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As QUESTÕES DE IDENTIDADE EM GEOGRAFIA CULTURAL ALGUMAS CONCEPÇÕES CONTEMPORÂNEAS

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'fr:rÀ fÓ� Ç .f /l(Ç/V7'/JAP6Y ,. f. 3: E�� -b:J o 1.t ·-- ------ ) ----
As QUESTÕES DE IDENTIDADE EM 
GEOGRAFIA CULTURAL - ALGUMAS 
CONCEPÇÕES CONTEMPORÂNEAS• 
M,-.rHJAS LE BoSSÉ .. A geografia cultural participou dos in­teresses contemporâneos sobre as questões de identidade e de fenômenos identitários. A noção de identidade foi explorada pelo conjunto das ciências humanas e sociais, através de uma grande variedade de abor­dagens específic�s ou interdisciplinares.1Realmente, existem diversas perspectivas teóricas sobre a identidade, que correspon­dem a diferentes motivos 0 J.llaneiras de se entender essa noção. O presente artigo, através de uma revisão dos estudos recen­tes, procura recensear, em suas grandes li-
• Publicado originalmente como "Les Questions
d'Identité en Géographie Culturelle. Quelques
Aperçus Contemporains", em Géographie et Cultures, 
n. 31, 1999. Trad. de Mareia Trigueiro. Os 
organizadores agradecem aos editores de Géographie et Cultures a permissão de traduzir e publicar o pre­
sente artigo. 
•• Departamento de Geografia da Universidade de
Wisconsin-Madison. 
1 Sobre este ponto, ver, por exemplo, Jean-Claude 
Ruano-Borbalan ( org.). L 'Identité - l'Individu, le Groupe,la Société. Paris: Éd. Sciences Humaines, 1998. 
nhas, as principais concepções de identida­
de na geografia cultural e os problemas que 
elas levantam. 
A pertinência da noção de identidade e 
sua riqueza conceituai facilitam a conver­
gência de perspç_ctivas temáticas diversas, 
não apenas entre ··as ciências humanas e 
sociais, mas também na área específica da 
geografia cultural. Esse movimento foi acom­
panhado de um aprofundamento da refle­
xão sobre o sentido e o alcance de objetos 
geográficos fundamentais, o lugar e o espa­
ço - termos, aliás, cada vez majs solicitados 
por outras áreas além da geografia -, nesse 
contexto intelectual. Os geógrafos se inte� 
ressam particularmente pela identidade dos 
lug4res e pelos papéis que eles desempe­
nham na formação de consciências indivi­
duais e coletivas. Observam como as pes-. 
soas, sujeitos e agentes geográficos recebem 
e percebem, constroem e reivindicam iden­
tidades cristalizadas em suas representações 
e em suas interpretações dos lugares e das 
relações espaciais. 
· 
IDENTIDADE 
O interesse atual pelas questões iden­
titár_ias pode ser inscrit� de maneira bastan­
te ampla nos debates teóricos travados en­
tre· os defensores da "modernidade" e os 
advogados da "pós-modemidade".2 Desde a
2 Ver especialmente David Harvey. The Conditions of Postmodemity. Oxford e Cambridge: Blackwell, 1989; 
Scott Lash e Jonathan Friedman (orgs.). Modernity 
158 
década de 1980 as "políticas de identidade" 
foram muito discutidas no mundo anglo­
americano. Trata-se de estratégias comple­
xas e paradoxais: as identidades sociais, car­
regadas de valor e de poder socioculturais, 
tornam-se "f9cos de resistência" ( quando a 
questão é, principalmente, proclamar e de­
fender os direitos identitários das minorias, 
sejam elas étnicas, religiosas, socioeconô­
micas ou .sexuais), mas ocorre que a pró­
pria noção de identidade social é condena­
da e rejeitada como instrumento essen­
cialista e alienante de um discurso moder­
nista desejoso de manter uma ordem social 
julgada repressiva, até mesmo totalitária.3 O 
caráter político desses argumentos intelec­
tuais e o efeito de uso· a ·que eles 
correspondem não devem dissimular a and Jdentity. Oxford e Cambridge: Blackwell, 1992; e 
também uma apresentação bastante clara, acessível e 
moderada de pontos de vista pós-modernos em 
Madan Sarup. Jdentity, Culture, and the Post�odern 
World. Athens: The University of Georgia Press, 1996. 
3 Ver Michael Keith e Steven Pile (orgs.). Place and the-Politics of Identity. Nova York: Routledge, 1993; e 
as discussões propostas por Richard J enkins. Social Jdentity. Londres: Routledge, 1996; bem como as in­
troduções dos títulos coletivos de E. Carter,J. Donald 
e J. Squires (orgs.). Space & Place: Theories of Jdentity and Location. Londres: Lawrence e Wishar.t, 1993; e 
de Patricia Yeager (org.). The Geography of Jdentity. 
Ann Arbor: The University of Michigan Press, ·1996. 
Estas duas últimas obras comprovam a variedade de 
abordagens pluridisciplinares (literatura, filosofia, an­
tropologia, sociologia, estética ... ) da noção de iden­
tidade, por intermédio de conceitos-chave da geo­
grafia. 
