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Baquero, Marcelo. A pesquisa quantitativa em ciências sociais.

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A PESQUISA QUANTITATIVA NAS CIÊNCIAS 
SOCIAIS 
 
 
 
 
 
 
 
Marcello Baquero 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EDITORA UFRGS 
Porto Alegre, 2009.
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 6 
A pesquisa nas Ciências Sociais ......................................................................... 7 
Os conflitos do uso de diferentes métodos ........................................................ 11 
CAPÍTULO 1 ................................................................................................... 21 
Os elementos da pesquisa social ..................................................................... 21 
Ontologia ..................................................................................................... 23 
Epistemologia ............................................................................................... 27 
Metodologia .................................................................................................. 31 
CAPÍTULO 2 ................................................................................................... 38 
O que significa pesquisa e pesquisar nas Ciências Sociais ................................... 38 
Pesquisa social .............................................................................................. 40 
A pesquisa survey ......................................................................................... 48 
I - Pesquisas de opinião pública ................................................................... 53 
II- Enquetes acadêmicas de atitudes ............................................................ 54 
A enquete acadêmica nas Ciências Sociais .................................................... 56 
CAPÍTULO 3 ................................................................................................... 57 
A formulação do problema .............................................................................. 57 
Mapeando conceitos ...................................................................................... 59 
Os critérios para escolha do tema .................................................................... 62 
Algumas sugestões para delimitar o problema a ser estudado. ............................ 65 
Elementos da pesquisa. ................................................................................. 68 
Formulação do problema: ............................................................................... 69 
Objetivos ..................................................................................................... 73 
Objetivo geral ............................................................................................... 74 
CAPÍTULO 4 ................................................................................................... 74 
Formulação de hipóteses ................................................................................ 74 
O que é uma hipótese? .................................................................................. 76 
Algumas confusões ........................................................................................ 78 
Hipótese geral .............................................................................................. 78 
Níveis de hipóteses ........................................................................................ 83 
Testando hipóteses ........................................................................................ 85 
Erro Tipo I .................................................................................................... 86 
 
 
3 
 
 
 
 
Analogia jurídica ........................................................................................... 88 
Testabilidade ................................................................................................ 90 
CAPÍTULO 5 ................................................................................................... 92 
Tipos de variáveis ......................................................................................... 92 
Conceitos .................................................................................................. 92 
Identificação de variáveis ............................................................................ 93 
A variável moderadora ................................................................................... 98 
Conceito ...................................................................................................... 101 
Variáveis ..................................................................................................... 101 
CAPÍTULO 6 ................................................................................................. 102 
Revisão crítica da bibliografia ........................................................................ 102 
Orientações para elaborar revisões críticas ..................................................... 106 
1. Escolha do tema .................................................................................. 106 
2.Tipo de audiência .................................................................................. 106 
3. Pesquisa ............................................................................................. 106 
4. Análise crítica ...................................................................................... 106 
5. Observações gerais .............................................................................. 106 
Outras considerações ................................................................................... 112 
CAPÍTULO 7 ................................................................................................. 113 
Instrumentos de coleta de dados na pesquisa quantitativa ............................... 113 
Entrevistas ................................................................................................. 118 
Subsídios para a construção de questionários ................................................. 123 
O que o questionário e a entrevista medem? ........... Erro! Indicador não definido. 
Cuidados com o processo de entrevistas ........................................................ 131 
CAPÍTULO 8 ................................................................................................. 132 
Noções básicas de técnicas amostrais ............................................................ 132 
Tamanho da amostra ................................................................................... 136 
Pesquisa amostral (survey) .......................................................................... 138 
Variabilidade da amostra. ............................................................................. 148 
CONCLUSÕES 
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 152 
 
 
4 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
Os métodos quantitativos de pesquisa científica têm sido historicamente vistos 
com desconfiança pelos cientistas sociais na América Latina. No entanto, e a despeito 
dessa percepção, em algum momento da vida acadêmica, o estudante de Ciências 
Sociais enfrentará, por opção ou obrigação, a necessidade de compreender essa 
terminologia. 
Presentemente se observa que o debate metodológico nas Ciências Sociais ocorre 
num plano secundário, o que contrasta com a carência na formação de recursos 
humanos nesta área. Igualmente se constata que os recursos humanos formados no 
campo das Ciências Sociais, na sua maioria, apresentam lacunas no que diz respeito a 
como fazer pesquisa e, sobretudo, em relação à compreensão do processo de 
desenvolvimentode uma pesquisa, na dimensão quantitativa. 
No âmago da divergência a respeito da utilidade, ou não, de métodos 
quantitativos nas Ciências Sociais, subjaz a idéia de que fenômenos nesta área são 
mais bem explicados por teorias normativas do que por descrições consideradas 
pseudo-precisas. Nesse cenário, infelizmente, parece que os alunos são obrigados a se 
posicionar a favor ou contra determinado método. É realmente necessário tomar 
partido nessa discussão? Creio que, do ponto de vista da avaliação de determinadas 
técnicas de pesquisa (quantitativas ou qualitativas), o estudante de Ciências Sociais 
não pode definir sua escolha com base na “intuição”, no “achismo” ou por “ouvir falar”. 
O estudante precisa conhecer tanto as técnicas quantitativas quanto as qualitativas 
para discutir a sua opção por uma ou outra, não confundindo epistemologia com 
método. Presentemente, o profissional da área de Ciências Sociais precisa dominar as 
diferentes técnicas da metodologia de pesquisa, pois ele não é só um “consumidor” da 
pesquisa, mas dele se espera também contribuições no processo de construção de 
conhecimento. Toda e qualquer técnica de análise tem limites e deficiências. O 
 
 
5 
 
 
 
 
pesquisador necessita conhecer essas deficiências para construir um conhecimento 
sobre a realidade. 
Essa tarefa implica na necessidade do pesquisador conhecer o processo de 
desenvolvimento da pesquisa. Quando um profissional das Ciências Sociais se 
compromete com alguns princípios de pesquisa é crucial que ele conheça esses 
princípios, sua natureza e o impacto dos compromissos ao assumi-los (TUCKMAN, 
1972). 
Neste livro, parte-se do princípio de que existem mais pontos de convergência 
entre técnica(s) de pesquisa do que desacordos. Sendo necessário tratá-los 
integradamente e não como áreas separadas. A desarticulação entre esses dois pólos 
pode prejudicar a construção do conhecimento. Isto não significa adotar atitudes 
ecléticas banais onde tudo serve. Pelo contrário, acredita-se que é possível estabelecer 
linhas consistentes de análise de fenômenos sociais com diferentes técnicas de análise 
sem abdicar de determinadas orientações epistemológicas. 
A construção do conhecimento científico no campo das Ciências Sociais ocorre 
quando se estabelece uma ruptura do senso comum, o qual passa a ser trabalhado por 
meio da pesquisa científica de maneira crítica. 
Nesse contexto, é necessário um questionamento permanente das técnicas de 
pesquisa, para que o investigador tenha consciência dos seus limites e alcances. É 
fundamental que o pesquisador entenda que uma pesquisa nunca é neutra. Por trás de 
qualquer estatuto ou pesquisa existem interesses com base nos pressupostos teórico-
metodológicos do pesquisador. Tais pressupostos raramente são explicitados, embora 
sejam facilmente identificáveis. 
Por essas, entre outras razoes, penso que os cursos de metodologia estão em 
crise. Por um lado, os alunos se sentem prejudicados por não terem oportunidades 
para "praticar" a pesquisa, enquanto que, por outro, se verifica uma demanda de 
 
 
6 
 
 
 
 
profissionais com conhecimento das diferentes formas de coleta de dados. Não e 
surpresa, portanto, a carência de profissionais competentes na área. 
Embora neste livro se enfatize o uso do raciocínio quantitativo nas Ciências 
Sociais, não se pretende argumentar a superioridade desta forma de construção de 
conhecimento. Busca-se simplesmente tratar esta temática, levando em conta a 
necessidade de trabalhar compreensivamente os temas complexos do campo social. 
Pretende-se, portanto, contribuir para uma melhor e mais aprofundada 
compreensão dos limites e possibilidades do uso da metodologia quantitativa nas 
Ciências Sociais, mas assumindo a perspectiva da necessidade de pensar quali-
quantitativamente o fenômeno social. 
Agradeço às várias pessoas que contribuíram para a materialização deste livro, 
principalmente, os membros do Núcleo de Pesquisa sobre a América Latina –NUPESAL- 
pelas suas observações pertinentes na elaboração de vários capítulos. Finalmente, 
agradeço aos bolsistas do NUPESAL pela colaboração nos vários estágios da elaboração 
deste livro, sendo eles: Bianca Linhares, Ana Paula Diedrich, Simone Piletti Viscarra, 
Bruno Mello Souza, Rafael Sabini Scherer, Luiza de Almeida Bezerra e Úrsula Sander 
Stüker. 
INTRODUÇÃO 
 
Cada conjunto de fenômenos pode ser interpretado 
consistentemente de várias maneiras. É nosso privilégio 
escolher, entre as possíveis interpretações, aquelas que nos 
parecem mais satisfatórias, quaisquer que sejam as razões 
dessa escolha. Se os cientistas se lembrassem que várias 
interpretações igualmente consistentes de cada conjunto de 
dados observáveis podem ser feitas, eles seriam menos 
dogmáticos do que geralmente são, e suas crenças numa 
finalidade última possível de teorias científicas iriam se 
esvaecendo. (MOULTON, 1937). 
 
