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Crime como Fenômeno Social

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CRIMINOLOGIA
Aula 2
Sociedade e o crime: o crime é um fenômeno social, não dependendo do fator preponderante para a sua formação (biológico ou social), é inegável que o delito é uma manifestação da vida em coletividade.
Um grupo de pessoas vive coletivamente em que pese não serem iguais. Esta desigualdade é a mola propulsora para os conflitos, que podem ensejar crimes (o crime em seu aspecto coletivo).
Quanto ao aspecto individual do crime, temos que o criminoso comete o delito movido pelo seu caráter (personalidade) e uma vontade. A soma de caráter e vontade ganha o nome de determinismo imediato. 
A criminalidade é oriunda de um conflito de vontades, estando de um lado a sociedade e de outro o autor do delito. Diante do entendimento desta dualidade é que no nosso ordenamento processual penal, a maioria dos delitos recai na esfera pública incondicionada. 
A moral (definição do que é certo e errado) nem sempre baliza a lei penal, pois há atos imorais que não são formalmente punidos (ex: cuspir no chão, ficar conversando durante uma sessão de cinema).
Da mesma forma, existem posturas penalmente punidas num país, enquanto que sequer cabe uma advertência noutro local (ex: os árabes consideram um insulto uma pessoa mostrar a sola do sapato, já para nós ainda hoje é comum as mães tirarem suas sandálias para baterem em seus filhos). 
As causas imediatas para o cometimento de um crime se resumem nas condições do meio em que ele ocorreu e na personalidade do autor do delito. 
Quanto às condições do meio temos aquelas que são consideradas prevalentes e também há as inibidoras. Como prevalente poderia ser citada a miséria (pobreza), cuja desencadeia uma série de questões por necessidade ou cobiça. Todavia, no meio social em que vive um ser humano também existem as circunstâncias inibidoras, como por exemplo, o medo do castigo (sofrimento físico ou moral), o receio de pecar, a segregação por ter infringido um regra de convivência.
No tocante à personalidade do autor temos a questão do comportamento habitual/constante (forma de ser) de um ser humano em situações que lhe são confrontadas. A personalidade que leva ao cometimento habitual de delitos vem de uma evolução complexa, que começa com o nascimento do indivíduo, o qual faz surgir a tendência hereditária e, por conseguinte na criminalidade hereditária. [2: Não há provas científicas que exista o criminoso nato, em que uma pessoa deva ser um marginal por conta da hereditariedade.]
A tendência hereditária está presente em cada pessoa e se exprime em seu temperamento (ações estimuladas pelos hormônios para mais ou para menos em cada pessoa). Os cientistas entendem que o temperamento é herdado e ele (por ser um impulso, por vezes, irracional) pode fazer com que uma pessoa aja de uma forma em certa ocasião e se comporte de maneira distinta em outro ambiente, gerando a chamada criminalidade hereditária.[3: Sobre as tendências hereditárias atuam o meio ambiente que está exposto o indivíduo ]
O comportamento criminoso é o resultado da tendência hereditária somada as circunstâncias sociais, porém dividida pela resistência moral que a pessoa possui. 
Tend. Hered. + Circunst. Social
Resist. Moral
O somatório de tendências e condições sociais passam por uma triagem psíquica que conduzira a ação da pessoa a praticar ou não o ato ilícito.
Agressividade humana: o comportamento agressivo é visto como uma postura irracional de luta, de resistência às condições adversas e podendo se voltar contra qualquer dos aspectos que estejam oprimindo uma pessoa.[4: Os estudiosos procuram não confundir agressão com violência, pois esta seria um ato lesivo somente contra outro ser humano, enquanto que aquela pode se voltar contra tudo que esteja oprimindo o agressor, como uma pessoa, uma coisa, um órgão público, imprensa, etc... ]
Há 3 tipos:
Decorrente da raiva (crimes passionais);
Comportamento particular (atos de vandalismo);
Com o objetivo de destruição (guerras).
