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Justiça transicao

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A justiça de transição pode ser entendida como um conjunto de ações, dispositivos e 
estudos que surgem para enfrentar e superar momentos de conflitos internos, violação 
sistemática de direitos humanos e violência massiva contra grupos sociais ou indivíduos 
que ocorreram na história de um país. Dentro dos contextos mais distintos que cada país 
pode oferecer, alguns objetivos comuns podem ser estabelecidos como norteadores gerais 
da Justiça de Transição: julgar os perpetradores de crimes e das graves violações de 
direitos humanos; estabelecer a verdade sobre os fatos ocorridos no período; registrar, 
reconhecer, e dar visibilidade à memória como construção imprescindível da história do 
país; oferecer reparações às vítimas; reformar as instituições que participaram direta ou 
indiretamente das violações cometidas. 
O funcionamento da Justiça de Transição foi sendo determinado pelas experiências de sua 
aplicação nos distintos países que passaram por transições pós-conflitos. Houve também 
um desenvolvimento do direito internacional que foi constituindo normas e jurisprudências, 
ou seja, um conjunto de parâmetros que servem de base para a efetivação da memória, 
verdade, justiça, reparação e reforma institucional no país que passam por situações de 
transição. 
Em 1998, foi elaborado o “Estatuto de Roma” que criava a Corte Penal Internacional (ICC – 
de acordo com a sigla em inglês), importante organização para o julgamento de crimes de 
guerra, crimes de lesa humanidade e genocídios. Em 2002, o Brasil se compromete 
oficialmente a cumprir e executar integralmente esse tratado internacional. 
A ONU também é um dos órgãos determinantes nos processos de Justiça de Transição. 
Alguns informes sistematizam e constituem o núcleo dos parâmetros para a realização da 
justiça de transição. São exemplos aqui: o “Princípios Joinet” (1997) e o “Conjunto de 
princípios atualizados pra a luta contra a impunidade” (2005) – ambos da Comissão de 
Direitos Humanos da ONU – como documentos que visam a garantia dos direitos humanos 
e a luta contra a impunidade. O documento “O direito de restituição, indenização e 
reabilitação das vítimas de graves violações de direitos humanos e das liberdades 
fundamentais” de Theo Van Boven (2006), como marco dos princípios da discussão das 
reparações; e o “O Estado de Direito e a Justiça de Transição em sociedades em conflito ou 
pós-conflito” (2004) do Conselho de Segurança da ONU, o documento mais importante 
como parâmetro para a realização da Justiça de Transição. Para se ter uma noção da 
importância desses informes basta ver que em muitas de suas normativas a CNV cita esses 
textos. A Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) também tem sido um dos 
órgãos mais influentes e ativos nos processos da Justiça de Transição. 
Direito à Memória e à Verdade 
O direito à Memória e à Verdade corresponde ao reconhecimento dado às vítimas e a toda 
a sociedade de que o Estado e setores institucionais e/ou civis foram responsáveis por 
violações de direitos humanos. Nesse sentido, a constituição de uma verdade oficial – que 
muitas vezes vem desmentir os relatos falsos e caluniosos que os criminosos 
estabeleceram como oficiais – é condição para que a sociedade possa reconhecer um 
passado autoritário de práticas abusivas e criminosas. O desvelamento da verdade fornece 
a garantia de que as graves violações de direitos humanos serão esclarecidas. Pode-se 
lembrar de um caso emblemático em que o Estado forjou um relato falso: o famoso caso do 
“suicídio” do jornalista Vladimir Herzog. Durante a ditadura, Herzog se apresenta 
voluntariamente para prestar depoimento no DOI-CODI e é torturado até morte; a causa 
declarada oficialmente de sua morte foi suicídio por enforcamento, farsa que foi 
imediatamente desmentida pela foto irreal que se tornou mundialmente famosa. 
Comissões da verdade, projetos de memorialização e reconhecimento do testemunho das 
vítimas fazem parte de um conjunto de iniciativas que visam reescrever nossa história, 
esclarecendo os fatos, as causas e as consequências de um período nebuloso de violência 
e ilegalidade. Alguns exemplos de projetos de memorialização importantes do Brasil são a 
construção de monumentos, modificação dos nomes de ruas (como o projeto Ruas de 
Memória) e memoriais (como o Memorial da Resistência e Memorial da Anistia). Os 
processos de memória e verdade são as bases para que os outros eixos da Justiça de 
Transição possam existir. O estabelecimento da verdade é fundamental para que a justiça 
possa ser feita, dado que o esclarecimento dos fatos é que permitirá que os culpados sejam 
punidos. A constituição da memória é fundamental para que a reparação seja efetivada 
reconhecendo a história das vítimas e para que as instituições, a partir do conhecimento 
das causas e consequências, possam ser reformadas. 
 
