativa até quase o término da leitura, quando, só então, lhe oferecerá, num impacto, a idéia-núcleo, onde ele vai finalmente encontrar a chave do texto. Em segundo lugar, há de ver-se que nem sempre o tópico frasal vem explícito, mas antes depreende-se do próprio conteúdo do parágrafo. É o que acontece no célebre paralelo entre Bernardes e Vieira, de autoria de Antônio Feliciano de Castilho. No exemplo a seguir, extraído a essa clássica página da literatura portuguesa, o tópico frasal é o confronto em si, a comparação mesma: TEXTO 8 “Vieira vivia para fora, para a cidade, para a corte, para o mundo, e Bernardes para a cela, para si, para o seu coração. Vieira estudava graças e louçainhas de estilo; achava-as, é verdade, tinha boa mão no afeiçoá-las e uma graça no vesti-las como poucos; Bernardes era como estas formosas de seu natural, que se não cansam com alindamentos, a quem tudo fica bem; que brilham mais com uma flor apanhada ao acaso, do que outras com pedrarias de grande custo. Vieira fazia a eloqüência; a poesia procurava a Bernardes. Em Vieira morava o gênio; em Bernardes o amor, que, em sendo verdadeiro, é também gênio.” (Excertos, 238). Atente-se, em terceiro e último lugar, para a possibilidade de o tópico frasal estar fragmentado no corpo do texto —, o que se passa a exemplificar neste parágrafo de Jorge Amado em seu discurso de posse na Academia Brasileira, àquela altura em que ele procura demonstrar um dos contrastes existentes entre os descendentes literários de José de Alencar e os de Machado de Assis: TEXTO 9 “É curioso notar que, se numerosa é a descendência de Alencar, não tem ele praticamente imitadores, como se os romancistas que compõem esta vertente de nosso romance recebessem do mestre apenas a indicação de um caminho. Enquanto a maioria dos descendentes de Machado — com evidentes e importantes exceções — são seus imitadores, copiando do mestre não apenas a posição ante a vida transposta para a arte, mas também os cacoetes e os modismos. É que Alencar nos lega a vida, e a vida vive-se, não se imita, enquanto Machado nos lega a literatura, a perfeição artística que invejamos e tentamos imitar.” (Povo e terra, 11) EXERCÍCIO Desenvolva, pelo processo de enumeração de detalhes, cada um dos tópicos frasais propostos: O pequeno Platão era, de fato, muito triste e muito calado. A praia de Guarapari, ES, estava coberta de barracas coloridas. Eu tive um cão; chamava-se Sócrates. O mesmo tipo de exercício, pelo processo de paralelo e contraste: Prefiro cinema a teatro. Vai grande diferença da paixão ao amor. O mesmo tipo de exercício, pelo processo de apresentação de razões ou argumentos: Liberdade e educação — eis as duas grandes forças das democracias. Nenhum vício é mais degradante que o jogo. O mesmo tipo de exercício, pelo processo de ilustração por meio de exemplos, ou pequena história: Tão dura, tão áspera, tão injuriosa palavra é um não. Você acredita em fantasmas? V. Construa um parágrafo com tópico frasal sob a forma de interrogação. TIPOS DE INTRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO Tópico frasal (TF): apresentação de um ser/fato/objeto/circunstância. Desenvolvimento (D): descrição do ser/fato/objeto/circunstância. TF: comparação entre dois ou mais seres/objetos/circunstâncias. (D): descrição das diferenças/semelhanças entre os dois ou mais seres/objetos/circunstâncias. TF: afirmação/negação de um fato/evento/circunstância. (D): apresentação das razões que o levaram a afirmar/negar o fato/evento/circunstância. TF: enunciação de um fato/evento/circunstância. (D): ilustração por história real/fictícia. TF: uma pergunta. (D): resposta à pergunta. TF: uma pergunta. (D): considerações sobre o sentimento provocado pela pergunta. COMO ORGANIZAR O PARÁGRAFO INTRODUÇÃO O parágrafo é uma unidade de informação construída a partir de uma idéia-núcleo, materializada no tópico frasal, que, por sua vez, deve ser bastante claro e adequadamente desenvolvido. Assim, por exemplo, um bom parágrafo não pode incluir elementos que não estejam contidos na idéia-núcleo. Um parágrafo deve apresentar quatro qualidades fundamentais: ser completo; ter unidade; apresentar organização; ter coerência. Há várias maneiras de organizar o material contido num parágrafo. Embora não haja uma receita, é evidente que algumas ordens textuais são mais efetivas que outras. Assim, as mais comuns são: cronológica; espacial; do particular para o geral; do geral para o particular; pergunta/resposta, efeito/causa. Um parágrafo tem coerência quando suas frases formam um todo ou se encaixam perfeitamente. Se um parágrafo é coerente, o leitor passa de uma frase à outra sem vacilações, saltos ou lacunas. Assim, devem-se observar a coerência interna do parágrafo, materializada nas conexões entre as frases e no emprego de termos de referência, e a coerência entre os parágrafos, em que se destaca a perfeita articulação entre o dado e o novo, ou seja, a apresentação e retomada dos elementos do texto. Um dos problemas mais comuns que afetam a coerência dos parágrafos diz respeito a alterações no sujeito. Se dizemos, por exemplo: Pelé era bom atacante, mas a defesa contrária era muito esperta. passa-se de um sujeito, Pelé, a outro, ligado por mas. Como a conjunção adversativa é, ao mesmo tempo, copulativa, torna-se estranho ligar duas frases com dois sujeitos distintos. O melhor seria dizer algo como: Pelé era bom atacante, mas não o bastante para ultrapassar a esperta defesa contrária. Outra alteração no sujeito bastante freqüente é a vacilação entre sujeito determinado e indeterminado, como em: Quando se entra em férias, ficamos muito contentes. Ou entre sujeito de voz ativa e passiva: Quando entramos em férias, comprou-se um automóvel novo. Outro problema de coerência nos parágrafos diz respeito à incompletude associativa, ou seja, quando, numa estrutura de comparação, o segundo termo não apresenta todos os elementos necessários à perfeita clareza da frase. Por exemplo: A relação entre ator e televisão é diferente de qualquer outra forma dramática. Ora, não se trata de comparar a relação entre ator e televisão com outra forma dramática, o que não tem sentido, mas de comparar tal relação com a existente nas outras formas dramática. Melhor seria dizer: A relação entre ator e televisão é diferente da existente nas outras formas dramáticas. PRÁTICA TEXTUAL 1. Um parágrafo é uma unidade de informação construída a partir de uma idéia-núcleo. Sublinheas idéias-núcleo dos trechos a seguir: Iluminação representa muito mais do que conforto. Iluminação é segurança, produção e lazer. Iluminação é, mais do que tudo, melhoria de qualidade de vida, é um importante fator de justiça social. Os americanos já chegaram a uma estatística aterradora: em 1991, cerca de cinqüenta e quatro mil pessoas morrerão de aids nos Estados Unidos, um número superior ao de americanos mortos em combate durante toda a guerra do Vietnã. Convocados por João Paulo II, mais de cento e cinqüenta líderes religiosos de todo o mundo participaram, em Assis, Itália, de uma reunião ecumênica sem nenhum precedente na história da humanidade. Dos feiticeiros dos índios craws americanos aos animistas do Togo, passando pelos tradicionais cristãos, judeus, hindus e muçulmanos, e os mais restritos xintoístas, zoroastras, bahais e sikhs, praticamente toda a população da Terra esteve lá representada e todos elevaram suas preces em favor da paz. Aos cinqüenta e quatro anos, depois de quatro casamentos e várias paixões inconfessas, Anouk Aimée é uma mulher só ....mas sempre fiel à moda de seu amado e costureiro, Ungaro. Quando os homens vão para o mar, com seus barcos pesqueiros, eles voltam trazendo toneladas de peixes e camarões, que depois são processados de acordo com as mais rígidas normas de higiene e conservação. Uma coisa é escrever como poeta, outra como historiador: o poeta pode contar ou cantar tantas coisas não como foram, mas como deveriam ter sido, enquanto o historiador deve relatá-las não como deveriam ter sido mas como foram, sem acrescentar ou subtrair da verdade o que quer que seja. Homem algum trata um automóvel tão estupidamente como trata outro ser humano. Quando o automóvel não quer funcionar, não atribui o pecado à sua aborrecida conduta. Não diz: “Você é um automóvel mau e não lhe darei mais gasolina enquanto não funcionar”. Procurará descobrir qual a falha e consertá-la. Penso que há um misto de verdade e falsidade na admiração que se tem pela natureza, do qual é importante nos desvencilhar. Para começar, o que é natureza? De modo geral, aquilo com que a pessoa que nos fala estava acostumada na infância. 2. Um parágrafo bem construído é aquele em que a idéia-núcleo é clara e completamente desenvolvida. Nos parágrafos a seguir, sublinhe a idéia-núcleo e verifique se seu desenvolvimento é correto. Justifique sua resposta. Há três razões pelas quais João não vai para a universidade federal. Em primeiro lugar, é órfão de pai, e sua mãe ficaria sozinha em casa. Ela tem alguns amigos, mas eles não moram perto e, assim, ficaria isolada a maioria das noites. Apesar de João desejar muito fazer o curso superior, preferiu trabalhar perto de sua casa. __________________________________________________________________ Admiro meu primo Roberto por ser talentoso, inteligente e educado. É muito inteligente e aprende tudo muito facilmente e, sobretudo, é muito educado com todos. Eu o admiro por todas essas razões. ____________________________________________________________________________________________________________________________________ 3. Cada um dos períodos a seguir foi redigido de cinco formas diferentes. Leia-os com atenção e assinale a letra correspondente ao período que tem melhor redação, considerando correção, clareza, concisão e elegância. 1. a) O amor como elemento sensual está em Via Láctea com seus trinta e cinco sonetos; aquele é o tema que o poeta mais gosta. b) Nos trinta e cinco sonetos de Via Láctea, o poeta encontra seu motivo mais caro, o amor sensual. c) Assunto o mais caro do poeta, Via Láctea, com seus trinta e cinco sonetos, revela o amor sensual. d) Via Láctea, nos seus trinta e cinco sonetos, trazem o grande motivo do poeta, o seu predileto amor sensualizado. e) O amor como tema sensual é o motivo da predileção do poeta, que se evidência em trinta e cinco sonetos, componentes da Via Láctea. 2. a) Querendo saber que notícia tanto a mim afligia, Capitu, quando a ela revelei, se fez cor-de-cera. b) Ficou cor-de-cera Capitu, quando, com suas instâncias revelei a notícia que tanto a mim afligia. c) Capitu, querendo saber que notícia era aquela que tanto me afligia, quando a ela revelei ela se fez como cera. d) Capitu instava-me por saber a notícia que a tanto afligia-me. Revelando-lha ela se pôs cerúlea. e) Capitu queria saber que notícia era a que me afligia tanto. Quando lhe disse o que era, fez-se cor-de-cera. 3. a) Num prazo mínimo de dois anos, cada uma dessas tentativas estará testando, na prática, as suas qualidades e defeitos. b) Tanto suas qualidades como seus defeitos, serão testados, na prática, por cada uma dessas tentativas, no prazo mínimo de dois anos. c) Testar-se-á qualidades e defeitos dessas tentativas, de uma em uma, na prática, no prazo mínimo de dois anos. d) Qualidades e defeitos, na prática, serão testados no prazo mínimo de dois anos, por cada uma dessas tentativas. e) Tentativas, todas elas, devem testar-se, em um prazo de no mínimo dois anos, as qualidades e defeitos suas próprias. 4. a) Ninguém ficaria surpreendido se, nesse ritmo, não se processar brevemente, como próxima etapa das relações entre os dois países, o seu rompimento diplomático. b) O rompimento, no ritmo atual, entre os dois países, de suas relações diplomáticas, talvez seja para breve, o que não surpreenderá ninguém.. c) Nesse ritmo, não será surpresa para ninguém se o próximo passo for o rompimento de relações diplomáticas entre os dois países. d) Brevemente, é possível que rompam os dois países, nesse ritmo, as suas relações diplomáticas, e não surpreenderão ninguém com isso. e) Nesse ritmo, dentro em breve, e ninguém se deixará surpreender por isso, verificar-se-á possivelmente um rompimento entre os dois países de suas relações diplomáticas. 6. FICHAMENTO 1. Conceito Técnica de estudo e pesquisa que visa ao registro organizado de informações orais ou escritas. 2. Características Um fichamento bem elaborado possui todos os dados necessários para se voltar rapidamente à fonte original. No decorrer do trabalho, pode surgir a necessidade de voltar à fonte. Outra preocupação é separar com clareza o material levantado das anotações pessoais. Sem esse cuidado, corre-se o risco de plagiar o texto original. Tem um cabeçalho preciso, com título geral, título específico, numeração, referência bibliográfica (ABNT) e especificação da origem do livro, ou seja, de onde foi retirado. É feito com o pensamento de que o material será incorporado ao trabalho em perspectiva, como ponto de referência. As anotações devem refletir, mediante transcrição literal ou por paráfrase, as afirmações do autor citado, do ponto de vista dele, da significação dos dados colhidos e do objetivo de leitura do pesquisador. 3. Tipos Fichamento esquema; fichamento resumo; fichamento resenha; fichamento citação. 4. Estrutura externa Título geral Título específico nº Referência Texto 7. RESENHA Conceito “Trabalho de síntese, publicado logo após a edição de uma obra, tendo por objetivo servir como veículo de crítica e avaliação.” (FRANÇA et al., 2001, p. 72-73). Roteiro Credenciais do autor Informações gerais sobre o autor. Autoridade no campo científico? Quem fez o estudo? Quando? Por quê? Onde? Conhecimento Resumo das idéias principais da obra/texto. De que trata o livro/texto? O que diz? Como foi abordado o assunto? Exige conhecimentos prévios para entendê-lo? Quadro de referências do autor Que teoria serviu de embasamento? Qual o método utilizado? Apreciação Julgamento da obra Como se situa o autor em relação às escolas ou correntes científicas, filosóficas, culturais e às circunstâncias sociais, econômicas, históricas, etc.? Mérito Qual a contribuição dada? Idéias fundamentadas, originais, criativas? Conhecimentosnovos, amplos, abordagens diferentes? Estilo Conciso, objetivo, simples? Claro, preciso, coerente? Linguagem correta? Forma Lógica, sistematizada? Há originalidade e equilíbrio na disposição das partes? Conclusão do autor O autor faz conclusões? Quais? Indicação A quem é dirigida: grande público, especialistas, estudantes? REFERÊNCIA FRANÇA, Júnia Lessa et al. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. 5. ed. rev. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001. EXEMPLO 1 (RESENHA ACADÊMICA) BUNGE, M. Questões correlatas. In: _____. Tratado de filosofia básica. São Paulo: EPU, 1976. vol. 2. cap. 10, p. 191-226. Um texto denso, às vezes hermético, mas provocativo. Assim poderíamos qualificar, com certo grau de subjetividade, o Capítulo 10, do Tratado de filosofia básica, vol. 2, de Bunge. Como nosso propósito é resenhar esse capítulo, tornemos nossa avaliação mais objetiva. O objetivo do autor é estudar a natureza dos laços que ligam a Semântica da Ciência a suas vizinhas próximas: Matemática, Lógica, Epistemologia e Metafísica. Ele atinge seu objetivo? Sim. Ao lermos seu texto, constatamos a importância da Semântica para qualquer disciplina científica, e não só para as referenciadas pelo autor, no sentido de que aquela nos possibilita precisar e avaliar melhor o arcabouço conceitual das outras áreas de conhecimento. Muito oportuna é a análise feita pelo autor, à p. 218, das hipóteses de Whorf-Sapir. Através de uma argumentação clara, forte e concisa, ele nos mostra a fragilidade e falsidade das hipóteses desses autores, que são as seguintes: (a) as linguagens ordinárias estão carregadas de concepções do mundo ou metafísica e (b) a linguagem de uma pessoa determina, pelo menos em parte, a maneira como percebe e concebe o mundo. Ora, como observa Bunge (1976, p. 218): [...] a doutrina Whorf-Sapir é efetuada pela psicologia educacional: o ensino oral é ineficaz, a menos que o sujeito já tenha adquirido algumas das idéias que a ele se transmite [sic]. Se não houver palavras para expressar idéias novas, elas são inventadas, em qualquer idade e em qualquer cultura; mas se as idéias não existirem, de nada valerão as palavras — exceto para disfarçar a pobreza de idéias [...]