A agressividade poderá ser analisada como um traço da personalidade (inato), como aprendida no ambiente (adquirido) ou como manifestação psicopatológica (inato).
Na agressão há 3 personagens:
Agressor – deve-se considerar a intenção dolosa de agredir alguém 
Vítima – deve-se considerar o sentimento de estar sendo prejudicada;
Observador (testemunha) – deve-se considerar a sua percepção quanto ao ato testemunhado. 
Psicologia do crime: a psicologia se preocupa em descobrir os motivos geradores de um crime. Para a psicologia, o crime é um episódio normal da vida em sociedade em que existem lutas de forças que o determinam 
	O jurista não pode entender a pena como mera vingança, castigo pessoal, mas sim como uma forma de conscientização do delinqüente para que tenhamos um efeito verdadeiramente justo na ação penal. 	O jurista também deve analisar a infração penal sob o ponto de vista histórico dos fatos anteriores, da existência e da intensidade. 
	 O psicólogo entende que o delito passa por algumas fases intrapsíquicas na mente do criminoso, como:
Intelecção (é uma sugestão ou uma tentação);
Desejo (sentimento de tentação aumentado em que a pessoa passa a gostar da ideia de cometer o delito);
Deliberação (é o desejo freado pelo temor de ser flagrado, ser preso – exceto em criminosos contumazes);
Intenção (o indivíduo aceita cometer o crime e passa a planejá-lo);
Decisão e Execução (realização da ação criminosa que fora planejada).[5: Nosso sistema penal passa a aplicar o seu direito de punir somente na última fase intrapsíquica do crime, visto que a execução já se encontra em prática, invocando também a figura da Desistência Voluntária. ]
Personalidade e ação delituosa: por personalidade se entende como uma síntese de todos os elementos que contribuem para a formação mental de uma ser humano, como: fatores biológicos (genético, inato), psicológicos (fruto do desenvolvimento pessoal) e sociais (adquirido).
	Já não mais se conceitua a personalidade como normal ou anormal, mas sim, fala-se que o indivíduo comum passa a cometer crimes, adquirindo uma identidade delinqüente e adotando para si um modo de vida criminoso. 
	Desta forma, o criminoso contumaz desenvolve uma ordem de valores em que a transgressão adquire considerável significado para ele e, por esta razão, passa a viver delituosamente.
 A personalidade normal e os fatores que a influenciam são estudadas pela psicologia criminal ou forense, enquanto que os transtornos anormais (retardo mental, esquizofrenia, demência, etc...) da personalidade é alvo da psiquiatria criminal ou forense.[6: Existem 8 tipos de distúrbios mentais descritos pela ciência, sendo eles: paranoide, esquizóide, antissocial, emocionalmente instável, histriônico, anancástico, ansioso e dependente. ]
Estes transtornos da personalidade são perturbações graves na constituição do caráter e do comportamento do indivíduo, não sendo consideradas doenças, mas sim, anomalias da saúde mental. Geralmente se encontram vinculadas à ruptura familiar ou social.
Os transtornos se revelam por uma desarmonia da afetividade, necessidade de terem seus anseios serem satisfeitos imediatamente e dificuldades no convívio social em razão do descontrole nos impulsos, atitudes e condutas. 
 Entre as pessoas que possuem distúrbio em sua personalidade, os antissociais são os que mais facilmente se envolvem em crimes porque possuem indiferença aos sentimentos alheiros, podendo adotar um comportamento cruel. Detêm desprezo às normas e convenções, são dissimulados, promiscuidade sexual, incapacidade em aceitar seus erros, auto-estima elevada, ausência de remorso, baixa tolerância à frustração e são capazes de cometer atos violentos. Tais características começam na fase infantil ou juvenil e permanecem durante a maturidade e velhice.
Os antissociais não podem ser confundidos com os criminosos comuna, pois estes desejam simplesmente o cometimento do delito, enquanto que aqueles aspiram cometer o crime com crueldade, não se contentando em realizar ainfração de maneira simples. 
