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MICROECONOMIA: NOÇÕES BÁSICAS E ESTRUTURAS DE MERCADO Joelson Gonçalves de Carvalho1 Sebastião Ferreira da Cunha2 Wagner de Souza Leite Molina3 Introdução ao Estudo da Microeconomia Como o próprio termo sugere, a microeconomia diz respeito a todos os fenômenos que ocorrem na escala dos agentes econômicos: os indivíduos, as famílias, os empreendimentos produtivos (dos quais estes participam) e se há interesse em compreender os agentes econômicos, deve-se dar atenção também aos ambientes de comercialização por eles frequentados, a relação existente entre os próprios bens econômicos a serem acessados, ou mesmo o modo pelo qual diferentes ramos de atividades econômicas podem estar estruturados. Cada uma destas coisas merece uma atenção especial da microeconomia, mas todas elas estão inter-relacionadas. Assim, muitas vezes a observação cotidiana pode extrapolar as fronteiras deste ou daquele assunto que nos livros são tratados em partes distintas – e quando se percebe isto, provavelmente já se entende um bocado de economia! Como não dá para entender tudo ao mesmo tempo, a separação entre temas se faz necessária – mas isso é apenas uma estratégia didática. Na prática, tudo está junto (inclusive a micro e a macroeconomia...). É também em nome da didática que as questões microeconômicas serão aqui abordadas a partir de situações corriqueiras, pois é no cotidiano e a partir decisões tomadas por pessoas comuns que as grandes tendências econômicas têm início. Oferta, Demanda e Equilíbrio de Mercado Demanda O conceito de demanda é simples: demanda é o ato de procurar um produto (bens econômicos) no mercado. Todos os produtos têm diversas variáveis que o consumidor leva em consideração ao decidir procurá-los no mercado. Contudo, dada a restrição 1 Professores de Economia do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar. 2 Professores de Economia do Departamento de Ciências Econômicas e Exatas da UFRRJ. 3 Professores de Economia do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar. orçamentária que, em maior ou menor grau, é compartilhada pela grande maioria das pessoas, o preço a ser pago pelos produtos é a variável fundamental, comum a qualquer produto demandado. Sendo assim, pode-se considerar que: i) a demanda de arroz se dá em função do preço, qualidade, marca, tipo, etc; ii) a demanda de cerveja se dá em função do preço, marca, temperatura, local, entre outros e, entre outros exemplos possíveis, iii) a demanda de perfume se dá em função do preço, cheiro, e marca, entre outros. A partir da condição coeteris paribus, ou seja, tomando como constantes todas as demais variáveis que interferem na demanda de um produto, a demanda pode ser definida em função do preço de o bem em questão, uma vez que ela é a única que interfere na demanda de todos os bens. E tendo como base a renda rígida dos consumidores, fica claro que a curva de demanda é negativamente inclinada, demonstrando uma relação inversa entre preço e quantidade demandada. Em outras palavras: quanto maior os preços (do arroz, da cerveja, do perfume), menor a demanda pelos produtos, e vice-versa, conforme o gráfico abaixo. A condição coeteris paribus é importante, pois ela significa que as outras variáveis que interferem na demanda são tomadas como constantes. Ou seja, não que não sejam importantes, mas são consideradas iguais para todos os produtos e, portanto, são deixadas para análises específicas. Assim, em síntese, a demanda de qualquer bem se dá em função de seu preço. Esquematicamente: 𝐷 = 𝑓 (𝑃) Box 1 – Bens de Giffen: uma exceção à regra Os bens de Giffen são uma exceção à lei de demanda, pois, para estes bens, aumentos de preço geram um aumento na quantidade demandada, enquanto reduções de preço geram redução na quantidade demandada. Ou seja: a curva de demanda de um bem de Giffen terá inclinação positiva. O exemplo mais citado na literatura é o caso de batatas para as famílias pobres inglesas. Quanto mais as batatas subiam de preço, menos dinheiro as famílias tinham para comprar outros alimentos, por isso compravam mais batatas. Pode-se fazer uma análise inversa usando o exemplo de obras de arte que quanto mais caras, mais atraem o interesse por elas. Mas os bens de Giffen, na literatura, estão associados aos bens destinados mais ao consumo de baixa renda. Além do preço do próprio produto, outras variáveis – verificáveis para quase todos os produtos – costumam ser levadas em conta para explicar eventuais oscilações nas quantidades demandadas, principalmente quando estas ocorrem em situações em que o preço do próprio produto analisado não sofreu alterações, entre elas: i) os preços de outros produtos que se relacionem com o produto em questão, sejam eles produtos complementares ou substitutos ao bem demandado; ii) alteração