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1/7 ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE FÁBRICA DE GELO NA COLÔNIA DE PESCADORES Z 3, PELOTAS,RS Niederle, P. A.1*; Gomes, M. C.2 1Graduando do curso de Agronomia – ITI-CNPq – FAEM/UFPEL Deptº de Ciências Sociais Agrárias – DCSA – FAEM/UFPEL Campus Universitário – CEP 96010-900 * pauloufpel@yahoo.com.br 2Professor Orientador, UFPel/FAEM/DCSA 1. INTRODUÇÃO As comunidades de pesca artesanal, assim como as de camponeses, encontram-se em meio às contradições das políticas de livre comércio e os aspectos de sustentabilidade ambiental, igualdade social, segurança alimentar e garantia de sua reprodução social. O pescado sempre contribuiu significativamente para a nutrição humana e o progresso social e econômico. Em escala global a atividade gera 50 milhões de empregos diretos e 80 milhões indiretos no Sistema Agroindustrial do Pescado. A contradição deste cenário de desenvolvimento econômico do setor encontra-se explícita na organização da cadeia produtiva, que concentra os lucros nas mãos de “atravessadores”. Estes condicionam os pescadores artesanais a adquirir insumos a preços superestimados e remuneram o pescado em níveis muito inferiores ao valor de mercado. Desta forma, torna-se um imperativo encontrar alternativas concretas que desconstituam esta situação de exploração. As possibilidades concentram-se na a redução dos custos dos insumos, sobretudo gelo e óleo, e na construção de mecanismos de comercialização direta do pescado (entrepostos de comercialização, feiras-livres, etc). 2/7 O presente artigo busca contribuir num destes aspectos. Tendo em vista o processo de implantação de uma Fábrica de Gelo na Colônia Z 3 a partir de um programa governamental de apoio a estruturação da cadeia produtiva do pescado, este trabalho propõe-se a analisar a viabilidade econômica de implementação e operação do projeto a partir de estimativas de custos e receitas. Sua relevância esta expressa no delineando mais preciso das condições econômicas e financeiras sob as quais o projeto irá operar e que, futuramente, poderá servir de auxílio na administração da produção. 2. MATERIAL E MÉTODOS Em que pese o projeto estar ancorado em programa governamental com repasse de financiamento a fundo perdido, que possui como beneficiária a Cooperativa de Pescadores Lagoa Viva, considera-se que o investimento realizado terá que ser recuperado integralmente. O estudo constituiu-se de cinco etapas [1], quais sejam: 1) um breve estudo de mercado que permitisse constatar as condições macroeconômicas nas quais o projeto operará, o público consumidor, a estimativa de consumo e preços viáveis; 2) definição do tamanho do investimento necessário para atender a demanda e a melhor localização; 3) discriminação da engenharia (seleção de equipamentos e processo de produção); 4) quantificação de custos e receitas, e formação do Fluxo de Caixa para um período de dez anos e, 5) análise de viabilidade econômica do projeto. Para a análise de viabilidade utilizou-se como referencial teórico a determinação da Taxa Mínima Atrativa de Retorno (TMAR), estimada a partir das condições nas quais espera-se que a fabrica de gelo atue e das necessidades de operacionalização. Desta forma utilizando-se de software específico, foram utilizados os seguintes métodos de análise e seleção de oportunidades de investimento[3]: Valor Presente Líquido (VPL): consiste em transferir para o momento atual todas as condições esperadas no Fluxo de