Cabe a um psicólogo criminal ou um psiquiatra criminal fazer a análise de alguma psicopatologia a que a pessoa seja portadora. A perícia psiquiátrica procura relacionar o tipo de conduta criminosa com a personalidade do delinqüente e daí avaliar se quando na realização do crime o criminoso tinha plena capacidade de compreensão do ato, bem como de se autodeterminar.
Transtornos sexuais e criminalidade: denominada de parafilia, este transtorno também é chamado de “perversão” no meio jurídico.
	Caracteriza-se a parafilia quando existe a necessidade de substituir uma atitude sexual vista socialmente como convencional por qualquer outro tipo de expressão sexual, que se torna a preferida ou a única forma de prazer sexual da pessoa.
	Pode ser observada em graus leves, moderados e severos, sendo esta última alvo de estudos pela Criminologia pois pode causar atos criminosos, como por exemplo a pedofilia, a necrofilia e o sadismo.[7: Todavia existem outros distúrbios que não se mostram tão importantes para a Criminologia, como o exibicionismo, o vampirismo, o masoquismo, etc... ]
Fatores sociais da criminalidade: o aparecimento do fenômeno criminal se encontra intimamente ligado às questões sociais, ao meio em que vive e é diariamente impactado, destacando-se:
Falta de planejamento familiar: a gravidez impensada na adolescência, principalmente, faz com que filhos nasçam em famílias desestruturadas, sem a presença da figura paterna, sem as mínimas condições financeiras para a alimentação, vestuário, educação, etc...
Invariavelmente estas pessoas ganham as ruas, pedindo esmolas, caindo no trabalho informal, viciando-se em drogas, partem para a prostituição, são explorados economicamente ou influenciados por outras pessoas a entrarem no mundo do crime. 
Pobreza: as estatísticas criminais demonstram existir uma relação de proximidade entre pobreza e criminalidade, principalmente nos crimes contra o patrimônio (furto e roubo).
Por alguns autores, a pobreza é chamada de fermento social da criminalidade.
Em geral, estas pessoas de pouca renda, nutrem ódio e aversão aos que possuem propriedades. 
Aparecem em nosso país como causas da pobreza: má distribuição de renda, grandes latifúndios improdutivos, a migração, a falta de planejamento familiar; etc...
Segundo pesquisas, cerca de 55 milhões de brasileiros são considerados pobres, sendo considerada pobre aquela pessoa que não consegue ter acesso a uma cesta alimentar e de bens mínimos necessários a sua sobrevivência, perante o entendimento do IBGE. 
Desemprego e sub-emprego: são fatores que também colaboram para a gênese delitiva.
Critérios que fazem crescer o desemprego, bem como o sub-emprego: a automação das empresas, o êxodo rural, a migração, os baixos salários, a falta de qualificação profissional.
Meios de Comunicação: dentre estes meios, destaca-se a televisão, mas nas últimas décadas observa-se a banalização do sexo e da violência em novelas e telejornais sensacionalistas, algo que influencia sobremaneira os valores adotados pela população, desrespeitando, de modo geral, o Art 221, inc. IV, CF, que fala que os meios de comunicação devem respeitas os valores éticos da pessoa humana e da família.
Ultimamente a televisão está se vendo ameaçada pela internet, principalmente pelos sites de relacionamento, local onde amantes perpetram adultério, ocorre gritante apologia às drogas, gangues marcam pontos de encontro para brigas e pessoas discutem, muitas vezes por assuntos banais. 
Crescimento Populacional: o crescimento populacional desordenado e não planejado é fato importante para o crescimento dos conflitos, e, consequentemente, do crime.
A Escola de Chicago já demonstrou que o crescimento criminógeno é proporcional ao crescimento dos índices populacionais, por conta da migração, do desemprego/sub-emprego já aqui estudados.
Preconceito: trata-se de um pré-concepção negativa, de forma a discriminar algo ou alguém. 
