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U7Linguística

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EA
D
7
Linguística
e Língua de Sinais
1. ObjetivOs
•	 Entender	e	caracterizar	os	fundamentos	linguísticos	apli-
cados	à	língua	de	sinais.
•	 Desmistificar	 ideias	equivocadas	 relacionadas	às	 línguas	
de	sinais.
•	 Estudar,	compreender	e	caracterizar	a	fonologia	e	a	mor-
fologia	da	língua	de	sinais.
2. COnteúdOs
•	 Aspectos	linguísticos	das	línguas	de	sinais.
•	 Aspectos	fonológicos	e	morfológicos	da	língua	de	sinais.	
3. Orientações para O estudO da unidade
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
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1)	 Você	poderá	encontrar	o	Dicionário da Língua Brasileira de 
Sinais	no	formato	digital	no	site:	<www.acessobrasil.org.br>.
2)	 Você	 pode	 observar	 as	 73	 configurações	 de	 mão	 da	
Libras	 apresentadas	 nesta	 unidade	 acessando	 o	 site	
<www.acessobrasil.org.br>.
4. intrOduçÃO à unidade
Na	unidade	anterior,	você	estudou	os	aspectos	relacionados	
à	identidade	e	à	cultura	surda,	e	pôde	perceber	que	esta	discussão	
nos	remete	à	compreensão	de	que	é	urgente	garantir	aos	surdos	a	
igualdade	de	direitos	para	que	eles	possam	aprender	e	se	desen-
volver	e,	dessa	forma,	exercer	sua	cidadania	plenamente.	
Agora,	 nesta	 unidade,	 vamos	 estudar	 aspectos	 específicos	
relacionados	à	gramática	da	Língua	Brasileira	de	Sinais,	a	Libras.
Cabe	destacar	que	é	fundamental	conhecer	a	gramática	da	
Libras,	tendo	em	vista	que	ela	é	diferente	da	gramática	da	Língua	
Portuguesa	e	apresenta	características	próprias.
Para	que	você	compreenda	efetivamente	essa	gramática	é	
preciso,	 inicialmente,	adquirir	alguns	conceitos	 fundamentais	da	
linguística.
Você	pode	considerar	estranho	o	uso	dos	termos	fonológico	e	
fonologia	aplicados	à	língua	de	sinais,	uma	língua	visual-espacial,	sem	
referência	sonora,	mas	logo	veremos	a	aplicabilidade	deles	na	Libras.	
As	línguas	de	sinais	conquistaram	o	status	de	língua	por	apre-
sentarem	os	elementos	 linguísticos	 constituintes	de	uma	 língua,	
ou	seja,	fonologia,	morfologia	e	sintaxe,	além	de	terem	um	léxico	
(conjunto	de	 símbolos	 convencionais)	 e	uma	gramática	 (sistema	
de	regras	que	regem	o	uso	desses	símbolos).
Então,	para	iniciar	nossa	conversa	sobre	esse	tema,	vamos,	
no	tópico	a	seguir,	compreender	a	aplicação	do	conceito	de	fono-
logia	à	língua	de	sinais	e	seu	objeto	de	estudo.
155© Linguística e Língua de Sinais
5. estudOs LinGuÍstiCOs e LÍnGua brasiLeira de 
sinais
Antes	de	tratarmos	dos	aspectos	linguísticos	da	Língua	Brasi-
leira	de	Sinais,	você	saberia	nos	dizer	o	que	é	linguística?	Compare	
suas	ideias	com	as	informações	a	seguir.	
Segundo	Quadros	e	Karnopp	(2004,	p.	16):
[...]	linguística	é	o	estudo	científico	das	línguas	naturais	e	humanas.	
As	 línguas	naturais	 podem	 ser	 entendidas	 como	arbitrárias	 e/ou	
como	algo	que	nasce	com	o	homem.
De	acordo	com	a	definição,	podemos	entender	que	a	linguística	
estuda	as	línguas	naturais	e,	portanto,	estuda	também	as	línguas	de	si-
nais.	Porém,	é	importante	você	saber	que	a	língua	de	sinais	não	é	uni-
versal,	portanto,	temos	inúmeras	línguas	de	sinais	em	diferentes	países.
A	linguística	pode	ser	definida	como	a	ciência	que	estuda	a	
língua	natural	humana,	em	todos	os	seus	aspectos,	ou	seja:
1)	 fonético;
2)	 fonológico;
3)	 morfológico;
4)	 sintático;
5)	 semântico	e	
6)	 pragmático.
Antes	de	 você	 conhecer	o	que	 cada	uma	dessas	 áreas	 es-
pecíficas	estuda,	vamos	conhecer	alguns	conceitos	fundamentais,	
como,	por	exemplo,	a	definição	de	língua	e	em	que	ela	difere	da	
linguagem.	
Para	apresentar	tais	conceitos,	recorremos	a	alguns	autores	
clássicos	da	linguística,	como	Saussure	e	Chomsky.
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Chomsky	 (1957)	 considera	 língua:	 "[...]	 como	um	conjunto	
(finito	ou	infinito)	de	sentenças,	cada	uma	finita	em	comprimento	
e	construída	a	partir	de	um	conjunto	finito	de	elementos".
Complementando	essa	ideia,	Saussure	(1995,	p.	17)	coloca	que:
[...]	língua	não	se	confunde	com	linguagem:	é	somente	uma	parte	
determinada,	essencial	dela,	indubitavelmente.	É	ao	mesmo	tempo	
um	produto	social	da	 faculdade	da	 linguagem	e	um	conjunto	de	
convenções	necessárias,	adotadas	pelo	corpo	social	para	permitir	o	
exercício	dessa	faculdade	nos	indivíduos.
Para	Saussure	(1991),	a	língua	é	um	sistema	de	regras	abs-
tratas	 composto	 por	 elementos	 significativos	 inter-relacionados.	
Esse	conjunto	é	independente	(autossuficiente)	e	seus	elementos	
podem	ser	analisados	isoladamente.