159 
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' 
._...�� 
pertinência e. a gravidade de fenômenos identitários bem reais, onde o que está em jogo implica forças políticas, econômicas e culturais consideráveis, não apenas nas socie­dades pluralistas ocidentais, mas em todas as escalas e em todos os lugares, certamente menos no anúncio exagerado de um desa­parecimer:i tó das especificidades culturais em uma "aldeia global" do que na recente e trágica multiplicação de "conflitos iden­titários" étnicos e nacionais, que não poupa nenhuma região ·do mundo.4 Antes de abordarmos os tratamentos geográficos dessas questões, procuraremos focalizar em suas grandes linhas os proble­mas colocados pela identidade enquanto conceito cultural e social. Como podemos expor e como devemos discutir um fenôme-no identitário?5 Se logo à primeira vista a identidade apresenta-se como a resposta a um "o que · é?", "quem são eles?", "quem somos nós?", e serve para dar substância e. sentido a oh-
4 François Thual. Les Conflits ldentitaires. Paris: Ellipses­Marketing, 1995 analisa e ilustra a pertinência e o alcance do conceito na geopolítica de conflitos con­temporâneos. 
5 Em uma farta literatura, observem-se as seguintes referências em francês: Claude Lévi-Strauss (seminá­rio dirigido por). L'Identité. 3. ed., Paris: PUF, 1995; Alex Muchielli. L'Identité. 3. ed. Paris: PUF, 1994; Pierre Guenancia. "L'Identité". In: Denis Karnbouchner (org. ). Notions de Philosophie IL Paris: Gallimard, 1995, pp. 563-5. Além disso, um artigo é consagrado a essa noção no dicionário de Roger Brunet et ai. Les Motsde la Géographie. 2. ed., Paris: Reclus .,.. La Documentation· Française, 1991, pp. 266-7. 
160 
jetos ou pessoas, ela pressupõe. que sejamestabelecidos critérios adequados a umaidentificação, que, de sua parte, remete adois processos distintos e complementares.De um lado, a identificação consiste, em umsentido lógico transitivo, em designar enomear qualquer coisa ou qualquer um, edepois em caracterizar sua singularidade. Deoutro lado, em um sentido intransitivo e por vezes reflexivo, e entendendo a identidadecomo similaridade, a identificação consisteem se assemelhar a qualquer coisa ou aqualquer um e se traduz, principalmente,tanto para o indivíduo como para o grupo,por um sentimento de pertencimento co­mum, de partilha e de coesão sociais. Logicamente, toda forma de identifica-ção supõe também, ao menos implicitamen-te, um processo de diferenciação: nos iden­tificamos a - ou, eventualmente, contra -qualquer coisa. Pelo pertencimento ou pela exclusão, a identidade aproxima-se tantodaquilo que ela leva em consideração comodaquilo que ela negligencia. A própria re­cusa de se identificar é indício de uma iden­tificação negativa ou a c�trario. Na me<l:idaem que o sentido psicológico da identidade significa consciência e singularidade, é pre­ciso admitir que o "próprio" ( o soi, o selj1 se apreende e se reconhece em uma trocadiferencial e dialética com aquilo que éentendido como o "outro". Para o indiví­duo ou para o grupo que tomam consciên­cia de sua identidade, são necessários nãoapenas os elementos de reconhecimentomútuo e de solidariedade internas, mas tam-
161 
bém um outro grupo, um "eles" em relação ao qual se terá o "nós", um "aqui" face a um "alhures" ou a uni· '-'além". De uma forma mais descritiva toda iden­tidade se define por um conteúdocompre­eirdido em termos de caracteres referenciais, percebiâõs á -p-áifii--ae perspectivas_�eren­tes; ê-que -pocle:ri1 inêrurr··1guaTinente aspec­tÕS g� ·gjdem)'ís1ca�Q��§.Wç-ª,_mater.iaLou �ntelectu_<!L_ Assim, a identidade se exprime e se comunica de man�ira interna e exter-· na, através de práticas simbólicas e discursivas. Para o grupo étnico e nacional, ela se baseia particularmente na idéia de um mito das origens ou de uma escatologia coletiva, a partilha de um espaço comum, as redes de sociabilidade, a participação em obras coletivas - econômicas, políticas e morais - que asseguram sua coesão. Além disso, se a eventual multiplicação dos indi- · cadores da identidade tende, de um lado, a enfocar um núcleo identitário individuali­zado, de outro sugere e possibilita, como que gravitando em torno dele, a existência de identidades múltiplas. Estas são mais ou menos contingentes, impostas ou escolhidas em graus diversos, especialmente no senti­do em que a identidade social do indivíduo e do grupo se aproxima e é entendida por relações e situações em _linhagens ou redes. Enfim, a linguagem corrente também ressalta diretamente uma dimensão tempo­ral da identidade enquanto forma de per­manência, de resistência à mudança. Em uma perspectiva jurídica, a identidade serve assim de sinaliza.dora da integridade e da responsabilidade; é ela que funda ou justifi-
162 
ca a soberania dos Estados. O "próprio" [o soi, o selj] da identidade tende a permane­cer o "mesmo" que persiste ou perdura nas ondas da experiência._ N.o entanto é preci­so ressaltar que todaforma iden!,itária apre­senta-se comp um equilíbrio- de tensões entre o ser e o vir-a�s-e"r': ãssíril_, � o argumento identitário, CO�Q _con.séiênç{ã_-�7>resença sÜsce"tfv�i-de �udar, de desaP,arecer óú dê' àdap'f�!Q . .,.PPdi y"õftãr:se para:- o· p�­s��ç_QffiQ._Iff..9j�!.l!r.::��--no futur�. Dele se utilizam igualmente, num sentido moral ou religioso, os mais rigorosos fundamenta-. lismos e conservadorismos, como também os apelos ao reconhecimento e à tolerância das diferenças. O que os ar.gumentos anteriormente apresentados implicam para toda pesquisa sobre a identidade, e que doravante admite os questionamentos contemporâneos dessa - noção _ nas ciências humanas e sociais, é ocaráter contextual e construído da identida­de. A identidade é uma construção social ehistórica do "próprio" [ do soi, do selfj e do"outro", entidades que, longe de serem con­geladas em uma permanência "essencial",estão constante e reciprocamente engajadase negociadas em relações de poder, de tro­ca ou de confrontação, mais ou menosdisputáveis e disputadas, que_ variam �Q tem­po e no espaço.