. Poderíamos arrolar outros argumentos do autor contra as hipóteses de Whorf-Sapir, mas tiraríamos do leitor a oportunidade de conferir, no original, a consistência das proposições de Bunge. Se nem tudo são flores, há realmente alguns espinhos no texto do autor. À página 195, afirma que “[...] a matemática não diz respeito a idéias existentes por si mesmas e pairando sobre o mundo, nem diz respeito ao mundo [Grifo meu]”. Ora, se a Matemática não diz respeito ao mundo, ela diz respeito a quê? O autor valeu-se de uma afirmação vaga e incongruente. Na 197, conclui: “[...] nossa definição de analiticidade resolve o problema teorético de elucidar essa noção, mas não é critério seguro para nos dizer se determinada fórmula é analítica — e muito menos para apontar componentes analíticos em contextos abertos”. Parece-nos que o autor incorreu em uma contradição. Se uma definição só serve para resolver um problema teorético, mas não é um critério seguro para avaliar a analiticidade de determinada fórmula, qual o grau de eficácia dessa definição? Apesar desses senões, consideramos a leitura do texto de Bunge esclarecedora e enriquecedora, principalmente pelo fato de correlacionar o estudo da Semântica com o de outras disciplinas, como a Matemática, Lógica, Epistemologia e Metafísica. Prof. Wagner Carvalho, Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), Departamento de Ciências Humanas, Letras e Artes. EXEMPLO 2 BERLO, David Kenneth. Definição: tentativa de especificação do sentido. In: ______. O processo da comunicação: introdução à teoria e à prática. 8 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. cap. 11, p. 269-291. Com linguagem clara, didática e objetiva, David Kenneth Berlo expõe nesse capítulo um resumo do conceito de definição e dos critérios para considerá-la como útil ou inútil, além de fazer uma síntese dos gêneros de definição: formal, indicativo, conotativo e, por fim, ainda discute o papel do dicionário. O principal mérito do autor é apresentar as críticas mais contundentes e consistentes em relação ao gênero de definição mais empregado, o formal. Contra este, cita que as definições classificadoras ou formais: “1) são mais estáticas que dinâmicas ou relativistas; 2) implicam aplicação universal em lugar de aplicação apenas em situações particulares, e 3) deixam de lado as relações entre os termos que estão sendo definidos e os objetos do mundo físico aos quais os termos poderiam pretender referir-se” (BERLO, 1997, p. 274). Apesar dessas críticas à definição formal, o autor nos adverte que é comum ouvirmos discussões sobre qual a definição correta, a formal ou a operacional? Ora, nenhuma pode ser considerada a melhor para todos os fins. Tudo vai depender do propósito da fonte, das necessidades do receptor e das espécies de significações com que o receptor se apresenta à situação de comunicação. Se como diz o aforismo latino Quandoque bonus dormitat Homerus [até o bom Homero cochila às vezes], Kenneth Berlo não é uma exceção. Haja vista as seguintes afirmações do autor, verdadeiros roncos argumentativos: “As definições não nos trazem conhecimento” (p. 286) e “A melhor fonte sobre como as pessoas pronunciam, como grafam, o que querem dizer — a melhor fonte é o povo” (p. 288). Quanto à primeira, cabe perguntar — em que sentido ele empregou a palavra conhecimento? Não é nada belo para quem aprecia Aristóteles se esquecer de uma das lições básicas do filósofo — quanto maior a extensão de um termo, menor sua compreensão. Sobre a segunda, afirmar que a melhor fonte para pronúncia e ortografia é o povo constitui um disparate tão grande quanto dizer que a melhor fonte para o sono é o café. Aqui Kenneth se mostra totalmente desinformado de noções primárias de níveis de linguagem, normas padrão e subpadrão, assunto da Sociolingüística. Outros senões do texto, embora menos relevantes, devem ser imputados ao revisor e ao tradutor. Ao primeiro por deixar passar erros de ortografia como: a palavra dona de casa, na página 280, aparece com hífen. Ora, até o Aurélio, na segunda edição do seu dicionário, que é de 1986 (!), já corrigiu esse erro. Se bem que, como diz Berlo, a melhor fonte para esses assuntos é o povo ... Ao segundo, por nos “divertir” com frases como esta: “Este instrumento tem sido usado para predizer grande número de comportamentos, tais como a votação numa eleição, as várias fases personalísticas de pessoa sujeita a diversão [sic] de personalidade (...)”, p. 285. Salvo esses lapsos, o importante é que o autor cumpre, com clareza e propriedade, o objetivo a que se propôs: [...] apresentar um ponto de vista sobre a definição com a esperança de que seja: 1) coerente com a opinião geral sobre o sentido [...] e 2) de alguma valia para o indivíduo confrontado com o problema de expor seus sentidos com maior especificidade”, p. 270. Prof. Wagner Carvalho, Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), Departamento de Ciências Humanas, Letras e Artes. 8. ARGUMENTAÇÃO “[...] conjunto de procedimentos lingüísticos e lógicos usados pelo enunciador para convencer o enunciatário.” (FIORIN, 1997, p. 52-53) LÓGICA Etimologia Do grego logiké, através de logos: razão, discurso. Definição “Ciência das condições do pensamento correto (lógica formal) e do pensamento verdadeiro (lógica material) [...]”. (SARAIVA, 1972, p. 23). Objetivo Convencer o leitor ou ouvinte, mediante argumentos válidos e verdadeiros. RETÓRICA Etimologia Do grego retoriké, através de rétor, orador. Definição É a “[...] arte de persuadir pelo discurso.” (REBOUL, 1998, p. 14). Objetivo Persuadir o leitor ou ouvinte, mediante qualquer tipo de argumento: válidoe verdadeiro ou válido e falso, ou inválido e verdadeiro ou inválido e falso. ARGUMENTO Definições É a soma de um número x de premissas mais uma ou mais conclusões. “[...] é qualquer grupo de proposições tal que se afirme ser uma delas derivada das outras, as quais são consideradas provas evidentes da verdade da primeira.” (COPI, 1978, p. 23) Exemplo (P1) Todo ser humano é mortal. (P2) Pelé é um ser humano. (C) Logo, Pelé é mortal. Notação do silogismo Premissa 1 Maior: s = m Premissa 2 Menor: P = s Conclusão: P = m LÓGICA MATERIAL Argumento válido/lógico É aquele em que há uma relação de coerência e veracidade entre suas premissas e a conclusão. Argumento inválido/falacioso É o que apresenta, na relação de suas premissas com a conclusão, alguma incoerência ou falsidade. Exemplo (P1) Hitler era favorável à eutanásia; (P2) você também, (C) portanto, você é hitlerista. REFERÊNCIAS COPI, I. M. Introdução à lógica. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1978. FIORI, J. L. Elementos de análise do discurso. 6. ed. São Paulo: Contexto, 1997. REBOUL, O. Introdução à retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1998. SARAIVA, A. Filosofia. 7. ed. Porto: Educação Nacional, 1972. COMO VERIFICAR O VALOR LÓGICO-MATERIAL DE UM ARGUMENTO 1. A pessoa que formule o argumento e a que o receba (ou o analise) estejam em condições de saber da veracidade das premissas. 2. As premissas têm de ser verdadeiras. 3. A conclusão deve decorrer lógica e coerentemente das premissas. Disciplina: Leitura e Produção de Textos Professor: Wagner Carvalho Conteúdo: Exercícios de argumentação 1. Às vezes, uma conclusão é fruto de uma série de premissas. Indique duas possíveis premissas de cada conclusão dada a seguir: 1. As provas de múltipla escolha devem ser proibidas. 1ª) ______________________________________________________________ 2ª) ______________________________________________________________ 2. O parlamentarismo deve ser implantado no Brasil. 1ª) ______________________________________________________________ 2ª) ______________________________________________________________ 3. Devemos comprar sempre carros nacionais. 1ª) ______________________________________________________________ 2ª) ______________________________________________________________ 4. Os alunos devem usar cadernos de papel reciclado. 1ª) ______________________________________________________________ 2ª) ______________________________________________________________ 2. Sempre que passamos de uma premissa diretamente a uma conclusão, assumimos como verdadeira alguma idéia intermediária. Quais são as idéias assumidas como verdadeiras nos seguintes raciocínios: 1. É melhor ultrapassar aquele carro; o motorista é uma mulher. ________________________________________________________________ 2. Meu exercício tem a mesma resposta do livro; acertei mais um! ________________________________________________________________ 3. O sinal do colégio está tocando; estou atrasado! ________________________________________________________________ 4. Minha mãe a viu com outro no cinema; vou terminar o noivado! ________________________________________________________________ 3. Em muitos casos recusamos a conclusão tirada da(s) premissa(s). Os argumentos abaixo podem ser recusados por várias razões: ( 1 ) a premissa não é verdadeira ( 2 ) a conclusão não é uma decorrência lógica da premissa ( 3 ) a premissa não é suficiente para a conclusão Escreva nos parênteses o número correspondente a cada caso. O PCB protege o povo contra a exploração. O povo deve votar com o PCB. ( ) O governo Brizola construiu muitas escolas. O analfabetismo decresceu no Governo Brizola. ( ) Os alunos acham a prova muito difícil. Os alunos têm que apelar para a cola. ( ) Bermuda não é traje indecente. Os alunos deviam ser proibidos de usar bermuda no colégio. ( ) A empresa não paga devidamente aos funcionários. Os funcionários da empresa devem entrar em greve. ( ) Os camelôs apresentam deficiências físicas. Os camelôs devem ser protegidos. ( ) Os camelôs vendem mais barato. Deve ser permitida a presença de camelôs nas ruas. ( ) Tudo o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil. Devemos copiar as leis americanas. ( ) 4. As premissas de um raciocínio são normalmente de três tipos: fatos (F), julgamentos (J) ou testemunhos de autoridade (T). Classifique as premissas dos argumentos a seguir de acordo com esses três tipos. 1. Uma pesquisa demonstrou que as águas das praias cearenses estão poluídas, por isso devemos evitá-las. ( ) 2. O Ibope indica que o candidato X terá mais de cinqüenta por cento dos votos de todos os eleitores, por isso acho perda de tempo votar em qualquer outro. ( ) 3. Muitos pivetes assaltam nos grandes centros, pois isso considero aconselhável que se reveja a lei de proteção ao menor. ( ) 4. É muito melhor gastar quinhentos dólares nos Estados Unidos do que no Nordeste, por isso os aviões para Miami estão cheios. ( ) 5. A ortografia da língua portuguesa é de difícil aprendizagem, por isto acho urgente uma revisão no sistema ortográfico. ( ) 5. As inferências são de dois tipos: indutivas (do particular para o geral) e dedutivas (do geral para o particular). Em todos os casos a seguir, temos inferências indutivas; verifique se elas são fruto de generalização (G), relação de causa/efeito (C) ou de analogia (A). 1. O livro sobre a vida e a obra de Nélson Rodrigues é muito grosso e caro, por isso deve vender pouco. ( ) 2. Os restaurantes estão fazendo como as lojas de roupas, oferecendo pratos a preços mais baratos, por isso estão vendendo mais. ( ) 3. Os marinheiros têm uma namorada em cada porto, por isso as mulheres devem evitar casar-se com eles. ( ) 4. Os animais também amam, sentem dor e prazer, e morrem, como os seres humanos. Por que falar de crueldade quando se defendem? ( ) 5. Medindo grupos de cidadãos brasileiros de várias partes do país, inferimos que os nordestinos são mais baixos que os sulistas. ( ) 6. Leia o texto e responda às perguntas: Contam que um soldado vivia sempre bêbado. Um dia, o sargento o chamou, mostrou-lhe um copo onde colocou cachaça; pôs, em seguida, no mesmo copo, uma gema de ovo, e o resultado foi uma gosma asqueirosa. Virou-se para o soldado e disse: — Veja, soldado, o que acontece no seu estômago quando você bebe! Depois de ver isso, o que você pretende fazer? E o soldado, impressionado: — Nunca mais vou comer ovo! 1. Que tipo de inferência indutiva foi usada pelo sargento? ________________________________________________________________ 2. Por que a inferência surpreendeu? ________________________________________________________________ 7. A forma mais importante de dedução é o chamado silogismo, um argumento que consiste de três frases: uma premissa maior, uma premissa menor e uma conclusão. Indique a conclusão dos dois silogismos a seguir. 1. As mulheres são mais delicadas que os homens. Maria é uma mulher. ________________________________________________________________ 2. Todo homem é mortal. Eu sou homem. ________________________________________________________________ 8. Um silogismo tem que preencher três condições: 1) ter três termos (usados duas vezes) e que não podem ser ambíguos; 2) apresentar premissas verdadeiras; 3) ser formalmente válido. Indique o princípio que foi desrespeitado em cada um dos seguintes silogismos. 1. Um apartamento barato é raro. Tudo o que é raro é caro. Um apartamento barato é caro. 2. Gatos têm sete vidas. Maria é uma gata. Maria tem sete vidas. 3. Todos os americanos vivem sob regime presidencialista.Os canadenses são americanos. Os canadenses vivem sob regime presidencialista. 4. Todo favelado é criminoso. José é favelado. José é criminoso. 5. Todos os professores são distraídos. Meu irmão é distraído. Meu irmão é professor. 6. Quem ama não mata. Maria não matou o namorado. Maria ama o namorado. 9. Analise os raciocínios a seguir e identifique as possíveis falhas, classificando-as de acordo com o código. ( 1 ) círculo vicioso ( 6 ) generalização excessiva ( 2 ) estatística tendenciosa ( 7 ) estereótipo ( 3 ) fuga do assunto ( 8 ) simplificação exagerada ( 4 ) argumento autoritário ( 9 ) falsa analogia ( 5 ) confusão causa/efeito 1. Todos os problemas do mundo desapareceriam se os homens se dedicassem mais à religião. ( ) 2. Não é conveniente instalarmos uma fábrica na Bahia, pois certamente teremos problemas com os operários, que são muito preguiçosos e festeiros. ( ) 3. Machado de Assis é, sem dúvida, o melhor escritor da literatura brasileira, já que nenhum outro entre nós conseguiu igualar-se a ele. ( ) 4. Eu não acredito que você esteja me dizendo essas coisas; eu, seu pai! ( ) 5. Os professores são diferentes de qualquer outro tipo de gente do planeta, pois parece que nunca se preocupam com o dinheiro que recebem por seu trabalho. ( ) 6. Eu tenho dificuldades no aprendizado de língua estrangeira; todos os membros da minha família apresentam o mesmo problema. ( ) 7. Portugueses não são bons em Matemática. Embora haja oito portugueses em cada dez alunos do curso, as quatro maiores notas são de brasileiros e as quatro piores, de portugueses. ( ) 8. Se os estudantes não querem estudar, não há nada que o professor possa fazer. Afinal de contas, podemos levar o camelo até a água, mas não podemos obrigá-lo a beber. ( ) 9. O professor mostrou os péssimos resultados de seu curso de primeiro período para demonstrar a falência do ensino universitário. ( ) 10. O zagueiro Alexandre Torres deve ser um ótimo jogador, pois seu pai, Carlos Alberto Torres, foi zagueiro da Seleção. ( ) 11. O acusado de crime, senhores jurados, é um excelente pai de família, honrado, bondoso, atencioso com os vizinhos, cidadão exemplar, e não pode ser colocado na cadeia! ( ) 12. Não há jeito! Os pobres andam sujos e esfarrapados, quando podiam andar limpos. Sujeira não faz parte da pobreza! ( ) 13. Se quisermos melhorar o ensino de língua portuguesa, basta termos mais cuidado na adoção de livros didáticos. ( ) 14. O melhor colégio do Rio de Janeiro é, sem dúvida, o de meu filho, pois é o que possui melhores condições de ensino. ( ) 15. Os cariocas descansam, e os paulistas trabalham, por isso o Rio está cheio de paulistas no final de semana. ( ) 10. Nas últimas eleições para prefeito do Rio de Janeiro, houve, como sempre, um debate pela tevê. De um lado, o candidato do governo daquele momento; do outro, um opositor. Foi feita a mesma pergunta aos dois candidatos: “O que o senhor fará, se eleito, para combater a decadência econômica do Rio de Janeiro?” Ambos os candidatos responderam, mas, poucos dias depois, o partido do governador entrou com recurso no Tribunal Regional Eleitoral, solicitando tempo na programação da emissora, pois a pergunta havia sido parcial. E ganhou a causa! Justifique o ocorrido. ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ TIPOS DE FALÁCIA A. FALÁCIAS DE RELEVÂNCIA 1. Argumentum ad baculum (recurso à força) 2. Argumentum ad hominem (ofensivo) (i) “O PT que está sempre contra os atos de Fernando Henrique (aliás, oposição é para isso mesmo) está se entregando ao senador Antônio Carlos Magalhães. Desde quando alguém acredita no senador? Ele serviu à ditadura, a Fernando Collor, a Sarney e agora vem querendo “faturar” com a impopularidade de Fernando Henrique, a quem apoiou nestes quatros anos.” (Ana Maria Oliveira, Jornal do Brasil, A opinião dos leitores, 21-10-99, p. 8) 3. Argumentum ad hominem (circunstancial) (i) “O Sr. Montenegro, como presidente do Ibope, tirou pontos da candidata ao governo de São Paulo, Marta Suplicy. Como vice-presidente do Botafogo, tirou pontos do São Paulo. Nos dois casos há uma certa suspeita de trambicagem carioca. Dá para confiar nas pesquisas desse senhor e no Ibope?.” (Sebastião Magalhães de Almeida – São Paulo (SP), Jornal do Brasil, A opinião dos leitores, 9-11-1999, p. 8) 4. Argumentum ad ignorantiam (apelo à ignorância) (i) Jamais um sopro de escândalo tocou o Presidente FHC. Portanto, deve ser incorruptivelmente honesto. (ii) “Fala-se em ensino de redação. Agora, como é que podemos obrigar redação no vestibular se nunca houve um estudo sério a respeito do ensino de redação.” (p. 70) (BECHARA, Evanildo. Problemas atuais no ensino de gramática. In: Leite, Cília C. Pereira, Silveira, Regina Célia P. (Coord.). A gramática portuguesa na pesquisa e no ensino. São Paulo: Cortez, 1980, n. 1. p. 63-70) 5. Argumentum ad misericordiam (apelo à piedade) (i) Sr. Itamar Franco, minha mulher, sem dúvida, merece um aumento de salário. Mal consigo alimentar, decentemente, as crianças com o que o senhor lhe paga. E meu filho caçula, Juninho, precisa de uma operação, se quisermos que ande algum dia sem muletas. (ii) “Creio que nunca houve um Dia do Mestre tão melancólico, tão vazio de comemorações e festejos, tão esquecido do pobre professor. Nem as prateleiras tinham cartões alusivos à data, atento que é o comércio ao que se vende ou não. A dedicação e o empenho dos bravos professores que seguem lutando merece nossa admiração, e merece nossa piedade o desinteresse daqueles que se cansaram de lutar ou a quem sequer foram fornecidos os instrumentos para bem exercer essa profissão difícil, absorvente e vital para qualquer povo.” (Lucia Maria Athayde Abelheira, Jornal do Brasil, A opinião dos leitores, 21-10-99, p. 8) 6. Argumentum ad populum (apelo à opinião da maioria e ao esnobismo) 7. Argumentum ad verecundiam (apelo à autoridade) 8. Acidente (i) “Ler em voz alta será sempre excelente.” (GOLD, Miriam. Redação empresarial. 2. d. rev. e ampl. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2002. p. 52) (ii) “Jargão, abuso de formalidade, excesso de palavras não conferem autoridade a ninguém; uma redação natural e objetiva é sempre desejável.” (MENDONÇA, Neide Rodrigues de Souza. Desburocratização lingüística. São Paulo: Pioneira, 1987. p. 41). 9. Acidente convertido (generalização apressada) (i) “As imposições do mercado estão acabando com a criatividade e a imaginação na música popular brasileira. O que vende mais é o que menos qualidade tem.” (Wagner Tiso, Jornal do Brasil, Caderno B, 12-11-99, p. 1) (ii) “Só quem usa a camisinha sabe de sua eficiência ou não. O coordenador da área das doenças sexualmente transmissíveis, Paulo Teixeira, afirma que a camisinha funciona em 95% dos casos. Mas os bispos reunidos em Itaici contratacaram dizendo que a eficiência do preservativo só chega a 65%. Como é que os bispos podem saber?” (FRADE, Wilson. Os bispos e o sexo. Estado de Minas, Belo Horizonte, 20 jun. 2000. Espetáculo, p. 3) “Tenha sempre presente que só se aprende ou se melhora a escrita escrevendo.” (MENDES, Gilmar Ferreira Mendeset al. Manual de redação da Presidência da República. Brasília: Presidência da República, 1991) “Quem lê bem, pensa bem; quem pensa bem, fala e escreve bem.” (SANTOS, Clóvis Roberto; NORONHA, Rogéria Toler da Silva. Monografias científicas. São Paulo: Avercamp, 2005, p. 17). “A confiança é um outro elemento importante na realização do estudo. Inicialmente é preciso confiar no valor do estudo, sabendo que ele representa, de fato, uma atividade que leva ao progresso pessoal. Já acentuamos que essa importância é um fato incontestável e resulta de que o estudo é a única forma pela qual se pode aprender, estando, por isso, intimamente relacionado com o sucesso escolar e com a preparação para competir com vantagem nas atividades profissionais.” (MUNIZ, Amaury Pereira. Aprendendo a estudar. Vitória, ES: Ed. Brasília, 1974, p. 103). “O valor do estudo da física e da química é patenteado, cada momento, pela marcha do progresso humano. Todo o edifício da civilização foi construído com o auxílio das aplicações da física e da química. Estudar essas disciplinas é, portanto, adquirir a possibilidade de conhecer, em suas bases científicas, todos os aspectos da vida civilizada moderna.” (SANTOS, Theobaldo Miranda. Métodos e técnicas do estudo e da cultura. 2. ed. São Paulo: 1957, p. 103). 10. Falsa causa (i) “Johan Cruyft diz que o Brasil tem os melhores jogadores do mundo porque ‘eles aprendem futebol jogando nas ruas, onde só joga quem sabe’.” (Jornal do Brasil, Esportes, 19-10-99, p. 25) (ii) “Não é por acaso que a roçadeira Stihl é a mais vendida do país. É porque é a melhor.” (Anúncio da Stihl, publicado na Folha de S. Paulo, Agrofolha, 19-10-99, p. 5) 11. Petitio principii (petição de princípio) (i) “A alma, por ser substância, pode sobreviver para além da morte, mas não pode reencarnar-se noutros corpos (contra aquilo que afirma a metempsicose) devido ao facto de ser uma forma substancial.” (p. 179) (GAMBRA, Rafael. Noções de Filosofia. Porto: Tavares Martins, 1973) (ii) “Stern responde à pergunta de como e por que a fala adquire significado afirmando que isso acontece por causa de sua tendência intencional, isto é, a tendência ao significado. Isso nos faz lembrar do médico de Molière, que explicou o efeito soporífero do ópio pelas suas propriedades soporíferas.” (p. 32) (VIGOTSKI, L. S. Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998) 12. Pergunta complexa 13. Ignoratio elenchi (conclusão irrelevante) O Menino Maluquinho Ziraldo (Ziraldo. O Menino Maluquinho. Estado de Minas, Belo Horizonte, 26-9-96. Espetáculo, p. 7). (ZIRALDO. O Menino Maluquinho. Estado de Minas, Belo Horizonte, 26 nov. 1996. Espetáculo, p. 7.) B. FALÁCIAS DE AMBIGÜIDADE Equívoco (ambigüidade gerada pelo contexto) (i) “Uma nova pesquisa do Vox Populi, a ser divulgada hoje, vai mostrar que a avaliação sobre o governo FH melhorou. “Mas atenção: em linguagem especializada, melhorou significa apenas que não piorou, como vem acontecendo desde janeiro.” (Danuza Leão, Jornal do Brasil, caderno B, 19-10-99) (ii) “O presidente nacional do PT, José Dirceu, disse ontem, em São Paulo, que estuda a possibilidade de processar o governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), sob acusação de manipular seu discurso. Na última sexta-feira, Covas exibiu, durante entrevista coletiva, trecho de um discurso de Dirceu, feito há cerca de 11 meses, no qual ele afirma que o governo deveria ‘apanhar nas ruas e nas urnas’ e o acusou de incentivar a violência. Na véspera, o governador havia sido apedrejado por professores ao forçar passagem para entrar no prédio da Secretaria de Estado da Educação [...].” “Dirceu disse que vai se reunir com sua assessoria jurídica para estudar um eventual processo contra o governador. Ele afirma que usou o termo ‘apanhar’ como sinônimo de ‘sofrer derrota’.” (José Dirceu vai processar Covas. Estado de Minas, Belo Horizonte, 6 jun. 2000. p. 7) 15. Anfibologia (provocada pela estrutura gramatical da frase) 16. Ênfase 17. Composição (da parte para o todo) (i) “Você não esperava que eu saiba o que dizer sobre uma peça quando não sei quem é o autor ... Se o autor é bom, a peça é boa. Isto é óbvio.” (Bernard Shaw, apud VIEIRA, Sônia. Como escrever uma tese. 5. ed. rev. ampl. São Paulo: Pioneira, 1999) (ii) “O que é verdade individualmente, é verdade colectivamente.” (SERTILLANGES, A. D. A vida intelectual: espírito, condições, métodos. 3. ed. corrigida. Coimbra: Arménio Amado, 1957. p. 169) (iii) “[...] lembrando-se sempre que uma informação propositadamente desvirtuada da verdade ou da verossimilhança pode pesar tanto ao interlocutor, que ele venha a rejeitar todo o discurso, porquanto, inevitavelmente, a desonestidade em um argumento contamina todos os demais.” (RODRÍGUEZ, Victor Gabriel. Argumentação jurídica: técnicas de persuasão e lógica informal. 2. ed., atual. e ampl. Campinas, SP: LZN Editora, 2003. p. 191). 18. Divisão (do todo para a parte) Disciplina: Leitura e Produção de Textos Prof. Wagner Carvalho Conteúdo: Argumentação Referência bibliográfica STONE, Irving M. Falácias não formais. IN: _____. Introdução à lógica. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1978. cap. 3, p. 73-103. FALÁCIAS NÃO FORMAIS Se bem que a maioria dos compêndios de lógica contenha um exame das falácias, seu modo de tratá-las não é idêntico em toda essa maioria. Não há uma classificação universalmente aceita das falácias. A situação não é surpreendente; como disse acertadamente um dos primeiros lógicos modernos, De Morgan: “Não há coisa alguma que possa ter o nome de uma classificação dos modos como os homens chegam a um erro; e é muito duvidoso que possa haver alguma”. A palavra “falácia” é usada de múltiplas maneiras. Um uso perfeitamente correto da palavra é o que se lhe dá para designar qualquer idéia equivocada ou falsa crença, como a “falácia” de acreditar que todos os homens são honestos. Mas os lógicos usam o termo no sentido mais estrito e mais técnico do erro no raciocínio ou na argumentação. Uma falácia, tal como usaremos o termo, é um tipo de raciocínio incorreto. Sendo um tipo de raciocínio incorreto, podemos dizer de dois raciocínios diferentes que contêm ou cometem a mesma falácia. Alguns argumentos, é claro, são tão obviamente incorretos que a ninguém enganam. No estudo da lógica é costume reservar o nome de “falácia” àqueles argumentos ou raciocínios que, embora incorretos, podem ser psicologicamente persuasivos. Portanto, definimos falácia como uma forma de raciocínio que parece correta, mas que, quando examinada cuidadosamente, não o é. É proveitoso estudar mais raciocínios, pois a familiaridade com eles e seu entendimento impedirão que sejamos iludidos. Estar prevenido é estar armado de antemão. Apesar da advertência de De Morgan para não se levar muito a sério a classificação das falácias, concluiremos, não obstante, ser útil agrupá-las da seguinte maneira. Assim, as falácias são divididas em dois grandes grupos: as formais e as não-formais. As falácias formais são mais convenientemente estudadas em conexão com certos padrões de inferência válida, com os quais apresentam uma semelhança superficial. Por isso, adiaremos o seu exame para capítulos subseqüentes. No momento, trataremos das falácias não-formais, erros de raciocínio em que podemos cair por inadvertência ou falta de atenção ao nosso tema, ou então porque somos iludidos por alguma ambigüidade na linguagem usada para formular nosso argumento. Podemos dividir as falácias não-formais em falácias de relevância e falácias de ambigüidade. Não tentaremos fazer um estudo exaustivo da matéria; somente consideraremos dezoito falácias não-formais, aquelas que são as mais comuns e enganadoras. I. FALÁCIAS DE RELEVÂNCIA Comum a todos os raciocínios que cometemfalácias de relevância1. é a circunstância de suas premissas serem logicamente irrelevantes para as suas conclusões e, portanto, serem incapazes de estabelecer a verdade dessas conclusões. A irrelevância é, aqui, lógica e não psicológica, naturalmente, pois se não houvesse alguma conexão psicológica, tampouco haveria qualquer efeito persuasivo ou de aparente correção. O fato de a relevância psicológica poder se confundir com a relevância lógica explica-se, em alguns casos, pelo fato de a linguagem poder ser usada tanto expressiva como informativamente para estimular emoções, tais como o medo, a hostilidade, a compaixão, o entusiasmo ou a reverência. Certo número de tipos particulares de argumentos irrelevantes tem tradicionalmente recebido nomes latinos. Alguns desses nomes latinos acabaram fazendo parte do idioma inglês, como “ad hominem”, por exemplo. Outros são menos conhecidos. Só consideraremos alguns deles, sem pretensão alguma de fazer um tratamento exaustivo. Como conseguem ser persuasivos, apesar de sua incorreção lógica, explicam-se, em alguns casos, pela sua função expressiva, destinada a provocar atitudes suscetíveis de causar a aceitação das conclusões que instigam, em vez de fornecerem as provas que evidenciem a verdade dessas conclusões. 1. Argumentum ad Baculum (recurso à força). O argumentum ad baculum é a falácia que se comete, quando se apela para a força ou a ameaça de força para provocar a aceitação de uma conclusão. Usualmente, só se recorre a ela quando as provas ou argumentos racionais fracassam. O ad baculum resume-se no aforismo: “A força gera o direito”. O uso e a ameaça dos métodos de “mão dura”, para vergarem os adversários políticos, fornecem exemplos contemporâneos dessa falácia. O recurso a métodos não-racionais de intimidação pode ser, naturalmente, mais sutil do que o uso aberto ou a ameaça de campos de concentração ou “tropas de choque”. O cabo eleitoral de um partido político usa o argumentum ad baculum, quando recorda a um deputado que ele (o cacique) representa e manobra a seu bel-prazer tantos milhares de votos no distrito eleitoral do deputado ou tantos contribuintes potenciais para as campanhas de angariação de fundos. Logicamente, estas considerações nada têm que ver com os méritos da legislação cuja aprovação o cabo eleitoral pretende influenciar. Mas, infelizmente, podem ser muito persuasivas. Na escala internacional, o argumentum ad baculum significa a guerra ou a ameaça de guerra. Um exemplo divertido, se bem que, ao mesmo tempo, assustador de raciocínio ad baculum no nível internacional é o que Harry Hopkins nos conta em sua descrição do encontro dos “Três Grandes” em Yalta, no final da Segunda Guerra Mundial. Conta Hopkins que Churchill informara aos demais ter sugerido ao Papa que um determinado curso de ação seria o correto. E Stalin teria manifestado seu desacordo, perguntando: “E quantas divisões disse o senhor que o Papa tem prontas para entrar em combate?” 