Um	outro	autor	que	também	busca	desvelar	o	conceito	de	
língua	é	Bakhtin.	Diferentemente	dos	dois	anteriores,	Bakhtin	con-
sidera	os	aspectos	contextual	e	social	da	língua,	superando	a	visão	
normativa.	Para	ele,	a	língua	é	percebida	em	situação	de	diálogo	
constante,	como	um	conjunto	de	significações	dadas	em	um	de-
terminado	contexto	e	não	como	um	sistema	de	normas	abstratas.
Bakhtin	(1995),	em	suas	considerações	sobre	o	aspecto	so-
cial	da	língua,	ainda	chama	atenção	para	as	seguintes	questões: 
•	 A	língua	está	em	constante	evolução,	que	ocorre	na	inte-
ração	dos	interlocutores.
•	 A	língua	não	pode	ser	compreendida	independentemen-
te	dos	conteúdos	e	dos	valores	ideológicos	que	estabele-
cem	com	ela	uma	interface.
Desta	forma,	os	três	autores	apresentam	definições	distintas	
do	conceito	de	língua.	Entretanto,	note	que	Bakhtin	apresenta	um	
importante	aspecto,	ao	considerar	a	questão	social	da	língua.
Dando	continuidade	ao	estudo	dos	aspectos	linguísticos	que	
157© Linguística e Língua de Sinais
fundamentam	a	língua	de	sinais,	você	irá,	nos	tópicos	a	seguir,	co-
nhecer	alguns	mitos	(ou	seja,	algumas	informações	sem	fundamen-
tação	 transmitidas	 socialmente)	 criados	 em	 relação	 às	 línguas	 de	
sinais.	 É	 importante	 que	 ocorra	 uma	 desmistificação	 de	 algumas	
ideias	que	dificultam	a	expansão	e	a	aceitação	da	língua	de	sinais	
pelas	pessoas	ouvintes,	pelos	profissionais	e	pelos	familiares	de	sur-
dos.	
Os	mitos	a	seguir	foram	organizados	e	apresentados	por	Qua-
dros	e	Karnopp	(2004)	e	merecem,	neste	estudo,	serem	destacados.
Mito 1 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta 
incapaz de expressar conceitos abstratos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Acreditou-se	que	a	língua	de	sinais	não	fosse	capaz	de	repre-
sentar	 conceitos	 abstratos,	 pois	 ela	 estaria	 baseada	 em	 gestos	 e	
pantomimas.	Tais	gestos	ou	sinais	teriam	uma	relação	icônica	com	
seus	referentes,	ou	seja,	eles	representariam	nitidamente	uma	ideia	
ou	um	objeto,	como,	por	exemplo,	os	sinais	de	"casa"	e	de	"não".
Esse	mito	não	se	sustenta,	pois	estudos	já	mostraram	que	as	
línguas	de	sinais	expressam	conceitos	abstratos.	Sabe-se,	hoje,	que	é	
possível	discutir	qualquer	assunto	em	língua	de	sinais:	política,	econo-
mia,	matemática,	física,	psicologia,	poesia	ou	literatura,	por	exemplo.
Outro	dado	 importante	que	desmistifica	essa	 ideia	é	que,	de	
acordo	com	Quadros	e	Karnopp	(2004),	apenas	30%	dos	sinais	têm	
significados	identificáveis	com	a	forma	do	sinal,	ou	seja,	são	icônicos.	
Portanto,	os	demais	70%	não	podem	ser	reconhecidos	na	sua	repre-
sentação,	o	que	mostra	a	necessidade	de	que	essa	língua	seja,	de	fato,	
aprendida	pelos	ouvintes.	Além	disso,	há	uma	seleção	arbitrária	das	
características	icônicas	desses	sinais,	por	exemplo:	o	não	poderia	ser	
sinalizado	pela	cabeça	e,	a	casa,	por	outra	de	suas	características.
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Mito 2 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Há uma única e universal língua de sinais usada por todas as pessoas surdas.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Uma	dúvidamuito	comum	dos	ouvintes	em	relação	à	língua	
de	sinais	é	se	ela	é	universal.	Ela	não	é	universal:	cada	país	possui	
a	sua	própria	língua	de	sinais,	assim	como	possuem	a	sua	própria	
língua	oral.	A	língua	de	sinais	americana	é	diferente	da	língua	de	
sinais	brasileira,	assim	como	essas	diferem	da	língua	de	sinais	ar-
gentina,	francesa,	alemã	e	assim	por	diante.
Portanto,	o	fato	de	um	surdo	brasileiro	ser	fluente	em	Libras	
não	garante	que	ele	se	comunique	com	surdos	de	outros	países.	
Para	que	ocorra	essa	comunicação,	é	preciso	que	haja	entre	eles	
uma	língua	de	sinais	comum.	É	possível,	tanto	para	surdos	como	
para	ouvintes,	aprender	a	língua	de	sinais	de	outro	país.
Outro	aspecto	importante	a	ser	considerado	é	o	fato	de	haver,	
dentro	de	um	mesmo	país,	dialetos	–	modalidades	regionais	–	no	
uso	da	língua	de	sinais.
Por	 exemplo,	 é	 possível	 identificar	 variações	 em	 relação	 a	
alguns	sinais	da	Libras	nas	diferentes	regiões	do	Brasil,	ou	entre	as	
diferentes	comunidades	surdas.	Entretanto,	essas	diferenças	não	
impossibilitam	a	comunicação	entre	os	surdos	em	um	mesmo	país.	
As	diferenças	são	facilmente	apreendidas	por	meio	de	estratégias,	
como	a	soletração.	
A	 soletração manual	 não	 é	 uma	 língua	 distinta,	 mas	 um	
simples	 código	baseado	nas	 línguas	orais.	Assim,	nenhum	surdo	
se	utiliza	apenas	da	soletração	para	se	comunicar.	Ela	é,	como	já	
dissemos,	um	recurso	utilizado	em	situações	específicas,	quando	
necessário	para	nomes	de	pessoas	e	para	explicar	o	significado	de	
sinais	desconhecidos,	por	exemplo.
