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Cris Oliveira
História da educação
Cris Oliveira
História da educação
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Sumário
CAPÍTULO 4 – A História da Educação no Brasil III ............................................................05
Introdução ....................................................................................................................05
4.1 A Educação na redemocratização ..............................................................................06
4.1.1 A Educação na Nova Constituição de 1988 .......................................................07
4.1.2 A destinação das verbas e o Plano Nacional de Educação ...................................09
4.2 As Discussões sobre a LDBN ......................................................................................11
4.2.1 As várias LDBNs ..............................................................................................12
4.2.2 As inovações da LDBN (Lei nº 9.394/96) ...........................................................13
4.3 As perspectivas da educação hoje ..............................................................................15
4.3.1 O professor e a sala de aula ............................................................................17
4.4 O papel do pedagogo ao longo da história ................................................................18
4.4.1 As transformações da profissão através dos tempos .............................................18
4.4.2 Os quatro pilares para a educação e as tendências filosóficas que norteiam
 as práticas pedagógicas ..................................................................................20
Síntese ..........................................................................................................................22
Referências Bibliográficas ................................................................................................23
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Capítulo 4 
Introdução
Você imagina como foi o processo de transformação da educação brasileira durante o período 
de redemocratização e como isso auxiliou no desenvolvimento de um novo olhar para a edu-
cação brasileira nos anos que se seguiram? Você sabia que a Nova Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação (LDBN) levou mais de 30 anos para ser aprovada e finalmente posta em prática? E 
que sem ela muito pouco teria mudado na educação no país?
Para entender como se deu todo esse processo de transformação, e compreender como as novas 
diretrizes educacionais se estabeleceram desde então, é importante refletir sobre os processos 
que marcam as últimas três décadas na educação brasileira. Foram muitas as conquistas, prin-
cipalmente quando estas são comparadas às que foram deliberadas até o princípio dos anos 
1980. Entretanto, algumas das medidas previstas na LDBN ainda precisam percorrer um longo 
caminho para vigorar em todas as escolas do Brasil. Quais são os desafios atuais da educação 
no país?
As modificações e os avanços propostos após a promulgação da Constituição de 1987 elevaram 
a educação a um novo patamar. Ainda assim, há inúmeros desafios a serem enfrentados tanto 
pelos profissionais que atuam diretamente nas salas de aula, como pelos governos, que devem 
garantir a acessibilidade e a gratuidade a todos os cidadãos que precisam da educação básica. 
As perspectivas atuais sobre a educação apontam que a escola deve ter mais do que um 
caráter conteudista: precisa ser formativa, atuando não apenas com a transmissão clássica de 
conteúdos, mas também no preparo do aluno para exercer cidadania plena, ao oferecer cami-
nhos para que ele seja uma pessoa crítica diante de um mundo em plena transformação. Esta 
é uma concepção que anda na contramão de muitas escolas consideradas “fortes”, que visam 
exclusivamente à preparação para os exames vestibulares. 
Nesses termos, há ainda a necessidade de valorização do profissional de educação, que também 
precisa estar preparado para atuar em uma escola que não transmita apenas conteúdos. Para 
tanto, é importante que o profissional da educação não continue abandonada a uma condição 
salarial aquém da que seria necessária para exercer seu ofício com dignidade. 
Os desafios da educação também estão intrinsicamente ligados ao papel que o pedagogo 
exerceu durante toda a história da existência da profissão. É sempre importante pontuar que o 
pedagogo, de acordo com a concepção tradicional, sempre foi compreendido como o transmis-
sor de conhecimentos, o possuidor de saberes científicos. Porém, ele é mais do que um simples 
mediador dos processos educacionais: ele é aquele deve ensinar e não apenas passar conheci-
mento (FREIRE, 1997).
Então, vamos começar os nossos estudos para compreender qual é a situação da educação no 
Brasil contemporâneo?
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A História da Educação no 
Brasil III
06 Laureate- International Universities
História da educação
4.1 A Educação na redemocratização
Com o final da ditadura militar em 1985, iniciou-se a chamada Nova República, com a eleição, 
ainda que indireta, de Tancredo Neves. No entanto, ele acabou não assumindo o poder, por 
conta de sua morte trágica. O fato gerou uma comoção popular no país inteiro, que ansiava por 
mudanças intensas em todos os setores. O seu vice, José Sarney, acabou assumindo o poder e 
se tornando o primeiro presidente civil desde 1964.
As mudanças viriam, mas a passos muito lentos, visto que a herança deixada pela ditadura era 
bastante negativa. Havia uma grave crise política e econômica que seria desafiadora durante 
anos. A inflação, a enorme dívida externa sob o controle do Fundo Monetário Internacional 
(FMI), o arrocho salarial e uma crescente pauperização da classe média, geraram diversas me-
didas e planos econômicos na tentativa de estabilizar a economia do país, entretanto, nenhuma 
delas conseguia atingir o sucesso desejado. 
Essa situação potencializou muito os problemas sociais: houve um aumento da pobreza e da 
violência tanto nas áreas rurais quanto nas cidades. Era urgente uma profunda reforma no país 
inteiro. Por isso, em 1988, depois de longos debates acalorados e repletos de dificuldades, foi 
promulgada a nova Constituição brasileira (ARANHA, 2006). 
Figura 1 − O processo de redemocratização no Brasil promoveu inúme-
ras mudanças em diversos setores, em especial na educação.
Fonte: Shutterstock, 2015.
A questão da escola pública foi a que mais acirrou tais debates. Ocorreram confrontos e pres-
sões de todos os lados, inclusive das escolas particulares, que tinham o desejo de manter o aces-
so às verbas públicas que eram garantidas na Constituição anterior. O que parecia ser o caminho 
certo para o estabelecimento de medidas legais para a implantação e realização das mudanças 
necessárias na educação passou a ser uma luta de interesses de classes e de forças.
Em outras palavras, uma dura negociação que precisava atender tanto àqueles que defendiam a 
escola pública, como os que esperavam pela continuidade da distribuição de verbas do governo 
para atender às necessidades das instituições privadas, que não conseguiam manter-se apenas 
com as mensalidades pagas pelos pais. Isso afetava diretamente as negociações acerca das me-
didas voltadas para a educação. 
Nesse contexto, como será que ficou a educação brasileira no período? Quais foram as mudan-
ças trazidas pela nova Constituição? Prossiga a leitura e descubra!
