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ARTIGO BOHOSLAVSKY - Orientação Profissional - A Estrategia Clinica

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file:///C:/Users/Francisco/Downloads/99852043-BOHOSLAVSKY-Orientacao-Profissional-A-
Estrategia-Clinica-parte-2.pdf 
3 - A entrevista de orientação vocacional 
“O lugar da alma é onde se tocam o mundo interior 
e o exterior. Porque ninguém se conhece, a si 
mesmo, se é só ele mesmo e não também o outro, 
ao mesmo tempo.” 
Novalis 
Brammer e Shostrom, em seu livro Psicologia terapêutica, estabelecem que: “…a escolha 
vocacional tem sido considerada, historicamente, como guia vocacional — um processo para 
ajudar o cliente a escolher, e preparar-se para triunfar numa determinada ocupação. Este 
processo centralizou-se na entrevista, que consistia, em grande parte, em examinar os dados do 
cliente e procurar as possibilidades de ocupação, para encontrar um objetivo específico, após o 
qual formulava-se um plano de estudo para alcançá-lo. Embora este raciocínio seja básico, 
produziram-se mudanças recentes na percepção do significado da entrevista vocacional”. 
Este capítulo tem como objetivo examinar essas mudanças e, especialmente, a entrevista 
como principal instrumento ou técnica, de que se vale o psicólogo para diagnosticar e colaborar 
com o adolescente na solução dos seus problemas vocacionais. 
A entrevista de orientação vocacional é uma situação de interação humana, na qual um 
dos participantes está capacitado, científica e tecnicamente, para exercer o papel de 
entrevistador. 
Examinar a entrevista de orientação vocacional implica rever, embora sumariamente, as 
caracteristicas gerais de qualquer entrevista psicológica, analisando os conceitos que 
fundamentam uma teoria da técnica de entrevista, antes do que a contribuição de receitas 
técnicas — mais ou menos adequadas — para ajudar uma pessoa que enfrenta um conflito diante 
da escolha de seu futuro. 
Este trabalho baseia-se, fundamentalmente, em contribuições dadas, em nosso meio, por 
Ulloa, Bleger e Liberman, que retomaram as teorias tradicionais sobre a entrevista psiquiátrica, 
enriquecendo-as com as descobertas da psicanálise e da teoria da comunicação. Examinaremos, 
brevemente, os fundamentos teóricos da entrevista psicológica e depois trataremos de 
exemplificar o manejo destes conceitos, no caso específico da orientação vocacional. 
A entrevista psicológica 
Toda entrevista é uma situação inter-humana. Sullivan(48), definiu a entrevista como uma 
situação de duas ou mais pessoas, na qual um ou mais indivíduos esperam receber auxílio 
técnico de um ou mais especialistas. Como ressalta Bleger, a entrevista é um campo no qual os 
fenômenos que acontecem adquirem seu significado em virtude das relações que guardam entre 
si. Como todo campo psicológico, a relação de entrevista está configurada por uma série de 
forças — entre elas, o entrevistador — que não é um observador passivo do que ocorre no 
entrevistado, mas que interage com ele e desenvolve, nesse campo, comportamentos que, tal 
como os do entrevistado, devem ser considerados como emergentes do referido campo. 
Tem-se tentado estabelecer classificações das entrevistas, segundo o tipo de 
comportamentos que tenha o entrevistador e o que espera do entrevistado. Assim, considera-se 
que uma entrevista é aberta, quando o entrevistador limita-se a recolher todas as manifestações 
do entrevistado; é fechada, se o entrevistador conduz a entrevista de modo tal que predetermina 
as opções possíveis, entre as quais o entrevistado escolherá o comportamento a expressar. 
No caso específico da orientação vocacional, as entrevistas abertas são as indicadas, pois 
nelas a técnica converte-se não só numa forma de recolher dados exaustivamente, a fim de 
elaborar um eventual diagnóstico vocacional, mas ao mesmo tempo em uma situação de 
interação, na qual surgem desse diagnóstico (que se realiza continuamente durante cada 
entrevista) ações do entrevistador tendentes a modificar o comportamento do entrevistado, 
através do esclarecimento. 
Portanto, a entrevista deve ser considerada sempre como uma situação grupal, porque 
nela participam pelo menos duas pessoas, cada uma com papéis atribuídos e adquiridos em 
função de: a) os propósitos do entrevistador; b) seu quadro de referência específico; c) a situação 
especial em que se desenvolve a entrevista; d) a estratégia na qual se insere a entrevista; e e) a 
tática ou perspectiva dentro da qual as condutas adquirem seu significado. 
Como observamos, os objetivos da entrevista influem no acontecer da mesma, pois 
expõem aos participantes níveis de aspiração conscientes ou inconscientes (interagentes) que 
determinam seu comportamento. Assim, por exemplo, um entrevistador pode perceber 
claramente que sua entrevista é de orientação vocacional, desde que o entrevistado possa 
desenvolver, face a essa situação, fantasias que o levem a manejá-la, por exemplo, como uma 
situação terapêutica, ou como uma situação na qual se relaciona com um professor, ou com um 
amigo, etc. Estas distorções, introduzidas na entrevista pelo entrevistado, convertem-se num 
dado valioso para o psicólogo, pois lhe permitem “ler”, através do comportamento manifestado 
pelo entrevistado, seu sistema de motivações, o significado que adquire para ele a situação 
grupal e, em função da abordagem teórica e do quadro de referência do entrevistador, quais são 
os sistemas conflitivos, os mecanismos de defesa e o que Ulloa definiu como fantasias de “saúde” 
e “doença”. 
Nessa situação de interação, existem dois papéis atribuídos que podem ser manejados de 
diversas formas, de acordo com o significado que a situação tem para os participantes. 
Estes dois papéis básicos são o de técnico e o de entrevistado. As distorções quanto à 
atribuição ideal destes papéis são, possivelmente, a fonte principal de informação, da qual pode 
valer-se o entrevistador para chegar a um diagnóstico do comportamento do entrevistado. 
O comportamento depende do papel, mas o modo pelo qual se assume o referido papel 
dependerá, como vimos, em primeiro lugar, do significado consciente e inconsciente que se 
atribua à situação e, em segundo lugar, da personalidade de cada um. 
Todo campo psicológico implica uma configuração, sem a qual o comportamento não tem 
bases concretas que lhe permitam expressar-se, mas quem configura o campo de uma 
entrevista? Ou seja, quem configura essa situação interpessoal? Em parte, a situação é 
configurada pelo entrevistador ou técnico — neste caso específico, o psicólogo — e, em parte, 
pelo entrevistado. Trata-se, novamente, de um processo de interação. O modo como tal campo é 
configurado pelo entrevistador designa-se com o termo “enquadre”. O enquadre consiste em 
converter em constantes um conjunto de variáveis da situação presente, isto é, todo enquadre 
implica certo artifício técnico, que atua como um quadro de referência, permitindo ler os 
significados do comportamento do entrevistado e, a partir daí, chegar a um diagnóstico do 
mesmo. 
Basicamente, enquadrar uma entrevista consiste em estabelecer dois parâmetros, o tempo 
e o lugar, é atribuir os papéis e os objetivos. Se os papéis, o tempo, o lugar e os objetivos não 
foram preestabelecidos, o comportamento do entrevistado assume um caráter caótico e 
incompreensível ao entrevistador. 
Os objetivos de uma entrevista de orientação vocacional variam de acordo com o momento 
em que a entrevista se realiza e segundo o tipo de processo geral de orientação vocacional 
elaborado a partir do primeiro diagnóstico do cliente (o que determina a linha mais conveniente 
para traçar uma estratégia geral de ação). Uma entrevista de orientação vocacional pode ter dois 
objetivos fundamentais: a informação e o esclarecimento. Por informação, entendemos a 
colaboração com o entrevistado, para discriminar os aspectos do mundo ocupacional adulto, as 
carreiras universitárias, as condições necessárias para aceitar um determinado papel adulto, as 
possibilidades que lhe ofereceo campo profissional, etc. Neste trabalho, referir-nos-emos 
especialmente às entrevistas de orientação vocacional cujo objetivo fundamental é o 
esclarecimento, ou seja, contribuir para que o entrevistado tenha acesso a uma identidade 
vocacional (Bohoslavsky), através da compreensão dos conflitos e situações que o hajam 
impedido de aceitá-la de modo integrado e não conflitivo. 
Quanto ao lugar e ao tempo de cada entrevista, variam de situação e já foram 
exaustivamente estudados por Aisenson e colaboradores, num de seus trabalhos. 
Quanto aos papéis, é imprescindível que o entrevistador atribua-se um papel, que é o de 
colaborar no esclarecimento e na assunção a uma identidade vocacional adulta, e não o de 
aconselhar ou orientar de maneira ativa o adolescente ou, num sentido vago, “curá-lo” e resolver 
todos os seus problemas de personalidade. A assunção do papel de entrevistador numa situação 
de orientação vocacional depende, fundamentalmente, de sua identidade vocacional e podemos 
antecipar que todas as distorções desse papel, que podem ser entendidas através da análise dos 
fenômenos contratransferenciais, dependem dos conflitos que sua própria identidade vocacional 
desperte no psicólogo. 
Entretanto, além de ser o entrevistador quem define e configura o campo, seu 
comportamento — ao fixar o enquadre — toma somente um conjunto de variáveis e converte-as 
em constantes, deixando em liberdade o entrevistado, para que este configure tudo o que ocorra 
na entrevista. Isto quer dizer que podemos reconhecer, na entrevista, algo fixo, constante ou 
rígido, que é o enquadre, e algo que é um processo dinâmico e que expressará o modo como o 
entrevistado exerce a liberdade de configurar a situação. E por isto que o modo como o 
entrevistado emprega sua liberdade para escolher a maneira de configurar a entrevista converte-
se num dado importante para se entender as maneiras habituais, pelas quais o entrevistado 
exerce sua possibilidade de escolha. Assim, embora o entrevistador fixe certas linhas estáveis e, 
se quisermos, rigidas — que atuariam na forma de trilhos do processo ou do acontecer da 
entrevista —„ o acontecer em si corre por conta do entrevistado. 
