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UNIVERSIDADE VILA VELHA DIREITO JAKELINE DE ANDRADE SILVA DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE VILA VELHA 2018 JAKELINE DE ANDRADE SILVA DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE Trabalho apresentado à Universidade Vila Velha, Direito Penal II, Orientador Mestre Carlos Magno Moulin Lima. VILA VELHA 2018 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. INTRODUÇÃO. Praticado um crime ou uma contravenção penal, nasce automaticamente a punibilidade, compreendida como a possibilidade jurídica de o Estado impor uma sanção penal ao responsável (autor, coautor ou partícipe) pela infração penal. A punibilidade consiste, pois, em consequência da infração penal. Não é seu elemento, razão pela qual o crime e a contravenção penal permanecem íntegros com a superveniência de causa extintiva da punibilidade. Desaparece do mundo jurídico somente o poder punitivo estatal: o Estado não pode mais punir, nada obstante a existência concreta e inapagável de um ilícito penal. Em hipóteses excepcionais, entretanto, a extinção da punibilidade elimina a própria infração penal. Esse fenômeno somente é possível com a abolitio crimínis e com a anistia, pois os seus efeitos possuem força para rescindir inclusive eventual sentença penal condenatória. De fato, a abolitio críminis funciona como causa superveniente de extinção da tipicidade, pois a nova lei toma atípico o fato até então incriminado. De seu turno, a anistia, por ficção legal e por força de sua eficácia retroativa, provoca a atipicidade temporária do fato cometido pelo agente, resultando na exclusão da infração penal. Isso se justifica pelo fato de tanto a abolitio criminis como a anistia serem veiculadas por meio de lei ordinária, de igual natureza àquela que no passado instituiu o crime ou a contravenção penal. Com efeito, se uma lei criou a infração penal, nada impede sejam os seus efeitos apagados por outra lei de igual hierarquia no universo jurídico. Art. 107. Extingue-se a punibilidade: As causas de extinção da punibilidade operam após o fato punível. Dessa forma, diante de certas circunstâncias, cessa o poder do Estado, seja na forma de pretensão punitiva, seja na forma de pretensão executória, de se apenar o cidadão pelo delito cometido. Segundo Paulo José da Costa Jr., contudo, não se deve confundir as causas de extinção da punibilidade com as condições objetivas de punibilidade, com as causas extintivas do crime (justificativas) ou com as causas de isenção de pena (dirimentes) (Curso de direito penal. 9. ed. São Paulo, Saraiva, 2008, p. 269). I – pela morte do agente; Em decorrência do princípio mors omnia solvit (a morte tudo apaga), a extinção da punibilidade pela morte pode ocorrer em qualquer momento ou ocasião, mesmo no decurso da execução da pena aplicada. Entretanto, a obrigação de reparação do dano decorrente da sentença penal condenatória estende-se aos sucessores, no limite do patrimônio transferido. Outro ponto importante a ser considerado é a sentença de extinção da punibilidade escorada em certidão de óbito falsa. Mesmo no caso de comprovação da falsidade, e do reconhecimento de que o agente ainda vive, persiste a extinção da punibilidade, visto não haver, em nosso sistema, revisão criminal pró-sociedade, contra o acusado (CPP, art. 626, parágrafo único). II – pela anistia, graça ou indulto; A anistia, a graça e o indulto são casos de indulgência estatal. A anistia é de atribuição do Congresso Nacional (CF, art. 48, VIII), sendo irrevogável, com caráter retroativo. Sua aplicação, contudo, só poderá ocorrer após exame do Poder Judiciário, em qualquer momento, desde antes da sentença até mesmo depois de seu trânsito em julgado. A anistia tem ampla extensão, excluindo o crime e suas consequências. Não pode ser revogada e, se não for condicionada, tampouco pode ser recusada. Já́ a graça e o indulto tem extensão menor que a anistia, pois extinguem apenas a pena, e não o crime. Enquanto o indulto é coletivo e espontâneo, a graça é individual e deve ser requerida. O indulto pode ser pleno – quando de fato extingue a pena – ou parcial, quando apenas a diminui. A anistia é utilizada majoritariamente para os delitos políticos, enquanto a graça e o indulto são dirigidos para os delitos comuns. E como a graça e o indulto extinguem somente a pena, os efeitos da condenação remanescem. III – pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; O presente inciso trata da abolitio criminis. A lei posterior, mais benéfica, que não considera mais crime a conduta dessa forma anteriormente tipificada, retroage para alcançar inclusive fatos com sentença condenatória transitada em julgado. Todos os efeitos penais da condenação, dessa forma, são extintos. IV – pela prescrição, decadência ou perempção; A prescrição consiste na perda, pelo Estado, do poder de punir em face do transcurso de certo período de tempo. Para maiores detalhes, v. os comentários aos arts. 109 a 118. A decadência consiste na perda do direito de representação ou de oferecimento de queixa pelo decurso do prazo estipulado na lei (v. comentário ao art. 103). Já́ a perempção é a perda do direito de movimentar ação penal privada causada pela inatividade do querelante, a presunção de que houve desistência da ação. Os casos de perempção são descritos no art. 60 do CPP: “Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal: I – quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II – quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36; III – quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV – quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor”. V – pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; A renúncia expressa ao direito de queixa é aquela apresentada perante o juiz, em declaração escrita, de maneira inequívoca. A renúncia tácita consiste na prática de atos incompatíveis com o exercício do direito de queixa, como aqueles que apontem para a conciliação das partes envolvidas. Após o oferecimento da queixa, não se pode mais falar em renúncia, mas em perdão. Para mais detalhes sobre a renúncia, v. comentários ao art. 104 do CP. Já́ a desistência, pelo querelado, da ação proposta consiste no perdão do ofendi- do, que, para gerar efeitos, deve ser aceito pelo querelado. Para mais detalhes sobre o perdão, v. comentários aos arts. 105 e 106 do CP. Vale salientar, entre- tanto, não se tratar aqui do perdão judicial, previsto no inciso IX deste art. 107. VI – pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; A retratação consiste em se retirar o que foi dito, desdizer-se. A lei permite a retratação nos casos de calúnia ou difamação (CP, art. 143) e de falso testemunho (CP, art. 342, § 3o). VII e VIII – (Revogados pela Lei n. 11.106, de 28.03.2005.) IX – pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. Pode o magistrado, diante de circunstâncias previamente definidas por lei, deixar de aplicar sanção ao agente do delito, conferindo-lhe,dessa forma, o chamado perdão judicial. Alguns casos em que se admite o perdão: homicídio culposo (CP, art. 121, § 5o); lesão corporal culposa (CP, art. 129, § 8o); injúria (CP, art. 140, § 1o); e outros casos mais. A Lei n. 9.807/99, em seu art. 13, trouxe inovações quanto ao perdão, ao es- tabelecer que “poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a consequente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: I – a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa; II – a localização da vítima com a sua integridade física preservada; III – a recupera- ção total ou parcial do produto do crime. Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso”. Vale ressaltar que, apesar de o texto da lei dizer que o juiz poderá́ aplicar o perdão, isso na verdade se trata de direito subjetivo do acusado. Presentes as condições para concessão, o perdão deve, em todas as ocasiões, ser concedido. REFERÊNCIAS: Masson, Cleber Rogério - Direito penal esquematizado - Parte geral- vol. 1 / Cleber Rogério Masson. – 4ª ed. rev, atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2011, p.853-854. Código Penal interpretado: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo / Costa Machado, organizador; David Teixeira de Azevedo, coordenador. – 7. ed. – Barueri, SP: Manole, 2017.p.166-168.
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