Para	entendermos	isso	melhor,	veja	a	seguinte	situação:
Dois	 surdos	 encontram-se	na	 rodoviária,	 um	de	 São	Paulo	
e	outro	de	Belo	Horizonte.	Durante	a	conversa,	um	deles	usa	um	
159© Linguística e Língua de Sinais
sinal	para	ônibus	e	outro	surdo	demonstra	não	o	conhecer.	O	pri-
meiro	soletra	a	palavra	ônibus	(o-n-i-b-u-s).	Aquele	que	não	havia	
compreendido	se	manifesta	demonstrando	compreensão	a	partir	
da	soletração	e	faz	o	sinal	de	ônibus	utilizado	pela	sua	comunida-
de.	Assim,	por	meio	da	soletração	manual	a	diferença	foi	resolvida.	
Além	disso,	um	pôde	conhecer	o	sinal	utilizado	para	ônibus	pelo	
outro,	por	uma	comunidade	surda	diferente	da	sua.
É	importante	observar	que	o	entendimento	foi	possível	por-
que	ambos	demonstraram	dominar	a	escrita,	condição	essencial	
no	uso	da	soletração.	Entretanto,	esse	domínio	não	é	atingido	por	
todos	os	surdos,	como	já	foi	mencionado	nas	primeiras	unidades	
desta	disciplina.	Dessa	forma,	esse	exemplo	evidencia	também	a	
importância	de	o	surdo	desenvolver	as	habilidades	de	leitura	e	es-
crita,	 como	condição	para	uma	melhor	 comunicação,	 tanto	com	
surdos	como	com	ouvintes.
Mito 3 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Há uma falha na organização gramatical da língua de sinais derivada das línguas 
de sinais, sendo um pidgin sem estrutura própria, subordinado e inferior às lín-
guas orais.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A	ideia	de	subordinação	apresentada	por	esse	mito	também	
não	se	 sustenta.	A	 língua	de	 sinais	não	estabelece	com	a	 língua	
majoritária	do	país	uma	relação	linguística	de	subordinação,	mas	
apresenta	uma	gramática	diferente	e	independente	dela.
A	Libras	tem	uma	gramática	diferente	da	gramática	da	Língua	
Portuguesa,	entretanto,	possui	a	mesma	complexidade.	Portanto,	
é	um	equívoco	considerar	que	as	línguas	de	sinais	são	subordina-
das	às	línguas	faladas.
O	uso	dos	sinais	da	Libras	na	estrutura	da	Língua	Portuguesa	
(Português	Sinalizado)	não	garante,	por	essa	sobreposição,	a	com-
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preensão	daquilo	que	é	comunicado,	pois	a	construção	do	sentido	
depende	da	estrutura	e,	portanto,	a	fidelidade	à	gramática	da	lín-
gua	de	sinais	é	fundamental.
Vejamos	um	exemplo:	em	português	sinalizado,	ou	seja,	uti-
lizando-se	os	sinais	na	estrutura	da	Língua	Portuguesa,	se	diz:	"Eu 
comi pizza ontem.",	com	quatro	sinais	–	um	sinal	para	cada	palavra	
e	nessa	sequência.	Em	Libras,	a	mesma	ideia	é	expressa	da	seguin-
te	maneira:	"Pizza comi ontem",	com	três	sinais	e	nessa	sequência.
Para	os	surdos,	a	compreensão	da	ideia	depende	da	estrutu-
ra	apresentada.	Sobre	esse	aspecto,	cabe	ainda	considerar	que	as	
pessoas	ouvintes,	em	função	da	falta	de	fluência	em	Libras,	aca-
bam	utilizando	o	Português	Sinalizado,	o	que	não	garante	comuni-
cação	eficiente	com	surdos,	sendo	possível	apenas	a	expressão	de	
ideias	superficiais.
Desse	modo,	objetivando	uma	 comunicação	eficiente	 com	
os	surdos,	por	exemplo,	na	escola,	é	preciso	ir	além.	É	necessário	
que	os	ouvintes,	especialmente	os	professores,	adquiram	fluência	
na	Libras.	Mas	essa	fluência	depende	do	contato	dos	ouvintes	com	
os	surdos	(que,	fluentes	na	Libras,	são	os	melhores	conhecedores	
da	gramática	da	língua	de	sinais).	Nesse	sentido,	o	ensino	da	língua	
de	sinais	a	pessoas	ouvintes	deve	ser	ministrado	por	surdos,	fluen-
tes	e	preparados	para	a	função	de	professor.
Pesquisadores	 nas	 áreas	 da	 surdez,	 educação	 de	 surdos	 e	
bilinguismo	defendem	que	o	ensino	da	língua	de	sinais	é	um	es-
paço	profissional	que	deve	ser	ocupado	por	pessoas	surdas	com	
formação.
Entretanto,	ainda	não	há,	no	Brasil,	surdos	em	número	sufi-
ciente	formados	em,	por	exemplo,	Pedagogia	ou	Letras,	com	profi-
ciência	certificada	em	Libras,	para	ministrarem	o	ensino	da	língua.	
161© Linguística e Língua de Sinais
Então,	por	enquanto,	o	país	está	em	situação	precária:	há	surdos	
fluentes	ministrando	esse	curso,	mas	sem	formação	em	nível	su-
perior	e	sem	a	proficiência	na	língua,	como	é	exigido	pelo	Decreto	
nº	5.626/05	(BRASIL,	2005).
Cabe	informar	que	um	bom	curso	de	Libras	deve	contemplar,	
além	dos	aspectos	práticos	da	língua,	os	fundamentos	teóricos,	es-
senciais	na	 compreensão	das	especificidades	da	 língua	e	da	 sua	
função	na	vida	do	surdo.	Essa	parte	teórica	é	importante	que	seja	
desenvolvida	por	um	profissional	ouvinte,	com	formação	e	pesqui-
sa	na	área.	Esse	profissional	pode	estabelecer	comunicação	com	
os	alunos	ouvintes	por	meio	da	fala	e	discutir	profundamente	as	
questões	teóricas	envolvidas	com	o	tema.
