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Brasília-DF. Patologias nas Estruturas Em ConCrEto Elaboração Tatiana Conceição Machado Barretto Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção ................................................................................................................................. 4 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5 introdução.................................................................................................................................... 7 unidAdE i Patologia das Estruturas ................................................................................................................. 9 CAPítulo 1 Patologia das Estruturas .................................................................................................... 9 CAPitulo 2 insPEção E diagnóstico dE Estruturas dE concrEto ................................................... 18 CAPitulo 3 insPEção E diagnóstico dE Estruturas dE concrEto: ProblEmas dE rEsistência E dEformação ...................................................................................................................... 22 unidAdE ii dEgradação do concrEto- fatorEs físicos .............................................................................. 29 CAPítulo 1 dEsgastE da suPErfíciE, abrasão, Erosão E cavitação ................................................. 29 CAPitulo 2 fissuração .......................................................................................................................... 42 unidAdE iii dEgradação das Estruturas dE concrEto - ProcEssos Químicos .......................................... 63 CAPítulo 1 açõEs do mEio ambiEntE ................................................................................................... 63 CAPítulo 2 carbonatação, ação dE clorEtos E sulfatos ............................................................... 68 CAPítulo 3 outros agEntEs agrEssivos Químicos ............................................................................. 76 CAPítulo 4 rEação álcali-agrEgado................................................................................................. 79 unidAdE iV corrosão das armaduras dE concrEto armado/ ProtEndido ............................................... 83 CAPítulo 1 corrosão das armaduras dE concrEto armado/ ProtEndido ................................. 83 unidAdE V técnicas dE rEabilitação ElEtroQuímica ...................................................................................... 91 CAPítulo 1 dEssalinização .................................................................................................................. 92 CAPítulo 2 rEacalinização .................................................................................................................. 99 rEfErênCiAS ................................................................................................................................ 110 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 introdução Reparos e recuperações em estruturas de concreto, que sofrem os problemas de corrosão, são muito onerosas e podem acarretar em transtornos aos seus usuários (RIBEIRO 2014). Os custos com intervenções tendem a crescer exponencialmente à medida que se prorroga as ações de combate às causas de degradação do concreto (regra de Sitter). A vida útil das estruturas de concreto é diretamente ligada ao ambiente em que se encontra, fatores físicos e químicos podem atuar para a degradação da estrutura, com potenciais diferentes a depender do meio em que se encontram. No que diz respeito aos fatores químicos, a forma em que a estrutura é construída poderá criar correntes de interferência e corrosão negra que deterioram a estrutura; o concreto poderá ser atacado por agentes agressivos, como: cloretos, sais, gás carbônico, entres outros, e mesmo alguns componentes do próprio concreto poderão desencadear reações deletérias, é o caso da reação álcali-agregado. Fica claro que é importante conhecer os meios de degradação do concreto, junto com seus mecanismos de atuação, a fim de se antecipar aos problemas que estes venham causar, e caberá aos responsáveis pela construção tomar medidas que mitiguem os efeitos degratórios e aumente a durabilidade da construção, de preferência na fase de projeto. objetivos » Caracterizar e analisar as principais anomalias e patologias que ocorrem nas edificações. » Dar ao aluno uma visão abrangente relacionada aos processos de identificação das manifestações patológicas (sintomatologia), de deterioração envolvida e na prevenção dos problemas e revestimentos. » Descrever as patologias no que tange as estruturas de concreto armado. » Relatar teoricamente as causas geradoras das patologias originárias de projeto, construção uso e/ou falta de manutençãopreventiva ou corretiva, por ações externas deletérias e o uso inadequado ao longo da vida da edificação. 9 » Discutir os principais aspectos de projeto e manutenção para minimizar ou eliminar futuras ocorrências patológicas. » Apresentar as principais patologias associadas à Construção Civil em geral. » Discutir as principais causas dos processos de deterioração das estruturas por causas intrínsecas (falhas humanas durante a construção, falhas humanas durante a utilização e causas naturais) ou por causas extrínsecas (falhas humanas durante o projeto, falhas humanas durante a utilização, ações mecânicas, ações físicas, ações químicas, ações biológicas). » Fornecer os subsídios necessários para a elaboração dos diagnósticos. » Proporcionar aos alunos subsídios para que possam diagnosticar, estabelecer e propor soluções tecnicamente adequadas para cada caso. 10 11 unidAdE iPAtologiA dAS EStruturAS CAPítulo 1 Patologia das Estruturas Na construção civil, o concreto armado ou protendido é possivelmente o material mais utilizado no mundo, porém, diversos fatores podem levar à sua deterioração ao longo dos anos, devido a vários motivos. Dentre estes, as principais causas de degradação da matriz cimentícia do concreto são a carbonatação, reação álcalis-agregado, bioterioração, corrosão negra, ataque por ácidos, ataque por sulfatos, hidrólise dos componentes da pasta (RIBEIRO, 2016), além do desgaste da superfície causado pela abrasão, erosão, cavitação e a ação de outros agentes físicos como a fissuração e a exposição a extremos de temperatura. O concreto é um composto que se destaca devido às suas características, as quais o tornam bastante peculiar, tais como disponibilidade dos materiais constituintes, facilidade de produção, transporte e manuseio, variadas formas e tamanho, custo relativamente baixo diante de outras alternativas estruturais e excelente resistência à água (PETRUCCI, 2005; MEHTA; MONTEIRO, 2008; ISAIA, 2010). Além disso, o concreto armado é considerado um material que apresenta maior durabilidade que o aço, tijolos e madeira (RIBEIRO et al., 2014), entretanto, quando submetido a condições de exposição com o meio seu desempenho pode ser afetado, comprometendo sua vida útil. A durabilidade de uma estrutura depende não somente dos materiais constituintes e aplicação dos métodos construtivos, como cobrimento mínimo das armaduras, relação máxima de água/cimento, resistência mínima do concreto, mas também da interação da estrutura com o meio ambiente. Estes fatores são de extrema importância, pois estão relacionados ao surgimento de patologias na estrutura, visto que um concreto de baixa qualidade será menos resistente aos ataques químicos e físicos. 12 UNIDADE I │ PAtologIA DAs EstrUtUrAs Conceitos fundamentais Segundo o dicionário, patologia é definida como: Patologia é o estudo das alterações estruturais, bioquímicas e funcionais nas células, tecidos e órgãos, que visa explicar os mecanismos pelos quais surgem os sinais e os sintomas das doenças. A palavra “patologia” significa literalmente “estudo da doença” e tem origem no grego, onde Pathos = doença e Logos = estudo. No entanto, “patologia” também é usada como sinônimo de doença . Fonte: Dicioário Aurélio. Mas, em construção civil, o termo é utilizado quando há perda ou diminuição do desempenho de uma estrutura ou de um elemento estrutural. Foi um termo utilizado com o intuito de referir a doenças, seus sintomas e a natureza das modificações que elas provocam, neste caso, nas estruturas. (ISAIA, 2015) Patologia das construções necessita de uma avaliação multidisciplinar com o objetivo de se estudar as origens da “doença”, suas formas de manifestação e atuação. (ISAIA, 2015) Para ser considerado um sintoma patológico, é necessário que este danifique alguma das exigências da estrutura, sejam elas as capacidades mecânica, estética ou funcional. (ISAIA, 2015). Há uma relação direta entre patologia e desempenho da estrutura, já que a medida da primeira depende da segunda. Outros dois pontos importantes para a análise das patologias são o tempo e as condições de exposição. Esses fatores estão associados ao conceito de durabilidade, vida útil e desempenho. (ISAIA, 2015). 