A discriminação baseada na raça, cor, credo, sexo, origem étnica, etc..., são formas odiosas de conduta humana, causando barreiras para que tenhamos uma vida em sociedade de maneira pacífica.
Existe uma crença popular que negros cometem mais crimes do que negros, algo que não é confirmado por nenhuma estatística. 
Todavia, o que se percebe, é que a população carcerária varia de acordo com a própria predominância racial da região de nosso país, onde no Sul há uma maior quantidade de brancos presos, enquanto que no Nordeste, por exemplo, a maioria é de negros.
Educação: a educação dada pela família e o ensino pela escola são instrumentos importantes para a formação moral do indivíduo, portanto, não surpreende a ninguém quando estatísticas criminais demonstram que a grande maioria dos ocupantes de nossas Penitenciárias e Presídios não frequentaram os bancos escolares até o final do ensino fundamental. 
Fatores Climáticos: tem-se constatado que o clima quente favorece os crimes contra a pessoa, enquanto o clima frio predispõe mais para a prática de crimes contra o patrimônio.
Isto se explica porque nos dias quentes as pessoas saem de casa e as relações interpessoais aumentam, logo tornando também as pessoas mais vulneráveis.
Por sua vez nos dias frios, as noites são maiores, então, sem a luz natural e sem ter tantas pessoas nas ruas, os ladrões tiram proveito das ruas estarem desertas.
Nível de Vida: a elevação do poder econômico das pessoas eleva também o número de crimes por conta da ganância e da vontade do ganho fácil.
Drogas Lícitas e Ilícitas: 24 milhões de brasileiros são afetados pelo álcool, sendo que destes, 6 milhões são alcoólatras. 
O Brasil é um dos países com maior índice de mortes ou ferimentos graves produzidos no trânsito por conta do álcool, sendo aproximadamente 170 mil pessoas por ano.
O alcoolismo arruína a vida, sendo fator criminógeno que desfaz lares, pois desencadeia conflitos e crimes.
Já os toxicômanos mantém a indústria do tráfico de drogas, que seja de maconha, cocaína, crack, heroína, ecstasy, etc...
A vontade cada vez maior de consumir a droga faz com que o usuário furte, roube, trafique, ou seja, cometa crimes para sustentar o seu vício.
Globalização e crime: a globalização é tema recorrente da humanidade atual, onde alguns ganham e outros perdem.
	A ONU já se pronunciou que nos últimos anos os países considerados ricos têm ficado cada vez mais ricos, enquanto que os pobres minguam em sua pobreza.
	Com a globalização foram surgindo novas espécies de delinquente, como os hackers, os serial killers por imitação, o incremento da narcotraficância, tráfico de seres humanos, lavagem internacional de dinheiro, degradação ao meio ambiente, etc.
	A globalização espalhou miséria e desemprego pelo mundo todo, inclusive nos tradicionais países ricos, onde crimes contra o patrimônio têm aumentado consideravelmente.
Alguns países aventaram a hipótese de equiparar sua legislação penal quanto a alguns crimes, penalizando de forma severa, porém de maneira padronizada, delitos transnacionais.
Sociologia Criminal: todos os fatores acima elencados são estudados pela Sociologia Criminal, sob o enfoque das teorias de consenso e de conflito.
Teorias de Conflito: encontram-se inseridas na chamada Criminologia Crítica ou Radical (marxista ou Nova Criminologia). Para estas teorias o bom convívio entre as pessoas advém de uma imposta força coercitiva, havendo uma relação entre dominantes e dominados (luta de classes), não havendo voluntariedade entre os indivíduos e as instituições para que haja a paz social. 
Estas teorias indagam as causas dos crimes pesquisando a reação social, ampliando o campo da investigação para saber o quanto as instâncias formais de controle como fator para a irrupção dos delitos. 
Entende que para a solução do problema criminal urge a necessidade da construção de uma nova sociedade mais justa igualitária e fraterna, entretanto menos consumista e subserviente aos desejos dos maispoderosos. Ex: labelling aproach, teoria crítica ou radical. 