Mito 4 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A língua de sinais seria um sistema de comunicação superficial, com conteúdo 
restrito, sendo estética, expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de co-
municação oral.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Esse	mito	evidencia	várias	ideias	erradas	relacionadas	à	lín-
gua	de	sinais,	são	elas:
•	 A	 língua	de	 sinais	 não	 tem	 complexidade	 e	 é	 pobre	do	
ponto	de	vista	lexical	e	gramatical.
•	 A	língua	de	sinais	é	incapaz	de	expressar	ideias	abstratas,	
humor	 e	 sutilezas,	 como	 figuras	 de	 linguagem,	 estando	
ligada	apenas	a	aspectos	concretos.
Conforme	já	apresentado	anteriormente,	a	língua	de	sinais	
permite	ao	surdo	conversar	e	refletir	sobre	qualquer assunto.
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162
Várias	 pesquisas,	 como	 as	 realizadas	 por	 Klima	 e	 Bellugi	
(1979),	mostram	que	poesias,	 piadas,	 trocadilhos,	 jogos	originais,	
entre	outros,	são	uma	parte	significativa	do	saber	da	cultura	surda.
Veja,	 a	 seguir,	 duas	 orientações	 da	 comunidade	 surda,	 re-
tratadas	com	humor,	 retiradas	do	 livro	Cultura Sorda, así somos	
(HOLCOMB,	HOLCOMB	e	HOLCOMB,	1994,	p.19	e	23),	com	versão	
em	espanhol	do	original	escrito	em	inglês:
Orientação 1 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Mantener una conversación en lengua de signos mientras se conduce un coche 
puede ser complicado. Como pasajero, tienes que compartir la responsabilidad 
con el conductor, manteniendo los ojos en la carretera y avisándole sobre cual-
quier posible obstáculo. De esa manera, el conductor se siente más seguro para 
hablardurante un mayor período de tiempo.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Orientação 2 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
163© Linguística e Língua de Sinais
Vas a un restaurante con una amiga. Lo primero que haces después de sentarte es 
retirar el centro de flores para que puedas ver las manos de tu amiga sin obstáculos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para	completar	a	discussão	sobre	esse	mito,	cabe	ressaltar	que	é	
muito	comum	as	pessoas,	equivocadamente,	afirmarem	que	o	empo-
brecimento	estrutural	das	línguas	de	sinais	liga-se	ao	fato	de	que	elas	
não	apresentam,	por	exemplo,	elementos	de	ligação,	tais	como	prepo-
sições	e	conjunções.	De	acordo	com	Quadros	e	Karnopp	(2004),	essa	
característica	não	empobrece	a	língua	de	sinais,	pois	ela	apresenta	uma	
riqueza	de	expressividade	diferente	das	línguas	orais.	É	possível	com-
provar	esse	aspecto	assistindo	aos	vídeos	constantes	no	Dicionário de 
Libras	e	às	videoaulas	que	compõem	esta	disciplina.
As	línguas	de	sinais,	como	línguas	visual-espaciais,	apresen-
tam	elementos	próprios,	como	expressão	facial,	expressão	corpo-
ral,	movimento,	velocidade	e	direção,	que,	incorporados	ao	sinal,	
garantem	a	mesma	riqueza	de	expressão	que	as	línguas	orais.
Mito 5 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A língua de sinais deriva da comunicação gestual espontânea dos ouvintes.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
De	acordo	com	as	colocações	anteriores,	a	 língua	de	sinais	
não	é	um	conjunto	de	gestos	isolados.	A	ideia	de	que	a	língua	de	si-
nais	é	uma	comunicação	derivada	dos	gestos	usados	naturalmente	
pelos	ouvintes	é	bem	antiga	e	está	fundamentada	na	concepção	
de	que	a	linguagem	está	estritamente	relacionada	à	capacidade	do	
indivíduo	de	falar.	Dentro	dessa	concepção,	a	fala	seria	a	expressão	
mais	nobre	e	a	língua	de	sinais	uma	forma	de	expressão	inferior,	
limitada,	universal	e	sem	prestígio.	Mas	a	ciência	já	mostrou	dis-
tinção	entre	fala,	língua	e	linguagem;	portanto,	essa	ideia	também	
não	se	sustenta.	
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A	concepção	de	que	a	linguagem	está	relacionada	à	capaci-
dade	do	ser	humano	de	falar	é	bastante	preconceituosa.	A	igreja	
preocupou-se	muito	em	ensinar	o	surdo	a	falar	para	que	pudessem	
confessar	seus	pecados;	do	contrário,	eles	queimariam	no	fogo	do	
inferno.	Tal	concepção	revela	a	falta	de	conhecimento	sobre	o	sur-
do	 como	 ser	 visual	 e	de	 respeito	a	esses	 sujeitos	 como	minoria	
linguística,	resultando	em	atitudes	opressoras	e	violentas.
Mito 6 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A língua de sinais, por ser organizada espacialmente, estaria representada no 
hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo 
processamento de informação espacial, enquanto o esquerdo é responsável pela 
linguagem.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Estudos	realizados	por	Stokoe	(1965),	Klima	e	Bellugi	(1979)	
foram	determinantes	na	mudança	de	concepção	em	relação	à	lin-
guagem	e	à	surdez.	Esses	estudos	mostraram	que	os	surdos	com	
lesões	no	hemisfério	direito	do	cérebro	processaram	todas	as	in-
formações	linguísticas	em	língua	de	sinais.	Já	os	surdos	com	lesões	
no	hemisfério	 esquerdo	processaram	 informações	 espaciais	 não	
linguísticas	e	não	conseguiram	lidar	com	essas	informações.
O	que	essas	pesquisas	mostraram	é	que	as	línguas	de	sinais,	
mesmo	sendo	visual-espaciais,	 são	produzidas	no	hemisfério	es-
querdo,	como	qualquer	outra	língua.
Neste	tópico,	você	aprendeu	alguns	conceitos	linguísticos	funda-
mentais	relacionados	à	língua	de	sinais.	Foi	possível,	também,	conhecer	
alguns	mitos	que	foram	amplamente	difundidos	e	desmistificados.