13 Patologia das Estruturas │ uNidadE i figura 1. fatores relacionados às patologias das construções. fonte: isaia, 2005. É importante conhecer alguns termos que serão utilizados quando se estuda as patologias, como decrito por isaia (2005): » Anomalia ou sintoma: a indicação sintomática da ocorrência de um defeito. » Defeito: a não conformidade de qualquer característica do material, em desacordo com a sua especificação, indicando um desvio no seu comportamento previsto, o qual pode não necessariamente resultar numa falha. » Falha: qualquer tipo de irregularidade que possa impedir o normal funcionamento da estrutura. » Reparo: é a ação que busca desenvolver a um elemento ou estrutura a condição de estabilidade prevista no projeto original, reduzida ao longo da sua utilização. » Reforço: empregado quando se deseja proporcionar à estrutura uma capacidade maior de suporte que aquela para a qual foi projetada. origem dos problemas patológicos Os agentes causadores de manifestações patológicas possuem diversas origens, desde falha humana, tanto no projeto como execução, até problemas com a estrutura química dos componentes dos materiais, ou ainda, ataques de agentes agressivos ao material concreto e às armaduras. Para uma melhor compreensão das causas e origens, estas 14 UNIDADE I │ PAtologIA DAs EstrUtUrAs foram divididas e detalhadas em três grandes grupos, apresentados a seguir: causas intrínsecas de manifestações patológicas, causas extrínsecas, e processo físico de deterioração do concreto armado. (GONÇALVES, 2015) figura 2. Principais causas de patologias. fonte: Própria autora. Quadro 1. causas intrínsecas das patologias. Ca us as In tr ín se ca s Fa lh as H um an as d ur an te a co ns tr uç ão Deficiências de Concretagem Transporte/ Lançamento/ Juntas de concretagem/ Adensamento/ Cura. Inadequação de escoramentos e formas Deficiências nas Armaduras Má interpretação dos projetos/ Insuficiência de armaduras/ Mau posicionamento das armaduras/ Cobrimento de concreto insuficiente/ Dobramento inadequado das barras/ Deficiência nas ancoragens/ Deficiências nas emendas/ Má utilização de anticorrosivos. Utilização incorreta dos materiais de Construção Fck, inferior ao especificado/ Aço diferente do especificado/ solo com características diferentes/ Utilização de agregados reativos/ Utilização inadequada de aditivos/ Dosagem inadequada do concreto. Inexistência de controle de qualidade Falhas humanas durante a utilização (ausência de manutenção) Ca us as N at ur ai s Causas próprias à estrutura porosa do concreto Causas químicas Reações internas ao concreto/ Expansibilidade de certos constituintes do cimento/ Presença de Cloretos/ Presença de anidrido carbônico/ Presença de água/ Elevação da temperatura interna do concreto. Causas físicas Variação de temperatura/ insolação/Vento/ Água. Causas biológicas fonte: (souza; riPPEr, 1998). 15 Patologia das Estruturas │ uNidadE i Quadro 2. causas extrínsecas das patologias. Ca us as e xt rín se ca s Falhas Humanas durante o projeto Modelização inadequada da estrutura/ Má avaliação das cargas/ Detalhamento errado ou insuficiente/ Inadequação ao ambiente/ Incorreção na interação solo-estrutura/ Incorreção na consideração de juntas de dilatação. Falhas Humanas durante a utilização Alterações estruturais/ Sobrecargas exageradas/alteração das condições do terrenode fundações. Ações mecânicas Choque de Veículos/ Recalque de Fundações/ acidentes (ações imprevisíveis). Ações físicas Variação de temperatura/ insolação/ Atuação de água. Ações químicas Ações biológicas fonte: souza; riPPEr, 1998. origem do problema: projeto Quadro 3. descrição sumarizada de problemas encontrados na etapa de projeto. Fase Principais problemas encontrados Projeto de Arquitetura -Dificuldade para a arealização de atividades de manutenção preventivas (atenuada, por exemplo, com o uso shafts para descida de tubulação hidráulica). -Detalhes arquitetônicos propícios à formação de microclimas sujeitos à deterioração. -Utilização na fachada de elementos de concreto aparente de pequena espessura, não concebidos para a durabilidade (caixa de ar-condicionado, placas, brises). -Jardineiras posicionadas em contato com pilares sem proteção. Projeto de Estrutura -Dimensionamento que leva a excessivas deformações na estrutura, induzindo ao surgimento de fissuras (utilização de grandes vãos e peças esbeltas). -Adoção de peças com espessura de cobrimento e relação água/cimeto incompatíveis com o meio. -Especificação de materiais componentes do concreto (cimento, agregados, água) em desacordo com as condições de exposição previstas. -Emprego de juntas estruturais sujeitas a infiltrações de água, próximas aos elementos estruturais. Projeto de fundações -Recalques e acomodações diferenciais excessivas geradores de fissuras, perda de funcionalidade e, em caso extremo, colapso. Projetos diversos -Elaboração de projetos de impermeabilização em conformidade com a atuação da água e a deformabilidade prevista da estrutura. -Projeto de revestimento adaptado às solicitações para prevenção da ocorrência de fissuras, posicionamento de telas metálicas, Juntas de movimentação. fonte: isaia, 2005. Manifestações patoógicas geradas na etapa de concepção da estrutura Manifestações patológicas em estruturas de concreto armado que tenham sua causa na concepção do projeto são aquelas que advêm de um mau planejamento do mesmo ou falhas técnicas, sejam por desconhecimento ou negligência. Podem se originar de um mau 16 UNIDADE I │ PAtologIA DAs EstrUtUrAs lançamento da estrutura, erro em execução de anteprojeto ou até mesmo na elaboração do projeto de execução. Pode ser citado como exemplo, fissuras em uma viga devido ao erro de cálculo da flecha, ou fissuras de elementos estruturais devido a não ser respeitado ou negligenciado o Estado Limite Último. Segundo Cánovas (1988), no que tange a concepção de projetos de estruturas de concreto devemos levar em conta quatro fatores essenciais nos quais é preciso estar atento e cumprir todos os requisitos necessários para que o sucesso seja obtido. Devem ser cumpridas as condições de equilíbrio básicas da Estática. A compatibilidade das deformações das próprias peças estruturais e suas uniões. Representação em escala suficientemente clara, com as disposições e dimensões de cada elemento estrutural, em especial as medidas que se referem às armaduras. A conveniência de elaborar normas detalhadas, nas quais estejam presentes todas as características e detalhes dos materiais a serem empregados na estrutura, forma de controle e armazenamento, penalizações etc. Esse documento, ao qual geralmente não se dá importância, é absolutamente fundamental e de grande importância para se obter uma construção sem defeitos e de qualidade: e, em caso de litígio, é um documento de grande valor. Geralmente, as falhas geradas nesta etapa terão como consequência problemas patológicos com soluções mais dificultosas e com maior valor de custo de reparo do que problemas patológicos gerados nas etapas seguintes. Segundo Souza e Ripper (1998), geralmente os empecilhos e o fator custo para curar uma estrutura com danos originários de falhas da concepção do projeto são proporcionais à antiguidade da falha, ou seja, erros no início da concepção e levados adiante nas outras etapas tendem a causar um maior prejuízo. Uma falha no estudo preliminar, por exemplo, leva a uma solução mais trabalhosa e complexa que uma falha que venha a ocorrer na fase do anteprojeto. Apesar de erros em projetos, tais como hidrossanitários com alguma tubulação projetada passando por entre elementos estruturais, e assim 17 Patologia das Estruturas │ uNidadE i podendo causar algum dano, devemos nos atentar principalmente ao projeto estrutural como sendo o de maior importância e sendo aquele que, em caso de negligência, nos trará mais problemas. Por isso, o responsável técnico deverá estar atento e ciente de sua responsabilidade. Segundo Marcelli (2007), erros em projetos estruturais não são impossíveis de ocorrer, sendo muito difícil que exista algum escritório que tenha calculado inúmeros projetos estruturais sem que haja ocorrido um erro qualquer. O que ocorre é que geralmente, na maioria das vezes, são corrigidos a tempo, ou não são graves o suficiente para serem notados. Manifestações patológicas geradas na fase de execução da estrutura (construção). Após o término da concepção do projeto, dá-se início à etapa da execução da estrutura. Nesta fase, antes de qualquer processo de construção, deve haver o planejamento do canteiro da obra para o bom andamento desta, assim como a programação de todas as atividades e também o cronograma como tempo limite de cada parte a ser executada. Os responsáveis técnicos da obra, juntamente com os mestres de obras, devem estar totalmente atentos ao projeto e a todas as informações que este fornece, tais como escalas, dimensões e posições dos elementos estruturais e demais medidas para que a execução ocorra da melhor maneira possível, evitando que futuramente surjam manifestações patológicas. Outro fator que deve ser analisado nesta etapa é a qualidade da mão de obra do quadro de funcionários. É comum ocorrerem erros que geram patologias quando se usa mão de obra desqualificada ou até mesmo mão de obra qualificada, que não esteja ambientada para uma