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David Lewis OPW 2 (1)

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Sobre a pluralidade dos mundos
David K. Lewis
NOTA:Excertos deOn the Plurality ofWorlds, deDavid Lewis (Oxford: Blackwell,
1986). Este é um primeiro esboço de uma tradução. Favor não circular nem citar.
2
Paradoxo no paraíso?
(. . . )
2.8 O olhar incrédulo
Reclamei certa vez que meu realismo modal encontrou muitos olhares incrédulos,
mas poucas objeções acompanhadas de argumentos. (Counterfactuals, p.86.) Os
argumentos não tardaram a vir, e já consideramos vários deles. Penso que repliquei
a eles adequadamente; eles levam no máximo a um empate. Os olhares incrédulos
permanecem. Eles permanecem irrespondíveis. Mas permanecem inconclusivos.
O realismo modal discordamesmo, em grau extremo, da opinião firme do senso
comum a respeito do que há. (Ou, no caso de alguns entre os incrédulos, discorda
mais propriamente de um agnosticismo firmemente defendido a respeito do que há.)
Quando o realismomodal diz a você—como o faz—que há infinidades incontáveis
de burros e prótons e poças d’água e estrelas, e planetas muito parecidos com a
Terra, e cidades muito parecidas com Melbourne, e pessoas muito parecidas com
você próprio, . . . não é surpresa que você esteja relutante em acreditar nele. E se a
entrada no paraíso do filósofo requer que você creia nele, não é surpresa que você
ache que o preço é alto demais.
Eu poderia perguntar, claro, exatamente qual opinião do senso comum é aquela
da qual meu realismo modal discorda. É a opinião de que não existe realmente uma
infinidade incontável de burros? Disso eu não discordo de modo algum — existir
realmente é fazer parte deste mundo, e ouso dizer que há apenas finitamente muitos
burros entre nossos companheiros de mundo. Ou é, simplesmente, a opinião de
1
que não existe uma infinidade incontável de burros — com o quantificador tendo
escopo bem amplo, totalmente sem restrições, e sem nenhum ‘realmente’ implícito
ou tácito na sentença? Essa opinião eu rejeito mesmo. Mas se você perguntar a um
porta-voz do senso comum, inesperadamente, qual das duas é a opinião que ele tem,
sem dúvida ele dirá que não consegue dizer qual a diferença entre elas. Ele pensa
que a realidade é tudo o que há; eu discordo. (Consideramos essa questão na seção
2.1.) Faço uma distinção onde ele não faz nenhuma. Quem então pode dizer se sua
opinião indiferenciada é aquela que eu aceito ou a que eu rejeito? Se é a primeira,
não há nada com que se preocupar.
Infelizmente, acho que são ambas. Se ele não distingue as duas opiniões, ele ou
sustenta ambas, ou nenhuma delas; certamente não é o caso que ele não sustenta
nenhuma; assim, sustenta ambas. Tenho então um desacordo sério com ele. É
verdade que também concordo com ele, e que ele próprio não consegue distinguir
o ponto de acordo do ponto de desacordo. Mas eu posso. Na medida em que eu
respeito o senso comum, isso é um problema. E eu de fato respeito o senso comum,
dentro de certos limites.
Ao tentar aperfeiçoar a unidade e economia de nossa teoria total fornecendo
recursos que permitem análises, por exemplo de modalidade como quantificação
sobre mundos, estou tentando realizar duas coisas que conflitam um tanto. Estou
tentando aperfeiçoar essa teoria, isto é, modificá-la. Mas estou tentando aperfei-
çoar essa teoria, isto é, deixá-la reconhecivelmente a mesma teoria que tínhamos
antes. Com efeito, é inútil construir uma teoria, não importa quão admiravelmente
sistematizada ela possa ser, na qual seja irrazoável acreditar. E uma teoria não pode
granjear crédito somente por sua unidade e economia. Qualquer crédito que ela
possa granjear, ela deve herdá-lo. Está muito além de nosso poder construir ex
nihilo uma teoria inteiramente nova que seja adequada; portanto, temos forçosa-
mente que conservar aquela que temos. Uma teoria que valha a pena tem que ser
acreditável, e uma teoria acreditável tem que ser conservadora. Não pode ganhar
crédito, e não pode merecê-lo, se discorda excessivamente daquilo que pensávamos
antes. E muito do que pensávamos antes é apenas senso comum. O senso comum é
um corpo teórico estabelecido — uma teoria popular assistemática — na qual, de
qualquer modo, nós de fato acreditamos, e presumo que estejamos sendo razoáveis
em crer nela. (Na maior parte dela.)
O senso comum não tem autoridade absoluta em filosofia. Não é que está no
sangue das pessoas saber aquilo que os pretensiosos filósofos podem esquecer. E
não é que o senso comum fala com a voz de alguma faculdade infalível de ‘intuição’.
É apenas que o conservadorismo teórico é a única política sensata para teorizado-
res com capacidades limitadas, que são devidamente modestos a respeito daquilo
que podem realizar depois de um novo começo. Parte desse conservadorismo é a
relutância em aceitar teorias que ataquem o senso comum. Mas é uma questão de
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equilíbrio e discernimento. Algumas opiniões do senso comum são mais firmes do
que outras; assim, o custo de negar a opinião do senso comum difere de caso a
caso. E os custos devem ser medidos em comparação com os ganhos. Às vezes o
senso comum pode ser apropriadamente corrigido, quando o crédito merecido que é
ganho tornando a teoria mais sistemática compensa mais que o crédito herdado que
é perdido. Não se deve exigir que uma teoria filosófica deva concordar com qual-
quer coisa que em uma pessoa ordinária insistiria informalmente, não informada e,
portanto, não influenciada por quaisquer ganhos teóricos a serem obtidos mudando
de opinião. (Especialmente não se, como muita gente hoje em dia, ela aproveitasse
o ensejo para embarcar em especulações filosóficas desenfreadas à menor provo-
cação.) O teste apropriado, sugiro, é uma simples máxima de honestidade: nunca
defenda uma teoria filosófica na qual você próprio não acredite em seus momentos
menos filosóficos e mais de senso comum.
O olhar incrédulo é um gesto significando que meu realismo modal falha no
teste. É uma questão de discernimento e, respeitosamente, eu discordo. Reconheço
que minha rejeição da opinião do senso comum é severa, e penso que é inteiramente
correto e apropriado considerar isso um sério custo. Quão sério é sério o suficiente
para ser decisivo?—Esta é nossa questão central, contudo, não vejo como qualquer
coisa possa ser dita acerca dela. Eu ainda acho que o preço está certo, ainda que alto
como é. O realismo modal deve ser aceito como verdadeiro. Os benefícios teóricos
valem a pena.
É claro, desde que não possam ser obtidos por menos.
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