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PROGRAMA DO CURSO 
1ª UNIDADE 
Nº1 - CONCEPÇÕES DE FILOSOFIA, CIÊNCIA E FILOSOFIA DO DIREITO 
Nº2 - VISÃO CÓSMICA DO MUNDO – FILOSOFIAS CLÁSSICAS 
→ SOFISTAS 
→ PRÉ-SOCRÁTICOS 
→ SÓCRATES 
→ ARISTÓTELES 
Nº3 - VISÃO CRISTA DO MUNDO – FILOSOFIAS CRISTA 
→ SANTO AGOSTINHO 
→ SÃO TOMAS DE AQUINO 
Nº4 - ESCOLA CLÁSSICA DO DIREITO NATURAL – FILOSOFIAS 
JUSNATURALISTA 
Nº5 - VISÃO BURGUESA DE MUNDO – IDEOLOGIA ILUMINISTA 
Nº6 - A QUESTÃO DO CONHECIMENTO – CRITICISMO DE KANT 
Nº7 - VISÃO CRÍTICA DO MUNDO – FILOSOFIA MARXISTA 
Nº8 - POSITIVISMO JURÍDICO – NORMATIVISMO DE HANS KELSEN 
Nº9 - CONCEPÇÕES SISTÊMICAS E EXTRA SISTÊMICAS 
Nº 10 - CONCEPÇÕES PÓS-POSITIVISTAS 
 
2ª UNIDADE 
Nº 1 - DIREITO E JUSTIÇA 
Nº 2 - DIREITO, MORAL E ÉTICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA, CIÊNCIA E FILOSOFIA DO DIREITO 
 
1. CONCEITO DE FILOSOFIA – O QUE É FILOSOFIA 
O professor Felipe Jacques, inicia o curso nos indagando o que é filosofia? 
Várias definições foram traçadas pelos alunos, tais como “a filosofia é o amor à 
sabedoria”, “a filosofia é uma forma de pensamento” etc. 
Para o professor a filosofia pode ser definida como “o ato de questionar o 
objeto em busca da verdade”. 
 
 
 
Observando Marilena Chauí, na obra Convite à Filosofia, a Filosofia não se 
confunde com Ciência, mas pode ser entendida como reflexão crítica sobre os 
procedimentos e conceitos científicos, pois se trata de um saber que é 
cronologicamente anterior ao surgimento da própria ciência; não é tampouco Religião, 
antes, porém reflexão crítica sobre as origens e formas das crenças religiosas; não se 
reduz à Arte, mas se vê diante de uma reflexão crítica sobre os conteúdos, formas, 
significações da obra de arte e do trabalho artístico; também não pode ser considerada 
Sociologia ou Psicologia, mas reflexão crítica sobre os fundamentos dessas ciências 
humanas de suma importância; a Filosofia não se limita à esfera Política, mas se 
configura como possível interpretação, compreensão e reflexão sobre a origem, a 
natureza e as formas do poder; por fim, Filosofia não é História, e sim interpretação 
do sentido dos acontecimentos enquanto inseridos no tempo e no espaço e a 
compreensão do que seja o próprio tempo. A Filosofia está na história, pois é produto 
cultural do homem; um saber do homem situado. A Filosofia busca desvelar as 
interpretações e limites de cada época. 
ETIMOLOGIA 
A palavra filosofia vem do grego, philosophia (Φιλοσοφία). Philo 
vem de philia (φιλια), que significa amizade ou amor fraterno. Já 
sophia (σοφία ou Σοφία), vem de sophos (σοφός), que traduzido 
para nossa língua exprime sabedoria. O vocábulo filosofia significa 
amor pelo conhecimento, pela sabedoria ou pelo saber. O termo 
filosofia, foi criado pelo filósofo e matemático Pitágoras de Samos 
(570 a.C – 490 a.C). Ele foi um importante pensador pré-socrático. 
Pode-se então definir Filosofia como a fundamentação teórica e crítica dos 
conhecimentos e práticas. Trata-se de um saber que se preocupa com as origens, 
causas, forma e o conteúdo dos valores éticos, políticos, artísticos e culturais. O seu 
olhar observa com cuidado as transformações históricas, a consciência em suas 
várias modalidades: imaginação, percepção, memória, linguagem, inteligência, 
experiência, reflexão, comportamento, vontade, desejo, paixões; busca compreender 
as idéias ou significados gerais: realidade, mundo, natureza, cultura, história, 
subjetividade, objetividade, diferença, repetição, semelhança, conflito, contradição e 
mudança. O olhar filosófico se afasta das crenças, sentimentos, prejuízos, 
preconceitos; toma distância para interrogar e não aceitar as coisas passivamente. A 
Filosofia diz “não” ao senso comum, para indagar “o que é”, “como é” e “por que é” – 
momentos que constituem o pensamento crítico. O seu conhecimento se realiza por 
reflexão que se configura no momento em que o pensamento se volta para si mesmo 
a fim de indagar como é possível o próprio pensamento. Sua reflexão é radical, 
porquanto investiga a raiz, a origem de tudo o que existe. A Filosofia é um pensamento 
sistemático, o que significa dizer que não é mera opinião. Na verdade, a Filosofia 
segue uma lógica de enunciados precisos e rigorosos, opera com conceitos ou idéias 
obtidos por procedimentos de demonstração e prova. Assim, a Filosofia enquanto 
saber exige fundamentação racional do que é enunciado e pensado e deve formar um 
conjunto coerente de idéias racionalmente demonstráveis. 
Além do conceito oferecido, o professor destaca outros pontos que fazem parte 
de um conceito para o que vem a ser filosofia: 1ª a busca dos porquês, 2ª a busca 
da verdade, 3ª teoria sobre o objeto. 
OBS.: TALES DE MILETO - foi o primeiro a questionar a verdade. Isso porque, a partir 
do século VII a.C., os homens e as mulheres não se satisfazem mais com uma 
explicação mítica da realidade. O pensamento mítico explica a realidade a partir de 
uma realidade exterior, de ordem sobrenatural, que governa a natureza. O mito não 
necessita de explicação racional e, por isso, está associado à aceitação dos indivíduos 
e não há espaço para questionamentos ou críticas. É em Mileto, situado na Jônia 
(atual Turquia), no século VI a.C. que nasce Tales que, para a Aristóteles é o iniciador 
do pensamento filosófico que se distingue do mito. Tales propôs que a origem de 
tudo está relacionada à água. Não é estranho que Tales tenha pensado ser a água 
o elemento que deu origem a todas as coisas e o elemento sobre o qual a Terra está 
colocada, pois podemos encontrar umidade em quase tudo na natureza e observar a 
importância da água para a vida. Ao dizer que um elemento material deu origem a 
todas as coisas, Tales inaugurou esta nova forma de tentar responder sobre a gênese 
(início) do mundo. 
 
➢ TEORIA SOBRE O OBJETO 
Filosofar constitui-se na atitude de refletir, criticar e especular sobre as 
condições do ser humano e dos outros seres vivos, tendo em mente, principalmente, 
seus papéis no universo. Portanto, é o estudo e reflexão sobre o objeto. Desta 
maneira, a filosofia envolve todas as concepções de ciência, conhecimento e saber 
racional. O filósofo chega, então, às suas conclusões a partir de uma pesquisa interna, 
voltada para si. Ele se move por um sentimento de curiosidade. De uma perspectiva 
social, a filosofia não é uma forma de conhecimento em si, mas um comportamento, 
uma atitude natural das pessoas quanto a si próprias e ao mundo. 
 
2. DIVISÕES DA FILOSOFIA - COMO A FILOSOFIA SE DIVIDE? 
A filosofia é dívida em vários ramos, que incluem, por exemplo, lógica, a teoria, 
a prática etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA
LÓGICA
FORMAL
MATERIAL
TEÓRIA
NATURAL
META-FISICA
PRÁTICA
ÉTICA
MORAL
DIREITO
DECOROESTÉTICA
➢ LÓGICA 
Derivada do grego (logos), quer dizer pensamento / estudo. É a ciência que 
estuda a funcionalidade dos métodos de pensamento, que tem uma origem 
matemática, visando uma exatidão no que seja um método, buscando, assim, 
diferenciar um pensamento ou método relativo de um pensamento exato e lógico. 
Pode-se dizer, sem equívocos, que a lógica é uma espécie de reguladora do 
pensamento, do bem pensar, ou seja, um pensamento (ou a busca dele) que visa à 
verdade, uma vez que a propriedade principal do conhecimento é essa, segundo a 
Filosofia. A lógica fundamenta-se em buscar a exatidão para que se criem métodos 
seguros de pensamento, uma vez que o pensar é a manifestação visível ou não do 
conhecimento e que o conhecimento é, em suma, a busca da verdade, independente 
do que seja essa verdade, conforme a linha de pensamentosque se exerce. 
 
LÓGICA FORMA 
É aquela que não precisa saber a substancia de cada 
elemento. 
LÓGICA MATERIAL 
É aquela que precisa saber a substancia dos elementos. 
Essa é a lógica que interessa ao direito. 
 
Para Miguel Reale a Lógica formal é o estudo das estruturas formais do 
conhecimento, ou do “pensamento sem conteúdo”, isto é, dos signos e formas 
expressionais do pensamento, em sua consequêncialidade essencial. No campo da 
Lógica formal, o que importa é a consequência rigorosa das proposições entre si, e 
não a adequação de seus enunciados com os objetos a que se referem. Já Lógica 
material tem por objeto o estudo dos diversos processos que devem disciplinar a 
pesquisa do real, de acordo com as peculiaridades de cada campo de indagação. 
 
➢ TEÓRICA 
A filosofia teórica é a parte da filosofia que analisa as grandes questões gerais 
sobre a estrutura da realidade e do conhecimento humano. Ela concentra seus 
estudos na natureza e na metafisica. 
NATUREZA 
Investiga os princípios e as causas dos seres ou coisas 
que existem na Natureza. A natureza e o homem se 
relacionam amplamente, cabendo a antropologia 
analisa as características do ser humano, explicando as 
peculiaridades humanas e seu destino. 
 
METAFISICA 
 
Considerar o ser enquanto ser (uma ontologia), isto é, 
simultaneamente, sua essência e os atributos que lhe 
pertencem enquanto ser. A metafísica tem como 
objetivo principal buscar a essência, a natureza 
específica de todas as coisas, fornecendo uma visão 
ampliada e dinâmica do mundo, que reúna os diversos 
aspectos da realidade, estudando além do que a 
experiência sensorial possa descrever, transcendendo 
o que o podemos ver ou tocar. Ou seja, estuda coisas 
interiores e exteriores ao ser, coisas que possam ser da 
existência dependente ou derivada, coisas que existam 
por si próprias ou que dependam de outras para existir. 
 
 
A metafísica, que reúne, como disse Aristóteles, as questões e problemas que 
surgem da realidade física, mas que estão além do que as ciências naturais 
particulares estudam. Esta problemática e crítica análise da realidade, também 
chamada ontologia ou ciência do ser, deve levar em conta as contribuições das 
ciências naturais e biológicas, e pensar sobre os problemas que essas ciências 
deixam em aberto. 
Outro ponto de interesse da metafisica são os problemas do conhecimento. É 
a parte da filosofia que é chamada teoria do conhecimento (também chamada de 
gnoseologia ou epistemologia). Esta parte da filosofia estuda a origem, os limites e 
as pretensões do conhecimento e da verdade. Ou como afirma Miguel Reale – “indaga 
das condições do conhecimento pertinentes ao sujeito que conhece (gnoseologia)”. 
 
➢ PRÁTICA 
Na Filosofia Prática a ênfase é colocada na procura pessoal, ativa e crítica de 
respostas as condutas humanas, ou seja, da exteriorização do agir humano. Tomando 
emprestada as palavras de Miguel Reale podemos dizer, então que a filosofia prática 
vai se ater a atitude do homem perante o homem e para o mundo, e a projeção dessa 
atitude como atividade social e histórica. A filosofia prática se divide em ética e estética 
ÉTICA 
Área da Filosofia que investiga os problemas 
colocados pelo agir humano enquanto relacionado com 
valores morais. Busca discutir e fundamentar os juízos 
de valor que se referem às ações; reflexão que se 
propõe a discutir, problematizar e interpretar o 
significado dos valores morais. 
A ética se divide em moral, direito e decoro. 
A MORAL, nascida de posturas externas, revela um conjunto de prescrições 
vigentes numa determinada sociedade e consideradas como critérios válidos para a 
orientação do agir de todos os seus membros. Designa o costume: comportamento 
coletivo, sedimentado e reiterado que por sua necessidade e/ou utilidade social é 
aceito como regra de conduta obrigatória, aprovada pela tradição (principalmente 
através da educação familiar, religiosa e escolar) e exigida pela consciência popular, 
sem que o Poder Público a tenha estabelecido. Nesse sentido, a Moral está ligada às 
vivências específicas de cada povo, ao sistema de valores próprio de cada cultura. 
Através da Moral podemos avaliar a qualidade das condutas (éticas) individuais, 
podendo a atitude moral (compartilhada) resultar no que chamamos moralidade, 
imoralidade, amoralidade, moralismo, etc. 
DECORO é o mesmo que agir com decência e pudor, seguindo as normas 
morais e éticas previstas em uma sociedade. Este termo também está relacionado 
com o comportamento de recato e respeito tido por alguém em determinada 
circunstância. Quando se diz que uma pessoa age com decoro significa que se 
comporta de forma correta, do ponto de vista da moral e ética vigente em determinado 
grupo ou sociedade. A falta de decoro, por outro lado, se refere ao comportamento 
oposto, ou seja, agir sem respeito, dignidade e compostura em situações onde está é 
adequada. Exemplo: Decoro parlamentar - Consiste no comportamento 
exemplar que é esperado dos representantes políticos. Todas as regras 
comportamentais referentes ao decoro dos legisladores estão previstas nos 
regimentos internos da Câmara dos Deputados e do Senado. Caso haja a 
chamada "quebra de decoro", ou seja, o parlamentar infrinja uma das regras de 
conduta, este deverá ser punido. 
 
ESTÉTICA 
Do grego: aisthésis; que quer dizer percepção ou 
sensação. Estuda basicamente e, primordialmente, a 
natureza do que é belo e das características e 
fundamentos da arte. É o estudo da arte, em suma, seja 
ela criada ou natural. A estética estuda o julgamento 
frente ao belo, observando as percepções individuais e 
coletivas de uma reação gerada por um fenômeno 
estético, desde a admiração da natureza em si, até as 
obras criadas por mãos humanas. 
 
3. PARÂMETROS DA FILOSOFIA DO DIREITO OCIDENTAL 
A filosofia ocidental se mostra muito diferente da filosofia oriental. Isso porque 
ao analisarmos suas fontes percebemos que elas receberam influencias diferentes ao 
longo das épocas. A filosofia do direito ocidental, tem como origem a filosofia da 
Grécia, pois, foi lá que nasceu filosofia como nos conhecemos. Outra influencia da 
filosofia do direito ocidental, foi o direito romano. Além, dessas influências, temos outra 
de cunho religioso, que é a religião judaico-cristã, que nos influenciou no que diz 
respeito a moral, a conduta etc. 
 
ORIGEM: GRÉCIA / DIREITO: ROMANO / RELIGIÃO: JUDAICO-CRISTÃ 
 
 
4. SENSO COMUM, FILOSOFIA E CIÊNCIA 
4.1. SENSO COMUM 
Senso comum ou conhecimento vulgar é a compreensão do mundo resultante 
da herança fecunda baseada nas experiências acumuladas por um grupo social. O 
senso comum descreve as crenças e proposições que aparecem como "normais", 
sem depender de uma investigação detalhada para se alcançar verdades mais 
profundas, como as científicas. O senso comum é a forma de conhecimento mais 
presente no dia a dia das pessoas que não se preocupam prioritariamente com 
questões científicas. É uma forma de pensamento superficial, ou seja, não está 
preocupado com causas e fundamentos primeiro de algo, apenas faz afirmações, 
irrefletidas, imediatas. Isso não quer dizer que não haja conhecimento científico entre 
essas pessoas ou que não haja senso comum no âmbito científico. 
O senso comum é transmitido de geração para geração nas sociedades. Por 
meio dele, o homem embasa o cotidiano e explica a realidade em que vive. 
O senso comum é a matriz para a ciência e a filosofia (busca dos princípios e 
as verdades das coisas). 
 
4.2. FILOSOFIA – RAZÃO/SISTEMA/MÉTODOS/CAUSAL E LOGICA/PORQUÊS? 
RAZÃO. A filosofia se alimenta da razão, do refletir sobre o objeto em busca 
dos princípios e das verdadesdas coisas. Miguel Reale demostra isso ao esclarecer 
que “a Filosofia, por ser a expressão mais alta da amizade pela sabedoria, tende a 
não se contentar com uma resposta, enquanto esta não atinja a essência, a razão 
última de um dado "campo" de problemas. Há certa verdade, portanto, quando se diz 
que a Filosofia é a ciência das causas primeiras ou das razões últimas: trata-se, 
porém, mais de uma inclinação ou orientação perene para a verdade última, do que a 
posse da verdade plena”. 
SISTEMA. A filosofia é um sistema, onde há perguntas concatenadas em busca 
da verdade. As perguntas se organizam através de métodos. Esclarece Miguel Reale, 
que “a filosofia, com efeito, procura sempre resposta a perguntas sucessivas, 
objetivando atingir, por vias diversas, certas verdades gerais, que põem a 
necessidade de outras: daí o impulso inelutável e nunca plenamente satisfeito de 
penetrar, de camada em camada, na órbita da realidade, numa busca incessante de 
totalidade de sentido, na qual se situem o homem e o cosmos. Ora, quando atingimos 
uma verdade que nos dá a razão de ser de todo um sistema particular de 
conhecimento, e verificamos a impossibilidade de reduzir tal verdade a outras 
verdades mais simples e subordinantes, segundo certa perspectiva, dizemos que 
atingimos um princípio, ou um pressuposto. Quando se afirmar que Filosofia é a 
ciência dos primeiros princípios, o que se quer dizer é que a Filosofia pretende 
elaborar uma redução conceituai progressiva, até atingir juízos com os quais se possa 
legitimar uma série de outros juízos integrados em um sistema de compreensão total. 
Assim, o sentido de universalidade revela-se inseparável da Filosofia. Vê-se, pois, que 
a Filosofia representa perene esforço de sondagem nas raízes dos problemas. É uma 
ciência cujos cultores somente se considerariam satisfeitos se lhes fosse facultado 
atingir, com certeza e universalidade, todos os princípios ou razões últimas 
explicativas da realidade, em uma plena interpretação da experiência humana; mas, 
nas vicissitudes do tempo, tal paixão pela verdade sempre se renova; surgem teorias, 
sistemas, posições pessoais, perspectivas diversas, em um dinamismo que nos é 
conatural e próprio, de maneira que a universalidade dos problemas não pode 
contar com resultados ou soluções todos universalmente válidos. Poder-se-ia dizer, 
porém, que é em nossa procura total da verdade que se manifesta a verdade total. 
Parafraseando a reflexão agostiniana de Blaise Pascal, diríamos do filósofo com 
relação à verdade: "tu não me procurarias, se já não me tivesses encontrado"”. Vale 
lembrar que as perguntas são concatenadas de forma causal e logica. 
CONCLUSÕES. A filosofia não chega a conclusões. As perguntas estão dentro 
do conhecimento. Na filosofia não se refuta conclusões, mas se critica o 
conhecimento. Com relação as conclusões da filosofia, esclarecedora as palavras de 
Miguel Reale, onde “a Filosofia não existiria se todos os filósofos culminassem em 
conclusões uniformes, idênticas. A Filosofia é, ao contrário, uma atividade perene do 
espírito ditada pelo desejo de renovar-se sempre a universalidade de certos 
problemas, embora, é claro, as diversas situações de lugar e de tempo possam 
condicionar a formulação diversa de antigas perguntas: o que distingue, porém, a 
Filosofia é que as perguntas formuladas por Platão ou Aristóteles, Descartes ou Kant, 
não perdem a sua atualidade, visto possuírem um significado universal, que 
ultrapassa os horizontes dos ciclos históricos. A universalidade da Filosofia está de 
certa forma mais nos problemas do que nas soluções, o que não deve causar 
estranheza se lembrarmos, com Jorge Simmel, que a Filosofia mesma é, por assim 
dizer, o primeiro de seus problemas, revertendo o seu problematicismo sobre a sua 
própria essência. A pesquisa das razões últimas das coisas e dos primeiros princípios 
implica a possibilidade de soluções diversas e de teorias contrastantes, sem que isto 
signifique o desconhecimento de verdades universais que se imponham ao espírito 
com a força irrefragável da evidência”. 
 
4.3. CIÊNCIA 
A ciência tem a ver com experiências, métodos, conceitos e conhecimentos. A 
ciência presta-se a refutar uma conclusão anterior. Ciência refere-se a qualquer 
conhecimento ou prática sistemáticos. Em sentido estrito, ciência refere-se ao sistema 
de adquirir conhecimento baseado no método científico bem como ao corpo 
organizado de conhecimento conseguido através de tais pesquisas. A ciência, então, 
deverá representar o conhecimento sistematizado, especializado, testado, 
organizado, diluído em uma trama de postulados metodológicos. Trata-se de uma 
pratica racional da qual resultam conhecimentos mais rigorosamente testados que 
aqueles adquiridos informalmente. 
Segundo o professor, a ciência presta-se a refutar uma conclusão anterior. 
Nesse sentido, temos o entendimento de Miguel Reale, onde - “Toda ciência depende, 
em seu ponto de partida, de certas afirmações, que se aceitam como condição de 
validade de determinado sistema ou ordem de conhecimentos. E até mesmo quando 
se pretende abstrair de toda ordem dada, a fim de que a "indagação" ou a "pesquisa" 
possa determinar as verdades de maneira livre e autônoma, ainda assim se pressupõe 
a validade da pesquisa experimental como produtora ou reveladora de "assertivas 
garantidas"”. 
 
 
As conclusões da ciência podem ser expressa de três formas: 1) Lei cientifica, 2) 
Teoria ou 3) Hipótese. 
 
❖ LEI CIENTIFICA - A lei descreve determinados fenômenos naturais sob 
determinadas condições. A lei é usada para descrever uma ação sob certas 
circunstâncias. Para o professor haverá lei cientifica quando houver comprovação 
categórica de todas as hipóteses. 
 
❖ TEORIA - Uma teoria científica consiste em uma ou mais hipóteses que foram 
suportadas em testes repetitivos. Segundo o professor haverá uma teoria, quando 
nem todas as hipóteses forem comprovadas, ou seja, possui um menor grau de 
certeza. 
 
❖ HIPÓTESE - Uma hipótese é uma suposição razoável baseada em um 
conhecimento anterior ou na observação. Hipóteses são comprovadas e refutadas o 
tempo todo. As hipóteses desempenham um papel importante no método científico, 
pois, a partir dele, formula-se uma pergunta (baseada em um problema estabelecido 
em um conhecimento anterior), desenvolve-se uma hipótese, pensa-se nas 
consequências em que essa hipótese poderia ser testada, e, em seguida, a testa e 
analisa os seus dados. De outra forma, uma hipótese precisa ser testada e retestada 
muitas vezes e em condições controláveis, antes que ela seja aceita na comunidade 
científica como sendo verdadeira. 
 
 
 
 
 
 
MÉTODO CIENTIFICO = PROBLEMA + HIPÓTESE(EXPERIMENTAÇÃO) = CONCLUSÃO 
OBSERVAÇÃO: CIÊNCIA DO DIREITO - constitui um conjunto ordenado e 
sistemático de princípios e regras que tem por tarefa definir e sistematizar o 
ordenamento jurídico, que o Estado impõe à sociedade e apontar solução 
para os problemas ligados à sua interpretação, aplicação e fontes. 
 
 
 
 
5. FILOSOFIA DO DIREITO 
O direito como objeto, pode ser estudado sob dois ângulos: um zetetitco e um 
dogmático. O refletir dogmático (dokein) vincula-se ao desenvolvimento de opinião, 
enquanto o zetético (zatetikós) liga-se a dissolução das opiniões pela investigação e 
seu pressuposto basilar é a dúvida. O pensamento dogmático é uma forma de enfoque 
teórico no qual as premissas da sua argumentação são inquestionáveis. O método 
zetético é analítico e, para resolver algum problema ou investigar a razão das coisas, 
questiona as premissas de argumentação, procede por pesquisas, investiga. O 
enfoque dogmático é mais fechado,preso a conceitos fixos, adaptando os problemas 
as premissas, enquanto o enfoque zetetico dissolve as opiniões e as coloca em 
dúvida, exercendo função especulativa explicita e infinita. 
Entende-se, a partir desses dizeres, que a filosofia seja zetética. O direito, por 
sua vez, é mais dogmático. Contudo, as céleres transformações do mundo moderno 
ordenem, para uma compreensão mais apurada das necessidades humanas, seja 
introduzindo a forma zetetica de pensar o Direito, sob o risco de torna-lo ineficaz. 
Nesse ponto, ressalta-se o grande valor da Filosofia para o Direito. Pensar o Direito 
denota problematização da realidade e reformulação dos conceitos vetustos, por 
vezes tidos como insuficientes para dirimir as novas contendas. Se ao Direito cabe 
acompanhar a evolução social, precisa desnudar-se de preconceitos conferidos pelo 
dogmatismo jurídico. 
 
5.1. MOMENTO HISTÓRICO 
A. FILOSOFIA DO DIREITO IMPLÍCITA 
Se prolonga, no mundo ocidental, desde os pré-socráticos até Kant. É implícito, 
pois, durante este período somente filósofos produzia, debatia e questionava o direito. 
 
B. FILOSOFIA DO DIREITO EXPLICITA 
consciente da autonomia de seus títulos, por ter intencionalmente cuidado de 
estabelecer as fronteiras de seu objeto próprio nos domínios do discurso filosófico. O 
surgimento da Filosofia do Direito como disciplina autônoma foi o resultado de longa 
maturação histórica, tornando-se uma realidade plena na época em que se deu a 
terceira fundação da Ciência Jurídica ocidental, isto é, a cavaleiro dos séculos XVIII e 
XIX. Segundo o professo a Filosofia do Direito se torna autônoma à partir de Hegel. 
 
5.2. CONCEITO 
Miguel Reale, esclarece que o termo Filosofia do Direito pode ser empregado 
em acepção lata, abrangente de todas as formas de indagação sobre o valor e a 
função das normas que governam a vida social no sentido do justo, ou em acepção 
estrita, para indicar o estudo metódico dos pressupostos ou condições da experiência 
jurídica considerada em sua unidade sistemática. 
Eduardo Bittar, ensina, que a Filosofia do Direito é um saber critico a respeito 
das construções jurídicas erigidas pela Ciência do Direito e pela própria práxis do 
Direito. Mais que isso, é sua tarefa buscar os fundamentos do Direito, seja para 
cientificar-se de sua natureza, seja para criticar o assento sobre o qual se fundam as 
estruturas do raciocínio jurídico. 
O professo Felipe Jacques, entende a Filosofia do Direito, como um ramo de 
estudo racional, mais amplo, que investiga o fundamento do direito e de suas normas, 
bem como todas as causas, consequências, necessidades e utilidades públicas do 
direito. 
 
