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A ditadura militar e a censura no jornal impresso

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A ditadura militar e a censura no jornal impresso (O Estado de São 
Paulo) 
1
 
 
 
NASCIMENTO, Amanda Caroliny Alves
2
 
Universidade Federal do Piauí – Teresina/PI 
OLIVEIRA, Karolyne Thracy de Sousa
3
 
Universidade Federal do Piauí – Teresina/PI 
DIAS, Nadja Clícia Viana
4
 
Universidade Federal do Piauí – Teresina/PI 
REIS, Marcela Miranda Félix dos
5
 
Professora, jornalista e historiadora – Teresina/PI 
 
 
RESUMO 
Este artigo tem como objetivo analisar o papel da censura nos meios de comunicação impressos no 
contexto da Ditadura Militar, especificamente, no jornal O Estado de São Paulo, nos anos de 1972 a 1975. 
A metodologia consiste na análise de conteúdo das páginas censuradas do jornal, que foi selecionado 
como objeto de estudo devido aos posicionamentos adotados pelo veículo quanto a ditadura, a princípio 
favorável e posteriormente contrário ao regime, sofrendo as consequências da censura. Utilizando como 
aportes teóricos autores que discutem a censura aos meios de comunicação ao longo da história do 
jornalismo, como Maria Aparecida de Aquino e Marialva Barbosa. Dentre os resultados obtidos, percebe-
se a forte influência da censura nas páginas do veículo em questão, caracterizando assim naquela época 
um modelo de jornalismo específico praticado pelas grandes empresas de comunicação, que omitiam 
informações, eram parciais e se autocensuravam adequando-se ao regime. 
 
PALAVRAS-CHAVE: mídia impressa; jornalismo; história; ditadura militar; censura. 
 
 
 
 
1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Impressa, integrante do 9º Encontro Nacional de 
História da Mídia, 2013. 
2 Graduando do curso de Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, da Universidade Federal do 
Piauí. Email: amandacarolinne@hotmail.com. 
3 Graduando do curso de Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, da Universidade Federal do 
Piauí. Email: thracynha_ktso3@hotmail.com. 
4 Graduando do curso de Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, da Universidade Federal do 
Piauí. Email: nah.dias_mvp@hotmail.com. 
5 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Piauí. 
Especialista em Comunicação e Linguagens, graduada em Jornalismo e pesquisadora do Núcleo de 
Pesquisa em Comunicação e Jornalismo pela mesma instituição. Graduada em História pela Universidade 
Estadual do Piauí. Email: marcela.jor@hotmail.com 
 
 
2 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
O presente artigo faz uma abordagem do período da ditadura militar, dando 
enfoque na censura que se estabeleceu nessa época nos meios de comunicação, 
especificamente a imprensa escrita. A problemática se configura no reflexo da repressão 
no jornal O Estado de São Paulo entre os anos de 1972 a 1975, que se consolidaram 
como o momento mais radical do regime militar. 
Os métodos utilizados nesta pesquisa foram a análise de conteúdo que se deu com 
o processo de observação e interpretação de exemplares censurados do jornal O Estado 
de São Paulo dentre os anos de 1972 a 1975. A escolha pelo jornal foi dada pelos 
posicionamentos adotados por este veiculo quanto a ditadura, a princípio favorável e 
posteriormente padeceu com as consequências do regime. Os anos foram selecionados 
de acordo com o contexto histórico da ditadura, sendo o período de 1972 a 1975 os mais 
opressivos e os dias foram escolhidos por sorteio. Os exemplares analisados foram 
obtidos por meio de acervo online do jornal. A análise em si foi realizada mediante uma 
leitura e interpretação das páginas tendo como base uma ficha, contendo a data e a 
página, em que se busca entender o tipo de censura praticada e qual a postura do jornal a 
ela. A interpretação dos autores deste artigo usou como alicerce os estudos das 
pesquisadoras Marialva Barbosa e Maria Aparecida de Aquino. 
Diante do que as pesquisadoras expõem, é notório que a ditadura militar se 
caracterizou como um movimento político opressor, pois deu margem a situações 
extremas, como prisões, torturas, exílios, em nome do regime. Outra forma de 
contenção administrada pelas autoridades foi a censura nos meios de comunicação. Ao 
interpretar a linguagem contida nos jornais da época, percebem-se indícios da presença 
de censura, esta identificada de duas formas: a política e a empresarial, onde a política 
se restringia ao fato do jornal se adequar as vontades do Estado e na empresarial, os 
anunciantes detinham o poder de divulgar anúncios, estes que muitas vezes tomavam o 
lugar de notícias. 
O objetivo geral do presente artigo é corroborar as ações e repercussões da 
censura nas páginas do jornal O Estado de São Paulo. Os objetivos específicos são: 
discorrer sobre os períodos da ditadura militar, entender os tipos de censura, saber 
identificá-la, como é que é feita, como o jornal se portava diante dos mecanismos 
 