Os comportamentos surgidos na situação assim definida podem ser considerados como 
emergentes de um campo grupal. O conceito “emergente” é polêmico. Empregá-lo-emos para nos 
referir a todo acontecimento que, no processo de entrevista, embora novo e “surpreendente” na 
aparência, integra e sintetiza fatores já presentes no campo psicológico. Um fenômeno 
emergente é produto da interação dos elementos que conformam a situação e sua estrutura é 
isomórfica com esta, mas não idêntica, de modo que, por sua simples aparição, modfica a 
situação da qual é produto. Um fenômeno emergente ocorre em “resposta a” e, ao mesmo tempo, 
é “estímulo” ou “situação desencadeante de” comportamentos do co-participante. Portanto, 
emergente, num sentido amplo, é qualquer comportamento, seja concreto ou simbólico, manifesto 
ou latente, do entrevistador ou do entrevistado. 
Em função disto, a análise de uma entrevista pode ser feita a partir tanto do entrevistado 
como do entrevistador, mas, fundamentalmente, a partir da relação entre ambos. Visto que esta 
relação é basicamente uma relação de interação, podemos recorrer à teoria da comunicação para 
obter os parâmetros que permitam examiná-la. 
Elementos da comunicação 
Em toda comunicação existem sempre, no mínimo, seis elementos. Esses elementos são: 
o transmissor, ou seja, o que realiza um comportamento que chamamos de “comportamento 
desencadeante” ou “comportamento estímulo”; o receptor, que é o destinatário desse 
comportamento; o próprio comportamento, que, a partir de um esquema de comunicação, pode 
ser considerado como uma mensagem; o código, que é o conjunto de regras mediante as quais 
chega-se a formular essa mensagem, isto é, que permitiu converter situações pessoais em dados 
comunicáveis (tenha, este processo, se realizado de modo consciente ou não); o contexto, no 
qual se realiza a referida comunicação; e o canal, que é a via pela qual circulam as mensagens. 
Estes elementos permitem fazer uma análise mais exaustiva da entrevista. Por exemplo, 
podemos entender, a partir do que ocorre, qual o código que o entrevistado prefere empregar, 
predominantemente. Por um lado, este código orienta o diagnóstico, mas ao mesmo tempo dá ao 
entrevistador as linhas do modo pelo qual terá que formular sua mensagem, para que seja 
facilmente acessível à compreensão do entrevistado. 
É importante destacar que o contexto é constituído pela própria situação de interação, de 
maneira que tudo o que ocorre na situação de entrevista deve ser considerado como mensagem, 
cujo referente é, além do aludido na mensagem, o próprio contexto em que aquele se expressa. 
Por exemplo, um adolescente que conta como um professor trata seus alunos no colégio 
comunica algo sobre o professor, mas metacomunica, além disso, sobre: a) a situação de 
entrevista; b) o entrevistador; c) os processos que o levaram a emitir essa mensagem, e não 
outra; e d) como “quer” ser decodificado, etc. 
Em outras palavras, isto é o que a psicanálise tem examinado sob o nome de transferência 
e que voltaremos a considerar posteriormente. 
As mensagens que circulam pelo canal configuram-se na realidade por um conjunto de 
comportamentos que integram as palavras, os gestos, a mímica, a pantomima e até os silêncios, 
as entonações de voz e o estilo pessoal da mensagem emitida. Este conjunto foi analisado por 
Pittenger, Hockett e Danehy, os quais afirmam que toda mensagem está integrada na realidade 
por três séries: uma série auditiva lingüística, ou seja, as palavras, que têm um código conhecido 
e formalizado no léxico de uma língua; uma série auditiva paralingüística, composta por todos os 
componentes sonoros da mensagem, seja por presença ou por ausência (os silêncios), que não 
têm, até o momento, uma codificação formalizada em léxico algum, mas que, todavia, são 
indicadores fundamentais para a compreensão do clima afetivo da mensagem; a terceira série é 
denominada série não-auditiva paralingüística (compreende os gestos, a mímica e a pantomima). 
Nesta série, o entrevistado e o entrevistador comprometem seu esquema corporal e é por isso 
que não atentar para ela implica deixar de lado uma importante fonte de informação. 
Em geral, considera-se que numa situação de entrevista os comportamentos corporais não 
estão presentes, ou esta série só é percebida quando supera certo limite desejável. Isto é, 
quando aparecem, no entrevistado, movimentos bruscos, posturas corporais, tiques ou outras 
modalidades de expressão dos estados emocionais. Entretanto, uma atitude passiva ou ativa a 
respeito do movimento, inclusive por sua própria denominação (“Passivo ou Ativo”), pode ser 
indicadora de uma atitude mais generalizada, pela qual o entrevistado expressa seu sistema de 
motivações, seus conflitos e as ansiedades despertadas na situação de entrevista e na situação 
de escolha de carreira. 
Papéis na entrevista 
Estes papéis, quando surgem do modelo de comunicação que assinalamos, são: o de 
emissor, o de receptor e o de avaliador das mensagens. O papel de emissor é assumido, 
alternadamente, por ambos os participantes da situação. O emissor é aquele que “fabrica” a 
mensagem. Para fazê-lo, deve dispor de um código, isto é, do sistema de regras que permitirão 
converter uma situação em palavras, sons ou gestos; de um repertório, um conjunto de signos 
que permitam dar expressão social aos significados que a situação adquire para ele. 
O papel de avaliador é assumido, também, por ambos os participantes. Entretanto, este 
papel é privilegiado no entrevistador, porque não só avalia a mensagem do entrevistado, mas 
também sua própria mensagem, e não só as mensagens que circulam no sistema interpessoal de 
comunicação, comotambém as mensagens que funcionam em seu sistema intrapessoal. Seus 
sentimentos, seus afetos devem ser considerados como mensagens intrapessoais emergentes, 
também, da situação (Ruesch e Bateson). 
A avaliação da mensagem depende não somente da capacidade intelectual do transmissor 
e do receptor das mensagens, mas de toda a sua personalidade (traços, estruturas predominante 
e acessória, sistemas motivacionais, atitudes, etc.), que intervém na avaliação que faz das 
mensagens. Pode-se considerar, pois, que toda distorção é determinada pelas características 
pessoais dos participantes na entrevista e, mais especificamente, por suas funções do ego 
(Bellak). 
Funções da mensagem 
Pelo menos toda mensagem desempenha uma das seis funções enunciadas por 
Jakobson. Habitualmente, as mensagens incluem mais de uma delas. Estas funções são: 
emotiva, diretiva ou conativa, pática ou de contato, referencial ou denotativa, emocional, 
metalingüística e poética. 
A função emotiva relaciona-se com a possibilidade de a mensagem referir-se aos estados 
afetivos, emocionais, motivacionais e de atitudes do entrevistado. Em termos gerais, espera-se 
que o entrevistador assuma uma atitude de prescindibilidade quanto à expressão de seus estados 
emocionais, mas não cabe nenhuma dúvida de que estes se patenteiam e, de uma forma 
geralmente inconsciente, mostram-se e informam, aoentrevistado, sobre as reações que sua 
mensagem despertou no entrevistador. 
Os sujeitos variam entre si quanto à função emocional ou emotiva ligada à sua mensagem. 
Assim, por exemplo, alguns adolescentes são muito sensíveis às reações de aprovação ou 
desaprovação que, embora não sejam formuladas em palavras pelo entrevistador, são emitidas 
de qualquer maneira. 
Por função referencial entendemos a faculdade de uma mensagem em aludir a objetos que 
não são ela mesma. Assim, quando dizemos que toda palavra tem um significado mais ou menos 
preciso, estamos dizendo que a palavra é uma mensagem que designa um aspecto da realidade. 
De acordo com o que dissemos até aqui, o referente da mensagem, numa situação de entrevista, 
é essa mesma situação de entrevista, isto é, tudo o que se diz na entrevista relaciona-se à própria 
entrevista, o que cria as condições para agir aqui e agora, de acordo com o significado que tem a 
situação de entrevista para o entrevistado e que podemos esclarecer a partir da análise da função 
referencial da mensagem. 
Por função diretiva entendemos a função que tem a mensagem de desencadear 
comportamentos no receptor. Também aqui existem diferenças interindividuais importantes. Para 
alguns entrevistados, a mensagem que transmitem tende a determinar, observar e controlar o 
comportamento do entrevistador. 
Por função metalingüística entendemos a possibilidade, que a mensagem tem, de se referir 
a outras mensagens ou ao sistema de comunicação. Neste sentido, podemos adiantar que todas 
as mensagens produzidas pelo entrevistador desempenham, predominantemente, esta função, 
isto é, esclarecer, aqui e agora, qual o tipo de comunicação que o entrevistado decidiu 
estabelecer e qual o significado, em geral inconsciente, que a situação tem para ele. Estas 
mensagens, nas quais predomina a função metalingüística, são designadas por maneiras 
diferentes e a elas nos referiremos mais adiante com os termos de “assinalações” ou 
“interpretações”. Podemos, já, adiantar que o caráter modificante que uma experiência de 
entrevista tem para o entrevistado (neste caso, o adolescente que deve se decidir por uma 
carreira) depende da qualidade metacomunicativa que tenha a mensagem do entrevistador. Isto 
significa que, se para o adolescente que procura escolher uma carreira a entrevista serve de alguma coisa, 
é porque o entrevistador assume plenamente este papel de informar, ao entrevistado, como este 
compreendeu a situação, por que a compreendeu assim, por que assumiu tais comportamentos, etc. 