 
 
7 
 
 
 
 
A Pesquisa nas Ciências Sociais 
O objetivo deste livro é proporcionar uma formação complementar no estudo da 
pesquisa quantitativa. O estudo de como fazer pesquisa numa dimensão quantitativa 
enfrentou, sistematicamente, críticas severas da parte de quem considerava a 
utilização de métodos fundamentados em princípios de probabilidade pouco valiosa 
para o processo de construção de teorias. Uma das conseqüências desse 
comportamento, na academia, foi a institucionalização de estereótipos e preconceitos 
em relação ao emprego de regras formais na formatação de um projeto de pesquisa. 
Outro resultado foi a dicotomização da área entre qualitativistas e quantitativistas. 
Pessoalmente, acho a distinção entre qualitativo e quantitativo de pouca 
utilidade. Muitas vezes as pessoas estabelecem diferenças absurdas que levam à 
confusão. Os quantitativistas argumentam que seus dados são rigorosos, críveis e 
científicos. Os qualitativistas propõem que seus dados são sensitivos, detalhados e 
contextuais. O que a realidade da pesquisa mostra, entretanto, é que dados 
quantitativos e qualitativos estão relacionados uns aos outros. 
Neste livro, não estabelecemos a superioridade de um método sobre outro. Uma 
boa pesquisa, ou seja, uma pesquisa científica pode ser qualitativa ou quantitativa. 
Todo e qualquer dado quantitativo está baseado em julgamentos qualitativos; e todos 
os dados qualitativos podem ser descritos e manipulados numericamente. Entretanto, 
atualmente se continua a observar resistência e antagonismo de alunos e professores, 
no campo das Ciências Sociais, ao uso das técnicas formais de pesquisa. 
A despeito dessa situação, nos últimos anos tem se constatado certa diminuição 
desses estereótipos e preconceitos, em virtude de modificações do cenário 
internacional influenciadas pelo processo de globalização. Tal fenômeno produziu 
mudanças que contribuíram para alterar as expectativas quanto à formação de 
 
 
8 
 
 
 
 
recursos humanos na área das Ciências Sociais. Tornou-se uma necessidade dos 
tempos atuais e das exigências dos sistemas políticos contemporâneos que os 
pesquisadores no campo das Ciências Sociais consigam casar a pesquisa com a 
aplicação. No caso do Brasil, de acordo com Schwartzman (2007), “academicamente, 
se avançou muito nas publicações sito, mas não tanto do ponto de vista das 
aplicações, de uso da ciência” (p.1). Para o autor, instituições de fomento a pesquisa, 
tais como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Ensino Superior (CAPES), “está 
chegando ao limite de seu modelo: montada para a valorização do trabalho acadêmico, 
tem muita dificuldade para apoiar áreas interdisciplinares e desestimula qualquer tipo 
de atividade em que exista um benefício quetenha a ver com resultados” (p1). 
Contemporaneamente, parece haver um consenso de que a formação no campo 
das Ciências Sociais envolve o domínio de uma gama de diferentes métodos de 
pesquisa. Segundo Hentschel (2002), a ligação em um método de pesquisa (qualitativo 
ou quantitativo) está superada pela necessidade de conhecer e utilizar o que se tem 
denominado de pesquisa quali-quantitativa. No entanto, alguns autores têm apontado 
(LEWIS, 2003) a existência de um déficit de cientistas sociais com competência 
suficiente para desenvolver estudos quantitativos (LEWIS, 2003). 
Quando um pesquisador domina um amplo leque de opções metodológicas, tal 
capacidade abre perspectivas mais produtivas na análise de problemas sociais, pois 
possibilita que se integre teoria e método de forma mais orgânica e propositiva, com 
base em evidência empírica. Esforços nessa direção rompem com a premissa de que 
alguns métodos são melhores do que outros. No contexto atual do conhecimento das 
Ciências Sociais, no qual cada vez mais se torna imprescindível gerar novas bases de 
conhecimento, em virtude da defasagem teórico-explicativa de fenômenos sociais 
contemporâneos, é necessário romper com princípios que têm se mantido ao longo do 
tempo. A adesão a uma única forma de construir conhecimento sem qustionar suas 
 
 
9 
 
 
 
 
implicações teóricas, econômicas e sociais, pode redundar no estabelecimento do 
conhecimento reativo. E isso, em detrimento da construção de um conhecimento mais 
concreto da realidade na qual estamos inseridos. 
Em países em desenvolvimento como o Brasil, o pesquisador da área de Ciências 
Sociais não deve se subordinar ou ser subjugado pelo conhecimento estabelecido e que 
não dá respostas adequadas aos fenômenos sociais atuais. Pelo contrário, deve propor 
outras explicações com base na compreensão da realidade que nos rodeia. Tais 
explicações se tornam, cada vez mais, necessárias pelas crescentes preocupações em 
avaliar especificamente o que as Ciências Sociais têm a oferecer no processo de 
desenvolvimento de um país. 
 Desde que os cientistas sociais passaram a ter espaço próprio, desenvolveram 
teorias e métodos para ajudá-los a compreender o comportamento social e político das 
pessoas. Nessa perspectiva, Sandres (1976) compara detetives a cientistas sociais no 
sentido de que os dois formulam teorias e desenvolvem métodos na tentativa de 
responder a duas questões: “por que aconteceu” e “em que circunstâncias 
provavelmente irão acontecer novamente”. Desse modo, a pesquisa quantitativa tem 
como objetivo principal explicar e predizer. Nesse tipo de pesquisa, os cientistas 
sociais, para testar suas teorias, dependem de evidência empírica e de modalidades 
lógicas de análise. Utilizam técnicas de observação, entrevistas, experimentos e outros 
métodos empíricos para testar a validade dos seus resultados. 
Igualmente, cientistas sociais desenvolvem teses que os levam a formular 
determinadas questões e não outras, e essas indagações os levam a perceber 
determinados fatos e não outros. Por exemplo, a teoria de Max Weber (1989) a 
respeito da relação entre sistemas religiosos de crença e sistemas econômicos o levou 
a formular determinadas perguntas a respeito das estruturas econômicas da sociedade 
com crenças predominantemente protestantes. 
 
 
10 
 
 
 
 
Esse exemplo sugere que a maior parte dos esforços de construção de novas 
teorias no campo das Ciências Sociais se materializa com base na tentativa dos 
pesquisadores em examinar “cientificamente” associações entre conceitos no mundo 
real. Tais iniciativas requerem do pesquisador, além do treinamento técnico, uma 
capacidade criativa para gerar outras fontes de construção de conhecimento. 
Entretanto, nos nossos países tem se materializado o conhecimento normativo e 
reativo, desestimulando o processo de construção de conhecimento novo e autóctone 
com base em determinadas condições culturais e sociais. Tal conhecimento se torna 
necessário para preencher os déficits explicativos da maior parte dos temas 
contemporâneos. 
No entanto, quem opta por este caminho metodológico geralmente enfrenta a 
descrença da comunidade acadêmica, identificada com o estabelecido. Esse tipo de 
conhecimento geralmente valida uma teoria pelo uso repetido de um princípio ou a 
leitura continuada de um texto. De acordo com Fine (2007), este seria o grande 
problema dos cientistas sociais contemporâneos que caem naquilo que se denomina de 
intelectualismo, ou seja, muitas vezes se investiga fenômenos que nada têm a ver ou 
que têm pouca contribuição a dar na compreensão e solução dos reais problemas de 
um país. O resultado não pode ser outro senão a reprodução do conhecimento 
estabelecido, restando poucas condições e margem de manobra para propor diferentes 
explicações. Em tal cenário, a criatividade está comprometida. 
 Não é incomum as Ciências Sociais se defrontarem com pressupostos ou 
resultados que são difíceis de compreender e estudos que, sobre a mesma temática, 
quantitativa e qualitativa, freqüentemente se contradizem. De um lado, tal processo é 
normal, pois a polêmica é parte essencial da pesquisa nas Ciências Sociais. Porém, por 
outro lado, freqüentemente tais contradições ocorrem pelo uso inapropriado de 
técnicas de análise e de estruturação de projetos. Tal situação decorre, às vezes, de 
 
 
11 
 
 
 
 
posturas distorcidas de pesquisadores que sugerem e defendem o uso de um único 
método, mesmo quando a natureza dos fenômenos sociais sugere outros caminhos de 
análise. O bom e competente pesquisador domina plenamente as várias técnicas de 
pesquisa sem confundir epistemologia com técnica. 
Os conflitos do uso de diferentes métodos 
Neste livro não se busca desconstruir irresponsavelmente as teorias já 
produzidas ou negá-las. Tal postura seria ingênua. Pelo contrário, trata-se de 
estabelecer um diálogo crítico com elas para poder avaliar a sua aplicabilidade em 
contextos diferentes daqueles que lhes deram origem. 
O desinteresse em tentar descobrir ou redescobrir outras formas de avaliação de 
problemas sociais pode redundar na manutenção de atitudes de desprezo, por parte de 
integrantes das ciências duras, de gestores públicos e da própria sociedade, e reforçar 
a visão de que as Ciências Sociais têm um custo, mas nada tangível produzem. Assim, 
segundo Dietrich (2002), esse campo de análise passa a ser tolerado basicamente 
porque ninguém sabe o que fazer com ele. 
Ao lado disso, como observa o mesmo autor, a crise das Ciências Sociais se 
agrava, entre outros motivos, pela posição cada vez mais freqüente dos pesquisadores 
latino-americanos de assumir uma postura de submissão ao conhecimento 
estabelecido que domina a área. Dietrich (2002, p.13) é contundente ao afirmar que: 
Enquanto o regime garante os privilégios dos intelectuais 
acadêmicos, estes se abstêm de gerar teorias críticas e formar 
alunos críticos, que poderiam perturbar o status quo. Aceitam 
uma existência de banalidade enquanto o regime aceita a ficção 
de que se realiza Ciência Social nas academias. Tal trato é 
unidirecional. A única saída para deixar a banalidade para trás é 
ir adiante: em direção à criação de novos mitos de dominação a 
serviço das elites. Dessa forma, o professor se converte em um 
padre secular, cujo desempenho se esgota nos cânones e 
liturgias da teologia política do sistema. 
 