5.3. OBJETIVOS 
→ Proceder à critica das práticas, das atitudes e atividades dos operadores do direito; 
→ Avaliar e questionar a atividade legiferante, bem como oferecer suporte reflexivo ao 
legislador; 
→ Proceder à avaliação do papel desempenhado pela ciência jurídica e o próprio 
comportamento do jurista ante ela; 
→ Depurar a linguagem jurídica, os conceitos filosóficos e científicos do Direito, bem 
como analisar a estrutura lógica das proposições jurídicas; 
→ Investigar a eficácia dos institutos jurídicos, sua atuação social e seu compromisso 
com as questões sociais, seja no que tange a indivíduos, seja no que tange a 
grupos, seja no que tange a coletividade, seja no que tange a preocupações 
humanas universais; 
→ Desmascarar as ideologias que orientam a cultura da comunidade jurídica, os pré-
conceitos que orientam as atitudes dos operadores do Direito e descortinar as 
críticas necessárias para a reorientação da função de responsabilidade ético-social 
que repousa nas profissões jurídicas. 
 
5.4. HISTORIA DA FILOSOFIA DO DIREITO 
5.4.1. MOMENTOS 
REVOLUÇÃO FRANCESA - Sob o mote “liberté, égalité, fraternité”! (liberdade, 
igualdade, fraternidade!), populares tomaram, em 14 de julho de 1789, um dos 
símbolos do totalitarismo francês de então, localizado na capital, Paris: a Bastilha, 
prisão onde eram encarcerados adversários do regime. Esse foi o estopim do que 
ficou conhecido como a Revolução Francesa. No entender de muitos historiadores, 
ao romper com um status quo instituído há 50 gerações (cerca de 500 anos) por 
influência do clero, a Revolução Francesa passou a constituir o marco divisor entre a 
Idade Moderna e a Idade Contemporânea, e ainda teria sido o evento de maior 
importância da humanidade, produzindo frutos até hoje. A Revolução Francesa, 
também foi um importante marco, para a filosofia, pois, marcou a divisão entre a 
filosofia pré-contemporânea e a filosofia contemporânea. 
 
5.4.2. FILOSOFIA DO DIREITO PRÉ-CONTEMPORÂNEA 
A filosofia do direito pré-contemporânea é muito vasta, e em geral corresponde 
a formas específicas de relação do direito e da apreciação do justo com o todo da vida 
social. Havendo três grandes modos de produção nessa história do direito pré-
contemporânea, há também três grandes níveis gerais de reflexão jusfilosófica: uma 
filosofia do direito antiga, eminentemente greco-romana, que corresponde às 
formas superiores da organização do modo de produção escravagista; uma filosofia 
do direito medieval, eminentemente cristã, que corresponde ao modo de produção 
feudal; uma filosofia do direito moderna, construída no embate entre uma lógica 
religiosa-absolutista e uma perspectiva burguesa racionalista, e que, ao seu final, 
antecipou o arcabouço do direito positivo contemporâneo. 
 
5.4.2.1. FILOSOFIA ANTIGA 
A. FASE PRÉ-HELÊNICA 
Segundo Paulo Nader, é na Grécia antiga onde vamos encontrar, propriamente, 
o início da Filosofia do Direito, malgrado as primeiras reflexões dessa natureza 
tenham precedido ao pensamento helênico, pois o Direito, de maneira empírica, 
envolto ainda com a Religião, Moral, Regras de Trato Social, surgira concomitante ao 
florescimento das civilizações do passado e, como se sabe, o pensamento jurídico 
exerce uma vis atractiva em relação ao filosófico. Onde o espírito religioso predominou 
pouco se pode cogitar a respeito de um pensamento jusfilosófico, pois a lei era 
considerada a expressão da vontade divina, e o seu acatamento, uma imposição de 
fé. 
 
EGITO → No Egito antigo, o famoso Livro dos Mortos tanto revela o sentimento 
de justiça daquele povo quanto o domínio da Religião sobre o Direito. Perante o 
Tribunal de Osíris, conforme a narrativa, para obter a felicidade eterna o morto 
precisava proferir, di ante da deusa Maat, vocábulo que significa lei, uma oração, cujo 
teor mostra o sentido religioso do dever de justiça, bem como a percepção de 
princípios e regras devidamente ajustados ao Direito Natural. 
 
ÍNDIA → Na Índia primitiva destacaram-se as doutrinas do bramanismo, 
budismo e jainismo. Um dos princípios filosóficos que se eternizaram no âmbito social, 
hoje desdobrado em várias diretrizes do pensamento, foi o da igualdade da natureza 
humana, proclamado por discípulos de Buda (563-484 a.C.), ao combaterem o regime 
de castas. 
 
CHINA → Conhecido no mundo ocidental por Confúcio (551 -479 a.C.), Kung-
fu-tsé, ou “Mestre Kung”, projetou o pensamento chinês no âmbito da Filosofia, 
escrevendo algumas obras jurídico-filosóficas: Ta-hio, ou Grande Estudo; Chon-yung, 
ou Da Invariabilidade do Justo Médio; Lin-yu, ou Conversas Filosóficas. Para ele o 
valor do justo era fundamental: “Se se dispõe de homens justos, o governo 
prosperará; sem eles, o governo desaparecerá”; “pode -se obrigar ao povo a 
seguir os princípios da justiça e da razão, mas não se pode obrigar a 
compreendê-los” (Lin-yu, VIII, 9). Além de Confúcio, destacou-se o pensamento de 
seu discípulo Mêncio e de Laot sé, sendo que este, ao lado de Chuang-tsé,criou a 
chamada filosofia do taoísmo. 
 
HEBREUS → Entre os hebreus, a reflexão jurídica se manifestou em livros 
religiosos, basicamente no Pentateuco, também denominado Torá ou Lei. Atribuída a 
Moisés, aquela ob ra apresenta cinco livros: Gêneses, Êxodo, Levítico, Números e 
Deuteronômio, que reúnem preceitos religiosos e legais, dispersos em narrativas 
históricas. 
B. PRÉ-SOCRÁTICOS 
Os filósofos pré-socráticos foram os primeiros sábios gregos a formular uma 
explicação racional para o mundo sem recorrer ao sobrenatural. Alguns aspectos 
comuns entre eles podem ser apontados: em primeiro lugar, eram estudiosos da 
natureza (physis). Por buscarem entender a organização racional do universo, a partir 
de princípios e leis que o regem, dizemos que eram voltados para a cosmologia, ou 
seja, a busca por entender a razão que rege o universo. Em segundo lugar, tentavam 
encontrar uma relação de causalidade entre os fenômenos da natureza. Por fim, todos 
buscavam um princípio ou elemento primordial a partir do qual explicariam os 
fenômenos naturais. O que une os filósofos pré-socráticos, é a preocupação de 
compreender a natureza do mundo, abandonando a explicação do Universo que 
apelava para os deuses (religião), procuraram formular ideias sobre a gênese do 
cosmos a partir da observação da realidade imediata. 
 
 
ESCOLA JÔNICA → Escola Jônica (séc. VI a.C.), de índole materialista, 
pesquisou no âmbito terrestre o elemento que seria a origem do mundo sensível. A 
filosofia desenvolvida pelos jônios foi de natureza cosmológica, e seu ponto de contato 
com a nossa disciplina operou-se ao conceber o Direito como fenômeno natural. 
Anaximandro de Mileto, um de seus integrantes, identificou a noção de justiça com o 
Universo, enquanto Empédocles, que desenvolvera a teoria dos quatro elementos 
(água, ar, fogo e terra), recorria ao valor justiça para explicar o cosmo. 
PRINCIPAIS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS (E SUAS ESCOLAS) 
ESCOLA JÔNICA 
→ Tales de Mileto 
→ Anaximenes de Mileto 
→ Anaximandro de Mileto 
→ Heráclito de Éfeso 
ESCOLA ITÁLICA 
OU 
PITAGÓRICA 
→ Pitágoras de Samos 
→ Filolau de Crotona 
→ Árquitas de Tarento 
ESCOLA ELEÁTICA 
→ Xenófanes 
→ Parmênides de Eleia 
→ Zenão de Eleia 
→ Melisso de Samos. 
ESCOLA ELEÁTICA → Com a Escola Eleática (séc. VI a V a.C), a filosofia 
grega não alterou o rumo de suas investigações, mantendo -se ainda no período 
cosmológico. Entretanto, os eleatas, com Parmênides, Xenofontes, Zenão de Eleia e 
Meliso de Samos foram mais profundos em suas reflexões, passando a um plano 
metafísico ao sustentarem que o ser verdadeiro é uno, imutável e eterno. Para os 
membros dessa Escola, o ser não pode surgir do não ser. Segundo Parmênides, o 
Direito seria o fator da imutabilidade do ser, pois tudo no universo se achava 
subordinado à justiça, e esta não permitia que algo nascesse ou fosse destruído. 
Nesse grupo famoso de pensadores, as questões filosóficas concentram-se na 
comparação entre o valor do conhecimento sensível e o do conhecimento racional. 
De suas reflexões, resultou que o único conhecimento válido é aquele fornecido pela 
razão. 
 
ESCOLA PITAGÓRICA → No período pré-socrático foi a doutrina da Escola 
Pitagórica, ou itálica, a que desenvolveu noções mais atinentes à nossa disciplina. 
Pitágoras de Samos (582 a 500 a.C.), seu fundador, fixou-se em Crotona, Sul da Itália, 
onde fundou uma academia, na qual se cultivou uma rigorosa filosofia moral. Por 
motivos de natureza política os membros da Escola foram perseguidos e expulsos de 
Crotona, ocorrendo a dissolução daquela associação de pensadores. Ao que tudo 
indica, Pitágoras não escreveu livros, mas o seu pensamento encontra-se registrado 
na obra Sobre a Natureza, de Filolau, seu mais notável seguidor. Pensavam os 
pitagóricos que a Filosofia era o meio de purificação interna, ideia essa que séculos 
mais tarde influenciou o idealismo ético de Platão. Objetivando a academia o preparo 
e formação de dirigentes, aqueles pensadores promoveram uma aproximação, em 
seus estudos, da Filosofia com a Política. A doutrina da Escola Pitagórica pode ser 
defini da como um sistema filosófico fundado em números, considerados a essência 
de todas as coisas. Tal concepção foi aplicada aos domínios da Filosofia do Direito, 
pois definiram a justiça como igualdade entre o fato e a conduta correspondente: um 
crime, uma penalidade; uma tarefa, uma retribuição. Expressa na fórmula “aquilo que 
um sofre por algo”, considerada certeira por Truyol y Serra, a noção pitagórica de 
justiça como igualdade foi mais tarde desenvolvida pelo gênio Estagirita. O valor 
justiça foi simbolizado pela figura geométrica do quadrado, em razão da absoluta 
igualdade de seus lados, e pelos algarismos 4 e 9, pois resultantes da multiplicação, 
por si mesmos, de um número par e de um ímpar. Quanto ao Direito, este foi definido 
por Pitágoras como o igual múltiplo de si mesmo, concepção essa que não logrou 
senão vagas interpretações, entendendo Pontes de Miranda que aquele sábio 
desejou, possivelmente, “expressar o imutável que há na sucessão das formas e a 
despeito delas”. 
 
C. SOFISTAS 
QUEM ERAM? O aparecimento da Sofística, no século V a.C., que teve em 
Protágoras, Górgias, Hípias, Trasímaco, os seus corifeus, não se registrou por acaso, 
mas em decorrência do fato histórico da democratização de Atena s que, à época de 
Péricles, renunciara ao regime aristocrático. Os sofistas eram cidadãos cultos, bons 
oradores, que desejavam ensinar a arte e a técnica política e por isso dedicavam 
especial atenção à Retórica, visando ao preparo de novos dirigentes. Outro fato que 
motivava os sofistas e valorizava as suas orientações era a circunstância de que, na 
Ágora, os cidadãos expunham oralmente, diante dos juízes, as suas próprias causas. 
Pelo fato de não terem deixado escritos, suas ideias são conhecidas pelas obras de 
seus adversários, especialmente pelos diálogos platônicos. 
PRINCIPAIS SOFISTAS. Entre os sofistas, destacamos Protágoras e Górgias, 
que pareciam mais preocupados com a distinção entre natureza e convenção, de uma 
forma geral. Por essa razão, tinham como um de seus principais objetivos depreciar o 
estudo da natureza e, desta maneira, toda a linha filosófica existente até essa época. 
I) Protágoras alegou que o homem é a medida de todas as coisas, tanto das coisas 
que são o que são como das coisas que não são, o que não são. Isto significa que 
tudo é como parece ao homem – não apenas aos homens em geral, mas a cada 
indivíduo em particular. Esta tese, leva a um relativismo total, sem possibilidade 
alguma de verdade absoluta. II) Górgias foi ainda, mais radicalmente oposto à 
natureza e a seu estudo. Escreveu um livro no qual formulou uma tripla alegação: 1) 
nada há; 2) mesmo que houvesse alguma coisa, não poderíamos conhecê-la; e 3) 
mesmo que pudéssemos conhecê-la não poderíamos comunicá-la aos demais. 
Poderíamos descrever isto como um argumento mediante “retirada estratégica”: caso 
a posição mais radical não seja julgada convincente, volta-se para outra, menos 
radical., mas até mesmo esta última elimina a possibilidade de estudo da natureza. 
Górgias ensinava retórica, enquanto que Pródico, especializava-se em linguagem e 
gramática em geral, ao passo que Hípias ensinava o treinamento da memória. Todas 
estas aquisições eram úteis em uma sociedade que tanto dependia da capacidade de 
influenciar a opinião pública na assembleia. 
PENSAMENTO. Os sofistas convergiram seu estudo para idêntico alvo: o 
homem e seus problemas psicológicos, morais e sociais. Entre os autores, são 
classificados com as individualistas e subjetivistas, além denegadores da ciência, pois 
entendiam que toda pessoa tem o seu modo próprio de ver as coisas, fato esse que 
in viabilizaria qualquer ciência, pois nenhuma delas pode constituir-se por meras 
opiniões isoladas. Em decorrência dessa premissa, admitiram apenas o caráter 
relativo da justiça e do Direito, que seriam contingentes e de expressão 
convencional. Colocando em análise a indagação se a justiça se fundava na 
ordem natural, de um modo geral negaram, sob o argumento de que “se 
existisse um justo natural, todas as leis seriam iguais”. Coube a um sofista – 
Protágoras – a proclamação de que “o homem é a medida de todas as coisas”, ideia 
essa que fortalece a tese em torno da existência de um direito que reúne princípios 
eternos, imutáveis e universais, pois fundado n o homem, em sua natureza. 
 
6. SÓCRATES (469 A.C. - 399 A.C) 
6.1. BIOGRAFIA 
Nascido nas planícies do monte Licabeto, próximo a 
Atenas. Filho de um escultor e de uma parteira ateniense, 
Sócrates era uma figura desconcertante, sempre visto, 
andando vagarosamente pelas praças, mercados e ruas 
de Atenas. Não militar na política, não exercer cargos 
administrativos, foi visto como um filósofo 
verdadeiramente livre: ninguém o financiava, ninguém o 
patrocinava: não precisava agradar a ninguém. Acusado de corromper a juventude de 
Atenas e não reconhecer a existência dos deuses, ele foi condenado à morte. Por 
mais que seus amigos quisessem libertá-lo, o sábio se recusava, pois fugir de sua 
condenação seria renegar as próprias ideias: “Conservando a vida, eu me tornaria 
indigno. Não me peças que eu mate a minha palavra”. Ele suicidou-se antes de sua 
execução com um cálice de cicuta. 
 
 
 
6.2. MOMENTO HISTÓRICO 
Sócrates conviveu com o povo ateniense do século V a.C (século de Péricles), em plena 
glória da civilização grega na Antiguidade, e nas praças publicas (agorá) e no solo da cidade 
(pólis) inscreveu seu método e suas preocupações. 
Sócrates, vivencio a guerra do Peloponeso, um conflito armado entre Atenas (centro 
político e civilizacional do mundo ocidental no século V a.C.) e Esparta (cidade-Estado de 
tradição militarista e costumes austeros), de 431 a 404 a.C, onde, todos os homens entre 15 e 
45 anos de idade foram enviados para lutar. 
Os atenienses viam um comercio abundante, seu desenvolvido artesanato e suas artes, 
sua cultura, seu cosmopolitismo, e, principalmente seu arranjo político excepcional – a 
democracia – possibilitaram a Atenas a dianteira dos pensamentos filosófico. Foi nesse cenário 
que Sócrates desenvolveu seu pensamento, ou seja, no apogeu da vida cultural e social 
ateniense. 
 
6.3. AUSENCIA DE PRODUÇÃO ESCRITA 
Apesar de não haver registro de qualquer produção escrita da autoria de Sócrates. Seus 
pensamentos e ideias são conhecido principalmente através dos relatos em obras de outros 
filósofos, especialmente dois de seus alunos, Platão e Xenofonte, bem como pelas peças teatrais 
de seu contemporâneo Aristófanes. As principais obras que relatam o pensamento de Sócrates 
são sobretudo: 
 
→APOLOGIA DE SÓCRATES (PLATÃO) – uma das únicas fontes de referencia escrita a 
respeito da filosofia socrática. 
→ CRÍTON (PLATÃO) – é um diálogo entre Sócrates e seu amigo rico Críton em matéria de 
justiça, injustiça, e a resposta apropriada a injustiça. Sócrates acha que a injustiça não pode ser 
respondida com a injustiça e se recusa a oferta de Críton de financiar sua fuga da prisão. Este 
diálogo contém uma declaração antiga da teoria do contrato social do governo. 
→FÉDON (PLATÃO) – é um dos grandes diálogos de Platão de seu período médio, 
juntamente com A República e O Banquete. Fédon, que retrata a morte de Sócrates, também é 
o quarto e último diálogo de Platão a detalhar os últimos dias do filósofo depois das obras 
Eutífron, Apologia de Sócrates e Críton. O tema da obra Fédon é considerado ser a imortalidade 
da alma. 
→DITOS E FEITOS MEMORÁVEIS DE SÓCRATES (XENOFONTE) 
→APOLOGIA DE SÓCRATES (XENOFONTE) 
→AS NUVENS (ARISTÓFANES) - compara Sócrates aos sofistas, mestres da retórica, e 
acusa o filósofo grego de exercer uma influência nefasta sobre a sociedade. 
 
Portanto, o que se conhece de Sócrates é, portanto, mais fruto de leitura dos 
diálogos platônicos que de uma obra por ele escrita. 
 
6.4. PORQUE É UM MARCO NA FILOSOFIA? 
A filosofia socrática possui um método, e esse método faz o filósofo, como 
homem, radicar-se em meio aos homens, em meio à cidade (pólis). É do convívio, da 
moralidade, dos hábitos e praticas coletivas, das atitudes do legislador, da linguagem 
poética... que surgem os temas da filosofia socrática. O conhecimento para Sócrates, 
reside no próprio interior do homem. Conhecendo-se a si mesmo, pode-se conhecer 
melhor o mundo. 
Sócrates foi um marco na filosofia, pois, rompeu com o pensamento anterior. 
É, sem duvida alguma, um divisor de águas para a filosofia, sobretudo pelo fato de 
situar seu campo de especulações não na cosmovisão das coisas e da natureza, mas 
na natureza humana e em suas implicações ético-sociais. 
 
6.4.1. DIFERENTE DOS SOFISTAS 
Os sofistas, grupo de filósofos (título negado por Platão) originários de várias 
cidades, viajavam pelas pólis, onde discursavam em público e ensinavam suas artes, 
como a retórica, em troca de pagamento. Sócrates se assemelhava exteriormente a 
eles, exceto no pensamento. Platão afirma que Sócrates não recebia pagamento por 
suas aulas. Sua pobreza era prova de que não era um sofista. Para os sofistas tudo 
deveria ser avaliado segundo os interesses do homem e da forma como este vê a 
realidade social (subjetividade), segundo a máxima de Protágoras: "O homem é a 
medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não 
são, enquanto não são.". Isso significa que, segundo essa corrente de pensamento, 
as regras morais, as posições políticas e os relacionamentos sociais deveriam ser 
guiados conforme a conveniência individual. Para este fim qualquer pessoa poderia 
se valer de um discurso convincente, mesmo que falso ou sem conteúdo. Os sofistas 
usavam, de fato, complicados jogos de palavras, no discurso para demonstrar a 
verdade daquilo que se pretendia alcançar. Este tipo de argumento ganhou o nome 
de sofisma. 
A sofística destruía os fundamentos de todo conhecimento, já que tudo seria 
relativo (relativismo) e os valores seriam subjetivos, assim como impedia o 
estabelecimento de um conjunto de normas de comportamento que garantissem os 
mesmos direitos para todos os cidadãos da pólis. Tanto quanto os sofistas, Sócrates 
abandonou a preocupação em explicar e se concentrou no problema do homem. No 
entanto, contrariamente aos sofistas, Sócrates travou uma polêmica profunda com 
estes, pois procurava um fundamento último para as interrogações humanas ("O que 
é o bem?" "O que é a virtude? "O que é a justiça?); enquanto os sofistas situavam as 
suas reflexões a partir dos dados empíricos, o sensório imediato, sem se preocupar 
com a investigação de uma essência da virtude, da justiça do bem etc., a partir da 
qual a própria realidade empírica pudesse ser avaliada. Sócrates contribuiu para que 
as pessoas se apercebessem da descoberta da evidência que é a manifestação do 
mestre interior à alma. Conhecer-se a si mesmo seria conhecer Deus em si. 
 
 
SOFISTAS SÓCRATES 
O sofista é um professor ambulante. 
Sócrates é alguém ligado aos destinos 
de sua cidade. 
O sofista cobra para ensinar. Eram 
chamados de prostituidos. 
Sócrates vive sua vida e essa confunde-
se com a vida filosófica: “Filosofar não é 
profissão, é atividade do homem livre” 
O sofista “sabe tudo” e transmite um 
saber pronto, sem crítica (que Platãoidentifica com uma mercadoria, que o 
sofista exibe e vende). Afasta a verdade 
porque a considera uma convenção. 
Sócrates diz nada saber e, colocando-se 
no nível de seu interlocutor, dirige uma 
aventura dialética em busca da verdade, 
que está no interior de cada um. 
O sofista faz retórica (discurso de forma 
primorosa, porém vazio de conteúdo). 
Sócrates faz dialética (bons 
argumentos). Na retórica o ouvinte é 
levado por uma enxurrada de palavras 
que, se adequadamente compostas, 
persuadem sem transmitir conhecimento 
algum. 
Na dialética, que opera por perguntas e 
respostas, a pesquisa procede passo a 
passo e não é possível ir adiante sem 
deixar esclarecido o que ficou para trás. 
O sofista refuta por refutar, para ganhar 
a disputa verbal. 
Sócrates refuta para purificar a alma de 
sua ignorância. 
6.4.2. DIFERENTE DOS PRÉ-SOCRÁTICOS 
Enquanto os filósofos pré-Socráticos, chamados de naturalistas, procuravam 
responder a questões do tipo: "O que é a natureza ou o fundamento último das 
coisas?" Sócrates, por sua vez, procurava responder à questão: "O que é a natureza 
ou a realidade última do homem?". 
 
6.5. MÉTODO MAIÊUTICO (IRONIA/PARIR IDEIA) 
Sócrates se dedicava àquilo que ele considerava a arte ou ocupação mais 
importante: maiêutica, o parto das ideias. Tal técnica deve seu nome "socrático" a 
Sócrates, o filósofo grego do século V a.C., que teria sido o primeiro a utilizá-la. O 
filósofo não deixou nenhuma obra escrita, mas seus diálogos nos foram transmitidos 
por seu discípulo Platão. Nesses textos Sócrates, utilizando um discurso caracterizado 
pela maiêutica (levar ou induzir uma pessoa, por ela própria, ou seja, por seu próprio 
raciocínio, ao conhecimento ou à solução de sua dúvida) e pela ironia, levava o seu 
interlocutor a entrar em contradição, tentando depois levá-lo a chegar à conclusão de 
que o seu conhecimento é limitado 
 
Daí que a maiêutica consistisse num autêntico parto de ideias, pois, mediante 
o questionamento dos seus interlocutores, Sócrates levava-os a colocar em causa os 
seus preconceitos acerca de determinado assunto, conduzindo-os a novas ideias 
acerca do tema em discussão, reconhecendo, assim, a sua ignorância e gerando 
novas ideias, mais próximas da verdade. Ou seja: a maiêutica primeiro demole, depois 
ajuda a reconstruir conceitos, transitando do básico ao elaborado, “parindo” noções 
cada vez mais complexas. 
Conta-se que um dia Sócrates foi levado junto à sua mãe para ajudar em 
um parto complicado. Vendo sua mãe realizar o trabalho, Sócrates logo 
“filosofou”: Minha mãe não irá criar o bebê, apenas ajudá-lo-á a nascer e 
tentará diminuir a dor do parto. Ao mesmo tempo, se ela não tirar o bebê, 
logo ele irá morrer, e igualmente a mãe morrerá! Sócrates concluiu então 
que, de certa forma, ele também era um parteiro. O conhecimento está 
dentro das pessoas (que são capazes de aprender por si mesmas). 
Porém, eu posso ajudar no nascimento deste conhecimento. Concluiu 
ele. Por isso, até hoje os ensinamentos de Sócrates são conhecidos por 
maiêutica (que significa parteira em grego). 
 
6.6. CONHECIMENTO ÉTICO DE SÓCRATES 
6.6.1. ÉTICA SIGNIFICA CONHECIMENTO 
O pensamento socrático é profundamente ético. Reveste-se, em todas as suas 
latitudes, de preocupação ético-social, envolvendo-se em seu método maiêutico todo 
tipo de especulação temática impassível de solução. O ensinamento ético de Sócrates 
reside no conhecimento e na felicidade. Ética significa conhecimento, tendo-se em 
vista que, ao praticar o mal, crê-se praticar algo que leve à felicidade, e, normalmente, 
esse juizo é falseado por impressões e aparências puramente externas. Para saber 
julgar acerca do bem e do mal, é necessário conhecimento, este sim verdadeira 
sabedoria e discernimento. O conhece-te a ti mesmo é esse mandamento que 
inscreve como necessária a gnose interior para a construção de uma ética sólida. 
 
6.6.2. A FELICIDADE É A BUSCA DE TODA ÉTICA 
A felicidade, a busca de toda a ética, para Sócrates, pouco tem a ver com a 
posse de bens materiais ou com o conforto e a boa situação entre os homens; tem ela 
a ver com a semelhança com o que é valorizado pelos deuses, pois parecem estes 
ser os mais beatos dos seres. O cultivo da verdadeira virtude, consistente no controle 
efetivo das paixões e na condução das forças humanas para a realização do saber, é 
o conduz o homem a felicidade. 
 