 
3 
 
utilizados pelo Estado para controlar as noticias, o papel do censor e conhecer a história 
do jornal Estado de São Paulo. 
O artigo em questão foi realizado com o intuito - um tanto de cunho social, por 
expor as ações e repercussões da censura na imprensa escrita - como também por 
motivo de interesse pessoal dos seus autores, devido ao fascínio que o período da 
ditadura militar desperta. 
 
2. A DITADURA MILITAR 
 
O período da ditadura militar no Brasil durou cerca de 20 anos. Iniciou-se com um 
golpe de estado que tomou lugar no dia 31 de março de 1964, foi marcado por um forte 
sistema centralista e autoritário, rompendo assim o regime democrático, além da 
cassação dos direitos de quem se opunha ao regime e a violação de liberdades 
individuais. 
O regime se instaurou a partir da alegação de que o presidente João Goulart seria 
uma “ameaça comunista” e estaria articulando com seus partidários um golpe 
comunista. Tais acusações surgiram a partir da situação do país naquele momento, como 
por exemplo: a crise econômica e as propostas de Goulart, tanto para resolver a crise, 
quanto para por em prática às reformas de base (salarial, agrária, bancaria fiscal, 
eleitoral e urbana). Os militares utilizaram-se então dessas alegações como justificativa 
para instalar o regime militar. 
Com a cassação de membros da oposição, os apoiadores do golpe tornaram-se 
maioria no Parlamento, que afirmou como próximo presidente o marechal Humberto de 
Alencar Castello Branco. Ele por sua vez, implementou uma política recessiva, com o 
seu Plano de Ação Econômica, cuja principal meta era conter a inflação. Para isso, 
cortou os gastos públicos e aumentou impostos. 
Neste período, observa-se que a ditadura se estruturou de forma plena com a 
edição dos AIs. No AI-2, o presidente prorrogou seu mandato até 1967, assim como 
estabeleceu a eleição indireta para presidente, extinguiu os partidos políticos e permitiu 
ao executivo cassar mandatos. Ao longo de seu mandato, em 1966, como resposta às 
pressões pelo fim do regime, foi instituído o AI-3, tornando indiretas as eleições para 
governador. Em dezembro do mesmo ano foi editado o AI-4, que fechou o Congresso e 
determinou as regras para a aprovação da nova constituição, votada em janeiro de 1967. 
 