Labelling Aproach: para esta teoria o homem comum se torna criminoso graças a um processo de estigmatização (rotulação/etiquetamento) que perpassa, sendo que a pena é mais um processo estigmatizador. Logo, a criminalização de uma pessoa é a consequência de um processo.
A pena é vista como mais um fator que gera desigualdades em virtude de ser marginalizado pelo Estado e pelo próprio meio em que vive (local de trabalho, família, bairro, grupo de amigos, etc...). Esta rotulação causa distanciamento social e redução de oportunidades aos egressos do sistema prisional ou que tenham sido submetidos a um processo criminal. 
Desta forma, a própria sociedade passa a esperar um comportamento desviado de tal pessoa, visto que se encontra rotulado. A tendência é que os indivíduos rotulados se aproximem, pois se encontram na mesma situação (criação de uma cultura delinqüente formada entre os iguais)
Para se evitar o etiquetamento surgiu o a Criminologia Minimalista (Direito Penal Mínimo), que prega a não intervenção, a desencarcerização, a progressão de regimes, a conversão para regimes de penas mais leves, a abolição de crimes. 
Teoria Crítica ou Radical: com forte influência marxista, entende que o capitalismo é a base da criminalidade, onde a conduta delitiva dos pobres é mais perseguida que a dos ricos.
Esta teoria entende que as regras do capitalismo (lucro, consumismo) levam o homem a delinqüir. A fim de conter a criminalização cria-se um temor pela punição (prisão), mantendo a estabilidade da produção e da ordem social.
Ela propõe reformas estruturais na sociedade para redução das desigualdades e, consequentemente, da criminalidade. Todavia, esta teoria não verifica os problemas criminais havidos em países socialistas (ex: corrupção).
Desta teoria surgiram a Criminologia Minimalista (Direito Penal Mínimo) e a Criminologia Abolicionista (abolicionismo penal). 
Teorias de Consenso (teorias de integração): encontram-se inseridas na chamada Criminologia Tradicional. Para esta teoria os objetivos da sociedade são alcançados quando existe um perfeito funcionamento entre as instituições e as pessoas, concordando e ajudando voluntariamente com as regras comuns de convivência. 
Estas teorias procuram identificar os fatores produtores da delinqüência e o meios capazes de prevenir, reprimir e corrigir as condutas ilícitas. Ex: Escola de Chicago, teoria de associação diferencial, teoria da anomia, teoria da subcultura delinquente.
Escola de Chicago: estuda a organização do espaço urbano e a criminalidade. Teve seu início na Universidade de Chicago devido aos graves problemas sociais que passava aquela cidade em razão do seu crescimento desordenado do centro em direção da periferia.
Deste crescimento desordenado surgiu áreas de criminalidade, sendo que estas áreas foram estudadas e localizadas no mapa geográfico da cidade. 
Por sua vez, a Escola de Chicago entende que com o crescimento da cidade as pessoas se aproximam cada vez mais, com as pessoas se conhecendo e criando um controle social informal, na medida em que um toma conta das coisas dos outros e vice-versa. Este controle informal perde força quando ocorre a mobilidade social (mudança de residência, de escola, de emprego) e a fluidez social (mudança de meio de transporte – de andar a pé para andar de ônibus, de carro, etc...). Tanto a mobilidade quanto a fluidez impedem uma maior interação entre as pessoas. 
A primeira teoria advinda desta Escola é a teoria ecológica, onde apregoa que a cidade produz mais delinquência em alguns pontos em decorrência de outros. 
A teoria ecológica explica que locais desorganizados geram maior criminalidade por conta da falta do controle social informal. Esta desorganização tem início, então, na má formação familiar, péssimas relações interpessoais, alta rotatividade dos moradores, superpopulação, perda de valores familiares e comunitários, etc...