Ü LUGAR, FOCO DE IDENTIDADE Não é inteiramente novo o interesse particular dos geógrafos pelas questões de 
163 
-----
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��-· 
identidade; sem dúvida ele está na origemda curiosidade geográfica, mas no sentidocomumente difundido, e hoje ultrapassado,da disciplina como ciência descritiva etaxinômica de lugares. 6 
Identidade e "personalidade" geográfica
dos l1:f,gares No passado, a geografia clássica procu­rou com freqüência focalizar, mesmo semnomeá-Ia todas as vezes, uma "identidade"dos lugares e das pessoas, ressaltando a di­mensão psicológica da noção pela aborda­gem da personalidade ou do retrato dasregiões e dos povos. Assim, por exemplo,Paul Vida! de Ia Biache ressaltava os traçosharmoniosos da personalidade da França, tanto em termos das relações que os ho­mens estabelece,m com o seu meio ambien­te - as noções de regiões e de gêneros devida claramente individualizadas-, como emtermos de associação e de integração dasdiversas entidades regionais no quadro na­cional. 7 Essa perspectiva geográfica, que
6 O ensaio de Denis Retaillé. Le Monde du Géographe.Paris: Presses de Sciences-Po, 1997 discute· em mui­tas passagens o significado da identidade e da iden­tificação como problema e preocupação geográficas.7 Paul Claval. "De Michelet à Braudel. Personnalité,Iden tité et Organisation de la Fran�e". ln: LaGéographie au Temps de la Chute des Murs. Paris:L'Harmattan, 1993, pp. 93-114 .. Ver também, tantopela variedade de seus exemplos como por seusmétodos de abordagem, a obra coletiva de DavidHooson (org.). Geography and National Identity. Lon-
164 
enraíza conjuntamente a identidade do lu­g3:r e do homem-habitante na profundida­de histórica do grupo e de sua relação como ambiente, estava ainda fortemente associa­da a perspectivas naturalistas e não davaconta da irrupção da modernidade, especial­mente da vida urbana, em sociedades con­geladas em seus traços tradicionais.Através de generalizações que podiamfacilmente conduzir ao estereótipo, a geo­grafia também se arriscava a encontrar osobstáculos de um outro estudo científico daidentidade cultural: a Piicologia dos povos,hoje deixada de lado. Aliá�,-mesmo nointerior da geografia_esse .. 5.po de aborda­__ gem estava estreitamente associado à geo-grafia �egional, percefüê!_a_ �<?1!1º uma disci­plma escritiva e ideográfic� _9,_����fatizavareg1õ�s ou_ lugares enquã.nto indív1duos�par��is_ç_r��9�,__q2.��os de U:riiTa­râtér __ füJ.i,ço e. esp�cífiço, isto é, __ de. um_"...esp_í-rrto'' __ PE?...P_i:i<? ., q11e �Ill. geógrafo artista c.':f�? _mais c�P--ª.cita.d_p_para..apreender: um proje­tÕ-·epistemológico contestado, ao menostemporariamente, como sabemos, pela re-
dres: Blackwell, 1994. Encontramos explicitamente uma 
perspectiva similar no expoente da Escola de Berkeley, 
no próprio título do artigo que Carl O. Sauer dedicou 
em 1941 à "personalidade do'·•México": ver John 
Leighly. Land and Life - A Sel.ection Jrom the Writings of Carl Ortwin Sauer. Berkeley e Los Angeles: University 
of Califomia Press, 1969, pp. 104-17. 
8 Sobre este assunto, ver Abel Miroglio. La Psychologie des Peuples. Paris: PUF, 1968, assim como Paul Claval. 
"Géographie et Psychologie des Peuples", Revue de Psychologi.e des Peuples, 1966, pp. 386-401. 