2. Argumentum ad Hominem (ofensivo). A frase argumentum ad hominem é literalmente traduzida como “argumento dirigido contra o homem”. É suscetível de duas interpretações, cujas correlações serão explicadas depois de termos examinado uma e outra separadamente. Podemos designar a primeira interpretação dessa falácia como a variedade “ofensiva”. É cometida quando, em vez de tentar refutar a verdade do que se afirma, ataca o homem que fez a afirmação. Assim, por exemplo, poder-se-ia argüir que a filosofia de Bacon é indigna de confiança, porque ele foi demitido do seu cargo de Chanceler por desonestidade. Este argumento é falaz, porque o caráter pessoal de um homem é logicamente irrelevante para determinar a verdade ou falsidade do que ele diz ou a correção ou incorreção de seu raciocínio. Argüir que uma proposição é má ou uma afirmação é falsa, porque foram propostas ou afirmadas pelos comunistas (ou por membros da John Birch Society, ou por católicos ou por anti-católicos, ou por homens que surram as esposas) é raciocinar de modo falacioso e fazer-se culpado de sustentar um argumentum ad hominem (ofensivo). Diz-se, algumas vezes, que este tipo de argumento comete a “Falácia Genética”, por óbvias razões. O modo como, por vezes, este argumento falaz pode persuadir é através do processo psicológico de transferência. Se pode ser provocada uma atitude de desaprovação em relação a uma pessoa, essa atitude terá possibilidades de tender para transbordar do campo estritamente emocional e converter-se em desacordo com o que essa pessoa diz. Mas esta conexão é só psicológica, não lógica. Assim, o mais perverso dos homens pode, por vezes, dizer a verdade ou raciocinar corretamente. O exemplo clássico desta falácia relaciona-se com o procedimento judicial britânico. Na Grã-Bretanha, a prática da advocacia divide-se entre solicitors (procuradores ou solicitadores), que preparam os casos para apresentação a juízo, e os barristers (advogados de foro), que pleiteiam e argúem a causa no tribunal. Habitualmente, a cooperação entre eles é admirável, mas, por vezes, deixa muito a desejar. Numa destas últimas ocasiões, o barrister ignorava o caso completamente até o dia em que tinha de ser levado a juízo e dependia do solicitor para a investigação do caso do querelado e a preparação das alegações. Chegou ao tribunal instantes antes de começar o julgamento, e o solicitor entregou-lhe a súmula das alegações. Surpreendido pela exigüidade do documento, deu uma olhada pelo conteúdo para encontrar escrito o seguinte: “Não há defesa; ataque o advogado do queixoso!” 3. Argumentum ad Hominem (circunstancial). A outra interpretação da falácia de argumentum ad hominem, a variedade “circunstancial”, diz respeito às relações entre as convicções de uma pessoa e as suas circunstâncias. Numa disputa entre dois homens, um deles pode ignorar totalmente a questão relativa à verdade ou falsidade de suas próprias afirmações e tratar de provar, em contrapartida, que o seu antagonista deve aceitá-las, por causa das circunstâncias especiais em que este se encontra. Assim, se um dos contendores é um sacerdote, o outro poderá argüir que uma certa asserção deve ser aceita, porque sua negação é incompatível com as Escrituras. Isto não é demonstrar sua verdade, mas insistir com sua aceitação por esse indivíduo particular, devido às circunstâncias especiais em que se acha, neste caso, sua filiação religiosa. Ou se um dos antagonistas é, digamos, um republicano, o outro poderá sustentar, não que uma certa proposição é verdadeira, mas que o primeiro deve concordar com ela, porque está implícita na doutrina do seu Partido. O exemplo clássico desta falácia é a réplica do caçador, quando acusado de bárbaro por sacrificar animais inofensivos para sua própria diversão. Sua resposta consiste em perguntar a quem o critica: “Por que se alimenta o senhor com carne de gado inocente?” O esportista é culpado aqui de um argumentum ad hominem, porque não procura demonstrar que é correto sacrificar a vida de animais para satisfação de prazeres humanos, mas, simplesmente, que o seu crítico não pode recriminá-lo, devido a certas circunstâncias especiais em que se encontra, neste caso, o de não ser vegetariano. Argumentos como estes não são corretos; não apresentam provas satisfatórias para a verdade de suas conclusões, mas pretendem, tão-somente, conquistar o assentimento de algum antagonista, por causa das suas circunstâncias especiais. Conseguem-no freqüentemente, pois costumam ser, na maioria das vezes, muito persuasivos. No parágrafo precedente, descrevemos o uso do ad hominem circunstancial para fazer com que um adversário aceite nossa conclusão. Também é usado como base para rejeitar uma conclusão defendida pelo nosso adversário, como no caso em que se argumenta que as conclusões a que ele chegou foram ditadas mais pelas suas circunstâncias especiais do que pelo raciocínio ou as provas apresentadas. Assim, se os argumentos de um fabricante a favor da proteção tarifária forem rejeitados, com base em que o fabricante esperava naturalmentetirar proveito de uma tarifa protecionista, seu crítico estará cometendo a falácia do argumentum ad hominem (circunstancial). Este tipo de argumento, embora seja freqüentemente persuasivo, é nitidamente falacioso. Não é difícil perceber a correlação existente entre as variedades ofensiva e circunstancial do argumentum ad hominem. A variedade circunstancial pode ser, até, considerada um caso especial da ofensiva. O primeiro uso do ad hominem circunstancial acusa o homem que discute a nossa conclusão de incoerência, quer entre as suas convicções, quer entre o que ele prega e o que pratica, o que, em última análise, pode ser interpretado como uma espécie de recriminação ou ofensa. O segundo uso do ad hominem circunstancial acusa o adversário de ser tão tendencioso e alimentar tantos preconceitos que as razões por ele alegadas não passam de racionalizações de conclusões ditadas pelo egoísmo e os interesses próprios. E isto, certamente, é uma ofensa. Este gênero especial de ad hominem chama-se, às vezes, “envenenar o poço”, por óbvias razões. 4. Argumentum ad Ignorantiam (argumento pela ignorância). A falácia do argumentum ad ignorantiam é ilustrada pelo argumento de que devem existir fantasmas, visto que ninguém foi ainda capaz de provar que não existem. O argumentum ad ignorantiam é cometido sempre que uma proposição é sustentada como verdadeira na base, simplesmente, de que não foi provada sua falsidade, ou como falsa, porque não demonstrou ser verdadeira. Mas nossa ignorância para provar ou refutar uma proposição não basta, evidentemente, para estabelecer a verdade ou falsidade dessa proposição. Esta falácia ocorre, com muita freqüência, em relação com os fenômenos psíquicos, a telepatia etc., sobre os quais não há provas claras em pró ou contra. É curioso que haja um tão grande número de pessoas cultas propensas a cair nesta falácia, como o testemunham numerosos estudiosos da ciência que afirmam a falsidade das pretensões espíritas e telepáticas, simplesmente na base de que a verdade delas ainda não foi estabelecida. Este modo de argumento não é falacioso num tribunal, porque, aí, o princípio inspirador é supor a inocência de uma pessoa até demonstrar a sua culpabilidade. A defesa pode sustentar, legitimamente, que, se o acusador não demonstrou a culpabilidade do acusado, deve ser ditada uma sentença de inocência. Mas, dado que esta posição se fundamenta no princípio jurídico especial acima citado, não refuta a afirmação correta de que o argumentum ad ignorantiam constitui uma falácia em todos os demais contextos. É mantido, por vezes, que o argumentum ad hominem (ofensivo) não é falaz, quando usado num tribunal com a intenção de impedir o depoimento de uma testemunha. É, indubitavelmente, certo que se pode duvidar da declaração de uma testemunha, se for provado que é uma pessoa mentirosa e um perjuro crônico. Nos casos em que isso possa ser demonstrado, reduz, certamente, a credibilidade de que poderia beneficiar o testemunho oferecido. Mas se inferirmos disto que o depoimento de uma testemunha estabelece a falsidade do que testemunha, em vez de concluir apenas que seu testemunho não estabelece a sua verdade, então o raciocínio é falacioso e constitui um argumentum ad ignorantiam. Tais erros são mais comuns do que se pensa. Neste ponto devemos fazer uma restrição. Em certas circunstâncias pode ser admitido com segurança que, se um certo acontecimento tivesse ocorrido, suas provas teriam sido descobertas por investigadores qualificados. Em tais circunstâncias, é perfeitamente razoável tomar a ausência de provas como uma prova positiva da sua não-ocorrência. Claro que esta prova não se baseia em nossa ignorância, mas em nosso conhecimento de que se tivesse ocorrido o saberíamos. Por exemplo, se uma séria investigação do F.B.I. não conseguir juntar provas de que o Sr. X é comunista, seria errôneo concluir disso que essa investigação não tirou o F.B.I. da sua ignorância a tal respeito. Pelo contrário, estabeleceu que o Sr. X não é comunista. Não extrair tais conclusões é o reverso da moeda falsa que é a insinuação maliciosa, como quando alguém diz de um homem que “não há provas” de que seja um patife. Em alguns casos, não extrair uma conclusão é tanto uma violação do raciocínio correto, quanto extrair uma conclusão equívoca ou errada. 5. Argumentum ad Misericordiam (apelo à piedade).O argumentum ad misericordiam é a falácia que se comete, quando se apela para a piedade ou a compaixão para se conseguir que uma determinada conclusão seja aceita. Este argumento encontra-se, com freqüência, nos tribunais de justiça, quando um advogado de defesa põe de lado os fatos pertinentes ao caso e trata de ganhar a absolvição do seu constituinte, despertando a piedade nos membros do júri. Clarence Darrow, famoso advogado criminalista, era um mestre consumado no uso desse gênero de recurso. Na defesa de Thomas I. Kidd, um funcionário da Amalgamated Woodworkers Union, levado a juízo sob a acusação de conspiração criminosa, Darrow dirigiu estas palavras aos jurados: Apelo para vós não em defesa de Thomas Kidd, mas em nome da extensa série — da extensíssima sucessão que remonta à um distante passado, através das eras, e que se projeta nos anos vindouros — a extensíssima série de homens oprimidos e despojados da terra. Apelo para vós em nome dos homens que se levantam antes do amanhecer e voltam a seus lares à noite, quando a luz já desapareceu dos céus, e dão suas vidas, suas forças e seu trabalho, para que outros enriqueçam e se engrandeçam. Apelo para vós em nome daquelas mulheres que oferecem suas vidas a esse moderno deus do dinheiro, e apelo para vós em nome de seus filhos, os que vivem e os que ainda estão por nascer.2. Era Thomas Kidd culpado do que o acusavam? O apelo de Darrow era suficientemente comovedor para conseguir que o jurado comum quisesse jogar pela janela as questões de provas e de legalidade. Contudo, por muito persuasiva que seja tal alegação, do ponto de vista da lógica é falaz qualquer raciocínio que pretenda derivar de “premissas”, tais como essas da conclusão, de que o acusado é inocente. Um exemplo mais antigo e, consideravelmente, mais sutil de argumentum ad misericordiam encontra-se na Apologia de Platão, que pretende ser um relato da defesa que Sócrates apresentou de si próprio durante o seu julgamento. Talvez haja alguém entre vós que esteja ressentido comigo, ao recordar que ele próprio, numa ocasião semelhante e até menos séria, rogou e suplicou aos juízes, com muitas lágrimas, e levou seus filhos ao tribunal para despertar a compaixão, junto com uma multidão de parentes e amigos; ao passo que eu, em contrapartida, ainda que minha vida corra perigo, não farei dessas coisas. O contraste pode ocorrer em seu espírito, predispô-lo contra mim e levá-lo a depositar seu voto com ira, porque está descontente comigo por causa disso. Ora, se há alguma pessoa assim entre vós — note-se que não afirmo que haja — a essa pessoa, se a houver, poderia responder, razoavelmente, desta maneira: Caro amigo, sou um homem e, como os demais homens, uma criatura de carne e sangue, e não “de madeira ou pedra”, como disse Homero; e tenho também família, sim, e filhos, ó atenienses, três em número, um quase um homem e dois ainda pequenos; entretanto, não trarei nenhum deles ante vós para que vos supliquem a minha absolvição. O argumentum ad misericordiam é usado, por vezes, de maneira ridícula, como o caso daquele jovem que foi julgado por um crime particularmente brutal, o assassinato de seu pai e de sua mãe, com um machado. Diante de provas esmagadoras, solicitou piedade do tribunal na base de que era órfão. 6. Argumentum ad Populum. O argumentum ad populum define-se, algumas vezes, como sendo as falácias que se cometem ao dirigir um apelo emocional “ao povo” ou “à galeria” para conquistar a sua anuência a uma conclusão que não é sustentada por boas provas. Mas esta definição é tão ampla que inclui as falácias ad misericordiam, ad hominem (ofensiva) e quase todasas outras falácias de relevância. Podemos definir o argumentum ad populum de um modo mais circunscrito como a tentativa de ganhar a concordância popular para uma conclusão, despertando as paixões e o entusiasmo da multidão. É o recurso favorito do propagandista, do demagogo e do publicitário. Diante da tarefa de mobilizar o sentimento público a favor de uma determinada medida, ou contra ela, o propagandista evitará o laborioso processo de reunir e apresentar provas e argumentos racionais, recorrendo aos métodos mais rápidos do argumentum ad populum. Se a medida proposta introduz uma mudança, e ele está contra essa mudança, expressará suspeitas sobre as “inovações arbitrárias” e elogiará a sabedoria da “ordem existente”. Se estiver a favor da mudança, falará das “virtudes do progresso” e opor-se-á aos “preconceitos antiquados”. Temos, neste caso, o uso de expressões difamatórias, sem qualquer intento racional de argumentar a seu favor ou de justificar a sua aplicação. Essa técnica é suplementada pela exibição de bandeiras e estandartes, bandas de música e tudo o mais que puder servir para excitar e estimular o público. O uso feito pelo demagogo do argumentum ad populum está maravilhosamente ilustrado pela versão que nos deu Shakespeare da oração fúnebre de Marco Antônio sobre o corpo de Júlio César. Devemos ao vendedor ambulante, ao artista de variedades e ao publicitário do século XX o fato de assistirmos à elevação do argumentum ad populum quase ao status de uma arte superior. Neste campo, são tentadas todas as espécies de associações entre o produto que é anunciado e os objetos em relação aos quais se supõe que existe uma forte aprovação pública. Comer uma certa marca de cereais industrializados é proclamado como dever patriótico. Tomar banho com um sabonete de certa marca é descrito como uma experiência emocionante. Acordes de música sinfônica antecedem e sucedem ao anúncio de um creme dental, em programas de rádio e televisão patrocinados pelo seu fabricante. Nos cartazes de propaganda, as pessoas que usam os produtos anunciados são sempre retratadas usando o gênero de vestuário e vivendo no tipo de casas que parece serem suscetíveis de despertar a aprovação e a admiração do consumidor médio. Os jovens que nelas figuram, usando os referidos produtos, são de olhos claros e ombros largos; os anciãos são, invariavelmente, de aspecto “distinto”. As mulheres são todas esbeltas e encantadoras, ou muitíssimo bem vestidas ou quase despidas. Quer uma pessoa esteja interessada no transporte econômico ou na condução em alta velocidade, todo fabricante de automóveis garantirá que seu produto é o “melhor” e “provará” a sua afirmação, exibindo o seu modelo de automóvel cercado de belas moças de biquíni. Os anunciantes “glamorizam” os seus produtos e os vendem nos sonhos e delírios de grandeza junto a cada vidro de pílulas para a prisão de ventre ou baldes para o lixo. Ademais, se o que se pretende é provar que os produtos servem, de modo adequado, às suas funções ostensivas, tais procedimentos são exemplos glorificados do argumentum ad populum. Além do “apelo ao esnobismo” já referido, podemos incluir nesta epígrafe o conhecido “argumento eleiçoeiro”.