 
4 
 
Desse modo, este momento foi crucial para a consolidação da ditadura militar. A 
sociedade brasileira começou a protestar de forma mais precisa contra o regime militar, 
fazendo com que os militares da “linha dura” tomassem a frente no comando do país. E 
para quem não acreditava que se vivia um regime ditatorial, o AI-5 veio para provar que 
os militares não teriam clemência. 
Sobre o inicio desse período, é válido ressaltar que o governante da época (Costa 
e Silva) tentou reinstaurar a democracia, porém com oaumento das forças opositoras 
passou a defender a permanência dos militares no poder e a radicalização gradual do 
regime. 
Por conta dessas agitações populares houve movimentos fortes que surgiram para 
contrapor o regime, um deles foi a Frente Ampla, onde pessoas que apoiaram o regime 
no início como: Carlos Lacerda, Magalhães Pinto, Adhemar de Barros, passaram a se 
voltar contra o mesmo. O que esse grupo reivindicava era a retomada do poder pelos 
civis, reformas econômicas e sociais, anistia geral, restabelecimento das eleições diretas 
em todos os níveis, reforma agrária ampla. Porém, o fechamento dos partidos e a 
extinção dos direitos políticos enfraqueceram a continuidade da Frente. 
Surgiram também nessa época os grupos de esquerda armada, formados por 
guerrilheiros urbanos que usavam a força para responder à pressão policial-militar que a 
ditadura impunha. Eram jovens que não acreditavam que o PCB (Partido Comunista 
Brasileiro) conseguiria derrubar o regime por meios pacíficos, as chamadas reformas 
estruturais. Então recorriam a atos terroristas, tais como: atentados, sequestros, assaltos 
a bancos. 
A UNE (União Nacional dos Estudantes) teve um papel importante nessa fase. 
Organizou e mobilizou os estudantes para que fossem às ruas protestarem contra o 
regime militar. Ela foi responsável pela Passeata dos Cem Mil e quase todos os 
protestos e passeatas contra a ditadura. Vale lembrar que a UNE era um movimento 
estudantil de esquerda e ilegal, pois seus líderes eram adeptos a doutrinas comunistas e 
sua unidade foi posta na ilegalidade justamente por isso. 
Foi no meio de tantos movimentos opositores que em 1968 surge o temido AI-5, 
impondo o fim dos direitos civis, o fechamento do Congresso Nacional, das 
Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais sob a ordem do presidente, permitia a 
 
 
5 
 
cassação dos parlamentares, limitava o poder do Judiciário, suspendia a garantia de 
habeas-corpus no caso de crimes políticos. 
Em 30 de Outubro de 1969, o general Emílio Garrastazu Médici assumiu a 
Presidência da República, tornando-se assim o terceiro general a ocupar o cargo e dando 
início ao que ficou conhecido como “os anos de chumbo” da história brasileira. Logo de 
início, interligou todos os escritórios relacionados ao Serviço Nacional de Informações 
(SNI). Com essa ligação entre os aparelhos do Estado - com todos eles funcionando a 
plena potência, além dos sistemas de vigilância estarem sendo administrados por 
profissionais treinados nos Estados Unidos - a repressão aos movimentos de esquerda se 
intensificou. 
Iniciou-se nos “porões da ditadura” uma radicalização da opressão, onde pessoas 
eram exiladas, presas, torturadas e até mortas sob o comando do Estado. Jornais, 
revistas, livros, peças de teatro, filmes, músicas e outras formas de expressão artística 
foram censuradas. Enquanto isso, os atentados e sequestros praticados pelos 
movimentos guerrilheiros tornaram-se mais intensos, o maior deles foi a Guerrilha do 
Araguaia derrotada pelo Governo. Porém, mesmo tendo o AI-5 à disposição, Médici, 
em seus quatro anos e meio no poder, não cassou nenhum mandato político. 
A grande opressão política que caracterizou os anos 1969 a 1974 deve-se ao fato 
de que Médici, para apaziguar ânimos dos militares direitistas radicais, cedeu aos 
interesses desses grupos, que consistiam em empregar sistematicamente a repressão 
policial-militar contra todos aqueles que se opusessem à ditadura. Foi neste espaço de 
tempo também o único momento em que o regime militar conquistou real estabilidade 
política. 
Foi no mandato de Médici, entre 1972 e 1974, que se desenvolveu o I Plano 
Nacional de Desenvolvimento (PND), onde foram definidas como prioridades do 
governo o crescimento e desenvolvimento, aproveitando a conjuntura internacional 
favorável. Nesse período o Brasil cresceu rapidamente, mais do que os outros mercados 
latino-americanos. O governo anunciava à população o “milagre econômico” e a nação 
assimilou a ideia de que o país estaria vivendo um surto de progresso, devido aos altos 
índices de desenvolvimento econômico atingidos. Este momento foi marcado também 
pela realização de grandes obras da iniciativa pública, como a rodovia Transamazônica, 
a ponte Rio-Niterói e Usina Hidrelétrica de Itaipu, além de promover uma explosão 
 