6.7. PRIMADO DA ÉTICA DO COLETIVO SOBRE A ÉTICA INDIVIDUAL 
Para Sócrates a ética é o respeito às leis, e, portanto, a coletividade. O homem 
enquanto integrado ao modo politico de vida deve zelar pelo respeito absoluto, mesmo 
em detrimento da própria vida, às leis comuns a todos, às normas políticas. O homem, 
assim radicado naturalmente na forma de vida comunitária, tem como dever o 
cumprimento de seu papel como cidadão participativo, e, assim, integrado nos 
negócios públicos, deve buscar a manutenção da sacralidade e da validade das 
instituições convencionada que consentem o desenvolvimento da harmonia 
comunitária. 
A ética socrática reside no conhecimento e em vislumbrar na felicidade o fim 
da ação. Essa ética tem por objetivo preparar o homem para conhecer-se, tendo em 
vista que o conhecimento é a base do agir ético. Ao contrário de fomentar a desordem 
e o caos, a filosofia de Sócrates prima pela submissão, ou seja, pelo primado da ética 
do coletivo sobre a ética do individual. Neste sentido, para esse pensador, a 
obediência à lei era o limite entre a civilização e a barbárie. Segundo ele, onde residem 
as ideias de ordem e coesão, pode-se dizer garantida a existência e manutenção do 
corpo social. Trata-se da ética do respeito às leis, e, portanto, à coletividade. 
A abnegação pela causa da educação dos homens e pelo bem da coletividade, 
levou Sócrates a se curvar ante o desvario decisório dos homens de seu tempo. 
Acusado de estar corrompendo a juventude e de cultuar outros deuses, foi condenado 
a beber cicuta pelo tribunal ateniense. Sócrates resignou-se à injustiça de seus 
acusadores, em respeito à lei a que todos regia em Atenas. Para esse proeminente 
filósofo grego, o homem enquanto integrado ao modo político de vida deve zelar pelo 
respeito absoluto às leis comuns a todos, mesmo em detrimento da própria vida. O 
ato de descumprimento da sentença imposta pela cidade representava para Sócrates 
a derrogação de um princípio básico do governo das leis, qual seja, a eficácia. 
Segundo Sócrates, com a eficácia das leis comprometida, a desordem social reinaria 
como princípio. 
 
 
LEI PARA SÓCRATES 
Lei para Sócrates é o conjunto de preceitos inquestionáveis, pois, a única forma de 
manter o ideal cívico e a organização da cidade, é por meio de sua obediência. 
Sócrates vislumbra nas leis um conjunto de preceitos de obediência incontornável, 
não obstante possam estas serem justas ou injustas. O direito, pois, aparece como 
um instrumento humano de coesão social, que visa à realização do bem comum, 
consistente no desenvolvimento integral de todas as potencialidades humanas, 
alcançável pelo cultivo das virtudes. Sendo assim, um juízo subjetivo sobre o certo 
e o errado, o justo ou injusto não pode ser considerado o bastante para se violar 
as leis da polis. É perceptível a oposição ao pensamento dos sofistas, pois estes 
relevaram a efemeridade e contingência das leis variáveis no tempo e espaço, ao 
passo que Sócrates empenhou-se em restabelecer para a cidade o império do ideal 
cívico, liame indissociável entre o indivíduo e a sociedade. Ao aceitar a sua pena 
de morte, ao invés de fugir, deu exemplo deste seu pensamento, substituindo o 
princípio da reciprocidade, segundo o qual se respondia ao injustocom injustiça, 
pelo princípio da anulação de um mal com seu contrário, assim, da injustiça com 
um ato de justiça. 
6.8. LEI POSITIVA X LEI MORAL – CRITICA INTERNA 
Embora tivesse conhecimento de que a lei humana (nomos) – artifício humano 
e não da natureza – poderia ser justa ou injusta, Sócrates pregava a irrestrita 
obediência à lei. O Direito – conjunto de leis, em termos simplistas – seria um 
instrumento de coesão social que levaria à realização do bem comum, entendido 
como o "desenvolvimento integral de todas as potencialidades humanas, alcançadas 
por meio do cultivo das virtudes", ensina Eduardo Bittar. A lei seria elemento de ordem 
no todo da cidade (pólis) e, por isso, não deveria ser contrariada, mesmo que se 
voltasse contra si mesmo, sob pena de se instalar a desordem social. "O homem 
integrado enquanto integrado ao modo político de vida deve zelar pelo respeito 
absoluto, mesmo em detrimento da própria vida, às leis comuns a todos, às normas 
políticas (nómos póleos)", completa Bittar. 
O indivíduo nas suas elucubrações poderia questionar os critérios de justiça de 
uma lei positiva (externa), mas somente criticá-la, sem desobedecê-la, evitando, 
assim, o caos por levar outras pessoas a desobedecê-la. Diz Eduardo Bittar: "Em 
outras palavras, para Sócrates, com base num juízo moral, não se podem derrogar 
leis positivas. O foro interior e individual deveria submeter-se ao exterior e geral em 
benefício da coletividade." Prossegue Leite (p. 25): "Efetivamente, a justiça, para 
Sócrates, consiste no conhecimento e, portanto, na observância das verdadeiras leis 
que regem as relações entre os homens, tanto das leis da cidade como das leis não-
escritas. Segundo Sócrates, que propugna pela obediência incondicional às leis da 
cidade, o justo não se esgota no legal, posto que acima da justiça humana existe uma 
justiça natural e divina”. 
Elucidativa são as palavras de Eduardo Bittar: “Sócrates serviu-se de sua 
própria experiencia para fazer com que a verdade acerca do justo e do injusto viesse 
à tona. A lei interna que encontra guarida no interior de cada ser, lei moral por 
excelência, poderia julgar acerca da justiça ou da injustiça de uma lei positiva, e a 
respeito disso opinar, mas esse juizo não poderia ultrapassar os limites da crítica, a 
ponto de lesar a legislação politica pelo descumprimento. Em outras palavras, para 
Sócrates, com base num juizo moral, não se podem derrogar leis positivas. O foro 
interior e individual deveria submeter-se ao exterior e geral em beneficio da 
coletividade”. 
LEI POSITIVA = DEVERIA SER OBEDECIDA → CRIADA PARA COLETIVIDADE 
LEI MORAL = A LEI QUE SE ENCONTRA NO INTERIOR DE CADA SER 
6.9. CONCEITO DE DIREITO 
Segundo o entendimento de Eduardo Bittar, Sócrates vislumbra nas leis um 
conjunto de preceitos de obediência incontornável, não obstante possam estas serem 
justas ou injustas. Para Sócrates, o direito, aparece como um instrumento humano de 
coesão social, que visa à realização do Bem Comum, consistente no desenvolvimento 
integral de todas as potencialidades humanas, alcançável por meio do cultivo das 
virtudes. Em seu conceito, que nos foi transmitido pelos diálogos platônicos de 
primeira geração, as leis da cidade são inderrogáveis pelo arbítrio da vontade 
humana. 
 
6.10. NOÇÃO DE JUSTIÇA 
Efetivamente, a Justiça, para Sócrates, consiste no conhecimento e, portanto, 
na observância das verdadeiras leis que regem as relações entre os homens, tanto 
das leis da cidade como das leis não escritas. Segundo Sócrates, que propugna pela 
obediência incondicional às leis da cidade, o justo não se esgota no legal, posto que 
acima da justiça humana existe uma justiça natural e divina. Ademais, refuta o 
conceito de justiça proclamado à época (beneficiar os amigos e prejudicar os 
inimigos), afirmando que fazer o mal não se revela justo de modo algum e que não foi 
sábio aquele que disse que o homem justo deve prejudicar os inimigos e beneficiar os 
amigos. Assim, a justiça é, segundo ele, a base para todas as virtudes a que o homem 
quer ter. A justiça deveria estar contida nas virtudes (temperança, valor – o amor das 
– e sabedoria – gosto pelo saber) e na alma (dividida em desejo, coragem e razão) do 
homem, sendo que a virtude que deveria prevalecer seria a justiça. 
 
7. PLATÃO (427 A.C. – 347 A.C.) 
7.1. BIOGRAFIA 
Platão nasceu em Atenas. De família nobre, estudou leitura, 
escrita, música, pintura, poesia e ginástica. Serviu no exército 
entre 409 e 404 a.C., final da Guerra do Peloponeso. Após a 
guerra, estabeleceu-se uma oligarquia em Atenas, em 404 a.C., 
o chamado governo dos Trinta Tiranos (um deles Carmides, tio 
de Platão), antes de, em seguida, a democracia ser 
restabelecida. Começou seus trabalhos filosóficos após 
estabelecer contato com outro importante pensador grego: Sócrates. Platão torna-se 
seguidor e discípulo de Sócrates. Em 387 a.C., fundou a Academia, uma escola de 
filosofia com o propósito de recuperar e desenvolver as ideias e pensamentos 
socráticos. Em pouco tempo, a Academia tornou-se um dos maiores centros culturais 
da Grécia, tendo recebido políticos e filósofos como Aristóteles, Demóstenes, Eudoxo 
de Cnido e Esquines, entre outros. 
 
7.2. MOMENTO HISTÓRICO 
A vida de Platão transcorreu em meio a agitações políticas e a desordens 
devido à Guerra do Peloponeso, à instabilidade política reinante na cidade de Atenas 
que foi tomada pela Oligarquia dos Quatrocentos e assim submeteu-se ao governo 
dos Trinta Tiranos. Platão foi convidado a participar da vida política. Mas, a situação 
política após a restauração da democracia ateniense em 403 também o desagradou, 
sendo um ponto de viragem na vida de Platão, a execução de Sócrates em 399 a.C, 
que o abalou profundamente, levando-o a avaliar a ação do Estado contra seu 
professor, como uma expressão de depravação moral e evidência de um defeito 
fundamental no sistema político. Ele viu em Atenas a possibilidade e a necessidade 
de uma maior participação filosófica na vida política e tornou-se um crítico agudo. 
Essas experiências levaram-no a aprovar a demanda por um estado governado por 
filósofos. 
Quando Sócrates morreu, desiludiu-se com a política e dedicou-se à filosofia. 
Resolveu eternizar os ensinamentos do mestre, que não havia redigido nenhum livro, 
escreveu vários diálogos onde a figura principal é Sócrates. Platão opôs-se à 
democracia ateniense e abandonou sua terra. Viajou para Megara, onde estudou 
Geometria, foi ao Egito, onde dedicou-se à Astronomia, em Cyrene (Norte da África) 
dedicou-se à matemática, em Crotona (Sul da Itália) reuniu-se com os discípulos de 
Pitágoras. Esses estudos deram-lhe a formação intelectual necessária para formular 
suas próprias teorias, aprofundando os ensinamentos de Sócrates. Quando voltou à 
Atenas, por volta de 387 a.C., fundou sua escola filosófica "Academia", onde reunia 
seus discípulos para estudar Filosofia, Ciências, Matemática e Geometria. Tal foi a 
influência de Platão, que sua Academia subsistiu, mesmo após sua morte. 
 
 
 
 
7.3. OBRAS 
O pensamento de Platão é vasto, utilizando-se dos diálogos como meio de 
exposição de seu pensamento. No geral, os diálogos relatam conversas que têm por 
principal interlocutor Sócrates, travando palestras com inúmeros personagens. A 
história da filosofia dedicou-se, sempre com muita controvérsia, a saber da veracidade 
de tais diálogos. É possível que, em vários casos, tenha mesmo Sócrates 
desenvolvido tais ideias. Mas, também, é certo que, principalmente nos diálogos 
escritos em sua maturidade, Platão utiliza Sócrates muito mais como mote para o 
desenvolvimento de suas próprias ideias do quepropriamente como personagem de 
quem se relate fielmente seus fatos havidos. Podemos dividir a produção filosófica de 
Platão em 3(três) momentos: 
DIÁLOGOS 
SOCRÁTICOS 
 
→ Apologia 
→ Criton 
→ O Banquete 
→ Fedon 
 
MATURIDADE 
 
→ A República 
 
VELHICE 
 
→ Sofista 
→ O Político 
→ As Leis 
 
 
→ O BANQUETE – é um diálogo platônico escrito por volta de 380 a.C. Constitui-se 
basicamente de uma série de discursos sobre a natureza e as qualidades do amor 
(eros). O Banquete é, juntamente com o Fedro, um dos dois diálogos de Platão em 
que o tema principal é o amor. 
 
→ A REPÚBLICA – é um diálogo socrático escrito por Platão, filósofo grego, no século 
IV a.C. Todo o diálogo é narrado, em primeira pessoa, por Sócrates. O diálogo parte 
de uma busca acerca de uma definição pelo que consiste em a Justiça (de modo 
característicos dos seus primeiros diálogos), o que leva Platão a especular tanto 
acerca do seu antônimo (a injustiça) como entre os mais diversos temas, não só 
éticos, mas também políticos, epistemológicos, metafísicos, psicológicos, entre 
outros. Em suma, se destaca no texto as divagações do filósofo quanto a filosofia 
ético-política (ainda que não seja sua única e mais madura obra dedicada ao tema, 
como exemplo podemos citar seu diálogo da velhice "Leis"), nesse diálogo Platão 
discorre acerca características dos diferentes regimes políticos e a proposta do próprio 
Platão de uma cidade ideal, cuja é designada como "Kallipólis", que significa "cidade 
bela". A República contém diversos temas filosóficos, sociais e políticos entrelaçados. 
A questão chave é a da justiça em seu sentido amplo, oportunidade que Platão 
aproveita para tecer comentários sobre a educação e o tema genérico do 
conhecimento das coisas. O livro I goza de uma certa independência, sendo que os 
demais (ao todo são X), se dispersam em temas variados: A formação das lideranças 
(os guardiões), nos livros II, III, IV e V. A formação dos governantes, classe especial 
dos guardiões, nos livros VI e VII. Uma vez compreendida a tarefa pública, Platão a 
compara com o que acontece nas cidades existentes (livro VIII). Diante do desafio de 
Trasímaco ao tratar das conveniências da tirania (livro IX), Platão termina (livro X), 
com a proposição de um mito (sobre a arte, o destino e a liberdade). 
 
→ SOFISTA – é um diálogo platônico que ocupa-se com os conceitos de sofista, 
homem político e filósofo. Além disso, o diálogo aborda a questão do não-ser. Nesta 
obra encontra-se uma posição de Platão sobre o conhecimento e também uma 
explicitação detalhada do método da investigação filosófica. 
 
→ POLÍTICO – é um diálogo platônico que ocupa-se, como o nome indica, com o 
perfil do homem político. O diálogo visa indicar o conhecimento necessário ao político 
para que ele exerça um governo justo e bom. 
 
→ AS LEIS – é um diálogo platônico que ocupa-se com uma vasta gama de assuntos. 
A discussão das Leis, a fim de compreender a conduta do cidadão e da promulgação 
de leis, perpassa por elementos da psicologia, gnosiologia, ética, política, ontologia e 
mesmo astronomia e matemática. É o último diálogo de Platão e também o mais 
extenso. As Leis é um diálogo inacabado e não conta com a presença de Sócrates 
como personagem. Em A República o governante-filósofo, por suas próprias virtudes, 
infunde legitimidade à legislação, ao passo que nas Leis o legislador se coloca entre 
os deuses e os homens, necessitando do consentimento dos governados, da 
comunidade, do povo, para legitimar a legislação. Na República ocupavam o lugar 
central a teoria das ideias e a ideia do bem, já nas Leis a ideia do bem somente é 
mencionada ao final, como conteúdo educacional para o governante. Nas Leis Platão 
destaca o papel do legislador, que deve ser "um verdadeiro educador dos cidadãos" 
e sua missão principal não consiste em castigar transgressões cometidas, mas em 
prevenir que se cometam tais transgressões. Platão reconhece, portanto, que tanto 
em Atenas, como na maioria das cidade-estado gregas, não havia uma regulação 
legislativa dos problemas da educação pública. O personagem principal do diálogo 
não tem nome, chama-se "O Ateniense" e seus interlocutores são "Clínias de Creta" 
e "Megilo de Lacedemônia (Esparta)". 
 
7.4. CRITICA DOS SOFISTAS 
Os sofistas eram mestres na arte da retórica e da persuasão. Eles viajavam 
cidades e, dizendo que tudo sabiam e tudo podiam ensinar e refutar, cobravam para 
transmitir conhecimento a quem estivesse interessado. Sendo assim, os sofistas 
foram considerados os primeiros professores da história. Platão foi um grande crítico 
das condutas sofísticas. Em sua obra “Sofista”, através de um diálogo entre o 
Estrangeiro de Eléia e Teeteto, ele discute a impossibilidade de que um homem saiba 
de tudo. O filósofo diz ser impossível que um homem consiga ensinar todas as coisas 
a outro em um pequeno período de tempo e cobrando pouco por isso, como faziam 
os sofistas. Portanto, Platão intitula essa atitude como uma “brincadeira”, visto que os 
homens não conseguem adquirir conhecimento completo em todas as áreas do saber. 
A partir disso, o filósofo diz que os sofistas, com sua desenvolvida capacidade 
de persuasão e refutação, induzem as pessoas a acreditarem que eles possuem 
sabedoria para falar de qualquer assunto, quando na verdade estão apenas imitando 
e reproduzindo a realidade. 
Assim, Platão conclui que os Sofistas, na verdade, não passam de mágicos 
imitadores, pois encantam as pessoas com sua retórica e reproduzem a realidade de 
modo a fazerem-nas acreditar que são oniscientes e que tudo podem refutar. 
Também, Platão, junto a Sócrates e Aristóteles, criticava a atitude dos sofistas 
de cobrar para repassar conhecimento. Os três filósofos sustentavam que a busca 
pelo conhecimento deveria vir como forma de descoberta da verdade e de 
enobrecimento da alma, sem nenhuma finalidade lucrativa. 
Por fim, Platão possuía uma ideologia diferente da dos sofistas. O filósofo 
defendia a universalidade das ideias, enquanto estes acreditavam no relativismo das 
ideias. Para reafirmar sua posição, Platão mostra, na sua Teoria dos Dois Mundos, 
que o mundo sensível – onde estão os homens – é o mundo frágil e das aparências. 
Sofistas Platão 
A verdade é relativa e particular, ou 
seja, a verdade muda consoante o 
homem que percebe o objecto. 
A verdade é objetiva e universal 
(sempre a mesma para todas as 
pessoas) e é conhecida pela razão. 
Quanto ao problema da origem do 
conhecimento assumiam uma 
perspectiva empirista (conhecimento 
tem por base a experiência) e quanto à 
possibilidade de conhecimento eram 
cépticos pois negavam a existência de 
verdades ou valores absolutos, 
universais. Argumentos: 1) não existe 
uma realidade permanente que subjaz e 
justifica as aparências, e 2) os órgãos 
de conhecimento são falíveis. 
O objetivo do filósofo é distinto do 
objetivo do sofista, pois visa descobrir a 
verdade universal enquanto que o do 
sofista é o de conquistar o poder pela 
manipulação. 
Se a verdade é relativa e particular, e 
não absoluta e universal, então o 
conhecimento reduz-se à opinião e o 
bem, à utilidade. Consequentemente, 
reconhece-se a relatividade da verdade 
e dos valores morais, que mudariam 
segundo o lugar e o tempo. 
Platão e Sócrates opunham-se ao 
cepticismo e à retórica, assim como às 
pretensões pedagógicas dos sofistas de 
ensinarem a virtude política. 
 
7.5. MÉTODO 
O pensamento de Platão é vasto, utilizando-se dos diálogos como meio de 
exposição de seu pensamento. No geral, os diálogos relatam conversas que têm por 
principal interlocutor Sócrates, travando palestrascom inúmeros personagens. 
No filósofo grego, o método principal é a dialética. Platão define a dialética 
como a arte de pensar, questionar e hierarquizar ideias. O termo dialético é utilizado 
por Platão na referência a qualquer método que possa ser recomendado como veículo 
da filosofia. Para Platão, a dialética é um instrumento que permite o alcance a verdade. 
A dialética é o método que permite sair do mundo sensível e alcançar as ideias. 
Enquanto atrito de percepções, fatos, opiniões e diálogos, a dialética supera o nível 
das imagens e das definições dos dados sensíveis. 
O professor, esclarece que Platão, expões suas ideias através de mitos, como 
exemplo temos o “Mito de Er” e o “Mito da caverna”. 
 
 
MITO DE ER 
Er é um guerreiro, que morto em uma batalha, teve seu corpo encontrado entre os 
outros cadáveres de guerreiros, mas diferente dos demais, Er estava são e integro. Foi 
então levado de volta à sua terra e velado por doze dias e, no último dia em que era velado 
recobra a vida e conta àqueles que ali se encontravam tudo o que havia visto no Hades. O 
recém ressurreto então começa a narrar como seria a vida no Além, contando que, ao 
deixar o corpo sua alma foi para um lugar maravilhoso em uma grande pradaria onde se 
encontravam muitas almas e onde se avistavam quatro buracos, dois no solo e dois no céu. 
Havia juízes que avistavam os justos e lhes recomendava entrarem no buraco que conduzia 
para o céu e aos injustos era recomendado que se dirigisse ao buraco que se encontrava 
no solo. 
Esses juízes dizem a Er que não deve ir nem a um nem a outro buraco para que 
possa testemunhar o mundo espiritual e que retorne aos homens. O guerreiro então vê as 
almas sujas e empoeiradas que estão no buraco que se encontra no solo e ouve seus 
relatos de dor e sofrimento pela vida injusta que levaram. Por sua vez, as almas puras e 
felizes relatam os prazeres e a felicidade da vida justa. Er permanece ali na pradaria por 7 
dias, ao final do que, juntamente com almas que acabaram de morrer dirige-se a uma 
coluna luminosa onde se encontram as deusas do passado, presente e futuro e que, que 
após cada alma ser por estas entrevistadas encontram-se com a deusa da Necessidade e 
recebem o seu espírito protetor para novamente viver na Terra. É durante a noite que as 
almas que encaminham para a nova vida e antes de encontrar-se novamente no mundo 
terreno devem beber da água do rio Amelete, o rio do esquecimento, mas Er não o faz, 
porque recebera a incumbência de relatar tudo o que tinha visto até então aos homens. O 
guerreiro retorna, então para o seu corpo no campo de batalha e é encontrado, velado e 
recobra a consciência para relatar todas s maravilhas que presenciara. (O Mito de Er é 
encontrado no Livro X, nos diálogos de “A República”) 
ENTENDIMENTO 
No mito de Er, o essencial é que fossem quais fossem as 
injustiças cometidas e as pessoas prejudicadas, as almas 
injustas pagavam a pena de quanto houvessem feito em vida, a 
fim de purificarem a alma. 
MITO (ALEGORIA) DA CAVERNA 
Na narrativa dada a Platão a tal mito, havia presos agrilhoados que, de dentro de 
uma caverna e de costas à luminosidade do exterior, observavam a movimentação da 
realidade externa e, a partir das sombras dos objetos e seres que estavam no exterior da 
caverna, faziam juízo a seu respeito, sobre sua forma, sua aparência, seu tamanho. Na 
verdade, no entanto, viam apenas as sombras desses seres projetadas no interior da 
caverna. Em uma certa ocasião, libertando-se dos grilhões que os prendiam, um daqueles 
que se situavam na caverna sobe ao alto, e tal subida é difícil, já que o corpo até então 
agrilhoado não está acostumado ao movimento. Ao chegar ao exterior, cega-se, num 
primeiro momento, com a luz solar que brilhava. Mas, após se acostumar a enxergar sob a 
claridade da luz, passa a compreender que as sombras que via projetadas na caverna, na 
verdade, eram imagens distorcidas. A verdade não estava naquilo que suas percepções 
corrompidas viam a partir das sombras. A luminosidade do ser só brilhou quando da 
libertação das imagens e dos conceitos imperfeitos. 
No mito proposto pela boca de Sócrates na República, há ainda a incompreensão 
daqueles que, de dentro da caverna, ouvem daquele que subiu, em sua volta, o relato da 
verdade do mundo exterior. Suas imagens distorcidas que sempre viram não correspondem 
ao relato tido por fantasioso e absurdo do homem que se libertou. A luz que brilhou e 
possibilitou que o liberto da caverna visse a plena verdade não é bem aceita pelos seus, 
que passam a persegui-lo e o matam, numa simbologia muito forte, a respeito do próprio 
destino que os atenienses deram a Sócrates. 
ENTENDIMENTO 
Os seres humanos têm uma visão distorcida da realidade. No 
mito, os prisioneiros somos nós que enxergamos e acreditamos 
apenas em imagens criadas pela cultura, conceitos e 
informações que recebemos durante a vida. A caverna simboliza 
o mundo, pois nos apresenta imagens que não representam a 
realidade. Só é possível conhecer a realidade, quando nos 
libertamos destas influências culturais e sociais, ou seja, quando 
saímos da caverna. Segundo o pensamento platônico, que foi 
bastante influenciado pelos ensinamentos de Sócrates, o mundo 
sensível era aquele experimentado a partir dos sentidos, onde 
residia a falsa percepção da realidade; já o chamado mundo 
inteligível era atingido apenas através das ideias, ou seja, da 
razão. 
Na Alegoria da Caverna, Platão descreve a educação do filósofo, 
que passa do conhecimento sensível para o conhecimento 
inteligível. Ele procura mostrar a superioridade do conhecimento 
inteligível em relação ao sensível. O primeiro é o conhecimento 
daquilo que é real e o segundo é o conhecimento das aparências. 
ILUSTRAÇÃO DO 
MITO DA CAVERNA 
 
 
7.6. TEORIA SOBRE O CONHECIMENTO 
Platão associa a Teoria do Conhecimento ao Mito da Caverna, uma de suas 
mais conhecidas e valiosas contribuições. Trata-se da apresentação de uma parábola 
milenar de vasto e profundo significado, o qual está exposto no livro VII da República. 
Platão conceitua as duas realidades (a “visível” e a “invisível”) como “mundo visível” e 
“mundo inteligível”. 
 
7.6.1. CONHECIMENTO SENSÍVEL 
Através das sensações (visão, audição, olfato, tato e paladar) nós conhecemos 
o mundo. A partir das sensações proferimos frases que tentam expressar 
objetivamente aquilo que se sentiu, por exemplo 'a maçã é doce', ou 'limão é azedo', 
ou 'o dia é claro'. Conseguimos lidar com o mundo a partir deste tipo de conhecimento. 
O conhecimento sensível, de acordo com Platão, permite, no máximo, opiniões. Os 
sofistas eram os mestres na arte de melhorar as opiniões (retórica persuasiva). 
O mundo concreto e sensível: trata-se de um mundo acessível pelos sentidos 
ou material. É o mundo que conhecemos pelo olfato, paladar, audição, visão e tato. A 
opinião, fundamentada nas sensações, tem uma “falsa consciência” de si mesma, 
julgando-se correta. Esse mundo, em Platão, é um engano, um falseamento. O mundo 
sensível parte das compreensões pessoais daquilo que não é verdadeiro. 
 
7.6.2. CONHECIMENTO IDEAL 
Através da inteligência, faculdade superior da alma, podemos conhecer as 
coisas do mundo. De acordo com Sócrates, Platão e Aristóteles, este conhecimento 
(episteme = opinião verdadeira) é a verdade objetiva. Por exemplo, 'a Terra gira em 
torno do Sol' é uma proposição obtida através de cálculos matemáticos e não através 
das sensações. Sócrates do livro Críton permanece na prisão porque ele conhece a 
verdade inteligível: justiça. O conhecimento inteligível se estabelece pelo 'logos', 
linguagem coerente, pertinente e imanente. Esta linguagem racional expressa a 
verdade. O conhecimento inteligível mais exemplar á a matemática. 
 
