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Liberdade de escolha um estudo sobre o aborto à luz da bioética e da filosofia

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FACULDADE SALESIANA DOM BOSCO−FSDB 
Alfredo Costa Andrade Neto 
 
 
 
 
 
 
Liberdade de escolha? Um estudo sobre o aborto à luz da bioética e da filosofia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Manaus−AM 
2017 
Alfredo Costa Andrade Neto 
 
 
 
 
 
Liberdade de escolha? Um estudo sobre o aborto à luz da bioética e da filosofia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Manaus−Amazonas 
2017 
Trabalho submetido à qualificação da banca 
examinadora, como parte dos requisitos para 
Avaliação Individual de Trabalho de Conclusão 
de Curso, sendo delimitada como problemas 
relativos à educação e ensino de Filosofia, sob a 
responsabilidade do Prof. Dr. Joaquim Hudson 
de Souza Ribeiro, do Curso de Licenciatura em 
Filosofia da Faculdade Salesiana Dom Bosco, 
Unidade Leste (FSDB−Leste). 
LIBERDADE DE ESCOLHA? UM ESTUDO SOBRE O ABORTO À LUZ 
DA BIOÉTICA E DA FILOSOFIA 
Alfredo Costa Andrade Neto1 
Resumo: O aborto é uma realidade que manifesta existência desde a mais tenra presença da 
espécie humana na terra. A própria história sugere diversas abordagens de acordo com as 
exigências do contexto histórico. Em meados do século XX o tema voltou ao mérito da 
discussão atrelado à discussão a respeito da liberdade de escolha da mulher. O objetivo desta 
pesquisa é compreender o fenômeno do aborto a partir da bioética e da filosofia, tendo 
presente o posicionamento de um grupo de 10 universitários de filosofia e pedagogia com 
posicionamento pró ou contra o aborto. Este trabalho sustenta-se pelo método hermenêutico-
dialético. A pesquisa de campo é de natureza quantitativa com finalidade exploratória. Ao 
considerar o posicionamento dos entrevistados, unindo-os ao pensamento filosófico, religioso 
e bioético, pode-se compreender que assumir uma postura a respeito do aborto não é algo a 
ser restrito somente ao universo feminino. As diversas ciências bem como o senso comum em 
muito contribuem para o conhecimento a respeito da problemática. 
Palavra-chave: Aborto. Filosofia. Bioética. Liberdade. 
Resumen: El aborto es una realidad que manifiesta existencia desde la más tierna presencia 
de la especie humana en la tierra. La propia historia sugiere diversos enfoques de acuerdo con 
las exigencias del contexto histórico. A mediados del siglo XX el tema volvió al mérito de la 
discusión vinculada a la discusión acerca de la libertad de elección de la mujer. El objetivo de 
esta investigación es comprender el fenómeno del aborto a partir de la bioética y la filosofía, 
teniendo presente el posicionamiento de un grupo de 10 universitarios de filosofía y 
pedagogía con posicionamiento pro o contra el aborto. Este trabajo se sustenta por el método 
hermenéutico-dialéctico. La investigación de campo es de naturaleza cuantitativa con fines 
exploratorios. Al considerar el posicionamiento de los entrevistados, uniéndolos al 
pensamiento filosófico, religioso y bioético, se puede comprender que asumir una postura 
respecto al aborto no es algo que se restringe sólo al universo femenino. Las diversas ciencias 
así como el sentido común en mucho contribuyen al conocimiento acerca de la problemática. 
Palabra clave: Aborto. Filosofía. Bioética. Libertad. 
 
