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Fichamento lowy, marx

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Fichamento – LOWY, Marx e o Barão
O modelo científico-natural de objetividade e as ciências sociais.
	O desenvolvimento do capitalismo durante séculos resultou na criação e formação do modelo científico-natural de objetividade e na constituição de uma ciência natural livre de julgamentos e pressupostos ideológicos. No modo de vida feudal, a fraqueza das relações políticas tornou-se um peso decisivo para a formação dos fatores ideológicos que mantinham a ordem social estabelecida. Com a impossibilidade de obter respostas através da economia e da política, é no sobrenatural, na religião e na cosmogonia que se desenvolvem essas novas ideologias. Esses novos questionamentos eram vistos e tratados como uma ameaça subversiva. A partir dessas condições, conclui-se que as primeiras manifestações da ciência natural foram reprimidas com grande violência. 							O estudo sobre as ciências da natureza foi motivo de acirrados conflitos políticos e ideológicos. As classes dominantes do feudalismo e, principalmente, o clero, não admitam que sua cosmogonia fosse abalada, porque sua ideologia imponente poderia desmoronar. Com o desenvolvimento do capitalismo, as ciências naturais se “desideologizam”. Isso deve pela necessidade de conhecimentos técnicos e científicos sobre o capital e a grande indústria, mas também pelo fato de que o modo de produção capitalista está fundado em mecanismos econômicos da extração do excedente (“a pseudotroca de equivalentes entre salário e força de trabalho e a apropriação da mais-valia pelo capitalista.”)						A partir do momento em que o capitalismo se torna o modo de produção dominante, as ciências da natureza se emancipam de toda dependência em relação as ideologias religiosas ou éticas do passado. 											A seleção do objeto de pesquisa e a aplicação técnica das descobertas científicas dependem dos interesses e opiniões das classes e dos grupos que financiam e controlam a produção científico-natural, além da ideologia e visão social do mundo dos próprios pesquisadores. Já nas pesquisas das ciências sociais, as opções ideológicas condicionam não apenas a escolha do objeto de estudo mas também “a própria argumentação científica, a pesquisa empírica, o grau de objetividade atingido e o valor cognitivo do discurso.”			Não existe uma diferença clara entre as ciências humanas e as ciências naturais. Há, ao invés disso, um espaço cognitivo entre as duas, intermediário, uma zona de transição onde elas se cruzam e se interpenetram. 
Historicismo: caráter histórico dos fenômenos sociais e culturais produzidos, reproduzidos e transformados pela ação dos homens, contrário às leis da natureza. Citado por Marx em “O Capital”: a grande diferença entre a natureza e a história é que a história foi feita pelo homem e a natureza não. 
Identidade parcial entre o sujeito e o objeto de estudo enquanto seres sociais: o observador torna-se parte da realidade social estudada por ele e não tem, portanto, a separação e a distância que caracteriza a relação de objetividade do cientista natural com o mundo externo. 
	Os problemas sociais são palcos de objetivos contrários das diferentes classes e grupos sociais. Cada classe considera e interpreta o passado e o presente, as relações de produção, as instituições políticas, os conflitos socioeconômicos e as crises culturais de acordo com sua vivência, experiência, situação social e interesses. 							O conhecimento da verdade pode ter consequências profundas sobre o comportamento das classes sociais, sua relação de força e de trabalho e sobre o resultado de seus confrontos. “Revelar ou ocultar a realidade objetiva é uma arma poderosa no campo de luta de classes.”											Os cientistas tendem a se vincular a uma visão de mundo que se reparte o universo cultural de determinada época, seguindo a tendência característica da pequena burguesia. 		Tais fatos fazem com que as ciências sociais se distinguem das ciências naturais sobretudo no domínio da relação com as classes sociais. As visões de mundo e as ideologias das classes sociais conformam de maneira decisiva o processo de conhecimento da sociedade. “Toda ciência implica opção.” Para Max Weber, essa opção nas ciências sociais e históricas está ligada a certos valores, pontos de vista preliminares e pressuposições, que determinam as questões que se colocam em relação à realidade social e à problemática da pesquisa. 		O do processo de conhecimento científico-social desde a formulação de hipóteses até a conclusão teórica, passando pela observação e seleção e estudo dos fatos, é atravessado por valores, opções ideológicas e visões sociais do mundo. 