Além da falta do controle social informal, também inexiste o controle social formal (não há Delegacia, a presença da PM é escassa, a Prefeitura é inoperante), criando uma sensação de descrença aos órgãos institucionais e insegurança social, em que surgem bandos armados e matadores de aluguel. 
Nesta teoria também existe áreas de criminalidadedas zonas concêntricas, as cidades tendem a crescer em camadas a partir do seu centro, camadas estas chamadas de zonas.
Por ser uma divisão norte-americana do início do século XX, não respeita bem o padrão de cidade que nós brasileiros conhecemos, tendo:
* Zona I - é a área central, com bancos, comércio, serviços, etc...
* Zona II - é uma região intermediária, havendo comércio, indústrias,e residências;
* Zona III - é a região residencial dos mais pobres;
* Zona IV - é a região residencial da classe média;
* Zona V - é a região residencial dos mais ricos; 
Para a Criminologia, a Zona II é a que mais causa problemas de criminalidade, locais onde ficam os conhecidos guetos, favelas e cortiços. 
A Teoria Ecológica se destacou pela prevenção à criminalidade, procurando:
Reurbanização dos bairros mais pobres (melhores casas, ruas, iluminação pública);
Programas comunitários de lazer, esporte, artes;
Cuidado especial às crianças e adolescentes;
Projetos para tratamento aos drogados e prevenção para a não-reincidência criminal.
Além da Teoria Ecológica, a Escola de Chicago provocou o Neorretribucionismo (realismo de direita), mais conhecido pela Teoria de Lei e Ordem (Janelas Quebradas - tolerância zero).
Parte da premissa de que os pequenos delitos devem ser fulminados para que os mais graves não ocorram. Os espaços públicos devem ser preservados, sendo censurada qualquer atitude que cause desordem. Ela produz um grande número de encarceramento 
A Teoria de Lei e Ordem está pautada no experimento das Janelas Quebradas, o qual prega que a desordem causa criminalidade. A desordem é causada pela falta de autoridade para manter a ordem e, por conta desta ausência, as pessoas não se preocuparão em manter a ordem, terreno propício para a delinqüência.
Os desordeiros, caso a gravidade da desordem fosse leve, seriam submetidos a trabalhos sociais. Entretanto, caso não cumprissem, seriam presos. 
Em Nova York, o Prefeito Rudolph Giuliani empregou esta teoria sob a nomenclatura de Operação Tolerância Zero, reduzindo os índices de criminalidade naquela época. A diminuição foi de 57% em geral e 65 % dos homicídios. [8: Critica-se esta Teoria pelo fato de muitos mendigos, prostitutas e usuários de drogas terem sido presos.]
Teoria de Associação Diferencial: afirma que o comportamento do criminoso é aprendido, nunca herdado ou criado pelo delinquente.
Neste contexto o comportamento delituoso é um processo de apreensão de condutas desviantes, havendo uma interação entre pessoas mais experientes na prática do crime com outras pessoas mais novas.
Baseia-se na lei da imitação, sendo a criminalização a consequência de uma socialização incorreta, a qual abrange tanto as classes mais baixas quanto as mais altas da população, pois os “crimes de colarinho branco” também são ensinados/aprendidos de geração a geração.
Ex: 1) adolescente que é cooptado por um traficante para a venda de drogas ilícitas numa comunidade carente;
2) empresário que procura conhecer meios (estratégias) para sonegar informações ao fisco;
3) comerciante que passa a integrar um grupo de contraventores para trazer produtos ilegais (sem pagar o tributo) de um país vizinho. 
Teoria da Anomia: trata-se de manifestações comportamentais onde as normas de convivência pacífica são ignoradas. Estas manifestações são desencadeadas por conta de uma grande frustração aos meios institucionalizados. 
Para esta teoria o crime não é uma anomalia oriunda da biologia humana, mas sim em razão do fracasso no respeito às normas e valores estabelecidos pela sociedade. Este fracasso advém do não alcance das aspirações sociais (segurança, saúde, educação,transporte público, etc...) por conta da falta dos meios institucionalizados, deixando as pessoas desamparadas ou mal atendidas.