nova tecnologia, ou ainda usá-la fora de sua área de especialização. A partir do instante em que é iniciada a construção, esta já está suscetível à ocorrência de falhas das mais diversas naturezas, associadas a causas variadas como falta de mão de obra qualificada, controle de qualidade praticamente inexistente, execução da obra com pouca qualidade, péssimas condições de trabalhos para os funcionários, materiais de segunda linha com qualidade péssima, irresponsabilidade técnica dos responsáveis e até mesmo sabotagem. Podem-se citar como exemplos de patologias geradas por erros na execução de estruturas de concreto 18 UNIDADE I │ PAtologIA DAs EstrUtUrAs armado: trincas em vigas devidas à falta de barras de aço, trincas de elementos estruturais devido ao mau escoramento das formas, falhas no concreto devido a precária vibração do concreto. Manifestações patológicas geradas na fase de utilização da estrutura (manutenção) Finalizadas as etapas de concepção e execução da estrutura, ainda que com o sucesso desejado e sem ou reduzidas margens de chances de ocorrências de danos patológicos, poderão ainda ocorrer patologias devido ao errôneo manuseio. Após a liberação da obra para o usuário, este poderá causar danos na estrutura, seja por desleixo ou ignorância. O uso da estrutura deve ser visto de maneira análoga a qualquer equipamento mecânico ou elétrico, ou seja, deve-se usá-la respeitando o projeto e realizando as manutenções necessárias indicadas pelos responsáveis técnicos. Em especial, quando se fala em concreto, deve-se dar atenção para produtos que venham a causarcorrosão deste e das armaduras de aço, assim como para os valores de sobrecargas permitidos nos elementos estruturais. Alguns exemplos de patologias geradas nesta fase são trincas devido à retirada de alguma estrutura importante para abrir vãos, seja para janelas, portas ou qualquer outra finalidade. Fonte: Trindade, 2015. 19 Patologia das Estruturas │ uNidadE i tipos de Patologia Quadro 4. Principais tipos de patologia. Origem Mecanismos de deterioração Sintoma Situações típicas Mecanismo de formação Ações preventivas Concreto Lixiviação Eflorescência Percolação de água em concretos fissurados ou com alta permeabilidade. Dissolução dos compostos da pasta de cimento por águas puras, carbônicas ou ácidas. -Baixa relação água/cimento. -Tratamento de fissura. -Tratamento superficial. Ataque por sulfatos Fissuração e perda de massa (resistência) Tubulação de esgotos, blocos de fundação, elementos em contato com solo contaminado. -Expansão pela reação dos sulfatos com os aluminatos e o Ca(OH)2 presentes no concreto, com formação da etringita. -Perda progressiva de resistência pela decomposição do C-S-H dvido à formação da gipsita. -Baixa relação água/cimento. -Emprego de cimento resistente a sulfato. Reação ácali agregados Expansão e fissuração Barragens, blocos de fundação (ambientes úmidos). Reação química entre a sílica do agregado, com íons alcalinos do cimento e íons hidroxila, formando gel expansivo que circula o agregado em presença de água. -Emprego de agregado não reativo ou agregado ou cimento com baixo teor de álcalis. -Controle do acesso de água. -Cimento com escória ou pozolana (pouco reativos). Reação superficial dos agregados Manchamento superficial Superfícies úmidas. Oxidação de produtos ferruginosos presentes nos agregados. Emprego de agregados não deletérios. Armadura Corrosão de armaduras Expansão, fissuração e lascamentos. Peças de concreto armado sujeitas a agentes agressivos – formação de célula de corrosão eletroquímica. -Perda progressiva da alcalinidade pela carbonatação: redução do pH do concreto e despassivação da armadura. -Ataque por íons cloreto: penetração de cloreto por difusão até atingir a armadura, tornando-a passível de oxidação. -Baixa relação água/cimento. -Aumento da espessura de cobrimento. Estrutura Ações mecânicas Fissuras, lascas. Pilares em garagens, guarda-corpos etc. Comprometimento da capacidade resistente devido a choques, impactos, recalque diferencial das fundações, acidentes, incêndios, sismos, inundações. Previsão das ações em projeto, quando possível. Dilatação térmica Fissuras verticais em contato com o elemento que restrige a contração. Concreto massa: barragens, blocos de fundação de grandes volumes. Devido ao calor gerado na hidratação do cimento, o concreto aumenta de volume e , após o resfriamento, contrai, ocasionando esforços de tração caso o movimento seja restringido pela base. -Cimento com baixo calor de hidratação. -Baixo consumo de cimento. -Redução da restrição imposta pela base. -Concretagem em camadas. -Redução da temperatura (pré e/ou pós-resfriamento). Retração hidráulica Fissuras Pavimentos, grandes lajes, argamassas. Fissuras geradas pelo esforço de tração, provocado, na peça, nas primeiras idades, devido à perda prematura de água. -Redução no consumo de cimento. -Cura adequada. -Controle da ventilação. fonte: isaia, 2005. 20 CAPitulo 2 inspeção e diagnóstico de estruturas de concreto introdução Existindo a patologia em uma estrutura, as fases de inspeção e diagnóstico são necessárias e fundamentais para que haja uma intervenção ou reabilitação bem-sucedida. A avaliação pode ser resumida em quatro etapas principais: » Análise da estrutura/vistoria para avaliação do problema. » Anamnese do problema. » Definição das ações para investigação. » Diagnóstico das causas prováveis. Análise da estrutura/vistoria para avaliação do problema Nesta etapa, há o primeiro contato de quem analisa com a estrutura a ser analisada. É nesse momento que algumas questões devem ser levantadas como (ISAIA, 2005): a. Idade da estrutura. b. Processo construtivo adotado na época de execução da obra e planejamento estrutural (quando possível). c. Características ou disposições geométricas das peças. d. Condições de exposição durante o uso. Anamnese do problema Segundo Isaia (2005), nesta etapa devem ser estudados os diversos parâmetros que possam contribuir para que a patologia ocorra. Começa com o levantamento dos sintomas, das eventuais intervenções de reparo já realizadas, dos locais predominantes 21 Patologia das Estruturas │ uNidadE i de ocorrência das patologias e a análise do seu processo evolutivo, e a análise histórica dos possíveis materiais e procedimentos executivos comuns na época de construção. definição das ações para investigação Aqui é realizado o planejamento para que haja a investigação, que pode envolver a realização de ensaios, de acordo com o problema. É uma etapa importante, trabalhosa, que necessita da correta avaliação para a escolha dos ensaios corretos, para que o diagnóstico certo seja feito. Caso ocorram falhas nessa etapa, podem ser escondidas informações importantes para o correto diagnóstico do problema, é necessário experiência e conhecimento do profissional para que essas falhas não ocorram, ou sejam descobertas, e o diagnóstico correto seja realizado. diagnóstico das causas prováveis diagnósticos de patologias em estruturas de concreto armado O ato de inspecionar, avaliar e diagnosticar as patologias da construção deve ser realizado de forma sistemática e periódica, a partir dos dados coletados serão determinadas as devidas ações de manutenções para que seja realizada a reabilitação da construção, caso seja preciso (GRANATO, 2002). Alguns autores descrevem que o diagnóstico é a identificação e descrição do mecanismo, além das suas origens e causas prováveis, que irão provocar ou provocaram as patologias. Evidenciar se uma patologia está ocorrendo em uma estrutura ou elemento estrutural pode acontecer pelo fato desta apresentar sintoma externo evidente, ou através de uma vistoria cuidadosa que deve ser rotineira. A fase de levantamento de dados é a etapa que fornecerá dados necessários para que a análise possa ser realizada corretamente, por este fato ela é muito importante. Quando é observado que uma estrutura de concreto armado ou protendido apresenta uma patologia, é preciso realizar uma vistoria detalhada e cuidadosamente planejada para que se possa determinar as reais condições da estrutura, de forma a avaliar as anomalias existentes, suas causas, providências a serem tomadas e os métodos a serem adotados para a recuperação ou o reforço. 