CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DE BOM DESPACHO

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DE BOM DESPACHO
IVANILDA BARBOSA ESTRELA FRANCO
RELATÓRIO DE VISITA TÉCNICA NA APAC DE SANTA LUCIA MG
BOM DESPACHO
2018
IVANILDA BARBOSA ESTRELA FRANCO
RELATÓRIO DE VISITA TÉCNICA NA APAC DE SANTA LUCIA MG
Relatório apresentado ao Curso de Psicologia, como requisito parcial para aprovação na Disciplina: Psicologia Social e Comunitária, 5º período. 
Profª. Thayane Lino.
BOM DESPACHO
2018
1. INTRODUÇÃO
O presente texto trata se de um relato conciso a partir da visita técnica realizada no sistema prisional, mais especificamente no Método de Execução Penal APAC, que tem sido nos últimos anos mais um espaço para a atuação do psicólogo. Este trabalho se insere no campo da Psicologia Social e Comunitária, visto que o fenômeno de estudo vai de encontro com a produção de conhecimento deste campo em relação a compreensão e o posicionamento frente a transformação da realidade social. A Psicologia social descrita aqui inscreve-se em uma crítica da vida cotidiana” (Pichon-Rivière, 2005). A visita a ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA AOS CONDENADOS (APAC) Santa Luzia, ocorreu em 18 de outubro de 2018. Tendo como objetivo as seguintes questões: conhecer o estabelecimento, sua estrutura e funcionamento. Conhecer e ter contatos com as pessoas que estão sob a custódia do Estado no Sistema Prisional, estabelecendo os primeiros conhecimentos sobre elas, a partir de seus relatos espontâneos. 
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 O Método de Execução Penal APAC
A APAC Santa Luzia fica situada em um local afastado da cidade, em meio a vegetação de cerrado. A estrutura física externa apresenta muros altos, com pinturas, que mais tarde soubemos que foram feitas pelos recuperandos.
Fomos recebidos pelo psicólogo que presta serviços no local, já dentro da APAC fomos orientados a assinar a lista de presença e deixar nossos pertences, como chaves, relógios, celulares, sombrinhas, etc. Não fomos revistados, nem passamos por detector de metais.
Ao adentrar nas dependências da APAC fomos apresentados a um recuperando, que a partir de então tornou-se nosso guia. Este nos informou ocupar o cargo de Presidente, esclarecendo que existem, cargos privativos dos internos: o Presidente, o Vice-Presidente e o Secretário. E, diferentemente do sistema convencional, onde o “chefe” da cela é o mais forte ou o mais perigoso, na APAC os pré-requisitos são outros: bom comportamento, boa educação (em todos os sentidos), boa camaradagem, espírito de liderança, responsabilidade, etc. 
Enquanto nos conduzia nas dependências da APAC o Presidente relatou ter acesso livre, no momento estava fazendo um curso de padeiro e em breve estaria trabalhando, pois, uma entrevista de emprego já estava agendada. Declarou não sentir vontade de fugir, pois já estivera em uma prisão comum e o sistema lá é desumano. Quer cumprir sua pena e sair de cabeça erguida. Segundo ele o foco da APAC é o respeito e a ressocialização do sujeito, e para tanto humaniza as condições do cumprimento das penas dos seus internos. A filosofia da APAC consiste no que se entende por “matar o criminoso e salvar o homem” (TJMG, 2011, p.27), ou seja, desenvolver um trabalho que contribua para a não reincidência do recuperando ao crime. devido a isso chega semanalmente cerca de 300 cartas de detentos aprisionados em prisão comum, nas mãos da juíza, solicitando transferência para a APAC. A demanda é muito grande, e qualquer condenado, independente do crime cometido e do tamanho da pena é um candidato em potencial para ser transferido para uma APAC, mas não é só querer. O pedido deve ser encaminhado ao juiz da Vara de Execuções Penais, que analisará, juntamente com voluntários da instituição, o perfil do condenado, entre outros aspectos; mas o bom comportamento é a principal condição para agregar a instituição.
Nos relatou ainda que aos internos são delegadas funções que em prisões comuns são exercidas por policiais armados. Tudo está nas mãos dos próprios recuperandos, a manutenção do prédio, a disciplina, as eventuais punições, quando necessárias. As punições consistem em retirar o lazer do recuperando, dentre as quais, privar o recuperando de assistir à TV, frequentar a biblioteca, academia, oficinas de artesanato, jogar futebol, e a pena maior e mais temida pelo recuperando, que é ser devolvido ao sistema prisional comum. 
São eles que fazem a comida, lavam a própria roupa, arrumam e mantêm organizado a própria cama, o quarto e o banheiro. Dentro da instituição há um campo e uma quadra multiesportiva, uma panificação e cozinha industrial na medida em que ia relatando, nos conduzia nos locais, onde comprovávamos a veracidade, inclusive da limpeza e organização dos quartos. Os gramados e jardins muito bem cuidados, os recuperandos, limpos, penteados, calçados e bem vestidos, que segundo o Presidente não lhes é permitido ficar de bermuda em diante de visitas. 
