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Antropologia cultural e os não humanos

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ANTROPOLOGIA CULTURAL E OS NÃO-HUMANOS
MÜLLER NETO, Paulo. RU: 1402166
Polo: Rio do Sul
RESUMO
O presente portfólio foi escrito com o intuito de realizar uma análise da história, desde os idos da Idade Média até a contemporaneidade, a fim de tentar compreender como o Capitalismo Industrial apropriou-se de determinados objetos não-humanos, acrescentando-lhes um valor místico inexistente como mecanismo capaz de atrair e convencer a humanidade que objetos não-humanos providos de luxo fetichizado podem compensar ilusoriamente sentimentos de inferioridade e levar a uma falsa felicidade aos seres humanos. No que tange a essa ideia, o que observou-se nos últimos 250 anos após a Revolução Industrial e, principalmente, nas últimas décadas, é que o fetiche revelou-se um meio ilusório de felicidade que levou a humanidade a uma crise e vazio existenciais sem precedentes.
Palavras-chave: Objetos não-humanos; Fetiche; Crise existencial.
INTRODUÇÃO
	A Revolução Industrial trouxe mudanças positivas na vida das pessoas como melhor qualidade de vida. No entanto, reações negativas foram também observadas nas sociedades capitalistas, dente elas, o consumismo exacerbado.
	O objetivo geral do referido artigo é mostrar as consequências da fetichização como forma de vender mais e gerar nos indivíduos uma falsa sensação de felicidade.
	Inicialmente será mostrada como deu-se, nos fins da Idade Média, o processo de mercantilização de bens e produtos. Esta mudança somente foi possível graças ao advento do protestantismo que pregou um novo paradigma: “O trabalho dignifica o homem”.
	Posteriormente, será visto que no século XVIII outros fatores ocorridos na Inglaterra deram início a uma nova etapa do Capitalismo – o Capitalismo Industrial – inaugurado pela nascente Revolução Industrial.
Mais adiante, ver-se-á que o Capitalismo Industrial engendrou o surgimento da Antropologia e da Sociologia, que em suas fases iniciais tiveram um olhar distorcido dos europeus em relação aos povos ditos “primitivos”. Teoria cunhada pelo nome de “Etnocentrismo”.
	Ver-se-á que nos últimos 250 anos a humanidade presenciou um salto exponencial na produção de produtos. O Capitalismo visa ao lucro e, para lucrar, precisa vender mais e mais. E, para angariar as vendas de não-humanos a indústria do Marketing aproveitou-se da fraqueza psicológica humana para vender seus produtos.
	De forma sintética será exposto que o fetiche no mundo Capitalista Pós- Industrial, criou na mente das pessoas a ideia de que o poder mercantilizado através de carros de luxo e smartphones ultra sofisticados aumentariam a sensação de poder que resultaria numa felicidade compensatório para amenizar os sentimentos de inferioridades, inerentes à espécie humana.
	Por fim, uma síntese o mais criteriosa possível será realizada para tentar, dentro do possível, explicar a relação entre humanos x não-humanos dentro de uma perspectiva sociológica e antropológica.
METODOLOGIA
A metodologia a ser utilizada serão as pesquisas de campo e bibliográfica. O período de pesquisa de campo será compreendida por observações no percurso de ida e volta ao trabalho durante 5 dias úteis. A pesquisa bibliográfica será realizada através de estudos de livros e vídeos do You Tube. O método a ser usado será do tipo qualitativo.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
	Durante o extenso período da Idade Média o homem, juntamente com a Ciência, ficaram em segundo plano, visto que nesse período o Conhecimento Religioso dominou e predominou de forma quase absoluta. Diga-se “quase absoluta” porque é mito afirmar que nesse período não houve Ciência. Baseando-se em estudos históricos, sabe-se que, ironicamente, os próprios religiosos – em especial os bizantinos, da Igreja Ortodoxa Romana Oriental - guardaram em seus mosteiros os conhecimentos em forma de manuscritos deixados pelos Gregos e Romanos (PROENÇA E LAGO, 1983)
	Com o advento do protestantismo houve uma forte mudança de paradigma que passou a pregar o trabalho e a riqueza (desde que justa e não abusiva) como elementos nobres sendo, portanto, contrários ao paradigma anterior que via no trabalho algo indigno ou uma forma de “punição”. Segundo Weber (1905) em sua famosa obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, faz referência ao trabalho, estimulando-o e o enfatizando como algo nobre e dignificante.