1 Acadêmico concludente da Faculdade Salesiana Dom Bosco-Leste: Manaus - AM. E-mail: 
alfredonetodiocesano@gmail.com 
Introdução 
O aborto é uma realidade que sempre existiu, ao mesmo tempo em que é tida como 
uma prática proibida desde as mais antigas civilizações. Fatores histórico-culturais em muito 
influenciaram o olhar das sociedades em relação à prática. Atualmente a discussão ressurge 
atrelada a mais um elemento: o exercício da liberdade da mulher. Defendido por diversos 
movimentos, a legalização do aborto é tida como garantia de que a liberdade da mulher não 
será cerceada por nenhum fator autoritário civil ou religioso. A mulher então recorre 
livremente à própria consciência. O aborto tem história. Provoca opiniões a favor e contra, 
sustentadas ou não pela religião, política ou cultura, além de demonstrar que as diversas 
formas de conhecimento possuem métodos de abordagem e podem dizer algo sobre o aborto. 
Ao tratar deste fenômeno, o presente trabalho tem como objetivo compreender o 
fenômeno do aborto a partir da bioética e da filosofia, tendo presente o posicionamento de um 
grupo de universitários pró ou contra o aborto. Dar-se-á com a apresentação do 
posicionamento de um grupo de acadêmicos, seguida da comparação dos dados coletados com 
os argumentos apresentados pelas vertentes pró-vida e pró-escolha, que possibilitará uma 
reflexão a respeito das implicâncias morais e éticas da prática abortista. A pesquisa de campo 
apresentada neste trabalho contou com a participação de 10 acadêmicos da Faculdade 
Salesiana Dom Bosco – Leste, dos cursos de filosofia e pedagogia, com idade superior a 18 
anos e de ambos os sexos, sendo que o período de coleta de dados ocorreu no período de 
25/08/2017 a 28/09/2017. A mesma é de natureza aleatória e não probabilística. Os 
participantes foram escolhidos por conveniência, o intuito desta é unicamente a análise dos 
argumentos apresentados pelos participantes. 
O artigo por sua vez é de natureza quantitativa, ao considerar os dados da pesquisa de 
campo, e possui finalidade exploratória e descritiva ao analisar os resultados da pesquisa de 
campo e confrontá-la com a produção teórica disponível. O método de análise usado é o 
hermenêutico-dialético. A pesquisa foi submetida à aprovação do Comitê de Ética em 
Pesquisa da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), atendendo às prerrogativas 
enunciadas na Resolução CNS nº 466/201 (ainda aguardando aprovação). Esta pesquisa 
justifica-se pela presença constante no cenário hodierno, na esfera religiosa, movimentos 
sociais de luta feminista, e sobretudo no debate político e jurídico. Ao mesmo tempo em que 
ampara-se pela necessidade de discutir esta temática - possibilitando um olhar da bioética e da 
filosofia -, este trabalho propõe-se a colaborar na discussão e formação do conhecimento a 
respeito da problemática em torno do aborto, contemplando diversas formas de abordagem, 
numa perspectiva transdisciplinar. 
1. O Aborto: tópicos ao longo da história 
O aborto é um fenômeno que remonta às antigas civilizações. No Oriente, há registros 
do terceiro milênio a. C., e no Ocidente, em torno do século XVIII a. C. (SOUZA, 2009). A 
ética médica possibilitou a percepção de um caráter mau na prática abortiva. Hipócrates (460-
370 a.C.) - ao formular o juramento do médico - diz “não dar a nenhuma mulher uma 
substância abortiva” (GAARDER, 2012, p. 69). Na Filosofia Clássica, Platão e Aristóteles 
abrem espaço para uma “permissividade” da prática abortiva, considerando-a como um 
instrumento de controle populacional. Aristóteles entende que deve-se respeitar o período de 
40 dias após a concepção em que a alma seria introduzida no corpo (SOUZA, 2009). 
Na filosofia de Parmênides, “ou o ser é, ou não é” (GAARDER, 2012, 47). Não há 
possibilidade de transformação, ou sempre existiu, ou nunca será. Nesse sentido, é possível 
relacionar tal pensamento com o início da vida como um fator biológico, e não relativo. A 
vida só começa uma vez, depois deste início, ela se propaga. Não se pode negar que aquele 
ser “é”. 
Com a insurgência do Cristianismo, no século IV, houve uma releitura do fenômeno a 
partir do olhar cristão. O aborto passa a ser considerado um crime igualando-se ao homicídio. 
Rosado-Nunes (2006) nos afirma que a controversa discussão a respeito do aborto perdurou o 
período medieval, onde prevaleceu o pensamento de Santo Tomásde Aquino, cuja filosofia 
foi determinante para definir a postura da Igreja Católica em relação à pratica abortiva. A 
alma humana é elemento determinante para que aconteça a passagem de “potência” para 
“ato”. No que diz respeito à essência, Oertzen (2015) diz que a alma humana se une ao corpo, 
como forma, e possibilita vida ao homem, e, através desta unidade substancial, o corpo - em 
comunhão com a alma -, se torna mais elevado, por ser sujeito da alma, e por tê-la como 
princípio. 
Na Idade Moderna, o processo vigente traz o homem para o centro da produção 
científica. Com o iluminismo ainda permanecia a severidade das penas relativas ao aborto, no 
entanto começou a distanciar-se a equiparação desta prática com o homicídio. A pena da 
gestante começava a ser atenuada, sendo a prática às vezes indicada por motivo de honra 
(TESSARO, 2006). No século XVIII a maioria das legislações já comparam o aborto ao 
homicídio, até a emergência da Revolução Francesa com a Declaração dos Direitos do 
Homem. 
No século XIX, o papa Pio IX declara que o aborto é pecado em qualquer situação e 
em qualquer momento da gravidez. Tal afirmação é resultado do abandono da concepção de 
hominização / pessoalização “retardada” para assumir uma hominização / pessoalização 
“imediata”. Em resposta à postura conservadora da Igreja, surgiram muitos movimentos de 
cunho feminista, com pensamento próprio e posturas diversas. Castro (2016) percebe que o 
movimento feminista contemporâneo é diversificado teoricamente, cada qual com uma 
reinvindicação específica, e muitas vezes produzindo embates conflitantes. No entanto, a 
bandeira do direito ao aborto é uma reinvindicação comum. 
A mesma autora nos permite compreender que o movimento feminista chega a assumir 
uma postura de reação às imposições de uma postura tradicional/conservadora que se impõe 
sobre a moral e as leis, além de também impor-se sobre uma postura passiva diante das 
problemáticas que se apresentam, sejam elas quais forem. Os movimentos de reação surgem 
justamente em momentos em que a sociedade trata o problema como elemento natural da 
existência humana. 
1.1 Conceito 
 A palavra aborto tem sua origem no latim abortus, derivado de aboriri (perecer), ab 
significa distanciamento e oriri nascer (KOOGAN & HOUAISS, 1999). No entanto, é 
possível abstrair outras definições das literaturas pró e contra a prática abortiva. Ao conceituar 
o aborto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) o classifica como um procedimento que 
busca por fim a uma gravidez indesejada, na maioria das vezes levado a cabo por pessoas sem 
habilidades necessárias, ou ainda em ambiente desfavorável às normas médicas (THE ALAN 
GUTTMACHERINSTITUTE, 1999, p.32). 
Da mesma forma, a bioética possibilita-nos um conceito de aborto como sendo “a 
expulsão ou a extração de toda e qualquer parte da placenta ou das membranas, sem um feto 
identificável, ou com um recém-nascido vivo ou morto que pese menos de quinhentos 
gramas.” Ou ainda “uma estimativa da gestação de menos de vinte semanas completas 
contando desde o primeiro dia do período menstrual normal” (PESSINI & 
BARCHIFONTAINE, 1995, p. 225). 
 No entanto, para Alves (1982), o aborto deve ser entendido como morte ou mesmo 
expulsão do ser concebido, antes mesmo de sua capacidade de sobreviver fora do útero 
materno. A prática pode ser classificada como: Aborto provocado (resultante de ato direto e 
deliberado), constituindo a morte do feto ou sua expulsão do útero materno. A morte do feto é 
o objetivo a ser alcançado, ainda que este mal tenha objetivo bom. Aborto espontâneo (morte 
natural do concepto) em decorrência de fatores alheios à vontade humana e superiores aos 
seus desígnios. 
Ao nos apresentar sua definição de aborto, Boff (CAVALCANTE & XAVIER, 2006) 
trata-o como uma possibilidade no processo de formação do ser humano. O aborto é o 
rompimento de um processo que tendia à plenitude humana, mas que não foi alcançada. 
Thomson (2005), por sua vez, possibilita ao leitor a abstração do conceito de aborto, que 
seria: ato de retirar o apoio vital. E sobre ele, Schwarz (2005) disserta alegando que o ato de 
abortar, antes de qualquer definição é “primariamente um ato de matar” (p. 54). 
1.2 Os dados 
O Ministério da Saúde divulgou dados a respeito do número de mulheres que 
morreram em 2015 por conta de abortos mal realizados: são exatas 121 vítimas. Quanto aos 
dados a respeito do número de abortos praticados no Brasil, a única coisa apresentada são 
estimativas. Ora, se o aborto é proibido no Brasil, quem o faz, o faz em segredo, de forma 
clandestina, sendo assim, não é possível oferecer precisamente o número de abortos 
praticados no Brasil. A única pesquisa a apresentar dados científicos é a PNA (Pesquisa 
Nacional de Aborto) 2016, que nos expõe os seguintes números: 
Das 2.002 mulheres entrevistadas, pelo menos 13% já realizou pelo menos um aborto. 
Entre as mulheres de 38 a 39 anos, o índice chega a 18%. Entre as mulheres com 12 a 19 
anos, o índice atinge 29%, sendo possível considerar que a frequência do aborto tem mais 
incidência no período mais intenso de atividade reprodutiva das mulheres. Quanto aos 
métodos, 48% diz ter recorrido a medicamentos. Quanto aos efeitos pós-aborto, 48% das 
mulheres entrevistadas que já abortaram, tiveram de recorrer a serviços de saúde para reparar 
danos causados pela prática. (DINIZ, 2017) 
Muito se discute a respeito dos índices de aborto praticado no Brasil, ao mesmo tempo 
em que muito se valoriza os mesmos, muitos argumentos são construídos baseados nesses 
dados. No entanto, problemas reais discutem-se com argumentos baseados em realidade 
concreta. E os números acima apresentados aproximam-se da realidade, sendo assim, são 
passíveis de crédito para este artigo. A legalização do aborto é tida como a solução para um 
problema partilhado por ambas as partes: a erradicação da clandestinidade. No entanto, 
mesmo nos países em que o aborto é legalizado sem restrições, ainda há a presença do aborto 
clandestino. A diminuição do aborto voluntário através de informação contraceptiva melhor 
efetuada nas estruturas às quais a mulher se dirige para abortar, pode ser um argumento 
razoável. No entanto, a contracepção se mostra ineficiente para evitar se chegar ao aborto. 
2. Pesquisa de Campo: Resultados e discussão 
 Ao adentrarmos na pesquisa de campo, é importante saber que a mesma tem por 
objetivo elencar opiniões e confrontá-las com os mais diversos pensadores da bioética e da 
filosofia. Quanto aos participantes da pesquisa por sexo/curso acadêmico, temos os seguintes 
dados: 
Gráfico 1.1: Participantes por curso/faculdade 
 
