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O pensamento de Hannah Arendt, moral, religião e direito

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O PENSAMENTO DE HANNAH ARENDT, MORAL, RELIGIÃO E DIREITO
Segundo o determinismo freudiano, o homem supostamente seria o reflexo do
ambiente em que está inserido. Tal declaração pode ser em determinado aspecto
confirmada através de uma breve análise relacionando o contexto em que viveu Hannah
Arendt e o conteúdo de suas obras.
Hannah Arendt nasceu no ano de 1906, em Hannover, na Alemanha. No entanto,
com a ascensão do nazismo na Alemanha, teve de se mudar para Paris, e, posteriormente,
devido a sua condição de apátrida, mudou-se para Nova York, local onde veio a falecer em
1975.
Todo o contexto em que Arendt esteve inserida reverbera no conteúdo de suas obras,
temas como o totalitarismo, o antissemitismo e o nazismo são recorrentes em sua produção
intelectual, afinal foram fatores que Hannah teve que enfrentar em sua vida.
Uma das ideias de Hannah Arendt que recebe maior destaque é a sua conceituação da
banalidade do mal, exposta em sua obra Eichmann em Jerusalém. Para a filósofa, a
banalidade do mal seria o agir impensado, irreflexivo, sem a intenção de causar algum mal,
caracterizado por ser uma mera obediência às ordens que lhe são conferidas (ANDRADE,
2010).
Em sua teoria da banalidade do mal, Arendt, ao contrário de Eichmann mostrou
possuir um olhar dotado de aguçado senso crítico, sendo até mesmo alvo de críticas de
judeus que acusavam-se de ser indiferente ao sofrimento do povo judeu.
Todo o contexto do julgamento de Adolf Eichmann permitiu que a filósofa
formulasse uma opinião acerca da formação moral da sociedade, na qual a educação moral
eficiente seria possível, fundamentalmente, por meio da formação de um pensamento
crítico (ANDRADE, 2010).
De acordo com o supra exposto, para Hannah Arendt, em síntese, a educação moral
eficiente é embasada em um pensamento crítico.
O pensamento e a atitude de indiferença são elementos comuns da banalidade do mal
e da conduta costumeira.
A conduta costumeira corresponde ao agir guiado por aquilo que as demais pessoas
praticam, ou seja, é um “agir acomodado”, livre de uma reflexão profunda (REALE, 2002).
Em oposição à conduta costumeira, encontra-se a conduta moral. A conduta moral
pode ser definida como o homem governando a si mesmo, ausente de qualquer tipo de
coação (REALE, 2002).
Percebe-se que as ações dos homens estão sempre relacionadas com o pensar e com a
reflexão (ou sua ausência). São as ações que conferem pluralidade aos humanos, sendo de
grande importância por conceder a originalidade ao homem, permitindo que um se
diferencie de outro:
A ação seria um luxo desnecessário, uma caprichosa interferência com
as leis gerais do comportamento, se os homens não passassem de
repetições interminavelmente reproduzíveis do mesmo modelo, todas
dotadas da mesma natureza e essência, tão previsíveis quanto a
natureza e a essência de qualquer outra coisa. A pluralidade é a
condição da ação humana pelo fato de sermos todos os mesmos, isto é,
humanos, sem que ninguém seja exatamente igual a qualquer pessoa
que tenha existido, exista ou venha a existir (ARENDT, 1999, p.16).
O Estado não deve combater as pluralidades, mas sim prezar para que prevaleça a
harmonia entre elas.
Nesse sentido, a pluralidade não se limita aos fatores mundanos, existem inúmeros
posicionamentos que divergem entre si no que tange à transcendência, em sua crença ou
não, e muito mais.
Seja qual for a religião de um sujeito, a sua prática, de maneira individual ou em
sociedade, é já considerada uma conduta religiosa, afinal o simples reconhecimento da
existência de elementos que transcendem a existência de sujeitos já pode ser classificado
como uma conduta religiosa (REALE, 2002).
Em uma sociedade com liberdade de crença, os sujeitos têm a autonomia para
seguirem a crença que bem desejarem, descartando a necessidade de um regime teocrático,
apenas impondo tal autolimitação ao Estado (SOLON, 2006).