A função pática é a qualidade que as mensagens têm para estabelecer uma relação entre o 
transmissor e o receptor. Essa função básica de contato, que as mensagens têm, não pode ser 
descuidada, pois se converte no índice mais claro do tipo de proximidade ou afastamento — para falar de 
duas atitudes polares básicas — que o adolescente deseja estabelecer com o entrevistador, que pode ser 
considerado, por ele, como um representante do mundo adulto, profissional, da carreira, da universidade, 
etc. 
A função poética diz respeito à capacidade da mensagem em criar novas realidades. A linguagem 
verbal e, além disso, as séries paralingüísticas da mensagem permitem ler ou analisar, a partir da própria 
mensagem, qual o estilo pessoal do entrevistado (Miller e Sebeok,43). 
Podemos dizer que, assim como as características ou as funções metacomunicantes da mensagem 
são o instrumento básico que determina se toda entrevista pode ser útil para o esclarecimento do 
entrevistado, as funções emotivas, páticas, conativas, poéticas e referenciais das mensagens são as 
fontes mais úteis de acesso ao diagnóstico do adolescente que deseja escolher uma carreira. 
Processos 
São dois os processos básicos de qualquer comunicação: a codificação e a decodificação. 
Tal como a definimos, a codificação é a transformação de um sistema de fatos em outro sistema 
de fatos. Em parte, esta transformação realiza-se seguindo normas compartilhadas pelos sujeitos. 
Assim, por exemplo, dado o código da língua para designar determinada situação, temos um 
repertório específico de termos com um significado preestabelecido. Mas, além disso, a 
codificação depende de normas individuais. Isto significa que detectar o processo de codificação 
do adolescente permite discriminar, a partir da própria situação de entrevista, algumas linhas de 
comportamento predominantes. O mesmo ocorre com o processo de decodificação, no qual a 
série auditiva lingüística, a série auditiva paralingüística ou a série não-auditiva para-lingüística 
são convertidas em significados, que guardam maior ou menor proximidade com os dados reais. 
Tanto a exatidão da decodificação como a sua alteração permitem inferir, novamente, dados 
valiosos sobre as características pessoais do entrevistado. Queremos dizer, em termos 
superficiais, que tudo o que ocorre na entrevista “vale”. Tudo o que ocorre na entrevista permite 
entender a estrutura da personalidade do entrevistado, tanto nas coincidências com a realidade 
como nas suas discrepâncias, pois elas não são arbitrárias, mas estão determinadas pela 
estrutura pessoal do participante, em tal situação. 
Resumindo, podemos dizer que as fontes básicas de dados, que fazem da entrevista um 
instrumento privilegiado para o diagnóstico e a modificação de quem recorre a uma entrevista de 
orientação vocacional, surgem, por um lado, do predomínio, da coerência, da contradição ou da 
dissociação das diferentes séries da mensagem, da correspondência dos processos de 
codificação e decodificação com os dados a serem codificados ou decodificados e, finalmente, do 
modo particular pelo qual o entrevistado assume os papéis de transmissor, receptor e avaliador 
das mensagens. 
Até aqui, assinalamos as fontes de interpretação do comportamento do entrevistado, mas o 
modo pelo qual as citadas fontes podem ser interpretadas ou entendidas depende do esquema 
referencial ou do sistema teórico sustentado pelo psicólogo. De modo que, entender um 
comportamento como bem ou mal adaptado à situação, maduro ou imaturo com relação à 
escolha de carreira, eficaz ou ineficaz quanto ao equilíbrio promovido, etc., dependerá, é de se 
supor, da teoria à qual se liga o entrevistador. Daí repetirmos que, ao realizar uma entrevista, o 
entrevistador não só coloca em jogo sua habilidade técnica, mas toda a sua bagagem conceitual, 
que deixa de ser exclusivamente conceitual e se converte, além disso, num esquemaoperacional. 
Ou — para dizê-lo com as palavras de Pichon-Rivière — num esquema conceitual (na medida em 
que implica uma teoria da personalidade, uma teoria da adolescência e uma teoria da orientação 
vocacional); referencial (visto que a ele se encaminha a compreensão de cada comportamento do 
adolescente que escolhe uma carreira); e operacional (posto que destacompreensão surgirá a 
determinação de se desenvolver estas ou aquelas condutas, para que o adolescente alcance um 
esclarecimento pessoal). 
O processo na entrevista 
O processo de uma entrevista pode ser caracterizado como um processo de investigação. Pode 
se supor que o termo investigação, aplicado a uma entrevista, tem conotações diferentes 
daquelas quando aplicado a uma estratégia experimental. Quando falamos de investigação numa 
entrevista, referimo-nos a uma atitude básica do entrevistador, pela qual este submete 
continuamente à prova as hipóteses sobre o comportamento do entrevistado, nessa situação 
(Bohoslavsky). 
Por investigação entendemos mais uma atitude do que um comportamento específico do 
entrevistador. Esta atitude está contida na idéia de que a entrevista não só compreende uma idéia 
conceitual, mas também um esquema referencial e operacional do entrevistador, enquanto o que 
é posto à prova é a inteligibilidade dos comportamentos do entrevistado, à qual o entrevistador 
teve acesso através da compreensão dos emergentes do campo. Esta prova permitirá, ao 
psicólogo, efetuar correções em sua anterior compreensão e correções das “correções” que 
pretenda estabelecer nos comportamentos do entrevistado. 
No sistema de interação estabelecido entre o entrevistador e o entrevistado, o primeiro 
compromete-se a observar continuamente a situação e a reencaminhar comportamentos 
tendentes a modificar, no entrevistado, a compreensão ou a interpretação da situação de escolha 
de carreira pela qual está passando, e que se dramatizam, sempre, no aqui, agora e conosco da 
entrevista. 
Portanto, a situação de entrevista é uma situação de investigação conjunta em que, por um 
lado, o entrevistador procura compreender e pôr à prova sua compreensão sobre o adolescente 
(a forma de escolher seu futuro, de decidir sua identidade vocacional e de aceitar papéis 
ocupacionais adultos). 
Por outro lado, o entrevistado põe à prova e confronta com um especialista suas fantasias, 
ansiedades, temores, etc., comprometidos na escolha, de modo que a situação de entrevista 
converte-se numa situação em que o próprio entrevistado exerce a investigação e a prova. 
Poderíamos dizer que a situação de entrevista converte- se numa situação de interação, na qual 
o caráter de jogo não deve ser menosprezado. Trata-se de um prolongamento instrumental da 
moratória psicossocial (Erikson), que permitirá, ao adolescente corrigir, confirmar, modificar sua 
autopercepção, em termos de papéis ocupacionais adultos, ou seja, confrontar com a realidade 
— neste caso, da entrevista — suas fantasias ou projetos sobre o próprio futuro. Isto lhe 
permitirá, se for necessário, fazer correções nestes e escolher com mais realismo. 
A entrevista de orientação vocacional deve ser entendida mais como um “pensar com” o 
adolescente do que como um “pensar por” ou um “pensar sobre” ele, o que subentende a idéia de 
que o entrevistador é, na realidade, um co-pensador. 
Transferência na entrevista de orientação vocacional 
O processo da entrevista não está delimitado somente pelo que vimos até aqui, mas 
implica determinantes inconscientes, que a bibliografia designa sob a rúbrica genérica de 
fenômenos ou processos transferenciais, distorção paratáxica ou função relacional. 
Muito se tem dito, na teoria da técnica psicoterapêutica, sobre o valor da transferência nos 
processos corretivos implicados numa relação interpessoal. 
A nosso ver, é pertinente discutir o valor terapêutico do emprego da transferência, mas 
está fora de qualquer dúvida a existência dos fenômenos transferenciais. 
Por fenômenos transferenciais entendemos a atualização de relações interpessoais 
ausentes no campo geográfico presente. Do mesmo modo, o termo “transferência” refere-se à 
exteriorização de objetos internos e de vínculos com os mesmos, ou seja, em outras palavras, o 
comportamento mediante o qual os objetos, acontecimentos e fenômenos de uma situação 
presente convertem- se em depositários de objetos internos. 
Em si, os fenômenos transferenciais estão fora de qualquer dúvida, pois todo 
comportamento mantido por um indivíduo implica não só a atualização de todo o seu passado e 
do seu futuro (em termos de projeto de ação), como também a manifestação ou compromisso de 
toda a sua personalidade, isto é, das relações com seus objetos interiores, que, no caso 
específico da orientação vocacional, referem-se à relação com o “outro generalizado” (G. Mead), 
em termos de papéis ocupacionais adultos. 
Os fenômenos transferenciais são os que possibilitam agir na entrevista e, a partir dela, 
esperar que o adolescente obtenha beneficios. 
Para examinarmos os fenômenos transferenciais na entrevista, em primeiro lugar, temos 
que distinguir entre fenômenos-existentes (em qualquer relação interpessoal) e algo que se está 
por criar ou interferir. 
A nosso ver, a transferência existe sempre em qualquer relação inter-humana e em 
qualquer comportamento. Do ponto de vista de uma teoria da técnica, o verdadeiro problema 
reside em se decidir se essa transferência deve ser instrumentalizada ou não e, no primeiro caso, 
de que modo o psicólogo deveria fazê-lo. 
Habitualmente, entende-se que toda transferência é uma transferência de aspectos 
infantis. Entretanto, agora. tende-se a enfatizar que o que se transfere, o que se deposita na 
situação de entrevista liga-se não tanto (não só) a aspectos infantis, mas a aspectos ou 
características internas do entrevistado. 
No caso de uma entrevista de orientação vocacional, estes aspectos internos são as 
identificações, conflitivas ou não, contraditórias, integradas ou dissociadas, ambíguas, que o 
adolescente tem configuradas até o momento em que é atendido numa entrevista vocacional e, 
especialmente, as identificações que faz de seu mundo interior e do mundo exterior, em termos 
de carreiras, mundo adulto, papéis ocupacionais. profissões, etc. 