Fonte: Pesquisa de Campo 
 Os dados expostos no gráfico 1.1 expressam o número equilibrado de participantes por 
sexo. A predominância de homens entrevistados encontra-se no curso de filosofia. Em 
contraposição, a participação das mulheres entrevistadas encontra-se em maioria no curso de 
Pedagogia, o que também reflete a predominância dos sexos (feminino e masculino) nos 
cursos supracitados. Quanto à opinião a respeito da prática abortiva, pode ser expressada no 
seguinte gráfico: 
 
0
1
2
3
4
5
PEDAGOGIA FILOSOFIA
Mulheres Homens
Gráfico 1.2: Aborto: Opinião dos entrevistados 
 
Fonte: Pesquisa de Campo 
Os dados expostos no gráfico 1.2 nos esclarecem sobre uma predominância da posição 
de que o aborto não deve ser praticado. 60% dos entrevistados entendem, de diversas formas, 
que o aborto não é uma opção a ser considerada. A pesquisa contabilizou um número 
considerável de 30% dos entrevistados a posicionar-se a favor do aborto apenas em alguns 
casos, mostrando consonância com o Código Penal Brasileiro vigente. Emcontraposição, uma 
minoria de 10% expressa sua opinião a favor da prática abortiva, sem exceções ou 
interferência dos juízos cíveis e religiosos. 
No entanto, se olharmos por outro viés, é possível compreender que, na verdade, 40% 
dos entrevistados posicionam-se a favor da prática abortiva, com ou sem restrições. Isso 
acontece ao considerarmos a postura “sim, em alguns casos” como sendo a favor, o que de 
fato pode ser classificado desta forma. Tal problemática só abre espaço para duas 
possibilidades de resposta: ou “sim”, ou “não”. Se pode com exceções, então, a resposta é 
“sim”. Os dados possuem certa aproximação com os apresentados pelo Instituto Vox Populi 
que em 2010, ao entrevistar 2.200 pessoas, coletou um número expressivo de 82% com 
opinião contra a legalização do aborto (MARTINS, 2010). 
A organização não-governamental CDD (Católicas pelo Direito de Decidir) nos 
apresenta seus números. Na pesquisa feita em parceria com o IBOPE (Instituto Brasileiro de 
Opinião Pública e Estatística) também no ano de 2010, o número de opinantes era de 2002 
pessoas. 65% entende que o aborto pode ser permitido em caso de baixa expectativa de vida 
após o nascimento. 52% dos entrevistados entende que se for em decorrência de estupro, a 
decisão pelo aborto deve ser algo exclusivo da mulher. Da mesma forma 96% dos 
10%
30%
60%
SIM
Alguns casos
Não
entrevistados entende que as instituições governamentais ou religiosas não devem influenciar 
na escolha da mulher. Quanto à opinião feminina, temos o seguinte: 
Gráfico 1.3: Aborto: Opinião feminina 
 
Fonte: Pesquisa de Campo 
O gráfico nos infere que: a maioria das mulheres entrevistadas posiciona-se totalmente 
contra a prática abortiva. Ao passo que 20% entendem que é possível abrir exceções em casos 
extremos. É possível identificar que mesmo as mulheres, em sua maioria, consideram que o 
aborto é um mal a ser desconsiderado do âmbito da escolha. O que pode-se dizer é que tal 
postura é comum não somente neste grupo de entrevistadas. Também nas sociedades 
primitivas, o aborto era objeto de reprovação, mesmo nas sociedades em que sua prática é 
frequente. Ao mesmo tempo era possível afirmar que não era uma postura predominantemente 
masculina, também as mulheres manifestam o mesmo horror quando esse ato é evocado 
(BOLTANSKI, 2012). Quanto às repostas, temos o seguinte gráfico: 
Gráfico 1.4: Posicionamento acerca do aborto 
 