16S 
', volução quantitativa e pelos desenvolvimen­tos da análise espacial. Sentido de lugar e identidade Nessas perspectivas, no entanto, encon­tramos em germe idéias exploradas a partir dos anos de 1970 com a emergência das cor­rentes humanistas e a expansão da· geografia social. A identidade assume então um alcance geográfico novo, pela mediação conceitual do "sen�do de lugar". Porque participa inteira­mente da -vida dos indivíduos e dos grupos, o lugar influencia, até mesmo constrói, tanto subjetivamente como objetivamente, identida­des culturais e sociais. O _lugar é considerado como o suporte esse�fêiã .ídintidade cuJmcaJ,. ... .1J_áQ"-mais 
;�-��--�;�tid� estritfil!lente naturalista-:-�'âs. p q r q u �--Jfri-:.:;��çl.e � ç i_ªº•º'-��º--w yJn.ajo -fep?.�.:1,lh?Jó_gi.�_?, _t:._0_9:t9._l.ç�_ç.9JW}..d.am_�9,!_al que an�ora � pesso� _}mmaz:ia naqµilo ... �1!e Eric D_ardel �hà�o_u d�_ �1::!a.. ___ "g�.ogi:efic..i��-
4<'. 9 O lugar humanista, tal como estudado por Yi-Fu Tuan, por exemplo, ao descrever a ligação emocional aos espaços demarca­dos e fechados, é um objeto carregado de valor e de sentido, um "centro de valores sentidos" pela subjetividade dos ·indivíduos e dos grupos. Caracterizado pela estabilida­de e pela permanência, pela uni�idade _e pela. especificidade, ele se· propõe como um foco identitário em todas as escalas espa­ciais, desde o espaço cotidiano e familiar da 
9 Eric Darde1. L'Homme et la Terr;_ Paris: PUF, 1952. 
166 
casa (home) até o território da coletividade nacional ( Jwmeland) . 10 Em seu modelo teó­rico do Jwrrw geographicus, .Ro.b..ert D. Sa_ç_]&_ assinalou recentemente como o lu ar (P-.lace).
e��i'•J>ro.pfi<L _ _ s_e.!JJ são cons�!?�!ª_�ci���-_à medida q�� _µartilhani __ q!!_<!,�i_d_�des �_f_y.pç_<;>e_§_ fíj_��ii.sociais .e inteleçtu�is :que.-ªg�_m. e __ ��afetam....mutuamente. 11 
._..:-�-,.-·· . 
. As múltiplas identidades do lugar A reflexão humanista sobre o lugar fer­tilizou diversas c.orrentes de pesquisa em geografia cultural. O "sentido de lugar" e a ancoragem geográfica dos fenômenos identitários nos lugares foram exploradose integrados a diversas perspectivas na geo­grafia social e política por intermédio de reflexões e estudos sobre esses objetos geo­gráficos privilegiados, que são a paisagem e o território, e suas representações, em to­das as escalas dos lugares, das cidades,• nasregiões e nações. 12 
1º Yi-Fu Tuan. Space and Place: The Perspective of Experience. Minneapolis: University of Minnesota Press, 
1977. Do mesmo autor, pode-se observar, também nesse contexto: Yi-Fu Tuan. Segmented Worlds and Self -Group. Life and Individual Consciousness. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1982.11 Robert D. Sack. Homo Geographicus. Baltimore eLondres: The Johns Hopkins University Press, 1997. (cf. especialmente o capítulo 5: "Place and Self'). 
12 Desenvolvimentos seguidos especialmente em três artigos de síntese de J. Nicholas Entrikin intitulados "Place and Region", publicados em Progress in Human Geography (1994, 1996, 1997). Ver também Gillian
167 
_ _..... 
•outras palavras, local do habitus) e de "situa-1-ão e interação com outros lugares"l,oca�isatio1f). Çonvérn, portanto, Rãa ahor­ar o desenvolvimento de urna identidade �------------- � _z.�r]!.J�i!_rtir...de--u� pao ta cte�asDterI?,_ü_ ___ ç!..Q_.1ugru:,_,..JDas-situaoda-o em um9nte_xto .. m����Jg,._ymtru!Q_eara º exte­rioi:,_,.ep.m celaçõ@s @Sfladais 9ii�rn 're-�ipro�-�!lt�--�· � - .._.-,<Dê' fato, se o lugar é reconhecido corno· ·iirna sede - fonte e refúgio, santuário ·ecadinho - de identidade, e encontra justa­mente um papel conceitua! central na geo­grafia cultural, é preciso compreender porque e corno as identidades se formam local­mente. Esse movimento de reflexão condu­ziu a uma redefinição conceitua! do lugarem suas relações com o espaço.
foENTIDAD�S: ENTRE LUGARES E ESPAÇOS, 
RECONFIGURAÇÕES CONCEITUAIS A questão parece particularmente apro­priada no contexto contemporâneo da globalização e face a uma comprovação paradoxal: embora a diversidade das identi­dades culturais parecesse ameaçada de ero­são pelo efeito de forças globais trazidas pela revolução das comunicaçõ'es, ela persiste e se afirma às veze·s vigorosamente nas escalas _ locais ou regionais. 18 Em vez de validar a idéia de uma dicotomia local/ global sepa-
18 Jean-Pierre Saez (oi-g.). ldentités, Cultures et Territoires.Paris: Desclée de Brouwer, 1995. 
170 
1 
1 . 