 
6 
 
consumista entre os setores médios da população, sustentada pela expansão do crédito e 
a manutenção dos índices salariais. 
Com a abertura do país ao capital estrangeiro, inúmeras empresas multinacionais 
se instalaram no Brasil e os grandes fazendeiros do país passaram a produzir visando à 
exportação. O “milagre econômico”, porém, não significou que o Brasil fosse capaz de 
se auto financiar, apesar do aumento considerável do PIB, o país continuava longe de 
sua autonomia econômica. O grande beneficiado desse “milagre” foi o capital 
estrangeiro e as empresas estatais que se expandiram muito durante o regime militar, 
especialmente a Petrobrás, a Vale do Rio Doce e a Telebrás. Já as pequenas e médias 
empresas eram sufocadas, perdendo espaço no cenário econômico nacional e 
aumentando seu endividamento externo. 
Por se manter prioritariamente do capital estrangeiro, o “milagre” não resistiu à 
crise internacional do petróleo em 1973. Na época, o Brasil importava mais da metade 
dos combustíveis que produzia e, por isso, não resistiu ao impacto causado pelos altos 
preços do petróleo. Em pouco tempo, a dívida externa e a onda inflacionária acabou 
com os sucessos do regime. A concentração da renda impediu que camadas mais 
populares melhorassem sua condição de vida, aumentando as desigualdades sociais e a 
pobreza neste momento. 
Apesar da opressão política existente e dos problemas socioeconômicos no final 
do mandato de Médici, este período de 1969 a 1974 foi marcado pela massiva 
divulgação de propagandas institucionais com o objetivo de promover o regime e elevar 
a moral da população. Slogans, músicas, frases de efeito, imagens, folhetos, todo tipo de 
meio de comunicação era utilizado para transmitir e defender o ufanismo nacionalista e 
dar um caráter positivo à ditadura militar. 
No período de 1974 a 1979, logo após o linha-dura Médici, aconteceu a eleição 
presidencial indireta, aprovando novamente o controle do poder pelos militares. Foi 
indicado para ser candidato do governo, e posteriormente, votado para presidente, o 
general Ernesto Geisel. 
 O país neste momento enfrentava dificuldades econômicas e políticas, pois era o 
fim do milagre econômico e a oposição se fortalecia, o que provocava certo receio na 
cúpula militar pela estabilidade do regime. Diante disso o governo de Geisel iniciava 
um processo controlado de abertura política, “lenta, gradual e segura”. 
 
 
7 
 
Esse processo se mostrou, de fato, lento, e teve grandes melhorias. Mas apesar da 
diminuição das denúncias de tortura e da suspensão da censura prévia à imprensa, em 
outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi encontrado morto nas dependências 
do Exército, em São Paulo, o que acarretou em protestos e manifestações públicas que 
denunciavam a morte por tortura. 
Com a iminência de derrota eleitoral, em 1977, Geisel fechou temporariamente o 
Congresso e instaurou o Pacote de Abril, um conjunto de regras eleitorais que 
apresentou entre outras mudanças a ampliação das bancadas do Norte e Nordeste na 
Câmara dos deputados, o que garantia maioria parlamentar à Arena, e a criação do 
senador biônico. 
Em 1978, Geisel institui uma emenda constitucional que acabou com o AI-5 e 
restaurou o habeas corpus. Com isso, abriu caminho a volta gradual da democracia. 
Mas antes disso, este governo impôs controles tanto a sociedadecivil como à 
liberalização política. Portanto, manteve a direita radical e o aparato de repressão, que 
continuava a praticar a tortura e a censura nos meios de comunicação. 
 
3. A CENSURA NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO 
 
Um dos marcos da ditadura foi a censura imposta pelo regime de exceção. 
 
Em um primeiro momento, entre 1968 e 1975, a censura assume um caráter 
amplo, agindo indistintamente sobre todos os periódicos. De 1968 e 1972 
tem-se uma fase inicial em que há uma estruturação da censura, do ponto de 
vista legal e profissional, e em que o procedimento praticamente se restringe 
a telefonemas e bilhetes enviados às redações. 
Na segunda fase (de 1972 a 1975) há uma radicalização da atuação censória, 
com a institucionalização da censura prévia aos órgãos de divulgação que 
oferecem resistência. Observa-se que em parte desse período o regime 
político recrudesce em termos repressivos, momento em que o controle do 
Executivo pertence aos militares identificados com a “linha-dura”. O ano de 
1972 marca a radicalização e a instauração da censura prévia, e coincide com 
a discussão da sucessão presidencial que levará à escolha do general Ernesto 
Geisel, oriundo da ala militar da “Sobornne” e que terá uma grande 
dificuldade de aceitação por parte dos militares da “linha-dura”. Estes 
prosseguirão controlando altos cargos (por exemplo, o Comando do II 
Exército em São Paulo), durante algum tempo. Entre 1975 e 1978, observa-se 
que a censura passa a ser mais restritiva e seletiva: lentamente vai se 
retirando dos órgãos de divulgação, bem como diminuem de intensidade as 
ordens telefônicas e os bilhetes ás redações. (AQUINO, 1999, p. 212) 
 