Ex: 1) por não acreditar mais na Prefeitura Municipal, uma comunidade resolver fechar uma rodovia;
2) por não acreditar mais na justiça, uma comunidade ateia fogo no prédio do Fórum;
3) por não acreditar mais no sistema policial, pessoas fazem justiça com as própria mãos contra um marginal.
Teoria da Subcultura Delinquente: ocorre quando uma pessoa pretere as regras consagradas pela sociedade e passa a adotar os valores de certo grupo de marginais.
A existência de subculturas criminais se mostra como forma de reação social de algumas minorias muito desfavorecidas diante das exigências sociais de sobrevivência. 
Possui três fatores:
Caráter não funcional na ação: espírito anarquista, o roubar por roubar, o depredar por depredar, sem que haja uma funcionalidade para o delito cometido;
Malícia: existe um prazer em prejudicar o outro;
Negativismo: negam-se as regras sociais de boa convivência. 
 
Ex: 1) grupo de skin reads que entra em conflito com um grupo de punks somente por haver uma rixa entre eles;
2) os chamados black blocks das manifestações de 2013 e 2014 que se aproveitavam das manifestações para gratuitamente depredar patrimônio público e privado. 
A Criminologia Crítica também fez surgir outras linhas de pensamento criminológico, como: 
Criminologia Abolicionista: tem como proposta acabar com as prisões e abolir por completo o direito penal, substituindo ambos por programas baseados no diálogo, na concordância mútua e na solidariedade para a resolução dos conflitos entre as pessoas. Outro pensamento desta linha de ação, seria a privatização dos conflitos, em que as condutas somente seriam analisados pela justiça civil e desde que a vítima assim desejasse. 
	Tal postura se dá pelo fato dos abolicionistas entenderem que o direito penal, por ser um sistema repressor e criado por pessoas de certa classe social, somente serve para legitimar as desigualdades sociais que alguns indivíduos perpassam.
	No Brasil esta teoria não ganhou corpo a ponto de ser positivada.
Criminologia Minimalista: tem como proposta reduzir as prisões e a interferência do direito penal nas lides. Também se vale da mesma linha de pensamento dos abolicionistas, porém não se observa um raciocínio tão extremado. 
	Esta teoria também prega a transformação da sociedade para que haja um desenvolvimento mais igualitário entre todas as classes, diminuição da intervenção do direito penal em algumas áreas (crimes cometidos sem violência ou grave ameaça), porém acredita ser necessário seu fortalecimento naqueles crimes em que a vida humana é colocada em risco.
	Para os minimalistas, o direito penal deveria ser a última instância de controle social, sendo um acessório a ser empregado somente quando as outras possibilidades de pacificação social não deram certo. 
	Ex: no Brasil tem forte apelo minimalista: a Lei 9099/95, a reforma do Código Penal (em tramitação no Congresso), a inclusão das penas restritivas de direito no Código Penal ocorrida em 1984, alguns delitos foram abolidos (adultério, rapto) e outros foram criados (extorsão mediante seqüestro), a Lei 12403 (medidas cautelares diferentes da prisão).
Criminologia Neorrealista: para esta teoria a criminalidade está intimamente ligada com a pobreza econômica a que pessoas estão submetidas. Entende que a pobreza é a principal causa, mas não a única.
	Acredita na necessidade de ser realizado um programa de pacificação das áreas criminalmente mais vulneráveis, agindo em aspectos sociais para diminuir a carência e o inconformismo das pessoas.
	Prega que os crimes mais graves tenham uma resposta imediata e severa por parte do Estado, assim como compreende não ser salutar a flexibilização das penas privativas de liberdade (conversão da restritiva de direito, concessão de sursis penal, livramento condicional, progressão de regime, remissão).
Direito Penal do Inimigo: não possui sua origem na Criminologia Crítica (de esquerda), mas sim em teses mais voltadas ao pensamento de direita. Esta teoria qualifica e diferencia o cidadão de bem do inimigo, tendo tratamentos bem desiguais para ambos.