22 UNIDADE I │ PAtologIA DAs EstrUtUrAs As providências a adotar, e mesmo os limites a seguir quanto à avaliação da periculosidade de determinados mecanismos de deterioração podem, e devem, observar a importância das estruturas em termos de resistência e durabilidade, assim como, muito particularmente, a agressividade ambiental. A etapa do levantamento dos dados é extremamente delicada e deve ser feita por engenheiro experiente, especialista em Patologia das Estruturas, que seja capaz de caracterizar, com o máximo rigor, a necessidade ou não de adoção de medidas especiais. Fonte: Gonçalves, 2015 A identificação correta da patologia é importante, pois se houver falha no seu diagnóstico, a correção não será eficiente. Uma patologia pode se apresentar como consequência de mais de uma deficiência. Logo, para quea medida corretiva seja eficiente deve-se sanar todas as suas causas. As etapas do diagnóstico Conhecer os diferentes tipos de patologias relacionados às estruturas de concreto é muito importante para que haja uma correta interpretação dos sintomas, do diagnóstico e a escolha das terapias adequadas. Em diversas ocasiões, não é uma tarefa fácil detectar as causas dos problemas, ou então estão associadas a outras patologias que podem induzir a um diagnóstico errado ou impreciso. Os procedimentos para inspeção de uma estrutura podem ser tanto um trabalho simples e fácil de ser realizado, ou também um trabalho que necessita de uma investigação mais complexa, isso dependerá muito do tamanho e a natureza do problema. De acordo com Granato (2002), as seguintes etapas correspondem a uma inspeção: a. Elaboração de uma ficha de antecedentes, da estrutura e do meio ambiente, baseada em documentação existente e visita à obra. b. Exame visual geral da estrutura. c. Levantamento dos danos. d. Seleção das regiões para exame visual mais detalhado e possivelmente da retirada de amostras. e. Seleção das técnicas de ensaio, medições, análises mais acuradas. 23 Patologia das Estruturas │ uNidadE i a. Seleção de regiões para a realização de ensaios, medições, análises físico- químicas no concreto, nas armaduras e no meio ambiente circundante. b. Execução de medições, ensaios, e análises físico-químicas. Quadro 5. metodologia básica proposta para diagnóstico de patologias em estruturas de concreto armado. Descrição da atividade Ações recomendadas Análise da estrutura Levantamento de informações: idade da estrutura, processo construtivo e projeto estrutural (quando possível), condições de exposição etc. Anamnese do problema Descrição do tempo em que o problema vem ocorrendo. Locais predominantes e evolutivos de ocorrência. Levantamento de dados a respeito de eventuais reparos já executados. Análise histórica dos possíveis materiais e procedimentos utilizados. Definição de ações para investigação Definição de ensaios e investigações necessárias. Detalhamento dos ensaios: metodologia, local, amostragem. Diagnóstico de causas prováveis Elaboração de laudo técnico contemplando descrição das etapas anteriores, análise dos resultados obtidos nos ensaios e investigações, descrição das causas para a ocorrência do problema (em geral segmentada conforme as origens principais: projeto, materiais, produção e uso/manutenção) e prognóstico da sua evolução. fonte:isaia, 2005. 24 CAPitulo 3 inspeção e diagnóstico de estruturas de concreto: problemas de resistência e deformação Estruturas com problema de resistência Ensaios em corpo de prova extraídos do concreto Para estes tipos de ensaios são necessários os locais de retirada e os tipos de testemunhos que serão retirados da estrutura. Esses últimos, para concretos endurecidos, devem seguir o que está descrito na NBR 7680. Os tipos de testemunhos estão relacionados aos tipos de ensaios a serem realizados. Esses ensaios têm por objetivo avaliar a resistência do concreto (fc), módulo de deformação, permeabilidade ou absorção de água, determinação de cloretos e sulfatos, carbonatação, reconstituição do traço do concreto. Logo após a retirada das amostras, estas deverão ser acondicionadas de maneira cuidadosa, mas isso depende muito das exigências de cada ensaio. A preparação dos corpos de prova está contida na NBR 5738. No caso do ensaio de resistência, o corpo de prova é retirado de forma que seja mantida a relação altura/ diâmetro igual a 2. Se esse fato não for possível à retirada de corpos de prova com estas medidas, é necessário adotar o quadro 6 para conversão dos resultados obtidos. Caso os valores da relação não sejam mencionados no quadro 6, deverá ser adotada a aproximação por interpolação linear com aproximação de centésimos. Quadro 6. fator de correção para ensaio de resistência do concreto. Relação altura/diâmetro h/d Fator de correção (multiplicar o resultado por) ASTM C42-77 BS 1881-70 UNE 7242 2,00 1,00 1,00 1,00 1,75 0,98 0,98 0,98 1,50 0,96 0,96 0,96 1,25 0,93 0,94 0,94 1,00 0,87 0,92 0,85 fonte: granato, 2002. 25 Patologia das Estruturas │ uNidadE i Os ensaios de resistência do concreto à compressão seguem as diretrizes da norma NBR 5739. Alguns desses ensaios são: Resistência do concreto à penetração de pinos, Pull- out Test e Esclerometria. Resistência do concreto à penetração de pinos O ensaio consiste em medir a profundidade em que um pino de aço padronizado consegue penetrar no concreto depois de ter sido lançado com uma determinada energia cinética, determinando a resistência à penetração do material, que pode ser relacionada com sua resistência. Atualmente, o equipamento mais utilizado para a realização deste ensaio é a pistola de Windsor (figura 3). A vantagem da utilização deste método é a simplicidade na utilização do equipamento, não necessitando de muita experiência do operador. Este ensaio tem sua regulamentação em normas estrangeiras: a norma norte-americana ASTM C803 e a norma britânica BS 1881-207. O método consiste no disparo de pinos, com uma pistola, que penetram no concreto (figura 3 e figura 4). A essência do método envolve a energia cinética inicial do pino e a absorção de energia pelo concreto. O pino penetra no concreto até que sua energia cinética inicial seja totalmente absorvida pelo concreto. Parte da energia é absorvida pela fricção entre o pino e o concreto, e outra parte na fratura do concreto. figura 3. Pistola utilizada no ensaio de penetração de pinos. fonte: gonçalves, 2015. 26 UNIDADE I │ PAtologIA DAs EstrUtUrAs figura 4. Execução do ensaio de penetração de pinos. fonte: gonçalves, 2015. figura 5. Esquema que representa o ensaio. fonte: gonçalves, 2015. A profundidade da penetração dos pinos é usada para estimar a resistência do concreto, usando-se curvas de calibração. Devido à penetração do pino no concreto, os resultados deste ensaio não são influenciados pela textura e a umidade da superfície, no entanto a superfície deve ser limpa e plana. Vale lembrar que, como a fratura atravessa a matriz de argamassa e agregado graúdo, a natureza do agregado afeta consideravelmente os resultados. A correlação entre o comprimento exposto do pino e a resistência à compressão do concreto dá-se através de expressões lineares e são diretamente proporcionais. Quanto maior o comprimento exposto do pino, maior a resistência do concreto. 27 Patologia das Estruturas │ uNidadE i Pull-out Test Este método de ensaio, também chamado de LOK-TEST, é muito utilizado em países como Estados Unidos e Canadá. Sendo assim, não possui normatização no Brasil. As diretrizes do ensaio seguem a norma norte-americana ASTM C900. De acordo com Wazer (2012), o ensaio consiste em moldar um corpo de prova de concreto contendo um elemento metálico de aço com a extremidade que fica inserida na massa de concreto aumentada. Este elemento metálico é tracionado, medindo-se a força necessária para efetuar o arranchamento com o uso de um dinamômetro. Utilizam-se anéis de reação para definir a forma de ruptura do concreto, de modo que ao se extrair o aço, é formado um cone de ruptura no concreto. Para se efetuar uma avaliação do resultado deste ensaio faz-se necessário correlacioná-lo com a resistência à compressão do concreto. É importante ressaltar que esta correlação estabelecida é válida para o concreto ensaiado, ou seja, para concretos que possuam os mesmos materiais e a mesma dosagem. figura 6. Esquematização do “pull-out test”. fonte: gonçalves, 2015. 28 UNIDADE I │ PAtologIA DAs EstrUtUrAsEsclerometria Método de ensaio não destrutivo que mede a dureza superficial do concreto, fornecendo elementos para a avaliação da qualidade do concreto endurecido. O aparelho utilizado é o esclerômetro de reflexão, desenvolvido pelo engenheiro Ernst Schmidt. Granato (2002) se refere a este ensaio como sendo uma das técnicas mais difundidas em todo o mundo para a avaliação da homogeneidade do concreto, e suas diretrizes obedecem a norma NBR 7584. A avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão, que consiste fundamentalmente de uma massa martelo que impulsionada por uma mola, se choca através de uma haste com ponta em forma de calota esférica com a área de ensaio e, parte da energia é conservada elasticamente, propiciando, ao fim do impacto, retorno do martelo. Lembrando que o esclerômetro deve ser aferido regularmente, pois as molas se desgastam com o uso e há aumento de atrito entre as partes deslizantes e móveis. A figura 7 traz a representação de um esclerômetro. O aparelho deve ser aplicado preferencialmente na posição horizontal e consequentemente sobre superfícies verticais. Sendo necessário aplicar em posições diversas, o índice esclerométrico deve ser corrigido com os coeficientes fornecidos pelo fabricante do aparelho. Esses coeficientes levam em consideração a ação da gravidade e são variáveis para cada tipo de aparelho, sendo máxima aditiva para ângulo igual a –90º (laje de teto) e máxima subtrativa para ângulo igual a +90º (laje de piso) (GRANATO, 2002) . Segundo Wazer (2012), para a aplicação desse ensaio as superfícies do concreto devem ser secas ao ar, limpas e preferencialmente planas. Superfícies irregulares, ásperas, curvas ou talhadas não fornecem resultados homogêneos e devem ser evitadas. Superfícies úmidas ou carbonatadas também devem ser evitadas. Superfícies carbonatadas, por exemplo, apresentam um maior endurecimento na superfície que no interior devido à carbonatação superficial. Caso se deseje ensaiá- las, devem ser adequadamente preparadas, se necessário, aplicados coeficientes de correção, e declarados na apresentação dos resultados. 