 
O psicólogo orientador vocacional, na medida em que é visto como um profissional que 
cursou estudos universitários, que maneja determinada técnica e que, ao mesmo tempo, é adulto, 
converte-se no depositário ideal das fantasias, ansiedades e temores que o adolescente tem 
diante de seu futuro. 
Resumindo, podemos dizer que se atualiza não só o passado como também o futuro do 
entrevistado e não só as relações objetais antigas ou futuras mas, principalmente, suas relações 
objetais interiores. Em outras palavras, sua personalidade. Portanto, a compreensão dos 
fenômenos transferenciais permite que o psicólogo compreenda as características dos objetos 
interiores, passados e futuros, incluídos no comportamento do entrevistado. Estamos nos 
referindo às caracteristicas totais, parciais ou aglutinadas de seus objetos interiores, segundo a 
terminologia de Bleger. 
Além disso, a análise da transferência permite entender as características do vínculo, isto 
é, do tipo de ansiedade que é suscitado pela relação objetal e, finalmente, as caracteristicas das 
defesas, sua estereotipia ou dinâmica, postas em jogo pelo entrevistado — neste caso, o 
adolescente — para se proteger diante dos conflitos que a escolha do futuro lhe cria. 
Por fenômenos contratransferenciais entendemos a transferência que o entrevistador neste 
caso, orientador vocacional — realiza de seu próprio passado, futuro e mundo interior, na relação 
específica com seu cliente. No capítulo 5, referir-nos-emos a algumas características específicas 
da contratransferência na situação da orientaçãovocacional. Queremos somente destacar aqui 
que, assim como a transferência é suscitada em virtude do aqui e agora, ou seja, do campo da 
entrevista, o mesmo se dá com os fenômenos contratransferenciais. Isto é, também estes devem 
ser entendidos como um emergente do campo, do qual o outro — neste caso, o adolescente — é 
um ponto de apoio altamente significativo. Os dados contratransferenciais, aos quais já nos 
referimos sob o termo de comunicação intrapessoal, permitem orientar a compreensão, pois 
convertem-se em fonte das hipóteses, que logo deverão ser postas à prova. 
Existem dados suficientes, advindos da teoria psicológica, para que possamos admitir que 
todo comportamento cristaliza, em objetos reais do meio, relações interpessoais passadas. 
Juntaríamos a isto que o futuro, em termos de projeto, aspirações ou objetivo, é também 
atualizado no contexto da entrevista. 
E esta atualização que permite, ao psicólogo, ter acesso à compreensão do entrevistado e, 
a partir da análise dos comportamentos emergentes do aqui, agora e conosco, inferir os 
comportamentos que, no ali, então e com outros, o cliente desenvolverá ou desenvolveu. 
No caso específico da orientação vocacional, a ênfase na anáuse transferencial põe-se, 
fundamentalmente, num então futuro, num ali universidade, mundo adulto, e num com outros 
colegas, professores, outros adultos, outros profissionais, ainda que desconhecidos. Não porque 
o passado não seja, ele também, atualizado, mas porque a entrevista de orientação vocacional 
tem fundamentalmente um caráter prospectivo ou profilático, que centraliza suas observações 
nos projetos referentes a situações, relações interpessoais e objetos ainda não presentes no 
mundo do adolescente. 
Neste sentido, a entrevista de orientação vocacional adquire, plenamente, o caráter de 
uma postergação da moratória psicossocial, que caracteriza todo o período da adolescência. 
Postergação na qual o psicólogo converte-se num co-jogador das diferentes possibilidades de 
opção do adolescente, afim de definir sua futura identidade profissional. 
Então, a transferência pode ser entendida, no contexto de uma entrevista de orientação 
vocacional, como a atribuição — ao contexto da entrevista, a seu enquadre ou ao entrevistador — 
de papéis ocupacionais adultos e dos vínculos fantasiados na relação com eles. Daí a sua 
compreensão contribuir para que o psicólogo formule hipóteses sobre a melhor maneira de 
prevenir um acesso conflitivo à identidade profissional madura. 
Orientação vocacional e psicoterapia 
O psicólogo que se dedica à orientação vocacional considera tanto a transferência de 
aspectos passados, como a transferência de aspectos futuros da vida do entrevistado — do 
adolescente — em termos de sua identidade vocacional. Entretanto, atua fundamentalmente 
sobre estes, quando se trata de formular uma interpretação. Esta é a diferença fundamental entre 
o caráter operativo de uma entrevista de orientação vocacional e o caráter terapêutico de outros 
tipos de entrevistas psicológicas. Se podemos chamar de terapêutica uma entrevista de 
orientação vocacional, neste caso o termo terapêutico é entendido num sentido muito amplo — 
promover a saúde, o desenvolvimento, o bem-estar ou a felicidade de um ser humano. 
Entretanto, existem diferenças evidentes entre uma entrevista terapêutica e uma entrevista 
de orientação vocacional e, a menos que o termo “terapêutico” não seja definido especificamente 
como promoção de saúde (e não remoção de enfermidades ou das causas que as 
determinaram), a entrevista de orientação vocacional não pode ser confundida com uma 
entrevista terapêutica. 
Numa entrevista de orientação vocacional, pretende-se que o adolescente compreenda as 
identificações havidas até esse momento e a identificação do campo em que se move ou executa 
sua decisão com o campo futuro em que se concretizará seu projeto. 
No caso da orientação vocacional, a transferência não se ver- baliza nem interpreta, a 
menos que o entrevistado tenda a romper o enquadre. Em termos gerais, a alusão a situações 
existentes no “aqui”, “agora” e “conosco” de uma entrevista de orientação vocacional tem a 
característica de servir de apoio concreto à relação que o sujeito estabelece com seu mundo 
interior, especficamente em termos de sua identidade vocacional, e com o futuro, em termos de 
papéis ocupacionais adultos, vida universitária, estudos superiores, etc. Se o psicólogo não 
percebe claramente a diferença entre uma entrevista de orientação vocacional e uma entrevista 
psicoterapêutica, seu papel estará distorcido e, portanto, alterada a operatividade de sua tarefa. 
Se seu objetivo explícito é a orientação vocacional, enquanto seu objetivo implícito é a 
terapia, pode incorrer no risco de desempenhar o papel psicoterapêutico que o adolescente, 
eventualmente, projeta sobre ele, em lugar de compreendê-lo e instrumentalizá-lo, de modo tal 
que permita entender por que o adolescente necessita vê-lo como um terapeuta. 
O emprego da transferência ou a instrumentalização da transferência e da 
contratransferência, numa situação de orientação vocacional, está a serviço da psicoprofilaxia, 
não da cura. Se a toda solução de conflitos atribuímos, por uma tour de force, o termo “cura”, 
tratar-se-ia, no máximo, de uma terapêutica de setor, de acordo com a terminologia norte-
americana, ou melhor, em termos mais comuns em nosso meio, de um processo corretivo de 
limites definidos ou (em termos mais na moda) de uma “terapia breve”. 
Para melhor entendimento, costumamos empregar uma metáfora: uma entrevista de 
orientação vocacional é uma espécie de espelho voltado para o futuro e que, somente se for 
necessário, emprega-se ao mesmo tempo para refletir o passado e, em qualquer caso, somente 
aqueles aspectos do mundo interior que tenham relação com a visão fantasiada do futuro, 
implicada na problemática vocacional do adolescente, não porque o psicólogo não possa ter 
acesso a outras fontes do conflito ou a raízes mais profundas do conflito diante da escolha de 
carreira, mas porque, se aceitou contribuir para a promoção da identidade vocacional do 
adolescente, supõe que as tais fontes mais profundas, mais infantis ou mais regressivas não 
representam obstáculo ou são mais ou menos demarcáveis, não comprometendo a tarefa 
prospectiva, para a qual o adolescente solicita seu concurso. 
A entrevista como situação nova 
Toda entrevista é uma situação nova, tanto para o entrevistado como para o entrevistador. 
Neste sentido, toda entrevista suscita ansiedades diante da mudança frente ao desconhecido, isto 
é, temores de inadequação aos padrões de comportamento tradicionais, face a esta situação 
específica. No caso do entrevistado, isto não é só um desencadeante de ansiedades — que será 
aceito, compreendido e instrumentalizado por parte do entrevistador — mas, além disso, o dado 
mais importante e que permitirá inferir, supor ou predizer como deverá conduzir-se diante de 
novas situações, tais como o ingresso no mundo adulto, o ingresso na universidade, etc. 
Frente a estas novas situações, o adolescente pode apelar para comportamentos 
defensivos, mais ou menos freqüentes nele. Estes comportamentos defensivos indicar-nos-ão de 
que maneira empregará suas características, para enfrentar o contato com a universidade. 
Além disso, toda nova situação é ambígua. No caso específico de uma entrevista 
psicológica, tudo é ambíguo, salvo o enquadre, que se converte no “barômetro” da tolerância do 
adolescente diante de sua ambigüidade. 
Fazer um projeto para o futuro requer, necessariamente, certa tolerância à ambigüidade, 
pois todo futuro é ambíguo. Agir sobre as ansiedades, que a situação ambígua da entrevista 
desperta no adolescente, é uma forma de criar as condições para que o adolescente meta-
aprenda a enfrentar outras situações novas, igualmente ambíguas e igualmente conflitivas.Momentos da entrevista 
Segundo Ulloa, toda entrevista compreende cinco momentos, aos quais denomina pré-
entrevista, abertura, desenvolvimento, encerramento e pós-entrevista. Cada um desses 
momentos tem características formais e dinâmicas particulares e é pouco o que podemos 
acrescentar à sua análise, no caso específico da orientação vocacional. Entretanto, toma-se útil 
destacar que geralmente, na pré-entrevista vocacional, o contato com o entrevistado foi 
estabelecido por um terceiro, seja porque o adolescente não conhece profissionais que possam 
contribuir para a sua orientação, seja porque depende economicamente de sua família e requeira 
sua participação para suprir as despesas do processo. Além des-tes componentes objetivos, a 
pré-entrevista compreende, tanto para o entrevistado como para o entrevistador, o conjunto de 
fantasias que a entrevista desencadeia, como situação nova. 