20%
80%
SIM
A. casos
Não
10%
20%
10%
20%
40%
Religião e legislação não podem cercear a decisão
da mulher
Abuso sexual / risco de vida
impossibilidade sócio-financeira
Opção a ser desprezada / vai contra a liberdade
humana
Humanidade do feto
Fonte: Pesquisa de campo 
 Neste gráfico é possível observar mais claramente as opiniões que estavam sob as 
respostas de SIM e NÃO. Que são, em tese, muito parecidas com os argumentos sustentados 
pelas vertentes pró-vida e pró-escolha. 
2.1. Religião e legislação não podem cercear a decisão da mulher 
No Brasil, O Código Penal (1940) trata da prática abortiva classificando-a como 
“crime contra a vida”, estando esta no mesmo patamar do homicídio. 
- Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento 
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho 
provoque: Pena - detenção, de um a três anos. 
- Aborto provocado por terceiro 
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - 
reclusão, de três a dez anos. 
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - 
reclusão, de um a quatro anos (BRASIL, 1940). 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 
quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, 
grave ameaça ou violência. 
Por outro lado, a religião (aqui mencionamos a Igreja Católica) posiciona-se da 
seguinte forma: 
“A vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a 
partir do momento da concepção. Desde o primeiro momento de sua existência, o 
ser humano deve ver reconhecidos os seus direitos de pessoa, entre os quais o direito 
inviolável de todo ser inocente à vida” (CIC, 1992, § 2270). 
Com uma postura inalterada, desde o século I a Igreja já afirmava que há maldade 
moral em todo aborto provocado. 
Da mesma forma que o Código Civil brasileiro, o Código de Direito Canônico da 
Igreja Católica coloca o aborto como sendo classificado “delito contra a vida e a liberdade do 
homem”. Condenando o praticante do aborto com a pena mais alta da instituição, 
“excomunhão latae sententiae” (CDC § 1398). 
Acontece que, no Brasil, a influência da religião - nos seus 500 anos de história, desde 
a colonização Portuguesa - foi muito grande sobre a moral e as leis. O que fortalece o 
argumento de que o Estado deve ser laico. Afirmar que o Estado é laico significa que 
indivíduos possuem a liberdade de escolher qualquer religião ou mesmo nenhuma religião. 
Isso implica que um não religioso não deve ser conduzido a praticar leis formuladas a partir 
de base religiosa e que não dizem respeito à escolha por ele feita de não aderir aos 
posicionamentos religiosos vigentes. 
Quando se argumenta que a religião não pode cercear o direito da mulher reger o 
próprio corpo, argumenta-se que há influência da vertente religiosa a conduzir os poderes 
civis. E, ao proibir a legalização do aborto, o fazem por convicções estritamente religiosas. 
Para responder a isso, sustentamo-nos na fala do então Cardeal Católico Joseph Ratzinger: 
“Não é tão fácil, naturalmente – e agora isto pode ser, talvez, um argumento 
para nós – distinguir bem entre valores tipicamente cristãos, que só podem ser 
escolhidos com a liberdade da fé e não podem ser impostos [àqueles que não 
acreditam], e valores na realidade humanos, que afetam o fundamento da dignidade 
humana” (RATZINGER, 2009, p. 54). 
O direito à vida, portanto, não é uma reinvindicação estritamente religiosa. Na 
verdade, não são valores exclusivamente cristãos, mas a manifestação evidente de valores 
estritamente humanos. Afinal, o que está em jogo é o direito de “ser” que vem antes mesmo 
de qualquer outro. “Se deixo de ter o direito de viver, que outro direito posso ter?” 
(RATZINGER, 2009, p. 54). 
Ao falar sobre as posturas das demais igrejas cristãs, Mortari (2010, p. 44) destaca que 
seus posicionamentos são semelhantes aos da Igreja Católica ao se pronunciarem alegando a 
existência de vida, sendo o aborto uma prática pecaminosa e escandalosa ao não permitir a 
evolução de um ser vivo. No entanto, a autora identifica que tal postura não é algo universal 
entre as religiões. Sendo possível destacar o posicionamento adquirido pela Igreja Batista em 
1968 na convenção Batista da América. O aborto seria então um problema “dependente de 
uma decisão pessoal responsável” (MORTARI, 2012, p. 44). 
A mesma salienta que outras grandes religiões não assumem a mesma postura que o 
Cristianismo. No Judaísmo, o aborto é considerado crime, havendo restrições ao período 
gestacional a ser praticado, não colocando restrições ao aborto praticado nos primeiros 40 
dias. Já no Islamismo, jurisprudências baseadas no Alcorão levam a interpretação de que é 
possível a prática até o término da 2ª semana de gestação. 
Nessa discussão também encontra-se a legislação ao dizer que “a proteção do direito à 
vida é garantida constitucionalmente, inclusive consubstanciada na proteção à dignidade da 
pessoa humana” (SCALQUETTE, 2010, p. 43). Ao mesmo tempo em que, no art. 5º da 
Constituição demonstra a clareza da garantia de existência como primeiro de todos os direitos, 
está implícita, também a exigência de um “não fazer”, ou seja: “Não basta não matar e 
imputarpena a quem o faz, tem de se garantir o direito à vida desde o direito de nascer, viver, 
e morrer com dignidade” SCALQUETTE, 2010, p. 45). 
Nesse viés, os estudos de Boltanski interpreta que o aborto não é algo desconhecido 
em sociedades primitivas, e, ao mesmo tempo, não é algo permissível ou que tenha sua prática 
acolhida por homens e mulheres. Ele diz: “A possibilidade de tirar os fetos do ventre antes de 
seu nascimento com a intenção de destruí-los parece, portanto, fazer parte dos quadros 
fundamentais da existência humana em sociedade” (BOLTANSKI 2012, p. 209). 
Ao mesmo tempo em que o aborto era conhecido, atitudes de reprovação eram comuns 
mesmo com sua prática frequente. O aborto é adjetivado como proibido, horrível ou 
vergonhoso, pelos próprios elementos que a ele são acrescentados: alimentos ou misturas 
usadas nos processos de abortamento são tidas como proibidas, bem como objetos ou rituais 
tidos como mágicos. A esses repousa a realização de um ato transgressivo. Assim, o aborto 
não é tido somente como pecado ou juridicamente errado. É antropologicamente inaceitável. 
Com isso o autor nos permite conhecer que, aceitar tal prática seria ir contra a própria 
tendência da espécie. Seria um desrespeito cultural e antropológico (BOLTANSKI, 2012, p. 
209). 
2.2. Abuso sexual / risco de vida 
 Há quem considere que tal recurso só deve ser usado em caso de abuso sexual ou em 
risco de vida da mulher. O que não deixaria de ser considerado crime, apenas isentaria de 
punibilidade a vítima de violência sexual que quisesse recorrer a esse meio. A considerar a 
gravidade e sensibilidade diante de tão delicado tema, a maioria esmagadora também 
admitiria tal recurso nesses casos. E de fato, quando se argumenta em defesa do aborto em 
caso de estupro, é comum recorrer a elementos que recorram à sensibilidade. Aqui podemos 