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4.1.1 A Educação na Nova Constituição de 1988
Quando foi instalada, em 1º de fevereiro de 1987, a Assembleia Nacional Constituinte provocou 
uma intensa movimentação de entidades representativas de diversos setores sociais, uma vez 
que todos tinham interesse em fazer com que suas reivindicações fossem atendidas e colocadas 
no novo texto constitucional. Várias foram as “emendas populares” que alcançaram milhões de 
assinaturas, com a intenção nítida de que o povo pudesse participar ou até mesmoinfluenciar os 
trabalhos relativos à nova Constituição. 
Os mais ativos, no entanto, foram os representantes das escolas públicas, que exigiam a gratui-
dade e obrigatoriedade do estabelecimento de uma educação para todos e em todos os níveis; 
e os das escolas particulares, que desejavam continuar recebendo os aportes do governo para 
continuar subsidiando a sua manutenção. 
Por conta disso, foi organizado um Fórum da Educação na Constituinte, o qual reunia 13 entida-
des, entre elas a Associação Nacional de Educação (Ande), a Central Única dos Trabalhadores 
(CUT), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a União Nacional dos Estudantes (UNE). Em 
2 de abril de 1987, o Fórum divulgou um Manifesto à Nação, no qual afirmava que a educação 
era um direito de todo e qualquer cidadão. Também defendia que o Governo Federal deveria ser 
obrigado a destinar nunca menos de 13% de sua receita tributária, e os governos dos Estados, 
do Distrito Federal e dos municípios, no mínimo, 25%, para a manutenção do ensino público gra-
tuito. As verbas também deveriam ser destinadas com exclusividade às escolas públicas e, além 
disso, o Governo deveria se comprometer com a democratização da escola em todos os níveis, 
no que se relacionava ao acesso, à permanência e à gestão das escolas. 
A Nova Constituição foi promulgada em 5 de outubro de 1988, mais de 20 meses após o início 
das discussões e dos trabalhos em torno dela. Nela, foram incluídas de maneira parcial as pro-
postas indicadas pelo Fórum da Educação na Constituinte. Mesmo que não atendidas em sua 
totalidade, essas propostas representaram um dos maiores avanços na educação brasileira até 
aquele momento, visto que as obrigatoriedades dos governos ultrapassavam todos os ditames 
estabelecidos, em especial na democratização e universalização da educação. 
Figura 2 − Embora nem todas as solicitações tenham sido atendidas, a nova Cons-
tituição tinha objetivos claros e um projeto de educação para o país.
Fonte: Shutterstock, 2015.
08 Laureate- International Universities
História da educação
No novo texto constitucional foram incorporados alguns acréscimos ao que era exigido pelo 
Fórum, da mesma maneira que alguns aspectos foram deixados de lado. De maneira geral, os 
objetivos que, a partir de então, passavam a vigorar sob a forma da lei modificaram o texto da 
antiga Constituição. A nova redação do artigo 205 ficou assim: “A educação, direito de todos e 
dever do Estado e da Família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, 
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho.” (BRASIL, 1988).
Observe que o texto coloca a educação como um dever também da família e da sociedade, 
aspectos excluídos do Manifesto do Fórum, que antes centralizava os seus objetivos e atenções 
apenas nos deveres que cabiam ao Estado. O que você pensa a respeito do papel da família e 
da sociedade em relação à educação? Cabe apenas ao Estado cuidar desses deveres? É possível 
ter escola de qualidade sem que haja a atuação constante da família nas escolas de seus bairros 
e comunidades? 
O artigo 206 da Constituição de 1988 traz ainda outra observância, baseada em alguns princí-
pios de alta relevância para a sociedade. Todos garantidos em nome da lei:
•	 a igualdade de condições de acesso e permanência na escola para as crianças e jovens;
•	 a garantia de liberdade tanto para aprender quanto para ensinar, pesquisar, divulgar o 
livre pensamento, a arte e os saberes;
•	 a equidade no pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, bem com a coexistência 
de instituições públicas e privadas de ensino;
•	 a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
•	 a valorização do profissional de educação;
•	 uma gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
•	 a garantia de um padrão de qualidade na educação para todos (BRASIL, 1988).
Devido à dimensão geográfica do país e às diferenças regionais, culturais e sociais, há muita 
disparidade em termos qualitativos, no que diz respeito à realidade educacional de uma escola 
nas áreas menos urbanizadas. No sertão, por exemplo, nem sempre há condições estruturais 
para garantir a qualidade de ensino outorgada na Constituição. Isso faz com que esse, talvez, 
seja ainda um dos maiores desafios no processo de universalização da educação. 
As garantias agora dadas na nova Constituição são, sem sombra de dúvidas, avanços significa-
tivos em relação aos textos de constituições anteriores, em particular, quando há a referência ao 
respeito e à liberdade de ideias e concepções pedagógicas nas escolas (pluralismo) e à valori-
zação do profissional da área da educação. No entanto, vale ressaltar que essas também ainda 
são batalhas cotidianas em nossas escolas. 
A Constituição de 1988 ainda definiu que as instituições privadas de ensino devem se submeter a 
uma autorização e avalição de qualidade do poder público. Isso acirrou ainda mais as diferenças 
entre as instituições públicas e privadas. Estas, já sem as devidas verbas do governo, passaram a 
selecionar os alunos de maior poder aquisitivo e, por vezes, de melhor preparo também, o que 
fez de algumas delas um padrão de excelência anos à frente.
Quanto aos deveres do Estado, todos ficaram muito claros no artigo 208 da Constituição, que 
aponta garantias como o Ensino Fundamental obrigatório e gratuito a pessoas de todas as ida-
des, o atendimento especializado a pessoas com deficiência e o atendimento em creche e pré-
-escola para crianças. Essas obrigações foram atualizadas posteriormente pela Lei de Diretrizes e 
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Bases da Educação Nacional. Ainda assim, colocar as crianças em creches permanece como um 
dos maiores desafios dos governantes dos municípios e Estados, por não haver vagas suficientes 
que contemplem o acesso universal dos pequenos e futuros cidadãos.
O artigo 210 estabeleceu um currículo básico e comum para todos que estivessem no Ensino 
Fundamental, o que veio para garantir uma formação comum aos alunos. A matriz curricular 
(que até então, durante a ditadura, era conhecida como “grade”) ainda deveria garantir o res-
peito aos valores culturais, artísticos, nacionais e também regionais. 