7.6.3. ENTENDIMENTOSegundo Platão, atingir o conhecimento implica converter o sensível ao 
inteligível – ou seja, despertar, reviver e relembrar esse conhecimento esquecido. 
Dessa forma, a alma se liberta das aparências para se abrir ao conhecimento das 
ideias verdadeiras. Para Platão o conhecimento sensível (crença e opinião) é apenas 
uma da realidade, como se fosse uma visão dos homens da caverna do texto “Alegoria 
da Caverna” e o conhecimento intelectual (raciocínio e indução) alcança a essência 
das coisas, as ideias. Na teoria do conhecimento em Platão, pode-se perceber que o 
conhecimento, ou a verdade, como ele próprio se refere, é a captação e a apreensão 
do mundo das Idéias. 
MUNDO SENSÍVEL → MUNDO INTELIGÍVEL 
Luz → Verdade 
Objetos da visão (cores) → Objetos do conhecimento (ideias) 
Sujeito que vê → Sujeito cognoscente 
Órgão da visão (olhos) → Órgão do conhecimento 
Aptidão para ver → Aptidão para conhecer 
7.7. DIVISÕES DA SOCIEDADE E DA ALMA 
Na República, livro IV, Platão concebe a alma como tripartite, ou seja, a mesma 
se divide em uma parte racional, e outra irracional que, ao seu turno se subdivide em 
irascível (impulsos e afetos) e concupiscente (necessidades elementares). A parte 
racional é regida pela sabedoria ou prudência, capaz de estabelecer o que convém a 
cada um. A parte irascível corresponde à fortaleza e coragem que permitem seguir os 
imperativos da razão. Já a parte da concupiscência está relacionada ao sentido das 
necessidades elementares. As duas dimensões da parte irracional da alma devem se 
submeter à parte racional através da virtude da temperança ou moderação. Com tais 
virtudes surge a virtude da justiça que estabelece o equilíbrio de cada uma das 
faculdades em seu âmbito próprio e função específica. 
 
 
Estabelecendo uma analogia da alma com a cidade, Platão apresenta o que 
podemos chamar de concepção organicista de sociedade. A Cidade constaria de três 
classes diferenciadas por suas funções próprias. A primeira seria a dos filósofos, 
guiados pela sabedoria; a segunda dos guardiões (guerreiros) que defenderiam a polis 
interna e externamente, cultivando a fortaleza; a terceira e última dos trabalhadores 
(artesãos, comerciantes, agricultores) aqueles que constituiriam a base econômica da 
cidade. 
 
 
 
 
FILOSOFO → RACIONAL 
GUARDIÕES → IRASCÍVEL 
TRABALHADORES → CONCUPISCÍVEIS 
Racional: cabeça; esta tem que controlar 
as outras duas partes. Sua virtude é a 
sabedoria ou prudência. 
Irascível: tórax; parte da impetuosidade, 
dos sentimentos. Sua virtude é a coragem 
(andreía). 
Concupiscente: baixo ventre; apetite, 
desejo, mesmo carnal (sexual), ligado ao 
libido. Sua virtude é a moderação ou 
temperança (sophrosýne). 
Os filósofos seriam os responsáveis pela direção, pelo governo, pela 
elaboração das leis, representariam simbolicamente a razão, a cabeça. Desse modo, 
os filósofos não se deixariam enganar pelas aparências, pois teriam a via inteligível 
do conhecimento mais desenvolvida, por isso conseguem, mesmo desconfiando das 
aparências, enxergar a ideia do bem, do eidos, o que faria com que estivessem mais 
aptos a elaborar boas leis. Os guerreiros representariam a força, coragem deste 
Estado e cuidariam da defesa e da ordem que mantém a organização interna, como 
o corpo. Os trabalhadores seriam responsáveis pela produção de matérias, bens, 
alimentos, riquezas, comércio, construções, funcionando como a base. 
O seu pensamento político inspirou-se no postulado segundo o qual a parte se 
subordina ao todo, o que significa dizer que as classes se subordinariam ao bem 
comum da cidade. Platão opera uma inversão na concepção individualista da sofística 
quanto à relatividade das coisas, buscando o sentido de universalidade pela 
superação da individualidade absoluta. Nesse modo de ver, o indivíduo se situa no 
plano coletivo e não em uma autonomia absoluta perante a polis. Esta existe para 
tornar possível a vida humana. Há uma divisão de trabalho que permite coordenar as 
diversas aptidões visando o bem comum. Destarte o horizonte do indivíduo seria o 
horizonte do cidadão. 
 
7.8. JUSTIÇA SOCIAL X JUSTIÇA ORGÂNICA X JUSTIÇA TRANSCENDENTAL 
7.8.1. JUSTIÇA SOCIAL 
Platão, defendia que uma sociedade justa era uma sociedade estratificada em 
três classes: 1. Filósofos – razão – direção; 2. Guerreiros – força, coragem, defesa, 
ordem; 3. Trabalhadores – sensibilidade, nutrição, economia. A Justiça Social seria o 
equilíbrio da sociedade, o equilíbrio entre as partes. Os indivíduos para ele seriam 
como células de um corpo e quando uma não realiza sua função prejudica o corpo, 
com isso seria necessário elimina-la (eugenia – busca o melhoramento da raça). A 
justiça somente seria alcançada na medida em que as pessoas desempenhassem na 
sociedade um papel compatível com as suas aptidões. 
 
7.8.2. JUSTIÇA ORGÂNICA 
É a virtude do cidadão e do filósofo que tem predominância sobre 
as outras (sabedoria, coragem e temperança). É a justiça que ordena as virtudes que 
regem cada uma das três partes (ou potências) da alma humana, a racional (possibilita 
o conhecimento das idéias), a irrascibilidade (impulsos e afetos) e a concupiscente 
(necessidades mais elementares). A razão seria governada pela sabedoria ou 
prudência (sophia ou phrónesis), a irrascível pela coragem (andreia). Tanto a 
irrascibilidade e a concupisciência deveriam submeter-se à razão, por meio da 
temperança ou moderação (sophrosyne). 
 
7.8.3. JUSTIÇA TRANSCENDENTAL 
 
7.9. LEI 
Platão, que concebera o estado sem lei, modelo esse que confiava aos juízes 
a solução justa das questões, embora convencido de seu acerto, reconheceu que o 
mesm o seria inexequível n aquela época, pois não havia magistrados assim 
habilitados em número suficiente. Ainda quanto à lei, entendera o filósofo que os 
textos deveriam ser acompanhados de ex posição relativa à finalidade do ato 
normativo. 
Para Platão, um mundo governado por filósofos não devia haver leis, mas numa 
sociedade desgovernada tem que haver lei, para que se mantenha a coesão social. 
Para Platão, é possível até mesmo considerar que uma lei injusta não seja 
direito, conforme assevera em As leis. O direito injusto não é direito. 
O justo, para Platão, não se reduz à lei justa, mas sim se verifica na sociedade 
justa, não na forma, mas sim no conteúdo, no substancial. Isso quer dizer que o 
homem justo não é simplesmente um técnico das normas, mas um economista, um 
político, um homem de ação social. 
 
7.10. REGIMES DE GOVERNO 
Segundo ele, qualquer sociedade se enquadra em uma dessas formas, 
descrevendo como uma sociedade pode sair da melhor forma de governo e chegar 
na pior, dessa forma, na visão de Platão, sair da Aristocracia e chegar na Tirania. 
ARISTOCRACIA 
Para Platão, o termo aristocracia se fundia na virtude e na 
sabedoria. Caberia, portanto, aos sábios, aos melhores, aos 
aristocráticos, enfim, dirigir o Estado no rumo do verdadeiro 
bem. A aristocracia seria o governo dos filósofos (o racional 
governa o estado). 
TIMOCRACIA 
O espiritual tem pouca importância, O governo é movido pela 
ambição. Governo exercido por homens que se dizem 
capazes, e excelentes. pois tiveram bom desempenho como 
desportistas ou soldados ou caçadores. Inclinados pela 
rápida decisão e acção que pela madura reflexão, feitos mais 
para a guerra que para a paz.de talento prático, hábeis e 
engenhosos, atraídos pela ganancia do dinheiro, defendem 
a propriedade privada e enriquecem ocultamente, mais 
atentos ao seu medrar pessoal que ao bem da comunidade. 
para eles o poder estatal e o pretexto para desenvolver mais 
o poder que o estado, sendo esse podero seu. Portanto, 
trata-se da degeneração da aristocracia, os melhores ainda 
estão no poder, mas se deixam levar pelo irascível, essa 
degeneração gera a oligarquia. 
OLIGARQUIA 
Governo de poucos (ou de um grupo), dos que governam 
pelo interesse próprio, o que faz com que o interesse do resto 
seja excluído e o extremo da exclusão são os mendigos, e 
segundo ele, ter mendigos nas ruas de uma cidade é 
sinônimo de que a sociedade está doente. Em sua história, 
por exemplo, diz que podiam ser os filhos dos timocratas, 
mas não é porque não filhos que vão ter as mesmas 
aptidões. 
DEMOCRACIA 
Quando os que foram excluídos da oligarquia tomam o 
poder, por meio de um golpe de estado. É a forma de máxima 
liberdade, só que para isto fica muito próximo da máxima 
escravidão (tirania). Platão não gosta de Democracia, pois 
mataram Sócrates em uma democracia direta, sem motivos 
concretos. Para ele é uma forma de governo instável, onde 
todos podem decidir, não só aqueles que tem aptidão, o que 
pode levar à uma guerra civil, pois é de fácil manipulação 
pela retórica. A democracia é uma degeneração da 
oligarquia. 
TIRANIA 
A mais extrema degradação das formas Políticas, 
entendendo não como um oposto a democracia, mas sim 
como uma consequência. achando mesmo que é o caminho 
onde a liberdade se destrói a ela mesma. “à exageração e o 
forçar a marcha das coisas costuma trazer como 
consequência e como reação a mudança para o seu 
contrário, vemos assim aparecer o líder, para discernis as 
suas internas divisões. E como é costume nestes lideres, tem 
tendência a omnipotência. o tirano começa primeiro por 
vender favores e amizades, faz toda a classe de promessas, 
e depois começa a montar um esquema para se desfazer 
dos seus inimigos, maquina guerras para que o povo tenha 
sempre necessidades de liderança e chefia, e assim o povo 
mal tem oportunidade em questionar o poder. É a 
degeneração da democracia. Para Platão é o pior regime. 
8. ARISTÓTELES (384 a.C.–322 a.C.) 
8.1. BIOGRAFIA 
Aristóteles (384 a.C.–322 a.C.) foi um importante filósofo 
grego. Um dos pensadores com maior influência na cultura 
ocidental. Foi discípulo do filósofo Platão. Elaborou um 
sistema filosófico no qual abordou e pensou sobre 
praticamente todos os assuntos existentes, como a 
geometria, física, metafísica, botânica, zoologia, astronomia, 
medicina, psicologia, ética, drama, poesia, retórica, 
matemática e principalmente lógica. Aristóteles nasceu na antiga cidade de Estágira, 
na Macedônia, Grécia, no ano de 384 a.C. Filho de Nicômaco, médico do rei Amintas 
III, recebeu sólida formação em Ciências Naturais. Com 17 anos partiu para Atenas, 
foi estudar na "Academia de Platão". Aristóteles estudou e questionou violentamente 
com seu professor. Eram constantes as brigas entre mestre e discípulo, mas se 
adoravam mutuamente. Aristóteles se tornou o discípulo predileto do mestre. "Minha 
Academia se compõe de duas partes: o corpo dos alunos e o cérebro de Aristóteles". 
O fim de Aristóteles foi trágico. Quando o rei da Macedônia, Alexandre Magno 
morreu, irrompeu em Atenas uma grande explosão de ódio, não somente contra o 
conquistador, mas contra todos os seus admiradores e amigos. Um dos melhores 
amigos de Alexandre era Aristóteles. Estava prestes a ser preso, quando conseguiu 
escapar em tempo. Deixou Atenas dizendo que não daria à cidade oportunidade de 
cometer um segundo crime contra a filosofia. Pouco tempo depois do exílio que se 
impusera, adoeceu. Desiludido com a ingratidão dos atenienses decidiu por fim à vida 
bebendo, como Sócrates, uma taça de cicuta. Aristóteles morreu em 322 a.C., em 
Cálcia, na Eubéia. Em seu testamento determinou a libertação de seus escravos. Foi 
essa talvez, a primeira carta de alforria da história. 
 
8.2. MOMENTO HISTÓRICO 
Aristóteles, foi discipulo de Platão, preceptor de Alexandre Magno e fundador 
do Liceu. 
Quando Platão morreu, em 347 a.C. Aristóteles fazia vinte anos de Academia 
e esperava ser o substituto natural do seu mestre na direção da escola, mas foi 
rejeitado por ser considerado estrangeiro. Decepcionado, deixou Atenas e foi para 
Atarneus, na Ásia Menor, onde se tornou conselheiro de estado de seu antigo colega, 
o filósofo e político Hermias. Casou-se com Pítia, filha adotiva de Hermias, mas entrou 
em choque com a sede de riqueza de seu colega, em contraste com seus ideais de 
justiça. Quando os persas invadiram o país e crucificaram seu governante, mais uma 
vez Aristóteles ficou sem pátria. 
Aristóteles voltou para a Macedônia em 343 a.C. e o rei Filipe II da Macedônia 
o chamou para ele ser o tutor de seu filho Alexandre. O rei queria que seu filho fosse 
um requintado filósofo. Aristóteles permaneceu com Alexandre durante dois anos. E 
depois se separaram. O soldado partiu para conquistar o mundo e o filósofo tornou-
se seu amigo e ficou a alimentá-lo de sabedoria. 
Em 335 a.C. Aristóteles abriu sua própria escola, chamada Liceu, por estar 
situada nos edifícios dedicados ao deus Apolo Lício, próximo de Atenas. Além de 
cursos técnicos, ministrava aulas públicas para o povo em geral. A sabedoria de 
Aristóteles chegou até nós através de alguns escritos, mas que representam em si 
mesmo, uma enciclopédia inteira, pois contêm praticamente os começos de todas as 
nossas modernas artes e ciências. 
No Liceu, Aristóteles desenvolveu sua pesquisa por várias áreas do 
conhecimento. Após o período discente na Academia de Platão e após a experiência 
de ter sido o professor de Alexandre, o Grande, na Macedônia, sua terra natal, 
Aristóteles, na sua volta a Atenas, organizou, no Liceu, uma série de reflexões em 
vários campos do saber. Tal conhecimento, que alcançou várias áreas, consolidou-se 
de modo bastante sistemático. Aristóteles é mesmo considerado o maior 
sistematizador de toda a filosofia em sua história, pelo caráter estruturado e lógico de 
seu pensamento. Não só na filosofia geral Aristóteles brilhou. Na lógica, naquilo que 
hoje denominamos por ciências, como a própria biologia, botânica, zoologia, nas 
questões relacionadas a todos os campos das ciências humanas, política, sociologia, 
ética, Aristóteles representou o que houve de melhor no pensamento clássico. 
 
8.3. MARCO NA FILOSOFIA E NA CIÊNCIA 
Aristóteles, influencio vários campos do saber: a filosofia, a logica, a física, a 
química, a astronomia, a biologia, a psicologia, a ética, a retorica, a política etc. 
Apesar do alcance abrangente que as obras de Aristóteles gozaram tradicionalmente, 
os acadêmicos modernos questionam a autenticidade de uma parte considerável do 
Corpus aristotelicum. 
 
8.4. OBRAS 
Parte da extensa produção cultural do filósofo, que abrange tanto a Filosofia 
quanto as ciências, foi escrita naquela época, e entre as principais obras destacam-
se: Ética a Nicômaco, Política, Retórica, Poética e a Constituição de Atenas. 
 
→ ÉTICA A NICÔMACO - é a principal obra de Aristóteles sobre Ética. Nela se expõe 
sua concepção teleológica e eudaimonista de racionalidade prática, sua concepção 
da virtude como mediania e suas considerações acerca do papel do hábito e da 
prudência. Sua grande reflexão sobre o direito está contida na obra Ética a Nicômaco 
(que leva o nome de seu filho, a quem dedica a obra). Nesse texto, que é talvez a 
maior expressão do pensamento jurídico em todo o passado, as questões sobre o 
direito e o justo estão concentradas no seu Livro V. 
 
→POLÍTICA – Acredita-se que as reflexões aristotélicas sobre a política se originam 
da época em que ele era preceptor de Alexandre. Ao mesmo tempo, Aristóteles 
compôs para Alexandre duas obras de caráter político que se perderam: Os colonos 
e sobrea monarquia. Na filosofia aristotélica a Política é a ciência que tem por objeto 
a felicidade humana e divide-se em ética (que se preocupa com a felicidade individual 
do homem na pólis) e na política propriamente dita (que se preocupa com a felicidade 
coletiva da pólis). O objetivo de Aristóteles com sua Política é justamente investigar 
as formas de governo e as instituições capazes de assegurar uma vida feliz ao 
cidadão. Por isso mesmo, a política situa-se no âmbito das ciências práticas, ou seja, 
as ciências que buscam o conhecimento como meio para ação. 
 
→RETÓRICA – o objetivo de Aristóteles com sua Retórica é dar um tratamento 
eminentemente filosófico ao tema, em oposição ao tratamento descuidado dado pelos 
retores e sofistas. De modo mais específico, muitos acreditam que a reflexão 
aristotélica foi uma resposta à concepção de retórica do grande orador Isócrates de 
Atenas. Ao contrário de Platão, que, no diálogo Górgias, condena a retórica e, no 
diálogo Fedro, subordina a retórica à filosofia, a investigação aristotélica acerca da 
retórica — mesmo que eminentemente filosófica — procura conferir autonomia para a 
técnica retórica, desvinculando-a da vigilância da filosofia (coisa que Platão 
discordava por considerar a retórica eticamente perigosa). Segundo o filósofo: "A 
retórica é a outra face da dialética, pois ambas se ocupam de questões mais ou menos 
ligadas ao conhecimento comum e não correspondem a nenhuma ciência em 
particular. De facto, todas as pessoas de algum modo participam de uma e de outra, 
pois todas elas tentam, em certa medida, questionar e sustentar um argumento, 
defender-se ou acusar". 
 
→POÉTICA – é um conjunto de anotações das aulas de Aristóteles sobre o tema da 
poesia e da arte em sua época, pertencentes aos seus escritos acroamáticos (para 
serem transmitidos oralmente aos seus alunos) ou esotéricos (textos para iniciados). 
Estes cadernos de anotações eram destinados às aulas do Liceu e serviam de guia 
para o mestre e investigador Aristóteles, anotações esquemáticas destinadas a serem 
desenvolvidas em suas aulas e não para serem conhecidas através da leitura. 
Praticamente tudo que se conservou de Aristóteles faz parte das obras acroamáticas. 
É o primeiro escrito conhecido que procura especificamente analisar determinadas 
formas da arte e da literatura, também um registro limitado de como era a arte grega 
em seu tempo. A Poética, "não é apenas a primeira teoria do Teatro ocidental; trata-
se de um livro que influenciou essa arte ao longo de sua história e que ainda ecoa". 
 
→CONSTITUIÇÃO DE ATENAS – é uma obra antiga, atribuída a Aristóteles e seus 
discípulos, que descreve o regime político de Atenas. Escrita provavelmente entre 332 
a.C. e 322 a.C., só se tornou mais conhecida, ainda que em fragmentos, no final do 
século XIX, quando foi encontrada, ainda em sua forma original, no Egito. O livro 
registra as várias formas e alterações constitucionais pelas quais passou a cidade de 
Atenas, por obra dos seus grandes legisladores, tais como Drácon, Sólon, Pisístrato, 
Clístenes e Péricles. A obra também pode ser lida como uma história política da 
cidade. Além desta, Aristóteles compilou e analisou a constituição de pelo menos 125 
cidades-estado gregas. Todas estas, no entanto, estão atualmente perdidas. 
 
8.5. DIFERENÇA PARA A FILOSOFIA PLATÔNICA 
Discípulo de Platão, Aristóteles (384-322 a.C.) estava também envolvido no 
ambiente filosófico que ensejou o socratismo e o platonismo, ainda que a seu modo. 
Naquilo que tange à construção direta de uma filosofia política e do direito 
revolucionária, que viesse a transformar a realidade, Aristóteles é mais prudente que 
seu mestre Platão. Este era filho de Atenas, de velhas tradições políticas familiares. 
Aristóteles era estrangeiro em Atenas, portanto com participação muito limitada na 
vida política. De fato, ao contrário de Platão, que analisava a situação social do seu 
tempo e estabelecia planos de transformação da realidade, Aristóteles consolida as 
opiniões, as possibilidades, os fatos e as situações da realidade, mas sem tomar 
partido maior dos caminhos de mudança ou de alteração do já dado. Aristóteles, mais 
ponderado e de maior contato com a realidade do que Platão, é menos visionário que 
seu mestre. 
 
8.6. ESPÉCIES DE JUSTIÇA 
Aristóteles separa dois grandes campos de compreensão sobre a justiça. Ela 
pode ser tomada no sentido universal e no sentido particular. 
8.6.1. JUSTIÇA UNIVERSAL 
▪ REGULAÇÃO DA SOCIEDADE POR LEIS 
A justiça universal significa a justiça em sentido amplo que pode ser definida 
como conformidade ao nomos (norma jurídica, costume, convenção social, tradição). 
Esta norma constituinte do nomos é dirigida a todos. A ação deve corresponder a um 
tipo de justo que é o justo legal. “Aquele que contraria as leis contraria a todos que 
são por elas protegidos e beneficiados; aquele que as acata, serve a todos que por 
elas são protegidos ou beneficiados”. O membro da pólis se relaciona com todos os 
demais, ainda que virtualmente, e compartilha com todos os efeitos de sua atitude ou 
omissão. A justiça universal ressalta a importância da legalidade como um dos 
aspectos que fundamenta a coesão social. A comunidade existe virtualmente na 
pessoa de cada membro. O homem virtuoso é aquele que desvela em seu modo de 
agir a observância do princípio neminem laedere (Não prejudique a ninguém) 
 
▪ VIRTUDE UNIVERSAL 
A caridade ou a paciência, por exemplo, e todas as virtudes demandam um 
conteúdo específico que as tipifica. Diz-se que a caridade se tipifica num ato de dar. 
Mas aquele que dá ao poderoso, por medo de ser violentado, e não dá ao necessitado, 
por lhe ser superior em poder, não é caridoso, porque ao mero ato de dar deve se 
acrescer a justiça do ato. O paciente com o chefe e impaciente com o subordinado 
também não tem essa virtude da paciência, na medida em que esta presume o seu 
agir com justiça. A caridade não é uma virtude em si própria sem que se lhe acresça 
a virtude da justiça. O mesmo com a paciência. Mas alguém pode ser justamente 
caridoso e impaciente. A caridade presume justiça, a paciência presume justiça, mas 
a caridade não presume paciência. A justiça está em todas as demais virtudes, e por 
isso é a única virtude universal. 
 
8.6.2. JUSTIÇA PARTICULAR 
A justiça particular significa em sentido estrito o hábito de realizar a igualdade. 
Este tipo de justiça refere-se ao outro no sentido de uma relação direta entre partes, 
típica da experiência citadina. Este tipo de justiça vincula-se com a justiça universal, 
pois o transgressor da justiça particular se compromete também diante do nomos. O 
justo particular apresenta-se em três formas distintas: (I) o justo particular distributivo 
que desvela a justiça distributiva (I) o justo particular corretivo que apresenta a justiça 
corretiva e (III) reciprocidade. 
▪ DISTRIBUTIVA 
A idéia de justiça distributiva surge no sentido de igualdade na devida 
proporção. Essa modalidade de justiça regula as ações da sociedade política com 
seus membros e tem por objeto a justa distribuição dos bens públicos: honras, 
riquezas, encargos sociais e obrigações. Essa distribuição também se fundamenta na 
igualdade que não se confunde com uma igualdade matemática e rígida, mas 
geométrica ou proporcional que observa o dever de dar a cada um o que lhe é devido; 
observa os dotes naturais do cidadão, sua dignidade, o nível de suas funções, sua 
formação e posição na hierarquia organizacional da pólis. O princípio de igualdade 
que figura neste tipo de justiça exige uma desigualdade de tratamento, pois sendo 
diferentes segundo o mérito, os benefícios a serem atribuídos tambémdevem ser 
diferentes. 
A justa distribuição, para Aristóteles, é um justo meio-termo entre duas pessoas 
e duas coisas. O critério fundamental para tal distribuição justa é o mérito. A justiça 
distributiva utiliza como parâmetro o dar a cada um de acordo com seu mérito, ainda 
que Aristóteles reconheça que o critério do mérito possa ser variável. Para o 
democrata, dirá, o mérito presume a condição livre; para o oligarca, o critério do mérito 
é a nobreza de nascimento. 
 
▪ CORRETIVA 
Trata-se de um tipo de justiça que regula as relações entre cidadãos e utiliza o 
critério do justo meio aritmético ou igualdade matemática (se devo x, pagarei x). 
Observa-se que este tipo não focaliza em primeiro plano as pessoas, mas sim as 
coisas. Medem-se os benefícios ou prejuízos que as pessoas podem experimentar, 
ou seja, as coisas e os atos no seu valor efetivo. Nos casos de ações que geram 
constrangimento para uma das partes, caberá ao juiz restabelecer a igualdade 
rompida através de uma sentença. Quando há a vontade dos interessados como 
elemento principal, chama-se justo comutativo (sinalagma) e, quando por decisão do 
juiz a vontade de um deles é contrariada, como o caso dos crimes, chama-se justo 
judicial ou justo reparativo. Neste último caso o sujeito de uma injustiça é sancionado 
a reparar o dano provocado indevidamente a outrem. Podemos perceber que o 
princípio de igualdade que figura em seu pensamento recorda as especulações 
pitagóricas acerca da justiça. 
Ao contrário da distribuição das honrarias, bens e cargos de acordo com o 
mérito, nessa vertente a justiça é tratada como uma reparação do quinhão que foi, 
voluntária ou involuntariamente, subtraído de alguém por outrem. Assim sendo, a 
justiça corretiva é uma proporção aritmética, porque se trata apenas da devolução 
daquilo que foi acrescido a alguém. 
 
▪ RECIPROCIDADE 
A sua aplicação mais importante se dá no caso da produção. As trocas entre 
um sapateiro, um pedreiro, um médico e um fazendeiro, para serem consideradas 
justas, devem alcançar uma certa reciprocidade. Não se pode imaginar que a 
produção de um sapato valha o mesmo que a construção de uma casa, ou que a 
colheita de um quilo de determinada planta equivalha a uma certa cirurgia. Aristóteles, 
para isso, aponta que o dinheiro faz o papel de uma equivalência universal entre 
produtos e serviços. Ele possibilita a reciprocidade entre tais elementos. Tal forma de 
justiça, muito sensível, porque não diretamente atrelada a bens ou a correções, mas 
à produção, é a ligação mais profunda já feita até então, na filosofia do direito, entre 
direito e economia. 
 