elencar o argumento de Thomson com a alegoria do violinista inconsciente: 
De manhã acorda e descobre que está numa cama adjacente à de um 
violinista inconsciente e famoso. Descobriu-se que ele sofre de uma doença renal 
fatal. [...] Por esta razão os melómamos raptaram-no, e na noite passada o sistema 
circulatório do violinista foi ligado ao seu, de maneira a que seus rins possam ser 
usados para purificar o sangue de ambos. O diretor do Hospital diz-lhe agora: “[...] 
nunca o teríamos permitido se estivéssemos a par do caso. Mas eles puseram-no 
nesta situação e o violinista está ligado a si. Caso se desligasse, matá-lo-ia. Mas não 
se importe, pois isso dura apenas nove meses. Depois ele ficará curado e será seguro 
desligá-lo de si. (Thomson, 2005, p. 27). 
 No que se refere à violência sexual sofrida, ambas as vertentes concordam que o 
estupro é uma situação por si só dolorosíssima. É um ser humano que foi violado em sua 
dignidade e liberdade. Alves (1982) esclarece o argumento a favor do aborto “sentimental”: 
pelo fato de a mulher ter sido vítima de abuso sexual, e engravidada por violência, quer se 
justificar o extermínio, pelo médico, de uma vida humana inocente e indefesa, ainda no ventre 
materno. O mesmo autor afirma que tal defesa seria uma violação do espirito e da finalidade 
da medicina, ao mesmo tempo em que mancharia o respeito à vida humana e, 
consequentemente, o Direito e a Justiça. 
 Considerando o gravíssimo ferimento já causado à dignidade da mulher, apresentar o 
aborto como sendo única opção, é acrescentar à mulher um fardo a mais que marcará de 
forma irreversível sua existência. É impossível evitar ou mesmo reparar uma crueldade já 
praticada tendo como meio a retirada da vida que está sendo gerada. Assim como o estupro, o 
aborto é algo impossível de excluir de sua história (ALVES, 1982). 
 Mesmo sendo fruto de uma violação, é impossível que uma mulher não crie algum 
sentimento (bom ou ruim) pelo feto gerado dentro de si. O meio mais viável para que tal 
situação seja tratada com mais humanidade seria possibilitando o acesso da mãe à assistência 
médica, psicológica e espiritual adequadas (ALVES, 1982). Há quem argumente que isso 
seria algo ideal, perfeito, ao mesmo tempo, praticamente inalcançável para pessoas que 
precisam de soluções rápidas para problemas rápidos. No entanto, oferecer à mulher 
violentada uma única alternativa, tão dolorosa quanto a violação, seria algo no mínimo 
desumano. 
2.3. Impossibilidade sóciofinanceira 
 Um dos argumentos também pertinentes para justificar a prática do aborto é a 
impossibilidade sócio-financeira. Que vai ao encontro do que Boff (Cavalcante& Xavier, 
2006) fala a respeito da vida com dignidade. Já que o argumento preponderante é de que a 
vida começa com a concepção, então devemos cuidar para que de fato sejam efetuados todos 
os processos necessários para a emergência da vida, que podem ser ditos como elementos 
sociais, biológicos, ecológicos e mesmo existenciais. A vida só começa porque as condições 
globais assim permitem. 
A fala de Boff elenca fatores de ordem social e estrutural como fatores necessários 
para o bem-estar e a dignidade do ser que está sendo gerado. E, se confrontados com os dados 
da PNA 2016, os argumentos ganham força. De 2002 mulheres entrevistadas, 442 encaixam-
se no grupo de mulheres com renda familiar de até 1 salário mínimo, destas, 70 (16%) 
recorreram ao aborto. O número tende a cair em porcentagem conforme a renda familiar 
aumenta, sendo possível constatar que, de 199 mulheres com renda superior a 5 salários 
mínimos, apenas 16 (8%) recorreram ao aborto. 
Os números apresentados vão ao encontro do que Rosado-Nunes (2006) afirma. Uma 
sociedade que não oferece estruturas necessárias para o exercício de trazer ao mundo um novo 
ser de forma digna, é uma sociedade cuja postura moral e ética deve ser tão questionável 
quanto a questão tratada neste Trabalho de Conclusão de Curso. Quando se fala sobre 
possíveis causas do aborto, Kaczor (2014) elenca os seguintes itens: famílias desagregadas; 
excesso de drogas; pobreza acabrunhante; relacionamentos abusivos; educação incompleta; 
medo de humilhação pública; antipatia entre parceiros; amor fracassado. 
Diante do posicionamento quanto à impossibilidade sóciofinanceira, é possível que 
vertentes pró-aborto assumam a posição de que não se pode negar o mínimo de dignidade à 
vida que está sendo gerada. E de fato, “muitos querem justificar o aborto como necessário 
para evitar ou solucionar problemas de ordem econômica ou social: fome, desemprego, baixo 
salário, moradia” (AQUINO, 2005, p. 18). 
Porém, não parece muito sensato considerar a morte como solução (ou mesmo a única 
solução) para os problemas da vida. Nesse sentido, Aquino (2005) argumenta que não há 
solução fácil para problemas difíceis. Soluções para os difíceis problemas sociais devem ser 
encontradas em providências governamentais, aliadas à participação privada – pessoas ou 
entidades – que se disponham a prestar solidariedade e assistência adequadas. Considerar a 
morte como solução para os problemas da vida seria como voltar à barbárie. A civilização 
sucumbe. 
Ao argumentar sobre as condições supracitadas, Kaczor considera que tais mazelas 
podem atingir os pais de uma criança mesmo após seu nascimento, nem por isso matar uma 
criança já nascida torna-se um ato menos imoral se justificado por questões de ordem 
financeira. Aqui ambos os lados consideram que nada justificaria matar uma criança 
(KACZOR, 2014). Apoio e afeto pela mulher significam sustentá-la e apoiá-la no caminho do 
bem moral. Ao considerar isso, o mesmo autor afirma que a moralidade comum defende 
como “situação eticamente inaceitável” o ato de matar uma pessoa inocente ou colaborar para 
que outros o façam, mesmo em condições deploráveis. A postura a ser assumida seria: “se 
houverproblema humano, procuraremos eliminar o problema e salvar o humano”. 
Por trás desta questão, está também a discussão sobre a pessoalidade do feto. Se o feto 
humano não é pessoa, plausivelmente nem se precisa de circunstâncias difíceis para se 
justificar o aborto. Todavia, se ao feto se atribui status moral intermediário, talvez certos 
abortos continuassem a não poder ser admitidos. Mas se o feto humano é uma pessoa como a 
criança de seis anos, as circunstâncias difíceis não autorizam terminar sua vida. 
2.4. Opção a ser desprezada, vai contra a liberdade humana 
Uma compreensão possível é a de que o aborto é uma sentença de morte para um ser 
que não tem culpa. Ao mesmo tempo em que é possível compreender que escolher abortar 
seria exercício da liberdade e mesmo da capacidade de controlar a natalidade: “meu corpo, 
minhas regras”. Rosado-Nunes (2006) entende que se uma mulher tem que escolher sua 
felicidade e o respeito a uma vida humana nascente, a opção pela própria liberdade é uma 
decisão ética e religiosamente aceitável. 