na renda dos consumidores; iii) alterações nas taxas de juros e condições de financiamento ao consumo e, entre outras possibilidades, iv) mudanças de hábitos e gostos dos consumidores, ao longo do tempo. Dentre as variáveis destacadas acima, as três primeiras são bastante investigadas pela ciência econômica, enquanto a quarta costuma ser foco de análises de outras áreas do conhecimento, como o marketing ou mesmo a sociologia. Oferta A oferta é o ato de colocar o produto à venda. De modo simples, a oferta não pode ser confundida com a produção e nem com a efetivação da venda. Obviamente é ofertado o que foi produzido com o intuito de vender, contudo, o simples fato de produzir não indica diretamente que o produto será ofertado como supunha a Lei dos Mercados de Say. Na análise da oferta supõem-se ainda que os preços são dados no mercado, ou seja, que a empresa trabalha com concorrência perfeita. Essa última afirmação não é trivial, uma vez que, ao senso comum, pode parecer que quanto menor o preço de um produto, mais a empresa deseja vender para compensar a redução de preços, todavia, se os preços são dados pelo mercado e não pela empresa, quanto maiores os preços de mercado do bem que a empresa produz mais ela coloca à venda, buscando maximizar sua lucratividade. Assim, existe uma relação diretamente proporcional entre o preço de mercado e a quantidade ofertada pelas empresas. Obviamente, muitos fatores interferem para que determinada empresa oferte mais ou menos uma quantidade dada de um produto, ou mesmo um outro bem qualquer, dentre elas, o clima, o nível tecnológico dado, o custo da força de trabalho e, especialmente, mudanças nos preços dos produtos complementares ou substitutos ao bem ofertado em questão. Entretanto, assim como na demanda, a oferta se dá, coeteris paribus, em função do preço do bem. 𝑂 = 𝑓 (𝑃) A título de ilustração, se o preço da soja cai ao passo que o do milho sobe, os produtores vão querer plantar menos soja e mais milho, portanto, a quantidade de soja diminui enquanto a de milho sobe. A tendência é que os produtores de qualquer bem busquem produzir o que tem um maior no preço no mercado. Em sendo assim, a curva de oferta é positivamente inclinada, como pode ser visto abaixo: Mercado e equilíbrio do consumidor O conceito de Mercado é, muitas vezes, apresentado de modo estereotipado pela mídia. É comum se ouvir falar “o mercado está nervoso”, “o mercado não reagiu bem”, entre tantas outras frases que acabam por mitificar um conceito tão simples. Mercado é o lócus de interação entre agentes que ofertam e demandam. Ou seja, sendo uma interação entre agentes, não é algo automático, autônomo, apartado de determinada realidade histórica e sim uma construção social. Todavia, as visões mais conversadoras de mercado são as mais hegemônicas, visões essas que insistem na redução da concepção de mercado como um mecanismo que ajusta o consumo, a produção, fixa os preços e as quantidades e os recursos de uma economia, a partir do confronto de interesses entre compradores e vendedores de bens e serviços e, visto desta forma, a ideia de equilíbrio impera. O equilíbrio do consumidor é uma situação na qual o consumidor maximiza sua utilidade (satisfação) tendo como restrição um determinado nível de renda. Essa abstração acima indica um elevado grau de racionalidade do consumidor, em termos gerais, racionalidade essa que indica, por exemplo, impulsos, desejos, consumismo, influências midiáticas não têm nenhum efeito sobre eles. Muitas críticas foram feitas a este sistema de representação das escolhas do consumidor individual – e dos consumidores em seu conjunto – supondo que o padrão consumo de uma sociedade seja a somatória de escolhas individuais, a partir da extrapolação de uma racionalidade extrema à toda a sociedade. Assim, atualmente, pode se dizer que estas representações gráficas servem para ilustrar o seguinte: dada uma restrição no orçamento, sempre serão buscadas combinações de bens e serviços que possam proporcionar o máximo de satisfação. E uma vez feita a escolha, ela pode ser apresentada na forma de um gráfico. Para além disso, restam apenas suposições, dentre elas, a tendência inexorável ao equilíbrio de mercado, defendida pela economia neoclássica. Para qualquer preço superiora P0, a quantidade que os ofertantes desejariam vender é seria maior que a que os consumidores desejariam comprar. Em linguagem técnica, diz-se que existe um excesso de oferta. Quanto maior o preço, maior será o interesse em ofertar bens e serviços por parte das empresas. De outra parte, para qualquer preço inferior a P0 surgirá um excesso de demanda. Quanto menor o preço, maior será a demanda dos consumidores. As situações descritas acima ilustram o desequilíbrio. Mas em qualquer delas, a tendência é o retorno ao ponto de