 
 
12 
 
 
 
 
O autor complementa esse argumento enfatizando que “a conseqüência desta 
práxis é a institucionalização do conhecimento reativo e que está na moda, em 
detrimento da possibilidade de construir novos paradigmas explicativos” (Idem). 
A tarefa de questionar oestabelecido, entretanto, implica, para o pesquisador 
que busca elaborar um conhecimento diferente do hegemônico, criar condições não só 
de transitar multidisciplinarmente pelas diferentes áreas de conhecimento (Sociologia, 
Antropologia, Filosofia, História e Ciência Política), mas, sobretudo, dominar e 
conseguir aplicar métodos diferentes na explicação de um fenômeno social, mesmo 
que isto signifique remar “contra a maré”. Hentschel (2002, p. 9) traz outro elemento 
a este debate ao referir que tal empenho pessoal não deve se restringir a fazer parte 
de alguma coisa, mas orientar-se para a participação, que é outro conceito da maior 
importância. A participação significa se integrar por meio de uma contribuição e não 
ser meramente uma imitação dos outros. Aqueles que “participam” cumprindo ordens 
são, na melhor das hipóteses, úteis, funcionam, porém não participam. 
Um dos princípios que tem se enraizado no pensamento moderno diz respeito à 
capacidade da pessoa de se adaptar. No caso das Ciências Sociais devemos perguntar: 
adaptar-se a quê? À globalização? À privatização? À castração cultural? De maneira 
geral, adaptar-se, no contexto latino-americano, tem significado aceitar passivamente 
a destruição de valores culturais próprios e a internalização de hábitos e 
comportamentos que nada têm a ver com o sistema do qual fazemos parte. O 
resultado desse processo tem-se plasmado em teorias vigentes que não explicam 
adequadamente os fenômenos sociais, adotando como base um pensamento diferente. 
Em tais circunstâncias, qual é a alternativa? Hentschel novamente nos diz que o 
comportamento mais conveniente dos intelectuais contemporâneos é o de se adaptar 
normativamente. Assim é mais fácil dizer “eu também” do que “eu não”. Essa atitude 
 
 
13 
 
 
 
 
resulta do temor de sermos excluídos por manifestarmos um pensamento distinto 
mostrando, coerentemente, atitudes diferentes. 
Por exemplo, pesquisas realizadas no Brasil nos últimos vinte anos mostram, de 
forma contundente, que a sociedade, como um todo, não tem internalizado aspectos 
de valorização da democracia (DAMATA, 1993; MOISÉS, 1995; BAQUERO, 2006). 
Embora de maneira geral e difusa as pessoas acreditem na superioridade da 
democracia sobre o autoritarismo, quando examinadas suas atitudes e 
comportamentos em relação às instituições políticas e aos gestores públicos, constata-
se uma avaliação negativa. A prevalência de tais atitudes não pode ser considerada 
algo passageiro e temporário. Parece ser uma dimensão mais estrutural que deve ser 
analisada em profundidade, pois se uma das dimensões da inteligência é a adaptação, 
imaginar que as pessoas estão destinadas a se adaptar a um sistema político com 
essas características deixa pouco espaço para pensar em dispositivos que auxiliem a 
sair dessa situação, promovendo sistemas mais abertos e democráticos. 
Essas circunstâncias, de reprodução mecânica de procedimentos vindos de fora, 
portanto, descontextualizados, possibilitam que os gestores públicos argumentem que 
políticas públicas e sociais são difíceis de serem aplicadas a curto prazo, pois o 
contexto global cria inevitabilidades, por exemplo, na aplicação de reformas 
econômicas que agem em detrimento do benefício da maioria dos cidadãos. É de supor 
que todas as pessoas percebem esta situação mostrando-se céticas em relação ao 
futuro e defendendo uma maior participação dos cidadãos. Porém, constata-se que 
ninguém está disposto a se envolver, inclusive quem critica as posturas passivas da 
população. 
Uma conseqüência deste processo nas Ciências Sociais, segundo Gomes (1998, 
p.2) é de que “os ‘estudiosos’ têm se debruçado sobre questões de relevância 
duvidosa, perdendo-se nos meandros das obrigações burocráticas da academia, sem 
 
 
14 
 
 
 
 
efetivamente conseguir produzir algo de novo” e continua: “E se não bastasse essa 
limitação, temos por outro lado um enorme desperdício de tempo e dinheiro na 
produção de estudos irrelevantes, geralmente condenados ao ostracismo do fundo de 
nossas bibliotecas”. 
Na mesma linha de análise, Schwartzman (2007:1) argumenta que “o 
contratante que quiser alguém para avaliar e legitimar seus projetos vai escolher quem 
ele sabe que não vai dizer nada desagradável”. Isto pode levar, segundo o autor, ao 
desenvolvimento de centros e grupos de pesquisa fazendo trabalhos muito financiados 
e de má qualidade e credibilidade. Presentemente, não é incomum constatar a 
proliferação de pesquisas que com novos nomes e nomenclaturas realizam 
investigações que nada acrescentam ao já documentado, constituindo-se em 
depositórios de informação inócua. Neste sentido, é importante desenvolver sistemas 
de incentivos que favoreçam mais a aplicação e a busca de resultados, e não somente 
os critérios acadêmicos de qualidade. 
No entanto, continuam a prevalecer atitudes aparentemente institucionalizadas 
que se posicionam a favor da idéia de que é melhor adaptar-se do que empreender 
caminhos alternativos de análise e solução de problemas. Nos últimos anos tem se 
observado a popularização a respeito da idéia de que uma sociedade madura e estável 
é a que melhor sabe seguir instruções e obedecer a leis e procedimentos. 
Evidentemente que nenhum sistema político pode sobreviver sem leis, normas, regras 
e instituições eficientes. No entanto, reduzir o processo de consolidação democrática 
única e exclusivamente a esses procedimentos, negligenciando o papel dos cidadãos, 
pode contribuir para gerar comportamentos passivos e alienados. As razões são bem 
conhecidas e documentadas (imposição dos valores do pesquisador à população 
estudada; a inexistência da opinião pública; a impraticabilidade do uso de métodos 
estatísticos nas Ciências Sociais e a falta de aprofundamento de um tema). Esses 
 
 
15 
 
 
 
 
posicionamentos parecem ter contribuído para que o aluno descarte o uso de métodos 
formais por considerá-los pouco valiosos para a sua formação acadêmica. 
Nos anos que tenho ministrado seminários de pesquisa quantitativa, não é 
incomum ou infreqüente ouvir de um número significativo de alunos que a única 
pesquisa útil é a que possibilita a participação direta do pesquisador na realidade ou 
que o papel do aluno na universidade não é o de pensar propositivamente ou o de 
refletir a respeito de soluções para os problemas sociais, mas que estão meramente 
num estágio de aprendizagem por etapas. Ou seja, passa-se a idéia de que 
preocupações relacionadas com a possibilidade de resolver problemas não estão dentro 
do universo da formação de recursos humanos nas Ciências Sociais. 
Na verdade, tal postura revela uma situação grave na infraestrutura de nossos 
cursos de ensino superior no que se refere à formação metodológica dos cientistas 
sociais. A este respeito, Dietrich (2002, p.31) argumenta que “a quantidade de 
professores em Ciências Sociais que têm domínio satisfatório da Metodologia e da 
Epistemologia científica, quer dizer, suficiente para ensiná-las adequadamente aos 
seus alunos, é muito escassa”. O resultado se traduz na valorização de ensaios que se 
caracterizam muito mais pelo número de vezes que citam as “autoridades” 
reconhecidas do que a tentativa de propor algo diferente. Tal atitude conduz à 
reprodução do conhecimento e não à valorização do conhecimento crítico e de 
incidência. 
Essa postura tem incidido, em minha opinião, negativamente na formação 
metodológica dos alunos de Ciências Sociais, pois produz uma negligência das regras 
sistemáticas que norteiam a pesquisa, impedindo que se contribua para uma melhor 
compreensão dos fenômenos sociais. Apesar dos limites da pesquisa quantitativa, até 
hoje não se conheceoutro método ou técnica de pesquisa que permita descrever com 
precisão as relações entre fenômenos e problemas sociais e, ao mesmo tempo, 
 