Agora,	conhecendo	esses	conceitos,	é	possível	avançar	nos	
estudos	teóricos	sobre	a	língua	de	sinais,	especificamente	em	rela-
ção	aos	aspectos	fonológicos.
Até	o	momento,	vimos	que:
165© Linguística e Língua de Sinais
1)	 As	línguas	de	sinais	são	tão	ricas	linguisticamente	quan-
to	qualquer	outra	língua	oral	e,	por	isso,	possibilitam	re-
fletir	e	conversar	sobre	qualquer	assunto.
2)	 As	línguas	de	sinais	não	são	universais:	cada	país	tem	a	
sua	própria	versão.
3)	 A	 língua	dos	surdos	brasileiros	é	a	Língua	Brasileira	de	
Sinais,	a	Libras.	
4)	 As	 línguas	de	sinais	apresentam	uma	estrutura	grama-
tical	diferente	e	independente	da	língua	majoritária	do	
país.	Assim,	a	gramática	da	Libras	é	diferente	da	gramá-
tica	da	Língua	Portuguesa.
5)	 A	soletração	não	é	uma	língua	independente,	e	sim	um	
recurso	utilizado	em	 situações	 específicas,	 como,	por	
exemplo,	 quando	 é	 necessário	 identificar	 nomes	 de	
pessoas	 ou	 explicar	 o	 significado	de	 sinais	 desconhe-
cidos.
6)	 A	língua	de	sinais,	mesmo	sendo	visual-espacial,	é	pro-
cessada	no	hemisfério	esquerdo	do	cérebro,	como	qual-
quer	outra	língua.	
6. FOnOLOGia da LÍnGua de sinais
A	fonologia	das	línguas	de	sinais	é	a	área	da	linguística	que	
visa	identificar	a	estrutura	e	a	organização	dos	constituintes	fono-
lógicos	da	língua.	O	ponto	central	que	a	fonologia	estuda	na	língua	
de	sinais	são	as unidades mínimas	que	formam	os	sinais,	as	com-
binações	e	as	suas	variações	no	ambiente	fonológico.
Essas	unidades	mínimas	são:
1)	 Configuração	de	mãos	(CM).
2)	 Ponto	de	articulação	(PA)	ou	localização	da	mão.
3)	 Movimento	(M).
4)	 Orientação	da	mão	(OR).
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166
5)	 Aspectos	não	manuais	dos	sinais	(NM)	–	expressões	fa-
ciais	e	corporais.
Para	que	tenhamos	uma	melhor	compreensão	da	fonologia	
da	língua	de	sinais,	destacamos,	a	seguir,	alguns	aspectos	apresen-
tados	por	Quadros	e	Karnopp	(2004):
1)	 As	línguas	de	sinais	são	visual-espaciais	(ou	espaço-visu-
al),	pois	a	informação	linguística	é	recebida	pelos	olhos	
e	produzida	pelas	mãos.
2)	 Os	elementos	mínimos	constituintes	da	língua	de	sinais	
são	 processados	 simultaneamente	 e	 não	 linearmente	
como	ocorre	na	língua	oral.
3)	 Os	articuladores	primários	das	 línguas	de	sinais	 são	as	
mãos,	que	se	movimentam	no	espaço	em	frente	ao	cor-
po	e	articulam	sinais	em	determinadas	 locações	nesse	
espaço.	Entretanto,	os	movimentos	do	corpo	e	da	face	
também	desempenham	funções.
4)	 Um	sinal	pode	ser	articulado	com	uma	ou	duas	mãos.	No	
caso	de	uma	mão,	a	articulação	ocorre	pela	mão	domi-
nante	(direita	para	destros	e	a	esquerda	para	canhotos).
5)	 Os	principais	parâmetros	fonológicos	da	língua	de	sinais	são:
•	 configuração	de	mão;
•	 ponto	de	articulação;
•	 movimento;
•	 orientação	da	mão.
Em	 relação	ao	 item	2,	 cabe	explicar	que,	na	 língua oral,	 os	
elementos	mínimos	 (fonemas)	 são	 produzidos	 de	maneira	 linear	
(horizontalmente	e	no	tempo),	um	sucessivo	ao	outro.	Já	na	língua	
de	sinais,	os	elementos	mínimos	são	produzidos	simultaneamente.
As	unidades	mínimas:	configuração	de	mão	(CM),	ponto	de	
articulação	(PA),	movimento	(M),	orientação	de	mão	(OR)	e	expres-
sões	não	manuais	(NM)	podem	ocorrer	de	maneira	simultânea	e	
167© Linguística e Língua de Sinais
não	consecutivas.	A	produção	de	um	mesmo	sinal	pode	envolver,	
ao	mesmo	tempo,	mais	de	uma	unidade	mínima.	A	produção	do	
sinal	para	o	termo	"televisão"	envolve	a	configuração	de	mão,	um	
ponto	de	articulação,	o	movimento	e	a	orientação	da	mão.
Agora,	vamos	conhecer	detalhadamente	cada	uma	das	uni-
dades	mínimas	que	formam	os	sinais.
As	unidades	mínimas	participam	no	significado	dos	sinais,	ou	
seja,	o	contraste	de	apenas	um	dos	parâmetros	altera	o	significa-
do.	Veja	as	explicações	e	os	exemplos	apresentados	a	seguir.	
O	contraste	de	apenas	um	dos	parâmetros	altera	o	significa-
do	dos	sinais.
Sinais	que	se	opõem	quanto	à	configuração	de	mão:	“descul-
pa”	e	“queijo”.	O	ponto	de	articulação	no	qual	são	produzidos	es-
ses	sinais	é	o	mesmo(queixo).	Entretanto,	a	configuração	da	mão	
é	diferente.	O	sinal	de	“desculpa”	é	produzido	a	partir	da	configu-
ração	da	mão	em	“y”	e	o	de	queijo	é	produzido	a	partir	da	configu-
ração	da	mão	em	“l”.	Para	ter	acesso	aos	sinais	citados	consulte	o	
dicionário	de	Libras	que	se	encontra	disponível	em:	<www.acesso-
brasil.org.br/libras>.	Acesso	em:	12	mar.	2012.