interseção entre oferta e demanda, ilustrado por E no gráfico acima, pois, no caso de excesso na demanda, os preços tendem a subir, impactando nas decisões dos empresários que buscaram produzir mais. De outro lado, em caso de excesso de oferta os preços tendem a cair e, assim, fazendo com que consumidores busquem – por conta da redução de preços – adquirir esses bens ou serviços. Por fim, importante destacar que as suposições acima são mais características de uma estrutura de mercado denominada de “concorrência perfeita”. Porém, como se verá a frente, a economia real é caracterizada por outros tipos de interações e estruturas que, cada vez mais, se distanciam da ideia de uma concorrência harmônica. A título de exemplo, que será melhor explorado adiante, a realidade é muito mais marcada por monopólios e oligopólios do que por uma concorrência dita perfeita. Funções de demanda e de oferta A observação do comportamento do conjunto de demandantes de um bem ao longo do tempo possibilita a compreensão de como estes costumam reagir a estímulos (ex.: variações no preço do bem em questão ou nos preços dos bens relacionados a ele no mercado, variações na renda, etc..), e para alguns destes, pode-se até quantificar estes comportamentos, representando-os por meio de uma função demanda. O mesmo pode ser dito sobre o comportamento dos ofertantes, de forma se obter uma função oferta. De forma muito simplificada, costuma-se estabelecer uma função demanda – que mede a variação das quantidades demandadas de um bem em função de seu preço e de outros fatores – como no exemplo abaixo: 𝑫(𝒙) = 𝟏𝟎𝟎𝟎 – 𝑷(𝒙) + 𝑷(𝒚) – (𝑷𝒛) +/− 𝑹 Na função acima, 1000 representa uma certa quantidade inicial, tida como a demanda “natural” esperada para o bem; neste caso, o valor é arbitrário, valendo apenas para viabilizar a análise. Já as outras variáveis: ➢ – P(x) representa o preço do bem “x” que, não sendo um bem de Giffen, diminui a propensão ao consumo do bem, quanto maior for o seu preço no mercado; ➢ + P(y) representa o preço de um bem “y”, que é visto pelos consumidores como uma alternativa, um substituto do produto “x” no mercado. Perceba que quanto maior o preço cobrado por “y”, mais as pessoas decidirão consumir “x”. Por isso o sinal positivo na equação; ➢ - P(z) representa o preço de um bem (z) que costuma ser consumido em conjunto ou de forma complementar ao bem “x”. Neste caso, quanto maior o preço do bem “z”, menos motivos terão os consumidores para comprar também o bem “x”. Por isso o sinal positivo na equação e, ➢ +/- R representa o nível de renda das pessoas que participam do mercado analisado. Se “x” for um bem considerado normal, admite-se que quanto maior o nível de renda dos consumidores, maiores serão as quantidades do bem “x” que estes estarão dispostos a adquirir, o que garante que o sinal associado à variável “R” seja positivo. Mas se “x” for um bem inferior (como a “carne de segunda”), o sinal associado à “R” será negativo, pois neste caso, a elevação no nível de renda fará que a demanda por “x” diminua. Assim como é possível representar o comportamento dos demandantes por meio de uma função, também costuma-se fazê-lo em relação ao comportamento dos ofertantes de um bem “x”. Como na função oferta abaixo, que representa o comportamento agregado dos ofertantes de “x”: 𝑶(𝒙) = 𝟕𝟓𝟎 + 𝑷(𝒙) – 𝑷(𝒊) + 𝑻 Assim, como na descrição da função de demanda, aqui na função de oferta, 750 corresponde à quantidade normalmente oferecida ao mercado pelos produtores do bem “x”. Neste exemplo, trata-se também de um valor arbitrário, para tornar o exemplo viável. No que se refere às demais variáveis: ➢ + P(x) corresponde ao preço que “x” tem alcançado no mercado, e é claro que quanto maior for este preço, maiores serão as quantidades que os produtores estarão dispostos a oferecer; ➢ - P(i) corresponde ao preço do conjunto de insumos necessários à produção de “x” (nível salarial, valor das matérias-primas, etc..). É óbvio que uma elevação nestes preços desestimula a oferta do bem, portanto o sinal negativo e, ➢ + T corresponde à variável “tecnologia”, que diz respeito às técnicas e equipamentos disponíveis para a produção de “x” em determinada época. Quanto maior o desenvolvimento tecnológico, maior tende a ser a quantidade ofertada. Tanto na função demanda quanto na função oferta, inúmeras outras variáveis poderiam ser incluídas: taxa de câmbio, taxa de juros, impostos, etc. A questão consiste – como sempre, já que a economia é uma ciência social – em saber quais são as variáveis mais relevantes (e como mensurá-las) no mundo real. E isso muda conforme o bem analisado, conforme o lugar, a cultura, o nível tecnológico, entre outras variáveis. Por isso vale a ressalva: as fórmulas e modelos econômicos podem ajudar a entender e até fazer algumas previsões em economia, desde