Diante de uma entrevista de orientação vocacional, o adolescente apela para modelos 
adultos conhecidos, que é, também por outro lado, o que faz quando se trata de escolher uma 
carreira. Assim, possivelmente fantasie encontrar, no orientador, um professor, um amigo mais 
velho, uma figura paternalista, permissiva ou restritiva de acordo com sua própria história e sua 
própria estrutura pessoal. 
Do lado do entrevistador, a maneira convencionada para se estabelecer a primeira 
entrevista poderá fixar dados muito valiosos quanto a certas hipóteses gerais sobre o conflito que 
determinou a vinda do adolescente à entrevista. No capítulo 2, “O diagnóstico em orientação 
vocacional”, examinamos as atitudes básicas detectáveis na relação entre o adolescente e o 
psicólogo. 
Seguramente, a abertura da entrevista dramatiza o modo como o adolescente fantasia seu 
ingresso na universidade. Mesmo quando não tenha ainda informação sobre como se 
desenvolverá o processo de orientação vocacional, comparecer a uma entrevistajá é, na fantasia, 
ingressar nesse mundo que aspira e, ao mesmo tempo, teme — que é a universidade e o mundo 
adulto. Ulloa destaca a importância de se ler as mensagens extraverbais no momento da 
abertura, pois, embora a relação transferencial tenha se estabelecido com antecedência, a 
abertura caracteriza-se por um compromisso do corpo e do esquema corporal num campo 
compartilhado. As atitudes mais ou menos adaptadas quanto ao manejo da ansiedade, ante a 
inclusão do corpo na universidade — no mundo adulto —, devem ser consideradas pelo psicólogo 
como uma maneira concreta de poder ajudar o adolescente a compreender como fantasia seu 
futuro ingresso na universidade. 
Quanto ao encerramento da entrevista, este difere quanto ao momento do processo em 
que se insere a entrevista em questão. No caso da última entrevista, surgem claramente 
delineados — tratando-se de orientação vocacional, bem como outros tipos de situações de 
entrevista — os comportamentos e ansiedades de cunho depressivo, que podem levar o 
entrevistador, devido a uma identificação com o entrevistado, a evitar o término do processo no 
momento preestabelecido. Nesse caso, o entrevistador se responsabiliza pelo obstáculo que 
provoca no acesso do adolescente ao futuro. Caberia perguntar, em tal situação, se sua 
identificação corresponde a algum aspecto do adolescente que ainda não tenha sido elaborado e 
resolvido ou à figura patema, que oadolescente fá-lo representar e que é, neste caso, restritiva e 
obstaculizante. Deveria, ele mesmo, realizar análise no caso contrário, quando o entrevistador 
considera satisfatório concluir o processo antes do que está estipulado. 
As intervenções do entrevistador 
Como afirmamos insistentemente, o entrevistador é um observador participante, isto é, um 
indivíduo comprometido no campo, tal como o entrevistado. Participa e intervém, sempre. 
Participa de um modo que se chamou “dissociação instrumental”. Referimo-nos, aqui, às suas 
intervenções mais manifestas, sob a forma de perguntas, afirmações e opiniões. O entrevistador, 
no caso da orientação vocacional, intervém em resposta a diferentes finalidades: 
a) Sua intervenção tende a estimular o fornecimento de mais dados. Neste caso, 
tem o caráter de uma pergunta formulada de forma expressa ou, também, de 
modo indireto. A técnica do aconsclhamento sugere vários recursos para 
estimular a formulação de dados pelo entrevistado (como repetir a(s) última(s) 
palavra(s) do entrevistado num tom interrogativo, etc.). Isto pode ser necessário 
no caso de uma primeira entrevista ou de entrevistas destinadas, 
fundamentalmente, ao diagnóstico. Todavia, durante o processo de orientação 
vocacional, o fato de que o entrevistado não ofereça dados já constitui um dado 
e, neste sentido, impõe-se — se necessário — a pergunta direta ou uma 
sugestão adequada e não algum artificio “para fazê-lo falar” ou arrancar-lhe 
informação. 
b) A participação, ou intervenção, mais clara do psicólogo se relaciona com a 
correção das distorções que o adolescente evidencie a respeito de sua 
identidade vocacional e do modo como identifica o campo em que se realiza sua 
escolha, ou no qual plasmará seu projeto. Isto quer dizer que as intervenções do 
entrevistador tendem, fundamentalmente, a contribuir para a discriminação e, 
simultaneamente, para a síntese do adolescente. 
Tal finalidade é complementada mediante o que se denomina, habitualmente, 
“assinalações” ou “interpretações”. Por “assinalações” entendem-se diversos comportamentos. 
Em termos gerais, uma assinalação consiste, simplesmente, em verbalizar algo que, sem ser 
inconsciente, não está explícito na mensagem do entrevistado. Este tipo de intervenção é dos 
mais freqüentes no caso da orientação vocacional, emborahaja oportunidades nas quais o que se 
impõe não é uma assinalação, mas uma interpretação. Entendemos por “interpretação” a 
verbalização ou explicitação da compreensão do quando e como, do porque, do sobre que, do 
para que, do com que e do onde, latentes (inconscientes) dos emergentes ou comportamentos do 
entrevistado. 
c) A intervenção do entrevistador pode relacionar-se, também, com a função de 
síntese dos dados referentes aos comportamentos manifestados pelo 
adolescente. O entrevistador pode considerar adequado concluir cada entrevista 
de orientação vocacional sugerindo, ao entrevistado, que realizem juntos uma 
síntese do que se observou nessa entrevista. Esta síntese não precisa ser 
necessariamente completa, nem tampouco excessivamente formalizada, que 
possa ser vivida pelo adolescente como a receita conseguida nessa “aula” (termo 
com o qual os adolescentes costumam denominar a entrevista de orientação 
vocacional). A síntese, no caso de o adolescente concluir a entrevista com uma 
alta dose de confusão, devido ao que se esteve vendo ou às compressões que 
assumiu nessa oportunidade, pode oferecer-lhe a oportunidade de discriminar o 
que foi conseguido na entrevista. 
d) 
d) Outro tipo de intervenção do entrevistador é constituído pela transmissão de 
informação. A informação realiza-se sob diferentes aspectos: em primeiro lugar, 
sobre o enquadre; na primeira entrevista, na qual é estabelecido o contrato de 
trabalho, é conveniente que se forneçam claramente, ao adolescente, todas as 
informações e explicações necessárias quanto ao enquadre. A informação pode 
se referir a carreiras, planos de estudo, oportunidades profissionais. Neste caso, 
convém que a entrevista seja enunciada, com antecedência, como uma 
entrevista que estará dedicada à prestação de informação. De acordo com nossa 
experiência pessoal, não se dá a informação sobre o mundo exterior na mesma 
entrevista em que predomina o esclarecimento, como finalidade ou objeto. E 
provável que isto se deva não tanto a certas hipóteses de trabalho, mas à nossa 
dificuldade pessoal para instrumentalizar, simultaneamente e de forma adequada, 
duas séries de dados: a que se relaciona com o mundo exteriorreal e a que diz 
respeito ao mundo de fantasia, no qual se move a definição interna, que dá, ao 
adolescente, sua identidade vocacional. 
Outro tipo de dados, sobre os quais o psicólogo pode dar informação, são os dados sobre 
o diagnóstico, quer se tenha ou não aplicado testes para realizá-lo. Consideramos que a 
informação sobre o diagnóstico deve ser uma informação metabolizada, modulada e incluída de 
forma gradual, através das assinalações e interpretações que o psicólogo administrará ao 
adolescente, durante o decorrer do processo. Fazê-lo de outro modo implica, por um lado, 
fornecer ao adolescente informação que, ou não pode manejar (pela especialização da 
terminologia técnica implicada em qualquer diagnóstico preciso) ou, ainda que possa 
compreendê-la intelectualmente, não contribui para modificar as dúvidas, ansiedades, fantasias e 
conflitos que o conduziram à entrevista. 
O “continuum” interpretativo 
Sob esta expressão, Brammer e Shostrom definem as diferentes técnicas mediante as quais o 
psicólogo ou consultor devolve, ao entrevistado, a informação sobre seu comportamento, filtrado 
pela compreensão psicológica que teve deste. O continuum interpretativo alude a níveis de 
operosidade sobre o comportamento e, através dele, à personalidade do entrevistado. 
Compreende o que resumimos anteriormente com os termos “assinalação” e “interpretação”. 
Segundo aqueles autores, o continuum interpretativo inclui: 1) o reflexo, 2) a clarificação, 3) a 
reflexão, 4) a confrontação e 5) a interpretação. 
Segundo eles, o termo “continuum” refere-se ao fato de que essas técnicas de 
esclarecimento são empregadas em diferentes momentos da relação psicológica entre o cliente e 
o consultor. Em nossa opinião, cada uma destas técnicas de operação sobre o comportamento do 
cliente pode ser empregada em qualquer momento do processo por que passa a entrevista. 
Somente uma experiência prática e um manejo eficiente da informação teórica e da teoria da 
técnica da entrevista permitirão que o entrevistador decida sobre a conveniência de apelar a uma 
ou outra destas técnicas de esclarecimento. 
 
 
1) O reflexo 
A técnica do reflexo tem sido minuciosamente analisada pela corrente denominada 
“psicoterapia não diretiva” ou “centrada no cliente”, elaborada por Rogers. 