Para o movimento feminista, ter domínio sobre o próprio corpo é uma bandeira a ser 
erguida tantas vezes quantas forem necessárias. Mas isso implica - além de uma necessidade 
de reconhecer o concepto como propriedade privada -, uma necessidade de se “manter o 
controle sobre as condições da atividade reprodutiva a fim de conduzi-la bem” (ROSADO-
NUNES, 2006, p. 34). 
No entanto, compreender o ser em gestação como algo que pertence ao corpo da 
mulher seria reduzi-lo em sua razão de ser. A independência do feto manifesta-se pelo próprio 
impacto realizado na vida da mulher. Ela não tem controle total sobre isso. Requerer para si as 
rédeas do próprio corpo é moralmente aceitável, ao mesmo tempo que condição para o 
exercício da liberdade humana. No entanto, requerer para si a administração da existência de 
outro ser, bem como a decisão sobre sua vida, seria tomar para si uma responsabilidade 
pesada demais. 
Acontece que, nas relações sexuais em que se prevaleceu a necessidade de se 
satisfazer prazer, anula-se o ato como produto da ação livre. Sandel (2016) esclarece o 
conceito Kantiano de liberdade. A liberdade autônoma é o modelo mais “perfeito” da ação 
livre. E, ao mesmo tempo, é ação que possui como fim último a prática do bem moral. Nesse 
sentido, liberdade autônoma pode ser compreendida como: ter todos os motivos (elementos e 
motivações externas) para praticar algo moralmente errado, mas, escolher não fazê-lo. Kant 
afirma que “ser livre é não depender de determinações do mundo sensível”. 
Aqui podemos argumentar a respeito do Aufklarung, o esclarecimento. Para Kant 
(1784) não é possível haver uma liberdade verdadeira e intimamente humana sem a 
capacidade de raciocínio, que por sua vez é uma capacidade estritamente humana. O 
esclarecimento é portanto a saída do homem de sua minoridade intelectual, de sua capacidade 
reduzida de entendimento, para uma maioridade intelectual, que exigirá dele maior 
responsabilidade. 
De início é possível perceber um certo encontro com o pensamento Kantiano e o 
pensamento feminista ao sugerir que a decisão por abortar deveria ser resultado do exercício 
da consciência da mulher. Da mesma forma Kant sugere que o exercício do imperativo 
categórico perpassa por um saber que se deve fazer o certo simplesmente porque este é o 
certo, e não depender de elementos frutos da sensibilidade ou de emoções humanas que são 
transitórias e portanto, inconstantes. 
Dessa forma é possível compreender que se deve fazer o certo sempre, independente 
de opiniões particulares a respeito. Se matar é moralmente errado, assim o será em todos os 
casos, desde o menor ser humano ao mais idoso e deficiente. Não necessariamente porque 
isso é fruto de uma consciência particular. Mas porque as várias consciências acusaram o ato 
como sendo moralmente errado. Sendo assim, destaca-se que a liberdade autônoma perpassa o 
uso da própria consciência como elemento fundamental para alcançar a liberdade autônoma. 
Ao mesmo tempo em que não anula a necessidade de zelo com os valores morais já 
determinados. Ambos não contradizem-se, apenas serão a confirmação do que é bom justo e 
verdadeiro se fundamentados na mesma base que é a Verdade. 
E um dos elementos que impedem o ser humano de ascender para uma liberdade 
esclarecida são os instintos. Sobre eles, Kant afirma que são as causas pelas quais uma parte 
dos homens já libertos, porém repletos de comodismo, ainda insistem em permanecer como 
menores. Preferem-se entregar a tutela de sua vida diante de elementos transitórios e que 
influenciarão sua vida de forma permanente. O homem se apega a essa regência dos instintos. 
Não se é capaz de usar a racionalidade para reger sua existência. Não há escolha por este lado 
deficiente da existência. E ainda que se argumente sobre a capacidade de escolha, seria 
escolher pelo que é irracional, logo, uma opção por aquilo que nega a atitude livre. 
Levando em consideração a noção de liberdade em Kant é possível questionar-se sobre 
a capacidade de escolha autonomamente livre e consciente de uma mulher que está grávida de 
um filho que não consta em seus planos. Ora, alguém que se permite relações sexuais cujo 
resultado (já sabemos qual é) não é esperado, não agiu autonomamente livre. Deixou-se reger 
pelos instintos e abriu mão do que caracteriza a existência humana, a liberdade. Ao não 
esperar o filho que agora desenvolve-se em seu ventre, a mulher cria dentro de si um 
emaranhado de sentimentos e pensamentos que giram em torno da existência daquele ser. Se 
considerarmos que a criança não foi esperada, a mulher será mãe solteira e as condições 
financeiras não são as mais dignas. É muito provável que a mulher escolheria abortar. 
Mas, olhemos com atenção. Ela está fazendo com que fatores transitórios passem a ser 
determinantes para a vida de outro ser. A mulher em questão quer exercer sua liberdade de 
maneira a colocar como fundamental aquilo que Kant entende como elementos que retiram 
totalmente a capacidade de escolha pelo que é certo. Apenas uma consciência esclarecida do 
que é bom, justo e certo escolherá de forma autêntica pelo que é moralmente certo, sem levar 
em consideração de forma determinante o que é transitório. 
Dessa forma, há de se discutir se existe capacidade de escolha em uma relação sexual 
que não possui elementos mínimos de planejamento para algo de futuro e duradouro. Isso 
significa dizer que, se a medida da liberdade for pautar a existência do ser humano a uma 
mera busca por saciar seus desejos, seria reduzir a capacidade humana ao mero campo do 
empírico. A liberdade daria lugar à ditadura dos sentidos, que são inconstantes, excluindo 
assim qualquer capacidade de escolha mais autêntica e sustentada na capacidade de conhecer. 
Sendo assim, não fará sentido reivindicar para si o direito de escolher. A liberdade já foi 
anulada em uma etapa anterior. E todas as suas consequências não são se não produto de 
nossa capacidade/ausência de escolha livre e racional. 
A noção de liberdade autônoma é muito mais inteligível do que empírica. Isso implica 
que o agir livre pressupõe o assumir para si a postura de uma maioridade, que por sua vez é 
assumir as ações como atitude de quem pensa. Ao falar de sexualidade, Kant entende que a 
ação sexual deve estar pautada no princípio pela qual ela possui razão de ser: a preservação da 
espécie sem a degradação da pessoa. O fim pelo qual o sexo é destinado e o dever de que tal 
ação aconteça estão ligados ao imperativo categórico, o que se compreende como algo que 
não se deve abrir exceções, é um princípio moral. 
A atividade sexual, portanto, está ligada à capacidade de perpetuar a espécie, assim 
como qualqueroutra ação intrinsecamente boa. Deixar o aborto à mercê da escolha de um ser 
humano no mínimo pressupõe que todos adentraram à maioridade intelectual, o que não é 
real. Menos ainda expressa a capacidade de escolha livre. Pelo contrário, seria a negação da 