 
16 
 
 
 
 
proporcione fundamentos e informações necessárias para a formulação de políticas 
públicas mais eficientes, torna-se necessário que o futuro pesquisador no campo da 
Ciências Sociais domine a sistemática de pensar e aplicar a pesquisa de acordo com 
procedimentos rigorosos. 
Refletindo a respeito da formação metodológica de recursos humanos nas 
Ciências Sociais, Luna (1999), em relação ao ensino de métodos da pesquisa, diz que: 
“Quanto mais me envolvo com eles, mais me convenço de sua insuficiência para a 
formação de pesquisadores, sobretudo quando eles são usados como substitutos da 
atividade de pesquisa”. Para o referido autor, a metodologia é um instrumento 
poderoso, justamente porque representa e apresenta os paradigmas de pesquisa 
vigentes e aceitos pelos diferentes grupos de pesquisadores, em um dado período de 
tempo. 
Não é o argumento desse livro postular que uma técnica de pesquisa seja 
superior à outra. O uso de uma ou de outra técnica depende do contexto, dos objetivos 
e do que será feito com os resultados gerados por uma investigação. O que se defende 
é uma formação mais atualizada dos recursos humanos que pretendem fazer das 
Ciências Sociais seu campo de trabalho. Presentemente, o pesquisador nas Ciências 
Sociais está obrigado, por dever profissional, a conhecer e, sobretudo, saber aplicar a 
ampla gama de diferentes técnicas de pesquisa sem que isso signifique abdicar da 
teoria com a qual se identifica. 
Atualmente tem se institucionalizado o princípio de que a pesquisa na pós-
graduação é diferente do estudo na graduação. Supõe-se que na graduação se opera 
com um conjunto de estruturas, na qual se identificam e se unem unidades de 
aprendizagem, por meio de cursos seqüenciados, seminários e classes. O aluno ocupa 
um mundo compartilhado com outras pessoas, todas seguindo o mesmo caminho. 
Cada ano é visto como parte de uma totalidade que obedece a uma progressão natural 
 
 
17 
 
 
 
 
que vai de generalidades amplas até os interesses mais específicos de uma pesquisa. 
Contrariamente à pesquisa na pós-graduação, a da graduação é vista como uma 
experiência de incerteza, ambigüidade e falta de estrutura. Pressupõe-se que o aluno 
depende de seus próprios recursos, da vontade de ir em frente seguir seus próprios 
interesses. 
Um aspecto da noção de pesquisa crítica é o de que em nível de pós-graduação 
se criam redes que tornam a pesquisa mais agradável e produtiva. Na verdade, não 
existem estudos que tenham aprofundado as diferenças do estudo na pós-graduação 
em comparação com a graduação. Por exemplo, parte-se do pressuposto de que 
alunos de graduação estão num processo de treinamento no qual se exige unicamente 
a sua capacidade de assimilar teorias e reproduzi-las. Não se enfatiza o uso da 
criatividade e, tampouco, se incentiva o pensamento crítico. Isto, segundo grande 
parcela da academia, será alcançado na pós-graduação. 
Sendo assim, recursos humanos graduados em Ciências Sociais praticamente 
pouco sabem sobre o processo de pensar e executar pesquisas, sejam elas qualitativas 
ou quantitativas. O mais grave é que, de acordo com minha experiência na pós-
graduação nos últimos vinte anos, e conforme relatos feitos por professores de 
metodologia de pesquisa de outras universidades, tal fato se reproduz na pós-
graduação. Não é incomum, por exemplo, que pessoas formadas em nível de 
doutorado não saibam fazer pesquisa quantitativa ou interpretar dados dessa 
natureza, sendo o seu comportamento o de desvalorizar aquilo que não dominam. 
Acrescente-se a essa situação a introdução de um conjunto de exigências aos 
programas de pós-graduação, voltadas a produzir mais doutores em curtos períodos de 
tempo. A meta a ser alcançada geralmente se sobrepõe à qualidade da formação. 
Nessa circunstância se torna imperativo começar a pensar numa formação que 
integre não só o domínio de teorias, mas, também, de um amplo leque de opções 
 
 
18 
 
 
 
 
metodológicas, iniciando já nos estudos de graduação. Dessa forma, o ensino da 
pesquisa científica passa pela possibilidade de praticar o que é ensinado. Isso quer 
dizer que o pesquisador na área de Ciências Sociais deve ter um conhecimento 
adequado da metodologia da pesquisa. A esse respeito, Luna (1999, p. 11) argumenta 
que 
uma coisa é promover, entre os alunos, a discussão teórico-
metodológica sobre a realidade que eles precisam aprender a 
representar para poder analisar; outra coisa é substituir o fazer 
pesquisa pelo falar sobre pesquisa. 
 
Na mesma linha de análise, Demo (1985,p.7) sinaliza que “só tem algo a ensinar 
aquele que, por meio da pesquisa, construiu uma personalidade própria científica, 
aquele que tem uma contribuição original; caso contrário, não vai além de narrar aos 
estudantes o que aconteceu por aí”. 
Consciente ou inconscientemente, um pesquisador é um consumidor de pesquisa 
na medida em que sua leitura sobre os fenômenos sociais e suas conclusões sobre eles 
estão, preponderantemente, baseados em investigações realizadas em diferentes 
campos de conhecimento. Desse modo, para avaliar e interpretar os resultados 
gerados por pesquisas, o cientista social tem como responsabilidade compreender as 
limitações impostas pelas técnicas utilizadas na coleta e na análise de dados. 
Enquanto cientistas sociais têm uma abundância de questões significativas que 
podem ser investigadas, as ferramentas para compreender esses fenômenos são 
escassas e relativamente cruas. Desse modo, é essencial que o pesquisador tenha 
clareza de todos os elementos que conformam a realização de pesquisa, tanto teóricos 
quanto metodológicos e de métodos (estratégias ou procedimentos que indicam uma 
seqüência ordenada de movimentos que o pesquisador deve seguir para alcançar o 
objetivo da pesquisa). 
 
 
19 
 
 
 
 
Partindo desses pressupostos, este livro objetiva discutir a importância teórica e 
metodológica das etapas de construção de um processo de investigação. Não tem a 
pretensão de “inventar a roda”, pois, como se sabe, existem centenas de textos sobre 
metodologia de pesquisa nas Ciências Sociais. O esforço aqui empreendido, se é que 
ele pode ser considerado diferente, está na tentativa de tornar mais palpável e tangível 
a utilidade da pesquisa quantitativa por meio de experiências adquiridas em mais de 
duas décadas de trabalho nesta área. 
Da mesma forma, não se pretende argumentar que o chamado “método 
científico” seja o único caminho de construção de conhecimento. Existem várias e 
diferentes formas de desenvolvimento de paradigmas explicativos dos fenômenos 
sociais. Além do mais, do ponto de vista técnico, o conhecimento pode ser produzido 
pelo método da tenacidade. Este tipo de conhecimento se estabelece pelas crenças das 
pessoas em algo como sendo verdade em relação a alguma outra coisa. As pessoas 
acreditam naquilo a despeito de evidência em contrário. 
Outra forma de construção de conhecimento se dá via o método da autoridade. 
Tal conhecimento se plasma em virtude de um processo de intersubjetividade 
catalisada por uma “autoridade” no assunto pesquisado. 
Uma terceira forma de conhecimento se constitui pelo método apriorístico ou de 
intuição. Nesta perspectiva de conhecimento, se aceita alguma coisa por parecer 
razoável ou estar com a razão. Na medida em que cada pessoa pode se auto 
considerar um sociólogo, um cientista político, um filósofo ou um economista, e, na 
medida em que muitos fenômenos sociais parecem ter explicações com base no senso 
comum,existe a tentação das pessoas de considerar que as Ciências Sociais são 
dispensáveis. 
Tal situação se complica quando dois pesquisadores, estudando o mesmo tema 
com os mesmos dispositivos teórico-metodológicos, chegam a diferentes conclusões. 
 