rando duas formas escalares de identifica­ção, nós as consideraremos corno dois pó­los extremos de um continuum no qual as identidades geográficas se situam, assinala­remos as tensões e misturas geradas por suas interações, ou, como disse E. Relph, mos­traremos como "o processo de formação de uma identidade de lugar consiste cada vez mais [ ... ] nas maneiras como fragmentos similares da cultura global se combinam em alguma parte". 19 Identidades l,ocais e espacialidade do social Antes de mais nada, o. que a geografia vidaliana denominava "vida de relações" -as relações espaciais que ligarri cada lugar a outros lugares - torna-se um ·ponto essen­cial da abordagem contemp9rânea da iden­tidade geográfica. Este é, em parte, o senti­do da reflexão de D. Massey sobre as rela­ções conceituais entre lugar e espaço e seu respectivo papel na construção de identida­des sociais.20 Mais do que um objeto mate­rial, Massey definiu o lugar como "fenôme­no social" expresso no espaço: nessa medi-
19 Edward Relph. "Place". ln: I. Douglas, R. Hugett & M. Robinson (orgs,) .. Companion Encyclopedia ofGeography. The Environment and Humankind. Londres:Routledge, 1996, ·PP· 906-2�; a passagem citada en­contra-se na p. 916.
20 O parágrafo _seguinte parafraseia livremente uma passagem do ensaio," A Glopal Sense of Place?", ex­traído de. Doreen Massey. · Space, Place and Gender. · Minneapolis: University of Minnesota Press, 1994. 
171 
----· 
. .--
Se a-construção de uma �assa pelacoiisícleraç"ao_ de_ u.maJierança> �pr:�ervação _ de um �_9.E.!Q..SÓCio;:hL&,tó-. rico, e se a capacidade de recordar, preser-yâ·r -��-p-erpeúiar um pãs����,i����e· �� l1m sentimento identitário, este último encon­Çr:a um local ·de- -�xpr:essão p�JiÚ�-�"a�cia•�s "lugares _de memória". 13 As paisagens reãis,/assim como suas representações estéticas nas obras artísticas e literárias, assinalam, tanto quanto informam, as consciências coletivas emocionais e territoriais. 14De fato, essas práticas são parte inte­grante de uma territorialidade simbólica pela qual os grupos afirmam e· reivindicam sua identidade cultural e política em rela­ção com o seu lugar próprio. Em 1952, em La Politique des États, Jean Gottmann obser­vava a importância da iconografia e a repre­sentação das coletividades regionais e nacio­nais.15 A iconogr�a, oferecendo às comu-
Rose. "Place and Identity: a Sense of Place". ln: D. 
Massey & P. Jess (orgs.). A Place in the World1 Places, -Cultures and Globalization. Oxford: The Open 
University, 1995. 
u Vincent Berdoulay. "Place, Meaning and Discourse
in French Language Geography". ln: J. Agnew & J.
Duncan (orgs.). The Power of Place - Bringi,ng Together Geographical and Social Imagi,nations. Boston: Unwin
and Hyman, 1989, pp. 124-39.
14 Stephen Daniels. Fields of Vision: Landscape Imagery and Nation Identity in England and the .United States. 
Cambridge: Polity Press, 1993. Evidentemente, tam­
bém notamos os trabalhos recentes. de David 
Lowenthal e Simon Schama. 
15 Jean Gottmann. La Politique des États et leurGéographie. Paris: A. Colin, 1952.
168 
nidades políticas os símbolos e mitos unifica­dores que servem de fator de resistência à mudança ou de base de estabilidade, favo­rece a ancoragem espacial e temporal de uma identidade territorial e a difusão da mensagem identitária dentro e fora do ter­ritório.16 Certamente, o território identitário não é ap'eri�E!�j�J_m_lioli.cii; .. Úambém-�Gal:.­depciticas ativas e atuais,�intermédio 4ªLqu.ais_se3firmam e vivem __ as_j�<:ntid�:­�- Ao procurar aproximar a geografia política das teorias sociais, John Agnew assi­nalou analiticamente os três aspectos indissociáveis do lugar: ressalta a importân­cia que daí em diante é preciso atribuir ao "sentido de lugar", definido como "a orien­tação subjetiva que pode ser engendrada pela vida em um lugar, [ ... ] a definição geo­sociológica do próprio [do sai, do selj] ou da identidade produzidos por um lugar",17 e o associa às suas outras dimensões de "lo­cal da interação social cotidiana" (locale, em 
16 Uma idéia aproximada é encontrada em Benedic
t
Anderson, que· evoca o papel da "logoização
" da
imagem territorial na formação da comunidade n
acio­
nal "imaginada": Benedicl ·Anderson. ImaginedCommunities. Londres: Verso, 1991. 