O que continuava a ser estranho, nesse contexto de transformações, foi a continuidade do 
ensino religioso, que recebeu diversas manifestações contrárias. Vale lembrar que a 
educação religiosa, ou “ensino religioso”, esteve suspenso desde a expulsão dos jesuítas da 
América Portuguesa, em 1759. A Constituição de 1934 retomou a questão do ensino 
religioso - desta vez como permissão, e não como obrigatoriedade - em um momento onde todas as 
leis eram favoráveis ao ensino laico.
Esta época foi marcada ainda pelo surgimento e atuação de alguns grandes nomes da 
intelectualidade brasileira, como Darcy Ribeiro que, entre outros, esteve à frente da Secretaria 
da Educação do Estado do Rio de Janeiro de 1982 a 1986. Ele ainda foi senador em 1990, 
tendo exercido seu mandato até sua morte, em 1997.
Darcy Ribeiro foi antropólogo e etnógrafo e atuou diretamente nos processos de re-
democratização do Brasil após o período da ditadura militar. Teve papel de destaque 
tanto no governo do Estado do Rio de Janeiro quanto no Senado Federal. Ao lado 
de Leonel Brizola, transformou o sistema de ensino no Rio de Janeiro, objetivando o 
acesso à educação e a melhoria da qualidade. Participou ativamente da discussão e 
da construção do texto final da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
(LDBN), promulgado em 1996. Tamanha foi a sua participação, que muitos apelidaram 
a LDBN de “Lei Darcy Ribeiro”.
VOCÊ O CONHECE?
4.1.2 A destinação das verbas e o Plano Nacional de Educação
O governo não somente promulgou uma série de leis que garantiam aos brasileiros direito ao 
acesso à educação, como também estabeleceu que um determinadoíndice mínimo da receita 
bruta tributária deveria ser aplicado diretamente na manutenção e no desenvolvimento do en-
sino. De acordo com o artigo n° 212, a União deveria se encarregar de garantir 18% do or-
çamento, enquanto os Estados, o Distrito Federal e os municípios deveriam reservar 25%. Você 
percebeu que essa era uma das demandas do Fórum Nacional? Mas existe uma diferença: o 
índice de verba do governo federal estipulado pela nova legislação ficou 5% acima do que era 
reivindicado pelo Fórum.
10 Laureate- International Universities
História da educação
Figura 3 − Verbas seriam destinadas às escolas públicas, mas estas precisa-
riam, a partir de então, atingir algumas metas estipuladas pelo governo.
Fonte: Shutterstock, 2015.
No entanto, ao agraciar os organizadores do Fórum com uma verba acima do reivindicado, o 
governo não manteve a destinação das verbas única e exclusivamente para as escolas públicas, 
o que era uma das principais demandas. Na verdade, ele optou por estabelecer que os recursos 
públicos poderiam ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas 
em lei, desde que conseguissem comprovar que não trabalhavam com o propósito de lucrativi-
dade. Elas também deveriam aplicar os excedentes em educação, em outra escola, ou devolver 
ao Poder Público, no caso de encerramento de atividades (BRASIL, 1988).
Os recursos públicos devem ser aplicados em escolas particulares? O correto não se-
ria apenas o investimento em setores menos privilegiados? Vale lembrar que a escola 
pública, em especial a destinada à educação básica, sempre necessitou de recursos do 
governo, e que estes, muitas vezes foram limitados.
NÓS QUEREMOS SABER!
Outra novidade foi o aprimoramento do Plano Nacional de Educação, que até o momento, não 
havia contemplado todos os âmbitos do ensino. A primeira tentativa de plano surgiu em 1962, 
mas foi só com a nova Constituição que ele virou uma obrigatoriedade na lei. No artigo 214, a 
Constituição de 1988 aponta uma reformulação no texto anterior, ficando assim: 
[...] do plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao 
desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do Poder Público 
que conduzam à: 
I – erradicação do analfabetismo; 
II – universalização do atendimento escolar; 
III – melhora na qualidade de ensino; 
IV – formação para o trabalho; 
V – promoção humanística, científica e tecnológica do País (BRASIL, 1988).
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O primeiro Plano Nacional de Educação (PNE) nesses termos esteve em vigor entre os anos de 
2001 a 2010. No período, pouco mais de 33% das metas estabelecidas pelo governo haviam 
sido atingidas, de acordo com diversas pesquisas realizadas, inclusive por pesquisadores das 
mais importantes universidades federais do Brasil (GUIMARÃES; PINHO, 2010). Após a verifi-
cação dos resultados obtidos, novas metas foram estabelecidas no PNE de 2010 a 2020, nas 
quais se repetem a erradicação do analfabetismo, que ainda atingia 14 milhões de brasileiros 
em 2010, e a elevação de investimentos em educação para 10% do Produto Interno Bruto (PIB), 
número que ficou estabelecido em torno de 5%. 
O atual PNE (2014-2024) – Lei n° 13.005, de 25 de junho de 2014 –, possui a vigência de dez 
anos e continua a destacar todas as prioridades que foram estabelecidas nos planos anteriores, 
acentuando-se: a erradicação do analfabetismo, a universalização do atendimento escolar, su-
peração das desigualdades sociais, a erradicação de todas as formas de discriminação, bem 
como a promoção da cidadania, a valorização da educação, a promoção dos princípios do res-
peito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. Também enfatiza-
-se o cumprimento de todas as metas previstas em lei (BRASIL, 2014). 
É muito importante salientar que a chegada de um Plano Nacional de Educação era o tão so-
nhado desejo de muitos intelectuais que estiveram à frente de debates acalorados, bem como da 
própria sociedade, que, até então, não pudera se engajar, por questões políticas, nas decisões 
e na definição de diretrizes que eram definidas pelos governos anteriores. Os debates nunca 
tinham sido tão abertos quanto durante o período de redemocratização e nos anos inicias da 
construção das práticas democráticas brasileiras. 
4.2 As Discussões sobre a LDBN
Você sabe como se tornou possível o estabelecimento da educação tal como ela é praticada nos 
dias de hoje? O processo de transformação da educação no Brasil passou por diferentes mo-
mentos, no entanto, o que talvez seja o mais importante foram os primórdios das discussões que 
envolveram a construção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN).