 
20 
 
 
 
 
Nesse caso, quem está com a razão? Finalmente, e sem excluir outras formas de 
construção de conhecimento, temos o chamado método científico, o qual é 
determinado por uma permanência externa ou validade intersubjetiva externa. 
Pressupõe que as conclusões de estudos sobre o mesmo assunto devem ser sempre as 
mesmas. No entanto, a História tem se encarregado de mostrar que tal expectativa 
não tem se materializado na prática, principalmente nas Ciências Sociais. Basicamente 
se refere à impossibilidade de gerar princípios ou leis universais. No entanto, acredito 
que do ponto de vista estritamente técnico, o chamado método científico proporciona 
um conjunto de ferramentas que, se utilizadas com criatividade e sem dogmatismo, 
podem auxiliar a produzir novas formas de compreensão dos fenômenos sociais, por 
meio de um sistema interno de auto-correção. 
É nesta última perspectiva que este livro pode ser enquadrado. Pretende-se 
discutir as regras que fazem parte de qualquer projeto de pesquisa. Porém, não se 
apresenta tal abordagem como a única alternativa para construir conhecimento 
socialmente relevante. Como foi dito, há outras perspectivas, mas neste livro se 
enfatiza a constituição de conhecimento por meio da estruturação de projetos de 
pesquisa de caráter empírico. 
Para tal fim, o livro está estruturado em oito capítulos. O primeiro é dedicado à 
discussão de conceitos básicos da pesquisa social, destacando-se as noções de 
ontologia, epistemologia, metodologia, métodos e fontes. O segundo capítulo discute o 
significado da pesquisa e pesquisador nas Ciências Sociais, dando ênfase aos aspectos 
que influenciam os temas a serem tratados pelas Ciências Sociais. No terceiro capítulo 
se examinam a formulação do problema de pesquisa e os objetivos, apontando a 
necessidade da investigação acadêmica satisfazer, concomitantemente, os critérios de 
importância, originalidade, e viabilidade, requisitos básicos na elaboração do trabalho 
científico. São apresentados exemplos de formulações de problema e a sua delimitação 
 
 
21 
 
 
 
 
com o uso de duas e três variáveis. O quarto capítulo trata sobre a formulação de 
hipóteses, examinando aspectos relacionados à sua natureza, aos seus níveis de 
operacionalização e de testagem. O quinto capítulo aborda a questão das variáveis, 
identificando definições operacionais, níveis de mensuração, e exemplificando a relação 
de causalidade que se estabelece entre variável dependente e independente. O 
capítulo seis está voltado aos fundamentos da revisão crítica da literatura. A 
elaboração de instrumentos de coleta de dados na pesquisa quantitativa é o tema do 
sétimo capítulo. No oitavo capítulo são discutidas questões relativas aos processos e as 
técnicas de amostragem. 
 A partir desta estruturação, se busca oferecer aos leitores desta obra um 
conjunto de conceitos e orientações que sirvam de subsídio para o planejamento, a 
organização e a redação do seu trabalho acadêmico. O propósito é apontar caminhos, 
do conceitual ao operacional, da elaboração do projeto à apresentação dos resultados 
da pesquisa, fundamentando e desmistificando as técnicas de investigação e de 
redação científica, valorizando a qualidade da produção do conhecimento e realçando a 
importância da criatividade na realização do processo de pesquisa. 
CAPÍTULO 1 
Os elementos da pesquisa social 
Toda e qualquer pesquisa, independente do método utilizado, precisa levar em 
conta os aspectos filosóficos subjacentes a esse empreendimento. É necessário, 
portanto, que o pesquisador domine os elementos constitutivos da pesquisa social, 
quer dizer, da linguagem básica da pesquisa, o que deve anteceder à fase de formação 
técnica em pesquisa na tradição disciplinar. São conceitos-chave na pesquisa social, 
são ontologia, epistemologia, metodologia e método. Esses conceitos quando 
discutidos dentro da dimensão da pesquisa quantitativa, muitas vezes, são cercados 
 
 
22 
 
 
 
 
por uma áurea de mistério, parcialmente criada pela linguagem abstrata utilizada para 
explicá-los, gerando confusão nos leitores, antes de começar a ouvir ou ler sobre a 
temática a ser investigada. 
Um exemplo pode sinalizar a importância da ontologia. Considere um pedreiro 
que não sabe a diferença entre uma pá, uma picareta e um martelo; sem o 
conhecimento dessas diferenças, dificilmente ele poderá construir uma parede ou uma 
casa. Analogamente, um cientista social que não conheça a história de seu país, pode 
incorrer no equívoco de construir conhecimento descontextualizado, que pouco ou 
nada têm a ver com as condições do país, produzindo uma postura normativa. Desse 
modo, a forma como o cientista social enfrenta um problema a ser pesquisado, precisa 
ser compreendida claramente pelos leitores. No entanto, há que se distinguir entre o 
conhecimento do senso comum e o científico. A diferença entre o senso comum e o 
conhecimento científico é que este último requer o domínio de um conjunto de regras 
para sistematizar o tema que se pretende pesquisar e, dessa forma, construir 
conhecimento. 
De acordo com Kerlinger (1979), existem cinco diferenças significativas entre 
ciência e senso comum, sendo elas: 
(1) As divergências a respeito das palavras “sistemático” e “de controle”. O 
homem comum utiliza quotidianamente teorias e conceitos de forma simplista, 
ou seja, geralmente aceita explicações metafísicas ou sem respaldo factual dos 
fenômenos sociais. Por exemplo, uma pessoa pode considerar sua situação de 
pobreza um castigo de Deus. O pesquisador, por sua vez, constrói estruturas 
teóricas sistemáticas e as testa por consistência interna e empiricamente. 
(2) Diferenças entre as formas como se testam as teorias e as hipóteses. O 
homem comum testa suas teorias e hipóteses de forma seletiva, isto é, 
escolhendo a evidência que dá consistência às suas hipóteses. O cientista social, 
por sua vez, busca evidências de fontes variadas, e muitas vezes contraditórias, 
para testar suas teorias e hipóteses. 
 
 
23 
 
 
 
 
(3) Diferenças na conceituação de controle. O cidadão comum não se preocupa 
em examinar fontes potenciais que poderiam distorcer suas percepções e crenças 
a respeito de um fenômeno social. O pesquisador procura identificar todos os 
elementos que podem incidir na materialização do fenômeno estudado. 
(4) Diferenças na interpretação de associação entre dois conceitos. Por 
exemplo, uma pessoa pode acreditar que quando seu joelho dói há uma grande 
possibilidade de chover. O pesquisador, ao contrário, para explicar o mesmo 
fenômeno, recorre a um conjunto de indicadores e examina sua importância 
relativa. 
(5) O pesquisador busca, na sua pesquisa, eliminar explicações metafísicas. 
Uma explicação metafísica se refere a uma proposição que não pode ser testada. 
Isto não significa que atitudes e comportamentos dessa natureza não estejam no 
horizonte do pesquisador. O pesquisador procura não se deixar influenciar por 
essas explicações ou as coloca na dimensão da ontologia. 
 
Nas Ciências Sociais, portanto, a base de construção de conhecimento passa pela 
compreensão e pelas implicações dos termos que dizem respeito a: ontologia, 
epistemologia, metodologia, métodos e fontes. 
Ontologia 
A visão de mundo do pesquisador, independente de ser ingênua, crítica, racional 
ou teórica, tem dois componentes: o ontológico e o epistemológico. O termo“ontologia” originou-se no século XVII com o intuito de designar a ciência do ser; no 
sentido etimológico da palavra, significa a lógica do ser: derivada do grego “onthos” 
denota ser e “logos”, lógica. Segundo Steenberghen (1965): “ciência do ser, ontologia, 
metafísica geral, ou especificamente, metafísica”. 
Para Rezende (1986), a Filosofia compreende a ontologia como sendo o ramo da 
Filosofia que estuda “o ser enquanto ser”, ou seja, independentemente de suas 
determinações particulares e naquilo que constitui sua inteligibilidade própria; ou ainda 
 
 
24 
 
 
 
 
como sendo “a teoria da intuição racional do absoluto como fonte única, ou pelo menos 
principal do conhecimento humano (p.12)”. 
Encontram-se controvérsias no que diz respeito à ontologia. De um lado estão 
aqueles que, embasados em Santo Tomás de Aquino, defendem a teoria dos três 
estágios de abstração e consideram a ontologia o cume da Filosofia, estando depois da 
analogia, cosmologia, psicologia e a filosofia matemática. De outro lado, encontramos 
aqueles que atribuem à ontologia o papel de uma disciplina da filosofia, com base na 
epistemologia e constituída por uma dupla metafísica: a do homem e a do mundo 
material. Segundo Steenberghen (1965, p. 38), o objeto da ontologia pode ser 
construído por meio de toda experiência humana, pois se ela é humana é 
necessariamente do ser. Para o autor, 
a ontologia tem como objeto precisamente o estudo do valor 
comum, da investigação do que implica a realidade desta 
representação sintética, o determinar em que consiste, 
exatamente, a unidade que revela e expressa o conceito de ser. 
Em outros termos, o objeto formal da ontologia é o valor do ser, 
incluindo em todo objeto de experiência: estuda o dado da 
experiência enquanto ser, enquanto real. 
 
Nessa perspectiva, para o referido autor, 
para um estudo posterior do objeto são abertos dois caminhos 
para ontologia: novas experiências, reveladoras de novas 
modalidades do ser, e o discurso da razão, a fim de descobrir as 
afirmações implicitamente contidas na afirmação explícita do ser 
ou dos modos empiricamente conhecidos”(p. 39). 
 