Na técnica do reflexo, o terapeuta tenta expressar com palavras novas, não tanto o 
conteúdo expresso pelo cliente, mas as atitudes essenciais. O terapeuta faz as vezes de espelho 
das atitudes do cliente, para que este compreenda melhor e para demonstrar- lhe que é 
compreendido pelo terapeuta. O reflexo, como técnica, não deve ser confundido com o juízo 
prévio, que costuma existir a respeito da técnica do aconselhamento, no sentido de que consiste, 
meramente, em repetir as palavras do entrevistado. Segundo Porter (citado por Brammer e 
Shostrom), este é um dos erros mais comuns. Refletir o conteúdo de uma mensagem consistiria 
numa mera repetição e não aludiria a uma compreensão mais ou menos profunda dela. Isto quer 
dizer que a técnica do reflexo não é a mera tradução do significado consciente e convencional 
das palavras do entrevistado. 
De acordo com o mesmo autor, outro erro comum é o manejo inadequado da profundidade 
do reflexo. Constantemente, o reflexo pode pecar por excessiva superficialidade ou banalidade — 
e, nesse caso, a mensagem emitida pelo entrevistado não acrescenta novos dados para um 
esclarecimento sobre o cliente — ou, por outro lado, ser excessivamente profundo e implicar, 
então, outro nível do continuum interpretativo. 
Outro erro consiste em agregar ou subtrair significados ao que é expresso pelo 
entrevistado. No reflexo, cuidar-se-ia mais de devolver ao entrevistado o significado que 
caracteriza o seu comportamento, a situação que está atravessando, do que o significado que 
seu comportamento tem para nós. 
O reflexo pode ser imediato, sumário ou terminal. 
No caso do reflexo imediato, a intervenção do psicólogo consiste em mostrar o que o 
entrevistado expressa com seu comportamento, sem ir além da verbalização das atitudes 
manifestadas por ele. 
Um reflexo sumário integra diferentes comportamentos e, neste sentido, seria similar à 
síntese de sentimentos e atitudes manifestadosem diferentes comportamentos do entrevistado 
durante a mesma entrevista. 
O reflexo terminal seria um termo homologável, ao qual denominamos a “síntese final” de 
uma entrevista de orientação vocacional. 
Vejamos um exemplo simples. 
Entrevistado. “Estive pensando que, toda vez que devo decidir alguma coisa, preocupo-me 
com o modo como meus colegas julgam o que decidi.” 
Entrevistador: “Penso que se torna dificil, para você, desligar-se da atitude dos demais, 
quando deve decidir o que fazer.” 
Entrevistado: “Se consulto os outros, sinto-me seguro de que, se as coisas derem errado, a 
culpa será deles.” 
Erros no reflexo (segundo Porter). 
Para refletir só o conteúdo: “Preocupa-o como os seus colegas julgam seu 
comportamento.” 
Entrevistado: “Claro, foi o que disse.” 
Para erro na profundidade: “Quando deve se decidir sobre algum assunto pessoal, 
preocupa-o a atitude dos seus colegas, como se você os visse iguais a seus pais, a quem você 
devia obedecer quando era criança.” 
Entrevistado: “Não, com eles era diferente. Que tem isso a ver com o assunto?” 
Por agregar ou subtrair significados: “Você se sente culpado por ignorar a opinião dos seus 
colegas.” 
Entrevistado. “Culpado?” 
“Preocupa-o a atitude dos seus colegas.” 
Entrevistado: “às vezes sim, às vezes não, depende.” 
O reflexo como técnica implica vantagens e desvantagens. 
O reflexo é útil, antes de mais nada, porque o entrevistado experimenta o sentimento de 
ser compreendido e aceito pelo entrevistador. Ao mesmo tempo, na medida em que o reflexo 
coloca o entrevistado como o verdadeiro sujeito do comportamento refletido, fá-lo experimentar, in 
situ, que é o centro da escolha e da valoração da situação, diante da qual seu comportamento é a 
resposta. 
Por outro lado, o reflexo ajuda a romper certos vínculos mais ou menos estereotipados de 
comportamento, pois, embora não ultrapassem a explicitação do comportamento manifesto ou 
das atitudes e sentimentos manifestos, ajuda a classificá-los, pois todo reflexo implica que o 
entrevistador tenha efetuado certa discriminação e chegado a uma nova síntese. Portanto, o 
reflexo pode ser útil para se estimular o entrevistado na busca dos motivos que deram lugar a 
esses defeitos ou sentimentos (como no caso do exemplo). Na medida em que o reflexo não é 
meramente uma cópia da mensagem ou do comportamento do entrevistado, pois implica que o 
entrevistado tenha realizado certa discriminação, análise, avaliação e síntese, ajuda a esclarecer 
o pensamento. 
De outro lado, o indivíduo não se sente diferente, raro, nem um ser excepcional, ao 
verificar que o psicólogo não o estranha e que é uma caixa acústica fiel a seus sentimentos, 
conflitos, ansiedades e afetos. 
Entretanto, esta técnica envolve algumas dificuldades — além dos erros já mencionados —
,como a estereotipia. Com efeito, ao utilizar esta técnica, o entrevistador pode chegar a se 
converter num espelho permanente dos comportamentos do entrevistado, estereotipar-se neste 
papel e deixar de lado o exercício contínuo da discriminação, avaliação e síntese das mensagens 
do entrevistado, que, na técnica ou no nível interpretativo do reflexo, não vai além da explicitação 
do que está implícito no que o sujeito disse. 
Outra dificuldade é a que se liga à regulação do reflexo, pois o reflexo somente é eficaz em 
contribuir para uma melhor compreensão ou modificação do entrevistado quando realizado no 
momento adequado. O momento adequado não pode ser postulado abstratamente, pois 
depende, em primeiro lugar, de cada entrevista em especial e, em segundo lugar, das 
caraterísticas pessoais do entrevistado.É importante destacar, então, que o reflexo não é uma simples reprodução textual dos 
comportamentos do entrevistado, mas que implica uma direção exercitada pelo entrevistador. 
Ainda neste nível interpretativo, estão implicados seu esquema corporal, sua formação teórica e 
seu treinamento prático. 
A diferença que se pode estabelecer entre o reflexo e outras formas de intervenção é que o 
entrevistador elabora sua mensagem com os materiais que, até esse momento, o entrevistado 
contribuiu conscientemente e, embora aprofunde a sua elaboração, não ultrapassa o ponto 
alcançado pelo cliente. 
 
2) A clarificação 
Clarificação seria um termo mais apropriado do que assinalação. Na clarificação, o psicólogo 
congrega tudo o que está implícito na mensagem do entrevistado. Entretanto, embora explicite os 
diferentes dados do campo, as relações entre os diferentes comportamentos do entrevistadoou 
entre seus comportamentos e outros emergentes da situação, não alude a conteúdos 
inconscientes, defesas ou ansiedades que, supostamente, não sejam conscientes para o sujeito, 
embora não tenham sido explicitadas por ele. Exemplo de clarificação: 
Entrevistado: “Não lhe parece que devo, eu mesmo, escolher e não levar em conta a 
opinião dos demais?” 
Entrevistador: “Observe que, agora, está me perguntando se o que você pensa é certo, 
apesar de que opina que deve decidir por si mesmo.” 
Entrevistado: “Bem, mas isso é porque o senhor sabe mais do que eu. Só ao senhor é que 
vou dar atenção.” 
 
3) A reflexão 
Neste caso, o psicólogo acrescenta mais dados que os oferecidos pelo entrevistado e sua 
função limita-se, somente, à discriminação e à integração dos comportamentos do entrevistado e 
dos dados do campo. “Acrescentar um pouco mais”, dizem Brammer e Shostrom, implicaria, 
fundamentalmente, a expressão verbal do que é vagamente consciente. Embora o conceito de 
“vagamente consciente” seja impreciso, podemos entender que a reflexão diz respeito ao fato de 
se expressar, com palavras, o que é implícito e inconsciente para o sujeito, mas que não possui 
uma carga conflitiva tal que o tenha induzido a estabelecer barreiras férreas contra esse 
conteúdo. A reflexão, na medida em que implica conexões latentes entre atitudes, motivos, 
comportamentos e afetos por parte do entrevistado, segue se manifestando num nível em que os 
mecanismos de defesa não configuram, ou não reforçam, necessariamente, uma distorção grave, 
mas, provavelmente, o que Sullivan denomina de “desatenção seletiva”. 
Exemplo de reflexão: 
Entrevistado: “Estou num beco sem saída, porque, se eu sigo a carreira que gosto e 
escolhi, meu pai vai ter um desgosto. Ele quer que eu estude Arquitetura. Já não sei mais do que 
gosto.” 
Entrevistador: “Você sente, por um lado, que já decidiu o que deve estudar, mas, por outro 
lado, acha que tem muitas dúvidas, porque teme que o que você gosta desgoste a seu pai. Sente 
que fazer o que gosta é opor-se aos desejos de seu pai e não sabe o que prefere quanto a isto.” 
Entrevistado: “Bem, talvez ele não desgostasse se eu estivesse bem seguro da carreira a 
seguir. Pensando bem isso lhe agradaria.” 
 
4) A confrontação 
Na confrontação, o nível da penetração do psicólogo e sua mensagem chega até o 
implícito e o inconsciente. Neste caso, inclui-se a relação do comportamento atual com dados do 
passado, assinalando similitudes, diferenças e contradições entre os dados do presente, 
igualmente contidos no relato. Isto quer dizer que os dados do passado, os dados do presente e, 
ainda, as referências ao futuro estão baseados também sobre o relato, não sobre a atualização, 
que caracterizamos ao falar de transferência. 
Exemplo de confrontação: 
Entrevistado: “Quando se pensa na universidade, a gente fica arrepiado. Claro que depois 
a gente se acostuma. Realmente, sentir medo é uma bobagem.” 
Entrevistador: “Talvez você sinta que ter medo não tem sentido. Entretanto, tem medo, 
como quando entrou na escola de segundo grau e, possivelmente, o que o arrepia é o temor de 
que, até que se acostume com a universidade, seus colegas vão julgá-lo um bobo, como me 
contou que lhe aconteceu no primeiro ano”. 