CASO
Imagine a seguinte situação. Há uma transição de governos se instaurando em um país que 
deseja o estabelecimento da democracia, mas ninguém sabe que isso ainda está longe de acon-
tecer. Transformações em todos os setores da sociedade se fazem essenciais, até por conta de 
diversos acontecimentos históricos que promovem obrigatoriamente mudanças. Contudo, uma 
dessas mudanças é a mais urgente. Trata-se de estabelecer um plano de educação que consiga 
contemplar a todos os níveis educacionais, que até então foram postos em segundo plano. 
Então, com a chegada do primeiro governo e, no intuito de criar condições para o crescimento 
do país, estabelecem-se algumas leis educacionais, mas que não contemplam ainda todos os 
níveis da educação. O mesmo líder continua no poder, mas, atentando para outras necessidades, 
modifica as leis educacionais estabelecidas e retorna quase ao ponto zero. 
Depois de um tempo, chegam outros líderes, não eleitos pelo povo, mas que garantem colocar a 
educação nos rumos do progresso, o que também não dá muito certo. Vão-se embora, um novo 
governo se estabelece, e novas leis começam a ser discutidas. Cansou-se? Desde que a Consti-
tuição de 1934 atribuiu à União a competência de traçar um plano nacional de educação, que 
está presente no artigo 5º, inciso XIV, foram necessários 59 anos para que a LNDB fosse sancio-
nada por um presidente da República. Você consegue, até aqui, imaginar quão duras foram as 
batalhas de diversas pessoas em prol do estabelecimento da educação brasileira?
12 Laureate- International Universities
História da educação
Para entender como foi o processo todo de debates e discussões envolvidos na construção da 
LDBN, é importante retornar a alguns momentos da história do Brasil. 
4.2.1 As várias LDBNs
Durante os debates da construção das leis que estariam na Constituição de 1937, ocorreu a pri-
meira citação da palavra “bases”, que era atribuída diretamente aos deveres da União para com 
os projetos educacionais do país. Nela, podia-se claramente entender que havia a necessidade 
de traçar um plano de educação nacional, com diretrizes definidas, e que obedecessem à forma-
ção física e moral da infância e da juventude. Isso pode ser confirmado no artigo 15, inciso XI.
Mais à frente, na Constituição de 1946, o mesmo termo continuou a ser adotado, para estabele-
cer que a União deveria ter um envolvimento direto com a garantia da educação nacional como 
direito de todos os cidadãos que estivessem em idade escolar. Também foram acrescentados os 
dizeres “[...] legislar sobre [...] as diretrizes e bases da educação nacional.” (BRASIL, 1946). 
Era algo bastante positivo, se considerado o contexto histórico vivido pelo país e pelo mundo. 
Havia a necessidade de que a União fizesse mesmo algo de concreto pela educação. No en-
tanto, vale lembrar que o país estava em pleno processo ditatorial, e o mundo acabava de sair 
da Segunda Grande Guerra. Havia um interesse muito acentuado, por parte de alguns setores, 
de que somente alguns segmentos da educação vingassem. A educação básica ainda estava em 
um processo de transição, sendo considerada menos relevantedo que o ensino secundário, que 
poderia gerar mão de obra rápida. 
Figura 4 − Foram anos de discussões até que a LDBN fosse sancionada pelo Presidente da República, em 1996.
Fonte: Shutterstock, 2015.
Em 1961, foi sancionada a primeira LDBN (Lei n° 4.024), que tinha por objetivo englobar todas 
as modalidades de ensino. Contudo, ela não teve continuidade nos anos que se seguiram, e mui-
to menos aplicação, devido às dificuldades de gerir a educação em todos os níveis. Também não 
se deve esquecer de que não havia verbas suficientes, por parte da União, que fossem capazes de 
prover a educação em todas as esferas, no primário, secundário e no ensino profissionalizante. 
Por conta disso, a LDBN de 1988 sofreu um retrocesso e voltou à situação prévia, de 1961, 
em especial no que diz respeito à legislação educacional, já que, na questão prática, pouco ou 
quase nada havia se modificado. Em outras palavras, a LDBN de 1988 não saiu definitivamente 
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do papel, e as obrigatoriedades que nela constavam somente se fizeram valer a partir de 1996, 
quando foi sancionada a LDBN definitiva. Mas como isso aconteceu? Não foi um processo fácil, 
e nem rápido. 
Foi apenas com o processo de redemocratização do país e com a criação de uma nova Cons-
tituinte que houve a necessidade natural de elaborar uma nova lei de diretrizes e bases da edu-
cação. Muitas esferas sociais se mobilizaram para que isto acontecesse. Diversos educadores 
brasileiros estiveram à frente de todas as discussões, oferecendo uma série de sugestões práticas, 
uma vez que, ou eles sabiam que havia a necessidade de que fosse efetivada uma lei para ga-
rantir determinado ponto, ou tinham a experiência empírica e pedagógica. Vale ainda salientar 
que todos, de maneira unânime, defendiam que os princípios da gratuidade e o da garantia do 
direito de ter educação fossem inclusos na nova LDBN.
Em 1988, o então deputado Otavio Elísio propôs um novo projeto de Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional. A tramitação do projeto foi muito tumultuada e durou cerca de oito anos no 
Congresso Nacional. Embora tenha sido aprovado, sofreu algumas modificações substanciais. 
Na sequência, o novo projeto de lei foi encaminhado para o Senado, em maio de 1993. 
O mais curioso é que o projeto sofreria novamente outra mudança em seu texto original. Aca-
bou voltando à Câmara mais uma vez e foi novamente aprovado, com poucas modificações. O 
projeto, que começou a ser discutido em 1961, levou 35 anos para ser aprovado e sancionado, 
tornando-se a Lei nº 9.394/96 (ARANHA, 2006).
No livro Dez anos de LDB: uma visão crítica, o professor Arnaldo Niskier, que acumula 
uma experiência de mais de 50 anos na educação, fala sobre todos os espaços a serem 
regulamentados e que foram deixados em aberto na LDBN, o que estabelece outros 
precedentes para a demora em sua aplicação e consolidação.
NÃO DEIXE DE LER...
4.2.2 As inovações da LDBN (Lei nº 9.394/96)
Finalmente, a lei que regularia as diretrizes da educação estava posta em lei federal para atender 
às demandas e necessidades de uma população. As inovações que passaram a vigorar e a se 
destacar no cenário nacional, desde 1996, foram muito importantes.