29 Patologia das Estruturas │ uNidadE i figura 7. representação de um esclerômetro de reflexão. fonte: gonçalves, 2015 Granato (2002) cita alguns fatores que podem influenciar nos resultados de ensaio, além da umidade e da possibilidade de a superfície estar carbonatada: a. Dano superficial ou interfacial: quando a superfície do concreto está menos resistente em virtude de um ataque químico ou pela falta de aderência entre o agregado e matriz de cimento, que pode ser observada na forma de desprendimento do agregado graúdo da matriz de pasta de cimento no momento da ruptura do concreto. b. Tipo de cimento: concretos de cimento Portland pozolânico bem curados apresentam maior dureza. c. Condições de cura: quanto mais eficiente a cura, maior a dureza superficial. Entre as idades de 3 dias a 3 meses não é necessário considerar o efeito da carbonatação (BS 1881-202). d. Idade: de acordo com a NBR 7584, a influência da idade na dureza superficial do concreto em relação à obtida nas condições normalizadas para a idade de 28 dias deve-se à influência de cura e carbonatação. Portanto, estas correlações não são automaticamente válidas para idades superiores a 60 dias e inferiores a 14 dias. Segundo Granato (2002), a dureza do concreto é influenciada pelo tipo de agregado utilizado e considerando que concretos com mesma dureza superficial podem ter resistências muito diferentes, portanto, vê-se que 30 UNIDADE I │ PAtologIA DAs EstrUtUrAs a esclerometria deve ser utilizada com cautela, senão erros poderão ser cometidos. Torna-se necessário o desenvolvimento de curvas de correlação entre resistência e índice esclerométrico de acordo com o tipo de agregado que foi utilizado no concreto da estrutura que está sendo investigada. A NBR 7584 diz, ainda, que diferentes tipos de agregados podem fornecer concretos de mesma resistência, porém com diferentes índices esclerométricos, sendo que para o caso de agregados leves e pesados esta variação é ainda maior. Fonte: Gonçalves, 2015. Estruturas com problemas de deformação Esse trecho foi retirado do texto de Rodrigo Carvalho sobre Patologias em Concreto Armado, o qual pode ser acessado na íntegra pelo link: <http:// rodrigorcarvalho.com.br/artigos/patologias-em-concreto-armado/> deformação estrutural » Segundo Sabatine (1998), as estruturas executadas na década de 70 possuíam vão médio de quatro metros, sendo que nas atuais o vão médio é de sete metros entre apoios, como consequência as estruturas apresentam maiores deformações. deformação excessiva em balanço figura 8. fonte: carvalho, 2014. 31 unidAdE ii dEgrAdAção do ConCrEto- fAtorES fíSiCoS CAPítulo 1 desgaste da superfície, abrasão, erosão e cavitação introdução O conhecimento aprofundado das causas de deterioração do concreto é de suma importância, visto que possibilitará identificar, e desta forma evitar as possíveis causas de degradação do concreto, que podem ser de origem química, por conta das reações de troca entre um fluido agressivo e componentes da pasta de cimento endurecida, reações envolvendo hidrólise e lixiviação dos componentes da pasta de cimento endurecida e reações envolvendo formação de produtos expansivos, e podem ser de origem física. Dentre as causas físicas intrínsecas ao processo de deterioração, existem as resultantes da ação da umidade, do vento, da chuva e da exposição a extremos de temperatura, podendo-se ainda incluir as eventuais solicitações mecânicas ou acidentais ocorridas durante a fase de execução de uma estrutura (SOUSA, 2009). Desta forma, um estudo sobre os agentes causadores de degradação do concreto terá grande valia para o meio técnico-acadêmico, permitindo o aprofundamento dos conceitos e técnicas relacionados ao tema. Os aspectos relacionados às causas físicas, como desgaste da superfície (abrasão, erosão e cavitação), mudanças de volume (gradientes normais de temperatura e umidade, e pressão de cristalização de sais nos poros), carga estrutural (sobrecarga, impacto e carga cíclica estrutural), e exposição a extremos de temperatura (ação do gelo-degelo e fogo) serão abordadas aqui. 32 UNIDADE II │ DEgrADAção Do coNcrEto- FAtorEs FísIcos desgaste da superfície Os concretos podem ser submetidos a ações de desgaste em muitas circunstâncias, essas ações podem ocorrer devido à abrasão, à erosão e à cavitação. O desgaste consiste na perda progressiva de material da superfície devido a uma ação mecânica proveniente do contato e movimento relativo contra um agente sólido, líquido ou gasoso (IBÁNEZ, 1998) e consequentemente gera-se a deterioração das estruturas. Alguns aspectos desta definição são citados por Ibánez (1998), como expostos a seguir: » Ocorre a remoção de material de forma progressiva. » Consiste em um processo mecânico. » Apresenta movimento relativo entre materiais ou superfícies. Segundo Abitantea et al. (2004), a principal dificuldade relacionada ao estudo do desgaste consiste na sua própria natureza, uma vez que vai sempre estar condicionado à combinação de três aspectos independentes, são eles: » As características e propriedades do material solicitado ao desgaste. » As características e propriedades do material em contato com o material que sofre o desgaste. » A natureza e severidade da interação entre ambos. Os desgastes do concreto refletem em prejuízos econômicos, principalmente se as manutenções preventivas não forem adequadamente realizadas, pois os desgastes superficiais podem evoluir para situações severas gerando gastos significativosdevido à necessidade de grandes intervenções, inclusive podendo colocar em risco a segurança das estruturas (RIZZI et al., 2015). Abrasão De acordo com Thomas et al. (2016), a resistência à abrasão do concreto pode ser definida como a sua capacidade em resistir ao desgaste por fricção. A ação abrasiva pode ocorrer devido à atuação de diversos agentes, sendo os agentes mais comuns o ar e a água, os quais carregam partículas provocando o desgaste (SOUZA, 2009). A abrasão é referente ao atrito seco, ocorrendo a perda gradual e continuada da argamassa superficial e de agregados em uma determinada área, sendo bastante comum este desgaste em pavimentos e pisos quando provocado pelo tráfego de veículos (VILASBOAS, 2004). 33 DegraDação Do concreto- Fatores Físicos │ UniDaDe ii Segundo Neville (2015), os desgastes aos quais as superfícies do concreto estão sujeitas podem ocorrer devido ao atrito por arraste, por raspagem ou por impactos e é descrito por Rizzi et al. (2015) como sendo o decremento de massa e de profundidade do material, resultando numa redução da sua resistência às cargas. Segundo Simioli (1992), a abrasão pode se manifestar de duas formas diferentes: como a mudança no aspecto superficial e como a remoção de material. Naturalmente, a mudança de aspecto é decorrência de uma alteração na superfície, atribuída à perda de matéria. Apesar de serem manifestações dependentes, a relação entre ambas é difícil de ser estabelecida (ABITANTE et al., 2004). Neville (2015) afirma ainda que não é fácil avaliar a resistência à abrasão do concreto, pois o processo de deterioração varia em função da causa do desgaste e nenhum ensaio é satisfatório na avaliação para as diversas condições. Ensaios de atrito como rolamento de esferas, coroas de desbaste ou jatos de areia podem ser adequados para diferentes casos. Além disso, Rizzi et al. (2015) afirmam que os métodos de ensaio para avaliação da resistência ao desgaste superficial do concreto nem sempre são adequados, dada a dificuldade em simular as condições reais de operação em laboratório. Alguns dos ensaios existentes para avaliar a resistência ao desgaste são prescritos pela American Society for Testing and Materials (ASTM), são eles: ASTM C 418-12, ASTM C 779-12 e ASTM C 944-99. Estes ensaios buscam simular as formas de abrasão observadas na realidade, sendo difícil, na prática, garantir que os resultados realmente representam a resistência comparativa do concreto a um determinado tipo de desgaste (NEVILLE, 1997, 2015). Horszczaruk (2008) afirma que o principal problema destes procedimentos, ao avaliar concretos com elevada resistência, é o tempo de duração do ensaio, que deve ser prolongado para permitir um desgaste considerável do corpo de prova. A ASTM C 418-12 estabelece alguns procedimentos para determinação do desgaste por jato de areia, sendo a perda de volume de concreto a base de avaliação, mas não é um critério de resistência ao desgaste em diferentes condições. A ASTM C 779-12 estipula três métodos para realização de ensaio em laboratório ou em campo, utilizando a profundidade do desgaste do corpo de prova como medida da abrasão, são eles: ensaio do disco giratório, ensaio de abrasão das esferas de aço e ensaio de coroas de desbaste. O método do disco giratório utiliza o carboneto de silício como material abrasivo e consiste na