	O cidadão de bem é aquele que aceita as normas e se dispõe a cumpri-las. Quando este cidadão infringir uma norma, será respeitado o devido processo legal.
	O inimigo não se subordina às regras do direito e, para tanto, existe a necessidade de coagi-lo para combater a sua periculosidade. Para estes o Estado pode autorizar a quebra de seus direitos enquanto cidadão. Ex: terroristas, pedófilos, estupradores, reincidentes, membros de facção criminosa, etc... 
	O cidadão de bem, mesmo após delinqüir, continua sendo tratado como um sujeito de direitos, enquanto que o inimigo é um mero objeto de coação por parte do Estado. 
	Nesta teoria a pena seria substituída por uma espécie de medida de segurança, em que o apenado permaneceria recluso enquanto perdurasse a sua situação de perigo, compreendida como a probabilidade de reincidir. Portanto, a pena se baseia em possíveis fatos futuros que o apenado (inimigo) poderá se envolver caso esteja em liberdade. 
Visa ainda o endurecimento da execução penal, a majoração de penas, exagerada antecipação da tutela penal, concessão de vantagens ao inimigo que se demonstra fiel ao direito (ex: delação premiada), infiltração de agentes policiais nas organizações criminosas, medidas cautelares tem seu campo de atuação aumentado (ex: quebra de sigilo bancário, intercepção telefônica ou de correspondência).
Esta teoria pune a pessoa (inimigo) pelo que ele é (direito penal do autor) e não pelo que ele fez (direito penal do fato – Art 2º CP). Em razão de suas características, o Direito Penal do Inimigo se põe em contrário à Constituição Federal e ao Código Penal (Art 2º).
Como já vimos, ela dá ênfase à periculosidade do agente e não a sua culpabilidade, o que causa uma aproximação entre pena e medida de segurança, o que se mostra incompatível com a nossa LEP.
Em que pesem estas críticas, em nosso país existem exemplos desta teoria nas seguintes leis:
Lei 10792/2003 – instituiu o RDD (regime disciplinar diferenciado);
Leis 9034 e 11343 - possibilita a infiltração policial nas facções criminosas;
Lei 9296/96 – interceptação telefônica; 
Pena e política criminal: dos anos 90 para cá várias leis agravaram a forma de punição de alguns delitos, como a Lei dos Crimes Hediondos (8072/90), o Estatuto do Desarmamento (10826/2003), o Código de Trânsito Brasileiro (9503/97), Lei Maria da Penha (11340/2006) e Nova de Lei de Drogas (11343/2006).
	Diante deste quadro tem-se aí a ideia que este o modelo é o ideal, porém, no outro lado tivemos a descriminalização de crimes como o adultério, a sedução e o rapto, além da edição da Lei 9099/95.
	No fim das contas, a pena privativa de liberdade continua sendo a principal medida a ser tomada como resposta à realização de um delito.
	Para diminuir o número de presos provisórios, foi editada em 2011 a Lei 12403, trazendo a possibilidade de aplicação de outros instrumentos cautelares diferentes da prisão, todavia, ao mesmo tempo vemos na proposta de alteração do Código Penal alguns crimes tendo penas majoradas, além da criação de novos tipos penais.
	Com este quadro, observa-se que nosso país não possui uma Política Criminal bem estabelecida, ora demonstrando extrema severidade, ora diminuindo a intervenção penalista. 
Micro e macrocriminalidade: a microcriminalidade está ligada aos delitos do dia-a-dia (furto/roubo/lesões corporais/estelionato/homicídio), os quais acontecem em todas as camadas sociais, em que o delinquente é observado enquanto indivíduo isolado e transgressor das normas societárias.
	Já a macrocriminalidade está ligada aos crimes de colarinho branco e o crime organizado, onde este acordo de pessoas para o cometimento de delitos visa o lucro, valendo-se de uma presumível impunidade.

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