Sinais	que	se	opõem	quanto	ao	movimento:	“trabalho”	e	“ví-
deo”.	O	ponto	de	articulação	dos	sinais	é	o	mesmo,	ou	seja,	pró-
ximo	ao	tronco.	A	configuração	da	mão	também	é	a	mesma,	em	
“l”.	Entretanto,	o	movimento	das	mãos	é	diferente.	O	sinal	de	“tra-
balho”	envolve	um	movimento	das	mãos	para	frente	e	para	trás	
em	frente	ao	tronco.	E	o	sinal	de	vídeo	envolve	um	movimento	de	
cima	para	baixo,	em	frente	ao	tronco.	Para	visualizar	os	exemplos,	
consulte	o	site	que	se	encontra	disponível	em:	<www.acessobrasil.
org.br/libras>.	Acesso	em:	12	mar.	2012.
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168
Sinais	que	se	opõem	quanto	ao	ponto	de	articulação:	“apren-
der”	e	“sábado”.
A	seguir,	você	irá	conhecer	cada	uma	das	unidades	mínimas:	
configuração	de	mão,	ponto	de	articulação,	movimento,	orienta-
ção	de	mão	e	aspectos	não	manuais	dos	sinais.
Configuração de mão (CM)
O	Dicionário da Língua Brasileira de Sinais,	produzido	pela	
instituição	 Acessibilidade	 Brasil,	 apresenta	 73 configurações	 de	
mão.
Você	pode	estar	se	perguntando:	"Como	as	configurações	de	
mãos	foram	organizadas?".	Quadros	e	Karnopp	(2004)	dizem	que	
elas	foram	organizadas	com	base	em	dados	coletados	nas	comuni-
dades	de	surdos	das	principais	capitais	brasileiras.		
Verifique,	no	quadro	 (Figura	1),	 as	 configurações	organiza-
das:
169© Linguística e Língua de Sinais
Figura	1	Página do site do Dicionário da Língua Brasileira de Sinais.
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Podemos	verificar	que	a	configuração	de	mão	é	o	ponto	de	
partida	da	articulação	do	sinal.	Cada	uma	das	configurações	apre-
sentadas	anteriormente	origina	vários	sinais.
Movimento (M)
O	movimento	é	uma	importante	unidade	mínima.	Além	de	
participar	ativamente	na	produção	do	sinal,	ele	dá	graça,	beleza	e	
dinamismo	a	essa	língua.
Se	você	já	teve	a	oportunidade	de	presenciar	dois	surdos	con-
versando	em	língua	de	sinais,	deve	se	lembrar	de	que,	ao	produzir	
os	sinais,	eles	faziam,	concomitantemente,	alguns	movimentos	cor-
porais,	faciais	e	manuais,	associados	aos	sinais,	ou	os	próprios	sinais	
eram	produzidos	com	movimento	e	não	de	maneira	estática.
As	pessoas	ouvintes,	ao	usarem	a	língua	de	sinais,	o	fazem,	
normalmente,	de	maneira	mais	estática.	Isso	ocorre	porque	o	mo-
vimento,	embora	seja	uma	parte	integrante	da	língua,	é	realizado	
com	mais	propriedade	pelos	surdos,	que	são	mais	fluentes	e	co-
nhecem	a	língua	profundamente.
Sabe-se	que	associar	à	produção	do	sinal	aspectos	como	o	
movimento	e	as	expressões	não	manuais	não	é	algo	simples.	Essa	
habilidade	exige	muita	competência	e	fluência	na	língua,	além	de	
uma	boa	coordenação	motora,	domínio	do	movimento	e	orienta-
ção	no	espaço.
Para	os	ouvintes,	usuários	de	 língua	oral-auditiva,	o	domí-
nio	dessas	habilidades	é	algo	bem	complexo.	Os	surdos,	por	serem	
mais	visuais,	adquirem	essas	habilidades	com	muito	mais	natura-
lidade	e	facilidade	do	que	os	ouvintes,	por	isso	têm	uma	fluência	
mais	completa	e	mais	autêntica	da	língua	que	os	ouvintes.	
Cabe	destacar,	então,	que	para	que	haja	movimento	é	preci-
so	haver	espaço.	Portanto,	o	movimento é	indissociável	do	espaço.	
Klima	e	Bellugi	(1979)	definem	o	movimento	como	um	parâmetro	
complexo	que	pode	envolver	vários	aspectos,	tais	como:
171© Linguística e Língua de Sinais
1)	 forma:	o	movimento	pode	ocorrer	na	mão,	no	pulso	e	
no	antebraço;
2)	 direção:	o	movimento	pode	ser	unidirecional,	bidirecio-
nal	ou	multidirecional;
3)	 maneira	de	produção:	o	movimento	pode	variar	quanto	
à	tensão	e	à	velocidade;
4)	 frequência:	o	movimento	pode	envolver	repetição	ou	não.
Quanto	à	forma, o	movimento	pode	ocorrer	na	mão,	no	pulso	
e	no	antebraço.	Em	relação	à	direção,	o	movimento	pode	ser	uni-
direcional,	bidirecional	ou	multidirecional.	A	maneira de produção	
do	movimento	pode	variar	quanto	à	tensão	e	velocidade.	Quanto	à	
freqüência	o	movimento	pode	envolver	repetição	ou	não.
No	Quadro	1,	estão	as	categorias	do	parâmetro	movimen-
to	na	língua	de	sinais	brasileira	segundo	Ferreira	Brito	(1990	apud	
QUADROS;	KARNOPP,	2004).