 
 
8 
 
Em se tratando da imprensa escrita, a censura demonstra-se de duas formas: a 
empresarial, que é quando o jornal se adequa as pretensões dos anunciantes de modo a 
valorizar os interesses destes, em detrimento de se omitir quanto a sua própria linha 
editorial; a censura política se faz de acordo com um contexto histórico preciso da 
ditadura, é exercida pelo Estado que determina o que pode ou não ser divulgado. 
 A censura política caracteriza-se como censura prévia e autocensura. A prévia é 
definida pelo direito que o estado tem de vigiar e interceder na publicação de 
periódicos; já a autocensura é aceitação das ordens emitidas pelo Estado na construção 
da noticia. Tais ordens eram informadas aos jornais através de telefonemas, cartas que 
eram encaminhadas as redações. 
Os jornais que se autocensuravam, e até mesmo os que sofriam a censura prévia, 
muitas vezes utilizavam-se de métodos para driblar a situação. Uma das consequências 
no jornal censurado era o surgimento de lacunas em suas páginas, que eram muitas 
vezes deixadas em branco ou preenchidas com letras de músicas, receitas poemas, 
anúncios irrelevantes, imagem descontextualizadas. 
Outro método eram as mensagens subliminares nos textos jornalísticos que 
emitiam ao leitor as ações e repercussões do regime. Com isso, os censores mudavam a 
abordagem para com os jornais, movendo assim a censura para outro local, tais como a 
delegacia. 
Os censores eram membros da Policia Federal, sob o comando do Estado, e se 
responsabilizavam por monitorar o jornal de acordo com seus interesses, tendo o poder 
de veto das noticias que feriam os interesses da ditadura. Com o passar do tempo, os 
censores foram submetidos a um processo de uniformização, que exigia nível 
universitário, e foram “obrigados” a frequentar a Academia Nacional de Polícia fazendo 
testes que teoricamente unificavam a sua capacitação. Mas os censores, por serem de 
diversas áreas acadêmicas, muitas vezes não compreendiam a realidade jornalística. 
Maria Aparecida de Aquino (1999, p.233) conclui de forma sucinta e clara a ideia 
central da censura neste período: “As variáveis de ordem temporal e a diversidade dos 
periódicos em face dos objetivos do Estado autoritário brasileiro, permitiram a 
elaboração de um perfil, multifacetado e não-aleatório, da atuação da censura”. 
Constata-se tal fato, diante da análise de conteúdo do jornal O Estado de São 
Paulo. 
 
 
9 
 
 
4. OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO (O ESTADO DE SÃO 
PAULO) 
 
Dos jornais da cidade de São Paulo que ainda estão em circulação atualmente, "O 
Estado de S. Paulo” é o mais antigo. Foi criado em 4 de janeiro de 1875, ainda durante o 
Império, e tinha o nome de “A Província de S. Paulo”. Após o estabelecimento de uma 
nova nomenclatura para as unidades da federação pela República, o jornal recebeu sua 
atual designação em janeiro de 1890. 
Com o propósito de combater a monarquia e a escravidão, durante a Convenção 
Republicano de Itu surgiu a ideia de se fazer um jornal engajado no ideário republicano 
e abolicionista. Essa proposta se concretizou quando Manoel Ferraz de Campos Salles e 
Américo Brasiliense reuniram 16 pessoas e fundaram O Estado de São Paulo, tendo 
como seus primeiros redatores Francisco Rangel Pestana e Américo de Campos. 
Diante da enorme responsabilidade de ser o principal veículo da cidade mais 
republicana do Brasil, pode-se dizer que o jornal foi crescendo com a cidade e 
influenciando cada vez mais a evolução política do país. 
 