Ao adentrar na APAC o sujeito, assume o compromisso de comportar-se bem e ajudar a manter o bom comportamento do grupo. Ele é chamado pelo nome e usa suas próprias roupas. Enquanto na prisão comum o detento é destituído de seus pertences e seu nome e recebe um número com o qual passa a ser identificado. 
De acordo com Silva, (2007): 
O reconhecimento do apenado como pessoa dotada de qualidades e passível de emenda, o uso do diálogo e da religião nessa tarefa, o chamamento da vítima e da sociedade à tarefa de execução penal e os demais elementos do Método APAC são, ao mesmo tempo, coerentes com os dispositivos legais e antagônicos na maneira de se realizar e nos resultados obtidos ( p.152).
Nas dependências da APAC, têm salas para atendimento médico, psicológico, odontológico e jurídico e tais profissionais os atendem regularmente duas vezes por semana. Caso necessário são levados a consultas fora da instituição. A farmácia é administrada por eles mesmos. 
Ao findar a apresentação no regime semiaberto fomos conduzidos ao regime fechado, o recuperando que nos acompanhara até então, se despediu dizendo não obter permissão para ir além da porta que separa os dois setores.
No regime fechado a realidade não é muito diferente do semiaberto, salvo o fato destes não terem permissão para realizar atividades como, trabalhar e ou estudar fora da instituição. Embora não possa sair, não lhes é permitido o ócio, ou seja, a realização de alguma atividade é obrigatória, seja de trabalho ou de lazer.
Segundo Rodrigues:
[...] a cada estágio, que varia entre fechado, aberto e semiaberto, o recuperando tem um acesso maior com o mundo fora de o penitenciário até alcançar o último estágio que lhe permite residir em sua casa com sua família e assumir um trabalho externo, somente apresentando-se diariamente na prisão.
Nesse setor fomos acompanhados por outro recuperando, que nos apresentou primeiramente os doze elementos fundamentais do Método APAC, que consiste em: participação da comunidade, ajuda mútua entre recuperandos, trabalho, religião, assistência jurídica, assistência à saúde, valorização humana, participação da família, voluntariado e sua formação, Centro de Reintegração Social, mérito, Jornada de Libertação com Cristo. 
Ainda Rodrigues:
Os elementos do método APAC têm a finalidade de humanizar a vida carcerária e ressocializar o preso. A participação da comunidade, que permite aos recuperandos não se afastarem do meio social que eles retornarão quando cumprirem suas penas. Por sua vez, recuperando ajudando recuperando, é um princípio este que contribui para o desenvolvimento da noção de companheirismo entre os recuperandos. 
Em seguida, todas as dependências, conhecemos a biblioteca, onde conhecemos dois universitários, que estudam através da EaD. Conhecemos também a sala de aula, e dentre as regras, estudar é uma delas, todos os dias a professora vem para lecionar, a barbearia, a marcenaria, lanchonete, oficinas de pintura, refeitório e todo o complexo. Todos que encontramos durantea visita, foram simpáticos e cortes, por fim nos reunimos no auditório onde recebemos uma benção coletiva. Nos despedimos levando a certeza de que a APC realmente trabalha com o “objetivo de transformar criminosos em cidadão úteis”.
CONCLUSÃO
Diante do exposto conclui-se que no sistema Apac o sujeito recebe de volta, a sua identidade, fator principal para sua recuperação, pois ao ser chamado pelo nome, ter o direito de usar suas próprias roupas, ele se sente respeitado, indiferente de seu delito. E que dentre os doze pilares os mais significativos para o recuperando são, a família, o trabalho, a religião e o mérito. Pois a família é o suporte afetivo e material, é a peça fundamental para a ressocialização do sujeito. O trabalho é o que mais dignifica o homem, é através do exercício laboral que ele se sente parte integrante da sociedade. A religião, indiferente de qual seja é um importante aliado a recuperação pois influência no comportamento do sujeito. O mérito significa para o recuperando um degrau a mais em direção a liberdade tão sonhada. Ao delegar funções como zelar pelo centro em que vivem, controlar a segurança e disciplina e realizar grande parte das funções essenciais ao funcionamento da instituição. O recuperando começa a perceber que se ele não cuidar do ambiente onde vive, como se fosse sua casa, tudo pode acabar e, consequentemente. voltar para o sistema comum.
REFERENCIAS
RODRIGUES, Emanuelle Silva; MAIA, Felipe Martins. Os elementos família, religião, trabalho e mérito na metodologia apac. Disponível em: artigos_leitura&artigo_id=17225&revista_caderno=23file:///C:/Users/Juliana/Downloads/152-882-1-PB.pdf. Acesso em: 10 de novembro de 2018.
SILVA, Fernando Laécio Alves da. Método Apac: Modelo de Justiça Restaurativa Aplicada à Pena Privativa de Liberdade.Dissertação Mestrado apresentada à Faculdade de Direito de Campos, 2007. Disponível em http://fdc.br/arquivos/mestrado/dissertacoes/integra/fernandolaercio.pdf. Acesso em: 12 de novembro de 2018. 
PICHON Rivière, E. O processo grupal. Trad. Marco A. F. Velloso; Maria S. Gonçalves. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes 2005.
TMJ. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Programa Novos Rumos. Belo Horizonte. 2011.