Quadro 1 Categorias	do	parâmetro	movimento	na	língua	de	sinais	
brasileira		(Ferreira-Brito,	1990)	
TIPO
Contorno ou forma geométrica:	retilíneo,	helicoidal,	circular,	semicircular,	
sinuoso,	angular,	pontual
Interação:	alternado,	de	aproximação,	de	separação,	de	inserção,	cruzado	
Contato:	de	ligação,	de	agarrar,	de	deslizamento,	de	toque,	de	esfregar,	de	
riscar,	de	escovar	ou	de	pincelar
Torcedura do pulso:	rotação,	com	refreamento
Dobramento do pulso:	para	cima,	para	baixo
Interno das mãos:	abertura,	fechamento,	curvamento	e	dobramento	
(simultâneo/	gradativo)		
DIRECIONALIDADE
Direcional
-	Unidirecional:	para	cima,	para	baixo,	para	a	direita,	para	a	esquerda,	para	
dentro,	para	fora,	para	o	centro,	para	a	lateral	inferior	esquerda,	para	
a	lateral	inferior	direita,	para	a	lateral	superior	esquerda,	para	a	lateral	
superior	direita,	para	específico	ponto	referencial	
-	Bidirecional:	para	cima	e	para	baixo,	para	a	esquerda	e	para	a	direita,	para	
dentro	e	para	fora,	para	laterais	opostas	–	superior	direita	e	inferior	esquerda
Não-direcional
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MANEIRA
Qualidade,	tensão	e	velocidade
-	contínuo
-	de	retenção	
-	refreado
FRENQÜÊNCIA	
Repetição
-	simples
-	repetido
Fonte:	Quadros	e	Karnopp	(2004,	p.	56).	
De	acordo	com	o	apresentado,	você	pode	perceber	a	impor-
tância	dos	movimentos	na	 língua	de	 sinais,	pois	eles	podem	 ter	
múltiplos	significados.
Isso	 indica	que,	 ao	 aprender	 a	 língua	de	 sinais,	 você	deve	
dedicar	especial	atenção	aos	movimentos	que	acompanham	os	si-
nais,	buscando	compreendê-los	e	apreendê-los.
Veja,	a	seguir,	algumas	dicas	importantes	para	você	compre-
ender	a	comunicação	pela	língua	de	sinais.
1)	 A	variação	do	movimento	pode	resultar	em	um	significa-
do	diferente	do	sinal.	
2)	 As	 variações	 do	 movimento	 servem	 para	 diferenciar	
itens	lexicais,	como	nomes	e	verbos.
3)	 As	variações	do	movimento	podem	estar	relacionadas	à	
direcionalidade	do	verbo	(KLIMA;	BELLUGI,	1979),	como	
no	caso	do	verbo	"olhar"/"olhar	para".
4)	 Os	movimentos	também	podem	indicar	variação	em	re-
lação	 ao	 tempo	dos	 verbos,	 como	por	 exemplo:	 "olhe	
para",	"olhe	fixo",	"observe",	"olhe	por	um	longo	tem-
po",	"olhe	várias	vezes".
ponto de articulação (pa)
Outra	unidade	mínima	que	também	faz	parte	da	língua	de	sinais	
é	o	ponto de articulação.	Ele	se	refere	à	parte	do	corpo	ou	do	espaço	
em	que,	ou	perto	do	qual,	o	sinal	é	articulado	(FRIEDMAN,	1997).	
173© Linguística e Língua de Sinais
É	possível	você	verificar	que	os	sinais	podem	ser	produzidos	
envolvendo	quatro pontos de articulação:	tronco,	cabeça,	mão	e	
espaço.
Para	concluir,	cabe	considerar	que	muitos	sinais	podem	en-
volver	um	movimento,	indo	de	um	ponto	de	articulação	a	outro,	
como,	por	exemplo,	p	sinal	de	“presidente”	que	parte	do	ombro,	
desce	pelo	tronco	e	termina	na	lateral	da	cintura.	Ou	seja,	parte	de	
um	ponto	de	articulação	e	termina	em	outro.
Orientação da mão (Or)
A	orientação é	a	direção	para	a	qual	a	palma	da	mão	aponta	
na	produção	do	sinal	(QUADROS;	KARNOPP,	2004).
Ferreira-Brito	(1995)	considera	seis	tipos	de	orientações	da	
palma	da	mão	na	Língua	Brasileira	de	Sinais:
1)	 para	cima;
2)	 para	baixo;
3)	 para	o	corpo;
4)	 para	frente;
5)	 para	a	direita;
6)	 para	a	esquerda.
expressõesnão manuais (nM)
As	expressões não manuais	envolvem	movimento	da	face,	
dos	olhos,	da	cabeça	e	do	tronco.
Essa	 unidade	mínima	 é	 também	muito	 importante	 linguistica-
mente,	pois	marca	as	sentenças	interrogativas	(sim/não),	interrogativas	
QU (quem,	qual),	orações	relativas,	topicalizações,	concordância	e	foco.
Além	disso,	as	expressões	não	manuais	marcam:
1)	 referência	específica;
2)	 referência	pronominal;
3)	 partícula	negativa;
4)	 advérbio;
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174
5)	 grau	ou	aspecto.
Cabe	destacar	que	duas	expressões	podem	ocorrer	ao	mes-
mo	tempo,	como,	por	exemplo,	as	marcas	de	interrogação	e	nega-
ção	que	envolvem	franzir de sobrancelhas	e	projeção da cabeça.
O	Quadro	2	apresenta	diferentes	expressões	que	fazem	par-
te	da	Língua	Brasileira	de	Sinais.
Quadro 2	Diferentes	expressões	da	Língua	Brasileira	de	Sinais
rosto
Parte superior
Sobrancelhas franzidas
Olhos	arregalados
Lance	de	olhos
Sobrancelhas	levantadas
Parte inferior
Bochechas	infladas
Bochechas	contraídas
Lábios	contraídos	e	projetados	e	sobrancelhas	franzidas
Correr	da	língua	contra	a	parte	inferior	interna	da	bochecha
Apenas	bochecha	direita	inflada
Contração	do	lábio	superior
Franzir	o	nariz
Cabeça
Balanceamento	para	frente	e	para	trás	(sim)
Balanceamento	para	os	lados	(não)
Inclinação	para	frente
Inclinação	para	o	lado
Inclinação	para	trás
rosto e cabeça
Cabeça	projetada	para	frente,	olhos	levemente	cerrados,	sobrancelhas	franzidas
Cabeça	projetada	para	trás	e	olhos	arregalados
175© Linguística e Língua de Sinais
tronco
Para	frente
Para	trás
Balanceamento	alternado	dos	ombros
Balanceamento	simultâneo	dos	ombros
Balanceamento	de	um	único	ombro
Fonte:	Ferreira-Brito	e	Lavengin	(1995).