	De fato, o estímulo ao trabalho deu início ao pré-capitalismo que, por sua vez, influenciado pelo Renascimento Científico-Cultural, culminou na Revolução Industrial. Foi a partir do Renascimento cultural, consagrado pela inversão do teocentrismo para o antropocentrismo que renasce a Ciência, após um período de latência ocorrido durante a Idade Média. Portanto, segundo Weber (1905) o conhecimento religioso de cunho Protestante estimulou o trabalho e a Ciência, culminando na Revolução Industrial. 
Os adventos técnicos oriundos de descobertas científicas eram aplicados, em muitas ocasiões, na evolução da indústria. A Revolução Industrial trouxe o crescimento em progressão geométrica dos parques industriais europeus que demandavam de matérias-primas, escassos em muitos de seus países. Segundo Arruda (1983, p. 123): 
[...] Uma invenção trazia o aumento da produção, o que, por sua vez, aumentava o capital da indústria; esse capital podia então ser aplicado em novas experiências, donde provinham novas invenções que aumentavam de novo a produção, e assim por diante [...].
Nesta mesma época a Antropologia, ainda no seu processo inicial, partiu do pressuposto de que os povos ditos “tribais” dos Continentes africano, asiático e Oceania estavam em um estágio menos evoluído. Costa apud Comte (2005) cria sua teoria de cunho etnocêntrico de que as etnias encontravam-se em estágios diferentes de evolução. Comte acreditava que o homem partia do estágio de selvageria, evoluindo até o estágio máximo e final de evolução representados pela ordem e progresso. 
Tais ideias deram origem à teoria etnocêntrica que se baseava no pressuposto de que algumas etnias e/ ou civilizações eram mais evoluídas – ditas melhores, e que essas civilizações, no caso aquelas oriundas do Continente europeu, deveriam por motivos altruístas, “ajudar” as civilizações culturalmente mais atrasadas. O etnocentrismo, teoria sem fundamentação científica alguma e baseado em forte componente preconceituoso, serviu como “desculpa esfarrapada” para “justificar” o imperialismo europeu. Em outras palavras, o imperialismo do Século XIX, justificado por ideias altruístas, foi um saque aos recursos naturais abundantes nos continentes africano e asiático, até então escassos no industrializado e consumista continente europeu. 
De fato, o surgimento das Ciências Sociais, em especial a Antropologia e a Sociologia foi marcado por pensamentos e teorias infundadas, dentre elas o etnocentrismo. Porém, com o avanço no pensamento científico contemporâneo, tanto a Antropologia quanto à Sociologia repararam seus erros inferenciais do passado. Com isso, surge o relativismo cultural que vê na cultura humana não mais a partir de questões de mais/menos evoluídas, diferenças estas que separam culturas em superiores e inferiores, mas senão apenas em “diferenças culturais” abstraindo a ideia de superioridade d’uma em relação à outra.
A antropologia contemporânea atingiu um grau de diferenciação em relação à Antropologia inicial pois, com o passar do tempo, foi agregando conhecimentos de outras ciências como a Psicologia, História, Psiquiatria e Arqueologia, dentre tantas outras (BATALHA, 2004). E, ao observar os não-humanos, especificamente os não naturais – aqueles produzidos pelo homem, percebe-se que há uma gama deles fazendo parte do dia a dia dos seres humanos. Ao sair de casa para ir ao trabalho vê-se, pelas ruas, automóveis e smartphones como acessórios indispensáveis pelos seres humanos, seja pela praticidade que a eles estão apropriados ou pelo “fetiche” que estes não-humanos carregam consigo e que despertam no ego dos indivíduos uma carga de “sensação de superioridade” para “compensar”“sentimentos de inferioridade” inerentes aos seres humanos. Cloninger apud Adler (1999) psicólogo norte-americano, afirma em sua teoria que os seres humanos carregam consigo, mais ou menos instintivamente, sentimentos de inferioridade - sejam eles reais ou imaginários. Estes sentimentos de inferioridade comprometem a auto estima gerando sofrimento psíquico. Posteriormente, também quase que instintivamente, os seres humanos reagem contra este sentimento buscando superioridade através de não-humanos equipados com alto grau de Status, como carros de luxo e smartphones sofisticados (apenas como exemplo) para “compensar” esses sentimentos de inferioridade.