8.6.3. JUSTIÇA NATURAL X JUSTIÇA LEGAL 
O justo natural significa o que será sempre o mesmo em toda parte, independe 
da vontade humana, ou melhor, para existir não precisa de qualquer decisão ou ato 
de positividade. O justo legal, que em princípio poderia ser cumprido de maneiras 
diferentes, passa a ser obrigatório por ser assumido pelo nomos vigente em uma pólis. 
Este tipo de justo decorre do ato legislativo e configura-se no conjunto de disposições 
vigentes na pólis. Tanto o justo natural quanto o justo legal constituem a ordem 
normativa da cidade. O justo natural é constituído por noções e princípios comuns que 
encontram fundamento na própria natureza racional do homem. Podemos 
compreender a mutabilidade da justiça natural a partir da concepção aristotélica de 
physis. Em seu modo de ver a Natureza experimenta o movimento, ou seja, 
atualização do ser (a doutrina do ato e potência). A justiça natural sofre as 
transformações típicas da racionalidade. Trata-se de um movimento perene que 
permeia todos os seres. 
 
8.7. ÉTICA 
Ética em Aristóteles pode ser definida como uma busca da felicidade dentro do 
âmbito do ser humano se este homem se esforçar a atingir sua excelência, isto é, se 
tornar uma pessoa virtuosa. É um bem agir de forma constante, ou seja, uma pessoa 
que agir bem e de forma habitual. O agir bem vem da virtude. 
Conforme ensina Eduardo Bittar, “somente a educação ética, ou seja, a criação 
do hábito do comportamento ético, o que se faz com a pratica à conduta diuturna do 
que é deliberado pela reta razão à esfera das ações humanas, pode construir o 
comportamento virtuoso. A semântica do termo ética (éthos) indica o caminho para 
sua compreensão: ética significa habito, em grego. Aqui o importante é a reiteração 
da pratica virtuosa; nesse sentido, ser justo é praticar reiteradamente atos voluntários 
de justiça”. 
Também devemos a Aristóteles outras contribuições importantes no campo da 
reflexão sobre a ética e a moral, principalmente a partir de sua obra Ética a Nicômaco, 
onde o mesmo procurou refletir sobre as virtudes que constituiriam a arete (a virtude 
ou excelência ética) e a moralidade grega. Com sua bem conhecida teoria da virtude 
como justa medida, Aristóteles distinguiu vícios e virtudes pelo critério do excesso, da 
falta e da moderação. É no Livro II da Ética a Nicômaco que Aristóteles apresenta sua 
conhecida doutrina da virtude como um meio, da “doutrina da mediedade, ao deixar 
evidente que a virtude é uma espécie de mediedade, na medida em que visa um meio, 
meio este entre o excesso e a falta”. 
O meio termo se caracteriza como conduta ética a partir do momento em que 
a pessoa conhece a si mesmo e assim ela possui um equilíbrio sobre si o que é muito 
difícil de conseguir. Em outras palavras a ação ética é caracterizada pelo equilíbrio e 
deve ser evitada qualquer ação extremada, isto é, tanto o excesso quanto a falta é um 
desequilibro que possui duas razões originárias na própria coisa, uma por o extremo 
estar mais próxima ao meio termo e o seu contrário. 
 
 
 
 
No que condiz aos dois extremos os que for induzir ao menor erro já que atingir 
o meio termo é extremamente difícil, seria a melhor saída. Contudo segundo 
Aristóteles a ética pede que nos afastemos contra tudo o que é agradável, pois assim 
atingiremos o meio termo. Uma outra conduta ética seria ter o meio termo como base 
e ás vezes ir ao sentido do excesso e ao sentido da falta para poder ficar no meio 
termo já que muitas vezes são atitudes fortes que fazem com que a ética seja 
cumprida. 
A virtude (areté) é a expressão maior da excelência de uma pessoa, de sua 
integridade, de sua identidade. A virtude é encontrar, pelo uso da razão, o meio-termo 
entre esses extremos, que Aristóteles chamou de justo meio. A virtude está ligada à 
razão. E, como todo homem é dotado de razão, todo homem pode alcançar a virtude. 
Basta identificar a paixão que o domina, reconhecer seus extremos e procurar, 
racionalmente, seu justo meio. 
 
VÍCIO POR FALTA 
VIRTUDE 
(MEIO-TERMO) 
VÍCIO POR EXCESSO 
Covardia Coragem Temeridade 
Insensibilidade 
Temperança 
(moderação) 
Intemperança 
Avareza Generosidade Prodigalidade 
 
 
A virtude da coragem não significa nada temer. Enquanto o covarde é aquele 
que tudo teme, o corajoso age com equilíbrio, de acordo com a prudência e a 
moderação (sophrosine). Desta forma, a coragem é uma justa medida entre a covardia 
e a temeridade (destemor). A covardia se caracteriza pelo medo excessivo e a 
Felicidade 
(eudomonia) 
 
Ética 
Virtude 
(arete) 
temeridade pela ausência de medo. Tanto em um caso como no outro, ter medo de 
tudo ou não ter medo de nada, pode ser prejudicial a ação. 
 A temperança (sophrosine) é uma virtude relacionada com os prazeres do 
corpo, principalmente aqueles ligados ao gosto (o comer e o beber) e ao sexo. Tanto 
a alimentação quanto o sexo são algo absolutamente necessários a vida humana, 
mas a forma como lidamos com o comer, o beber e o sexo podem ser exageradosou 
insuficientes. O temperante, então, é aquele homem que está numa mediedade entre 
dois vícios, entre o excesso e a falta, sendo o intemperante o que carrega o estigma 
do excesso e o “insensível”, na falta de um nome específico para caracterizá-lo, seria 
aquele que aproveita dos prazeres menos do que seria conveniente ou correto 
A generosidade (qualidade ou condição daquele que é liberal, no sentido de 
generoso) uma justa media entre a prodigalidade (dar em grande quantidade, gastar 
em profusão) e a avareza. Todas essas virtudes devem ser praticadas pelo filósofo e 
pelos indivíduos de uma forma geral. 
Um homem virtuoso evita os excessos e as faltas. O homem virtuoso pensa 
antes de agir. O homem virtuoso, ao evitar os excessos e as faltas, não se deixa 
dominar pelos desejos. Pelo contrário. Domina-os. Compreende que, na vida social, 
os desejos individuais, a busca pelo prazer, não podem superar o bem comum. 
 
8.8. JUSTO X JUSTIÇA – INJUSTO X INJUSTIÇA (MEIO-TERMO/MODERAÇÃO) 
O homem considerado justo deve agir por força de sua vontade racional. Na 
Ética a Nicômaco, Aristóteles enumera três condições para que um ato seja virtuoso: 
1. O homem deve ter consciência da justiça de seu ato; 2. A vontade deve agir 
motivada pela própria ação; 3. Deve-se agir com inabalável certeza da justeza do ato. 
As virtudes são disposições ou hábitos adquiridos ao longo da vida e se fundamentam 
na idéia de que o homem deve sempre realizar o melhor de si. A virtude será uma 
espécie de meio termo, de termo médio entre os extremos: o excesso e a deficiência. 
Para Aristóteles, a justiça é uma virtude que só pode ser praticada em relação ao outro 
e de modo consciente. O objeto da justiça é realizar a felicidade na pólis, o seu oposto, 
a injustiça, poderá ocorrer por falta ou por excesso. 
Portanto, a maior de todas as virtudes, diz Aristóteles, é a justiça. Sua força 
sobre as demais consiste em sua perfeição, porque quem é justo projeta-se mais para 
o outro do que para si mesmo. Em outras palavras, tudo que protege o conjunto dos 
indivíduos (a sociedade) é mais importante do que aquilo que protege somente um 
dos membros dessa sociedade, por isso, dos males, a injustiça é o maior, pois destrói 
o tecido social. 
O filósofo considera justo o homem respeitador da lei e injusto o sem lei. Com 
esta passagem, não pretendeu expressar uma profissão de fé cega na lei, pois a sua 
atenção não se achava concentrada em lei de qualquer conteúdo, mas naquelas que 
comungam com o seu sentido virtual, conforme se pode concluir da seguinte 
passagem de sua Ética a Nicômaco : “(...) nas disposições que tomam sobre todos os 
assuntos, as leis têm em mira a vantagem comum, quer de todos, quer dos melhores 
ou daqueles que detêm o poder ou algo nesse gênero; de modo que, em certo 
sentido, chamamos justos àqueles atos que tendem a produzir e a preservar a 
sociedade política e felicidade e os elementos que a com põem. 
 
8.9. EQUIDADE 
Para Aristóteles, acima da justiça da lei, há a justiça do caso, do bom 
julgamento de cada caso concreto, e a essa adaptação do geral ao específico dá ele 
o nome de equidade. Para Aristóteles, a lei é boa. Segui-la é fazer concretizar o 
interesse de todos, da pólis. Desrespeitá-la é fazer com que o interesse particular 
desarranje a organização política. Aristóteles reconhece que, no sentido geral, a lei é 
justa. No entanto, há uma manifestação de justiça ainda mais alta que a lei, a própria 
equidade. Aristóteles compara o ofício do juiz, na equidade, àquele de quem julga 
conforme a Régua de Lesbos. Também a equidade demanda do jurista uma 
flexibilidade. Não pode ser o homem justo um mero cumpridor cego das normas, sem 
atentar para as especificidades de cada caso concreto. 
A equidade é a forma corretiva da justiça legal quando esta engendra certa 
injustiça pela própria generalidade de seus preceitos normativos. 
 
8.10. POLITICA 
Para Aristóteles, não há oposição entre a organização política (estatal) e a 
própria vida social. São uma mesma situação. Para ele o Estado constituía a 
expressão mais feliz da comunidade humana e o seu vínculo com o homem era de 
natureza orgânica, pois “assim como não é possível conceber a mão viva separada 
do corpo, assim também não se pode conceber o indivíduo sem o Estado”. Do ponto 
de vista social o homem foi chamado de animal político, no sentido de que possuía 
instinto de vida gregária. Fora da sociedade, segundo o Estagirita, o homem seria um 
bruto ou um deus. 
Portanto, para Aristóteles, o homem é um animal naturalmente político (zôon 
politikón), isto é, chamado a viver na pólis, por exigência de sua própria natureza. O 
homem não é apenas social, mas também político e somente ele é assim. A pólis é 
mais natural ao homem do que qualquer associação. O homem é homem na medida 
em que é animal político. Fora da pólis só se pode imaginar um super-homem (Deus) 
ou um animal bruto (monstro). Aristóteles é o primeiro autor a desenvolver dentro da 
sua Política esta ideia, fundamento de toda filosofia racionalista e naturalista do 
Estado. Além do mais, para Aristóteles o desenvolvimento da razão só é possível na 
medida em que o homem se integre à pólis. O homem não pode tornar-se um ser do 
bem e do justo, não pode atingir a mais alta dignidade acessível a ele, senão por sua 
própria determinação, e este fim é inseparável da vida em sociedade (pólis). A política 
é ciência primordial porque o bem da cidade é superior ao bem individual e necessário 
ao aperfeiçoamento do homem. A pólis faz do homem um ser completo, pois ela 
realiza as condições desta completude: ordem, paz e justiça. 
A finalidade em comum liga os indivíduos em comunidade. Há uma espécie de 
afecção geral de viver em comum que dá sentido à sociedade. Trata-se da noção 
aristotélica de amizade (philia). A amizade, o bem querer recíproco, é tanto 
fundamental nas relações intersubjetivas quanto na estruturação da vida social. 
Aristóteles aceita a escravidão como instituição natural. A escravidão justifica-
se pela suposta incapacidade de certos homens de governarem a si mesmos. A 
consequência é que eles têm de submeter-se ao governo de outro, não apenas no 
interesse dele, mas também no próprio. Há homens que nascem livres e outros 
escravos por natureza. O escravo é um instrumento animado, imprescindível para 
manejar instrumentos inanimados para a produção de bens. No pensamento 
aristotélico, o espaço da justiça se perfaz entre os cidadãos. Isso não quer dizer que 
não haja relações chamadas de justas, num sentido mais lato, entre os cidadãos e os 
não cidadãos. É que, na verdade, sendo pessoas desiguais, estabelecem-se entre 
elas relações de outro tipo, como a proteção, a subordinação, o mando. 
 
8.11. TIPOS DE GOVERNO 
Valendo-se dos critérios da finalidade do poder político e do número de 
governantes, Aristóteles sistematiza os possíveis tipos de governo, suas virtudes e 
seus defeitos. No que tange à extensão do governante, isto é, o seu tamanho ou 
número, Aristóteles vislumbra três possíveis extensões: o governo de um, o governo 
de alguns ou o governo da maioria. No que tange ao objetivo do poder político, ele 
pode ser pensado como o interesse próprio desse grupo (o interesse de um, o 
interesse dos poucos ou o interesse dessa maioria) ou o interesse de todos. Sendo 
duas as possíveis finalidades do poder (ou para seu grupo ou para todos) e sendo três 
as possíveis extensões do poder (um, poucos ou a maioria), resulta, daí um quadro 
de seis possíveis tipos de governo. 
Exercício do poder Um só Alguns A maioria 
No interesse de todos Monarquia Aristocracia República 
No interesse próprio Tirania Oligarquia DemocraciaEstas três formas podem degenerar: a monarquia em tirania; a aristocracia em 
oligarquia; a república em democracia. A tirania não é, de fato, senão a monarquia 
voltada para a utilidade do monarca; a oligarquia, para a utilidade dos ricos; a 
democracia, para a utilidade dos pobres. Nenhuma das três se ocupa do interesse 
público. 
Cada pólis necessita de um governo que corresponda ao seu caráter e 
necessidades próprias. Aristóteles também distinguiu as atividades do governo em 
deliberativas ou legislativas, executiva e judicial. E apresentou um ponto de vista 
técnico-político preocupado com a conservação do poder e com a ética. 
A diferença entre Platão e Aristóteles é que para Platão o regime de governo 
preferido seria a aristocracia. Já Aristóteles não falava de governo de um. O melhor 
dos regimes possíveis consistirá em uma combinação do que há de melhor em cada 
um deles. O melhor da república é a liberdade e a igualdade; da monarquia, a 
capacidade de criar riquezas; e da aristocracia, sua excelência, capacidade e 
qualidades intelectuais. 
 
 
 
 
 
9. EPICURISMO 
Criada por Epicuro de Samos (341 a 270 a.C.), a Escola Epicurista, do ponto 
de vista da ética, foi um prolongamento da Escola Cirenaica, com a virtude, todavia, 
de superá-la. Seu fundador teria produzido inúmeros tratados, que não chegaram, 
porém, aos dias atuais, salvo por abundantes fragmentos. Em Atenas, no a no 306 a. 
C., Epicuro fundou uma escola filosófica que levou o nome de “filósofos do jardim”, 
justamente porque os encontros se faziam em um jardim. Sua orientação maior está 
na busca do prazer, entendido não como uma ação positiva no sentido da 
mundanidade – bebidas, mulheres, gozo e alegria –, mas sim na sua acepção de 
negação: ausência de perturbação e de dor. Se se deve guiar filosoficamente em 
busca desse prazer, que representa a verdadeira felicidade, dever-se-á desbastar, 
daquilo que é necessário pela natureza ou pela ética, o inútil. O prazer, nesse sentido, 
afastando-se dos sofrimentos, é tanto do corpo quanto da alma. 
A Escola Cirenaica, criada por Aristipo de Cirene, no século IV a.C., havia 
exposto uma doutrina ética de cunho utilitário, sendo por isso também chamada de 
Escola Hedonista, cujo vocábulo deriva do grego hedone, prazer. O homem deveria 
procurar, com as suas ações, alcançar o prazer e afastar a dor, com o prazer 
identificado restritamente com as sensações físicas. Negaram, os cirenaicos, a 
existência de um direito natural, de vez que não admitiam o justo por natureza, mas 
apenas como produto de convenções humanas. 
A ética desenvolvida pela escola de Epicuro conservou o sentido hedonista 
impregnado pelos cirenaicos, mas o prazer concebido já não seria o das sensações 
físicas, mas o provocado pelo espírito. Os epicuristas abordaram o tema de um modo 
mais racional e refinado do que seus antecessores. Eles chegaram a criar uma 
hierarquia entre os prazeres, tendo Epicuro situado o prazer da amizade em primeiro 
plano. Os filósofos dessa escola aconselhavam a temperança como meio de 
assegurar melhores condições para o homem desfrutar dos prazeres. 
Os epicuristas entendiam que o ser humano não era sociável por natureza, mas 
por conveniência. Quando em estado de natureza o homem vivia na dor, visto que 
permanecia em conflito com o semelhante. Para evitar a dor e favorecer a busca do 
prazer, os homens teriam criado o Estado. No momento, porém, em que este deixar 
de cumprir a finalidade para a qual foi gerado, o pacto poderá ser rompido. Ora, como 
o Estado se estrutura e organiza a sociedade mediante leis, estas teriam, 
consequentemente, o objetivo de facilitar o prazer e de afastar a dor. O epicurismo 
elaborou, destarte, o esboço fundamental da teoria do contrato social. A teoria do 
Estado, assim formulada, na visão de Giorgio Del Vecchio revelaria “situ ação de 
anarquia potencial”. 
Em Epicuro, é possível vislumbrar uma noção de justiça que se funda na ideia 
de que há o interesse de uma vida plena e prazerosa dos indivíduos que conduz a 
que não se dominem reciprocamente. Daí que a política se constrói no objetivo de 
uma utilidade comum. Como a busca da felicidade e do prazer envolve o afugentar 
dos danos, seja para si, ou seja, para outrem, o justo é agir em conformidade com o 
bem do outro, numa espécie de princípio de solidariedade. 
 
10. CICERO – ESTOICISMO ROMANO E LEI NATURAL 
10.1. PRINCIPAL FILOSOFO – MARCUS TÚLIOS CICERO (106 A.C. – 48 A.C. 
 Cícero nasceu em 106 a.C., em Arpino. Seu pai era um rico 
membro da ordem equestre e possuía boas relações em Roma. 
Porém, sendo semi-inválido, não pôde entrar na vida pública, mas 
estudou extensivamente para compensar. se sabe pouco sobre 
Élvia, a mãe de Cícero. Marcus Tullius Cícero é, sem dúvida 
nenhuma, com sua vasta obra (debates acadêmicos; sobre a 
natureza dos deuses; sobre a república...), legatário de uma 
sincrética tradição filosófica. Cícero pronunciou-se sobre muitos e diversificados 
assuntos, deixando suas marcas e contribuições sobre a política, a moral, a teologia, 
o direito, a literatura, a retorica, a oratória etc. 
 
10.2. MOMENTO HISTÓRICO 
Ocorre no apogeu da sua extensão territorial romana sobre a Macedônia. A 
extensão romana proporcionara uma vasta influência na língua, cultura, religião, 
técnicas, arquitetura, filosofia, lei e formas de governo dos estados que lhe 
sucederam. No mundo romano, durante muito tempo o estoicismo foi incorporado, 
temperado por outras escolas de pensamento, como manifestação comum da sua 
intelectualidade. Além de Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.), que lhe empresta maior 
notoriedade, Epicteto, Sêneca e mesmo o imperador Marco Aurélio eram de algum 
modo estoicos. 
 
 
10.3. CONCEITO DE ESTOICISMO 
O estoicismo preza a fidelidade ao conhecimento, desprezando todos os tipos 
de sentimentos externos, como a paixão, a luxúria e demais emoções. Este 
pensamento filosófico foi criado por Zenão de Cício, na cidade de Atenas, e defendia 
que todo o universo seria governado por uma lei natural divina e racional. Para o ser 
humano alcançar a verdadeira felicidade, deveria depender apenas de suas “virtudes” 
(ou seja, o conhecimento, de acordo com os ensinamentos de Sócrates), abdicando 
totalmente o “vício”, que é considerado para os estoicos um mal absoluto. Para a 
filosofia estoica, a paixão é considerada sempre má, e as emoções um vício da alma, 
seja o ódio, o amor ou a piedade. Os sentimentos externos tornariam o homem um 
ser irracional e não imparcial. Um verdadeiro sábio, segundo o estoicismo, não deveria 
sofrer de emoções externas, pois estas influenciariam em suas decisões e raciocínios. 
Os estoicos acreditavam que o conhecimento pode ser atingido por meio do 
uso da razão. Para os estoicos, saber se guiar bem, pelo uso da razão, é conhecer a 
natureza e seus desígnios – seu destino – e consolidar o cumprimento dos deveres 
como hábito. O dever como hábito gera a virtude. Para isso, é preciso afastar as 
paixões que desviam a alma do dever. Daí a ideia de que o estoico se habitua a vencer 
os prazeres e futilidades que afastam da virtude. 
 
O que muda entre o estoicismo grego e o estoicismo romano? O 
estoicismo grego se preocupando com a lógica, a física, a metafísica e a moral. Já o 
estoicismo romano, caracteriza-se pela sua tendência prática e religiosa. 
 
10.4. ÉTICA E JUSTIÇA – RETA RAZÃO 
A ética estoica caminha no sentido de postular a independência do homem com 
relação a tudo o que o cerca, mas, ao mesmo tempo, no sentido de afirmar seu 
profundo atrelamento com causas e regularidades universais. Segundo Eduardo 
Bittar, “o homo ethicus do estoicismo é o que respeita o universoe suas leis cósmicas 
e se respeita. Isso porque, em primeiro lugar, se conhece, e conhece suas limitaçoes, 
de modo que é capaz de alcançar a ataraxia, o estado de harmonia corporal, moral e 
espiritual, por saber distinguir o bem do mal”. Além, disso, a ética estoica é o resultado 
da interpretação dos conhecimentos adquiridos pelo homem. A ética estoica, também, 
é ainda uma ética que determina o cumprimento de mandamentos éticos pelo simples 
dever. Essa obediência aos mandamentos éticos se deve ao fato de tais 
mandamentos decorrerem de leis naturais. 
No cosmos é que Cícero encontra a reta razão, que a tudo ordena, e de acordo 
com o qual se devem pautar todas as condutas humanas. A ética ciceroniana 
movimenta-se a partir de uma lei absoluta preexistente, imutável, intocável, soberana 
e perfeita e que a tudo governa: “ a razão reta, conforme à natureza, gravada em todos 
os corações, imutáveis, eterna, cuja voz ensina e prescreve o bem, afasta do mal que 
proíbe e, ora com seus mandados, ora com suas proibições, jamais se dirige 
inutilmente aos bons, nem fica importante ante os maus. Essa lei não pode ser 
contestada, nem derrogada em parte, nem anulada; não podemos ser isentos de seu 
cumprimento pelo povo nem pelo Senado; não há que procurar para ela outro 
comentador nem interprete”. Assim, o bem e o mal só podem ser dados como razoes 
da natureza. O parâmetro da conduta humana deverá ser a observância da lei natural, 
e isso porque nela se encontra a noção de bem que deve ser seguida. Ai reside a 
felicidade, a ordenação da conduta individual. 
A justiça haverá de ser uma decorrência do sistema natural. É com inspiração 
nas leis naturais que haverão de surgir as leis humanas. Uma vez surgidas, será com 
base nas leis naturais que haverão de se orientar e se corrigir. 
Para Cícero, é legitimo celebrar uma lei que é o presente dos deuses ao gênero 
humano e que é a razão e a inteligência do sábio que, no entanto, é capaz de mandar 
e proibir. 
Para Cícero, mesmo inexistindo leis escritas, percebe-se a presença da lei 
eterna que a todos governa. Pode-se mesmo cometer um crime que não esteja 
previsto em leis humanas, mas repudia-se a conduta como desconforme ao bem. A 
unidade divina fomenta a profunda perfeição das leis naturais, que devem ser a 
inspiração ultima de toda legislação social. 
As leis humanas devem constituir-se, de fato, em estimula para os bons e me 
desestímulo para os maus. O critério para a diferenciação entre ambos não é dado 
pelo homem, mas pela natureza, ela que é soberana e justa. Para que as leis humanas 
consigam atingir sua finalidade, deverão conformar-se ao que há de necessário e 
incontornável dado pela lei natural. 
 
 
 
10.5. POLÍTICA 
Na ordem política, Cícero afirma a natureza social e política do homem. A 
realização da justiça é o fim essencial da sociedade política. O governo tem como 
objetivo o bem do povo em geral. Cícero defende uma forma mista de governo, cujo 
papel fundamental corresponderia à aristocracia senatorial. O princípio do bem 
comum se traduz na exigência de que o exercício do poder há de ajustar-se ao direito. 
Desta forma, Cícero segue a tradição aristotélica, ao sustentar a primazia da lei como 
princípio básico da vida política. Cícero participa da hostilidade tradicional da filosofia 
grega em relação à tirania, que, como corrupção da monarquia, é o maior dos males 
que pode acontecer à república. Para Cícero, o Estado não surge de uma convenção, 
mas brota da própria natureza e se desenvolve naturalmente na história. No Estado 
estão misturados os elementos imutáveis da lei natural e as regras do direito positivo. 
Estas ideias passam a constituir o fundamento especulativo da jurisprudência romana, 
que vai elaborar no direito o aspecto positivo, histórico, criando o jus civile, um 
organismo objetivo de normas, cercado por forte lógica jurídica. Devemos lembrar que 
a jurisprudência era para os romanos a ciência das coisas divinas e humanas. 
 
FILOSOFIA CRISTÃ – ÉPOCA MEDIEVAL 
No plano do pensamento a época medieval foi do minada pelo cristianismo, 
doutrina surgida n o início de nossa era com Jesus de Nazaré que, em seus três anos 
de apostolado, pregou a fraternidade entre os homens e condenou a hipocrisia e a 
cobiça. As ideias que semeou foram desenvolvidas, mais tarde, por seus sucessores, 
principalmente por Paulo de Tarso, que exaltou o poder da fé e negou valor à lei 
terrena para a salvação dos homens. No último quartel do século IV, após cinquenta 
anos de perseguição oficial aos cristãos, o governo romano, com a promulgação de 
vários decretos, reconheceu o cristianismo como a única religião legal do império. O 
triunfo não se deu por contingência, mas devido a um conjunto de motivos que 
favoreceu a expansão da doutrina junto às camadas sociais. A nova religião, que 
colhera subsídios em outras seitas e se apresentava com o a mais universal, 
franqueou o seu culto às mulheres, diferentemente do mitraísmo, seu rival, além de 
atender aos pobres e aos humildes 
 
 
 
11. FILOSOFIA DE SÃO PAULO 
11.1. PAULO DE TARSO (5 d.C. – 67 d.C.) 
 Paulo de Tarso, também conhecido como Apóstolo Paulo, 
Saulo de Tarso ou São Paulo, nasceu em Tarso, na Cilícia, 
território atual da Turquia. Seus pais, embora judeus, gozavam 
dos privilégios da cidadania romana. No momento da circuncisão, 
recebeu dois nomes: Saulo - hebreu e Paulo - romano. Os 
primeiros anos de vida passou no seio da comunidade judaica. 
Seu pai, membro da seita religiosa dos fariseus, faz com que 
frequente a escola da sinagoga. Em 29, numa viagem a Jerusalém, de significado 
patriótico e religioso, estuda no templo de Salomão. Persegue as comunidades cristãs 
e participa do apedrejamento de Estêvão, um líder de um grupo de seguidores de 
Jesus. 
Quando Saulo, se dedicava à perseguição dos primeiros discípulos de Jesus 
na região de Jerusalém. De acordo com o relato na Bíblia, durante uma viagem entre 
Jerusalém e Damasco, numa missão para que, encontrando fiéis por lá, "os levasse 
presos a Jerusalém", Saulo teve uma visão de Jesus envolto numa grande luz, ficou 
cego, mas teve a visão recuperada após três dias por Ananias que também o batizou. 
Começou então a pregar o Cristianismo. Juntamente com Simão Pedro e Tiago, o 
Justo, ele foi um dos mais proeminentes líderes do nascente cristianismo. Era também 
cidadão romano, o que lhe conferia uma situação legal privilegiada. A questão de sua 
cidadania romana gera certa curiosidade. Paulo afirma em Atos 22:28 ser romano "de 
nascimento". Tal declaração parece indicar que o apóstolo herdou essa posição de 
seu pai. 
Entre 45 e 48, Paulo realiza sua primeira expedição missionária. Entre 50 e 62, 
Paulo se retira para o deserto e escreve suas epístolas, 13 das quais conseguiram 
sobreviver. Tornou-se um dos principais difusores do Cristianismo, principalmente 
entre os gentios. Suas cartas formaram uma seção fundamental do Novo Testamento. 
Em 58, Paulo é preso em Jerusalém e enviado para Roma, onde seria julgado 
por um tribunal de César. Salvo em um naufrágio, permanece em prisão domiciliar. 
Em 67, é novamente preso e decapitado nos arredores de Roma. Paulo pregar contra 
a circuncisão, contra as restrições alimentares e contra os requerimentos da Torá e 
isto provocou o rompimento final com os judeus. Paulo causou um alvoroço ao 
aparecer no Templo e somente escapou da morte por ter sido preso. Ele foi então 
mantido prisioneiro por dois anos em Cesareia até que um novo governador reabrisse 
seu caso em 59. Quando Paulo foi acusado de traição apelou ao César, alegando 
seu direito, como cidadão romano, de ser levado a um tribunal apropriado e de se 
defenderdas acusações. 
 