De	acordo	com	o	que	você	pôde	observar	nesse	quadro,	fica	
evidente	a	complexidade	linguística	dessa	língua.
As	 expressões	 não	manuais,	 assim	 como	 o	movimento,	 dão	
muita	graça	à	língua	de	sinais	e	são	também	essenciais,	e	os	surdos	
as	utilizam	com	muita	propriedade.	Esse	é	mais	um	aspecto	que	os	
ouvintes	têm	a	aprender	com	os	surdos	usuários	da	língua	de	sinais.
7. MOrFOLOGia da LÍnGua de sinais
Agora,	 vamos	 conhecer	 alguns	 aspectos	 da	morfologia	 da	
língua	de	sinais.
Morfologia	é	o	estudo	da	estrutura	interna	das	palavras	ou	
dos	sinais	e	das	regras	que	determinam	a	formação	das	palavras	
ou	dos	sinais.	A	palavra	morfema deriva	do	grego	morphé,	que	sig-
nifica	forma.	Os	morfemas	são	as	unidades	mínimas	de	significado	
(QUADROS;	KARNOPP,	2004).
Alguns	 morfemas,	 por	 si	 sós,	 constituem	 palavras,	 outros	
nunca	 formam	palavras,	 apenas	 constituem	partes	 delas.	 Nesse	
caso,	temos	os	morfemas presos,	que	são	os	sufixos	e	os	prefixos,	
uma	vez	que	não	podem	ocorrer	isoladamente.	Têm-se,	também,	
os	morfemas livres	que	constituem	palavras.
Assim	como	as	palavras	em	todas	as	 línguas	humanas,	mas	
diferentemente	dos	gestos,	os	sinais	pertencem	a	categorias	lexicais	
ou	a	classes	de	palavras,	como	nome,	verbo,	adjetivo	e	advérbio.
As	línguas	de	sinais	têm	um	léxico	e	um	sistema	de	criação	
de	novos	sinais	em	que	as	unidades	mínimas	com	significado	(mor-
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176
femas)	 são	 combinadas.	Nesse	 aspecto,	 as	 línguas	 de	 sinais	 são	
diferentes	das	línguas	orais.
Nas	línguas	orais,	as	palavras	complexas	são,	muitas	vezes,	for-
madas	pela	adição	de	um	prefixo	ou	sufixo	a	uma	raiz.	Já	nas	línguas	
de	sinais,	essas	formas	resultam,	frequentemente,	de	processos	não	
concatenativos,	em	que	uma	raiz	é	enriquecida	com	vários	movimen-
tos	 e	 contornos	 no	 espaço	 de	 sinalização	 (KLIMA;	 BELLUGI,	 1979),	
como	por	exemplo,	os	sinais	"árvore"	e	"paquerar".	Para	visualizar	es-
tes	sinais,	consulte	o	site que	se	encontra	disponível	em	<www.aces-
sobrasil.org.br/libras>.	Acesso	em	12	de	mar.	2012.
8. Questões autOavaLiativas
Ao	finalizar	seus	estudos	sobre	a	gramática	da	Língua	Bra-
sileira	 de	 Sinais,	 procure	 responder	 para	 si	mesmo	às	 seguintes	
questões:
1)	 Quais	os	fundamentos	linguísticos	aplicados	à	língua	de	sinais?
2)	 Apresente	e	explique	as	principais	 ideias	equivocadas	 relacionadas	às	 lín-
guas	de	sinais.
3)	 O	que	estuda	a	fonologia	e	a	morfologia	das	línguas	de	sinais?
4)	 Quais	as	unidades	mínimas	das	línguas	de	sinais?
9. COnsiderações
Nesta	unidade,	você	pôde	estudar	aspectos	específicos	rela-
cionados	à	gramática	da	Libras)	e,	por	meio	deste	estudo,	compre-
ender	sua	organização.
Na	próxima	unidade,	você	irá	estudar	o	intérprete	de	língua	
de	sinais.	Veremos	que	a	profissão	de	intérprete	de	língua	de	sinais	
no	Brasil	é	recente	e	foi	legislada	com	a	publicação	do	Decreto	nº	
5.626/05.	Além	disso,	discutiremos	a	presença	do	 intérprete	em	
sala	de	aula	e	como	se	dá	sua	atuação	nesse	contexto.
177© Linguística e Língua de Sinais
10. E-REfERências
Figura 1 Libras. do Dicionário da Língua Brasileira de Sinais.	Disponível	em:	<http://
www.acessobrasil.org.br/libras/>.	Acesso	em:	12	jan.	2011.
Sites pesquisados
BRASIL.	Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Disponível	em:	<http://www.planalto.gov.
br/ccivil/leis/2002/L10436.htm>.	Acesso	em:	12	jan.	2011.
BRASIL.	Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005.	 Disponível	 em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>.	 Acesso	 em:	 12	
jan.	2011.
11. REfERências BiBLiOGRÁficas
BAKHTIN,	N.	Marxismo e filosofia pra linguagem.	São	Paulo:	Hucitec,	1999.
CHOMSKY,	N.	Syntactic structures.	The	Hague:	Mounton,	1997.
HOLCOMB,	R.	K.;	HOLCOMB,	S.	K.;	HOLCOMB,	T.	K.	Cultura sorda:	así	somos	(Traduzido	
por	Francisco	Meizoso	y	Cristina	Freire).	San	Diego:	DawnSignPress,	s.d.
KLIMA,	E.;	BELLUGI,	U.	Wit	and	poetry	in	american	sign	language.	Dign language Studies.	v.	8.
QUADROS,	R.	M.;	KARNOPP,	L.	B.	Língua de sinais brasileira:	estudos	linguísticos.	Porto	
Alegre:	Artmed,	2004.
SAUSSURE,	F.	Curso de linguística geral.	20.	ed.	São	Paulo:	Cultrix,	1995.
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