Em 1964, “O Estado” apoiou o movimento militar que depôs o presidente 
João Goulart ao constatar que o mesmo já não tinha autoridade para 
governar. No entanto, entendia que a intervenção militar deveria ser 
transitória. Quando se evidenciava que os radicais de extrema direita 
aumentavam sua influência, objetivando a perpetuação dos militares no 
poder, O Estado retirou seu apoio e passou a fazer oposição. Em 1966 o 
Grupo Estado aumentou consideravelmente seu envolvimento com a cidade 
ao lançar o Jornal da Tarde, um diário com um acompanhamento especial dos 
problemas urbanos. Dois anos depois tanto O Estado de S. Paulo como o 
Jornal da Tarde passaram a ser censurados pela sua posição contrária ao 
regime militar, resistindo bravamente com a denúncia da censura através da 
publicação de poemas de Camões e receitas culinárias, respectivamente, em 
lugar das notícias proibidas. A censura só seria retirada em janeiro de 1975 
com o projeto de distensão política iniciado pelo governo do general Ernesto 
Geisel. (PONTES, José Alfredo Vidigal. Histórico Grupo Estado. Em: < 
www.estadao.com.br/historico/resumo/conti5.htm>. Acesso em: 28 de Março 
de 2013.) 
 
Em 13 de dezembro de 1968 por ordem da ditadura militar o jornal é impedido de 
circular, o motivo alegado seria o conteúdo do editorial “Instituições em frangalhos” 
escrito por Júlio de Mesquita Filho. Este momento deu inicio a censura dentro da 
redação de “O Estado de S. Paulo”. No ano de 1971 o jornal passa a publicar assuntos 
 
 
10 
 
não habituais na 1ª página ao invés dos textos censurados, como por exemplo, os 
poemas de Camões. 
O jornal “O Estado de S. Paulo” completou 100 anos de existência no dia 4 de 
janeiro de 1975, mas comemorava apenas 95 de vida, ignorando os cinco anos em que 
foi dirigido pela ditadura militar de Vargas (1940-45). Neste mesmo dia é suspensa a 
censura nas redações de "O Estado". 
A análise feita nas páginas do “Estado” demonstra as formas e os tipos de censura 
imposta na época. 
 
5. ANÁLISE DOS EXEMPLARES 
 
Para ratificar o impacto da censura no jornal O Estado de São Paulo, foi escolhido 
o período de 1972 a 1975 por ser a fase mais radical da ditadura, sendo que os dias 
foram estabelecidos por meio de sorteio devido à extensão das potenciais amostras. 
Dessa forma no dia 19 de Setembro de 1972, na página 03, o jornal O Estado de 
São Paulo trouxe uma censura do tipo política feita na forma de censura prévia, onde o 
censor se instalava na redação e avaliavaas matérias, retirando aquelas que se 
mostravam de oposição à postura do regime, deixando lacunas na página do jornal. 
Para maquiar a censura o jornal preencheu essas lacunas das matérias censuradas 
com notas e imagens. Nesta edição, no lugar de uma das notícias censuradas foram 
colocadas as chamadas do jornal, sendo que deveriam vir na primeira pagina e não na 
terceira, expondo explicitamente a presença da censura. Também se observou a 
utilização de imagem, que aparentemente é irrelevante, ao invés da noticia. 
 
 
Figura 1 - Jornal O Estado De São Paulo, São Paulo, Ano 93, Nº 29.899, 1972. 
 
 
 
11 
 
 No dia 19 de Junho de 1973 na página 07 o jornal trouxe a censura do tipo 
empresarial, onde os anunciantes interferiam na vinculação da informação, que foi 
exercida na forma de autocensura, pois o jornalista se baseia em um molde do que se 
pode ou não escrever no processo de construção da noticia. Diante disso o jornal 
divulgou anúncios ao invés de notícias. 
No dia 19 de Junho de 1973, página 06, a censura imposta foi do tipo: política, 
porque se observou certa abordagem sobre o presidente. Foi feita na forma de 
autocensura, pois houve uma adequação da linguagem do texto com o objetivo de se 
fazer uma critica velada. Assim o jornal fez essa critica implícita ao utilizar-se de um 
texto com linguagem poética, exaltando a figura do presidente, quando na verdade era 
de cunho irônico e delatava assim implicitamente as intenções do presidente. 
 