que estejam apoiadas no que é observado na realidade em determinadas épocas e locais. Modelos e fórmulas prontos, trazidos de outros contextos, são sempre perigosos, pois via de regra, não estão adequadamente “calibrados” para explicar realidades distintas daquelas e que foram concebidos. Elasticidades A elasticidade é um cálculo que mede o grau de sensibilidade entre duas variáveis. Na microeconomia existem três principais elasticidades: a que mede a relação entre preço e quantidade; outra que mede a relação entre demanda e renda e, por fim, uma que mede a relação entre quantidade de um produto com a demanda de outro. Abaixo segue um detalhamento mais aprofundado de cada uma. Elasticidade Preço da Demanda (EPD) Esta elasticidade mede a variação percentual na quantidade demandada a partir de uma variação percentual no preço do produto. De modo mais esquemático: 𝑬𝒑𝒅 = 𝛥%𝑄𝑥 𝛥%𝑃𝑥 Com a expressão algébrica acima, pode-se verificar como uma variação do preço de um determinado bem interfere na quantidade demandada desse mesmo bem. Entre outras análises, é possível determinar se: Epd > 1, o bem é elástico; Epd < 1, o bem é considerado inelástico e, Epd = 1, o bem tem elasticidade unitária. Uma observação importante é que a elasticidade-preço da demanda representa o comportamento do consumidor quanto à variação dos preços. Portanto, sendo a curva de demanda negativamente inclinada, o valor da Epd deve ser analisado em módulo sempre, já que sempre será negativo. Um bem elástico é aquele que, quando seu preço aumenta (ou abaixa), a redução (ou aumento) da quantidade demanda varia mais que a variação dos preços. Os exemplos mais citados na literatura são os dos bens supérfluos. Já os inelásticos são pouco sensíveis à variação de preços, sendo os exemplos mais usuais o arroz e feijão para as famílias brasileiras. Segundo o inglês Alfred Marshall (1842-1924), economista pioneiro nos estudos de elasticidade: i) Quanto mais essencial for o bem, menor será a sua elasticidade (quanto menos essencial, maior será a elasticidade), ii) Quanto maior for a representatividade do bem demandado no orçamento, maior será a sua elasticidade de demanda, iii) Quanto menos substitutos existir para um bem, mais inelástica é a sua demanda (quanto mais substitutos, maior será a elasticidade da demanda) e, iv) A elasticidade preço de demanda pelo bem é maior no longo prazo do que no curto prazo. Elasticidade-Renda da Demanda (Er) A elasticidade-renda da demanda, ou simplesmente, elasticidade-renda, mede a variação percentual da quantidade demandada a partir de uma variação percentual na renda do consumidor. 𝑬𝒓 = 𝛥%𝑄𝑥 𝛥%𝑌 Er < 0, o bem é considerado inferior; 0 < Er < 1, o bem é considerado normal e, Er > 1, o é considerado superior. Por meio da elasticidade-renda é possível verificar o grau de importância de determinado bem no consumo de um indivíduo ou família. Caso a renda do consumidor aumente e o consumo de determinado bem se reduza, nas ciências econômicas, esse bem é considerado inferior – a exemplo de produtos de qualidade inferior tais como “carne de segunda” – e no cálculo realizado a partir da expressão algébrica acima, o resultado será negativo. Caso a renda aumente e o consumo do produto aumente ele é considerado normal, mas se aumentar, em termos relativos, mais que o aumento da renda, ele será considerado superior e, feitos os cálculos, terá um valor superior a 1. Elasticidade-Preço Cruzada da Demanda (Ex,y) A elasticidade-preço cruzada da demanda, ou simplesmente elasticidade cruzada, mede a variação percentual da quantidade demandada de um bem x a partir de uma variação percentual no preço de um bem y. Ou seja, ela tem o intuito de verificar como oscilações de preços em um mercado afetam a demanda de bens em outro mercado. 𝑬𝒙𝒚 = 𝛥%𝑄𝑥 𝛥%𝑃𝑦 Exy < 0, os bens são considerados complementares entre si Exy > 0, os bens são considerados substitutos entre si Exy = 0, os bens são considerados independentes Um exemplo clássico que ilustra essa elasticidade é expresso pela relação entre pão, manteiga e margarina. Se o preço do pão aumenta a tendência é que se compre menos pão e, portanto, menos manteiga ou margarina, demonstrando a relação de complementariedade que o pão tem com esses dois produtos. Mas caso o preço da manteiga suba, a tendência é o aumento da demanda por margarinas já que esses dois produtos são substitutos entre si. Quadro 1 – Classificação sintética de elasticidade Elasticidade-preço da demanda Elasticidade renda Elasticidade cruzada Epd > 1: bens elásticos Er < 0: bens inferiores Exy > 0: bens substitutos Epd < 1: bens inelásticos 0 ≤ Er ≤ 1: bens normais Exy > 0: bens complementares Epd = 1: elasticidade unitária Er > 1: bens superiores Exy = 0: bens independentes Outra importante análise gráfica consiste nos chamados casos extremos. Estes