moral e uma supervalorização de uma consciência individual e inconstante. Quanto a reger o 
próprio corpo, Kant explica que não estamos à disposição nem de nós mesmos. O requisito 
moral para tratar-se como finalidade é a compreensão de que o homem não pode dispor de si 
mesmo porque não é um objeto ou uma propriedade pertencente a si próprio (cf. SANDEL, 
2016, p. 163). 
A liberdade, para Kant, não pode ser cerceada por nada, nem pode cercear as outras 
liberdades. Nesse sentido, devemos considerar que “a moral [...] está fundamentada no 
respeito às pessoas como fins em si mesmas” (SANDEL 2016, p. 137). O agir moral tem 
como fundamento principal a permanência da espécie humana. Ou seja, o ser humano e sua 
existência são ponto final do agir bem moralmente. Qualquer ação que desvia a noção de 
liberdade, a reduz ou mesmo suprime a capacidade de existência do ser humano, não é ação 
moralmente boa. Logo, pelo imperativo categórico, pela moral Kantiana e pela noção 
Kantiana de liberdade autônoma, o aborto não encaixa-se como produto da ação moral 
humana. 
2.5. Humanidade do feto 
Também há quem considera abortar comparável ao assassinato. Afinal, se a vida é 
“humana” desde a fecundação ou concepção, qualquer tipo de prática que lesa os direitos do 
embrião deve ser proibida. A maneira como se responde a essa questão afeta a atitude sobre o 
aborto. O posicionamento de algumas opiniões encontradas durante a pesquisa vai contra o 
pensamento de Thomson (2005), que entende não ser possível gerar tal afirmação, porque 
afirmações semelhantes - como o desenvolver de uma semente já ter o mesmo valor que a 
árvore - não fariam sentido. A este argumento Thomson o classifica como “argumento de 
derrapagem” (2005, p. 25). 
Na mesma linha vão o Movimento “Católicas pelo Direito de Decidir”, que entende o 
argumento da pessoalidade do feto como algo sem muita constância histórica, sendo assim, 
passível de questionamento sobre a sustentação filosófica de quem o defende. Ao recordar do 
dissenso interno da Igreja Católica no século XX – quando emergiu a discussão a respeito da 
Encíclica Humanae Vitae sobre questões como sexualidade e procriação –, Rosado-Nunes 
(2006, p. 24), explica que muitos epíscopos orientaram seus fiéis a recorrer à própria 
consciência, em questões de moral. Considerando que a prática abortiva também é uma 
questão moral - sustenta a autora -, que se recorra à própria consciência. “Tal recurso é 
fundamental quando se discute a possibilidade de mulheres católicas decidirem pela 
interrupção da gravidez” (2006, p. 25). 
A consciência parece ter assumido um ponto central no que diz respeito à postura 
moral. Esta assume a posição de regente da liberdade do indivíduo que, por sua vez, sente-se 
limitado existencialmente mediante imposições da autoridade. Ao considerar isso, Ratzinger 
(2014) entende que a moral da consciência e a moral da autoridade são elementos a se 
contrapor, e que a liberdade seria preservada apelando apenas para o princípio moral, tendo a 
consciência como norma suprema, e a autoridade – ao pronunciar-se em questões de moral -, 
daria apenas propostas à consciência, para que esta formule juízo autônomo. 
Com isso é inevitável a concepção de que a consciência é o que o ser humano tem de 
infalível. As ações humanas devem ser julgadas pelo que o indivíduo compreende por postura 
correta. Seria um retorno à ética niilista, na qual não existe erro se o indivíduo não quiser que 
exista. Se fosse assim, não existiria base fixa capaz de sustentar a moral e a religião que, 
segundo Ratzinger, são “fundamentos da nossa existência” (RATZINGER 2014, p. 88). E isso 
seria uma negação das próprias origens do ser humano. E uma história sem origens não 
encontra sustento sólido para confirmar sua finalidade. 
As obras de bioética nos possibilitam elencar três vertentes que pretendem definir um 
ponto exato da humanização: a) a humanização só acontece após a implantação do óvulo no 
útero (nidação); b) a constituição básica do cérebro acontece devido a um processo 
desenvolvimentista; c) o feto deve ser definido com base nas consequências sociais de tal 
decisão (a respeito da humanidade do feto). Seria uma definição que teria como medida a 
sociedade e suas normas morais e sociais (MOSER&SOARES, 2006; PESSINI & 
BARCHIFONTAINE, 1995). 
No entanto, a bioética, com base na pesquisa genética, esclarece que não há como 
negar que o embrião é portador de código genético próprio e completo. Geneticamente é um 
ser independente, com características próprias e únicas. A morte cerebral nos coloca diante de 
um ser não vivo, o que não é a mesma coisa que um embrião em determinado estágio de 
desenvolvimento, afinal, no primeiro caso, há uma situação irreversível, no segundo, uma 
capacidade celular de gerar outros tecidos e órgãos, dentre eles, o cérebro. “Tais teorias” – diz 
o autor – “só reforçam as suspeitas de que elas são mais ideológicas do que de caráter 
científico” (MOSER & SOARES, 2006, p. 63). 
A biologia do ser humano é consideravelmente modelada pelas relações que os outros 
mantêm com ele, e a vida relacional depende grandemente da biologia. Sendo assim, o 
desenvolvimento do feto é constantemente influenciado por fatores de ordem biológica e 
empáticas. “Durante os nove meses, o ser em gestação é modelado pelas trocas biológicas e 
relacionais que existem entre ele e a mãe” (Pessini & Barchifontaine, 1995 p. 229). 
Um dos argumentos pertinentes a respeito da humanização seria a determinação de 
quando a alma seria introduzida no corpo. Ainda que admita-se o pensamento sobre a 
humanização tardia, Alves (1982) justifica que todo processo que acontece entre 
espermatozoide e óvulo pertence à esfera humana. E mesmo se essa teoria (da humanização 
tardia) fosse a mais aceitável, todo o processo já iniciado culminará com a infusão da alma e, 
portanto, em vida humana. Sendo assim, o aborto direto voluntário possui fundamento ao ser 
comparável ao homicídio. 
Assegurando ainda mais o seu argumento, Alves apresenta a fala de Moreira da 
Fonseca, membro da Academia Nacional de Medicina, que diz: “O Estado protege o embrião, 
porque há um direito a tutelar, que se realiza na vida do nascituro. O argumento contrário é 
sem sentido, diante da intangibilidade dos direitos e que se concretizam, durante a gestação, 
na pessoa física e biológica do feto. O feticídio é um homicídio” (ALVES 1982, p. 98) 
Os grandes pecados contra a humanidade foram permeados sobretudo do argumento 
da negação da humanidade. O regime nazista, a escravidão, e a falta de reconhecimento das 
mulheres em sociedades patriarcais. Afinal, “temos realmente razão de crer que pela primeira 
vez na história humana temos razão em tratar alguns seres humanos como menos que pessoas 
plenas? Ou seremos julgados pela história como apenas um episódio a mais na longa lista de 
exploração dos poderosos sobre os fracos?” (Kaczor, 2014, p. 100). 
 