Entrevistado: “Todos davam em cima de mim…não quero que na universidade me tirem o 
pêlo.” 
5) Interpretação 
Não se pode falar de uma verdadeira interpretação até que se tenha atingido o quinto nível. 
A interpretação implica a verbalização dos conteúdos inconscientes, mas, além disso, inclui a 
menção das defesas, das resistências a reconhecer como próprios, conscientemente, tais 
conteúdos e daquilo que se supõe seja a origem do conflito. 
Portanto, a interpretação move-se sobre os parâmetros traçados pelos mecanismos de 
projeção discriminada ou maciça, por parte do entrevistado, sobre a situação de entrevista, e é 
operante, quando lhe permite reintrojetar aqueles conteúdos ou aspectos de sua identidade 
vocacional que foram projetados no mundo exterior, no contexto da entrevista, e de cuja 
reintrojeção dependerá a restituição ou a promoção de uma identidade vocacional madura. 
Do exposto, infere-se que o nível da interpretação requer a inclusão dos dados que 
possam ser transferidos, os quais, repetimos, estão presentes em qualquer situação inter-humana 
(em qualquer entrevistatambém), mas nem sempre estão contidos na intervenção do 
entrevistador. 
Então, podemos acrescentar que toda interpretação inclui a verbalização do conteúdo 
latente do comportamento, da resistência a tornar consciente este conteúdo, a transferência de 
aspectos alheios ao campo geográfico ou interior do sujeito, que se evidenciam em seu 
comportamento. Para manejar este nível do continuum, requer- se um manejo adequado da 
informação psicanalítica. 
Exemplo de interpretação: 
Entrevistado: (Depois de expressar seu desejo de seguir uma carreira que considera 
“masculina”) “As garotas não têm problemas para escolher uma carreira, porque depois se casam 
e não têm que trabalhar. Mas, para um homem, é diferente. Tudo se torna mais dificil. Em geral, 
as carreiras para homens são mais dificeis do que as carreiras para mulheres. Será porque 
somos mais inteligentes? O senhor me entende, porque é homem.” 
Entrevistador: “Você quer que eu compreenda como é dificil para você crescer e tornar-se 
homem. Talvez a divisão tão taxativa que você estabelece entre carreiras para homens e 
carreiras para mulheres, você precisa estabelecê-la para assegurar-se de que, se segue essa 
carreira que pensou, então é, seguramente, um homem e não corre o risco de se confundir.” 
Entrevistado: (silêncio): “Sim, realmente eu gosto de Letras, mas o que vão pensar de 
mim? Ali só há garotas…” 
As intervenções do psicólogo nos colocam várias interrogações. Em primeiro lugar, o que 
refletir, reflexionar, confrontar, clarificar ou interpretar para o adolescente que vem a uma 
entrevista vocacional? 
Assim, como o repetimos insistentemente, a entrevista de orientação vocacional tem 
objetivos específicos. Toda intervenção do psicólogo adquire sentido quando tende a permitir que 
o adolescente elabore, compreendendo, a situação que atravessa. Isto quer dizer que, 
freqüentemente, os comportamentos do adolescente — na medida em que o implicam como um 
ser total — referem-se a áreas que só estão ligadas de um modo mediato à sua problemática 
vocacional. Entretanto, o enquadre deve ser respeitado estritamente quanto ao objetivo 
perseguido na entrevista. De modo que a mesma mensagem pode levar o psicólogo a 
“intervenções” diferentes, conforme se trate de uma entrevista de orientação vocacional ou de 
uma entrevista de orientação educacional, diagnóstica ou psicoterapêutica. 
Toda intervenção do psicólogo tem, necessariamente, um referencial. Esse referencial é, 
de forma imediata, o aqui e o agora e o conosco do comportamento do entrevistado e, de forma 
mediata, sua identidade pessoal e seu projetoa respeito do futuro, tanto quanto estejam 
comprometidos, estritamente, com o acesso a uma identidade vocacional madura. Mais uma vez, 
devemos lembrar que a entrevista não é retrospectiva, mas prospectiva, e que a finalidade do 
esclarecimento não é terapêutica, mas psicoprofilática. A discriminação e a síntese que 
esperamos que o adolescente aprenda a realizar, como um produto de sua relação com o 
psicólogo, devem ser plenamente assumidas por este, quanto ao que mencionamos. 
Outra interrogação: quando interpretar? Pode-se dizer, num sentido amplo, que se 
interpreta sempre, na medida em que o entrevistador realiza continuamente avaliações das 
mensagens do entrevistado. Entretanto há disparidades de critérios quanto ao momento em que 
estas compreensões devem se transformar em palavras. Do ponto de vista psicanalítico, uma 
interpretação só pode ser formulada quando o entrevistado quase atingiu o ponto em que pode 
formulá-la por si próprio. Segundo Brammer e Shostrom, o cliente deve ser capaz de manejar a 
angústia adicional que, espera- se, seja gerada pela interpretação, sem retroceder nem 
desenvolver outro sintoma. Toda nova compreensão coloca o entrevistado frente a uma situação 
conflitiva. Vê “algo” que deve ver para resolver seu conflito, mas enfrenta-o com novos conflitos. 
Isto é, toda intervenção do psicólogo desperta, ao mesmo tempo, atitudes de aceitação e recusa 
no entrevistado, de modo que a simples negativa em aceitar a verbalização do entrevistador não 
é um indicador de que a sua compreensão da situação tenha sido errada. Talvez sua 
verbalização não tenha incluído as dificuldades que levaram o entrevistado a manejar desta forma 
a sua situação, desatendendo, dissociando, reprimindo, etc., o conteúdo que o entrevistador 
procura reintroduzir no campo de consciência do adolescente. 
Uma outra pergunta refere-se a: quanto interpretar? Neste sentido, não existem normas 
precisas. A diferença no “quantum” depende, fundamentalmente, das caracteristicas de 
personalidade do entrevistado, mas, também, do estilo pessoal do psicólogo. Há quem costume 
verbalizar tudo aquilo que vai observando ou compreendendo. Em contrapartida, outros preferem 
graduar e restringir a sua participação e formular suas assinalações ou interpretações de modo 
rigorosamente estabelecido no começo, meio ou fim da entrevista, segundo sua própria 
experiência. 
Uma questão que nos assalta freqüentemente é: até onde se deve interpretar, isto é, a que 
grau de profundidade podem chegar os dados que o psicólogo inclui em sua verbalização. Neste 
sentido, opinamos que a interpretação deve ser a mais profunda possível, sempre e quando esta 
profundidade tenha, como referencial claro e especificamente delineado, aqueles componentes 
descritos sob o nome de identidade vocacional. Para dar um exemplo, podem-se incluir dados da 
inffincia do sujeito, conscientes ou não, sempre e quando este grau de profundidade não distorça 
os objetivos psicoprofiláticos (prospectivos) da entrevista. 
Podemos formular outra pergunta: como interpretar? Não existem fórmulas válidas a 
respeito. Existe certo paradigma de interpretação, cujos termos podem ser eliminados ou podem 
ser tácitos. O que não deve ser esquecido, nem no reflexo, nem na confrontação, nem na 
reflexão, nem na clarificação e nem na interpretação, é a menção dos dados do aqui e agora, que 
são os referentes diretos, a partir dos quais o psicólogo pode entender o vínculo que o sujeito 
estabelece com seu futuro, em termos de carreira e de profissão. 
A intervenção fracassa, numa entrevista de orientação vocacional, quando se omite o ponto de 
urgência do adolescente, que é a definição de seu próprio futuro e a vinculação de seu projeto 
com esse futuro. 
Além disso, é conveniente que toda intervenção inclua o quem, o para que e opor quê do 
comportamento, que é a matéria- prima da intervenção ou verbalização do entrevistador. Quanto 
ao quem, é importante explicitar, sempre, que o sujeito do comportamento é o entrevistado. Isto 
converter-se-á na base sobre a qual poderá aprender a discriminar seu mundo interior do mundo 
exterior, discriminação que, em não aparecendo nas entrevistas, indicaria um fracasso do 
processo de orientação vocacional. Poderiamos acrescentar, como um comentário, que uma 
autêntica discriminação entre o mundo interior, mundo exterior e os diferentes componentes de 
sua identidade vocacional vai acompanhada, dialeticamente, por uma integração ou interação 
entre os aspectos discriminados. 
Em resumo, poderíamos dizer que as intervenções, em termos de assinalações ou 
interpretações do entrevistador, tendem a oferecer, ao entrevistado, a oportunidade de confrontar 
suas idéias e fantasias, conscientes ou inconscientes, com a realidade. Esta confrontação pode 
ser o indicador mais útil para entender qual o nível do continuum interpretativo que é necessário 
empregar em cada momento de uma entrevista. 
A discriminação e integração dos diferentes aspectos do comportamento — afetivos, 
cognitivos e conativos — conflitivo para o sujeito é oque contribui para que possa passar de uma 
situação dilemática a uma situação problemática, e desta a uma tomada de decisão autônoma, 
derradeiro momento no processo de escolha de uma carreira, trabalho ou profissão. 
 
Os fracassos nas intervenções do psicólogo 
A intervenção do psicólogo pode fracassar. Seu fracasso deriva de um ou vários dos 
seguintes erros: em primeiro lugar, de que o conteúdo de sua mensagem não reflita exatamente o 
comportamento do entrevistado, seja qual for o nível interpretativo em que se está atuando. 