17 John Agnew &James Duncan (orgs.). The Power ofPlace, op. cit.; a citação se· encontra na p. 6. John 
Agnew. Place and Politics: The Geographical Mediation of State and Society. Boston: Allen e Unwin, 1987 .. 
Ver também, do mesmo autor: J.ohn
 Agnew.
"Representing Space: Space, Sc.�le and Cu
lture in
Social Science". In:J. Duncan & n:·Ley (orgs.
). Place
/ Culture / Representation. Londres: Routledge, 1993,
pp. 251-71.
169 
' outras palavras, local do habitus) e de "situa­ão e interação com outros lugares" localisation). Convém, portanto, Rãa abor­ar o desenvolvimento de uma identidade 
. 3��f� __ pir,tiule..--�"'ãõr:â-cte:-Yislã: ap�nas·rn�ter_n.,o. ... �.Q .. JtJ.gax,_..mas-sitvaoda-o em um 9n�e_xt_o .... 1P��_2r.m2Jg_,.__..Y.Qll.�ra o exte-rio�....,.cp,m relações @SfH¼Eiais 'f''�m ·;e·�ipro�E!!�� � 
- ��Í);-fato, se o lugar é reconhecido como.. iima sede - fonte e refúgio, santuário ·e cadinho - de identidade, e encontra justa­mente um papel conceitua! central na geo­grafia cultural, é_ preciso compreender por que e como as identidades se formam local­mente. Esse movimento de reflexão condu­ziu a uma redefinição conceituai do lugar em suas relações com o espaço. IDENTIDAD�S: ENTRE LUGARES E ESPAÇOS, RECONFIGURAÇÕES CONCEITUAIS A questão parece particularmente apro­priada no contexto contemporâneo da globalização e face a umacomprovação paradoxal: embora a diversidade das identi­dades culturais parecesse ameaçada de ero­são pelo efeito de forças globais trazidas pela revolução das comunicações, ela persiste e se afirma às vezes vigorosamente nas escalas locais ou regionais. 18 Em vez de validar a idéia de uma dicotomia local/ global sepa-
18 Jean-Pierre Saez (org.). /dentités, Cultures et Territoire�. Paris: Desclée de Brouwer, 1995. 
170 
rando duas formas escalares de identifica­ção, nós as consideraremos como dois pó­los extremos de um continuum no qual as identidades geográficas se situam, assinala­remos as tensões e misturas geradas por suas interações, ou, como disse E. Relph, mos­traremos como "o processo de formação de uma identidade de lugar consiste cada vez mais [ ... ] nas maneiras como fragmentos similares da cultura global se combinam em alguma parte". 19 Identidades locais e espacialidade do social Antes de mais nada, o . que a geografia vidaliana denominava "vida de relações" -as relações espaciais que ligarri cada lugar a outros lugares - torna-se um ·ponto essen­cial da abordagem contemp9rânea da iden­tidade geográfica. Este é, em parte, o senti­do da reflexão de D. Massey sobre as rela­ções conceituais entre lugar e espaço e seu respectivo papel na construção de identida­des sociais.20 Mais do que um objeto mate­rial, Massey definiu o lugar como "fenôme­no social" expresso no espaço: nessa medi-
19 Edward Relph. "Place". ln: I. Douglas, R. Hugett & M. Robinson (orgs.) .. Companion Encyclopédia ofGeography. The Environment and Humankind. Londres:Routledge, 1996, 'pp. 906-2�; a passagem citada en­contra-se na p. 916.
20 O parágrafo _seguinte parafraseia livremente uma passagem do ensaio "A Glopal Sense of Place?", ex­traído de. Doreen Massey. · Space, Place and Gen(ler. · Minneapolis: University of Minnesota Press, 1994. 
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fia.22 O estudo de Anssi Paasi sobre a fron­teira finlandesa-russa na Carélia ilustra de modo exemplar o processo sócio-histórico concreto no qual se definiu literalmente a identidade territorial e nacional da Finlân­dia contemporânea. O autor trata frontei­ras e territórios como fenômenos sociais portadores e reveladores de uma consciên­cia socioespaciaL Ao examinar as diversas formas que toma essa consciência, princi­palmente segundo inúmeras perspectivas que tentam enfocar a experiência das pes­soas · nas escalas local, regional e nacional, critica a idéia de região e o alcance da noção de identidade regional.23 O sentido de identidade regional, de acordo com Paasi, é medido no decorrer do processo sócio-histórico de construção identitária emprne.T1dido pelas instituições .. Se a região - nome que devemos compre­ender aqui em seu sentido essencialmente político, e lembrando que a palavra deriva de uma raiz latina que significa "reger" ou "administrar" - desenvolve uma identidade própria, ela o faz à medida que existe_m instituições regionais que constituem sua moldura e sua base. A institucionalização não apenas sugere a existência, como tam-
22 D. Newman e A. Paasi. "Fences and Neighbors inthe Postmodern World: Boundary Narratives in Political Geography". Progress in Human Geography,
1998, v. 22, n. 2, pp. 186-207.· :� Anssi Paasi. Territories, Boundaries and Consciousness- The Changing Geographies of the Finnish-Russian Border.Chichester: John Wiley & Sons, 1996.