11.2. MOMENTO HISTÓRICO 
Viveu na época do Império Romano, que foi uma das mais fortes potências 
económicas, políticas e militares do seu tempo. No apogeu da sua extensão territorial 
exercia autoridade sobre mais de cinco milhões de quilómetros quadrados e uma 
população de mais de 70 milhões de pessoas, à época 21% da população mundial. A 
longevidade e extensão do império proporcionaram uma vasta influência na língua, 
cultura, religião, técnicas, arquitetura, filosofia, lei e formas de governo dos estados 
que lhe sucederam. 
 
11.3. PRINCIPAIS OBRAS 
Quatorze epístolas do Novo Testamento são atribuídas a Paulo, das quais sete 
têm a autoria quase que universalmente aceita, enquanto que as outras sete são 
disputadas: Efésios, Colossenses, 2 Tessalonicenses, 1 Timóteo, Tito e Hebreus. 
Destas, quatro são consideradas como sendo de outro autor que não Paulo por razões 
textuais e gramaticais, enquanto que as outras três são disputadas por alguns 
acadêmicos. Paulo aparentemente ditou todas as suas epístolas (exceto Gálatas) 
através de um secretário (ou amanuense), que geralmente parafraseava o tom de sua 
mensagem, como era a prática entre os escribas do século I. Estas epístolas 
circularam entre as comunidades cristãs e eram lidas em público por membros da 
igreja, juntamente com outras obras. Elas foram citadas ainda no século I, por volta 
de 96, por Clemente de Roma em sua epístola Clemente aos Coríntios. 
 
→EPÍSTOLA AOS ROMANOS – geralmente referida apenas como Romanos, é o 
sexto livro do Novo Testamento. Os estudiosos da Bíblia concordam que ela foi escrita 
pelo apóstolo Paulo aos romanos para explicar como a salvação é oferecida por meio 
do Evangelho de Jesus Cristo. É a primeira e a mais longa das Epístolas Paulinas, e 
é considerada a epístola com o "mais importante legado teológico". 
 
→EPÍSTOLA AOS GÁLATAS – geralmente referida apenas como Gálatas, é o nono 
livro do Novo Testamento da Bíblia, e provavelmente uma das primeiras cartas que o 
apóstolo Paulo redigiu aos cristãos. Era endereçada inicialmente às igrejas da 
Galácia, uma região que na época era habitada por um grupo étnico de origem celta, 
localizada na atual Anatólia. Seu propósito era combater os "judaizantes" (judeus que 
afirmam que os gentios para serem salvos, tinham que ser circuncidados e guardar 
todas as leis de Moisés). A epístola é uma defesa da doutrina da justificação pela fé, 
contém advertências contra a reversão ao judaísmo e onde há a reivindicação do 
apostolado de Paulo. 
 
11.4. JUSTIÇA 
Sua afirmação mais importante sobre o poder se encontra na Epístola aos 
romanos. Nela, Paulo reconhece a justiça a partir de uma visão distinta daquela da 
filosofia grega. O homem justo não é o que age com justiça, e sim aquele que está 
sob a graça de Deus. A fé e a palavra de Deus estão acima da lei humana e dos atos. 
Para o apóstolo, a noção de justiça não se achava aprisionada na lei positiva, 
pois homem justo não se fazia pela observância da lei, mas pela fé na orientação do 
Redentor. Ao mesmo tempo em que valorizava o poder da fé e do amor, o apóstolo 
situava a lei em plano inferior, pois esta representava a carne, ou seja, o pecado, a 
morte, tudo aquilo que o fundador do cristianismo procurara redimir. A lei positiva 
deveria ser superada pela fé e pelo amor. As reflexões sobre a lei encontram -se 
principalmente na Epístola aos Romanos, onde foi abordada em quatro dimensões: 
lei divina ou eterna, lei da razão ou natural, lei positiva e lei do pecado. 
 
11.5. POLITICA 
Na Epístola aos Romanos explicita-se a ideia que o poder é oriundo de Deus, 
e que não está originalmente nas mãos dos homens, em sociedade, a discussão sobre 
o mando, o governo, o justo e o injusto. Para Paulo de Tarso, a autoridade superior 
deve ser reconhecida por todo homem, que lhe deve obediência: “Todo homem esteja 
sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de 
Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele 
que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre 
si mesmos condenação”. Paulo de Tarso, assim sendo, instaura, para o cristianismo, 
a noção da submissão à autoridade, o que ocasionará, para o direito medieval, um 
efeito altamente conservador. Não se trata mais de discutir o bom governo, a justa 
ação do soberano, aquilo que é melhor ou pior para a sociedade. Ao contrário de 
Aristóteles, para quem o bom regime de governo é aquele que faz o bem a todos, para 
Paulo de Tarso não há que se pensar em um agir político buscando o justo. A 
submissão aos poderosos, escolhidos por Deus, é o sinal dessa nova justiça. 
 
12. FILOSOFIA DE SANTO AGOSTINHO 
12.1. SANTO AGOSTINHO 
Agostinho de Hipona (em latim: Aurelius Augustinus 
Hipponensis), conhecido universalmente como Santo Agostinho, 
Nascido em Tagaste, no dia 13 de novembro de 354 (atual Souk-
Ahras, Argélia localizada a 90 km do Mediterrâneo), próximo a 
Hipona, na época províncias romanas do norte da África, Aurelius 
Augustinus era descendente de berberes por parte de pai e mãe, 
contudo essa última se convertera ao catolicismo, enquanto o pai 
permaneceu pagão. 
Aos onze anos de idade, foi estudar na ‘Escola de Madaura’, onde teve contato 
com a literatura latina e com práticas e crenças pagãs. Posteriormente, foi para 
Cartago, de modo a prosseguir seus aprendizados em retórica. Mas em 383, mudou-
se para Roma, onde abriu sua própria escola, até ser nomeado ‘Professor de Retórica 
Imperial’ para o tribunal provincial em Milão, em 384. É neste momento que, enquanto 
filósofo, irá se afastar do maniqueísmo, pendendo agora ao Neoplatonismo. Após, 
sofre uma crise espiritual em 386 - Augustinus vivia como um romano pagão -, ao ler 
a vida de António do Deserto, de Atanásio de Alexandria, Agostinho decide se 
converter ao cristianismo católico e abandonar toda sua antiga vida de conforto e 
hedonismo para servir a Deus. Assim, foi batizado no ano seguinte, por ninguém 
menos que Santo Ambrósio (340-397), durante a vigília da Páscoa, na cidade de 
Milão. Posteriormente, retorna à África, onde liquida seus bens e divide-o entre os 
pobres, exceto pelo patrimônio utilizado para formar a ordem agostiniana em Tagasta, 
no ano de 387. Foi ordenado padre em Hiponana, na Argélia, em 391. Nesse pequeno 
porto do Mediterrâneo, Agostinho foi Bispo Coadjunto, até ser nomeado bispo, em 
397, quando passou a encarregar-se da missa diária duas vezes por dia, bem como 
da administração dos bens da Igreja e das questões de justiça local. Assim foi até sua 
morte, em 430, quando deixou-nos, como legado, 113 obras escritas, entre tratados 
filosóficos, teológicos, comentários de escritos da Bíblia, sermões e cartas. Agostinho 
foi canonizado por aclamação popular e foi depois reconhecido como Doutor da Igreja 
em 1298 pelo papa Bonifácio VIII. 
 
12.2. MOMENTO HISTÓRICO 
Agostinho vivenciou os últimos anos do Império Romano. Compreendeu essa 
decadência como a mão de Deus castigando os homens da cidade terrena e 
anunciando o triunfo do cristianismo. Este pensador tornou-se mestre em retórica e, 
segundo relata em suas Confissões, a leitura de um determinado diálogo de Cícero, 
Hortensius, que exprime um verdadeiro elogio à filosofia, o despertou para os estudos 
filosóficos. 
 
12.3. PRINCIPAIS OBRAS 
Agostinho foi um dos mais prolíficos autores latinos em termos de obras 
sobreviventes e a lista de seus trabalhos tem mais de cem títulos diferentes.[127] 
Entre eles estão obras apologéticas contra as heresias dos arianos, donatistas, 
maniqueístas e pelagianos; textos sobre a doutrina cristã, principalmente "DeDoctrina 
Christiana" ("Sobre a Doutrina Cristã"); obras exegéticas como comentários sobre o 
Gênesis, os Salmos e a carta de Paulo aos Romanos; diversos sermões e cartas; e 
uma "Retractationes", uma revisão de suas primeiras obras escrita no final de sua 
vida. Além destas, Agostinho é também bastante conhecido por suas "Confissões", 
que é um relato pessoal de seus primeiros anos, e pela "Cidade de Deus" (De Civitate 
Dei; em 22 livros), que ele escreveu para restaurar a confiança aos seus 
companheiros cristãos abalados pelo saque de Roma pelos visigodos em 410. 
 
→CONFISSÕES – é o título de um livro autobiográfico escrito por Agostinho de 
Hipona, no qual relata a sua vida antes de se tornar cristão e sua conversão. 
Comentando sua própria obra, Agostinho diz que a palavra confissões, mais que 
confessar pecados, significa adorar a Deus. É, portanto, um hino de louvor. Em As 
Confissões, hino de louvor a Deus e autorretrato espiritual, Agostinho considera que 
a verdadeira justiça interior não adota o costume como parâmetro, mas a lei divina, 
que seria a fonte legítima do costume. Fundado na lei retíssima de Deus onipotente, 
o costume se formaria de acordo com os países e tempos. Essa lei seria universal e 
imutável, não obstante a variação de latitudes e épocas. O texto agostiniano sugere 
uma contradição, pois ao mesmo tempo em que preconiza a mutabilidade do costume 
em razão do tempo e lugar, retrata a lei-fonte como imutável. Na realidade a 
contradição estaria apenas na aparência, pois a lei divina, consubstanciando-se em 
princípio, pode oferecer um leque de modelos que se diversificam de acordo com a 
policromia social. 
 
→A CIDADE DE DEUS – é obra de Santo Agostinho, onde descreve o mundo, dividido 
entre o dos homens (o mundo terreno) e o dos céus (o mundo espiritual). Teria sido a 
obra preferida do imperador Carlos Magno. Uma das criações mais representativas 
do gênero humano. A propósito da filosofia ou teologia da História, trata dos mais 
variados e complexos assuntos que sempre apaixonaram e torturaram o espírito 
humano: da origem e substancialidade do bem e do mal, do pecado, das culpa e da 
morte, do direito, da lei e das penas, do tempo e do espaço, da contingência e da 
necessidade, da Providência, da ação humana e do destino no desenvolvimento da 
História: do ser, do conhecer e do agir do homem, de Deus, da natureza e do espírito, 
da temporalidade, do eterno, da perenidade e dos ciclos cósmicos, da profecia e do 
mistério como argumento apologético, da pessoa, da cidade e da comunidade 
humana. 
 
12.4. JUSTIÇA 
A justiça, para Santo Agostinho, não se vê no costume, isto é, nas ações do 
homem na Terra. Vê-se na lei de Deus. E, assim sendo, não é mensurável pelos atos, 
mas apenas pela boca de Deus. É somente assim que se sabe que Abraão e Davi 
foram justos. Para Agostinho, ao contrário da tradição jurídica clássica, não é possível 
mensurar os atos justos. Chega-se mesmo a considerar uma presunção a busca do 
justo pelas próprias atitudes do homem. O justo é uma graça divina. 
Também Agostinho opera um afastamento da tradição clássica ao tratar da 
justiça agora como lei retíssima e eterna. Sendo expressão divina, a lei é imutável, e 
seus conteúdos de justiça e injustiça são os mesmos para todos os povos e tempos 
Características da justiça em Santo Agostinho: (1) a justiça decorre das graças 
de deus e (2) impossibilidade de mensurar a justiça, ou seja, o homem médio possui 
essa impossibilidade. 
 
 
12.5. LEI 
Em seu estudo sobre as leis, o filósofo buscou inspiração em fontes estoicas e 
ainda em São Paulo. A lex aeterna, todavia, foi concebida diferentemente dos 
estoicos. Enquanto para estes ela seria a própria ordem do universo, para Agostinho 
consistia na determinação divina para a conservação da ordem natural e o 
consequente impedimento de sua violação: “Ratio vel voluntas Dei, ordinem naturalem 
servari iubens, et perturbari vetans.” A prescrição emanava-se da razão ou vontade 
divina sem qualquer embaraço, porque razão e vontade seriam homogêneas, de vez 
que tudo em Deus se ria perfeição. A lei eterna seria universal e imutável, além de 
inacessível diretamente ao conhecimento humano, exceto por intermédio da lei 
natural, que seria o seu reflexo. A lei natural, a exemplo do pensamento pauliano, 
estaria inscrita no coração dos homens. A consciência humana apenas revelaria as 
regras impressas nos corações. A lei humana ou terrena seria a própria lei eterna 
adaptada pelo legislador à realidade concreta. Ela seria uma tarefa da lei eterna por 
intermédio da lei natural. A causa final da lei humana seria a ordem, definida como “a 
disposição de coisas iguais e desiguais, dando-se a cada uma o lugar que lhe 
corresponde” 
 
12.6. POLITICA 
As reflexões sobre o Direito e o Estado acham-se fundamentalmente na obra 
De Civita te Dei, onde Agostinho revela que a sociedade humana, antes do pecado 
original, passara por uma fase de esplendor com o pleno acatamento do Direito 
Natural, quando todos os homens eram iguais, puros, imortais e viviam como irmãos. 
Era a Cidade de Deus. Com a queda do homem surgiu a Cidade Terrena e com ela a 
miséria, a morte, a paixão. Em decorrência da nova condição humana, em um 
processo de adaptação foram criados o Estado, o Direito e suas instituições. O papel 
do Estado seria o de prover a paz. Agostinho subordinava o Estado à Igreja e pensava 
que a lei terrena fosse condicionada pela lex aeterna, e quando houvesse conflito 
entre ambas seria forçoso que esta prevalecesse, porque hierarquicamente superior. 
A Cidade de Deus, que já existia parcialmente na terra, um dia substituiria inteiramente 
a Cidade Terrena, com o retorno dos homens àquela idade áurea primitiva. 
 
 
 
13. SÃO TOMÁS DE AQUINO (1225 – 1274) 
13.1. BIOGRAFIA 
Tomás de Aquino nasceu em 1225, em Aquino, uma comuna 
italiana, no Castelo de Roccasecca. Filho do Conde Landulf de 
Aquino, teve uma influente e apropriada educação; estudou na 
abadia de Roccasecca, no Mosteiro da Ordem de São Bento de 
Cassino. Mais tarde, ingressou na Universidade de Nápoles, na 
Cátedra “Artes Liberais”. Com apenas 19 anos, em 1244, 
abandona o curso e decide seguir sua vocação religiosa 
tornando-se dominicano, ao ingressar na Ordem dos Dominicanos, no convento Saint 
Jacques, em Paris. Permaneceu alguns anos em Paris, cidade importante para seu 
desenvolvimento espiritual, intelectual e profissional. Foi discípulo do bispo, filósofo e 
teólogo alemão Santo Alberto Magno (1206 d.C-1280 d.C.), conhecido como Alberto, 
o grande. Mais tarde, em 1252, Tomás de Aquino retorna à Paris donde se gradua em 
Teologia e seguindo a carreira de professor. Ademais, ministrou aulas em Roma, 
Nápoles e outras cidades da Itália. Ficou conhecido como Doutor Angélico, cujo 
trabalho de vida esteve dedicado a fé, a esperança e a caridade constituindo assim, 
um pregador cristão da razão e da prudência. Foi um dos defensores da Escolástica, 
método dialético que pretendia unir a fé a razão em prol do crescimento humano. 
Faleceu na cidade de Fossanova, Itália, no dia 7 de março de 1274, com apenas 49 
anos de idade. 
 
13.2. MOMENTO HISTÓRICO 
Tomás de Aquino viveu no século XIII, um período marcado socialmente por 
muitas transformações, como a crise do sistema feudal, que foi fortemente marcado 
por três grandes episódios simultâneos: a grande fome gerada em função de períodos 
de rigoroso inverno e pela estagnação da terra, a peste negra, que exterminou 
milhares de pessoas e por fim as sucessivas guerras europeias fomentadas pela igreja 
e pela nobreza, em função de expandir seus territórios. O modelo teocrático propostopor Agostinho (clero / nobreza / escravos) estava se diluindo em função do surgimento 
da classe dos burgueses e do êxodo rural para os grandes centros urbanos. Por outro 
lado, esse século também ficou marcado como o século de ouro da idade média, onde 
a civilização europeia medieval, atingiu pontos culminantes nos campos das artes, 
literatura, política, filosofia e teologia. O que distingue o pensamento dos homens 
deste tempo, é a tentativa de se buscar um perfeito equilíbrio entre a fé e a razão, 
entre a autonomia do homem e a sua mais rígida submissão à Deus. Esses traços se 
manifestam em especial na pessoa de Tomás de Aquino, considerado uma das figuras 
mais influentes deste período, e sem dúvida um dos maiores filósofos e teólogos de 
todos os tempos. 
 
13.3. OBRAS 
Tomás de Aquino foi grande estudioso e ávido escritor nas áreas da filosofia, 
metafísica, física, teologia, ética e política. Algumas de suas obras: Suma Contra os 
Gentios, Suma Teológica, Exposição sobre o Credo. 
Suma Contra os 
Gentios, 
 
Na Suma contra os Gentios faz uma exposição 
completa da religião católica, identificando o que há de 
verdade nela. Gentios eram os pagãos e os 
maometanos. Essa suma trata de Deus e suas obras, 
da fé no mistério da santíssima Trindade, da 
encarnação, dos sacramentos e da vida eterna. Deus é 
a verdade pura, sem falsidade vontade que existe em 
si e para si e neste processo estende sua vontade para 
o que não é a sua essência. O que não é sua essência 
seriam só as coisas percebidas, pois Deus é tudo. Não 
tem ódio, não quer o mal, sua potência indica-se com a 
sua ação, mas ele não pode tudo. Santo Tomás de 
Aquino faz a distinção entre a filosofia e teologia. E as 
criaturas não existem desde sempre. Ele descreve o 
momento em que se inicia uma vida, quando mostra 
como a alma se junta ao corpo. É uma grande obra, que 
influenciou e influencia até hoje todos os que se querem 
católicos, além de filósofos e outros estudiosos. Os três 
primeiros livros são dedicados às verdades acessíveis 
à razão: o livro I trata de Deus em si mesmo; o II, de 
sua ação transitiva na criação; o III mostra como todas 
as coisas criadas têm seu fim em Deus. O quarto livro 
reúne somente as verdades conhecidas mediante a 
revelação e pode ser visto como espelho da estrutura 
básica dos livros I-III: Deus em si mesmo (a trindade), 
em sua ação transitiva (encarnação e sacramentos) e 
como fim de todas as coisas (a ressurreição). Na Suma 
Contra os Gentios, São Tomás de Aquino explica que 
há três modos pelos quais o homem pode conhecer às 
coisas divinas. “O primeiro, enquanto o homem 
mediante a luz natural da razão e pelas criaturas sobe 
até o conhecimento de Deus; o segundo, enquanto a 
verdade divina que excede o intelecto humano, desce 
até nós pela revelação, não para ser vista como por 
demonstração, mas para ser crida como pronunciada 
por palavras; o terceiro, enquanto a mente humana é 
elevada à perfeita intuição das coisas reveladas”. 
 
Suma Teológica 
Santo Tomás de Aquino escreveu sua Suma Teológica 
entre 1265 e 1273, com o modesto propósito de fazer 
uma apresentação sucinta da doutrina sagrada aos 
iniciantes em Teologia. Nesse livro, resume-se o 
extrato mais importante das preocupações filosóficas e 
teológicas da Idade Média. Sua envergadura é muito 
grande, lembrando também, nesse sentido, a amplitude 
da própria investigação aristotélica. 
O Ente e a Essência 
Escrita entre os anos de 1252 e 1253. Aborda questões 
metafísicas, explicando o percurso da consciência 
humana entre a sensação e a concepção. No Ente e a 
Essência, ele comenta obras como a Física e a 
Metafísica. E as observações sobre Aristóteles vão 
permanecer em todas as suas obras. Além dessa 
influência podemos citar os padres da Igreja, o pseudo-
dioníseo (mais cultura grega), Boécio e os árabes e 
judeus como influência. Tomás de Aquino afirma que 
podemos conhecer Deus pelos seus efeitos, ele é o 
último em uma escala evolutiva, a causa de todas as 
coisas. Antes de Deus vem os anjos, e antes desses, 
os homens. Ele comenta o gênero e a espécie, que 
pertencem à essência, pois o todo está no indivíduo. 
 
O trabalho de São Tomás de Aquino alia, à exegese atenta das obras de 
Aristóteles, uma ligação direta à teologia ortodoxa. Além disso, no que tange ao 
método, Tomás é um expoente da escolástica. Tal escola de filosofia e teologia, no 
mundo medieval, representou um método particular de leitura, compreensão e 
exposição dos textos sagrados e das obras que gozavam de reputação e autoridade. 
Tomás de Aquino se vale dessa grande tradição passada como meio de 
argumentação. 
 
13.4. FÉ E RAZÃO 
Num ambiente intelectual dominado pelo agostinianismo, Tomás de Aquino 
representou uma grande novidade intelectual. Para Agostinho, a fé é o meio 
fundamental de acesso à virtude e ao justo. Num contexto filosófico neoplatônico, 
somado à visão hebraica do pecado original, a Terra era o ambiente da corrupção dos 
valores e atos do homem, e a plenitude da virtude somente era posta em Deus. Tomás 
de Aquino, tendo em vista a tradição aristotélica das virtudes como atos do homem 
para com os outros, dá um passo em direção à atenuação da dicotomia entre fé e 
razão, consolidada já há muito no pensamento cristão. Se para Agostinho a razão era 
um substrato menor no concerto da salvação, sempre ofuscado pela fé e pela graça, 
para Tomás os atos e a razão passam a ter papel relevante. Agostinho não deixava 
margem à ação política e social dos homens, na medida em que lia o pecado original 
com tintas muito carregadas. Para ele, o homem, pecador por natureza, estava eivado 
de um vício mortal. Tomás de Aquino, reabilitando os atos, considera o pecado original 
não uma morte, mas sim uma doença, da qual se pode conseguir cura. Assim sendo, 
os homens não estão necessariamente condenados a produzir injustiça na vida 
terrena. Podem, ainda que decaídos pelo pecado original de Adão e Eva, se soerguer 
tanto pela graça quanto pelos atos bons e justos. 
 
13.5. SINDÉRESE 
A sua filosofia denominou a razão prática de sinderese ou sinderesis que 
poderá ser entendida como um conjunto de conhecimentos conquistados a partir da 
experiência habitual. Partindo dessa experiência podemos cunhar os principais 
conceitos acerca do que é bom ou mal; justo ou injusto. 
Eduardo Bittar, esclarece, que a ética incide sobre o agir (individual, família, 
social...), ou seja, sobre a razão pratica. Na filosofia tomista, esse conceito encontra-
se sob a denominação de sinderese (sinderesis), conjunto de conhecimentos 
extraídos da vivencia, da pratica, que se podem cunhar os principais conceitos acerca 
do que é bom e do que é mau, do que é justo e do que é injusto. A sinderese atua, 
para o ser agente, de modo que estabeleça o fim da razão pratica, ou seja, o Bem. 
Nesse quadro, o mal só encontra lugar como bem parente, ou seja, elege-se um mal 
como fim somente julgando-se equivocadamente que se trata de um bem (mal = 
aparência de bem). O mal, portanto, na teoria tomista, não é fim de uma ação, pois o 
mal representa somente a simples privação do bem. Em verdade, Santo Tomás de 
Aquino nega uma ontologia ao mal, fazendo deste um estado de ignorância do 
Verdadeiro Bem, este sim fim de toda ação. Continua, Bittar, dizendo que todo o 
conjunto de experiencias sindereticas, ou seja, de experiencias hauridas pela pratica 
da ação, é capaz de forma um grupo de princípios, de conceitos, que permitem a 
decisão por hábitos (bons, maus; justos, injustos...). Isso quer dizer que os hábitos 
não são inatos, mas conquistados a partir da experiencia, é esta a base das operações 
da razão pratica. O primeiro princípio da razão pratica é fazer o bem e evitar o mau. 
13.6.ÉTICA E JUSTIÇA 
A ética exige o sentido de justiça no âmbito das relações entre homens. Tomás 
de Aquino apresenta o seu conceito de justiça a partir do seu conceito de ethos. 
Encontramos ecos do pensamento aristotélico que concebia a justiça como uma 
virtude e o conceito romano de justiça como vontade perene de dar a cada um o que 
é seu, segundo uma razão geométrica. A justiça é uma virtude, ou seja, o meio entre 
excesso e carência. Tomás de Aquino afirma expressamente que justiça é dar a cada 
um o que é seu. A igualdade que figura nesta definição de justiça é uma igualdade 
entre pessoas. Justiça é um hábito que se desvela nas atitudes ou comportamentos 
dos homens. A lei positivada é importante no sentido de que conduz o homem ao 
caminho virtuoso do Bem Comum e torna a convivência social pacífica. 
Segundo Eduardo Bittar, a atividade ética consiste em, por meio da razão 
pratica, discernir o mal do bem e executar o escolhido mediante a vontade, 
destinando-se atos e comportamentos para determinado fim, que é o bem. A 
sociedade civil carece de ética, uma vez que o próprio convívio dos seres racionais já 
representa uma eleição de um fim (bem comum) e dos meios (sociedade civil) para o 
alcance desse fim, é a razão pratica que indica o caminho para o convívio social. 
Pode-se dizer, então, que razão (ratio) e experiencia (habitus) caminham de 
braços dados, tudo no sentido de se dizer que a justiça, em particular, consiste em 
dar a cada um o que é seu, nem a mais do que é devido ao outro, e nem a menos. 
 