* O político em campanha eleitoral “argumenta” que deve receber nossos votos, porque “todo o mundo” vota nele. É-nos dito que tal e tal marca de comestíveis, ou de cigarros, ou de automóveis é a “melhor”, porque é a que mais se vende na América. Uma certa crença “deve ser verdadeira”, porque “todo o mundo sabe disso”. Mas a aceitação popular de uma atitude não prova que seja razoável; o uso generalizado de um produto não demonstra que seja satisfatório; a concordância geral com uma opinião não prova que seja verdadeira. Raciocinar dessa maneira é cometer a falácia ad populum. 7. Argumentum ad Verecundiam (apelo à autoridade). O argumentum ad verecundiam é o recurso à autoridade — isto é, ao sentimento de respeito que as pessoas alimentam pelos indivíduos famosos — para granjear a anuência a uma determinada conclusão. Este argumento nem sempre é rigorosamente falaz, pois a referência a uma reconhecida autoridade no campo especial de sua competência pode dar maior peso a uma opinião e constituir uma prova relevante. Se vários leigos discutem a respeito de alguma questão da ciência física e um deles apela para o testemunho de Einstein sobre o problema em debate, esse testemunho é muito importante. Embora não prove o que se sustente, há uma tendência certa para corroborá-lo. Contudo, isto é muito relativo, pois, se em lugar de leigos forem especialistas os que debatem um dado problema que está dentro do âmbito da sua especialidade, só devem recorrer aos fatos e à razão, e qualquer recurso à autoridade de outro perito careceria completamente de valor probatório. Mas, quando se recorre a uma autoridade para testemunhar em questões que estão fora da sua especialidade, o apelo comete a falácia do argumentum ad verecundiam. Se uma discussão sobre religião um dos antagonistas recorre às opiniões de Darwin, uma grande autoridade em biologia, esse recurso é falacioso. Do mesmo modo, apelar para as opiniões de um grande físico como Einstein para dirigir uma discussão sobre política ou economia, seria igualmente falacioso. Poder-se-ia argumentar que uma pessoa, suficientemente brilhante para atingir o status de uma autoridade em domínios complexos e difíceis como a biologia ou a física, deve também ter opiniões corretas em outros campos que estão fora da sua especialidade. Mas a fraqueza desse argumento é óbvia, quando percebemos que, nestes tempos de extrema especialização, obter conhecimentos completos num campo requer tão grande concentração que restringe a possibilidade de adquirir em outros um conhecimento autorizado. Os “testemunhos” publicitários são exemplos eloqüentes desta falácia. Somos instados a fumar esta ou aquela marca de cigarros, porque um campeão de natação ou um corredor de automóveis afirma a superioridade de tal marca. E se nos assegura que um tal cosmético é melhor, porque é o preferido de uma cantora de ópera ou estrela de cinema. Claro que uma publicidade deste gênero pode ser também considerada um apelo ao esnobismo e classificada como um exemplo de argumentum ad populum. Mas, quando se afirma que uma proposição é literalmente verdadeira na base de uma asserção por uma “autoridade”, cuja competência reside num campo diferente, temos uma falácia de argumentum ad verecundiam. 8. Acidente. A falácia de acidente consiste em aplicar uma regra geral a um caso particular, cujas circunstâncias “acidentais” tornam a regra inaplicável. Na República de Platão, por exemplo, encontra-se uma exceção à regra geral de que uma pessoa deve pagar as suas dívidas: “Suponhamos que um amigo, quando em seu perfeito juízo, confiou-me, em depósito, suas armas e me pediu que lhas devolvesse, quando seu espírito estivesse conturbado. Deveria devolver-lhas? Ninguém diria que sim ou que eu faria a coisa certa, se assim procedesse ...” O que é verdadeiro “em geral” pode não ser universalmente verdadeiro, sem limitações, porque as circunstâncias alteram os casos. Muitas generalizações conhecidas ou suspeitas de terem exceções são enunciadas sem restrições, quer porque as condições exatas que limitam a sua aplicabilidade não são conhecidas, quer porque as circunstâncias acidentais que as tornam inaplicáveis ocorrem de um modo tão raro que são praticamente negligenciadas. Quando se recorre a uma tal generalização, ao argumentar sobre um determinado caso cujas circunstâncias acidentais impedem a aplicação da proposição geral, diz-se que o argumento cometeu a falácia de acidente. Alguns exemplos dessa falácia não fazem muita diferença de anedotas. Por exemplo: “O que você comprou ontem, comerá hoje; você ontem comprou carne crua, portanto, comerá hoje carne crua”. Neste argumento, a premissa “O que você comprou ontem, comerá hoje” aplica-se apenas, geralmente, à substância do que é comprado, não à sua condição. Não tem o intuito de abranger todas as circunstânciasacidentais, como a condição “crua” da carne. Sobre este exemplo escreveu De Morgan: “Esse pedaço de carne permaneceu sem cozinhar, tão fresco como sempre, durante um prodigioso espaço de tempo. Estava cru, quando Reisch o mencionou em Margarita Philosophica, em 1496; e o Dr. Whately encontrou-o, exatamente, no mesmo estado, em 1826”. 3. Entretanto, em suas mais sérias formas, a falácia de acidente tem vitimado freqüentemente os moralistas e legalistas que tentam decidir questões específicas e complexas recorrendo, mecanicamente, às regras gerais. Conforme observou H. W. B. Joseph, “... não existe falácia mais insidiosa do que tratar um enunciado que, em muitos aspectos, não é enganador, como se fosse sempre verdadeiro e sem restrições”. 4. 9. Acidente Convertido (generalização apressada). Ao procurar compreender e caracterizar todos os casos de certo tipo, uma pessoa pode, usualmente, prestar apenas atenção a alguns deles. Mas os que são examinados devem ser típicos, não atípicos. Se se considerarem apenas os casos excepcionais e, precipitadamente, deles se generalizar para uma regra que só se ajusta a esses casos, a falácia cometida é a de acidente convertido. Por exemplo, observando o valor dos narcóticos, quando administrados por um médico para aliviar as dores dos que estão gravemente enfermos, uma pessoa talvez seja levada a propor que os narcóticos deviam ser postos à disposição de todo o mundo. Ou, considerando o efeito do álcool apenas sobre os que se entregam à bebida em excesso, uma pessoa talvez conclua que todas as bebidas alcoólicas são nocivas e solicite a proibição legal de sua venda e consumo. Tal raciocínio é errôneo e ilustra a falácia do acidente convertido ou generalização precipitada. 10. Falsa Causa. A falácia a que damos o nome de falsa causa foi analisada de várias maneiras no passado e recebeu diversos nomes latinos, tais como non causa pro causa e post hoc ergo propter hoc. O primeiro destes é mais geral e indica o erro de tomar como causa de um efeito algo que não é a sua causa real. O segundo designa a inferência de que um acontecimento é a causa de outro na simples base de que o primeiro é anterior ao segundo. Consideraremos todo e qualquer argumento que tenta erroneamente estabelecer uma conexão causal como um exemplo de falácia de falsa causa. O que realmente constitui um bom argumento para a presença de conexões causais é, talvez, o problema central da lógica indutiva ou método científico e será discutido posteriormente. Capítulos posteriores. (O significado de “causa” é examinado na seção 1 do capítulo 12). Contudo, é fácil ver que o mero fato de coincidência ou sucessão temporal não basta para estabelecer qualquer relação causal. Devemos, certamente, rejeitar a pretensão do selvagem de que o fato de fazer soar seus tambores é a causa do reaparecimento do sol, depois de um eclipse, ainda quando possa oferecer como prova o fato de que, toda a vez que os tambores soarem, durante um eclipse, o sol reapareceu sempre! Ninguém se deixará enganar por esse argumento, mas um número incontável de pessoas é “sugestionado” por testemunhos a respeito de remédios milagrosos, os quais informam que a Sra. X sofria de um forte resfriado; bebeu três vidros de uma cozedura de erva “secreta” e em duas semanas o resfriado desapareceu! 11. Petitio Principii (petição de princípio). Ao tentar estabelecer a verdade de uma proposição, uma pessoa põe-se, muitas vezes, à procura de premissas aceitáveis donde a proposição em questão possa ser deduzida como conclusão. Se for adotada como premissa para o seu argumento, a própria conclusão que a pessoa tenciona provar, a falácia cometida é a de petitio principii, ou petição do princípio. Se a proposição a ser estabelecida for formulada, exatamente, nas mesmas palavras como premissa e como conclusão, o erro seria tão visível que não enganaria ninguém. Freqüentemente, porém, as duas formulações podem ser, suficientemente, diferentes para obscurecer o fato de que uma única proposição ocorre como premissa e conclusão. Esta situação é ilustrada pelo seguinte exemplo dado por Whately: “Permitir a todos os homens uma liberdade ilimitada de expressão deve ser sempre, de um modo geral, vantajoso para o estado; pois é altamente propício aos interesses da comunidade que cada indivíduo desfrute de liberdade, perfeitamente ilimitada, para expressar os seus sentimentos”. 5. Saliente-se que a premissa não é logicamente irrelevante para a verdade da conclusão, pois se a premissa é verdadeira, a conclusão também tem que ser verdadeira — visto que se trata da mesma proposição em palavras distintas. Mas a premissa é logicamente irrelevante para o propósito de provar a conclusão. Se a proposição é aceitável sem argumento, nenhum argumento é necessário para estabelecê-la; e se a proposição não é aceitável sem argumento, então nenhum argumento que exija a sua aceitação como premissa terá possibilidade de levar alguém a aceitar sua conclusão. Em qualquer argumento de tal natureza, a conclusão só afirma o que foi afirmado nas premissas e, daí, o argumento, embora perfeitamente válido, é totalmente incapaz de estabelecer a verdade da sua conclusão. Em qualquer argumento a conclusão afirma somente o que foi declarado nas premissas, e, por isso, o argumento, embora perfeitamente válido, é, às vezes, incapaz de estabelecer a verdade da conclusão. Por vezes, uma cadeia de numerosos argumentos é usada na tentativa de estabelecer uma conclusão. Assim, uma pessoa pode argumentar que Shakespeare é maior escritor do que Spillane, porque as pessoas com bom gosto literário preferem Shakespeare. E se lhe for perguntado como é que se definem as pessoas com bom gosto literário, a resposta será que tais pessoas se identificam pelo fato de preferirem Shakespeare a Spillane. Trata-se, pois, de um raciocínio circular que incorre na falácia de petitio principii. 12. Pergunta Complexa. É óbvio que existe uma ponta de “comicidade” em perguntas como “Você abandonou os seus maus hábitos?” ou “Você deixou de bater em sua esposa?” Não se trata de perguntas simples a que se possa responder diretamente com um “sim” ou “não”. As perguntas deste gênero pressupõem que já foi dada uma resposta definida a uma pergunta anterior, que nem sequer foi formulada. Assim, a primeira pressupõe que a resposta “sim” tenha sido dada à pergunta não formulada: “Você tinha antes maus hábitos?” E a segunda pressupõe uma resposta afirmativa à seguinte pergunta, igualmente não formulada: “Você já bateu alguma vez em sua esposa?” Em ambos os casos, se se responde com um simples “sim” ou “não” à pergunta ardilosa, isso tem o efeito de ratificar ou confirmar a resposta implícita à pergunta não formulada. Uma pergunta deste tipo não admite um simples “sim” ou “não” como resposta, porque não é uma pergunta simples ou única, mas uma pergunta complexa, a qual consiste de várias perguntas combinadas em uma só. As perguntas complexas não estão limitadas a anedotas óbvias, como no caso dos dois primeiros exemplos dados. Numa acareação, um advogado pode fazer perguntas complexas a uma testemunha para confundi-la ou, até mesmo, para incriminá-la. Pode perguntar: “onde foi que ocultou as provas?” “Que fez com o dinheiro que roubou?”, etc. Na publicidade, nos casos em que seria extremamente difícil demonstrar ou conseguir aprovação para uma simples declaração, a idéia pode ser “infiltrada” de modo muito persuasivo, por meio de uma pergunta complexa. Um porta-voz de uma empresa de serviços públicos pode fazer a pergunta: “Por que motivo a exploração privada de recursos é muito mais eficiente do que qualquer controle público?” Um jingoísta* perguntará ao seu auditório: “Até quando vamos tolerar a interferência estrangeira em nossos interesses nacionais?” Em todos estes casos, o procedimento inteligente é tratar a pergunta complexa não como se fosse simples, mas analisando-a em todos os seus componentes. Pode muito bem acontecer que, quando a pergunta prévia, implícita ou subentendida é respondida demaneira correta, a segunda pergunta ou explícita simplesmente se dissolve. Se eu não ocultar prova alguma, a pergunta a qual não ocultei carece de sentido. Existem outras variedades de perguntas complexas. Uma mãe pode perguntar ao seu filho pequeno se quer ser um bom menino e ir para a cama. Aqui, a questão é menos enganadora. Trata-se, claramente, de duas perguntas; uma delas não pressupõe uma resposta particular a outra. O que está errado é a implicação de que deve ser dada uma única resposta a ambas as perguntas. Você é “a favor” dos Republicanos e da prosperidade, ou não? Responda “sim” ou “não!” Mas, trata-se de uma pergunta complexa e é, pelo menos, concebível que as duas perguntas possam ter respostas diferentes. No procedimento parlamentar, a moção “para dividir a questão” é uma moção privilegiada. Esta regra reconhece que as questões podem ser complexas e, portanto, podem ser examinadas com maior clareza, se forem divididas. Nossa prática no tocante ao poder de veto do Presidente está menos esclarecida. O Presidente pode vetar uma medida em seu conjunto, mas não pode vetar a parte que desaprova e promulgar o resto. Portanto, não pode dividir a questão; tem que vetar ou aprovar, responder “sim” ou “não” a qualquer questão, por mais complexa que seja. Assim, esta restrição resulta na prática do Congresso de anexar, como “suplementos”, à medida que, de um modo geral, contam com a aprovação do Presidente, certas cláusulas adicionais — muitas vezes, completamente irrelevantes para a questão — cláusulas essas que se apresenta um projeto de lei semelhante, o Presidente vê-se na contingência de aprovar algo que desaprova ou de vetar algo que aprova. Ainda uma outra espécie de pergunta complexa envolve certos epítetos que predeterminam, de certo modo, a resposta, como quando alguém pergunta: “Fulano é um radical fanático?” ou “um conservador irracional?” ou, ”Esta política não está conduzindo a uma inflação ruinosa?” Neste caso, como nos demais, é preciso dividir a pergunta complexa. As respostas poderiam ser: “radical, sim, mas não fanático”, “conservador, sim, mas não irracional”, ou “levará a uma inflação, sim, mas não será ruinosa e poderá provocar um reajustamento salutar”. Até aqui, examinamos as perguntas complexas em geral, mas ainda não identificamos, especificamente, a falácia da pergunta complexa. Na forma do seu todo explícita, a falácia da pergunta complexa ocorre no diálogo: uma pessoa formula uma pergunta complexa. Seu interlocutor responde, inadvertidamente, com um “sim” ou um “não”, e a primeira pessoa, então, extrai uma inferência falaciosa que poderá parecer apropriada. Por exemplo: INVESTIGADOR: Suas vendas aumentaram em conseqüência da sua publicidade equívoca? TESTEMUNHA: Não, senhor. INVESTIGADOR: Ah! ah! Então admite que sua publicidade era equívoca e induzia o público ao erro? Você sabe que sua conduta transgride as normas da ética comercial e pode causar-lhe sérios dissabores? Menos explicitamente, a falácia da pergunta complexa pode envolver apenas uma pessoa que formula a pergunta complexa, responde-lhe e depois passa a extrair a inferência falaciosa. Ou, ainda menos explicitamente, a pessoa poderá fazer, de um modo simples, a pergunta e aduzir a inferência, sem que a resposta seja enunciada, mas apenas subentendida. 