A primeira delas é referente à gestão democrática do ensino público na educação básica, que 
deveria ser definida pelo sistema de ensino, e estar em concordância com as particularidades e 
os seguintes princípios presentes no artigo 14 da LDBN:
•	 I – participação dos professores da educação na elaboração do projeto da escola;
•	 II – participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. 
(BRASIL, 1996).
Além disso, haveria uma progressão de graus de autonomia pedagógica e administrativa, o que 
se estendia ainda para a questão financeira da escola, que deveria ser assegurada pela União 
e garantir o funcionamento correto das unidades escolares públicas de educação básica, pelo 
sistema de ensino. Esses termos estão explicitados no artigo 15 da LDBN.
14 Laureate- International Universities
História da educação
A LDBN foi atualizada em 2013, pela Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. Ela revê as obri-
gações do governo quanto à educação, previstas na Constituição de 1988, determinando que 
ele deve garantir educação básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade. A nova 
redação também reorganizou a educação básica, que passou a ser dividida em pré-escola, En-
sino Fundamental (antigo 1º grau) e Ensino Médio (antigo 2º grau) (BRASIL, 2013). Além disso, 
o Ensino Fundamental passou a ter o ciclo de nove anos e determinou-se a possibilidade de 
reclassificação dos alunos que, por uma razão ou outra, foram retidos em suas séries. 
O novo texto também garante:
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 anos de idade;
III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos 
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, 
etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e médio para todos os que não os 
concluíram na idade própria (BRASIL, 2013). 
Outra questão presente na LDBN é a garantia de oportunidades educacionais apropriadas para 
os povos indígenas, o que está contemplado nos artigos nº 78 e 79 da lei. O dispositivo destaca 
alguns objetivos, como recuperar a memória histórica, reafirmar a identidade étnica, valorizar 
línguas e ciências, ao mesmo tempo em que garante o acesso à informação, e aos conhecimen-
tos técnico e científico. (BRASIL, 2013). 
Essas oportunidades passaram a ser asseguradas pelos sistemas de ensino, tanto para jovens 
quanto para adultos que não tiveram a oportunidade de concluir os estudos em idade ade-
quada. Os estudos para essa parcela devem, portanto, respeitar as características do alunado, 
bem como as condições de vida em que se encontram. Aqui, um dos mais receptivos à lei foi o 
educador Paulo Freire, que lutava por uma pedagogia mais afetiva e de acordo com o meio em 
que viviam os educandos.
NÃO DEIXE DE VER...
O filme Escritores da Liberdade (EUA, 2007) conta a história de uma professora que 
chega a uma escola de um bairro pobre, corrompido pela agressividade e violência. 
Os alunos se mostram rebeldes e sem vontade de aprender. Ela, então, lança mão de 
várias estratégias diferentes, sempre adaptando-as ao meio em que vivem seus alunos. 
Aos poucos, eles vão ganhando confiança, tornando-se mais tolerantes e respeitando 
uns aos outros.
Algumas outras conquistas ainda devem ser tanto pontuadas como comemoradas. No que con-
cerne à educação profissional, a lei determina que ela deve ser realizada em ambientes de tra-
balho ou instituições que sejam especializadas nesse tipo de ensino. O salto é enorme se você 
comparar essa nova situação com as práticas de educação profissionalizante que estiveram anos 
a fio em vigor no país. Outra garantia da nova lei foi o direito à educação especial, que deveria 
ser oferecida em rede regular de ensino. As escolas deveriam, então, adaptar-se para receber 
educandos com deficiência. (LDBN, 2014).
Finalmente, depois de entender quais foram as modificações promovidas pela nova LDBN, vale 
refletir sobre o quanto conseguimos avançar de fato, colocando em prática essas determinações 
legais, manifestação do desejo de diversos setores da sociedade, principalmente dos mais inte-
ressados: educandos e educadores, os quais sempre estiveram envolvidos diretamente em todos 
os processos. 
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As atribuições elencadas na LDBN são tarefas fáceis e possíveis de serem atingidas? O que ainda 
precisa mudar na lei para auxiliar ainda mais os profissionais envolvidos com a educação? Em 
sua comunidade, é possível visualizar as transformações que foram ocasionadas pelos direitos 
garantidos na LDBN? 
Também é importante lembrarque, independentemente de o professor atuar em uma instituição 
pública ou privada, é necessário o seu real engajamento em todas as políticas púbicas, para que 
uma educação de qualidade e a valorização do profissional sejam, de fato, objetivos alcançados. 
4.3 As perspectivas da educação hoje
Você já sabe que os avanços na educação brasileira, especialmente, nos últimos 30 anos, foram 
inúmeros, certo? Esta é uma prerrogativa acerca da qual os mais renomados especialistas são 
unânimes. O processo de democratização da educação, que tinha por objetivos a universaliza-
ção do ensino, a erradicação do analfabetismo e a garantia do direito ao ensino para todos os 
cidadãos, mesmo aos que estivessem fora da faixa etária legalmente estabelecida entre 7 a 14 
anos, foram avanços incalculáveis. 
Nem todos os quesitos outorgados por lei foram totalmente atingidos. O Censo Demográfico 
2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) apontou que, en-
tre pessoas com mais de 15 anos de idade, o analfabetismo ainda persiste, apesar de seus índices 
virem caindo progressivamente. No ano da pesquisa, a taxa era de 9,6% da população, enquanto 
em 2000 era de 13,3%. Número bem menor do que o registrado na década de 1940 (56%).
O instituto ainda avaliou que a grande causa da permanência do analfabetismo é a evasão es-
colar, que é ainda maior nas áreas rurais ou mais afastadas dos grandes centros urbanos. Muitos 
alunos não permanecem na escola por questões financeiras. Entre os mais pobres, as taxas de 
analfabetismo praticamente dobram. Neste caso, a principal razão pela não escolarização é a 
falta de renda da família, que, em diversos casos, se vê obrigada a tirar o filho da escola para 
que ele trabalhe para aumentar a renda familiar. 
Brasil e 
Grandes Regiões 
Taxa de analfabetismo 
das pessoas de 15 anos 
ou mais de idade 
Taxa de escolarização 
das crianças de 7 a 14 anos 
de idade 
Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres
Brasil (1) 13,3 13,3 13,3 95,7 95,3 96,1
Norte (2) 11,6 11,7 11,5 95,5 95,3 95,7
Nordeste 26,6 28,7 24,6 94,1 93,2 95,0
Sudeste 7,8 6,8 8,7 96,7 96,6 96,9
Sul 7,8 7,1 8,4 96,5 96,7 96,3
Centro-Oeste 10,8 10,5 11,0 96,0 95,6 96,4
Tabela 1 – Educação e condições de vida.