13.7. LIBERDADE 
A liberdade consiste na possibilidade humana de escolha entre inúmeros 
valores que se apresentam como aptos a realização de um bem; valores 
diametralmente opostos candidatam-se a oferecer maior felicidade, se perseguidos. 
Assim, a possibilidade de escolha deita-se sobre a verdade real (aquilo que realmente 
é um bem) ou a verdade aparente (aquilo que parece ser um bem), o que comprova 
a existência de um livre arbítrio, ou seja, da capacidade de julgar aquilo que é certo e 
aquilo que é errado, aquilo que é justo e aquilo que é injusto. 
 
13.8. DIREITO 
O direito é objeto da justiça, e o estudo do tema da justiça na teoria de St. 
Tomas de Aquino, deve ser ladeado do estudo do direito. O direito tem a ver com a 
justiça, a medida que é assim chamado porque é justo. O direito não é a justiça, maior 
das virtudes, mas busca a realização da justiça. 
O direito natural, que pela experiencia natural o homem conhece, é insuficiente, 
necessitando de leis positivas complementares, leis que tornam concreto o que na 
natureza reside; essas acompanham as variações da natureza humana, suas 
imperfeiçoes e as contingências oriundas da limitação do saber racional. O direito 
positivo, se adequado ao direito natural, é um beneficio para a comunidade civil, mas 
se estiver baseado na perversão da reta razão, sendo-lhe uma corruptela, um 
desvirtuamento, um conjunto de regras de autoridade que servem a um ou a poucos, 
perdera sua força coativa dada pela natureza, preservando somente a que lhe é dada 
por convenção. 
 
13.9. TIPOS DE LEI 
A lei, para São Tomás, é uma regra e uma medida dos atos humanos. É um 
princípio que orienta o homem e a natureza, e, por orientar, é passível de 
compreensão pela razão humana. No pensamento tomista, somente se considera lei 
aquela ordenação que visa ao bem comum. Diferentemente dos modernos, para os 
quais basta a validade formal estatal para que uma lei seja assim considerada, e em 
consonância com o pensamento dos clássicos, em Tomás de Aquino uma lei que não 
é voltada ao bem comum não é lei: Portanto, é necessário que, dado que a lei se 
nomeia maximamente segundo a ordenação ao bem comum, qualquer outro preceito 
sobre uma obra particular não tenha razão de lei a não ser segundo a ordenação ao 
bem comum. E assim toda lei ordena-se ao bem comum. 
 
A. LEI ETERNA 
É a razão divina, transcendente, que governa o mundo, e da lei divina, que é a 
regra de Deus anunciada aos homens por meio da revelação. A lei eterna é 
praticamente ininteligível ao homem, na medida em que é da razão divina, e o homem 
é a ela subordinado. A lei divina é um mandamento revelado ao homem, que o alcança 
por meio da fé. Tomados de longe, a lei eterna e a lei divina podem ser compreendidas 
num bloco, na medida em que ambas se distinguem das leis naturais e das leis 
humanas. A lei divina se manifesta como direcionamento moral e jurídico aos homens, 
e sua diretiva é dada por Deus no Antigo Testamento e no Novo Testamento. 
 
B. LEI NATURAL 
Ao lado desse bloco das leis eternas e divinas, inalcançáveis pela razão 
humana, há uma lei que se comunica com os homens a partir da própria existência 
natural destes. É a lei natural. Ela se verifica na natureza, que é obra de Deus, mas 
que é inteligível à razão humana. A lei natural é divina pela sua origem, mas passível 
de compreensão pelo homem. 
A lei natural é considerada, para São Tomás, como uma participação da lei 
eterna na criatura racional. Se ela é dada pela razão, mensurável pela natureza, a lei 
natural não é conhecida apenas pelos crentes. Qualquer ser humano, pela sua 
participação na natureza, dela pode extrair a lei natural. Ela também fala aos pagãos, 
e é então por meio dessa lei natural que o que não conhece a fé pode agir no sentido 
de sua salvação. A lei natural, por se encerrar na natureza, atinge tanto aos homens 
quanto aos animais. Nestes, a inclinação à lei natural advém do instinto. Nos homens, 
na sua parte animal, também o instinto inclina à lei natural. Mas, além disso, há nos 
homens uma inclinação racional à lei natural. Por isso ela é superiormente alcançada 
pela razão, e o homem se posiciona em relação à lei natural a partir de sua liberdade, 
porque não só pelo instinto se volta a ela. 
As características da lei natural são: 1) racionalidade – porque extraída da 
experiencia, isso aplica-se apenas ao homem, exemplo, não matar o outro. 2) 
rudimentar – porque decorre da experiencia. 3) incompleta – depende da 
complementação da lei humana/positivada convencionada para reger as relações 
sociais, para são tomas de Aquino, a lei convencionada é necessária pois a lei natural 
e incompleta. 
 
C. LEI HUMANA OU POSITIVADA 
Ela não é, necessariamente, algo injusto e corruptível, como o foi na visão 
agostiniana. O homem, embebido da fé e da razão da lei natural, pode confeccionar 
leis racionais, que, portanto, auxiliarão no bem comum, na paz e na virtude. Assim, é 
convencionada para reger as relações sociais se for de encontro a lei eterna fica 
descaracterizada. O legislador antecipa os fatos e o juiz atua na emergência. 
 
13.10. JUSTIÇA COMUTATIVA X JUSTIÇA DISTRIBUTIVA 
Foi pequena a contribuição de Tomás de Aquino à teoria da justiça, pois 
acompanhou quase integralmente a doutrina aristotélica, não superada até hoje. A 
sua definição de justiça é um decalque à de Ulpiano, com breve correção: “Hábito pelo 
qual, com perpétua e constante vontade, se dá a cada um o que é seu.” O Estagirita 
havia classificado a justiça em distributiva e corretiva, subdividida está em comutativa 
e judicial. O Aquinense suprimiu esta última e desconsiderou a corretiva, porquanto 
não apresentaria mais do que uma espécie. Acrescentou à classificação, como seu 
principal subsídio à teoria, a denominada justiça geral ou legal. 
▪ A distributiva – est ordo totius ad partes – presidiria a repartição, 
pela coletividade, de honras e encargos aos indivíduos, observando-se 
o critério de proporcionalidade em função, respectivamente, da virtude e 
da capacidade. 
▪ A comutativa – est ordo partis ad partem – seria a justiça entre os 
particularesque, envolvendo os indivíduos, implicava a igualdade estrita 
entre o quinhão entregue e o recebido. 
 
13.11. REGIME DE LEIS X REGIME DOS HOMENS 
St. Tomas de Aquino, optar pelo regime das leis. Analisando a conveniência 
de a lei ser abrangente e tudo regular, impedindo o arbítrio dos juízes, concordou com 
a proposição sob tríplice fundamento: a) porque seria mais simples localizar poucos 
homens importantes que fizessem leis sábias do que encontrar muitos homens que 
julgassem sabiamente; b) o fato de o legislador refletir sobre muitas hipóteses 
favoreceria mais o acerto no critério do que a situação do magistrado, que apenas 
examina um caso; c) a condição do legislador seria a de imparcialidade, pois 
estabelece normas para o futuro, enquanto os juízes decidem sobre fatos concretos e 
muitas vezes movidos por paixão. 
 
13.12. JULGAMENTO X JULGADOR 
A atividade do juiz consiste na efetivação da justiça; é ele dito a justiça 
encarnada, ou a justiça viva, não por outro motivo. No pensamento tomista, há que 
ser considerado o fato de que o ato de julgar é um ato de individualização da lei; no 
julgamento, portanto, deve estar presente o mesmo conteúdo de coação que aquele 
presente na lei. O ato por meio do qual o juiz decide aplicando justiça chama-se 
julgamento; é licito ao juiz exerce-lo na medida e nos limites de seu poder. O ato de 
julga é ilícito aqueles que não estão revestidos de poder para tanto. Ai há uma 
atividade recriminável. O juizo ou julgamento é o ato por meio do qual se estabelece 
o que é justo ou direito. 
O condenado por uma sentença de morte, por sua vez, pode insurgir-se sem 
cometer inflação a lei divina, se injustamente julgado e sentenciado; caso contrário, 
se quiser insurgir-se contra uma sentença de morte produzida de acordo com o que é 
justo e regular, seu ato será pura e recriminável rebeldia a lei humana. Portanto, o 
desrespeito ao julgador fica autorizado somente na hipótese de decisão injusta. 
 
13.13. JUSTO X INJUSTO 
Para Tomás de Aquino somente seria lei o preceito substancialmente justo e 
justo seria sempre que acorde com a razão. Como está se apoia na natureza, toda lei 
criada pelos homens teria natureza de lei se em consonância com a lei natural. Em 
resumo, a lei seria justa se não contrariasse a natureza. As leis injustas, que não 
seriam leis, mas uma corrupção, não se impunham no plano da consciência e 
deveriam ser cumpridas apenas em situação excepcional, como nas hipóteses de 
escândalo ou perturbação. Todavia, as leis que contrariam a lei divina não devem se 
r observa das, porque “importa obedecer antes a Deus do que aos homens”. 
 
13.14. APLICAÇÃO DA JUSTIÇA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA DO DIREITO NA IDADE MODERNA 
A filosofia do direito da Idade Moderna se estende por períodos cruciais e muito 
distintos entre si, que vão dos séculos XV ao XVIII. Na verdade, não se pode tratar 
todo esse período como tendo as mesmas características jusfilosóficas. Ao menos 
três grandes movimentos de filosofia política e filosofia do direito são identificados 
nessas épocas: o Renascimento, nos seus tempos iniciais, o Absolutismo, que se 
forma a partir do século XVI, e o Iluminismo, que tem seu início no século XVII e seu 
esplendor no século XVIII. 
 
1. RENASCIMENTO 
1.1. CONCEITO 
O termo Renascimento significa um movimento intelectual que se iniciou por 
volta do final do século XV. O objetivo perseguido por esses intelectuais era 
abandonar as idéias medievais, para um retorno à Antiguidade clássica. Trata-se de 
uma época de grande crise da consciência europeia, devastada por inúmeras 
dissensões e uma esplêndida florescência do humanismo, ou seja, o estudo da cultura 
greco-romana, a exaltação do homem, a valorização da razão e da liberdade. 
Observa-se, portanto, que nesta fase ressurge um interesse pela pesquisa natural, na 
qual a observação assume papel fundamental. Surgem cientistas e filósofos que 
revisitaram as questões medievais, a partir de uma nova ótica. 
 
1.2. TEÓRICOS 
Este é o século de Shakespeare, Dante, Bocaccio, Cervantes, Tomas Morus, 
Camões, Erasmo de Rotterdam, Maquiavel, Michelangelo, Leonardo Da Vinci, Galileu 
Galilei, Kepler e tantos outros. Durante essa fase muitos precursores da ciência 
sofreram nos Tribunais da Inquisição, órgão da Igreja encarregado de descobrir e 
julgar os hereges. Foi um momento em que o homem perdeu suas certezas e 
verdades, afinal, a Terra não era mais o centro do universo, o céu não era finito e o 
homem deixava de ser criatura miserável. 
 
 
 
 
2. ABSOLUTISMO 
2.1. CONCEITO 
O Absolutismo representa uma solução político-jurídica original lastreada em 
uma longa trajetória de apoio filosófico. A noção de que o poder humano é derivado 
do poder divino volta à carga. Tal teoria, na Idade Média, serviu como respaldo do 
poder do senhor feudal. Agora, servirá ao poder dos reis. Ao contrário dos 
renascentistas, para quem a preocupação era com a explicação humana e social do 
poder, o Absolutismo parte de uma teoria da legitimação do poder real por meio 
teológico. O monarca soberano, por essa teoria, tem dois corpos, um secular, 
humano, e outro teológico, divino. 
 
2.2. TEÓRICOS 
Os teóricos de relevo associados ao absolutismo incluem autores como Nicolau 
Maquiavel, Jean Bodin, Jacques-Bénigne Bossuet e Thomas Hobbes. Esta ideia tem 
sido algumas vezes confundida com a doutrina do Direito Divino dos Reis, que 
defende que a autoridade do governante emana diretamente de Deus, e que não 
podem ser depostos a não ser por Deus, defendido por alguns absolutistas como Jean 
Bodin e Jacques Bossuet. 
DURANTE OS SÉCULOS XVI E XVII, DIVERSOS PENSADORES BUSCARAM 
JUSTIFICAR O PODER ABSOLUTO DOS MONARCAS 
Nicolau Maquiavel 
A principal obra de Nicolau Maquiavel, O príncipe, escrita 
para responder a um questionamento a respeito da origem e 
da manutenção do poder, influenciou os monarcas europeus, 
que a utilizaram para a defesa do absolutismo. Maquiavel 
defendia o Estado como um fim em si mesmo, afirmando que 
os soberanos poderiam utilizar-se de todos os meios - 
considerados lícitos ou não - que garantissem a conquista e 
a continuidade do seu poder. As ações do Estado são 
regidas, sobretudo, pela racionalidade. 
Jean Bodin 
Sua obra foi “os seis livros da República”, associava o Estado 
à própria célula familiar, colocando o poder real como 
ilimitado, comparado ao chefe de família. 
Jacques Bénigne 
Bossuet 
Contemporâneo de Luís XIV, foi um dos maiores defensores 
do absolutismo e, simultaneamente, do "direito divino dos 
reis"; em sua obra Política Segundo a Sagrada Escritura, 
afirmava que a Monarquia era a origem divina, cabendo aos 
homens aceitar todas as decisões reais, pois questioná-las 
transformá-los-ia não somente em inimigos públicos, mas 
também em inimigos de Deus. 
Thomas Hobbes 
Autor de Leviatã, proclamou que, em seu estado natural, a 
vida humana era "solitária, miserável, desprezível, bestial e 
breve"; buscando escapar da guerra de todos contra todos, 
os homens uniram-se em torno de um contrato para formar 
uma sociedade civil, legando a um soberano todos os direitos 
para protegê-los contra a violência. Hobbes defende a teoria 
de que um rei só poderia subir ao trono pela vontade do povo 
e não pela vontade divina. A monarquia é justificada pelo 
consenso social. 
Hugo Grócio 
É considerado um dos precursores do direito universal, pois 
defendia que, se todos os países adotassem o absolutismo, 
seria possível se estabelecer um sistema único de 
legislação. Sua principal obra foi 'Direito de Paz e de Guerra'. 
 
3. ILUMINISMO 
3.1. CONCEITOSegundo o professor Felipe Jacques, o iluminismo foi um movimento político, 
jurídico, social e filosófico de racionalização da atuação do estado e de suas relações 
com as pessoas, pregando que as trevas devem dar lugar a razão, por meio da 
separação dos poderes, dos direitos individuais e sobretudo da subordinação do 
Estado ao direito, ou seja, um Estado de Direito subordinado as normas jurídicas. 
Os iluministas exaltavam o poder da razão em detrimento ao da fé e da religião. 
Com isso, acreditavam que poderiam reestruturar a sociedade, ainda presa ao 
conhecimento herdado da tradição medieval. Através da união de escolas de 
pensamento filosóficas, sociais e políticas, os iluministas buscaram estender a crítica 
racional em todos os campos do saber humano. Assim, enfatizavam a defesa do 
conhecimento racional para desconstruir preconceitos e ideologias religiosas. Por sua 
vez, essas seriam superadas pelas ideias de progresso e perfectibilidade humana. Em 
suas críticas, os pensadores iluministas argumentavam contra as determinações 
mercantilistas e religiosas. Também foram avessos ao absolutismo e aos privilégios 
dados à nobreza e ao clero. Isso abalava os alicerces da estrutura política e social 
absolutista. 
 
3.2. TEÓRICOS 
Os pensadores que defendiam o iluminismo acreditavam que o pensamento 
racional deveria ser levado adiante substituindo as crenças religiosas e o misticismo, 
que, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem. O homem deveria ser o centro 
e passar a buscar respostas para as questões que, até então, eram justificadas 
somente pela fé. Portanto, o Iluminismo é composto por pensadores que, muitas 
vezes, debatiam entre si sobre pontos fundamentais, mas apresenta como identidade 
a busca de se fundar na razão. 
John Locke 
(1632 - 1704) 
Foi um filósofo inglês conhecido como o "pai do liberalismo", 
sendo considerado o principal representante do empirismo 
(ele acreditava que o homem adquiria conhecimento com o 
passar do tempo) e um dos principais teóricos do contrato 
social. Locke escreveu o Ensaio acerca do Entendimento 
Humano, onde desenvolve sua teoria sobre a origem e a 
natureza do conhecimento. Um dos objetivos de Locke é a 
reafirmação da necessidade do Estado e do contrato social 
e outras bases. Opondo-se à Hobbes, Locke acreditava que 
se tratando de Estado-natureza, os homens não vivem de 
forma bárbara ou primitiva. Para ele, há uma vida pacífica 
explicada pelo reconhecimento dos homens por serem livres 
e iguais. Defendeu a liberdade dos cidadãos e condenou o 
absolutismo. 
Montesquieu 
(1689-1755) 
Filósofo francês. Defendia a ideia de que o governo deveria 
ser exercido por três poderes independentes (Legislativo, 
Executivo e Judiciário), a qual exerceu importante influência 
sobre diversos textos constitucionais modernos e 
contemporâneos. Escrito mais importante: Do Espírito das 
Leis (1748). 
Voltaire 
(1694-1778) 
Defendia a existência de um monarca absoluto, desde que 
cultuasse a ciência e estivesse aberto às reformas propostas 
pelos filósofos iluministas. Filósofo francês, era 
anticlericalista (acreditava que, para chegar a Deus, não era 
preciso a igreja, e sim a razão). Notabilizou-se pela sua 
oposição ao pensamento religioso e pela defesa da liberdade 
intelectual. Escritos mais importantes: Ensaio sobre os 
costumes (1756); Dicionário Filosófico (1764) e Cartas 
Inglesas (1734). 
Jean-Jacques 
Rousseau 
(1712-1778) 
É autor da obra “O contrato social”, na qual afirma que o 
soberano deveria dirigir o Estado conforme a vontade do 
povo. Apenas um Estado com bases democráticas teria 
condições de oferecer igualdade jurídica a todos os 
cidadãos. Rousseau destacou-se também como crítico da 
burguesia e da nobreza. 
Immanuel Kant 
(1724-1804) 
Foi um filósofo prussiano, considerado o principal filósofo da 
era moderna, Kant operou, na epistemologia, na filosofia da 
natureza e da natureza humana (fontes do relativismo 
conceptual) e na filosofia moral. Crítica da Razão Pura (1781) 
 
4. JUSNATURALISMO 
4.1. INTRODUÇÃO 
As primeiras manifestações do jusnaturalismo aconteceram na Grécia. Há a 
afirmação de um conceito de “justo por natureza” que se contrapõe ao “justo por lei” 
que fora enfatizado pelos sofistas que já entendiam a expressão “justo por natureza” 
de formas distintas e com consequências políticas também diversas. O mundo grego 
antigo desenvolveu um jusnaturalismo cosmológico. A idade Média se identificava 
com a doutrina de um suposto direito natural revelado por Deus a Moisés e com o 
Evangelho (Graciniano – séc. XII). Foi Tomás de Aquino que compreendeu a lei 
natural como aquela fração da ordem imposta pela mente de Deus, governador do 
universo, que se acha presente na razão humana – uma norma racional. 
 
4.2. MUDANÇA DE PARADIGMA 
O jusnaturalismo moderno assumiu no séc. XVII características laicas80 e no 
campo político, características liberais. Alguns autores entenderam que a origem do 
jusnaturalismo moderno estaria na doutrina de Hugo Grócio (1583-1645), enunciada 
na obra De iure belli ac pacis, de 1625, e se deve à grande disputa entre as alas 
extremas do voluntarismo calvinista e o pensamento tomista de influência estóica-
ciceroniana. Grócio diferenciou direito natural e direito positivo da seguinte maneira: 
“O direito natural é um ditame da justa razão destinado a mostrar que um ato é 
moralmente torpe ou moralmente necessário segundo seja ou não conforme à própria 
natureza racional do homem”. Hugo Grócio afirmou que o direito natural é ditado pela 
razão, independente de qualquer interferência divina. Esta sua idéia anuncia o modo 
de ver da época que estaria por vir, a época do Iluminismo, momento do surgimento 
de uma nova cultura; uma cultura laica e antiteológica. O pensamento racionalista de 
Hugo Grócio forneceu as condições de possibilidades para o advento da Escola 
Clássica do Direito Natural. 
O jusnaturalismo moderno enfatiza o aspecto subjetivo do direito natural, isto 
é, os direitos inatos, deixando de lado o aspecto objetivo, o da norma. Por conta deste 
traço essencial, o jusnaturalismo do séc. XVII e XVIII fundamentou doutrinas políticas 
de tendência individualista e liberal, ressaltando peremptoriamente a necessidade do 
respeito e reconhecimento desses direitos por parte da autoridade política. Assim, o 
homem racional possui direitos naturais. 
 
5. CONTRATUALISMO 
O contratualismo compreende aquelas teorias políticas que vêem a origem da 
sociedade e o fundamento do poder político na figura jurídica do contrato, ou seja, um 
acordo tácito ou expresso entre a maioria dos indivíduos, acordo que assinalaria o fim 
do estado natural e o início do estado social e político. Um dos principais nomes desse 
movimento foi Thomas Hobbes (1588-1679). 
O estado de natureza como mera hipótese lógica a fim de ressaltar a idéia 
racional ou jurídica do Estado. Nesta concepção o fundamento da obrigação política 
repousa consenso expresso ou tácito que legitima uma autoridade que os represente 
e encarne (contratualismo clássico). Encontramos, assim, a idéia do direito como a 
única fonte de racionalização das relações sociais. Três fatores explicam essa idéia: 
a influência da escola do direito natural com a qual o contratualismo está relacionado; 
a necessidade de legitimar o Estado, as leis criadas pelo soberano que tenderiam a 
substituir o direito consuetudinário; construir um sistema jurídico que evidencie a 
autonomia dos sujeitos desse contrato, colocando como base de toda juridicidade o 
pacta sunt servanda. 
 
THOMAS HOBBES (1588-1679) 
1. BIOGRAFIA 
Thomas Hobbes (1588-1679) nasceu na Inglaterra, no dia 
5 de abril de 1588. Foi uma época em que a Inglaterraera 
dominada pelos Tudors e sofria o perigo da invasão da 
esquadra espanhola. Era filho de um vigário e teve sua 
tutela confiada a um tio. Estudou em Malmesbury e 
Westport, entrando mais tarde em Oxford, cuja educação 
era de teor aristotélico e tomista. Mas Hobbes não 
admirava a filosofia de Aristóteles. Foi mais influenciado pelas ideias do mecanicismo 
do universo e pelo cartesianismo, comum entre os intelectuais da época. Conheceu o 
astrônomo Galileu Galilei, cuja ideia, ajudou na tentativa de desenvolver uma filosofia 
social. No período em que viveu, a Inglaterra vivia a aurora de seu império, era época 
da revolução gloriosa, no século XVI, e a marinha inglesa começava a se fortalecer 
na conquista dos mares. Hobbes manteve-se um escritor extremamente produtivo na 
velhice, mesmo sendo prejudicado pela oposição generalizada a seu trabalho. 
Thomas Hobbes morreu no dia 4 de dezembro de 1679, com 91 anos, depois de ter 
escrito, já na velhice, a tradução da "Ilíada" e da "Odisseia" para a língua inglesa. 
 
2. OBRAS 
Thomas Hobbes possui como principal destaque, entre seus escritos, a obra 
intitulada Leviatã, que foi publicada em 1651. Outras referências importantes são o 
Do Cidadão (De cive) e o Elementos de direito natural e político. Hobbes é 
reconhecido, entre os pensadores do jusnaturalismo racional, como o teórico do poder 
soberano, sobretudo em função de suas ideias expostas. 
Leviatã 
No livro "Leviatã", Hobbes defendia a tese do homem que, 
por viver num estado de natureza onde todos estariam 
preocupados com os seus próprios interesses, seria 
necessária a existência de um governante forte para 
apaziguar os conflitos humanos. A guerra de todos contra 
todos (bellum omnia omnes) só seria evitada através do 
contrato social. O livro diz respeito à estrutura da 
sociedade e do governo legítimo, e é considerado como 
um dos exemplos mais antigos e mais influentes da teoria 
do contrato social. A máxima que identifica livro é “o 
homem é o lobo do homem”. 
Do Cidadão 
“Do Cidadão”, primeira parte da trilogia planejada por 
Hobbes durante seu exílio na França, é composta por três 
temas da natureza humana: liberdade, império e religião. 
Foi completa em 1641 e publicada em 1642, mas a 
primeira versão em inglês surgiu apenas 9 anos depois 
sob o nome Philosophicall Rudiments Concerning 
Government and Society. Na primeira parte, ele aborda a 
condição humana lidando com as leis naturais; na 
segunda, a necessidade do estabelecimento de um 
governo estável; finalmente na terceira, declarações a 
respeito de teologia. 
Elementos de direito 
natural e político 
Lança um olhar penetrante sobre a natureza humana, e 
sua analise dos temores e interesses que resultam na 
guerra de “todos contra todos” ainda é pertinente. Hobbes 
lança neste livro as grandes linhas de sua filosofia geral, 
ampliada mais tarde no De corpore, e da filosofia politica 
e moral que ganhou fama com o Leviatã. 
 
3. LIBERDADE NATURAL 
Hobbes entende como liberdade a ausência de impedimentos externos. O 
direito ilimitado dado pela natureza é a liberdade. O homem tem a liberdade para 
exercer o desejo para alcançar tudo aquilo necessário à sua sobrevivência, e quando 
há o confronto com outros homens vale o direito do mais forte. O estado de natureza 
é um estado de guerra. A condição é sórdida, embrutecida e a vida é curta. 
No entendimento de Felipe Jacques, a liberdade natural é o exercício livre e 
desimpedido de continuar vivo a qualquer custo. Essa liberdade é um elemento do 
direito natural. Isso é movimento natural do homem, que busca seus interesses. 
 