casos são representados pelos gráficos abaixo. O primeiro é quando a demanda é totalmente inelástica, ou infinitamente inelástica. No gráfico acima percebe-se que as variações nos preços dos produtos não interferem ou não provocam variações nas quantidades demandadas. Exemplos reais são difíceis, mas um exemplo próximo seria o do "sal". Mas também pode-se pensar em exemplos hipotéticos, como um medicamento necessário à vida e que o consumidor precise tomar diariamente. Há também a demanda totalmente elástica, ou perfeitamente elástica, que demonstra que pequenas variações nos preços causam variações que tendem ao infinito. Perceba que as quantidades podem variar mesmo sem variação nos preços. Exemplos factíveis que apresentem uma demanda totalmente elástica são difíceis, mas levando-se em consideração a existência de uma concorrência perfeita na qual existem muitos ofertantes e muitos demandantes e muitos produtos substitutos, uma variação para cima no preço de um produto pode fazer com que os consumidores desistam de comprá-lo. Na ausência dessa hipótese, um mercado que apresente uma curva perfeitamente elástica é improvável. Box 2 – Elasticidades nas funções de oferta e demanda Sabe-se que, além do preço de um bem “x” qualquer (Px), algumas outras variáveis costumam interferir tanto em sua demanda quanto em sua oferta: os preços de outros produtos (de consumo substituto ou complementar ao bem “x”), a renda, etc. Assim como a intensidade em que a demanda (ou a oferta) de um bem reage a variações em seu preço é dada pelo coeficiente associado à variável preço (Px), o mesmo ocorre em relação a outras variáveis, como o preço de um bem substituto (Py) ou complementar (Pz), ou mesmo a renda (R). Desta forma, uma equação demanda, por exemplo, pode fornecer informações sobre a elasticidade-preço da demanda pelo bem “x”, ou sobre as elasticidades cruzadas envolvendo outros bens, ou sobre a elasticidade-renda, etc. Em suma: pode-se calcular elasticidades para qualquer variável considerada relevante na determinação das quantidades demandadas ou ofertadas de um bem, e indicá-las em funções demanda ou oferta; basta que as variáveis propostas sejam mensuráveis. ESTRUTURAS DE MERCADO Até o momento, apresentou-se argumentos e hipóteses sobre o funcionamento do ambiente de mercado, na concepção mais usual, que pressupõe a racionalidade e o interesse próprio como orientadores da ação de cada um de seus participantes. Todavia, nesse capítulo serão apresentados outros argumentos e lógicas de modo a verificar como os mercados podem estar organizados – e isso costuma variar bastante, conforme o segmento da economia a ser analisado. As diferentes formas de organização de um mercado são classificadas em grandes grupos básicos, cada um representando um tipo de estrutura de mercado. Cada uma delas baseia-se em hipóteses e características observadas a partir da interação entre oferta e demanda, e fornece informações sobre o grau de autonomia de seus participantes para fixar o preço dos bens que são negociados no mercado. Existem quatro principais estruturas de mercado, são elas: Concorrência Perfeita; Monopólio; Concorrência Monopolista e Oligopólio. Concorrência Perfeita Essa estrutura descreve o funcionamento equilibrado ou ideal do mercado, em que os participantes não têm autonomia em relação ao preço, pois este é determinado de forma inteiramente impessoal, por meio da interação entre as forças de oferta e demanda, restando a cada um se adaptar diante do preço determinado pelo conjunto do mercado. Para sua análise é necessário o estabelecimento de diversos pressupostos que pouco se observam na prática, contudo, sua importância enquanto modelo de análise está no fator comparativo com estruturas mais reais, presentes no cotidiano econômico. Esses pressupostos podem assim ser sintetizados: 1. Atomização do mercado: existência de grande número de compradores e de vendedores atuando isoladamente, que se comparado ao tamanho do mercado, nenhum deles conseguem influenciar no preço. Assim, os preços dos produtos são fixados uniformemente no mercado; 2. Produtos homogêneos: isto é, são substitutos perfeitos entre si; dessa forma não pode haver preços diferentes no mercado. Os compradores são indiferentes em relação às firmas (vendedores) no momento de adquirir o produto; 3. Informações simétricas: transparência de mercado, ou seja, existe completa informação e conhecimento sobre o preço do produto. Assim, nenhum vendedor colocará seu produto no mercado por um preço inferior ao do concorrente; da mesma forma, os consumidores não estariam dispostos a pagar um preço superior ao vigente; 4. Livre mobilidade de capital e trabalho: a entrada e saída de firmas e trabalhadores no mercado são totalmente livres, não havendo barreiras legais e econômicas. Isso permite que