13. Ignoratio Elenchi (conclusão irrelevante). A falácia de ignoratio elenchi é cometida, quando um argumento que pretende estabelecer uma determinada conclusão é dirigido para provar uma conclusão diferente. Por exemplo, quando uma determinada proposta de legislação relacionada com a política habitacional está em discussão, um legislador poderá pedir a palavra para falar sobre o projeto e dizer apenas que se deseja proporcionar moradia decente a todas as pessoas. Suas considerações são, portanto, irrelevantes para a matéria em apreciação, de um ponto de vista lógico, porquanto a questão diz respeito a determinadas medidas práticas prestes a serem decididas. Presumivelmente, todos concordam que moradia apropriada para todas as pessoas é desejável (mesmo aqueles que, realmente, não o pensam, fingirão concordar). A questão é a seguinte: as medidas propostas proporcionarão isso e, no caso positivo, de um modo melhor do que qualquer alternativa prática? O argumento do orador é falacioso, visto que comete a falácia de ignoratio elenchi ou conclusão irrelevante. Num tribunal, tentando provar que o réu é culpado de homicídio, o promotor público poderá argumentar longamente que o homicídio é um crime horrível. Será at[e capaz de provar, com êxito, essa conclusão. Mas, quando infere das suas considerações sobre o horror do crime de que o réu é acusado, está cometendo a falácia de ignoratio elenchi. A interrogação que surge, naturalmente, é como tais argumentos conseguem iludir alguém? Uma vez percebido que a conclusão é irrelevante, por que motivo o argumento poderá enganar alguém? Em primeiro lugar, nem sempre é óbvio que um dado argumento seja um caso de ignoratio elenchi. Durante uma prolongada discussão, a fadiga pode ocasionar desatenção e erros, de modo que as irrelevâncias passem despercebidas. Isto é apenas parte da explicação, é claro. A outra parte tem que ver com o fato de que a linguagem pode servir tanto para despertar emoções como para comunicar informações. Consideremos o primeiro exemplo de ignoratio elenchi. Ao insistir em que a moradia decente para todos é desejável, o orador pode provocar uma atitude de aprovação para si próprio e para o que diz; e essa atitude tenderá a se transferir para a sua conclusão final mais por associação psicológica do que por implicação lógica. O orador, talvez, consiga despertar um sentimento tão positivo a favor do desenvolvimento habitacional que seus ouvintes votarão mais entusiasticamente o projeto de lei, como se ele tivesse realmente demonstrado que sua promulgação era de interesse público. Do mesmo modo, no segundo exemplo, se o promotor fizer uma descrição suficientemente impressionante dos horrores do homicídio, o júri pode ficar tão excitado, tanta repulsa pode ser provocada em cada um dos jurados, que estes decretarão um veredicto de culpa tão mais rápido como se o promotor tivesse provado “meramente” que o acusado cometera o crime. Embora todo o apelo emocional seja logicamente irrelevante para a verdade ou falsidade de uma conclusão, nem todos os casos de ignoratio elenchi implicam, necessariamente, um apelo emocional. Um argumento pode ser enunciado em linguagem fria, asséptica, neutral e, mesmo assim, cometer a falácia da conclusão irrelevante. É o que acontece se suas premissas forem dirigidas para uma conclusão diferente daquela que deveria ser por elas estabelecida. II. FALÁCIAS DE AMBIGÜIDADE As falácias não-formais que estudaremos em seguida têm sido, tradicionalmente, designadas como “falácias de ambigüidade” ou “falácias de clareza”. Ocorrem em argumentos cujas formulações contêm palavras ou frases ambíguas cujos significados variam, mudam de maneira, mais ou menos sutil, durante o argumento e, por conseguinte, tornam-no falaz. As que, seguidamente, se mencionam são todas falácias de ambigüidade, mas é útil dividi-las e classificá-las de acordo com as diferentes maneiras em que as suas ambigüidades se apresentam. 1. Equívoco. A primeira falácia de ambigüidade que analisaremos é a que decorre de um simples equívoco. A maioria das palavras tem mais de um significado literal, como a palavra “pena”, que tanto se refere à cobertura que reveste o corpo das aves, como a um instrumento de escrita ou, ainda, a uma sanção ou punição.* Se distinguirmos estes diferentes sentidos, nenhuma dificuldade surgirá. Mas, se confundirmos os diferentes significados que uma palavra ou frase pode ter, usando-a no mesmo contexto com diversos sentidos, sem disso nos apercebermos, então estaremos empregando-a de maneira equívoca. Se o contexto é um argumento, cometeremos a falácia do equívoco. Um exemplo tradicional desta falácia é o seguinte: “O fim de umacoisa é a sua perfeição; a morte é o fim da vida; logo, a morte é a perfeição da vida.” Este argumento é falaz, porque nele se confundem dois sentidos diferentes da palavra “fim”. A palavra “fim” pode significar “meta” ou “último acontecimento”. Ambos os significados são, é claro, legítimos. Mas, o que é ilegítimo é confundi-los, como no raciocínio já citado. As premissas só são plausíveis quando a palavra “fim” é interpretada, diferentemente, em cada uma delas, da seguinte forma: “A meta de uma coisa é atingir a sua perfeição”, e “a morte é o último acontecimento da vida”. Mas, a conclusão de que a “morte é a perfeição da vida” não se deduz, evidentemente, dessas premissas. O mesmo sentido de “fim” poderia ser usado, é claro, em ambas as premissas, mas, nesse caso, o argumento perderia toda a sua plausibilidade, pois teria ou a premissa inverossímil “O último acontecimento de uma coisa é a sua perfeição” ou a premissa, obviamente falsa, “a morte é a meta da vida”. Alguns exemplos da falácia de equívoco são tão absurdos que mais parecem uma espécie de anedota. Assim, por exemplo: Alguns cachorros têm orelhas felpudas. Meu cachorro tem orelhas felpudas. Portanto, meu cachorro é algum cachorro! Existe um tipo único de equívoco que merece menção especial. Relaciona-se com os termos “relativos”, que têm diferentes significados em contextos diferentes. Por exemplo, a palavra “alto” é relativa. Um homem alto e um edifício alto estão em categorias completamente distintas. Um homem alto é aquele que é mais alto do que a maioria dos homens; um edifício alto é o que é mais alto do que a maioria dos edifícios. Certas formas de raciocínio, que são válidas para termos não-relativos, perdem sua validade, quando substituídas por termos relativos. O argumento “um elefante é um animal; portanto, um elefante cinzento é um animal cinzento”, é perfeitamente válido. A palavra “cinzento” é um termo não-relativo. Mas o argumento “um elefante é um animal; portanto, um elefante pequeno é um animal pequeno”, é ridículo. A questão é que “pequeno” é um termo relativo: um elefante pequeno é um animal muito grande. Trata-se de uma falácia de equívoco, resultante do termo relativo “pequeno”. Contudo, nem todos os equívocos em que participam termos relativos são tão óbvios. A palavra “bom” é um termo relativo e, com freqüência, é usada equivocadamente; como, por exemplo, quando se diz que Fulano seria um bom presidente, porque é um bom general, ou que deve ser uma boa pessoa, porque é um bom matemático, ou que é um bom professor, porque é um bom cientista. 2. Anfibologia. A falácia da anfibologia ocorre quando se argumenta a partir de premissas cujas formulações são ambíguas em virtude de sua construção gramatical. Um enunciado é anfibológico, quando seu significado não é claro, pelo modo confuso ou imperfeito como as suas palavras são combinadas. Um enunciado anfibológico pode ser verdadeiro numa interpretação e falso em outra. Quando é formulado como premissa com a interpretação que o torna verdadeiro, e a conclusão que se extrai dele na análise que o torna falso, então se diz que é praticada a falácia da anfibologia. O exemplo clássico de anfibologia relaciona-se com Creso e o Oráculo de Delfos. As declarações anfibológicas constituíam, é claro, a moeda corrente dos oráculos da Antigüidade. Creso, rei da Lídia, estava planejando uma guerra contra o reino da Pérsia. Como era um homem prudente, não desejava envolver-se numa guerra sem ter a certeza de que a ganharia. Consultou o Oráculo de Delfos sobre o assunto e recebeu a seguinte resposta: “Se Creso declarar guerra à Pérsia, destruirá um reino poderoso.” Deliciado com tal predição, Creso iniciou a guerra e foi, rapidamente, derrotado por Ciro, rei dos persas. Mais tarde, tendo-lhe sido perdoada a vida, Creso escreveu uma carta ao Oráculo, em que se queixava amargamente. Sua carta foi respondida pelos sacerdotes de Delfos, os quais afirmaram que o Oráculo fizera uma predição correta. Ao desencadear a guerra, Creso destruíra um poderoso reino, o seu próprio! Os enunciados anfibológicos são, realmente, premissas perigosas. Entretanto, é raro encontrá-los em uma séria discussão. Alguns enunciados anfibológicos têm aspectos humorísticos — por exemplo: Nos cartazes que dizem “Save Soap and Waste Paper”, ou quando se define a antropologia como “the science of man embracing woman”.* Seria errôneo supor um vestuário impróprio na mulher descrita da seguinte maneira: “... loosely wrapped in a newspaper, she carried three dresses.”* * A anfibologia manifesta-se, freqüentemente, nas manchetes dos jornais e nas pequenas notícias, como neste exemplo: “Um fazendeiro estourou os miolos depois de se despedir afetuosamente da família com uma garrucha”. 3. Ênfase. Como todas as falácias de ambigüidade, a falácia da ênfase é cometida num argumento cuja natureza enganadora, mas carente de validade, depende de uma mudança ou alteração no significado. A maneira como os significados mudam na falácia de ênfase depende de que partes deles sejam enfatizadas ou acentuadas. É evidente que alguns enunciados adquirem significados muito diferentes segundo as palavras que se sublinhem. Consideremos, por exemplo, os diferentes significados que resultam da seguinte proibição, segundo forem as palavras grifadas que se destaquem: Não devemos falar mal dos nossos amigos. Quando se lê sem qualquer ênfase indevida, a proibição é perfeitamente válida. Contudo, se extrairmos a conclusão de que podemos sentir-nos completamente livres para falar mal de qualquer um que não seja nosso amigo, então esta conclusão só deriva da premissa, se esta tiver o significado que adquire, quando se sublinham as duas últimas palavras. Mas, quando estas duas palavras são sublinhadas, a intimação já não é mais aceitável como lei moral; tem um significado diferente e é, de fato, uma premissa diferente. O argumento é, neste caso, uma falácia de ênfase. Também o seria o argumento que extraísse da mesma premissa a conclusão de que podemos fazer mal aos nossos amigos, na condição de que o façamos silenciosamente. E o mesmo acontece com as outras inferências falaciosas sugeridas. No mesmo tom ligeiro, segundo onde se coloque a ênfase, temos o seguinte enunciado: Woman without her man would be lost. * Assim seria perfeitamente aceitável para os dois sexos. Mas, inferir o enunciado, com uma ênfase do enunciado acentuado de maneira diferente, seria o caso da falácia de ênfase. Numa acepção ligeiramente mais ampla do termo, pode se apresentar um caso mais sério dessa falácia ao fazer uma citação, na qual a inserção ou supressão de gritos pode mudar o significado. Um outro caso de acentuação falaciosa pode ocorrer, sem qualquer variação no uso de palavras grifadas, quando o trecho citado é isolado do seu contexto. Freqüentemente, se pode entender, de um modo claro, um trecho, somente à luz do seu contexto, o qual pode esclarecer o sentido que se pretende dar ao mesmo ou pode conter especificações explícitas sem as quais o trecho em questão adquire um significado muito diferente. Por isso, um escritor responsável que faz uma citação direta indicará se as palavras grifadas da sua citação estavam ou não grifadas no original e indicará, ainda, qualquer omissão de palavras ou frases, mediante o uso de reticências. Um enunciado que é, literalmente, verdadeiro, mas sem interesse algum, quando é lido ou escrito “normalmente”, poderá tornar-se muito excitante quando acentuado de certa maneira. Porém, essa acentuação poderá alterar o seu significado e, com isso, deixar de ser verdadeiro. Assim, a verdade é sacrificada ao sensacionalismo por meio da inferência falaz que se produz ao acentuar (tipograficamente) a parte de uma frase mais do que a outra. Esta técnica constitui uma política deliberada de certos jornais sensacionalistas, os chamados “tablóides”, para atrair as atenções através de suas manchetes. Um desses jornais poderá, por exemplo, ostentar uma grande manchete em negrito, com as seguintes palavras:REVOLUÇÃO NA FRANÇA Logo abaixo, em tipo de imprensa consideravelmente menor e menos saliente, podemos encontrar as palavras: “Temida pelas autoridades”. A frase completa: “Revolução na França (é) temida pelas autoridades” pode ser perfeitamente verdadeira. Mas a forma como que uma parte dela se destaca no “tablóide”, confere-lhe um significado excitante, mas profundamente falso. Em muitos casos de publicidade encontramos a mesma ênfase enganadora. Nos anúncios em que se indica o presumível preço líquido de um determinado artigo, um exame mais atento da notícia permitir-nos-á descobrir as palavras, invariavelmente impressas num tipo menor, “mais ou impostos” ou a expressão “e acima”. Nos anúncios dirigidos aos setores do público que se presume serem menos cultos, esse tipo de ênfase é, amiúde, flagrante. Até a própria verdade literal pode ser um veículo para a falsidade quando enfatizada, colocando-a num contexto equívoco, tal como é ilustrada pela seguinte história de um marinheiro. Quase no momento de certo navio zarpar, houve uma altercação entre comandante e seu imediato. O conflito agravou-se pela tendência do imediato para a bebida, pois o capitão era um fanático de abstinência e, raramente, perdia uma oportunidade para censurar seu oficial por tão deprimente vício. Seria necessário dizer que seus sermões só logravam fazer com que o imediato bebesse ainda mais. Após repetidas advertências, num dia em que o oficial estava mais tocado do que de costume, o comandante registrou o fato no diário de bordo com as seguintes palavras: “O imediato estava ébrio hoje.” Quando coube ao imediato a sua vez de fazer os registros no livro, ficou horrorizado ao ler esse lavrado oficial de sua má conduta. O diário de bordo seria lido pelo armador do barco e sua reação, provavelmente, seria despedi-lo, ainda por cima com más referências. Suplicou ao capitão que retirasse aquele registro, mas este negou-se a fazê-lo. O imediato estava desconsolado, até que, finalmente, encontrou um meio de vingança. No final dos registros regulares que fizera no diário de bordo, nesse dia, acrescentou: “O capitão estava sóbrio hoje”. 