Fonte: IBGE, 2000.
16 Laureate- International Universities
História da educação
Vários programas governamentais foram estabelecidos desde a redemocratização do país, todos 
com o intuito de diminuir as acentuadas diferenças sociais e, assim, proporcionar uma melhora 
também na qualidade da educação, que automaticamente é um dos únicos meios para propor-
cionar uma melhora significativa na perspectiva das famílias mais pobres. 
Todas essas novas determinações ainda convergem para outras questões surgidas nos últimos 
anos: os avanços tecnológicos também introduziram mudanças radicais nos modelos de ensino, 
as quais não podem ser negadas pelos profissionais de educação. Em outras palavras, para 
atuar na educação hoje, é preciso mais do que atender às determinações básicas que foram 
promulgadas desde a LDBN de 1996 até as novas diretrizes estabelecidas em 2014 no PNE. É 
imprescindível que a escola e os professores estejam atentos às transformações que acontecem 
no mundo e que são trazidas para a sala de aula. 
Figura 5 − Os avanços na educação foram significativos, mas ainda é necessário li-
dar com diversos desafios em um mundo permeado pelos avanços da Era Digital.
Fonte: Shutterstock, 2015.
Nesse cenário de permanência de analfabetismo, ainda se faz necessário adequar o ensino às 
novas tecnologias, que chegam rapidamente. Nem todas as escolas estão preparadas para atuar 
com elas, e nem mesmo os professores estão totalmente adaptados. Pelo menos, essa ainda cos-
tuma ser a realidade na maioria das escolas públicas do país. Você conhece alguma instituição 
assim? Isto ainda é realidade no ensino público brasileiro em todas as regiões do país?
Em contrapartida, há diversas escolas particulares nas áreas urbanas que são privilegiadas, 
pois contam com profissionais mais bem preparados para atuar do ponto de vista do ensino de 
conteúdos, e que sabem utilizar os aparatos tecnológicos para situar os alunos nas mais novas 
tecnologias e assim por diante. 
Além do problema tecnológico, ainda há muitos problemas que fazem parte do dia a dia escolar 
e que, historicamente, sempre estiveram ligados à história da educação. Um deles é a questão 
da valorização do profissional de educação. Será que a situação mudou muito em relação aos 
anos em que a educação no Brasil não era democrática? 
17
4.3.1 O professor e a sala de aula
Figura 6 − Os desafios vão além do atendimento às leis governamentais.
Fonte: Shutterstock, 2015.
A profissão de professor ainda é pouco valorizada socialmente. Poucos são aqueles que vão 
atuar na educação porque sempre o desejaram. Segundo a Agência Universitária de Notícias 
(2008), estudos mostram que grande parte dos profissionais da educação não seguiram outras 
carreiras porque não tiveram outras oportunidades de estudo. Eles acabam sendo atraídos pelas 
salas de aula, mas não possuem qualificação necessária para atuar didaticamente, nem possuem 
as ferramentas para lidar com um trabalho que é extenuante por vezes. 
Somando-se a isso, há ainda o grave problema da questão da indisciplina e violência presentes 
nas escolas de todo o país. São diversos os episódios que denunciam a falta de interesse por 
parte dos alunos, o que, segundo pesquisas realizadas em diversos segmentos, vem a ser um dos 
maiores entraves do processo educativo nas salas de aula. Além disso, como aponta Ghiraldelli 
(2006, p. 29), há uma crise da própria escola, que “[...] se reordena em termos empresarias no 
sentido da sua administração e da objetivação de suas metas voltadas para os fins propostos 
pelo marketing.”.
Os desafios, portanto, são inúmeros e passam até mesmo pelo fracasso escolar do aluno que 
não se adapta ao modelo que hoje é implantado na maioria das escolas. Grande parte das insti-
tuições utiliza o método tradicional, conteudista, que contempla o vestibular e exames nacionais 
como o Enem. Outras tendem a seguir a linha construtivista, que visa trabalhar a partir do 
conhecimento construído do educando. Ainda há aquelas que ainda nem conseguiram alinhar 
alguma proposta pedagógica definitiva ou clara. 
Que tal saber um pouco mais sobre as concepções construtivistas? Não deixe de ler 
Pensamento e Linguagem, de Lev Semenovich Vygotsky. No livro, o famoso pedagogo 
aborda a questão da formação do pensamento e da linguagem nas crianças.
NÃO DEIXE DE LER...
18 Laureate- International Universities
História da educação
É importante, portanto, buscar caminhos para minimizar os problemas de convívio na escola, que 
é local de aprendizagem. Aprender também significa conviver com as diferenças e estabelecer o 
princípio de tolerância em um mundo que está constantemente em modificação.
Para refletir sobre essas considerações, leia Filosofia e Educação no Emílio de Rousseau 
– o papel do educador como governante, organizado por Claudio Almir Dalbosco. O 
livro é uma reunião de comentários coletivos que tentam fazer uma reflexão acerca dos 
problemas relacionados à prática docente. Os comentários são discutidos em tônica 
filosófica, mas não deixam de lado os aspectos pedagógicos da docência.
NÃO DEIXE DE LER...
4.4 O papel do pedagogo ao longo da história
O que é ser pedagogo para você? Em quais momentos já se perguntou sobre essa questão? Até 
onde pode ir um profissional formado em pedagogia? O pedagogo é aquele profissional que 
atua na formação direta de um indivíduo. Este sempre foi o seu papel ao longo da história da 
profissão, que nem sempre esteve regulamentada ou, ainda, não era vista com “bons olhos”. 
O berço da pedagogia foi a Grécia Antiga, lugar onde surgiramos primeiros pedagogos da his-
tória. Estes costumavam ser grandes filósofos ou dominadores da arte da retórica, que, de algu-
ma maneira, acabavam ficando a cargo da educação e do preparo dos indivíduos para atuarem 
na vida adulta. Sócrates, Platão e Aristóteles podem ser entendidos como os primeiros grandes 
pedagogos. Além de intuírem e protagonizarem o exercício da profissão, os três deixariam, 
como grande legado para as gerações e as civilizações futuras, reflexões acerca da capacidade 
de transmissão e aquisição de conhecimento, tanto por parte do pedagogo como por parte do 
educando. Tanto é que suas teorias foram retomadas em Roma por Cícero. Nesse sentido, por 
trás de toda a nossa Modernidade, coloca-se não somente a Idade Média, mas especialmente a 
Idade Antiga (CAMBI, 1999).