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bém chama a atenção e facilita o reconhe-. cimento de uma região e de seus símbolos (por exemplo, seu nome ou sua forma ·físi­ca), estabelecendo ainda as condições territoriais e institucionais reais, práticas e estáveis que permitirão que as identidades regionais se produzam e reproduzam ao longo do tempo e em circunstâncias sócio­históricas mutáveis. Identidade e poder: construção territorial e ideologias espaciais Esse modelo de identidade instituciona­lizada, do qual um dos méritos principais é assinalar o caráter construído e contextual das· identidapes territoriais, também atrai inevitavelmente a atenção para a dimensão ideológica de toda expressão identitária. Se a identidade territorial é construída, ela é, por conseguinte, contingente e variável, sempre contestável e por vezes contestada pelos atores geográficos presentes. Quem são os autores dos discursos identitários e quais as suas visões? Que relações de poder são expressas através de seus discursos e o que elas revelam sobre uma identidade cujo próprio controle é, ao mesmo tempo, o meio e o objetivo das lutas envolvendo po­der e influência? O questionamento das práticas e discursos identitáriós exige, por­tanto, que estejamos atentos aos movimen­tos de dominação, de controle-e de explo­ração que ali se exprimem. Em outras pa­lavras: çlevemos nos interessar pela criação e pela difusão de ideologias identitárias que 
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da, os lugares não mais se oferecem neces­sariamente ao exame como recipientes identitários fixos e voltados para eles mes­mos, mas como "redes porosas, abertas àsrelações sociais", que situam toda aefervescência identitária local em um con­texto de fluxos relacionais mais amplos. Ainteração_ sÓcioespacial com outros lugares - que nem sempre está limitada à oposiçãoou ao contraste - participa da construçãoda identidade local. Por ela são reconheci­das as identidades múltiplas do lugar, quenão variam apenas em função das diversasconsciências sociais presentes em seu inte­rior, mas também segundo as diversas inter­pretações e orientações espaciais que essasconsciências atribuem às relações voltadaspara o exterior e ao seu impacto local.Reconhecer a abertura, a troca e oemaranhamento das identidades dos luga­res em dinâmicas socioespaciais complexas que neles se cruzam, os envolvem e os ultra-passam não significa, no entanto, negar aespecificidade ou a particularidade dos lu­gares. Cada lugar repousa sobre sua própriahistória e constitui o foco único, emissor ereceptor de sua singularidade em um espa­ço de· relações com outros lugares,. próxi­mos ou distantes, reais ou imaginários, assi­milados ou rejeitados.Identidade, territorialidade e fronteiras Para ilustrar concretamente este argu­mento, podemos examinar como a noçãode territorialidade foi revisada e reformu-
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C"CCJJvn: __ pirações e animam a coesãodas recre--...,_,,.,,,_�mectiYa�seJnP-re geográ- ' 1 1 lada. No sentido das modalidades práticas e simbólicas pelas quais um grupo define e controla seu território, a ,territorialidade revela a identidade do lugar; ela é, ao mes­mo tempo, o produto e a expressão de um ponto de vista interno e inclusivo. Mas a noção de territorialidade parece demandar a ultrapassagem desse único ponto de vista: como referência identitária, o territóriodefine tanto aquilo que lhe pertence como aquilo que ele exclui. Para compre�nder plenamente a expressão territorial do gru­po, nos beneficiamos ao examinar a manei­ra como o grupo percebe e representa seu "outro", inimigo ou vizinho, e como esse "outro" contribui para soldar a coesão in­terna do grupo identitário. Uma versão política e geográfica da psicologia interna e .externa dos povos foi assim revisitada por Gertjan Dijkink, que assinalou a pertinênciasempre atual de visões geopolíticas.21 Testemunhas, simultaneamente, de um-ª.territorialidade interna e uma construção geográfica da "mesmidade" e· da alteridade, as fronteiras tornaram-se um assunto impor­tante no estudo das identidades em geogra-21 Talvez com o risco de "psicologizar a geopolítica", mas com uma inegável visão heurística_ Ver Gertjan Dijkink. National Identity and Geopolitical Visions -Mapsof Pain and Pride. Londres: Routledge, 1996. Na pá­gina 11, o autor define "visão geopolítica" como "toda idéia que aborda as relações que um lugar específico tem com outros lugares, implicando um sentimento de segurança ou de insegurança, de vantagem ou desvantagem, e/ou implicando idéias de missão co­letivarelativa à política estratégica". 173 •
cies de representações de lugares e de espa­ços, que se articulam de maneira mais ou menos fiel, coerente e eficaz nos discursos identitários. 