agentes menos eficientes saiam do mercado e que nele ingressem outros mais eficientes e, 5. Lucratividade normal: consiste em lucros que apenas remunerem fatores de produção, isto é, inexistem lucros extraordinários. O modelo de concorrência perfeita descreve um mercado no qual nenhum agente tem capacidade para influenciar os preços (poder de mercado nulo). Assim, cada empresa age individualmente, sem ter em conta as decisões das outras. Observando o preço de mercado, decide que quantidade pretende vender a esse preço. Estas hipóteses justificam o pressuposto seguinte, que, na prática, define concorrência perfeita: ao preço de mercado (P), a empresa vende a quantidade de produto que quiser. A um preço superior, a empresa não consegue vender qualquer quantidade. Admitindo-se que o objetivo da empresa seja maximizar o seu lucro, e tento em vista que em concorrência perfeita o preço de mercado é independente da quantidade ofertada (tomando-se um produtor individualmente), resta à empresa escolher o volume de produção que maximiza a diferença entre a receita total e o custo total - tendo como dado o preço pago no mercado. Monopólio O monopólio consiste em uma situação em que um setor do mercado com múltiplos compradores é controlado por um único vendedor de mercadoria ou serviço, sendo assim não existe concorrência na oferta. A empresa domina sozinha o mercado, tendo, portanto, um grande poder de barganha na formação do preço do produto. Nessa estrutura de mercado a demanda da firma é sempre igual à procura do mercado, havendo uma relação inversa entre o preço fixado e a quantidade vendida: quanto mais elevado for o preço, menor é a quantidade que os consumidores estão dispostos a adquirir o produto. Estando sujeito à procura do mercado, o monopolista deve escolher o ponto mais rentável da curva da procura. Dentre as razões para a existência de um monopólio podemos citar as barreiras estratégicas e estruturais. As barreiras estruturais decorrem de características tecnológicas, econômicas ou legais dos mercados. Temos como exemplos as ditas Economias de escala (monopólios naturais); Economias de aprendizagem; Economias de relacionamento/confiança; Diferenciação; Patentes; Concessões; Tarifas e quotas aplicadas ao comércio internacional. No que se refere às barreiras estratégicas são devidas à ação deliberada dos monopolistas, que procuram evitar a entrada de concorrentes e manter a sua posição dominante. Os exemplos são a prática de Preços-limites, quando os preço fixado não com o objetivo de maximizar o lucro, mas com o objetivo de fazer com que a entrada no mercado não seja rentável; Excesso de diferenciação, caracterizada pela proliferação de marcas de uma mesma empresa cobre o mercado de forma a não deixar espaço a potenciais concorrentes; Controle de inputs e outlets quando a integração vertical e os contratos de exclusividade garantem vantagens competitivas à empresa instalada em termos de custos de transação e, entre outras, a Publicidade quando essa consegue fidelização e a imagem de marca podem tornar a entrada de uma concorrente demasiado dispendiosa. Outra forma de diferenciar estruturas monopolistas é pela possibilidade ou não de concorrência. Em monopólio podemos diferenciar duas situações, o monopólio puro ou natural e ainda o monopólio não natural. No natural, existe apenas uma empresa e existe a impossibilidade de entrada de outra empresa, seja por questões ambientais, legais, econômicas ou outra qualquer. Já no monopólio não natural, em que pese existir apenas uma empresa, nada impede a entrada de outra empresa, ou seja, o monopólio pode ser apenas temporário, como, por exemplo, uma única faculdade em uma cidade ou um único cinema. É bom que se diga que a legislação da maioria dos países proíbe o monopólio, com exceção dos exercidos pelo Estado, geralmente em produtos e serviços estratégicos. O monopólio puro é tratado na literatura ortodoxa como uma falha de mercado e, sendo assim, o governo tem um papel importante para impedir que os preços sejam demasiadamente elevados. No caso brasileiro, a título de exemplo, o governo age por meio de suas Agências Reguladoras, tais como a Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) e a Agência Nacional de Energia Elétrica(ANEEL), entre outras. No monopólio não natural, a empresa ofertante precisa se atentar à concorrência potencial e, com isso, estabelecer o preço de barreira de modo a impedir a entrada de concorrentes, pois, em caso de preços elevados em relação aos custos, o mercado se torna atrativo a potenciais entrantes que buscam nichos com lucratividade extraordinária. Todavia, caso o monopolista trabalhe com preços relativamente baixos em relação aos custos de produção, corre o risco de defasagem tecnológica, que pode gerar condições favorecedoras à entrada de