aplicação de um movimento giratório de três superfícies planas em um percurso circular a uma frequência de 0,2 Hz, com cada placa girando em torno de seu próprio eixo a 4,6 Hz. O ensaio da abrasão com esferas de aço é executado com 34 UNIDADE II │ DEgrADAção Do coNcrEto- FAtorEs FísIcos a circulação de água para remoção do material desgastado e é realizado aplicando-se carga a uma extremidade rotatória que é afastada do corpo de prova por esferas de aço. No ensaio de coroas de desbaste é utilizada uma furadeira de bancada modificada para a aplicação de uma carga a três conjuntos de sete coroas de desbaste rotativas que estão em contato com o corpo de prova, girando durante 30 minutos a 0,92 Hz. Estes ensaios prescritos pela ASTM C 779-12 são válidos para a determinação da resistência do concreto ao trânsito intenso de pessoas e de veículos, bem como veículos com esteira e pneus com correntes. Em corpos de prova que são pequenos para os ensaios ASTM C 418-12 e ASTM C 779-12 é indicado utilizar o ensaio da ASTM C 944-99. A ASTM C 944- 99 permite determinar a perda de massa, como também a profundidade do desgaste. Neste ensaio, duas coroas de desbaste montadas em uma furadeira de bancada são aplicadas, com uma carga determinada, à superfície do concreto e a perda de massa é determinada (NEVILLE, 2015). Neville (2015) apresenta resultados de três ensaios da ASTM C 779-12 para diferentes concretos, mas devido às condições arbitrárias dos métodos os valores obtidos não são quantitativamente comparáveis, mas verificou-se em todos os casos que a resistência à abrasão é proporcional à resistência à compressão dos concretos. A resistência à compressão tem mostrado ser uma importante característica que influencia na resistência à abrasão do concreto, porém nem todas as misturas utilizadas para melhorar sua resistência à compressão aumentam sua resistência à abrasão (RIZZI et al., 2015). Erosão A erosão do concreto ocorre geralmente devido à ação das partículas sólidas (materiais abrasivos) como pedras, areias, cascalhos, que são carregadas pela água ou ar em movimento (AGUIAR; BAPTISTA, 2011). De acordo com Leonardo (2002), os materiais abrasivos são aqueles que, por serem mais duros, são capazes de arrancar, por fricção, as partículas de outros corpos. Estes detritos transportados pelos fluxos d’água variam desde seus tipos até suas durezas (AGUIAR; BAPTISTA, 2011). Assim, a erosão é caracterizada pelo desgaste causado pela ação de fluidos contendo partículas sólidas em suspensão, ou seja, os fluidos em movimento atuam sobre a superfície do concreto, através de ações de colisão, escorregamento ou rolagem das partículas provocando o desgaste superficial do concreto. A erosão pode ser observada em revestimento de canais, vertedouros e tubulações para o transporte de água ou esgoto (VILASBOAS, 2004). O escoamento laminar da água sem a presença de partículas sólidas em suspensão, em geral, não danifica o concreto, mas a erosão provocada por partículas grossas, como 35 DegraDação Do concreto- Fatores Físicos │ UniDaDe ii areia ou brita, pode ser tão severa como a cavitação, mas, geralmente, não causa danos tão catastróficos. Esta erosão tem a tendência de aumentar com a perda da camada superficial, que, normalmente, é mais resistente que as camadas inferiores. As possíveis causas desta deterioração são a presença de partículas sólidas abrasivas, a baixa resistência do concreto, o uso de agregados inadequados e o acabamento deficiente do concreto (AGUIAR; BAPTISTA, 2011). Segundo Souza (2009), a intensidade da erosão é dependente de alguns fatores, tais como quantidade, forma, tamanho e da dureza das partículas em suspensão, da velocidade do seu movimento, da presença do turbilhonamento da água ou do ar, bem como da qualidade do concreto (MEHTA; MONTEIRO, 2008). Aguiar e Baptista (2011) afirmam que quanto mais turbulentos forem os fluxos, juntamente com as forças de impacto ocasionadas pelos detritos, mais abrangente será a erosão por abrasão. Cai et al., (2016) afirmam que a deterioração do concreto, por erosão, depende de fatores como a velocidade do fluxo de água e a angulação das partículas carregadas, além das propriedades físicas das partículas sólidas e, principalmente, a qualidade do concreto (CAI et al., 2016). Um ensaio de jato abrasivo é utilizado para verificar a tendência à erosão por sólidos em suspensão em água corrente.Neste ensaio, 2000 peças de aço de 850 mm são projetadas com pressão de ar de 0,62 MPa de um bico com 6,3 mm de diâmetro sobre uma amostra de concreto à distância de 102 mm (NEVILLE, 1997). De acordo com Neville (2015), a resistência à abrasão pelos sólidos transportados pela água pode ser determinada pelo ensaio ASTM C 1138-97. Neste ensaio, o comportamento do fluido em redemoinho contendo partículas em suspensão é simulado por movimento rápido de esferas de aço de diversos tamanhos em um tanque de água. A água no recipiente é circulada pela imersão da pá de agitação que é alimentado por uma prensa de perfuração girando a uma velocidade de 1200 rpm. Esta água circulante, por sua vez, move as cargas abrasivas na superfície do concreto, produzindo os efeitos da erosão. O teste padrão consiste em seis períodos de teste de 12 horas para um total de 72 horas, e a profundidade do desgaste da superfície do concreto é tomada como uma medida comparativa (KUMAR; SHARMA, 2014). Momber e Kovacevic (1994, 1995) estudaram a erosão através da avaliação da perda média de massa do concreto quando exposto a um jato de água em alta velocidade. O trabalho indica que a velocidade do fluxo de água e o tempo de exposição do concreto ao fluxo são importantes parâmetros na avaliação do processo erosivo (RIZZI et al., 2015). Os estudos sobre a falha do concreto devido à ação erosiva apontam que são processos localizados e que propriedades do concreto como dureza e a distribuição das inclusões 36 UNIDADE II │ DEgrADAção Do coNcrEto- FAtorEs FísIcos têm maior influência na resistência à erosão que as propriedades macroscópicas do material, como resistência à compressão e à tração (MOMBER; KOVACEVIC, 1994). Desta forma, percebe-se que embora as propriedades do concreto não expressem exatas informações sobre a sua resistência à erosão, elas são boas medidas para correlacionar o desgaste abrasivo, devendo não somente as propriedades de resistência macroscópica serem consideradas, mas também as estruturas do material, sobretudo inclusões, devem ser analisadas (RIZZI et al., 2015). Em geral, os princípios de projeto de concreto resistentes à erosão por abrasão seguem várias etapas, como: seleção de agregados com maior resistência e dureza; menor relação água/cimento; aumento do volume de agregado graúdo; e adição de materiais cimentícios suplementares ou fibras (CAI et al., 2016). A aparência superficial das estruturas desgastadas pela erosão é normalmente lisa e polida, sendo facilmente diferenciada da superfície de concreto que sofreu cavitação, visto que a cavitação provoca buracos e cavidades na superfície (KORMANN, 2002). Segundo Neville (1997), a superfície de um concreto deteriorado por cavitação é irregular, riscada e perfurada. Cavitação Segundo Neville (1997), o concreto pode resistir a uma corrente firme, tangencial de água, mas a corrente com cavitação pode ocasionar rapidamente uma deterioração severa. A cavitação é outro tipo de desgaste que pode ocorrer em estruturas de concreto, sobretudo nas hidráulicas. Ela consiste na formação de pequenas cavidades pela ação de águas correntes, resultando em vazios que se formam e desaparecem quando a água está se movimentando em velocidade elevada, ou seja, se relaciona à perda de massa pela formação de bolhas de vapor e sua subsequente ruptura devido às mudanças repentinas da direção das águas que fluem em alta velocidade (VILASBOAS, 2004). Pela cavitação, as bolhas de vapor se formam quando há quedas localizadas de pressão, a valores que são abaixo da pressão de vapor, à temperatura ambiente. Essas bolhas podem ser grandes e depois se fragmentarem, ou um aglomerado de pequenas bolhas, sendo os aglomerados de pequenas bolhas em turbilhões que causam maior dano, pois elas entram na correnteza e, estando em área de alta pressão, se desfazem com grande impacto. Quando as bolhas se desfazem, a água entra com grande velocidade em áreas antes ocupadas pelo vapor, surgindo altíssimas pressões em pequenas áreas durante intervalos de tempo muito pequenos. A repetição desse fenômeno sobre as mesmas partes do concreto resulta no aparecimento de escarificações (NEVILLE, 1997). 