Caixa, descontadas a uma determinada 3/7 taxa de juros, também chamada taxa de desconto. A fórmula algébrica do VPL é expressa por: VPL = n Xj Σ (1+i)j J=0 Neste caso, para a aprovação do investimento é necessário que a VPL seja positiva, indicando que o retorno é superior ao mínimo desejado (TMAR). No caso de valores de VPL negativos, o projeto torna-se inviável economicamente e, VPL=0, indica que o retorno do investimento é igual a TMAR, não sendo indicada sua implementação. Taxa Interna de Retorno (TIR): juntamente com o VPL, utilizamos a TIR, com isso tem-se maior confiabilidade na indicação de viabilidade do projeto. A TIR representa “a taxa de juros que torna uma série de desembolsos equivalentes na data presente” [3]. Matematicamente a TIR torna a VPL igual a zero, e i é a incógnita. VPL = n Xj = 0 Σ (1+i)j J=0 Se a TIR apresentar resultado superior a Taxa Mínima Atrativa de Retorno previamente definida, o investimento é aprovado; caso contrário, é rejeitado. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando que a capacidade máxima de produção é de 10 toneladas diárias; serão produzidas 60 toneladas semanais nos seis meses de maior produtividade da pesca. Nos seis meses de menor produtividade estima-se a produção de 20 toneladas semanais, sendo ampliada em cerca de 20% 4/7 anualmente até o limite de 40 toneladas semanais, o que ocorrerá no quinto ano de funcionamento. De acordo com os dados de demanda de gelo e produção pesqueira da Colônia Z 3 levantados durante a etapa de Estudo de Mercado, esta produção é suficiente para atender os sócios da cooperativa (240 embarcações) no período de maior produção (seis meses)1, e com a produção ampliada em 20% no período de safras menores, poderá, em 5 anos, beneficiar a quase totalidade de pescadores da Colônia Z3 (cerca de 480 embarcações) [2]. A tabela 1 apresenta os resultados do Fluxo de Caixa. Nela estão contabilizadas todas as receitas (preço da tonelada de R$ 65,00) e custos (operacionais e de investimento), sendo que para os custos operacionais foram somados acréscimos de custos com energia elétrica na mesma proporção do aumento da produtividade. Tabela 1. Fluxo de Caixa do projeto para dez anos com entradas e receitas. Ano Entradas Saídas Total Receitas* Custos Operacionais Investimento Capital de Giro 0 (243.174,11) (25.000,00) (268.174,11) 1 124.800,00 (59.400,00 ) 65.400,00 2 131.040,00 (60.700,00 ) 70.340,00 3 138.450,00 (62.260,00 ) 76.190,00 4 147.420,00 (64.132,00 ) 83.288,00 5 156.000,00 (66.376,00 ) 89.624,00 6 156.000,00 (66.376,00 ) 89.624,00 7 156.000,00 (66.376,00 ) 89.624,00 1 No período de maior produção (60 toneladas semanais) não há como ampliar, pois a máquina está funcionando em capacidade máxima. Portanto neste período, provavelmente, a produção atenderá somente os sócios da cooperativa. 5/7 8 156.000,00 (66.376,00 ) 89.624,00 9 156.000,00 (66.376,00 ) 89.624,00 10 246.000,00 (66.376,00 ) 179.624,00 *No Ano 10 são contabilizados nas “receitas” a retomada do Capital de Giro que foi investido no Ano 0 (R$ 25.000,00), e R$ 65.0000,00 correspondentes ao valor de resíduo dos equipamentos e prédio. A tabela 2 indica os valores sobre os quais foi montado o fluxo de caixa após o desconto do Imposto de Renda, e os componentes para o cálculo. Para a análise da viabilidade econômica, o Fluxo de Caixa inicial foi re-estipulado a partir do cálculo da depreciação, pois esta interfere diretamente no lucro tributável que é a base para a cobrança do imposto de renda. Após o desconto