ÜUTRAS CONSIDERAÇÕES: IDENTIDADE, 
IMAGINÁRIO E CONSCIÊNCIA GEOGRÁFICOS Todas as formas de identidade geográ­fica são locais e territoriais? Todas as iden­tidades assumem necessariamente uma for­ma espacial e são conscientemente repre­sentadas? Podemos pensar em sociedades não afetadas pela giodemidade, que tinham uma consciência diferente de sua relação com o espaço e cuja id_entidade foi, po'r isso mesmo, inadequadamente referida pelos critérios do observador ocidental. Podemos pensar também nas identidades. fragilmente enraizadas e territorializadas das diásporas, ou nas identidades ideais, desmaterializadas e a-espacializadas, prome-. tidas pelo mundo da informádca virtual. Todavia, ao se definir no sentido amplo a id�ntificação geográfica como uma prática dinâmica, simbólica e multiescalar, deve ser possível, em todo discurso identitário - seja ele mais apoiado no mito ou na rede social do que sobre o espaço ou o lugar, ou na . crença da emergência. de um "lugar glo­bal" -, reencontrar a pista de uma imagi­nação da terra perdida ou de um sonhado além, de _um topos ou de uma utopia razoa­velmente metafóricos que alicerçam as as­pirações e animam a coesão das redes sociais em uma perspectiva sempre geográ-
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fica. Pojs a impossibilidade ou a recusa de se identificar com um lugar, ou de identi­ficar um espaço, assinalariam negativamen­te, por si mesmas, que uma geograficidade ainda está para ser elaborada. Assill!, por um retorno às preocupações fundamentais das correntes humanistas e culturais, a reflexão sobre a identidade em geografia leva a ampliar o sentido do imagi­nário geográfico individual e social e, desse modo, a encaminhar a geografia cultural para um aprofundamento de sua especificidade. A geografia cultural como forma de preocupação e de saber examina e procura compreender o sentido da diver­sidade das identidades dos lugares e das pessoas. Os próprios geógrafos produzem identidades,· de maneira mais ou menos consciente e voluntária, por meio de inter­rogações e práticas discursivas que lhes são próprias. Conscientes de sua função social e dos valores intelectuais e morais que os animam, os geógrafos perseguem a explora­ção das múltiplas· dimensões de sua curiosi­dade e de sua ciência. 
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repousam 'sobre bases ou fatores geográfi-
cos. 24 '. 
· Uma primeira série de questões-tratará 
da natureza do ângulo institucional privile­
giado como vetor de identificação. Ainda 
que as estratégias territoriais sejam encon­
tradas em graus·:· diversos e o argumento 
identitário-atue ein numerosos domínios da 
vida social institucionalizada - política es- . 
tratégica, econômica, comercial, etnocul­
tural, turística -, os territórios definidos por 
essas estratégias multiplicam-se de maneira 
mais ou menos competitiva ou conflituosa, 
mas sempre dinâmica. 25 Por exemplo, de 
qual Europa falamos hoje nos debates 
subjacentes ao processo de integração pre­
tendido depois. do Tratado de Roma? A 
identidade européia, tão escorregadiça, não 
se deve, evidentemente, apenas à integração 
econômica e à política social e ter_ritorial 
dos diversos Estados-nações membros: 'a 
Europa não é a União Européia; existem 
várias outras Europas, onde as identidades 
territoriais se fazem e se desfazem de acor­
do com a história das nações e das regiões, 
24 O modelo da "formação socioespacial" apresenta­
do por Guy Di Méo detém-se longamente na instân­
cta ideológica, abordagem também pertinente na 
discussão do fenômeno identitário: Guy Di Méo. Géographie Sociale et Territories. Paris: Nathan, 1998. 
25 Ver as reflexões contidas em E. Durven, J.
Groeneweggen & S. van Hoof (orgs.). "Stuck in the 
Region? Changing Scales for Regional Identity". Nederfandse Geografische Studies, 155: Utrecht/Koninklijk 
Nederlands, Aardrijskundig Genilotschap/Vereninging 
van Utrechtse Geografie Studenten, 1995. 176 '} e, além disso, são, às vezes, fragilmente institucionalizadas ... 26 Ligada a essas questões da identificação geográfica e das visões que ·ela recobre, uma outra série de reflexões conduzirá ao questionamento sobre a validade e a auten­ticidade das identidades geográficas.27 Qual. é a parte, na consciência socioespacial do grupo, eia experiência concreta e cotidiana­men te vivida das pessoas e a de um imagi­nário geográfico interpretado, construído e mobilizado pela ideologia dominante das elites socioculturais e políticas? Podemos responder aqui como Paasi, por exemplo, observando com olhar crítico as formas e expressões da consciência socioespacial em diversas escalas, e revelando as articulações das diversas experiências identitárias geográ-. ficas, avaliando seus alcances respectivos e relativos, em uma percepção estrutural de conjunto. De maneira mais geral, nos tor­naremos sensíveis às múltiplas vozes dos discursos da identidade e de seus indícios ou referentes geográficos no imaginário das pessoas. Socorrendo-nos aqui da "geopolítica crítica" anglo-saxã, notaremos como- todo. imaginário social e cultural está impregna­do de "signos" geográficos mais ou menos sofisticados, compreendendo todas as espé-26 Ver, sobre a diversidade de ângulos de ·abordagem: Brian Graham ( org.) . Modem Europe - Place. Culture. Identity. Londres: Arnold, 1998. 27 Para essa crítica, ver, por exemplo: Jeàn-François Bayard. L 'IÍlusion Identitaire. Paris: Librairie Artheme Fayard, 1996. 177 
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