Direito​ à ​justiça 
O direito à Justiça pode ser compreendido de duas maneiras. A primeira delas diz respeito 
ao direito individual das vítimas de ter seus algozes punidos pelos crimes que cometeram 
contra elas mesmas ou contra seus familiares e entes queridos. A outra maneira diz 
respeito ao direito coletivo de que criminosos não permanecem impunes em relação aos 
seus crimes. Em casos de violações generalizadas e sistemáticas, ou seja, casos que 
envolvem um número grande de mortes, torturas, desaparecimentos e prisões ilegais, os 
dois aspectos da justiça que se menciona acima devem andar juntos, assim, a justiça não 
se faz com relação apenas a um único indivíduo, mas em relação a toda a sociedade. 
De todos os modos, a justiça como punição aos culpados é apenas um dos aspectos do 
direito à Justiça, afinal, como punir todos os que estiveram envolvidos direta ou 
indiretamente nos crimes, como punir a conivência e inclusive apoio de vários setores da 
sociedade civil a tais crimes? O direito à Justiça deve ser compreendido como um direito 
que só se efetiva com a realização dos outros eixos justransicionais. O direto à Justiça só é 
plenamente realizado com a punição dos perpetradores dos crimes, mas ele deve ser 
complementado, para ter toda a sua efetividade, com a reparação material e psicológica, a 
garantia de verdade e memória e com a reforma das instituições do Estado. 
 
Direito à Reparação 
 
Para além do direito ao reconhecimento de sua história, memória e verdade, as vítimas de 
graves violações de direitos humanos devem ser reparadas material, simbólica e 
psicologicamente. Com relação à reparação material, normalmente se apelam a ajudas 
financeiras ou indenizações compensatórias pagas pelo Estado em reconhecimento da 
violência infringida por agentes deste à vítima em questão ou aos familiares desta. 
Sobreviventes das violências do Estado ou familiares de pessoas desaparecidas ou 
assassinadas normalmente encontram grandes dificuldades para se sustentar ou prover 
sustento as suas famílias, pois além dos traumas que tais violências acarretam e das 
sequelas psicológicas e/ou físicas que implicam, muitos perdem seus empregos ou ficam 
sem condições de trabalhar. Com relação à reparação simbólica, a construção de 
monumentos, memoriais e o estabelecimento de datas comemorativas, bem como a 
reformulação de nomes de ruas e locais, são iniciativas que restituem parcialmente a 
dignidade que havia sido negada às vítimas e às suas histórias. Por fim, com relação à 
reparação psicológica se trata de, mesmo que minimamente, remediar danos provocados 
por experiências de extrema violência, tentando oferecer apoio para que a vítima consiga 
elaborar tais experiências e viver melhor. 
O direito à Reparação é de difícil realização e mensuração. Como estimular quando uma 
vítima foi suficientemente reparada por uma série de violências que viveu? Como diferenciar 
os graus de reparação para cada vítima? Como, por exemplo, na reparação financeira, 
estimular quanto deve receber cada vítima? Perguntascomo essa têm profundas 
implicações políticas, econômicas, jurídicas e morais. Não há regras gerais de como deve 
ser efetivado o direito à Reparação. No entanto, pode-se dizer que o Estado, ao reconhecer 
que deve reparar vítimas de uma violência perpetrada por ele próprio, reconhece que tais 
violências são inaceitáveis. 
 
Direito à Reforma Institucional 
 
O direito à Reforma Institucional é um direito das vítimas e de toda a sociedade. Ele se dá 
quando o Estado reconhece que o legado de um período autoritário e violento precisa ser 
interrompido e que ao término de um período de conflitos e violências, as instituições 
responsáveis por essas devem ser extintas ou reformadas, os agentes punidos e as leis 
autoritárias devem ser removidas. 
Uma das principais medidas, então, consiste no afastamento dos responsáveis pelas 
violações de direitos dos cargos públicos e das instituições. Esse é o primeiro passo 
fundamental para que autoanistias (perdão dado pelos agentes criminosos a si mesmos) 
não sejam instauradas e/ou sustentadas, ou que agentes da máquina pública não 
atrapalhem o transcorrer dos processos da Justiça de Transição. Outra medida importante é 
que aspectos das instituições que foram forjados durante o período violento e autoritário, 
sejam transformadas para que não impeçam o funcionamento democrático do Estado. As 
comissões da verdade, com suas recomendações de reformas administrativas, jurídicas e 
institucionais são importantes dispositivos para que o Estado possa reconhecer e se 
orientar com vista à reformulação de seus modos de funcionamento. 
No caso da CNV, foi possível identificar necessárias reformas institucionais que o Estado 
precisa urgentemente realizar nas polícias, na estrutura e formação militar, nos órgãos de 
perícia, além das revisões e correções na legislação que precisam ser realizadas. Cabe 
dizer que ainda existem muitas outras reformas institucionais – como a dignificação do 
sistema prisional, o combate efetivo à tortura – que precisam ser estudadas e realizadas 
para que o Brasil comece a realizar efetivamente sua transição democrática. 
Além das reformas estruturais nas instituições para garantir a integridade, a legitimidade e a 
confiança da população no Estado, alguns outros eixos do direito à Reforma Institucional 
são: 
A criação de organismos de monitoração e acompanhamento das instituições do Estado, 
como conselhos, defensorias, controladorias, etc., que possam fiscalizar seu funcionamento 
e garantir transparência. 
Modificação e reforma de leis ou de dispositivos jurídicos que tenham se constituído no 
marco de regimes autoritários, garantindo que a legislação e constituição do país estejam a 
serviço do aperfeiçoamento da democracia. 
Promoção de programas educacionais, de projetos de memorialização que possam 
fomentar a formação em direitos humanos. 
Ampliar a participação popular nas decisões do Estado e no funcionamento de suas 
instituições. 
Criar mecanismos e leis que protejam os Direitos Humanos. 
Promover reformas, dentro de contextos que visem aperfeiçoar o funcionamento da 
democracia, do sistemas: de segurança, prisional, eleitoral, político e jurídico. 
 
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