4.4.1 As transformações da profissão através dos tempos
O papel do pedagogo passou por enormes transformações ao longo da história. Se considerar-
mos que, na Antiguidade, ele era um formador de intelectuais e que, na Idade Média, o papel do 
educador foi quase totalmente legado aos sacerdotes, teremos uma explicação clara e justa para 
o famoso mito de que ser pedagogo ou ser professor é ter vocação para o sacerdócio. 
Isso acontece porque na Idade Média, assim como por muito tempo durante os anos que se 
seguiram até a chegada da Modernidade, a atividade do pedagogo não era remunerada. Além 
disso, ainda exigia uma dedicação total por parte daqueles que estavam incumbidos de exercê-
-la. O mesmo pode ser dito sobre os padres jesuítas, que se mantiveram em diversas colônias da 
metrópole portuguesa, com o intuito de promover a fé católica entre os séculos XVI até meados 
do XVIII (ARANHA, 2006). Eles não recebiam pelos serviços de catequização, salvo aqueles que 
estivessem nas mais altas hierarquias. 
Quando houve a necessidade de se instituir a educação laica em diversas partes do mundo, após 
as Revoluções Industrial e Francesa, ambas no século XVIII, não havia professores qualificados 
para atuar nas disciplinas. O que existia eram profissionais formados em carreiras consideradas 
bacharelescas, que acabavam ministrando aulas segmentadas, que não tinham uma relação 
19
direta entre elas. Mais uma vez, a educação era legada àqueles cujo preparo para exercer as 
práticas educativas era extremamente restrito. 
Mundo afora, já se discutia e pensava a necessidade da regulamentação do profissional 
pedagogo, assim como das práticas pedagógicas. Tanto é que foram muitos os nomes que 
atuaram prontamente no desenvolvimento das novas práticas, em geral experimentais, mas que 
buscavam seguir um caminho contrário ao já estabelecido, em termos de práticas pedagógicas. 
Maria Montessori foi uma delas. Não somente foi uma médica brilhante, como também uma 
mulher que esteve à frente de seu tempo, contribuindo para a criação de escolas infantis. Ela na 
Europa, e Nísia Floresta no Brasil foram mulheres que marcaram a história da pedagogia, bem 
como a prática da profissão no mundo. 
Foram longos os anos em que a profissão de pedagogo esteve marcadamente caracterizada 
como uma profissão feminina. Isso se deve ao fato de que, quando houve a necessidade de es-
tabelecerem as primeiras escolas primárias, ainda em meados do século XIX, alfabetizar foi uma 
maneira encontrada por algumas mulheres de fugir da obrigação de terem de se casar. Para ou-
tras, era uma opção profissional muito melhor do que ser lavadeira, por exemplo. “O magistério 
transformou-se em trabalho de mulher.” (PRIORE, 2006, p. 449). 
Com a Constituição de 1934 e a institucionalização do ensino primário, as mulheres passariam a 
dominar as salas de aulas. Foram para o magistério, onde encontraram a possibilidade de “[...] 
trabalhar com uma remuneração [...]” e ainda “[...] garantir tempo para as atividades domésticas 
e cuidar dos filhos.” (PRIORE, 2006, p. 450).
Figura 7 – O pedagogo é aquele que indica os rumos do saber, sejam eles em quais-
quer áreas de atuação. Sua área de atuação mudou muito através da história.
Fonte: Shutterstock, 2015.
O reconhecimento da profissão de pedagogo, ao menos no Brasil, somente se daria de maneira 
legal em 1940. Foi quando ocorreu a reorganização dos cursos de magistério, os quais hoje 
seriam os de nível médio, e as escolas “normais” − ou seja, de interesse de cultura geral − tor-
20 Laureate- International Universities
História da educação
naram-se reduto de moças de classe média em busca de uma profissão. (ARANHA, 2006). Isso 
acentuou ainda mais a presença feminina na pedagogia. Vale lembrar que os cursos preparavam 
apenas para a atuação em Educação Infantil e nas primeiras séries do Ensino Fundamental. 
No entanto, todas as modificações concebidas pela LDBN modificaram profundamente esse 
panorama. Hoje, o profissional da pedagogia é, acima de qualquer relação de gênero, um ser 
intelectual que exerce um papel transformador na sociedade. O profissional é preparado para 
ser um mediador do conhecimento, algo muito próximo ao que era em sua concepção inicial, 
na Grécia Antiga. Mais do que isso: a profissão hoje pode ser entendida como uma das mais 
fundamentais, visto que seu campo de atuação supera as salas das escolas de educação básica. 
O profissional da pedagogia assumiu o papel de mediador do conhecimento também no merca-
do de trabalho, local em que ele pode atuar explorando todas as suas potencialidades enquanto 
educador, organizador, projetista, gestor e criador de novas concepções. A profissão não deve 
ser restrita ao gênero. Ela apresenta desafios como quaisquer outras no mundo em que vivemos, 
em que as mudanças são ainda mais acentuadas do que em outros tempos. 
4.4.2 Os quatro pilares para a educação e as tendências filosóficas que 
norteiam as práticas pedagógicas
Os desafios da educação para o século XXI estão presentes no Relatório Educação: um tesouro a 
descobrir para a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (Unes-
co), que tem como meta, nos países onde a organização é atuante, corroborar o desenvolvimen-
to da educação. Para a Unesco (2012), a educação deve ter como foco o desenvolvimento da 
personalidade humana, bem como o fortalecimento do respeito aos direitos humanos, também 
estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos do Homem. 
Partindo dessa premissa, há vários desafios para a educação do século XXI, e para conseguir 
atingir as metas dos planos de educação, os planos e estratégias devem estar calcados nos qua-
tro pilares da educação. Assim, para a Unesco (2012), o desafio é conseguir universalizar a 
educação com base em quatro aprendizagens necessárias: 
•	 aprender a conhecer, adquirindo instrumentos de compreensão; 
•	 aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; 
•	 aprender a viver junto, cooperando com outros alunos em todas as atividades humanas; 
•	 aprender a ser, conceito que está diretamente ligado aos anteriores. 