Por esse prisma, todas as pessoas possuem determinada ontologia; uma visão e 
uma maneira de justificarem a realidade na qual vivem, quer dizer, uma visão acerca 
da totalidade do real que as circunda. Nesse sentido, a ontologia corresponde a uma 
determinada leitura da realidade (SIGRISTI, 1997). 
Se cada pessoa pudesse registrar no papel, em fita de vídeo ou na tela de um 
computador como vê a realidade, teríamos a ontologia de cada ser humano. Não 
 
 
25 
 
 
 
 
podemos viver sem explicar o mundo que nos circunda, mesmo que façamos isso de 
forma mística, mítica ou mistificada. É justamente porque conseguimos, de algum 
modo, dar algum tipo de explicação sobre este mundo, que a vida tem sentido, 
qualquer que ele seja. Sem fazer certa leitura da realidade, não se saberia como agir e 
interagir dentro da sociedade, se ficaria sem normas de comportamento, não sabendo 
o que fazer ou no que acreditar. Enfim, essa leitura corresponde à nossa ontologia. Se 
fizermos isso com um grau acentuado de racionalidade, um fundamento teórico sólido, 
seria muito melhor. Mas em todos os níveis em que o ser humano pode operar - 
empírico, racional e teórico - há uma ontologia presente, e ela se constitui na diretriz 
básica do nosso comportamento. 
A lógica hegeliana postula três tipos de atitudes perante o real, que revelam três 
formas de consciência. A primeira é chamada de consciência empírica; a segunda, de 
consciência racional e a terceira, de consciência teórica. A consciência empírica é a 
atitude de quem apenas responde aos estímulos imediatos da experiência. A racional é 
a de quem responde a esses estímulos, mas também é capaz de dar razões 
explicativas aos elementos constitutivos desta experiência. A consciência teórica é a de 
quem responde a estímulos da experiência do cotidiano, dá certas razões explicativas 
aos seus elementos e, ao mesmo tempo, é capaz de perceber e integrar esta 
experiência na totalidade das coisas que compõem o que Hegel chama de mundo, 
realidade ou totalidade do ser. 
Em se tratando da formação universitária, na qualidade de professores 
comunicamos nossa ontologia aos nossos alunos em qualquer disciplina por nós 
ministrada. A visão de mundo do professor se manifesta, implícita ou explicitamente, 
em qualquer área do conhecimento. Assim, todos trabalham, vivem e se expressam a 
partir de uma ontologia, de uma leitura que se faz da realidade. Nossos 
comportamentos veiculam uma leitura, uma compreensão de mundo, de sociedade. 
 
 
26 
 
 
 
 
 Quando falamos de leitura de realidade, não estamos pensando em uma 
situação abstrata, indefinida, mas nos aspectos mais concretos da nossa vida, na vida 
pessoal, na interpessoal, na profissional, na vida em sociedade. Em todos os 
momentos, queiramos ou não, comunicamos a nossa ontologia, ainda que disso não se 
tenha consciência. Suponha, por exemplo, que você não tenha religião, por nela não 
acreditar, pois este fato influenciará a sua leitura do mundo e dos fatos e 
acontecimentos sociais. As explicações dos fenômenos sociais, portanto, estarão 
relacionados com seus sentimentos sobre uma determinada temática. 
Da mesma forma, quando se lida, por exemplo, com o conceito de cultura política 
e a forma como as pessoas constroem seus valores a respeito de como vêem o mundo, 
os posicionamentos em relação aos valores hierárquicos são diferentes dos valores 
igualitários. Segundo Almeida (2007, p.75), “os que compartilham de uma visão 
hierárquica de mundo consideram que há posições predefinidas e, portanto, deve-se 
esperar que cada um desempenhe o papel determinado por sua condição social. Já os 
que se orientam por valores igualitários, consideram que não há papéis socialmente 
predefinidos”. A princípio, todos os indivíduos são iguais e eventuais desigualdades ou 
diferenças em papéis sociais são estabelecidas apenas nos limites de um contrato. 
Essa forma dicotômica de construção de valores numa cultura política influencia a 
forma como o pesquisador examina e conclui a respeito de como lidar com valores 
hierárquicos, são os pressupostos que estão subjacentes à visão do mundo do 
pesquisador. Sabendo os pressupostos, podemos entender o tipo de literatura com a 
qual o pesquisador passa a se identificar e a forma como vai propor soluções ao 
problema examinado nessa perspectiva 
Recapitulando, ontologia é o ponto de partida de toda pesquisa. Neste plano, a 
ontologia pode ser vista como a natureza da realidade social, sobre a qual a teoria está 
construída, de outro modo, a ontologia se refere aos pressupostos sobre a natureza da 
 
 
27 
 
 
 
 
realidade social, sobre o que existe, como são e como essas unidades do contexto 
examinado interagem umas com as outras. Em suma, os pressupostos ontológicos 
referem-se a como o pesquisador acredita que se constitui a realidade social. Dessa 
forma, não é difícil entender porque diferentes tradições teóricas, com base em 
contextos culturais diversos, apresentam perspectivas divergentes do mundo e 
diferentes pressupostos sobre a realidade pesquisada. É, portanto, necessário que o 
aluno tome conhecimento e compreenda a forma como a ontologia impacta seu 
conhecimento sobre a realidade na qual está inserido. 
Esse posicionamento é a resposta do pesquisador à pergunta: Qual a natureza 
política e social da realidade a ser investigada? Somente depois que esta pergunta 
estiver respondida se pode discutir o que é possível saber sobre a realidade político-
social que se pensa existente. 
Exemplos de posicionamentosontológicos são aqueles expressos nas 
perspectivas do “objetivismo” e do “construtivismo”. De maneira ampla, o objetivismo 
é um posicionamento ontológico segundo o qual os fenômenos sociais e seus 
significados existem independentemente dos atores sociais, enquanto que o 
construtivismo é uma abordagem holistica de construção social. Isso implica que 
fenômenos e categorias sociais não só são construídos pela interação social, mas que 
estão num processo constante de revisão. Assim, se ontologia diz respeito ao que 
sabemos, então a epistemologia refere-se a como vamos saber o que sabemos. 
Epistemologia 
A epistemologia é um conceito polissêmico que se refere a diferentes aspectos da 
filosofia do conhecimento, estudando a origem, a estrutura, os métodos e a validade 
do conhecimento e dos produtos intelectuais (JAPIASSU, 1992); à crítica geral do 
 
 
28 
 
 
 
 
conhecimento (LALANDE, 1999) e ao processo do pensamento 
(STEEENBERGHEN,1965). 
Deste modo, como uma das áreas da filosofia, está preocupada com teoria e 
conhecimento, especialmente em relação a métodos, validação e as maneiras possíveis 
de obter conhecimento acerca da realidade social, de qualquer forma que essa 
realidade seja entendida. Em suma, se refere a como saber aquilo que se presume 
que existe. Derivada da palavra grega episteme (ciência/conhecimento) e logos 
(lógica/razão), a epistemologia enfoca o processo de construção de conhecimento e se 
preocupa com o desenvolvimento de novos modelos teóricos, quer dizer, de modelos e 
teorias que são considerados com potencial explicativo mais persuasivo do que outros 
paradigmas. 
Isso significa que a nossa visão de mundo tem um outro componente além do 
ontológico, sendo este o componente epistemológico. A epistemologia nada mais é do 
que a lógica de uma ciência. A lógica de uma ciência está na teoria científica que vai 
dar sustentação lógica às proposições que a compõem. Quer dizer, a um conjunto 
ordenado de proposições a respeito de um mesmo objeto, proposições estas que se 
articulam entre si e encontram-se vinculadas a partir de um princípio geral. 
A epistemologia relaciona-se, assim, com problemas que compreendem a 
questão da possibilidade do conhecimento e dos limites deste, fazendo-nos oscilar 
entre a resposta dogmática ou a empirista e colocando a dúvida se o ser humano 
conseguirá, algum dia, atingir realmente o conhecimento total ou se haverá a distinção 
entre um mundo cognoscível e um incognoscível. Outra dúvida diz respeito à 
tradicional questão sobre a origem do conhecimento: Por meio de que faculdades ele é 
atingido? Haverá realmente um a priori no conhecimento humano? Acrescente-se a 
essas questões relativas à diferenciação entre os vários tipos de conhecimento diante 
da possibilidade de várias formas de aprendizagem: pela memória, pelos livros, pela 
 
 
29 
 
 
 
 
experiência cotidiana, de forma indireta ou direta e pelo contato do sujeito com o 
objeto. Finalmente, surge o problema da verdade: Deverá adaptar-se ao sistema de 
proposições referido a um conjunto consistente de frases? Dependerá a verdade da 
relação de correspondência entre uma proposição e o seu objeto? 
A dimensão epistemológica da nossa consciência pode ser examinada em níveis 
diferentes. A tarefa do cientista social é buscar os seus níveis mais profundos 
(teóricos). Por exemplo, conforme o lugar a partir do qual olhamos uma cidade, um 
bairro, uma instituição, uma organização ou uma comunidade, tal será a cidade, o 
bairro e a comunidade. A título de exercício, qual seria a sua opinião sobre Cuba e por 
quê? A busca desse lugar chamado lugar epistemológico é outra tarefa que cabe a 
cada um de nós conhecermos. Precisamos saber em que lugar estamos e a partir de 
que lugar olhamos o mundo. A epistemologia discute esse ponto a partir do qual 
vemos o mundo. Cada ciência tem a sua epistemologia. Temos a epistemologia da 
Biologia, da História, da Sociologia, da Antropologia, da Ciência Política, e assim por 
diante, ou seja, ela identifica o ponto a partir do qual se discute o objeto de uma 
ciência. 
A epistemologia existiu praticamente desde os inícios da Filosofia e como 
conhecimento mais ou menos sistemático, data do século VII A.C. Mas, somente nos 
séculos XVI e XVII, passou a ser vista como problema crítico da ciência. E em que 
consiste este problema crítico? Kant, refletindo sobre este tema no século XVIII, 
sugere que o problema crítico consiste em responder a duas questões: O que podemos 
conhecer? Em que condições o conhecimento é verdadeiro? Este é o problema crítico, 
discutido não apenas por Kant, mas também pelos racionalistas, como Descartes, e 
pelos empiristas, como Hume. Mas foi Kant quem sistematizou, em seu livro “Crítica da 
razão pura”, as questões que os racionalistas e empiristas já haviam discutido. Ele 
chama de problema crítico da ciência o fato de que, antes de começarmos a fazer 
 