37 DegraDação Do concreto- Fatores Físicos │ UniDaDe ii Os danos por cavitação geralmente ocorrem em canais abertos, a velocidades maiores que 12 m/s. Porém, em condutos fechados, mesmo a velocidades muito mais baixas, existe a possibilidade de queda de pressão para abaixo da atmosférica. Essa queda pode ser causada por sifonamento, ou por inércia na parte interna de uma curva ou em irregularidades da superfície, e muitas vezes pode ocorrer a combinação desses fatores. Então, dentre as fontes causadoras da cavitação, estão as irregularidades superficiais e as mudanças bruscas na direção do escoamento, particularmente os degraus nas galerias de águas pluviais (AGUIAR; BAPTISTA, 2011), com frequência ocorre cavitação quando a lâmina de líquido se desloca da superfície do concreto (NEVILLE, 1997). O fenômeno de cavitação ocorre porque a interface estrutura-fluido é incapaz de transmitir uma alteração específica na intensidade de uma onda de pressão. Por exemplo, se essa onda de pressão, gerada por um terremoto, encontrar uma estrutura, pode ocorrer uma folga (isto é, cavitação) entre o fluido e uma interface normal à direção da propagação da onda compressiva de pressão. Neste caso, a interação fluido-estrutura resulta em uma força excessiva (tração) na interface que não é tolerada pelo fluido e, portanto, um intervalo é produzido (KALATECH; ATTARNEJAD, 2011). As cavitações continuam até que a lacuna se feche e a interação linear fluido-estrutura seja retomada. Kormann (2002) afirma que as microfissuras na superfície do concreto, bem como entre a argamassa e os agregados, contribuem para que os danos provocados pela cavitação sejam ainda maiores, pois na região microfissurada do concreto ondas compressivas de água podem causar tensões de tração que propagam as microfissuras já existentes. A repetição do esforço causado pelas ondas pode fazer com que o material se deteriore e pedaços deste se descolem, criando ressaltos na superfície. A cavitação tende a desgastar a argamassa do concreto promovendo o descolamento dos agregados (BORSARI, 1986), iniciado o processo de desgaste, ele tende a aumentar a intensidade do fenômeno, pois com a deterioração da argamassa, os agregados ficam expostos, formando novas irregularidades, favorecendo o fenômeno cavitante. Quando aparece o dano na estrutura, provocado pela cavitação, a área danificada se transforma numa nova fonte de cavitação, criando outra danificada a jusante, com danos ainda maiores (DALFRÉ FILHO, 2002), ou seja, os degraus ou rebaixos bruscos são também os responsáveis pelo surgimento das erosões por cavitação, sendo o dano devido à cavitação sempre ocorrendo a jusante da fonte que o provocou. De acordo com Neville (1997), a deterioração por cavitação geralmente não evolui uniformemente, o fato da cavitação não ser uniforme é que ocasiona a aparência da superfície irregular, com cavidades. As cavidades variam de tamanho e profundidade, sendo encontradas enormes crateras, com grande risco de colapso da estrutura, requerendo muitas vezes intervenções urgentes para restabelecer a estabilidade do local (AGUIAR; BAPTISTA, 2011). O processo de desgaste é progressivo, tanto a jusante 38 UNIDADE II │ DEgrADAção Do coNcrEto- FAtorEs FísIcos como a montante do ponto inicial de cavitação e os danos podem se desenvolver muito rapidamente depois de iniciado o processo. Em muitos casos, a simples substituição do concreto erodido não garante o bom desempenho em longo prazo, necessitando de técnicas de reparo mais aprimoradas, que envolvem a utilização de concretos mais resistentes e tratamentos superficiaismais adequados (AGUIAR; BAPTISTA, 2011). Muitas vezes, a deterioração é tão grande que reduz a vida útil da estrutura e também requer longos períodos de interrupção e funcionamento (DALFRÉ FILHO, 2002). Dalfré Filho (2005) afirma que existem diferentes equipamentos e critérios para ensaios com a finalidade de avaliar a cavitação, contudo não existe uma padronização de ensaios. Existe uma extensa bibliografia sobre o problema da erosão por cavitação na área mecânica, com estudos sistemáticos em materiais, porém, não há uma normalização do equipamento de ensaio para a cavitação e poucos dados existem quando se quer conhecer a resistência dos concretos especiais para uso nas estruturas hidráulicas (DALFRÉ FILHO; GENOVEZ, 2004). Segundo Kormann (2002), a cavitação é considerada um dos fenômenos dos mais complexos, seja pelo seu entendimento, seja pelos diversos parâmetros que a influenciam, seja pela grande dificuldade de fazer sua simulação em laboratório. Dalfré Filho (2002, 2005) desenvolveu um equipamento tipo jato cavitante que utiliza uma bomba de deslocamento direto. Os ensaios realizados com este equipamento mostraram-se adequados para análise da resistência à cavitação em concretos. lixiviação Esse trecho foi retirado do texto de Rodrigo Carvalho sobre Patologias em Concreto Armado, que pode ser acessado na íntegra no link: <http:// rodrigorcarvalho.com.br/artigos/patologias-em-concreto-armado/> lixiviação de compostos hidratados » A lixiviação é a ação extrativa ou de dissolução que os compostos hidratados da pasta de cimento podem sofrer quando em contato com água, principalmente as puras ou ácidas. » A lixiviação do hidróxido de cálcio, com a consequente formação do carbonato de cálcio insolúvel, é responsável pelo aparecimento de eflorescência caracterizada por depósitos de cor branca na superfície do concreto. 39 DegraDação Do concreto- Fatores Físicos │ UniDaDe ii lixiviação de compostos hidratados figura 9. Exemplo de estruturas lixiviadas. fonte: carvalho, 2014. figura 10. Exemplo de estruturas lixiviadas. fonte: carvalho, 2014. 40 UNIDADE II │ DEgrADAção Do coNcrEto- FAtorEs FísIcos Esse trecho foi retirado do texto de Rodrigo Carvalho sobre Patologias em Concreto Armado, que pode ser acessado na integra no link: <http:// rodrigorcarvalho.com.br/artigos/patologias-em-concreto-armado/> outras patologias Falta de qualidade e espessura do cobrimento: » A NBR 6118:2003 afirma que a durabilidade das estruturas é altamente dependente da qualidade e a espessura do concreto do cobrimento da armadura. » Helene (1993) ressalta que a qualidade efetiva do concreto superficial de cobrimento e proteção dependem, também, da adequabilidade da fôrma, do aditivo desmoldante e, principalmente, da cura adequada desta superfície. figura 11. Exemplo de estruturas com falta de qualidade e espessura do cobrimento. fonte: carvalho, 2014. Irregularidades geométricas dos elementos de concreto armado » São modificações em relação ao especificado no projeto estrutural e/ ou fôrmas, na geometria dos elementos, podendo ocorrer em nível de planeza, esquadro ou nas alterações das dimensões das peças de concreto armado. 41 DegraDação Do concreto- Fatores Físicos │ UniDaDe ii » A qualidade da madeira e o cuidado nas execuções das fôrmas e do escoramento podem evitar irregularidades geométricas dos elementos em concreto armado. desaprumo em pilar figura 12. Exemplo de desaprumo do pilar. fonte: carvalho, 2014. Embarrigamento de Viga figura 13. Embarrigamento de viga. fonte: carvalho, 2014. 42 UNIDADE II │ DEgrADAção Do coNcrEto- FAtorEs FísIcos Segregação do concreto » É a segregação do concreto fresco de tal forma que a sua distribuição deixa de ser uniforme, comprometendo sua compactação, essencial para atingir o potencial máximo de resistência e durabilidade. Principais causas: » Alta densidade de armaduras. » Condições inadequadas de transporte, lançamento e adensamento do concreto. » Consistência inadequada. figura 14. segregação do concreto. fonte: carvalho, 2014. » Ninhos de concretagem no encontro do pilar com a viga, posteriormente preenchido com tijolo cerâmico. (José R. S. Pacha) 43 DegraDação Do concreto- Fatores Físicos │ UniDaDe ii figura 15. segregação do concreto. fonte: carvalho, 2014. » Concreto executado com elevado fator água/cimento, acarretando elevada porosidade do concreto e fissuras de retração. 44 CAPitulo 2 fissuração fissuração Com relação à estrutura, sua deterioração está associada principalmente ao surgimento de fissuras que facilitam o acesso de agentes agressivos ao concreto e/ou à armadura. Esta fissuração pode ser originada por ações mecânicas, impactos, movimentação de origem térmica, ações cíclicas ou fluência. O comportamento do concreto face às ações climáticas pode ser analisado segundo duas fases bem diferenciadas: uma correspondente ao seu período de pega e princípio de endurecimento e a que compreende o resto do endurecimento, cuja duração pode-se considerar indefinida. As falhas e sintomatologias que aparecem em uma ou outra fase, decorrentes da falta de qualidade no projeto, na execução, ou na manutenção da obra, são, essencialmente, diferentes, motivo pelo qual devem ser adotados mecanismos específicos quando da terapêutica do concreto. As condições climáticas fundamentais que podem criar problemas no concreto são o frio, o calor e a baixa umidade, todas aumentadas pela ação do vento. A NBR 14931:2004 discrimina as prescrições relativas aos serviços de concretagem em temperaturas muito frias e muito quentes (VILASBOAS, 2004). A NBR 6118:2014 explicita, no item 13.4, o controle de fissuração e proteção das armaduras, afirmando que a fissuração em elementos estruturais de concreto armado é inevitável, devido à grande variabilidade e à baixa resistência do concreto à tração; mesmo sob as ações de serviço (utilização), valores críticos de tensão de tração são atingidos. Visando obter bom desempenho relacionado à proteção das armaduras quanto à corrosão e à aceitabilidade sensorial dos usuários, busca-se controlar a abertura dessas fissuras. A abertura máxima característica wk das fissuras, desde que não exceda valores da ordem de 0,2 mm a 0,4 mm sob ação das combinações frequentes, não tem importância significativa na corrosão das armaduras passivas. Como para as armaduras ativas existe a possibilidade de corrosão sob tensão, esses limites devem ser mais restritos e função direta da agressividade do ambiente, dada pela classe de agressividade ambiental. 