4. Composição. A expressão “falácia de composição” aplica-se a dois tipos de argumento inválido estritamente relacionados entre si. O primeiro pode ser descrito como raciocinar falaciosamente a partir das propriedades das partes de um todo até às propriedades do próprio todo. Um exemplo, particularmente, flagrante desta falácia consistiria em argumentar que, se todas as partes de uma certa máquina são leves no peso, a máquina “como um todo” é também leve no peso. O erro torna-se manifesta, neste caso, quando pensamos que uma máquina muito pesada pode consistir numa grande quantidade de peças leves. Contudo, nem todos os exemplos deste tipo da falácia de composição são tão óbvios. Alguns são enganadores. Ouve-se, seriamente, o seguinte argumento: Se cada cena de uma certa peça teatral é um modelo de perfeição artística, a obra como um todo é artisticamente perfeita. Mas isto é uma falácia de composição, tanto quanto seria argumentar que, se cada belonave está a postos para a batalha, a esquadra inteira tem que estar a postos para a batalha. Outro tipo de falácia de composição é estritamente paralelo ao que acabamos de descrever. Neste caso, o raciocínio falacioso é a partir das propriedades possuídas por elementos ou membros individuais de uma coleção para as propriedades possuídas pela coleção ou totalidade desses elementos. Por exemplo, seria falacioso argumentar que, se um ônibus utiliza mais gasolina do que um automóvel, então, todos os ônibus utilizam mais gasolina do que todos os automóveis. Esta variante da falácia de composição gira em torno de uma confusão entre o uso “distributivo” e “coletivo” dos termos gerais. Assim, embora os estudantes universitários possam se matricular em apenas seis cadeiras diferentes a cada semestre, também é verdadeiro que os estudantes universitários se matriculam em centenas de cadeiras diferentes cada semestre. Este conflito verbal é facilmente resolvido. É certo que os estudantes universitários, distributivamente, não podem se matricular em mais de seis classes cada semestre. Isto é uma aplicação distributiva do termo, à medida que nos referimos aos estudantes tomados singularmente, ou individualmente. Mas é certo que os estudantes universitários, coletivamente, matriculam-se em centenas de classes diferentes todos os semestres. Isto é um uso coletivo do termo, à medida que nos referimos aos estudantes universitários no seu conjunto, como uma coleção ou totalidade. Assim, os ônibus usam mais gasolina do que os automóveis, distributivamente; mas, coletivamente, os automóveis usam muito mais gasolina do que os ônibus, porque há muito mais automóveis do que ônibus. Este segundo tipo da falácia de composição pode ser definido como a inferência inválida pela qual o que pode ser baseado com exatidão sobre uma classe, distributivamente, também pode ser, de maneira real, afirmado sobre essa classe, coletivamente. Assim, as bombas atômicas lançadas durante a Segunda Guerra Mundial causaram mais devastações do que as bombas comuns — mas só distributivamente. Quando as duas espécies de bombas são consideradas coletivamente, a relação fica, de um modo exato, invertida, pois foram lançadas muito mais bombas convencionais do que atômicas. Ignorar esta distinção num raciocínio originaria uma falácia de composição. Estas duas variedades de composição, embora paralelas, são realmente distintas, em virtude da diferença que existe entre uma simples coleção de elementos e o todo construído a partir desses elementos. Assim, uma simples coleção de peças não é uma máquina; uma simples coleção de tijolos não é uma casa nem um muro. Um todo, como uma máquina, uma casa ou um muro, tem suas partes organizadas ou dispostas de um determinado modo definido. E como os todos organizados e as simples coleções se distinguem, também são diferentes as duas versões da falácia de composição, visto que uma procede, invalidamente, das partes para o todo e a outra provém, invalidamente, dos seus membros ou elementos para as coleções. 5. Divisão. A falácia de divisão é, simplesmente, o inverso da falácia de composição. Apresenta-se nela a mesma confusão, mas a inferência desenvolve-se na direção oposta. Como no caso da composição, podem ser distinguidas duas variedades da falácia de divisão. O primeiro gênero de divisão consiste no seguinte argumento: O que é verdadeiro em um todo deve também sê-lo em suas partes. Argumentar que, se uma certa empresa é muito importante, e o Sr. Doe é um funcionário dessa empresa, logo o Sr. Doe é muito importante — é cometer a falácia de divisão. Esta primeira variedade da falácia de divisão seria cometida em todo aquele raciocínio que, por exemplo, parta da premissa de que uma certa máquina é pesada, complicada ou cara para chegar à conclusão de que qualquer peça da máquina deve também ser pesada, complicada ou cara. Argumentar que uma jovem deve ter um quarto muito grande, porque habita numa pensão de estudantes muito grande seria ainda um outro exemplo do primeiro tipo da falácia de divisão. O segundo tipo da falácia de divisão é cometido quando se argumenta a partir das propriedades de uma coleção de elementos para as propriedades dos mesmos elementos. Raciocinar que, se os estudantes universitários estudam medicina, direito, engenharia, odontologia e arquitetura, e cada estudante universitário, então, estuda Medicina, Direito, Engenharia, Odontologia e Arquitetura, seria cometer o segundo tipo de falácia de divisão. É verdade que os estudantes universitários, coletivamente, estudam todas essas matérias, mas é falso que os estudantes universitários, distributivamente, façam o mesmo. Os exemplos desta variedade da falácia de divisão assumem, com freqüência, o aspecto de raciocínios válidos, pois o que é verdadeiro em uma classe, distributivamente, é, sem dúvida, verdadeiro no todo e em cada membro. Assim, o argumento: Os cães são carnívoros.Os spaniels são cães. Logo, os spaniels são carnívoros. é perfeitamente válido. Mas, embora se assemelhe estritamente ao anterior, o argumento seguinte: Os cães são comuns. Os spaniels são cães. Logo, os spaniels são comuns. não é válido, pois comete a falácia da divisão. Alguns exemplos desta falácia são óbvias anedotas, como no exemplo clássico da argumentação válida: Os homens são mortais. Sócrates é um homem. Logo, Sócrates é mortal. que é parodiada pela falácia: Os índios americanos estão desaparecendo. Aquele homem é um índio americano. Logo, aquele homem está desaparecendo. A velha charada, “Por que as ovelhas brancas comem mais do que as negras?”, gira em torno da confusão envolvida na falácia de divisão. Pois, a resposta “Porque há mais ovelhas brancas” trata coletivamente o que parecia ser distributivamente referido na pergunta. CONCEITO DE REVISÃO 1. Exame minucioso e atento em nova leitura. 2. Trabalho empregado no estudo de uma obra para a emendar, corrigir ou aperfeiçoar. (MICHAELIS, 1998:1.841). DE EDIÇÃO Preparação do original de um texto, artigo, revista, livro, etc., para ser publicado. COPIDESQUE Redação final de um texto com vistas à sua publicação; correção, aperfeiçoamento e adequação de um texto escrito às normas gramaticais, editoriais, etc. (NOVO AURÉLIO SÉCULO XXI, 1999:551). COMO SIMPLIFICAR TEXTOS INFORMATIVOS Dirigir-se diretamente ao leitor, usando nome e pronome. Escrever, sempre que possível, na voz ativa. Preferir as frases verbais às nominais. Escolher cuidadosamente o vocabulário, evitando o jargão e explicando os termos técnicos. Ser consistente, evitando sinônimos pelo mero prazer da variedade. Usar somente as palavras necessárias. Escrever orações curtas. Pôr as orações do período na ordem predominante no português: sujeito, verbo, complementos. Evitar construções complexas. Usar listas quando houver vários itens a abordar. Não redigir períodos com negativas múltiplas. Transformar as orações negativas em positivas sempre que puder. Evitar cadeias de nomes. 10. CORRESPONDÊNCIA EMPRESARIAL Os temas abordados neste item representam a generalidade dos problemas comuns na correspondência empresarial: do papel ao envelope, da apresentação material aos detalhes de forma ou de conteúdo, cada um desses problemas encontra solução ou o encaminhamento desta. Paralelamente, há aferrada confusão entre documentos das diversas correspondências; já mais de uma vez se disse — respondendo, entre outras, a consultas sobre pedidos formulados com aspectos de requerimento, por sócios ou acionistas, que as dirigem a entidades privadas — que “a forma semelhante na redação de um documento não importa, necessariamente, a incidência dos tributos a que estão sujeitos os papeis especificados em leis”, carta é carta, ofício é ofício. De início, eis em quantas partes se divide uma carta. 1. (Logomarca da empresa) 2. SvRP/865-2005 3. Porto Alegre, 30 de setembro de 2005. (4) Sr. T. A. Beltrão de Castro, Diretor da Organização Leon Ltda. 5. Prezado Senhor: 6. Desejando levá-la mais longe entre os dirigentes de nossas empresas públicas ou privadas, reproduzimos a mensagem da Remington Rand do Brasil S.A. a propósito do Dia da Secretária: 7. “Sem ela, você estaria perdido num mundo de planos e cartas, de cálculos e compromissos, de lembretes e obrigações sociais; sem ela, você teria de multiplicar desculpas, justificar atrasos, corrigir erros e, quem sabe, mudar de profissão. Sua secretária contribui, com esforço, dedicação e lealdade, para o seu êxito. A ela, portanto, você deve um pouco de suas vitórias. Assim, quando mais uma vez se comemora o Dia da Secretária, é você quem deve ter um gesto de amizade para com sua colaboradora infatigável. Ela merece ser lembrada”. 8. Atenciosamente, 9. Régis Pereira, Chefe do SvRP. 10. MT/SB 1. Cabeçalho ou timbre. 6. Introdução, começo ou início. 2. Índice e número (outras vezes, apenas número). 7. Explanação. 8. Fecho ou encerramento. 3. Data. 9. Assinatura. 4. Endereço ou destino. 10. Iniciais (redator e datilógrafo). 5. Invocação, vocativo ou chamamento (outras vezes, saudação). A carta, na correspondência empresarial, pode ser considerada: Quanto ao tipo a) simples, b) epigrafada ou com referência, c) com tópicos e d) circular (os comentários sobre este documento são encontrados no item circular). Quanto ao estilo redacional a) conciso e b) prolixo. Quanto à disposição dos elementos a) endentado, b) semibloco e c) bloco. Quanto à pontuação a) aberta e b) fechada. Carta simples – aspecto endentado, pontuação fechada 27-88 Porto Alegre, 25 de maio de 2005. Srta. Cláudia Fonseca Nunes. Prezada Cliente: Foi um grande orgulho para a Masson conviver com a Senhortita durante esses meses, não apenas pela pontualidade constatada em seus pagamentos, mas, principalmente, pela confiança que a senhorita depositou na hora de escolher a casa onde comprar. A Senhorita escolheu a Masson, retribuindo, assim, um trabalho de 108 anos dedicados a servi-la, como a todos os nossos clientes. Cordialmente, CASA MASSON S.A. Carta simples – aspecto semibloco 34-88 Porto Alegre, 23 de junho de ..... Ind. Fundição Argentina S.A., at. do Sr. Flávio Fortes. Prezado Senhor: É essencial ter belos amigos no comércio, mas devemos acolher calorosamente os novos clientes que, afinal de contas, nos ajudarão a aumentar o número de amigos. Esta mensagem é um cumprimento de nossa Empresa e um agradecimento pessoal por seu recente pedido, que acreditamos ser o primeiro que sua Firma nos envia. Apreciamos a maneira como nos distinguiu e francamente esperamos que a qualidade de nossos produtos seja tão satisfatória, a ponto de sermos merecedores de futuros pedidos. Atenciosamente, Luiz Carlos Strochein, Supervisor de Materiais. LCS/CD Carta simples – aspecto bloco DIRETORIA/32-88 Porto Alegre, 2 de maio de ...... M.P.M. Propaganda S.A., at. Sr. RUI PORTO. Prezado Senhor: Agradecemos a atenção e gentileza com que fomos distinguidos por ocasião de nossa visita em sua empresa. Estamos certos de que este contato servirá para fortalecer um entrosamento comercial mais efetivo entre nós, atendendo nossos mútuos interesses. Cordialmente, A. P. Ribas, Diretor. EIP/MS Carta com o assunto epigrafado É a que traz um resumo do conteúdo, escrito entre o endereço e a invocação. DE/84-88 Porto Alegre, 19 de abril de 2005. Editora Atlas S.A., at. Departamento de Divulgação. REF. REPRESENTAÇÃO NA PRAÇA. Senhores: É com satisfação que nos dirigimos a V.Sas. para solicitar-lhes, com exclusividade, a representação de sua conceituada Editora para o Rio Grande do Sul. Possuímos um corpo de vendedores altamente capacitados na venda de livros, estando, portanto, aptos a desenvolver um bom trabalho nesta praça. No caso de sermos atendidos em nossas pretensões, queiram fornecer os dados para que possamos abraçar esta tarefa que, para nós, será muito gratificante. Atenciosas saudações, Fulano de Tal, Diretor-Administrativo. CR/TJ 33-2000 Porto Alegre, 22 de setembro de 2000. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, at. do Diretor do Laboratório de Ensino. REF.: SUA CORRESPONDÊNCIA DE 13-4-99. Prezado Senhor: Encaminhamos, em anexo, catálogosde condicionadores de ar tipo Self-Contained, marca COLDEX-TRANE, para o seu gabinete de Experimentação de Formas e Materiais. Atenciosamente, DUTERM AR-CONDICIONADO. A abreviatura de REFERÊNCIA (REF.) poderá ou não aparecer no documento. SD/67-88 Porto Alegre, 5 de maio de 2005. KARTRO S.A., at. do Departamento Comercial. SOLICITAÇÃO DE MATERIAL. Prezados Senhores: Solicito remessa de catálogos de amostras de material de escritório como carbonos, corretores, fitas para máquinas de escrever e calcular, fichários de mesa e outros produtos usados no ramo, a fim de que seja feita uma seleção para futuro pedido em larga escala. Agradeço seu pronto atendimento, Aldo Osório da Rosa Neto, Chefe do Setor de Compras. Carta com tópicos Quando há vários assuntos a tratar na mesma carta, adota-se este tipo. Cada seção constitui um tópico da missiva. Numerosas empresas dão preferência ao tipo anterior, porque os casos tratados isoladamente recebem maior atenção, com vantagem, pois, sobre a carta com tópicos; outras organizações desdobram aquilo que seria uma carta com tópicos em tantos memorandos tratados, porém desperdiçando tempo, trabalho e material. CG/42-88 Porto Alegre, 22 de setembro de 1999. Srs. Diretores da Cia. Editora Brasil Ltda. Senhores: Temos o prazer de novamente comunicar-nos com V.Sas., respondendo às cartas dos dias 10 e 17 de agosto. RECIBOS DE PROPAGANDA – Em anexo, seguem cinco recibos de obras entregues a professores a título de propaganda. Queiram fazer remessa de mais alguns talões de recibos para educandários. FOLHETOS – Temos recebido novos folhetos de reedições, os quais são distribuídos aos clientes de acordo com suas instruções. MUDANÇA DE ENDEREÇO – Junto a esta, remetemos fichas para mudanças de endereço, que deverão ser preenchidas até o mesmo de outubro. Atenciosamente, Darlene Moreira, Gerente-Geral. MT/SB 876-2005 Porto Alegre, 15 de maio de 2005. Senhor Flávio Alves Peixoto. Prezado Senhor: Temos o prazer de novamente comunicar-nos com V.Sª., respondendo à sua carta de 4 do corrente. REPRESENTANTE – Agradecemos sua presteza em providenciar um representante de nossos artigos no município de Três de Maio, dentro das disposições que regem nossa empresa. PROPAGANDA – Estamos providenciando, com a urgência possível, cartazes e textos breves para transmissões radiofônicas na estação de radiofusão local. PEDIDO Nº 47-88 – Será despachado amanhã, pela Transportadora Segurança Ltda. A execução sofreu um pequeno atraso, devido a um incêndio havido nas instalações de um dos nossos principais fornecedores de matéria-prima. AUMENTO DE COMISSÕES – O assunto está sendo cuidadosamente estudado e, dentro de pouco tempo, cientificaremos V.Sa. das conclusões a que se chegou. VENDAS – Comunicamos não haver recebido, até esta data, a relação das vendas de abril último, o que está causando alguns transtornos ao nosso serviço de contabilização. Aguardamos suas notícias urgentes a respeito. Atenciosamente, Alberto Torres, Gerente. AT/CEH 10.1 Curriculum vitae Curriculum vitae é o documento que fornece uma visão geral do requerente ou interessado como indivíduo. Este documento é especialmente recomendado para apresentação pessoal de forma indireta. Tem como finalidade fornecer dados pessoais e informações quanto à educação, experiência, interesses especiais, objetivos específicos e planos de trabalho. É mais completo, minucioso e fundamentado do que a carta candidatando-se a um emprego. Destina-se a apresentar dados e informações pessoais de forma sintética e ordenada a quem interessar possa, nos mais variados casos: solicitação de emprego, concessão de bolsas e auxílios, inscrição para auxílio a projetos etc. Recomenda-se, também, a utilização deste documento em outras situações como, por exemplo: trabalhos