 
30 
 
 
 
 
ciência, precisamos ter bem claras para nós mesmos, as respostas a duas questões. O 
que nós podemos conhecer: a totalidade do real ou parte do real? Em que condições 
esse conhecimento é verdadeiro, inquestionável, irrefutável? 
Para Kant, antes de fazer uso da razão devemos criticar, ou seja, apreciar o seu 
limite. Não podemos começar a usar a razão sem saber com clareza qual o seu alcance 
e quais são as leis que ela deve respeitar para chegar à verdade científica. Essas duas 
questões guardam uma ligação muito grande, pois, ao definir as condições do 
conhecimento verdadeiro, se definem também seus limites. Ao identificar o objeto, se 
definem, igualmente, as condições de possibilidade do conhecimento verdadeiro. Esta 
é a base em que se assenta a Filosofia moderna e contemporânea. 
O conhecimento, e as formas de descobri-lo, não é um processo estático, mas 
está sempre mudando. Quando são consideradas teorias e conceitos em geral, os 
alunos devem refletir acerca dos pressupostos sobre os quais se basseiam e onde se 
originam em primeiro lugar. Por exemplo, as teorias geradas nas democracias 
ocidentais são suficientes para explicar processos de transição na América Latina, cuja 
história se caracteriza pela presença de traços autoritários, personalistas e 
patrimonialistas? 
Dois posicionamentos epistemológicos contrastantes estão contidos nos termos 
“positivismo” e “interpretativismo”. Estes conceitos podem ser encontrados na História 
em relação a tradições específicas da filosofia da Ciência Social. O positivismo é um 
posicionamento epistemológico que defende a aplicação dos métodos das ciências 
exatas ao estudo da realidade social. O interpretativismo, por seu turno, pode ser visto 
como um posicionamento epistemológico fundamentado na perspectiva de que uma 
estratégia necessária é a que respeita as diferenças entre as pessoas e os objetos das 
ciências naturais; portanto, exige que o cientista social domine o significado subjetivo 
da ação social. 
 
 
31 
 
 
 
 
A escolha de um destes posicionamentos epistemológicos leva o pesquisador a 
escolher uma metodologia diferente em relação a outro pesquisador com 
posicionamento epistemológico distinto. Nessas circunstancias, o pesquisador precisa 
desenvolver a capacidade de identificar como os posicionamentos ontológico e 
epistemológico podem resultar em diferentes perspectivas sobre o mesmo fenômeno. 
Metodologia 
Antes de entrar na discussão sobre o significado da metodologia, cabe ressaltar 
que não se postula uma relação unidirecional causal entre os diferentes aspectos da 
pesquisa social. O objetivo é discutir os elementos de forma cronológica, como um 
treinamento inicial para os estudantes de CiênciasSociais que pretendem aprofundar 
sua compreensão sobre o processo de desenvolvimento da pesquisa quantitativa. 
Busca-se, assim, desmistificar a aparente complexidade deste tipo de pesquisa, por 
meio de uma discussão a respeito de como se estrutura a investigação nas suas etapas 
iniciais e de que forma esses elementos irão nos acompanhar na nossa vida de 
pesquisadores. É de fundamental importância que o aluno entenda como uma 
perspectiva particular do mundo pode afetar todo o processo de pesquisa. Explicitando 
claramente as inter-relações entre o que o pesquisador pensa ser possível ser 
investigado (posição ontológica), o que se pode saber sobre isso (posição 
epistemológica), e como coletar as informações (posição metodológica), o pesquisador 
pode começar a compreender o impacto de sua pesquisa naquilo que decide estudar. 
Freqüentemente se costuma fundir ontologia e epistemologia, uma sendo vista 
como parte da outra. Embora estejam relacionadas é importante mantê-las separadas, 
posto que toda pesquisa começa necessariamente com o ponto de vista do pesquisador 
sobre o mundo (ontologia), o qual por si só molda a experiência que traz para o 
processo de pesquisa. 
 
 
32 
 
 
 
 
A abordagem metodológica reflete pressupostos ontológicos e epistemológicos 
específicos, e representa a escolha da abordagem e dos métodos de pesquisa num 
determinado estudo. A metodologia se refere à lógica da pesquisa científica, tratando, 
especificamente com as potencialidades e limitações de determinadas técnicas ou 
procedimentos. O termo se refere à ciência e ao estudo de métodos e aos 
pressupostos sobre as formas em que o conhecimento é produzido. 
Em sentido etimológico, metodologia significa o estudo dos caminhos, dos meios 
de uma teoria (no caso da teoria científica). O que se discute, então, são os caminhos, 
a “armação” da teoria e não o seu conteúdo propriamente dito. Assim, ao falar de 
metodologia, busca-se analisar a forma de estruturar um conhecimento que se 
pretende ser reconhecido como científico (DEMO, 1985). Gomes (1996), por sua vez, 
define a metodologia como o estudo analítico e crítico dos métodos de investigação e 
de prova ou como descrição, análise e avaliação crítica dos métodos de investigação. 
Em sentido restrito, a metodologia tem como principal tarefa demarcar o que é e 
o que não é uma produção científica, oferecendo critérios e parâmetros para a 
elaboração de projetos e pesquisas. Em sentido amplo, possibilita o questionamento 
crítico e auto-crítico do fazer ciência, destacando suas limitações, estabelecendo seus 
pressupostos e avaliando suas conseqüências. A partir da análise metodológica pode-
se inferir o que é possível dizer sobre o que foi estudado (em qual nível de 
generalização, de profundidade e de extensão) e o que não é cabível, dado o percurso 
feito na pesquisa. Pelo seu exame podemos reconstituir as escolhas feitas pelo 
pesquisador e a partir daí também criticar suas hipóteses explicativas. A análise 
metodológica desconstrói a idéia de uma ciência automatizada porque nos apresenta 
as decisões e as ferramentas do cientista social na realização de sua pesquisa, 
possibilitando compreender sua relação com a ciência, bem como viabilizando a 
 
 
33 
 
 
 
 
superação do conhecimento com base no senso comum por um conhecimento 
sistematizado. 
A metodologia, por último, está conformada por procedimentos ou métodos para 
a construção da evidência empírica. Esta se apóia nos paradigmas, e sua função na 
investigação é discutir os fundamentos epistemológicos do conhecimento. 
Especificamente, se reflete acerca do papel dos valores, a idéia de causalidade, o papel 
da teoria e sua vinculação com a evidência empírica, o recorte da realidade, os fatores 
relacionados com a validez do estudo, o uso e o papel da dedução e a indução, 
questões referentes à verificação e falsificação, e os conteúdos e alcances da 
explicação e interpretação. Nas Ciências Sociais existem dois tipos de metodologias: 
qualitativas e quantitativas, cada uma com diferentes pressupostos teóricos e 
procedimentos para obter a evidência empírica. 
No uso cotidiano, a noção de metodologia aparece vinculada a de métodos. 
Entretanto, como dissemos, a metodologia trata da lógica interna da investigação, os 
métodos constituem “uma série de passos que o investigador segue no processo de 
produzir uma contribuição ao conhecimento” (DIESING, 1971:1). O mesmo autor 
utiliza também o conceito de “pautas de descobrimento”, na medida em que os 
métodos são diferentes e se entrecruzam sempre. Por exemplo, o método 
experimental, a enquete, bem como os usos de técnicas estatísticas de análise, são 
utilizados no marco de uma metodologia quantitativa, enquanto que as entrevistas 
(interpretativas ou etnográficas), a observação, a narrativa e a análise de discurso são 
utilizadas em estratégias qualitativas (SAUTU et al., 2005). 
Dados de pesquisas qualitativas são considerados pelos fenomenologistas como 
uma melhor fonte de avaliação ou relação entre conceitos do que observação empírica. 
Os fenomenologistas acreditam que é por meio da observação da essência do 
fenômeno social ao invés das aparências que se consegue decodificar o fenômeno e 
 
 
34 
 
 
 
 
aprofundar nosso conhecimento a respeito dele. Para avaliar a diferença entre a 
observação fenomenológica e a observação empírica, Bruyn (1966) propõe o seguinte 
quadro : 
Quadro 1- Diferenças entre a observação fenomenológica e a observação empírica 
Observação fenomenológica Observação empírica 
1) Investigação e fenômenos específicos 
sentem concepções prévias a respeito de 
sua natureza. 
Investiga fenômenos específicos a partir de 
concepções prévias definidas (hipóteses) 
sobre sua natureza. 
2) Observa o fenômeno que aparece na 
consciência 
 
Observa fenômenos que aparecem aos 
sentidos. 
3)Procura semelhanças entre fenômenos 
com base no critério da consciência; 
distingue a essência bem como o essencial 
das relações de maneira intuitiva. 
Procura semelhanças e diferenças entre o 
que é observado e o que está definido 
operacionalmente, distingue correlações 
estatisticamente. 
4)Explora como se constituem os 
fenômenos na consciência enquanto 
continuam a não ter concepções prévias em 
relação à sua natureza. 
Explora como os fenômenos se constituem 
na razão relativa às tipologias sociais. 
5)Examina significados ocultos que podem 
ser descobertos por meio de aplicação de 
concepções ontológicas da realidade. 
Examina que significados ocultos podem ser 
descobertos por meio da aplicação de 
concepções teóricas da ação social. 
Fonte: Bruyig, 1966 
Mesmo assim, a metodologia é muitas vezes confundida com os métodos de 
pesquisa utilizados num projeto. Métodos são simplesmente técnicas ou procedimentos 
usados para coletar e analisar dados. Tal confusão pode ser atribuída ao fato de que a 
metodologia se preocupa com a lógica, as potencialidades e as limitações de métodos 
de pesquisa. 
O método, por sua vez, refere-se ao procedimento ou conjunto de procedimentos 
essenciais para se alcançar os objetivos propostos na pesquisa. O aspecto principal do 
método diz respeito a tentar solucionar problemas por meio da formulação de 
hipóteses passiveis de serem testadas. Em outras palavras, constitui-se numa resposta 
provisória de um problema ou fato investigado. 
 