Sociologia crítica do conhecimento: explica as relações entre as classes ou categorias sociais e as ciências da sociedade. 
O momento relativista da sociologia do conhecimento.
	Tornou-se necessário a criação de um novo modelo de objetividade científico-social a partir do impasse que conduziu o mito positivista de uma ciência social livre de julgamentos de valor e ideologicamente neutra. Isso só seria possível se partindo de algumas ideias do historicismo e do marxismo, e integrando nele o momento relativista (histórico e social) da sociologia como etapa dialética necessária para uma nova concepção do conhecimento objetivo. 												O momento relativista, tese negada tanta pelo positivismo quanto pelo marxismo positivista, significa que todo conhecimento da sociedade é relativo a uma perspectiva, orientada para uma certa visão social de mundo, vinculada ao ponto de vista de uma classe social e um momento histórico determinado. 								O relativismo absoluto revela-se absurdo; é necessário reconhecer que “certos pontos de vista são relativamente mais favoráveis à verdade objetiva que outros, que certas perspectivas de classe permitem um grau de relativamente superior de conhecimento que outras.” Não é sobre opor a verdade e o erro, a ideologia e a ciência, mas sim estabelecer uma hierarquia entre pontos de vista diferentes, que seria uma sociologia diferencial do conhecimento, que levaria ao questionamento de qual seria o ponto de vista de classe e a visão social de mundo epistemologicamente privilegiados, ou seja, mais propícios ao conhecimento científico da realidade social. 								É preciso chegar a uma compreensão dialética das visões sociais de mundo, na sua dupla função de ocultação e revelação, designada por Bourdieu como a “lei das cegueiras e das claridades cruzadas que regem todas as lutas sociais pela verdade.” Tal questão foi apresentada por duas correntes das ciências sociais, a sociologia do conhecimento de Mannheim e o marxismo historicista. Mannheim atribui esse privilégio cognitivo à “intelligentsia” sem ligações, porém essa resposta apresenta limites e contradições. Já a resposta marxista não-positivista acredita que a classe revolucionária de cada época representa o máximo de consciência possível. Esse privilégio que antes era da burguesia revolucionária agora pertence ao proletariado. 								Em Miséria da Filosofia, Marx enfatiza que a burguesia compreendeu que o sistema e as instituições feudais eram arcaicos e ultrapassados, mas acredita que as instituições capitalistas são naturais e eternas. Essa burguesia percebeu e denunciou o caráter histórico e transitório do feudalismo, agora o proletariado que percebe e denuncia a historicidade do sistema burguês. Para Sartre, o ponto de vista do proletariado é o horizonte científico da nossa época.												Os historicistas do século XIX manifestavam uma compreensão com muito mais lucidez das contradições sociais geradas pelo desenvolvimento do capitalismo do que os ideólogos e representantes científicos da burguesia industrial. A burguesia revolucionária defendia seus interesses particulares, como o fim do feudalismo para a instauração de uma nova dominação de classes, o que implicava na ocultação ideológica de seus verdadeiros objetivos e do verdadeiro processo histórico. Já o proletariado, classe em que o interesse coincide com o da maioria e cujo objetivo é o fim de toda dominaçãode classe, não é obrigado a ocultar o objetivo e o conteúdo histórico de sua luta. Ele é a primeira classe revolucionária em que a visão social de mundo tem a possibilidade objetiva de ser transparente. 				A burguesia pode instaurar o poder sem uma compreensão clara do processo histórico e sem uma consciência lúcida dos acontecimentos, sendo favorecida pela “astúcia da razão” do desenvolvimento do capitalismo. O proletariado, por sua vez, não pode tomar o poder e construir o socialismo sem uma série de ações deliberadas e conscientes. O conhecimento objetivo da realidade é uma condição necessária para a prática revolucionária. A verdade é uma arma de seu combate para a luta de classes e sem ela não é possível prosseguir. 			O marxismo (ciência ligada à visão proletária do mundo), é uma forma de transição para a ciência de uma sociedade sem classes que pode atingir um grau mais elevado de objetividade, já que o conhecimento da sociedade deixará de ser palco para a luta política e social entre classes distintas.

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