do imposto tem-se o Fluxo de Caixa Final, sobre o qual é calculada a viabilidade econômica do projeto. Tabela 2. Fluxo de Caixa inicial, depreciação, lucro tributável, descontos do Imposto deRenda (IR) e Fluxo de Caixa Final após o desconto do IR. ano Fluxo antes do Depreciação Lucro tributável IR (25%) Fluxo após o IR (A) (B) (C=A+B) (D=Cx0,25%) IR (E=A+D) 0 (268.174,11) - - - (268.174,11) 1 65.400,00 (15.260,00) 50.140,00 (12.535,00) 52.865,00 2 70.340,00 (15.260,00) 55.080,00 (13.770,00) 56.570,00 3 76.190,00 (15.260,00) 60.930,00 (15.232,50) 60.957,50 4 83.288,00 (15.260,00) 68.028,00 (17.007,00) 66.281,00 5 89.624,00 (15.260,00) 74.364,00 (18.591,00) 71.033,00 6 89.624,00 (15.260,00) 74.364,00 (18.591,00) 71.033,00 7 89.624,00 (15.260,00) 74.364,00 (18.591,00) 71.033,00 8 89.624,00 (15.260,00) 74.364,00 (18.591,00) 71.033,00 9 89.624,00 (15.260,00) 74.364,00 (18.591,00) 71.033,00 10 179.624,00 (15.260,00) 164.364,00 (41.091,00) 138.533,00 6/7 Finalmente na tabela 3 são demonstrados os índices do Valor Presente Líquido e Taxa Interna de Retorno a partir de diferentes Taxas Mínimas Atrativas de Retorno (TMAR) estipuladas previamente. Os dados são calculados tendo por base duas situações distintas. A primeira delas considera a cobrança de imposto de renda e, a segunda, que foi incluída para critério de análise, determina os resultados tendo por base a isenção do imposto. Tabela 3. Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna de Retorno (TIR) para os casos de cobrança de Imposto de Renda (IR) ou isenção. VPL e TIR considerando cobrança do IR TMAR 10% TMAR 15% TMAR 20% TMAR 21% VPL VPL VPL VPL TIR 21% R$ 108.149,24 R$ 30.639,70 R$ 7.225,24 (R$ 2.964,85) VPL e TIR desconsiderando cobrança do IR TMAR 10% TMAR 15% TMAR 27% TMAR 28% VPL VPL VPL VPL TIR 27% R$ 264.845,72 R$ 155.773,11 R$ 1.577,39 (R$ 7.038,61) 4. CONCLUSÕES No primeiro caso, considerando-se a cobrança de Imposto de Renda, os resultados obtidos da VPL expressam que até o nível de 20% da taxa de desconto, o investimento é aprovado. Somente ao nível de 21% passar-se-ia a rejeitar o projeto. Desta forma a Taxa Interna de Retorno calculada situa-se ao nível de 21%. Na outra situação, tomando-se por base a isenção do IR, o investimento é aprovado, segundo a VPL, até o nível de 27%, sendo rejeitado a uma taxa de desconto de 28%. Neste caso, a TIR situa-se em 27 %. O estudo comprova a viabilidade econômica de implantação e operação do projeto. Em que pese a análise considerar somente aspectos estritamente econômicos, deve-se vislumbrar que a viabilidade e necessidade de tal iniciativa é 7/7 exponencialmente superior aos valores aqui representados quando toma-se por base aspectos sociais, ambientais e culturais. Neste sentido, o estudo estabelece mais uma referência para a implementação de políticas públicas voltadas a atender comunidades que sempre estiveram à margem do processo de desenvolvimento econômico e social, no caso, os pescadores artesanais. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] BUARQUE, C. Avaliação Econômica de Projetos. Sexta edição, Brasília, Editora Campus, 1995. [2] ITEPA, Informe Socioeconômico n° 7: Estrutura Socioeconômica da Atividade Pesqueira do Município de Pelotas, Pelotas, UCPEL, julho, 2002 [3] NOGUEIRA, E. Análise de Investimentos. In: BATALHA, M.O. (org). Gestão Agroindustrial. São Paulo, Editora Atlas, v. 2, p.242-283. 1997. http://www.ufpel.edu.br/cic/2004/arquivos/CH_01287.rtf
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