A publicidade e o marketing sabem disso, pois a maioria esmagadora dos publicitários para ser bem sucedidos necessitam conhecer esses mecanismos psíquicos presentes nos indivíduos para, posteriormente, encontrar uma forma de angariar as vendas e, a principal forma, é o fetiche. Para tanto, segundo Poliedro (2018) a indústria do marketing recorre ao “processo de fetichização” desses não- humanos, conferindo a eles um Status “inexistente”, ou seja, uma ilusão capaz de conferir aos indivíduos uma falsa sensação de superioridade. 
Ao resultado de décadas e décadas do uso do fetiche da indústria da mercantilização levou os seres humanos a um consumismo exacerbado que culminou num vazio existencial. Para aliviar este vazio, os seres humanos recorrem a medidas paliativas como o fanatismo religioso. Não que a religião seja má. De forma alguma. No entanto, percebe-se que “conhecer“ a si mesmo, buscando em seu Ego uma resposta para seus vazios existenciais os seres humanos poderão, “talvez”, encontrar uma resposta mais rápida, duradoura e eficaz para atenuar sua infelicidade.
Dessa forma, há de se entender que o processo de fetichização levou os seres humanos a um consumismo exacerbado e que, ao invés de aliviar, aumentou a crise existencial pelo qual passa a humanidade. Cabe a cada indivíduo investir em si mesmo, no trabalho incessante de descoberta do seu verdadeiro EU, a fim de tentar amenizar suas angústias oriundas de mecanismos de defesa mal resolvidas no qual a indústria do Marketing vê nesta questão uma brecha para investir no fetiche como forma de promessa; promessa de uma falsa felicidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
	A partir da leitura do presente portfólio foi possível compreender, sinteticamente, que o Protestantismo iniciado nos fins da Idade Média, trazendo consigo o Slogan de que o trabalho trazia dignidade e prosperidade aos homens foi um dos estopins da Revolução Industrial.
	A Revolução Industrial alavancou um avanço na produção e mercantilização dos produtos e que ao unir esta produção com o fenômeno psicológico do fetiche, deu certo Status aos produtos por ora produzidos a fim de aumentar ainda mais as vendas.
	O processo de fetichização dos não-humanos, dando a eles um certo ar de Status, contentação e falsa felicidade a quem dele fizer uso, fora minuciosamente utilizado pela indústria do Marketing, que aproveitou-se dos sentimentos de menos valia e baixa autoestima psicológicos dos seres humanos para utilizar meios de seduzi-los a consumir cada vez mais; como se o consumismo pudesse oferecer uma sensação de superioridade e amenizar sentimentos de inferioridade.
	Por fim, conclui-se que a fetichização dos não-humanos levou as sociedades Capitalistas Pós-Industriais a um consumismo desenfreado que culminou em um vazio existencial por ora jamais visto.
	Cabe, à humanidade em geral, repensar seu presente com seus derradeiros prejuízos existenciais a fim de procurar uma nova maneira mais saudável de consumo, mais pautado no essencial do que numa ilusão supérflua.
	
REFERÊNCIAS
ARRUDA, José Jobson de A. História Moderna e Contemporânea. 16 ed. São Paulo: ed. Ática, 1983.
BATALHA, Luís. Antropologia: uma visão holística. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa, 2004.
CLONINGER, Susan C. Teorias da Personalidade. 1 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: ed. Moderna, 2005.
POLIEDRO: Filosofia – Educação. Poliedro. Disponível em You Tube. Acesso em 30 set. 2018.
PROENÇA, Antonio Carlos; LAGO, Samuel Ramos. História Antiga e Medieval. São Paulo: IBEP, 1983.
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 5 ed. São Paulo: Pioneira, 1987.

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