No convívio entre diversas crenças e a descrença, na conjuntura de uma sociedade
laica, a comunicação ocorre por meio de símbolos, estes destituídos de sentido, afinal os
receptores já têm uma percepção pré-formada acerca deles (MINIUCI, 2010).
No entanto, lamentavelmente essa pluralidade de crenças, mesmo em um país laico,
ao invés de enriquecer culturalmente a sociedade, inúmeras vezes resulta em intolerância
religiosa, culminando em uma série de problemas adjacentes, tal como a violência, a
discriminação, entre outros.
A liberdade é a essência do ser humano, no entanto é essencial que esta tenha seus
limites muito bem delimitados, a fim de manter preservada a ordem da sociedade:
Trata-se, portanto, essa liberdade com dupla face, de um direito
fundamental que se submete a restrições contidas nele próprio. Assim, o
direito de manifestar a crença por meio do ensino, por exemplo, e o
direito de não ser submetido à educação religiosa fazem parte do
conteúdo da liberdade de consciência e de crença e são direitos
fundamentais à luz de diversas normas jurídicas. Por isso ambos valem,
mas, para que possam valer ao mesmo tempo, deverão ser sopesados.
Como avaliar e estabelecer o equilíbrio entre os lados positivo e negativo
da liberdade de consciência, eis o desafio do intérprete da norma
jurídica, seja ele o administrador, o legislador ou o julgador (MINIUCI,
2010, p.115).
Nesse sentido, o direito deve agir a fim de garantir que prevaleça a moral na
sociedade, assegurando a manutenção da ética como valor imperioso dos sujeitos em suas
individualidades.
Existem muitos estigmas associados ao direito no que diz respeito à moral e à ética
em geral, sendo estes infundados, tendo em vista que essa rotulação é dotada de
generalização.
O direito busca trazer a solução mais justa para todas as partes, por meio da
aplicação do ordenamento jurídico de modo a contribuir com a prevalência do bem estar e
da justiça na sociedade.
No caso dos países teocráticos ou com religião oficial, o direito está intimamente
unido com a religião, porém tal fato não é uma novidade, afinal a relação entre direito e
religião remonta aos tempos mais antigos, conforme Pimenta (2011, p.3): “o direito arcaico
é impregnado de religiosidade, é profundamente contaminado pela prática religiosa”.
Nesse sentido, é um consenso que todos os posicionamentos e asserções, sendo
relacionados às questões religiosas ou não, devem ser respeitadas, independentemente dos
valores particulares de cada pessoa, tal como deve ser o direito, imparcial.
Com base no supra exposto, conclui-se que é de suma importância buscar
compreender e relacionar o contexto em que determinado pensador viveu, com o conteúdo
de suas obras, tal como foi demonstrado com Hannah Arendt. Além disso, importante citar
que temos a liberdade de agirmos, no entanto essa liberdade deve ser delimitada, pelo bem
da ordem social. Por fim, perfaz-se que o direito age a fim de garantir o predomínio da
ética e da justiça nas relações sociais. Quanto maior originalidade e senso crítico tivermos
em nossas ações, também maior será a pluralidade, e essa é a nossa condição humana,
inerente a todos os homens, tal como afirma Arendt.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Marcelo. A banalidade do mal e as possibilidades da educação moral:
contribuições arendtianas. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v.15, n.43,
p.109-125, 2010.
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1999.
MINIUCI, Geraldo. Direito e religião ou as fronteiras entre o público e o privado. Revista
de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD), São Paulo, v.2,
n.2, p.112-126, 2010.
PIMENTA, Leonardo Goulart. Direito e Religião no Direito Romano Antigo. 2011.
REALE, Miguel. Modalidades de Conduta. In:______. Filosofia do Direito. 20. ed. São
Paulo: Saraiva, 2002. p.383-389.
SILVA, Ricardo Jorge de Araújo. Ação, pluralidade e política em Hannah Arendt.
Argumentos: Revista de Filosofia, Fortaleza, v.10, n.19, p.73-86, 2018.
SOLON, Ari Marcelo. A Fenomenologia do Estado, Direito e Religiãosegundo Edith
Stein. Ciências da Religião-História e Sociedade, São Paulo, v.4, n.4, p.74-82, 2006.

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