O fracasso pode derivar, também, da codificação de sua mensagem. E possível que o 
conteúdo da interpretação — seu significado — seja adequado e correto, mas que os 
significantes, que tenham participado na elaboração de sua mensagem, não sejam os mais 
convenientes, por não pertencerem ao repertório do adolescente, a seu léxico habitual ou por 
carecerem de um significado preciso para ele. Neste caso, a mensagem do psicólogo converte-se 
em algo ambíguo e não contribui para o esclarecimento do entrevistado. Por outro lado, sabemos 
que, diante de uma mensagem ambígua, os sujeitos tendem a assimilá-la a algum esquema 
perceptivo verbal pessoal, tornando-a, assim, distorcida. As intervenções do psicólogo não devem 
ser ambíguas, mas claras e precisas. Também a organização sintática da mensagem deve 
facilitar a aceitação, internação e ulterior elaboração da mensagem emitida pelo psicólogo. A 
mensagem deverá ser elaborada de acordo com a estrutura predominante da personalidade do 
adolescente. Liberman, em A comunicação na terapêutica psicanalítica, analisa as vantagens e 
desvantagens do emprego de códigos analógicos e digitais, segundo a estrutura de 
personalidade dos clientes. A interpretação também pode falhar por uma deficiência na 
oportunidade. Toda intervenção do psicólogo tem um “quando”, que somente seu treinamento e 
perícia podem detectar. Há boas interpretações que podem ser “desperdiçadas” se aparecem 
antes ou depois do momento adequado. 
Finalmente, como dissemos, uma interpretação é falha ou é pouco operante quando não 
contribui para esclarecer o vínculo que o entrevistado estabelece com seu projeto vocacional. 
 
As respostas às intervenções do psicólogo 
Dissemos que toda intervenção ou mensagem do psicólogo constitui a explicitação de sua 
compreensão da situação, mas que tem um caráter hipotético e, portanto, deverá ser confrontada 
com a situação, antes de poder afirmar que a sua intervenção foi adequada. Compreender a 
dinâmica de uma entrevista requer analisar como o comportamento ulterior do adolescente é um 
emergente da situação, que se configura sobre a base do dado, mais a intervenção que o 
psicólogo formulou em função do dado e de seu próprio esquema referencial e operacional. As 
reações do adolescente à intervenção do psicólogopodem ser classificadas, em termos muito 
amplos, em reações de aceitação, rejeição ou indiferença 
A aceitação pode se expressar, ou não, em comportamentos manifestos. O importante é 
discriminar se se trata de uma aceitação autêntica, com base numa compreensão, real da 
situação explicitada através da interpretação, ou se a aceitação se baseia sobre um pseudo-
insight, uma falsa compreensão que pode ser inconscientemente estimulada pelo entrevistador 
que formula interpretações, cujo conteúdo ou forma fomenta a racionalização do entrevistado. 
Deve-se considerar, também, que a aceitação pode surgir de uma intervenção do 
psicólogo, que se caracteriza por sua banalidade e pela aceitação. Portanto, será meramente o 
reconhecimento de que o psicólogo foi um espelho fiel, mas não um espelho compreensivo, que 
ajuda a compreender. 
Quanto à rejeição e à indiferença, mais do que a atitude manifesta, deve-se levar em conta 
quais possam ser as causas de ambas as manifestações. A indiferença pode ser devida a um 
desacordo na interpretação imputável ao conteúdo desta, sua oportunidade, sua formulação, etc. 
Mas é também lícito, em certos casos, supor que uma reação de indiferença expressa uma forma 
de resistência do adolescente em reconhecer o aspecto de seu comportamento ou de sua 
identidade vocacional, contido na intervenção do psicólogo. O mesmo se dá no caso de rejeição. 
Uma queixa ou um protesto veemente do entrevistado não é, necessariamente, um indicador de 
que a intervenção tenha sido desacertada. Pode expressar, ao contrário, que a recusa demonstra 
a dificuldade do adolescente para integrar esse aspecto fendido de seu comportamento, uma vez 
que o psicólogo, mediante a interpretação, tenta integrá-lo ao resto de sua vida. 
 
A atitude do entrevistador 
Muito se tem dito sobre a atitude mais conveniente que o entrevistador deve assumir, a fim 
de estimular a participação do entrevistado. Tem-se dado ênfase à necessidade de se 
estabelecer um equilíbrio entre objetividade e subjetividade, ou, como já se tem afirmado, 
converter-se num bom observador participante que, a par de estar comprometido com a situação, 
possa tomar distância desta e observar não só o entrevistado, mas, fundamentalmente, a relação 
que existe entre o entrevistado e o entrevistador. 
Tem-se dado ênfase, também, à necessidade de o entrevistador criar um bom rapport com 
o entrevistado, a fim de obter dados para o diagnóstico e permitir que o entrevistado obtenha 
beneficios da relação. 
Gostaríamos de estabelecer dois aspectos que influenciam a atitude do entrevistador. 
Em primeiro lugar, não existe nenhuma fórmula que, ao ser assumida pelo entrevistador, crie um 
vínculo adequado com o entrevistador. 
Em primeiro lugar, não existe qualquer fórmula que, ao ser assumida pelo entrevistador, 
crie um vínculo adequado com o entrevistado. A possibilidade de criar uma situação favorável 
para este último depende, fundamentalmente, da identidade profissional do psicólogo. Neste 
caso, a identidade profissional do psicólogo constitui um requisito fundamental para poder 
dedicar-se, eficazmente, à tarefa de promover a saúde, na área da orientação vocacional. Uma 
“boa atitude” surge, necessariamente, de uma identidade profissional madura e nenhuma 
definição objetiva da distância ou proximidade ideais pode substituir esta premissa. De uma 
assunção madura de sua identidade como psicólogo, surge uma atitude básica de aceitação ou 
disponibilidade diante da situação de entrevista. 
Entendemos, por atitude de aceitação ou disponibilidade, uma atitude ou postura de 
abertura que facilite, ao adolescente, sentir- se seguro quanto ao entrevistador. É necessário 
estabelecer uma distinção entre a atitude de aceitação e a atitude de apoio, no sentido 
convencional do termo. O apoio é uma técnica terapêutica passível de criticas. No caso específico 
da orientação vocacional, o psicólogo pode sentir-se tentado a apoiar, estimulando no 
adolescente uma segurança da qual ele, basicamente, careça. Embora admitamos que o apoio é 
efetivo, porque reduz a angústia e aumenta a segurança manifesta, ele implica o risco de abrir 
uma oportunidade de escape ou estereotipia. O “apoio” permite que o adolescente renuncie à sua 
independência, que configura, entre outras coisas, uma das dificuldades para o acesso a uma 
identidace vocacional madura. Ao contrário, a atitude de aceitação e disponibilida-de contribui 
para possibilitar a expressão das angústias e sentimentos do adolescente, mas não 
necessariamente mediante uma aprovação ou simpatia falsas, às quais costuma estar ligado o 
conceito de apoio. 
Entre os perigos fundamentais das técnicas “de apoio”, podemos assinalar, em primeiro 
lugar, os sentimentos de extrema dependência que se fomentam no adolescente e, como 
conseqüência desta última, a culpa resultante do sentimento de invalidez para resolver o conflito 
criado pela escolha do futuro. 
Por outro lado, uma atitude de pseudo-simpatia é uma arma de dois gumes. O adolescente 
constata, facilmente, que a simpatia afetada aproxima-se mais de uma atitude de insinceridade e 
hipocrisia do que de uma atitude de autêntica aceitação sua como pessoa que tem conflitos, mas 
também, basicamente, a possibilidade de assumi-los e resolvê-los. Uma atitude de apoio, no 
sentido em que a estamos examinando, pode ser vivida pelo adolescente como uma atitude de 
negação dos seus problemas, no sentido de que o psicólogo assume a atitude de que tudo se 
arranjará facilmente. Isto acrescenta, à sensação de hipocrisia, a de superficialidade, estereotipia 
ou desatenção. 
Ao contrário, uma atitude básica de aceitação ou disponibilidade tem mais relação com 
uma atitude permissiva, que facilita ao adolescente a expressão de seus conflitos e ansiedades, 
na medida em que possa perceber a atitude do psicólogo como uma atitude interessada, mas não 
de expectativa, em termos de urgência. 
A atitude de aceitação não tem relação com a superficialidade (no sentido de negação dos 
problemas), mas, ao contrário, com a aceitação dos problemas que envolvem o adolescente 
como um ser humano com capacidade de escolha, mesmo quando esta, necessariamente, 
implique a aparição de conflitos. 
Do que ficou dito, depreende-se que a atitude está estreita- mente vinculada ao quadro 
referencial do orientador, que lhe permite olhar o adolescente como um indivíduo com direito a 
tomar decisões e a dirigir sua própria vida. Isto é, com o reconhecimento — como diriam os “não-
diretivos” — de que o adolescente “tem um potencial para escolher com sabedoria e viver uma 
vida plena, autodirigida e socialmente útil e, ao mesmo tempo, fazer-se responsável por sua 
própria vida”. 
Assim como a atitude de aceitação ou disponibilidade, considerada parte do enquadre da 
orientação vocacional, não é sinônimo de apoio, tampouco o é de aprovação ou de conformação 
com um dos aspectos do cliente; ou de neutralidade (no sentido de uma passividade derivadade 
uma distância absoluta); ou de simpatia (derivada de uma identificação com o adolescente). 
“Aceitação” também não é sinônimo de tolerância, no sentido de conformação ou 
conformismo aos problemas do adolescente que vem à entrevista, O psicólogo, quando pretende 
ajudar um adolescente, não pode ser conformista, pois reconhece, no outro, aspectos que o 
fazem tomar iniciativas progressivas, no sentido de desenvolvimento, mudança, integração e 
fortalecimento de sua identidade individual social, e, ao mesmo tempo, outros que o levam a 
evitar a mudança e a promoção de dissociações e rupturas em sua identidade vocacional. 
O valor psicológico que uma atitude de aceitação ou disponibilidade pode comportar está ligado à 
possibilidade de que o adolescente encontre, na oportunidade constituída pelo processo de 
orientação vocacional, alguém que lhe permita expressar seus sentimentos, preocupações e 
ansiedades

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