enviados a congressos, simpósios, para apresentação do conferencista; em atividades públicas para comprovar reais qualificações; em obras de caráter técnico-científico ou literário para se poder avaliar o autor. Três são os tipos básicos de curriculum vitae: a) carta de apresentação pessoal; b) lista de dados; c) formulário. Contudo, de acordo com solicitações por parte dos órgãos e entidades a que se destinam, os três tipos básicos podem vir combinados entre si. Por exemplo, uma lista de dados pode vir em anexo a uma carta de apresentação pessoal, ou uma carta de apresentação pessoal pode ser anexada a um formulário. O Curriculum Vitae tipo carta de apresentação pessoal possui, quando na forma clássica de carta, treze partes essenciais: a) data; b) destinatário; c) saudação; d) fonte de onde o candidato obteve dados sobre o emprego, bolsa, etc. (quando for o caso); e) dados pessoais; f) educação; g) experiência; h) referências; i) ambições ou pretensões pessoais; j) solicitação de entrevista posterior (a não ser que a distância a torne impraticável); l) endereço particular do candidato; m) parte conclusiva; n) assinatura. Algumas destas partes podem ser suprimidas e outras acrescentadas, dependendo da situação particular, sem prejuízo do todo. O Curriculum Vitae tipo lista de dados deve apresentar uma seqüência ordenada, obedecendo simplesmente a uma ordem cronológica, ou dividindo-se por áreas (que não dispensam, em sua organização interna, a ordem cronológica). O Curriculum Vitae tipo formulário é um documento previamente organizado pelo órgão, entidade ou empresa interessada, que exige, por isso mesmo, leitura cuidadosa antes de seu preenchimento. Texto O Curriculum Vitae deve apresentar dados objetivos, isto é, deve ser livre de todo comentário pessoal ou de críticas e julgamentos de valor. Se ele se destina a especialistas, podem ser selecionados ou destacados os títulos mais pertinentes ao caso. As seções que tratam da educação e experiência constituem as partes essenciais do documento, visto que as pessoas são basicamente avaliadas quanto a estes dois aspectos. Se um deles não é tão rico, deve-se compensar o fato com o outro. Alguém que possua experiência limitada deve, inteligentemente, detalhar a natureza de sua educação ou treino. Tanto num quanto noutro caso, nunca se deve passar por alto em ambas as partes. Por referência entende-se o nome, cargo e residência de pessoas que podem fazer pelo requerente o que ele não poderia fazer por si mesmo: testemunhar quanto a suas capacidades, qualificações, personalidade etc. De acordo com a ética, deve-se obter permissão para citar nomes como referência, antes de indicá-lo no documento. O Curriculum Vitae deve ser redigido, de preferência, na língua da pessoa (ou entidade) a que se destina. Estilo A apresentação concisa e freqüentemente seletiva de informações e dados pessoais deve ser inteligível por si mesma. Referência a títulos, casas de ensino, órgãos, entidades, empresas, distinções ou prêmios recebidos etc. não deve ser expressa por abreviaturas ou siglas, a não ser que conhecidas internacionalmente. Passos essenciais O primeiro passo, de modo geral, é deduzir quais as prováveis exigências e, se possível, um contato com o órgão, entidade ou empresa, a fim de obter esclarecimentos sobre as informações necessárias. O segundo passo consiste na coleta de dados. Esta é uma etapa prolongada, caso o indivíduo não tenha seus documentos organizados sistematicamente. O terceiro passo constitui-se na seleção de dados. Isto não só implica a escolha dos documentos mais importantes e pertinentes ao caso, como também — dependendo do tipo a ser adotado — a separação dos mesmos por áreas ou assuntos. O quarto e último passo, a sua composição e redação, deve respeitara estrutura de cada tipo. Apresentação A apresentação de um Curriculum Vitae é extremamente importante. Deve mostrar claramente as partes, divisões ou seções do documento. A matéria deve ser disposta de modo a guardar tão rigorosamente quanto possível: 1. margens; 2. batidas e linhas; 3. espaços de entrelinhas; 4. posição de títulos e subtítulos (com ou sem numeração progressiva). É bom lembrar que, com exceção da primeira página, todas as demais devem ser numeradas. CURRÍCULO Bruno Duarte Veríssimo, solteiro, 24 anos. Objetivo Atuar na área de Informática. Dados pessoais End.: Rua Crucilândia, 850 – Água Branca, Contagem – MG, CEP 30000-300, tel.: (31) 4444-1127, e-mail: Formação escolar 2º Grau: Técnico em Processamento de Dados e Programação Gerencial pela Escola Técnica Polimig, em 1998. Experiências profissionais Inova Veículos Ltda. Auxiliar de Informática Período: 2 anos. Funções: Adaptação de programas; suporte a usuários do Microsoft Office (Word, Excel, Power Point, MS Outlook) e Windows; suporte à rede interna em ambientes Unix, Linux, Windows; manutenção (corretiva e preventiva) e expansão de micros; elaboração e aplicação de cursos de informática; suporte ao sistema SPRESS que a Concessionária utiliza para controle de movimentação e estoque — o que envolve todo o sistema de entradas e saídas da empresa. Fiat Automóveis S. A. Estagiário Período: 3 anos e 2 meses. Funções: Controle de documentos referentes à ISO 9002 e 14001; digitação de documentos, elaboração de planilhas eletrônicas e apresentações. Cursos de aperfeiçoamento Hardware completo — Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – (SENAC) – Arquitetura detalhada de microcomputadores; técnicas e cuidados necessários; técnicas de soldagem; utilização do multímetro para teste e manutenção; softwares de diagnósticos e de performance (Norton Utilities e Checkit); mensagens de erro e falhas; remoção de vírus; instalação, configuração, partição e formatação de drives de discos; etc. CH: 60 h. Manutenção de impressoras — Training 2000 – (SENAI) – Tecnologia de impressão matricial, jato de tinta e laser; configuração do setup Epson LX 300; montagem, desmontagem de impressoras Epson LX 300, HP 600 e Canon BJC e limpeza, lubrificação e revisão; revisão, identificação e correção de defeitos em Epson LX 300, HP e Canon BJC; instalação de drives de configuração. CH: 21 h. Idiomas Inglês: fluência em leitura e conversação. 10.2 Requerimento Há papéis que são comuns às quatro divisões da Correspondência, como a ata e o telegrama. Outros são exclusivos desta ou daquela, como o ofício ou a certidão. Vemo-los expedidos por entidades que, à primeira análise, não teriam direito de fazê-lo, mas apuraremos posteriormente que existe delegação para isso, como é o caso de estabelecimentos particulares de ensino (onde existe um representante do governo, o inspetor), os quais exercem eventualmente funções oficiais. Há, ainda, documentos que se enquadram numa divisão da Correspondência por ser necessária a padronização deles ou porque se sujeitam a normas específicas; por exemplo, a procuração e o requerimento. Requerimento é o instrumento que serve para solicitar algo a uma autoridade pública. Por extensão, é todo pedido encaminhado, por escrito ou verbalmente, a uma autoridade do Serviço Público. Não se envia requerimento a empresas comerciais ou a grêmios esportivos, por exemplo; o pedido ou a solicitação é, neste caso, objeto de carta. Petição e Requerimento são sinônimos, em linhas gerais, porém devemos observar o seguinte: Requerimento: solicitação sob o amparo da lei, mesmo que suposto. Petição: pedido sem certeza legal ou sem segurança quanto ao despacho favorável. Quando ocorrem duas ou mais pessoas, então teremos: Abaixo-assinado: requerimento coletivo. Memorial: petição coletiva. O requerimento pode ser formulado em papel simples ou duplo, devendo o formato ser almaço, com ou sem pauta. É indiferente manuscrevê-lo, datilografá-lo ou imprimi-lo, não se aconselhando, no entanto, a tinta vermelha.* Entre o endereço e o texto haverá o espaço para despacho: 7 linhas, se em papel pautado; 7 espaços interlineares duplos, se em papel sem pautas. As expressões abaixo assinado, muito respeitosamente e tantas outras, arcaicas ou desnecessárias, devem ser abolidas. O requerimento admite invocação; todavia, não aceita fechos que não os seus. Exemplos Por extenso: Abreviados: Nestes termos, N.T. espera deferimento. E.D. Aguardo deferimento. A.D. Espera deferimento. E.D. Requerimento-guia: requerimento no anverso do papel e guia de recolhimento do imposto ou taxa no verso do papel. Exemplo: Senhor Diretor da Escola Técnica de Comércio (UFRGS): FULANA DE TAL, aluna regularmente matriculada no III semestre da Habilitação em Secretariado desta Escola, requer certidão de vida escolar relativa aos I e II semestres do referido curso. A.D. Porto Alegre, ............................ (assinatura da requerente) 10.3 Ata A ata é documento em que se registram, resumidamente mas com clareza, as ocorrências de uma reunião de pessoas para determinado fim. A ata é encontrada hoje em todos os setores da Correspondência, seja por exigência legal ou administrativa, seja por simples precaução quando há opiniões e fatos a consignar. Observa João Luís Ney em Prontuário de redação oficial, página 29: “As atas situam-se entre os chamados atos de registro ou lançamento, como os ofícios, avisos, por exemplo, estão entre os de correspondência e os pareceres, informações, entre os processuais”. A ata é assinada, conforme o caso, pelos participantes da reunião ou pelo presidente e o secretário e/ou outros e seu conteúdo é dado à publicidade, para conhecimento dos interessados ou para fins de legalização. São normas básicas para sua lavratura: a) lavrar a ata em livro próprio, se a lei o determina, ou em folhas soltas, nas dimensões do papel-ofício; b) sintetizar clara e precisamente as ocorrências verificadas; c) consignar, quando for o caso, na ata do dia, as retificações feitas à anterior; d) o texto será manuscrito, datilografado ou se preencherá a fórmula existente, como é usual em estabelecimentos de ensino, por exemplo; e) respeitados os ditames legais, poderá o texto ser em linhas corridas, isto é, compacto, ou ser apresentado no aspecto comum aos demais atos, sendo neste caso permitido numerar os parágrafos; f) para os erros constatados no momento de redigi-la e consoante o tipo de ata, emprega-se a partícula retificativa “digo”: Aos quinze dias do mês de maio, digo, de junho de mil, novecentos e sessenta......................... Se notados os erros após a redação, há o recurso do “em tempo”: EM TEMPO: onde se lê “maio”, leia-se “junho”. Também acréscimos poderão ser feitos com “digo” ou “em tempo”. ........ sessão de membros, digo, de todos os membros da diretoria ........ EM TEMPO: Na linha onde se lê “dos sócios”, acrescente-se “quites com a Tesouraria”. g) os números fundamentais são grafados, de preferência por extenso: ........ sendo quinze votos em branco. podendo aparecer a quantia em números e após, entre parênteses, por extenso: ......... sendo 15 (quinze) votos em branco. Exemplo ATA (ESPECIFICAR O TÍTULO) Às vinte horas do dia dez de julho ................................................................. ................................................................................................, na sala quinze de Escola ............................................., sita na Rua ................................................... foi iniciada a terceira prova dos exames de primeira chamada, da disciplina de PORTUGUÊS. A comissão examinadora estava constituída pelos senhores ................................................. todos presentes ao ato. Como a presençade trinta e um alunos, foi sorteado o ponto cinco, constante de: a) ........................................................; b) .........................................................; c) ........................................................ . Os trabalhos decorreram normalmente. Precisamente às vinte e duas horas foi entregue a última prova e assim encerrados os trabalhos, do que, para constar, foi lavrada esta ata. Santo Ângelo, .......... de ..................................................... ..................................................... .................................................... .................................................... Exemplos de introdução de ata Aos trinta dias do mês de dezembro de ............., nesta cidade de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, na sede da Sociedade, na Avenida Bento Gonçalves, 550, às onze horas .................................. Ao primeiro dia do mês de fevereiro de .........., às vinte horas, na sala número cinco da Secretaria de Turismo, realizou-se a terceira reunião ordinária do Conselho Comunitário, presidida pelo Senhor ................................... Exemplos de fecho de ata ........... Eu, XX, secretário, lavrei a presente ata no livro competente, a qual, lida e achada conforme pelos presentes, vai por todos assinada. Foram datilografadas mais duas cópias iguais à presente, em folhas soltas, sendo as mesmas devidamente conferidas e assinadas, a primeira por todos os presentes e a segunda só pela Mesa, neste mesmo ato. ........... Nada mais havendo a tratar, foi suspensa a sessão para ser lavrada a presente ata. Reaberta a sessão, foi a ata lida, aprovada e assinada por todos os presentes. Eu, Jota Eme Esse, servindo de secretário, mandei lavrar a presente ata, que assino com o Sr. Presidente e demais acionistas presentes à assembléia. Ata-Síntese O exemplo a seguir foge aos padrões tradicionais de confecção das atas. São formas resumidas, algumas até em forma padronizada, apenas com lacunas para serem preenchidas. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA TÉCNICA DE COMÉRCIO ATA DE REUNIÃO Reunião de CONVOCADOS ASSINATURAS Não compareceram _______________________________________________________________________________________ ASSUNTOS TRATADOS _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ AÇÕES A IMPLEMENTAR ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ DATA COORDENADOR 1. Excetuando a falácia de Petitio Principii, ou petição de princípio, que é estudada na pág. 84. 2. Conforme transcrito em Clarence Darrow for the Defense, de Irving Stone. Copyright, 1941, por Irving Stone. Editado por Garden City Publishing Company, Inc., Garden City, N. Y. * “Band-wagon argument”, no original. 3. Formal Logic, por Augutus De Morgan, The Open Court Company, 1926. 4. Na Introduction to Logic, por H. W. B. Joseph, Oxford University Press, 1906. 5. Elements of Logic, por Richard Whately, Londres, 1826. * De jingo, alcunha dada, na Inglaterra, em 1877, aos partidários de uma guerra imediata com a Rússia (N. do Ed.). * Fomos obrigados a adaptar parcialmente o texto a palavras portuguesas com diferentes significados. (N. do T.) * Mantemos os exemplos no idioma original por ser impossível traduzir as mesmas anfibologias em português. No primeiro exemplo, existem duas traduções válidas: (a) Economize sabão e papéis de desperdício. (b) Economize sabão e desperdice papel. No segundo exemplo, as duas traduções são: (a) A ciência do homem, incluindo a mulher. (b) A ciência do homem, abraçando a mulher (o verbo embrace significa tanto abranger como abraçar). (N. do T.). * * Neste caso, a ambigüidade deriva do particípio passado wrapped. As duas traduções válidas são: (a) Negligentemente embrulhados num jornal, ela levava três vestidos. (b) Negligentemente embrulhada num jornal, ela levava três vestidos. (N. do T.) * Segundo a ênfase que lhe for conferida, a frase poderá traduzir-se como: (a) A mulher sem o seu homem estaria perdida. (b) A mulher, sem ela o homem estaria perdido. (N. do T.) * Um documento, só pode estar escrito a lápis, não é, ipso facto, nulo. Se nada se alegou contra a veracidade das declarações nele contidas, se não se pretende tenha havido alterações nos dizeres, a sua força probante é a mesma de qualquer outro escrito a tinta. (Tribunal de Justiça de São Paulo, Revista dos Tribunais ns. 108-584).