novos concorrentes. A situação de monopólio apresenta, segundo diferentes análises, vantagens e desvantagens para a sociedade. Os argumentos favoráveis aos monopólios concentram- se principalmente nas vantagens da produção em grande escala, como a elevação de rendimento propiciado pelas inovações tecnológicas e a redução dos custos. Também se afirma que os monopólios podem racionalizar as atividades econômicas, eliminar os excessos de capacidade e evitar a concorrência desleal. Outra das vantagens que lhes são atribuídas é a garantia de um determinado grau de segurança no futuro, o que torna possível o planejamento a longo prazo e a introdução de uma maior racionalidade nas decisões sobre investimentos. Os argumentos contrários estão centrados no fato de que o monopólio, graças a seu poder sobre o mercado, prejudica o consumidor ao restringir a produção e a variedade, e ao obrigá-lo a pagar preços arbitrariamente fixados pelo monopolista. Também se assinala que a ausência de concorrência pode incidir negativamente sobre a redução dos custos e levar à subutilização dos recursos produtivos. Concorrência Monopolista É uma estrutura de mercado na qual são produzidos bens diferenciados uns dos outros, entretanto, com substitutos próximos e passíveis de concorrência. Nesta estrutura, podem participar muitas empresas, de diferentes portes empresariais, sempre oferecendo produtos que podem ser diferenciados entre si (ainda que compondo um mesmo segmento de bens). Sendo assim, podemos dizer que existe geralmente uma empresa líder, grandes empresas, empresas médias e um elevado número de empresas pequenas, sem que o mercado, em sua totalidade, esteja concentrado em uma ou poucas empresas. A diferenciação dos produtos pode se dar por meio de características físicas (composição química, receita exclusiva), pela embalagem ou pelo esquema de promoção de vendas (propagandas, atendimento ao cliente, brindes, entre outros). Na concorrência monopolista, cada empresa tem certo poder sobre a fixação de preços, no entanto a existência de substitutos próximos permite, aos consumidores, alternativas para fugirem do aumento de preços. Em síntese, uma estrutura de concorrência monopolista é observada quando: i) existem muitos compradores e vendedores; ii) os consumidores têm as suas preferências definidas e os vendedores tentam diferenciar seus produtos (preços baixos, elevado padrão de qualidade, etc.); iii) não há barreiras para entrada de novas firmas; iv) cada empresa tem certa autonomia para fixar seu preço, conforme o grau de diferenciação de seu produto em relação à ampla concorrência e, v) quando, dentro dessa estrutura de mercado, uma empresa lança algo exclusivamente novo, que apenas ela detém, isso pode configurar um monopólio (temporário) dentro de um mercado com ampla concorrência. Aliás, decorre daí o nome dessa estrutura de mercado, pois, em outras palavras, os produtos podem ser similares, mas cada empresa vai tentar diferenciá-los de modo que estes pareçam únicos em relação à concorrência. Oligopólio O oligopólio caracteriza-se por um mercado no qual a oferta de um produto ou serviço é controlada por um pequeno grupo de vendedores, ou seja, pequeno número de ofertantes. Cabe ressaltar que esse número reduzido de empresas ofertantes depende da natureza e tamanho do mercado. O número para ser considerado pequeno está mais relacionado ao fato de este ser um mercado no qual as ações de uma interferem na decisão das outras. Em outras palavras, a noção fundamental subjacente ao oligopólio é a da interdependência econômica, ou seja, as decisões sobre o preço e a produção de equilíbrio são interdependentes, porque a decisão de um vendedor influi no comportamento econômico dos outros vendedores. As empresas tornam-se interdependentes e guiam suas políticas de produção de acordo com a política das demais empresas por saberem que, em setores de pouca concorrência, a alteração de preço ou qualidade de uma firma afeta diretamente as demais. Ademais, importante observar que nessa estrutura as empresas podem ofertar produtos tanto homogêneos como diferenciados. Quando o oligopólio oferece produtos homogêneos (substitutos perfeitos entre si) ele é considerado oligopólio “Puro”, a exemplo da indústria do cimento, de aço, etc. Caso contrário será considerado oligopólio diferenciado como é o caso da indústria automobilística, de eletrodomésticos, etc. Por ser uma estrutura bastante observável no mundo real, notadamente pelas constantes fusões e aquisições presentes nesses mercados, é importante analisar as formas mais usuais de competição presentes no oligopólio. São elas: 1. Demanda quebrada: Explica porque os preços dos oligopólios permanecem constantes por longos períodos, mesmo quando há pequenas alterações nos custos. Os oligopolistas supõem que a curva de demanda seja quebrada e se um empresário aumentar o preço, os outros não o seguiram, pois, a demanda é elástica. Por outro lado, se um empresário baixar os preços, os outros também abaixarão, talvez mais do que ele, gerando uma “guerra de preços” em um ramo inelástico da demanda de mercado. Tem-se como exemplos as empresas aéreas e as empresas de cigarros. 