 
Figura 2 - Jornal O Estado De São Paulo, São Paulo, Ano 94, Nº 30.129, 1973. 
 
No dia 15 de Agosto de 1974, na página 04, a censura se mostrou novamente do 
tipo empresarial, pois se observa o contexto de publicidades. Mediante a autocensura, 
onde a página do jornal foi publicada retirando-se certos anúncios, sendo que, ao que 
parece, foi pressão de anunciantes e censores. O jornal trocou estes anúncios por outros 
anúncios irrelevantes. Percebe-se também uma censura política, com a troca de uma 
noticia por um poema de Luis de Camões. 
 
 
 
12 
 
 
Figura 3 - Jornal O Estado De São Paulo, São Paulo, Ano 95, Nº 30.486, 1974. 
 
No dia 03 de Janeiro de 1975, na página 04, a censura se colocou mais uma vez 
do tipo política, por que a temática da matéria era de cunho político. A noticia foi 
publicada mediante censura prévia, pois se sabe que o jornal é diagramado de maneira 
que a matéria ocupe todas as colunas que lhe foram reservadas. Observa-se que nesta 
página uma das matérias não ocupou todas as colunas. O jornal foi divulgado com parte 
da matéria substituída por um trecho do livro Os Lusíadas de Luís de Camões, que 
aparentemente não faz relação direta com ela. 
Portanto, pode-se sintetizar que a censura se portou de diversas formas, em se 
tratando do jornal citado acima, é possível observar que em determinados momentos a 
censura é política, com a retirada de textos deixando lacunas e pensamentos críticos 
inconclusos. Se apresentando também de forma empresarial, pois os anunciantes 
pressionavam o jornal para divulgar apenas o que era do seu interesse, muitas vezes 
excluindo noticias em detrimento de anúncios irrelevantes, de maneira que, mostrava ao 
leitor as ações e repercussões do regime. 
 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O contexto político e econômico em que vivia o país no período da ditadura 
militar influenciou de forma considerável a pratica jornalística. Os meios de 
comunicação diante da função de mediador das discussões políticas e econômicas, 
 
 
13 
 
exercem um papel social neste momento ao dar visibilidade a esses assuntos 
imprescindíveis para a população. 
O jornal impresso assumiu essa função de meio articulador de discussões 
importantes, e se constituiu naquele momento um fazer jornalístico crucial para a 
história do nosso jornalismo. A posteriore as práticas jornalísticas assumiram uma 
postura diferente com relação à abordagem do tema política, sendo uma das heranças da 
censura. 
A censura regulou por um longo período os jornais, restringindo as suas ações de 
compromisso social. Ao que vem se tratar de O Estado de São Paulo, que se adequou a 
conjuntura política da época, usando de estratégias como maquiar as denúncias e 
discussões políticas em suas matérias para driblar a censura no intuito de cumprir o seu 
papel social. 
Após a análise fica claro a importância deste momento tanto no cenário histórico 
brasileiro como no fazer jornalístico. O artigo é relevante por reunir todos os contextos, 
seja o da ditadura em si, seja a censura nos meios de comunicação, proporcionando uma 
reflexão fundamental sobra o comportamento jornalístico de outrora e o atual. 
 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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1978): o exercício cotidiano da dominação e da resistência: O Estado de São Paulo e 
Movimento. Bauru: EDUSC,1999. 
 
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Educação: Pesquisa escolar, vestibular e dicas para alunos, pais e professores – UOL 
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1974-milagre-economico-e-a-tortura-oficial.htm 
 
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1974.html 
 
 
 
14 
 
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2013, 17h22. No site Estadão.com.br – Portal de noticias de O Estado de S. Paulo: 
www.estadao.com.br/histórico/resumo/conti1.htm 
 
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03-2013, 08h30. No site Brasil Escola – Educação, Vestibular, ENEM, Educador, 
Exercícios: www.brasilescola.com/historiab/general-medici.htm 
 
JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo, ano 93, nº 29.899, 1972. 
 
JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo, ano 94, nº 30.129, 1973. 
 
JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo, ano 95, nº 30.486, 1974. 
 
JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO, São Paulo, ano 95, nº 30.605, 1975.

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