 
35 
 
 
 
 
Os métodos estão assentados em princípios epistemológicos e metodológicos. 
Razão pela qual, muitas vezes, argumenta-se que não se pode utilizar determinados 
métodos dentro de uma metodologia determinada. Na prática, na escolhade um 
método, respeitam-se os pressupostos da metodologia na qual se enquadra, embora, 
na atualidade, existam alguns graus de liberdade, o que permite o uso de técnicas 
quali-quantitativas sem abdicar da metodologia utilizada. 
No desenvolvimento cotidiano da pesquisa, sabe-se que toda pesquisa é uma 
construção teórica, na medida em que esta permeia todas as etapas da mesma. O 
quadro teórico, os objetivos, a metodologia, os métodos e as fontes utilizadas se 
conectam de forma lógica, por meio de uma estrutura argumentativa que também é 
teórica (SAUTU et al., 2005, p. 39). 
Nessa perspectiva, o ato de pesquisar nas Ciências Sociais envolve um conjunto 
de etapas que se entrecruzam permanentemente de maneira lógica e estruturada. 
Com o objetivo de tornar mais claras essas articulações, elaborou-se um esquema que 
permite visualizar a conexão entre os elementos constitutivos da pesquisa e o seu 
desdobramento no processo de pesquisa social.Quadro 2 – A inter-relação entre os 
blocos constitutivos da pesquisa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ontologia 
 
 
 
Epistemologia 
 
 
 
Metodologia 
 
 
 
 
 
 
Métodos 
 
 
 
Fontes 
 
O que há para 
saber? 
 
 
O que e como 
podemos saber 
sobre isso? 
 
 
Como podemos 
adquirir esse 
conhecimento? 
 
 
Quais procedimentos 
 
 
podem ser usados? 
 
 
Fontes 
 
 
 
 
 
36 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Grix (2002, p.180). 
Um exemplo concreto das Ciências Sociais onde o Quadro 2 pode ser aplicado é o 
estudo de Capital Social desdobrado em duas dimensões: (a) a perspectiva 
apresentada por Putnam (2000) e (b) uma abordagem alternativa. 
No que se refere ao aspecto da ontologia, Putnam (2000) acredita na 
predisposição inata da pessoa para se envolver em atividades de natureza coletiva. 
Desse modo, parte da premissa que o Capital Social é fruto de características 
históricas de uma região, freqüentemente da capacidade associativa em redes e da 
confiança recíproca. É fundacionalista na medida em que atribui um valor antecedente 
aos aspectos históricos e culturais no fracasso do desenvolvimento democrático de 
uma nação. Na abordagem alternativa, pressupõe-se uma abordagem mais 
compreensiva, ou seja a pesquisa e realizada com base numa totalidade e num 
processo multifatorial. 
Quadro 3- Duas abordagens para estudar Capital Social 
Abordagem Ontologia Epistemologia Metodologia Métodos Fontes 
Escola 
de Putnam 
Fundacionalist
a 
Positivista Escolha de 
 Estratégia 
Quantitativa 
Survey Dados 
de Survey 
Abordagem 
Alternativa 
Anti-
fundaciona 
lista 
Interpretativis
ta 
Quantitativo 
Qualitativo 
Entrevistas 
Survey 
Idem 
 
 
37 
 
 
 
 
Fonte: Elaboração própria 
Da perspectiva epistemológica, Putnam é considerado positivista, pois acredita na 
existência de uma relação causal entre capital social e democracia. Na perspectiva 
alternativa, a epistemologia é considerada holística, pois leva em conta a totalidade do 
fenômeno, portanto, é caracterizada como interpretativa ou compreensiva. Decorrente 
desses posicionamentos epistemológicos, a metodologia de Putnam é de natureza 
quantitativa, enquanto que no lado oposto, a metodologia é de caráter qualitativo. 
Os métodos utilizados, nesses contextos, são diferentes. Para Putnam, a 
pesquisa ou opinião pública survey é o preferido, enquanto na perspectiva alternativa o 
método adequado é o que utiliza entrevistas em profundidade, não estruturadas, e 
somente em lugar secundário a pesquisa de opinião. 
Finalmente, os dados para respaldar as hipóteses ou questões de pesquisa das 
duas abordagens também são diferentes. Putnam utiliza os dados quantificados e que 
se constituem em “bancos de dados”, enquanto na abordagem alternativa, os dados 
resultam, em primeiro lugar, de entrevistas em profundidade, e em segundo lugar, de 
pesquisas de opinião. 
São essas considerações que entram em jogo no processo inicial de pensar um 
projeto de pesquisa, sendo que a próxima etapa é a de refletir a respeito do que 
significa pesquisar e pesquisa nas Ciências Sociais. É este o tema do próximo capítulo. 
 
 
38 
 
 
 
 
CAPÍTULO 2 
O que significa pesquisa e pesquisar nas Ciências Sociais 
 
Uma avaliação geral da estrutura curricular da maioria das universidades mostra 
que, de maneira geral, o campo das Ciências Sociais está assentado em duas linhas: 
(1) teoria e, (2) métodos de pesquisa. Este tipo de organização, ao longo do tempo, 
tem gerado a idéia equivocada de que teoria e método são independentes entre si e 
que a sua integração somente é viável num nível elevado de abstração. Tal 
posicionamento tem produzido um pensamento entre os futuros pesquisadores das 
Ciências Sociais a respeito de estudo da teoria e método, em que são vistos como 
aspectos desconexos, levando-os a optar por disciplinas ou de teoria ou de método. A 
conseqüência prática tem sido de que freqüentemente disciplinas de métodos são 
vistas com desconfiança, na medida em que os alunos estão convencidos que esta 
disciplina é menos relevante e mais difícil do que matérias teóricas. Em muitos casos, 
não fosse pelo fato de que estes cursos são obrigatórios, muitos estudantes os 
evitariam a qualquer custo. 
Na atualidade, constata-se que teoria e método são inseparáveis. Todo recurso 
humano na área das Ciências Sociais deve ser, ao mesmo tempo, teórico e 
metodólogo. Todo e qualquer conhecimento é resultado da integração dessas duas 
dimensões. Embora em muitos casos teoria e método sejam disciplinas ministradas 
separadamente, um bom pesquisador desenvolve a habilidade de integrá-los na 
análise dos fenômenos sociais. Quanto mais o futuro pesquisador domine esses 
aspectos, maiores e melhores as possibilidades de avaliar ou tomar decisões com base 
em pesquisas realizadas por outros. Neste sentido, do ponto de vista da montagem de 
uma pesquisa, o gráfico a seguir diagrama a relação recíproca dessas dimensões. 
Quadro 4 - O contexto dinâmico da pesquisa 
 
 
Dados 
Informacões sobre o 
mundo empírico 
Teoria 
Explicações lógicas sobre o 
mundo empírico 
Método 
Formas de obter informações úteis 
para explicações de fenômenos 
sociais. 
 
 
 
39 
 
 
 
 
Fonte: Elaboração própria 
Ao contrário do que o senso comum sugere, fatos nas Ciências Sociais não falam 
por si mesmos. A explicação dos fenômenos sociais se torna significativa quando se faz 
uma análise dentro de molduras teóricas. Desse modo, é necessário organizar os fatos, 
analisá-los sistematicamente, submetê-los a testes de validade e avaliar, 
posteriormente, as implicações desses fatos na construção de conhecimento e a 
relevância para, por exemplo, o desenvolvimento social do país. Tal tarefa sinaliza para 
a necessidade de o pesquisador dominar e saber integrar teoria e método. Desse 
modo, precisamos definir o significado de pesquisa nas Ciências Sociais. 
Não é incomum que o aluno iniciante considere a pesquisa uma tarefa abstrata e 
complicada. Tal pensamento, em minha opinião, é normal, pois o que é desconhecido 
pressupõe o domínio de algumas habilidades, e pode gerar um pouco de temor. 
Entretanto, na medida em que o futuro pesquisador compreende e começa a 
sistematizar as diferentes etapas de um projeto de pesquisa e, na prática, aplica esses 
ensinamentos, desmistifica a sua aparente complexidade. De maneira sintética, um 
projeto de pesquisa tem uma estrutura bem conhecida: início, meio e fim. Os filósofos 
costumavam utilizar o termo “raciocínio lógico”

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