Entre os muitos desafios na educação, está a adoção de uma linha pedagógico-filosófica pelas 
escolas. Não há um consenso sobre qual é melhor delas, mas todas deveriam atender às metas 
apontadas no Relatório. 
No Brasil, várias linhas foram desenvolvidas. A linha tradicional, aquela na qual a figura do 
professor é central, enquanto a do aluno apenas recebe o conhecimento, é ainda largamente 
adotada por diversas escolas, bem como vista “[...] como a boa e forte pedagogia.” (ARANHA, 
2006, p. 234). No entanto, sempre foi combatida por diferentes teóricos ao longo da história. 
21
Também existe a pedagogia tecnicista que, influenciada pela filosofia positivista, baseia-se 
na transmissão dos conhecimentos realizada por meio de recursos didáticos tecnológicos. Já a 
pedagogia crítico-social dos conteúdos ou, como também é conhecida, a pedagogia histó-
rico-crítica, busca:
Construir uma teoria pedagógica a partir da compreensão de nossa realidadehistórica e social, 
a fim de tornar possível o papel mediador da educação no processo de transformação social. 
Não que a educação possa por si só produzir a democratização da sociedade, mas a mudança 
se faz de forma mediatizada, ou seja, por meio da transformação das consciências. (ARANHA, 
1996, p. 216).
Quais linhas pedagógico-filosóficas você conhece? Cabe a nós, educadores, observar quais são 
os métodos mais adequados para que as metas definidas pela Unesco sejam atingidas.
22 Laureate- International Universities
Síntese
•	 O processo de redemocratização do país proporcionou debates calorosos em diversas 
áreas, em especial na educação. Foram várias as forças que se uniram em prol de um 
debate que envolvesse os diferentes setores da sociedade.
•	 A nova Constituição, promulgada em 1988, trazia novidades até então nunca vistas na 
educação: foi estabelecida a obrigatoriedade de que o governo, ao lado da família e da 
sociedade, provesse o direito ao acesso à escola, bem como a permanência nela.
•	 A gratuidade do ensino, bem como o respeito à pluralidade, tornaram-se garantias na 
forma da lei, contemplando uma reivindicação há muito tempo feita pela sociedade 
brasileira. 
•	 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (atualizada em 2013) traz a 
garantia da igualdade de condições de acesso e permanência na escola para as crianças 
e jovens, e a liberdade tanto para aprender quanto para ensinar, pesquisar, divulgar o 
livre pensamento, a arte e os saberes. Também assegura a equidade no pluralismo de 
ideias e de concepções pedagógicas, bem com a coexistência de instituições públicas e 
privadas de ensino; a valorização do profissional de educação; uma gestão democrática 
do ensino público e a garantia de um padrão de qualidade na educação para todos. 
Estes itens sempre estiveram na pauta das figuras mais preocupadas com as questões 
educacionais do país. Ainda, foram promovidas mudanças no currículo nacional que 
permitiram a universalização e uniformização do ensino básico no país. 
•	 Embora diversas conquistas tenham sido alcançadas em âmbito nacional, a questão do 
analfabetismo ainda é algo que persiste na educação brasileira, assim como a evasão 
escolar e os baixos índices de avanços educacionais no país. 
•	 O profissional da educação ainda é pouco valorizado no Brasil, além de enfrentar desafios 
constantes em suas rotinas de trabalho nas escolas, o que acaba dificultando ainda mais 
os avanços na educação. 
•	 Há uma grande disparidade ainda entre instituições públicas e privadas. Ainda falta estrutura 
em diversas escolas espalhadas pelo Brasil afora, bem como materiais apropriados para 
adequação às novas realidades tecnológicas.
•	 O pedagogo é o profissional que atua na formação direta de um indivíduo. Esse sempre 
foi o seu papel ao longo da história da profissão, que nem sempre esteve regulamentada. 
Sua área de atuação é ampla e não se limita aos âmbitos exclusivamente escolares. 
•	 Várias são as práticas pedagógicas difundidas hoje, como: tecnicista, tradicional e crítico-
social dos conteúdos. Seja uma ou outra a prática adotada, é importante atender às 
metas dos quatro pilares da educação propostos pela Unesco.
Síntese
23
Referências
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Paulo: Moderna, 2006.
BRASIL. Constituição (1946). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada 
em 18 de setembro de 1946. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitui-
cao/constituicao46.htm>. Acesso em: 17 jun. 2015.
______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada 
em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Constituicao.htm>. Acesso em: 17 jun. 2015.
______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação 
nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm>. Acesso em: 
1 jul. 2015.
______. Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 
1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a formação 
dos profissionais da educação e dar outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12796.htm>. Acesso em: 1 jul. 2015.
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: Ed. Unesp, 1999.
CHAN, Iana. Licenciaturas não dão conta da demanda por professores qualificados. Agência 
Universitária de Notícias, São Paulo, ano 41, nº 85, 16 set. 2008. Disponível em: <http://
www.usp.br/aun/exibir.php?id=2325>. Acesso em: 22 jun. 2015.
DALBOSCO, Cláudio (Org.). Filosofia e educação no Emílio de Rousseau: o papel do edu-
cador como governante. Campinas: Alínea, 2011.
ESCRITORES da liberdade. Direção e roteiro: Richard LaGravenese. Estados Unidos: Paramount, 
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FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não! Cartas a quem ousa ensinar. 23. ed. São Paulo: 
Olho Dágua, 1997.
GHIRALDELLI, Paulo Júnior. O que é pedagogia? 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.
GUIMARÃES, Larissa; PINHO, Ângela. Novo plano prevê erradicação do analfabetismo do Brasil 
até 2020. Folha de S. Paulo, São Paulo, 4 mar. 2010. Disponível em: <http://www1.folha.uol.
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Bibliográficas
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História da educação
NISKIER, Arnaldo. Dez anos de LDB: uma visão crítica. Rio de Janeiro: Consultor, 2007.
PRIORE, Mary Del. Mulheres na sala de aula. São Paulo, Contexto: 2006. 
UNESCO. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a Unesco da Comissão Interna-
cional sobre Educação para o século XXI. Brasília: Unesco; São Paulo: Cortez, 2012. 7. ed. rev. 
VYGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

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