3. Considerações finais 
Um dos propósitos mesmo deste trabalho é possibilitar o esclarecimento a respeito de 
tão detalhado tema. Não podendo, no entanto, ser um manual moral para mulheres que sofrem 
com o dilema da escolha por abortar ou não. Este quer provocar abordagens que possibilitem 
o esclarecimento e a justa e verdadeira capacidade de exercer a liberdade. 
Diante dos argumentos apresentados, o leitor provavelmente sentiu-se tentado a 
assumir um lado em detrimento do outro. Na verdade, é possível que o leitor esteja emcomunhão com pensamentos de ambos os lados. Mas, será possível ser “pró-vida” e “pró-
escolha”? Será possível existir um meio termo? A pesquisa de campo aqui apresentada nos 
ajuda a ter contato com algumas das mais diversas opiniões. Junto a ela também confrontamos 
duas outras pesquisas que, feitas no mesmo período, revelam dados que no mínimo seriam 
contraditórios. Na verdade não serão se observarmos que: de uma forma geral, ninguém 
concorda com o aborto. No entanto, em casos específicos como violência sexual, risco de 
morte e problemas de cunho social e estrutural o número tende a outro lado. 
Isso não significa que o brasileiro é indeciso. Na verdade, é uma demonstração – ainda 
que reduzida e superficial - da capacidade de compreender que de forma geral o aborto é 
inadequado para uma sociedade que denomina-se evoluída, e que casos particulares devem ser 
analisados com cautela. O que não necessariamente implica abrir mão da ética, pelo contrário. 
Argumentos contra o aborto não servem para mulheres que vivem esse drama. A estas, a 
máxima dignidade que o ser humano pode oferecer. 
Quem assume-se pró-vida não necessariamente abre mão do exercício livre. Da 
mesma forma, quem assume a postura pró-escolha não abre mão da existência vital. Mas a 
liberdade será exercida de maneira mais plena e concreta e correta à medida em que a ação 
racional também o for de forma plena. E a plenitude da moral, baseada na razão, não é 
contraditória à moral da autoridade se ambas tiverem como motor primeiro a capacidade de ir 
em direção à Verdade. O que é verdadeiramente certo, não necessariamente é o que convém. 
Não é a Verdade que se adapta ao ser humano em toda sua inconstância. É este, na sua 
inconstância, que deve adaptar-se à Verdade na sua existência única e absoluta. 
A presença da filosofia neste trabalho mostrou-se de forma clara no próprio 
movimento de diálogo entre diferentes posturas e a presença de diferentes teóricos em 
diferentes períodos históricos mostrando assim a intensa e histórica busca por uma resposta 
concreta e, na medida do possível, constante. Ao mesmo tempo em que identifica-se um ponto 
de partida comum e real que influencia diretamente a existência humana (o aborto). Que 
existencialmente influencia a possibilidade ou não de existência de um ser humano em 
particular que já lança sinais de que ele é um ser em particular e que possui uma existência 
independente em certos aspectos do seu ser. Sendo assim, passível de análise filosófica. 
A bioética mostrou-se, ainda que entrelaçada nos argumentos filosóficos, nos autores a 
ela vinculados, como Pessini, Alves, Moser, dentre outros, que possibilitam um acesso à 
filosofia por este meio. 
A pesquisa de campo é oportuna quando possibilita aos entrevistados um exercício do 
pensar a respeito de questões relacionadas ao aborto, ao mesmo tempo em que proporciona ao 
pesquisador uma visão mais ampla do pensamento sobre aborto relativo ao senso-comum. 
Relacionar os posicionamentos coletados na pesquisa com a bibliografia já existente é 
posicionar a opinião do senso comum como também um produtor de conhecimento tão válida 
quanto os teóricos aqui mencionados, ao ponto de ser possível a sustentação teórica e seu 
diálogo com o material coletado em campo. 
As implicâncias morais e éticas mostram-se entrelaçadas. No entanto há de se 
considerar que abordar o dilema da existência de um ser que está sendo gerado, não é algo 
distante da argumentação lógica, como foi mostrado. A existência de ação moral mostra-se 
nos próprios posicionamentos aqui expostos. Ao passo que a ética, como mecanismo de 
reflexão da moral, mostrou-se presente na própria possibilidade de discussão a respeito da 
ação humana frente ao aborto. 
 
 
 
 
 
 
 
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