2. Liderança de Preços: É uma coalizão imperfeita, na qual as empresas de um setor oligopolista decidem tacitamente estabelecer o mesmo preço, aceitando a liderança de uma empresa da indústria. A firma líder fixa o preço e é seguido pelas demais. O melhor exemplo para o caso brasileiro é a indústria de cimento. 3. Cartel Perfeito: É uma associação formal ou informal de produtores que transferem para uma organização central todas as decisões referentes a preços visando aumentar o seu lucro, tal qual no monopólio. Nesse caso, os oligopolistas reconhecem a interdependência que têm, procurando se unir para maximizar o lucro do cartel. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) é um exemplo dessa estratégia. 4. Teoria da Organização Industrial moderna: Essa estratégia consiste em maximizar o crescimento da firma, mantendo uma margem (mark-up) fixa sobre os custos. A estratégia de crescimento da firma é a inovação. Quanto maior a diversificação do produto (inovação) maior o crescimento equilibrado da firma. 5. O processo de destruição criativa: Segundo um dos autores mais influentes da teoria econômica contemporânea, o economista Joseph Schumpeter, no oligopólio, a forma de concorrência mais intensa não se dá pela guerra de preços como já se antecipou, mas sim pela inovação. As inovações podem ser tanto de processos, quando se melhora o modo de se fazer o produto, quanto de produto, quando se melhora o produto propriamente dito. A concorrência é influenciada pelas inovações nos processos ou nos produtos, que podem ser: a) Inovação radical: consiste em destruir o produto anterior e sua cadeia produtiva de modo rápido e irreversível, a partir do surgimento de um novo produto e consequentemente uma nova cadeia produtiva. Exemplo: das antigas máquinas de escrever ao computador pessoal; b) Inovação incremental: quando um produto ou processo é constantemente modificado e se torna melhor do que era. Isso vai destruir o produto velho em um hiato de tempo mais longo. Exemplo: dos primeiros televisores a válvula à atual TV de LCD; c) Inovação adaptativa: inovação para a empresa e não para o mercado. A empresa em questão se equipara às outras que já evoluíram. De modo simplificado seria um “Control C – Control V” empresarial, no qual a empresa que inova apenas copia as inovações já presentes no mercado. sobre os monopólios em geral, eles proporcionam lucros bastante vantajosos para as empresas, o que possibilita o investimento em novas tecnologias, proporcionando assim que as antigas fiquem mais acessíveis à uma parcela da população menos favorecida. O preço do produto novo, entretanto, é bastante elevado, isso é conhecido como “lucro do inovador” e serve para aumentar a capacidade de inovações futuras. A empresa que não consegue inovar não consegue os lucros extraordinários, não se capitalizando o suficiente e, portanto, tendendo a se endividar e no futuro se alvo de aquisição pelos concorrentes. Quadro 2 – Caracterização sintética das estruturas de mercado Características/ Estrutura Concorrência Perfeita Monopólio Concorrência Monopolística Oligopólio Número de concorrentes Muito grande. Mercado perfeitamente atomizado. Apenas um. Prevalece a unicidade. Grande. Prevalece a competitividade. Geralmente pequeno. Tipo de produto Padronizado. Não há quaisquer diferenças entre os ofertados. Não têm substitutos satisfatórios ou próximos. Diferenciado. A diferenciação é fator-chave. Pode ser padronizado ou diferenciado. Controle sobre preços Não há qualquer possibilidade. Muito alto, sobretudo quando não há intervenções corretivas. Há possibilidades, mas são limitadas pela substituição. Dificultado pela interdependência das concorrentes rivais. Amplia-se quando ocorrem conluios. Concorrência extra-preço Não é possível nem seria eficaz. Admissível para objetivos institucionais. Decorrente da diferenciação. Resulta de fatores como marca imagem, localização e serviços complementares. Vital, sobretudo nos casos de produtos diferenciados. Condições de ingresso Não há quaisquer tipos de obstáculos. Impossível. A entrada de concorrentes implica o desaparecimento do monopólio. São relativamente fáceis. Há consideráveis obstáculos, geralmente derivados de escalas e de tecnologias de produção. Acesso a informações Fácil ao extremo. Total transparência do mercado Opacidade. Geralmente é amplo. Há visibilidade, embora limitada pela rivalidade.
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