45 DegraDação Do concreto- Fatores Físicos │ UniDaDe ii Em termos de durabilidade, fissuras que acompanham as armaduras são mais nocivas, pois facilitam o acesso direto dos agentes agressores, facilitando a corrosão das armaduras (SOUZA, 2009). A deterioração física por fissuração pode ocorrer por mudanças de volume (gradientes de temperatura e umidade, e pressões de cristalização de sais nos poros), carregamento estrutural (sobrecarga e impacto, e carga cíclica) e exposição a extremos de temperatura (ação do gelo-degelo e fogo) (VILASBOAS, 2004). Mudança de volume A seguir, são apresentadas duas causas físicas que causam mudanças de volume nas estruturas de concreto, são elas: variações da temperatura e umidade, não só as ambientais (as que solicitam igualmente as várias peças de uma estrutura), mas também, e principalmente, as que geram gradientes térmicos; e a pressão de cristalização dos sais nos poros. gradientes normais de temperatura e umidade Variações bruscas de temperatura e umidade provocam danos sobre as estruturas, uma vez que a temperaturae umidade da superfície se ajustam rapidamente, enquanto as do interior se ajustam lentamente. Os efeitos são destacamentos do concreto causados pelos choques térmicos. Nos concretos, a permeabilidade dos agentes deletérios diminui em ambientes úmidos, pois, além da eventual formação superficial de microfissuras de retração, a umidade e a água presentes nos poros dificultam o movimento desses agentes (RIBEIRO, 2010). O concreto pode estar sujeito tanto a condições de secagem ambiental como a carregamentos constantes. Estas condições podem refletir em variações de volume do concreto e estão ligadas à remoção de água da pasta de cimento. Se a umidade ambiental estiver abaixo do nível de saturação, o concreto estará sujeito a uma deformação denominada retração por secagem. Se o carregamento for mantido ao longo do tempo, ocorre a perda de água fisicamente adsorvida, ocorrendo uma deformação denominada fluência (LAPA, 2008). O fenômeno da retração está ligado a deformações em pastas de cimento, argamassas e concretos, independentemente do carregamento, sendo sua principal causa a perda de água da pasta de cimento. A retração pode ocorrer no concreto em seu estado plástico ou endurecido. No estado plástico podem ocorrer o assentamento plástico e a retração 46 UNIDADE II │ DEgrADAção Do coNcrEto- FAtorEs FísIcos plástica. O assentamento plástico está ligado a dois fenômenos: a acomodação das partículas sólidas devido à ação da gravidade, causando a sedimentação e, em sentido contrário, a exsudação, que representa a movimentação do ar aprisionado e da água. A sedimentação pode provocar fissuras nos primeiros momentos após o lançamento do concreto, devido à presença de obstáculos como armaduras ou agregados maiores que impedem a movimentação homogênea das partículas sólidas. A retração plástica é devida à perda de água do concreto ainda não endurecido por causa da exposição de sua superfície às intempéries como vento, baixa umidade relativa do ar e altas temperaturas, as quais podem levar também à fissuração, denominada dessecação superficial. A ocorrência deste fenômeno será tão mais intensa quanto maior for o consumo de cimento, a relação a/c e as proporções de finos no concreto, estando ligado ao fenômeno da exsudação. Se a evaporação da água da superfície for mais rápida que a exsudação, podem ocorrer fissuras por retração plástica (HASPARYK et al, 2005). As fissuras no concreto endurecido, devido à movimentação da água, podem ser resumidas basicamente em retração autógena e retração por secagem, existindo também retração por carbonatação e por origem térmica. A retração autógena é definida como a remoção da água dos poros pela hidratação do cimento ainda não combinado, com a redução volumétrica macroscópica dos materiais cimentícios após o início de pega, sem que ocorra mudança de volume devido à perda ou ao ingresso de substância. A retração por secagem, ou retração hidráulica, é definida como a diminuição do volume da peça de concreto devido à remoção da água da pasta endurecida de cimento, quando o concreto “seca” pelo contato com o ar. O fenômeno é natural e ocorre como consequência da hidratação dos compostos anidros dos cimentos Portland. Para a explicação do fenômeno é importante saber que existem diversos tipos de água e com graus diferentes de dificuldade para serem removidos, como água livre, água capilar, água interlamelar (água de gel), água adsorvida e água de cristalização. A retração por carbonatação é provocada pela reação do CO2 com os produtos hidratados, que além de neutralizar a natureza cristalina da pasta de cimento hidratado causa a sua retração. Quando o CO2 é fixado pela pasta de cimento, a massa deste aumenta. Consequentemente, também aumenta a massa do concreto. A retração deve- se, provavelmente, à dissolução dos cristais de Ca(OH)2 enquanto sujeito a tensões de compressão e à deposição de CaCO3 nos locais livres de tensão. Por este motivo, a compressibilidade da pasta de cimento é aumentada temporariamente. A retração por origem térmica é devida ao calor gerado durante a hidratação do cimento Portland, causando tensões térmicas que tracionam o concreto na fase de resfriamento. Estes problemas ocorrem principalmente em estruturas massivas, onde o esfriamento à temperatura ambiente pode levar à fissuração (HASPARYK et al, 2005). 47 DegraDação Do concreto- Fatores Físicos │ UniDaDe ii Variações de temperatura entre os diferentes componentes do concreto (pasta de cimento, agregados e armadura), com características térmicas diferentes, podem ocasionar microfissuras na massa do concreto que possibilitam a penetração de agentes agressivos (RIBEIRO, 2014). Os efeitos da temperatura no concreto podem ter origem tanto externa como interna. Do ponto de vista externo, as condições climáticas, como o frio e calor, juntos com a umidade do ar e ventos, podem provocar problemas no concreto (ABRAMS, 1971). Do ponto de vista interno, o calor gerado pela hidratação do cimento é um dos mais importantes causadores de manifestações patológicas. Em uma estrutura de concreto as variações térmicas podem ocorrer por influências externas, como mudanças nas condições ambientais e incêndios, ou por influências internas (calor de hidratação do cimento com elevação da temperatura do concreto) (DAL MOLIN, 1988). As reações exotérmicas de hidratação do cimento provocam um aumento da temperatura no concreto durante as primeiras etapas de hidratação, resultando em uma dilatação do elemento. Uma vez atingida a temperatura máxima, o elemento se resfria de uma forma progressiva até alcançar a temperatura ambiente. Como consequência, o concreto já endurecido contrai-se provocando deformações. Essas deformações são especialmente significativas em concretos com elevadas dosagens de cimento, e em elementos de grandes dimensões onde a dissipação do calor é lenta (GETTU; AGUADO, 1998). Quando um elemento de concreto é submetido a altas temperaturas este sofre modificações importantes. A água livre ou capilar do concreto começa a evaporar a partir dos 100°C. Entre 200°C e 300°C, a perda de água capilar é completa, sem que se observem alterações na estrutura do cimento hidratado e sem redução considerável na resistência. De 300°C a 400°C produz-se a perda de água de gel do cimento, ocorrendo uma sensível diminuição das resistências e aparecendo as primeiras fissuras superficiais no concreto. Aos 400°C, uma parte do hidróxido de cálcio procedente da hidratação dos silicatos se transforma em cal viva. Até os 600°C, os agregados que não têm todos os mesmos coeficientes de dilatação térmica se expandem com diferentes intensidades, provocando tensões internas que começam a desagregar o concreto (CÁNOVAS, 1988). Pressão de cristalização de sais nos poros Além da ação devido à temperatura, outro tipo de desgaste físico (sem envolver ataque químico ao cimento) é o da cristalização de sulfatos, cloretos, nitratos, e similares, nos poros do concreto devido à formação de tensões internas. Essa cristalização se dá sob certas condições ambientais em que se verifica o umedecimento da estrutura com solução salina, seguido pela evaporação da água e depósito dos sais nos poros. Esse efeito pode 48 UNIDADE II │ DEgrADAção Do coNcrEto- FAtorEs FísIcos causar fissuração, descamamento e lascamento da estrutura devido a elevadas pressões produzidas pela cristalização de sais a partir de soluções supersaturadas (RIBEIRO, 2010). Acredita-se que os efeitos da umidade e a cristalização de sais constituem os dois fatores mais destrutivos na degradação de monumentos históricos de pedra ou rocha. A cristalização a partir de uma solução salina pode ocorrer apenas quando a concentração do soluto (C) excede a concentração de saturação (Cs) do soluto na água
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