4. DIREITO NATURAL 
Thomas Hobbes concebe o direito natural como "a liberdade que cada homem 
tem de usar livremente o próprio poder para a conservação da vida e, portanto, para 
fazer tudo aquilo que o juízo e a razão considerem como os meios idôneos para a 
consecução desse fim". O direito natural nasce a partir do momento que surge o 
Homem. Mas Hobbes considerava que esse direito natural só levaria à guerra de todos 
contra todos e à destruição mútua, sendo necessária a criação de um direito positivo 
ou um contrato social, que poderia ser garantido através de um poder centralizado 
que estabeleceria regras de convívio e pacificação. Esse é um momento importante 
de crítica ao Direito Natural, que, a partir daí, será sistematicamente realizada pelos 
adeptos do positivismo jurídico. 
Portanto, é a liberdade que cada homem possui de usar o seu próprio poder, 
da maneira que quiser, para a preservação da sua própria natureza, ou seja, da sua 
vida; e consequentemente de fazer tudo aquilo que o seu próprio julgamento e razão 
lhe indiquem como meios mais adequados a esse fim. Note-se que o direito de 
natureza é um fato da natureza: é tendência humana natural persistir na vida, e os 
homens agem naturalmente para preservá-la e para evitar a morte. Assim sendo, não 
é por um alto valor altruístico que se funda o direito natural: é pelo impulso necessário 
no homem de defesa de si próprio. É de um pendor individualista que se constrói o 
eixo do direito natural. O direito natural hobbesiano nada tem de natural no seu sentido 
de apreensão do todo da natureza e de suas leis. O que se possa chamar por natural 
no máximo está ligado a um pendor da natureza individual. 
 
5. ESTADO NATURAL 
Vivendo para a satisfação de suas vontades e para o resguardo de seus medos, 
os homens estariam em conflito permanente. O estado de natureza, assim sendo, é 
um estado bélico. A conhecida frase de Hobbes aqui então se revela: “não haverá 
como negar que o estado natural dos homens, antes de ingressarem na vida social, 
não passava de guerra, e esta não ser uma guerra qualquer, mas uma guerra de todos 
contra todos”. Ela vai a par da outra conhecida frase sua, de que “o homem é lobo do 
homem”. 
Assim, para Thomas Hobbes, o "Estado de Natureza" é qualquer situação em 
que não há um governo que estabeleça a ordem. O fato de todos os seres humanos 
serem iguais no seu egoísmo faz com que a ação de um só seja limitada pela força 
do outro. "O homem é o lobo do homem". Para que todos não acabem se matando e 
tenham segurança, é necessário um Estado, uma instituição de poder comum. Aqui o 
"direito natural" é o direito de cada um usar o seu poder para se auto preservar e 
satisfazer os seus desejos. O "estado de natureza" é sempre um estado de Guerra: 
mesmo que não haja batalha, ela está latente, podendo ocorrer a qualquer momento 
e sem causa aparente. Preocupados em se defender ou atacar, todos seres humanos 
se tornam incapazes de gerar riquezas. De acordo com Hobbes, “a origem das 
sociedades amplas e duradouras não foi a boa vontade de uns para com os outros, 
mas o medo recíproco”. 
 
6. CONTRATO 
Ao analisar a natureza humana, Hobbes entende que o homem é movido por 
suas paixões; que a sua vontade resulta apenas da soma dessas paixões e a 
liberdade nada mais é do que a ausência de impedimento para a ação. É esse 
constante estado de insegurança e medo, bem como o desejo de paz, que leva os 
homens a estabelecerem um pacto e fundar um Estado social, abdicando de seus 
direitos em favor de um soberano cuja autoridade terá um poder absoluto, 
encarregado de prescrever leis, julgar, recompensar, punir, escolher seus 
conselheiros, de fazer a guerra e a paz. 
Assim, a fim de superar as adversidades do estado de natureza, os homens 
teriam celebrado o contrato social e, em consequência, constituído a sociedade, o 
Estado e o Direito. Teriam renunciado ao seu primitivo “jus omnium in omnia”, para 
alcançarem a paz, a liberdade e o verdadeiro Direito. Para que esses alvos fossem 
atingidos, pensava Hobbes que o Estado – Leviatã ou Deus Mortal –deveria ser 
suficientemente forte. A sua doutrina política é de um refinado absolutismo. O Estado, 
ente poderoso que era, se relacionaria com os particulares somente como titular de 
direitos. O pacto social seria firmado “apenas entre cada um e cada um, e 
não entre o soberano e cada um dos outros”, pois evidente “que quem é 
instituído soberano não faz qualquer pacto com seus súditos, porque teria de 
celebrá-lo com toda a multidão, na qualidade de parte do pacto, ou de celebrar 
diversos pactos, um com cada um deles”. 
Assim se faz necessário que haja o Estado e ele é estabelecido a partir de 
contratos entre os próprios homens, em que eles abrem mão de parte de sua liberdade 
e transfere diretos ao estado para ele poder garantir por meio da força, o cumprimento 
de outros contratos e assim o fim do clima de guerra. O estado pactua com cada um 
dos homens e garante a cada um que a sua parte do contrato seja cumprida, sendo 
assim o pacto é recíproco. No Leviatã, Hobbes diz: ”Diz-se que um Estado foi instituído 
quando uma multidão de homens concorda e pactua, cada um com cada um dos 
outros, que a qualquer homem ou assembleia de homens a quem seja atribuído pela 
maioria o direito de representar a pessoa de todos eles (ou seja, de ser seu 
representante), todos sem exceção, tanto os que votaram a favor dele como os que 
votaram contra ele, deverão autorizar todos os atos e decisões desse homem ou 
assembleia de homens, tal como se fossem seus próprios atos e decisões, a fim de 
viverem em paz uns com os outros e serem protegidos dos restantes homens.” 
 
7. ATOS DO SOBERANO 
O contrato social descrito no Leviatã se encontra diretamente ligado à ideia de 
representação. A essência do Estado está na pessoa do representante, que é o 
soberano. Quando há voluntariamente esse acordo entre os indivíduos de se 
submeterem a um homem, ou a uma assembleia de homens, dá-se a instituição do 
Estado. É a partir desse consentimento geral, motivado e preservado pela busca de 
segurança (por medo da morte), que derivam os direitos dos soberanos. A autoridade 
concedida ao representante contém em si o maior poder do Estado. O poder do 
representante não encontra poder maior que o que lhe foi concedido, nem mesmo na 
união daqueles que lhe concederam. O conceito de soberano em Hobbes não é o de 
tirano. Ele não age arbitrariamente. O soberano é um ator que representa um papel 
escrito pelo povo. Quando abandona a condição de ator transforma-se em tirano. 
Hobbes não defende o poder absoluto do governante, mas a ação segundo foi-lhe 
determinado. Uma multidão é transformada em uma única pessoa pela representação. 
É a unidade do representante e não do representado que faz com que a pessoa seja 
una. A vontade de todos é a unidade. Para haver unidade tem que haver 
representação. 
A celebração do pacto implicaria o acatamento, pelos súditos, de todos os atos 
do soberano, que não poderia ser deposto, porquanto representante de cada homem. 
Se alguém fosse morto na tentativa de golpe seria considerado “o autor de seu próprio 
castigo, dado que por instituição é autor de tudo quanto seu soberano fizer”. Todo 
súdito, enfim, seria autor de todos os atos e decisões do soberano, não podendo, 
assim, insurgir -se contra as iniciativas deste. Hobbes abre exceção, todavia, ao 
direito de autoconservação, pelo qual não pode o soberano impor a autoeliminação, 
circunstância na qual o súdito poderá resistir. Hobbes é expresso nesse sentido: Um 
pacto em que eu me comprometa a não me defender da força pela força é sempre 
nulo. Porque (conforme mostrei) ninguém pode transferir ou renunciar ao seu direito 
de evitar a morte, os ferimentos ou o cárcere (o que é o único fim da renúncia ao 
direito), e, portanto, a promessa de não resistir à força não transfere nenhum direito 
em pacto algum, nem é obrigatória. 
 
8. NATUREZA DA JUSTIÇA 
Em Hobbes, a lei e o Estado seria o mecanismo para assegurar a justiça e a 
justiça estaria no cumprimento do pacto, uma vez que cumprindo a lei ou o pacto, o 
homem estaria cumprindo com sua palavra, agindo de acordo com o esperado (já que 
acordado) pelo seu próximo, de maneira que este próximo agiria da mesma forma, 
todos cumprindo mutuamente com suas obrigações, derivadas de sua livre vontade 
na hora da contratação, portanto todos agindo mutuamente na mais lídima justiça 
recíproca, em uma sociedade onde a ordem impera. Este também é o posicionamento 
do jurista contemporâneo Miguel Reale, em obra dedicada à filosofia do direito, onde 
ressalta que “a moral determina que se faça, mas ao destinatário do comando cabe 
fazer ou não; ao passo que o Direito se caracteriza porque ordena e, ao mesmo tempo, 
assegura a outrem o poder de exigir que se cumpra” (REALE, 2002, p. 695). 
Neste sentido, a justiça não é algo inerente da condição humana do indivíduo, 
pois não havendo pactuação é justo cada um fazer o que bem entender, uma vez que 
se está em um estado de natureza. Agora, na medida em que por sua livre 
manifestação de vontade, o sujeito contrata dando a sua palavra com outro indivíduo 
fazendo um pacto, este pacto deve ser cumprido. Trair o pacto firmado, é ser injusto. 
 
Acontece, que dada a natureza humana, se o homem analisar poder praticar 
algum ato sem sofrer nenhuma consequência, não hesitará em descumprir o pacto 
firmado, motivo pelo qual, para garantir a ordem e a justiça, é necessário um realizador 
de justiça, alguém que obrigará que a justiça seja feita, ou em outra palavras, que se 
cumpra com a palavra dada (o contrato firmado). Assim, analisa-se que em Hobbes 
há dois momentos para a justiça: primeiramente a justiça é a manutenção dos pactos, 
algo fundamental e necessário até para à sobrevivência do próprio Estado. E em 
decorrência disto, em um segundo momento, cabe ao Estado, a partir da sua criação, 
possibilitar que a justiça sempre prevaleça. 
Em síntese, “a natureza da justiça consiste no cumprimento dos pactos válidos, 
mas a validade dos pactos só começa com a instituição de um poder civil suficiente 
para obrigar os homens a cumpri-los, e é também só aí que começa a haver 
propriedade”. A natureza da justiça não é senão o respeito nos contratos, consiste em 
manter a validade dos contratos. 
 
9. DIVISÃO DAS LEIS 
O filósofo inglês distinguiu a lei civil da lei de natureza. A primeira, emanada do 
Estado, não pode ser contrária à razão, entendida esta como a luz que levou o 
soberano a elaborar a lei. Assim aplicada pelo juiz, a sentença será do próprio 
legislador; diversamente aplicada, a sentença será da lavra do magistrado e injusta. 
As leis da natureza “consistem na equidade, na justiça, na gratidão e outras virtudes 
morais destas dependentes, na condição de simples natureza, não são propriamente 
leis, mas qualidades que predispõem os homens para a paz e a obediência”. As leis 
de natureza não seriam leis propriamente, salvo quando encampadas pelo Estado, 
pois, para serem obrigatórias, indispensável é que venham em ordenações do poder 
e acompanhadas de sanção. 
 
10. PROPRIEDADE 
Hobbes acredita que a propriedade só existe no estado civil, e que é uma 
criação do Estado-Leviatã, logo, podemos dizer que no estado de natureza a questão 
da propriedade é inexistente. Por ser fruto do Estado, a propriedade pode ser 
suprimida por este. 
Hobbes elege como valor fundamental a sobrevivência humana, é comisso que 
se preocupa primordialmente, a tal ponto que, para tanto, outorga a todos os homens, 
em sua condição natural, o direito sobre todas as coisas. É exatamente esse o ponto 
que explica a inexistência da propriedade no estado de natureza. Antes do direitode 
propriedade está o direito de conservar-se. 
Assim, que a propriedade surge com instituição característica singular da 
sociedade civil. O direito a todas as coisas gera a guerra de todos contra todos, 
comporta a condição natural da humanidade. Nesse sentido, é imprescindível romper 
com esse direito, delimitar a esfera de ação, e, portanto, instaurar a propriedade: sua 
existência nos leva à paz. A justificação da propriedade hobbesina deita raízes no 
rompimento com o estado de guerra e na necessidade que os homens têm de 
sobreviver. A propriedade, em Hobbes, significa paz, significa vida. Assim sendo, a 
propriedade existe em Hobbes porque tem como consequência inevitável o 
rompimento com o estado de natureza. Está umbilicalmente ligada à prescrição de 
leis e identifica-se com a Justiça. E tudo isso reside na composição do Estado e na 
instituição do soberano. 
 
11. ÉTICA E RELIGIÃO 
ÉTICA→ No Leviatã vemos a ética ser definida como conhecimento das 
“consequências das paixões dos Homens”. Além, disso Hobbes aponta outra 
definição para o que seria o objeto próprio da ética. Note-se que aqui ele inclui a ideia 
de que a ética é o estudo não só das consequências das paixões, mas também das 
causas. 
RELIGIÃO→ Hobbes aceita e defende Deus e a religião no Estado, dizendo 
que o Estado ideal deve ser cristão, sendo completo. Utiliza Deus e a religião como 
argumento de autoridade para colocar em prática as leis da cidade baseando-se nas 
leis divinas como um instrumento de difusão de suas ideias. Ele aceita a religião no 
Estado, mas critica alguns aspectos do catolicismo. Para ele o que cabe ao poder da 
Igreja é apenas ensinar e converter os ainda não crentes ao cristianismo, assim como 
os antigos apóstolos de Cristo faziam. Seu papel é de levar aos povos a Palavra de 
Deus de forma livre e não imposta. Não cabe à ela governar e se intrometer em outros 
aspectos no Estado. 
 
 
 
 
HUGO GRÓCIO (1583 – 1645) 
1. BIOGRAFIA 
Hugo Grócio (Hugo Van Groot), nasceu em Delf, cidade 
Holandesa no dia 10 de abril de 1583 e morreu em 28 de 
agosto de 1645, foi educado em um ambiente religioso e 
eclético, visto que seu pai era protestante enquanto que a 
mãe era católica. Viveu em um meio urbano, no qual 
predominava uma intensa atividade comercial, caracterizado 
pela existência de um sistema judiciário-administrativo, 
apoiado por uma base coorporativo-comunitária, o qual permitia maior maleabilidade 
nas relações com outros órgãos de outras regiões da Europa. Foi jurista, exercendo a 
profissão na República dos Países Baixos, além disso, ainda atuou como dramaturgo 
e poeta. Considerado um garoto prodígio, entrou na Universidade de Leida aos 11 
anos, onde cursou Direito. Doutorou-se em 1598 na Universidade de Orleans. Iniciou 
a vida profissional como jurista na cidade de Haia, praticou direito com comerciantes 
durante as viagens da Companhia das Índias Ocidentais e em 1604 passa a 
acompanhar o próprio príncipe de Maurício de Nassau como seu conselheiro. Foi 
promovido a governador da cidade de Rotterdam em 1613; integrou o Comitê de 
Conselheiros do Partido Arminiano; foi preso em 1618, após um golpe de estado 
contra Nassau, foi julgado e sentenciado a prisão perpétua, mas com o auxílio de sua 
esposa foge para Amsterdam e de lá para Paris. Nomeado embaixador da Suécia em 
Paris, aí exerce esta profissão até ter que retornar a pedido da Rainha Cristina, 
durante seu retorno acaba por morrer na Alemanha, após passar por intensas 
tempestades, vindo a falecer devido à exaustão. 
 
2. OBRAS 
Hugo Grócio, foi autor de várias publicações, algumas se destaca como Mare 
Liberum (trata da internacionalidade das águas oceânicas) e De Jure Praedae 
(tratando da lei do apresamento). Mas sua mais afamada obra com certeza foi De 
Jure Belli Ac Pacis (discorria sobre as modalidades de guerra e a sua possibilidade 
como mecanismo de justiça). 
De Jure Praedae 
(Sobre a Lei do 
Prêmio e do Espólio) 
Examina os aspectos históricos, políticos e legais da 
guerra e é amplamente creditado como um dos principais 
fundamentos da guerra. direito internacional por causa de 
seu argumento contra a soberania territorial das águas 
costeiras do mundo. Permaneceu inédito durante sua 
vida, com exceção de um capítulo - no qual Grotius 
defende acesso livre ao oceano para todas as nações - 
que apareceu sob o famoso título Mare Liberum (A 
liberdade dos mares ). 
Mare Liberum 
(Mar livre) 
Publicado, como excerto, em 1609, Mare Liberum discute 
o direito a governar os mares, contestando sobretudo a 
política de Mare clausum, defendida por Espanha e 
Portugal, dado que, se tais países pudessem governar e 
dominar os mares, os holandeses estariam impedidos de 
navegar às Índias Orientais. A tese de Grotius é que a 
liberdade dos mares era um aspecto primordial na 
comunicação entre os povos e nações. Portanto, nenhum 
país poderia monopolizar o controle do oceano, dada sua 
imensidão e falta de limites estabelecidos. 
De iure belli ac pacis 
(Do direito da Guerra 
e da Paz) 
É um livro de 1625 em latim, escrito por Hugo Grotius e 
publicado em Paris, sobre o status legal da guerra. Agora 
é considerado como um trabalho fundamental no direito 
internacional. Aparecem os conceitos de guerra justa e de 
direito natural. É um dos mais famosos tratados da 
Renascença sobre a teoria dos direitos naturais e sociais. 
 
MIGUEL REALE, considera ter sido o De jure belli ac pacis de Hugo GRÓCIO 
o primeiro livro de filosofia do direito, na história: a partir de GRÓCIO, pode-se falar a 
respeito de filosofia do direito, no sentido moderno do termo. Antes dele, não se 
poderia falar em filosofia do direito, em sentido próprio, pois é com seu livro que se 
apresenta o primeiro tratado de direito natural ou, melhor dizendo, o primeiro tratado 
autônomo de filosofia do direito: “Constituídos os estados modernos, cada um deles 
sobre uma base nacional distinta, e abandonada a concepção medieval de um poder 
superior pertencente à Igreja ou ao Império, tornou-se necessário um fundamento 
novo para a ordem positiva. / Não se tratando mais de procurar a explicação última do 
direito em uma concepção religiosa, em uma explicação de ordem teológica, como 
fizera a escolástica, nem de sustentar a doutrina já superada, que apresentava o poder 
dos reis como poder derivado de uma fictícia autoridade imperial. / Surgiu, assim, a 
escola do direito natural procurando fundamento eminentemente humano e terreno 
para o direito e o estado”. (Horizontes do direito e da história - São Paulo: Saraiva, 
1977) 
3. DIREITO NATURAL 
Para Grócio “o direito natural é um ditame da justa razão destinado a mostrar 
que um ato é moralmente torpe ou moralmente necessário segundo seja ou não 
conforme à própria natureza racional do homem, e a mostrar que tal ato é, em 
consequência disto vetado ou comandado por Deus, enquanto autor da natureza. (...) 
Os atos relativamente aos quais existe um tal ditame da justa razão são obrigatórios 
ou ilícitos por si mesmos”. 
Hugo Grócio afirmou que o direito natural é ditado pela razão, 
independentemente de qualquer interferência divina. Esta sua idéia anuncia o modo 
de ver da época que estaria por vir, a época do Iluminismo, momento do surgimento 
de uma nova cultura; uma cultura laica e antiteológica. 
Ele sustentou que o direito natural é imutável e independente de Deus como 
legislador supremo. Na verdade, o direito possui uma dupla origem, a saber: a recta 
ratio e a appetitus societatis (desejo de uma sociedade tranqüila e ordenada). A obra 
de Grócio difundiu com grande sucesso a idéia de um direito natural, cuja fonte 
repousa exclusivamente na validadeda sua conformidade com a razão humana. A 
consequência mais relevante do seu pensamento foi a idéia de adequar a lei positiva 
e a Constituição a esse direito natural e legitimar a possibilidade de resistência e 
desobediência civil em caso de conflito. 
Segundo Paulo Nader, apoiado em princípios racionais, o Direito não seria uma 
revelação divina, mas “conjunto de normas ditadas pela razão e sugeridas pelo 
appetitus societatis”. De modo veemente declarou que o Direito Natural independia da 
vontade divina: “O Direito Natural existiria mesmo que Deus não existisse, ou ainda 
que Deus não cuidasse das coisas humanas.” O Direito Natural seria acessível ao 
conhecimento mediante dois caminhos: com o método a priori, ao verificar-se que a 
máxima se encontra de acordo com a natureza racional ou social; pelo a posteriori, 
com a constatação de que os povos civilizados adotam idêntico critério ou solução de 
justiça. A natureza humana, por sua dimensão social, seria o fundamento do Direito 
Natural. Foi a partir desta visão racionalista que se originou a chamada Escola 
Clássica do Direito Natural. 
 
4. REGRAS FUNDAMENTAIS DO DIREITO NATURAL 
Como visto, Grócio, definiu o direito natural como um ditame da verdadeira 
razão, que afirma que o procedimento, conforme está ou não de acordo com a 
natureza racional tem em si a qualidade da condenação ou da necessidade moral. 
Defendeu, por isso, que o direito se funda na moral e que esta é acessível à razão. 
Do direito natural assim concebido como prescrição da razão Grotius deduz, nos 
Prolegômenos ao De jure belli ac pacis, quatro princípios, a saber: que é preciso 
abster-se do bem de outrem, restituir o que se tomou ou o proveito que se retirou dele; 
que somos obrigados a manter a palavra empenhada; que devemos reparar o dano 
causado por nossa falta; que a violação destas regras merece punição, mesmo da 
parte dos homens. 
 
4.1. ABSTER-SE DOS BENS ALHEIOS 
Grócio considera a propriedade um Direito natural, qualquer indivíduo, se não 
violasse os preceitos da natureza, poderia adquirir as coisas que seriam úteis à sua 
vida. Com a aquisição de propriedade, outros não poderiam vir a interferir, sob pena 
de violação da justiça natural, segundo a lei da sociedade humana. 
 
“Este cuidado pela vida social (...) e que é de todo 
conforme ao entendimento humano, é o fundamento 
do direito propriamente dito, ao qual se referem o dever 
de se abster do bem de outrem”. (Grócio, 2004, p.39) 
 
4.2. MANTER A PALAVRA DADA 
A inviolabilidade dos pactos é apontada por Grócio como destacado alicerce do 
direito natural, sendo o fundamento da própria sociabilidade, também figurando no 
alicerce da legitimidade do Estado. 
Eduardo Bittar, esclarece, que para Grócio, tanto as relações entre os 
indivíduos, tão-somente, como as relações entre os indivíduos e os governos, e, por 
fim, as relações entre os diversos Estados Soberanos baseiam-se na ideia de um 
contrato. Tais pactos são de cumprimento obrigatório, porque impostos pelas próprias 
partes que o assinam. É dessa posição que surge a famosa maxima do Direito 
Internacional: pacta sunt servanda (“Os pactos existem para serem cumpridos”). 
Saliente-se que os contratos eram feitos pela reta razão que, por meio do uso do 
raciocínio dedutivo, aquilatava os princípios do Direito Natural. No mesmo sentido, 
anotar, Paulo Nader, que Grócio Defendeu o princípio da inviolabilidade dos contratos 
– pacta sunt servanda –, sem o qual a sociedade não subsistiria, pois, só cumprindo 
os acordos se poderia determinar a ordem jurídica e elaborar o conjunto dos direitos 
civis. 
 
4.3. REPARAR QUALQUER DANO CAUSADO 
Se todas as condições anteriores foram cumpridas, para Grotius deve então 
surgir o dever de restituição daquele que fez o uso, como a quarta condição, na 
medida em que seu direito não se realizou por inteiro e acabou no momento em que 
sua necessidade cessou. Chame-se essa quarta condição de dever de restituição. 
Felipe Jacques, esclarece, que essa regra do Direito Natural, decorre da própria 
percepção da coisa alheia e da dedução lógica de que não se pode danificar. 
 
5. SUBORDINAÇÃO DO SOBERANO AO DIREITO 
Como visto acima, Hugo Grócio, defendeu que o direito natural está na origem 
de todas as convenções e que a vida em comunidade exige o estabelecimento de 
contratos e, naturalmente, o respeito pelos mesmos. Definiu o direito natural como um 
ditame da verdadeira razão, que afirma que o procedimento, conforme está ou não de 
acordo com a natureza racional tem em si a qualidade da condenação ou da 
necessidade moral. Defendeu, por isso, que o direito se funda na moral e que esta é 
acessível à razão. Do direito natural assim concebido como prescrição da razão 
Grotius deduz, nos Prolegômenos ao De jure belli ac pacis, quatro princípios, a saber: 
que é preciso abster-se do bem de outrem, restituir o que se tomou ou o proveito que 
se retirou dele; que somos obrigados a manter a palavra empenhada; que devemos 
reparar o dano causado por nossa falta; que a violação destas regras merece punição, 
mesmo da parte dos homens. 
Em suma, o direito como qualitas moralis e, mais precisamente, como 
faculdade é composto de três elementos: o poder sobre si mesmo ou sobre o outro, a 
propriedade plena ou imperfeita e a faculdade de exigir seu débito. Além disso, Grotius 
considerou que todo homem tem o direito a alguma coisa de seu (suum) que não lhe 
pode ser retirado sem o seu consentimento. Formula desse modo um direito à 
propriedade que será retomado por Locke. Ao sustentar que os direitos naturais 
configuram princípios éticos de justiça, separou a moral da religião e foi considerado 
o fundador do direito público moderno. 
No contexto em que viveu, Hugo grócio, o estado confiscava a propriedade dos 
burgueses, assim, ele passou a defender, que o soberano esta subordinado ao direito 
natural, portanto, deve se abster de conquistar(confiscar) a propriedade privada, de 
causar prejuízo ao particular, devendo também cumprir os compromissos firmados 
com o povo e com outros estados. 
 
6. DIREITO INTERNACIONAL 
O direito internacional divide-se em antes e depois de Hugo Grócio. Ele é 
considerado o pai do Direito Internacional. Destaca-se suas obras, Mare liberum e 
especialmente por sua obra-prima, publicada em 1625, O direito da guerra e da paz 
(De jure belli ac pacis). 
A sua concepção de direito natural levou-o a desenvolver a idéia de que a 
soberania é interna e externa. A soberania interna exerce-se para ser útil aos cidadãos 
e a externa para afirmar a autonomia em relação a outro Estado. Defendeu que 
nenhum Estado se deve intrometer nos assuntos internos de outro Estado. Rompeu, 
assim, com o universalismo da Idade Média e formulou para alguns interpretes as 
bases do direito internacional, regulador das relações de Estado a Estado. Para 
subordinar o soberano às leis, organizou um código do direito das gentes. Segundo 
Grotius, este último entra na categoria do direito voluntário, pois depende da vontade 
dos povos e não é uniforme em todos os lugares: “O direito mais amplo é o jus 
gentium, isto é, aquele que recebeu sua força obrigatória da vontade de todas as 
nações ou de grande número delas. Acrescentei “de grande número” porque, à 
exceção do direito natural, que costumamos chamá-lo também jus gentium (direito 
das gentes), não encontramos praticamente direito que seja comum a todas as 
nações. Mais ainda, muitas vezes num ponto do universo, há um tipo de jus gentium 
que não existe em outro lugar, como o da catividade e o de postlimínio”. 
 
7. GUERRA JUSTA 
Na concepção de Hugo Grócio a guerra tem um caráter eminentemente 
jurídico,uma extensão de um processo judicial. Quando as vias judiciais se esgotam 
a guerra é o caminho adotado para que as contendas sejam resolvidas. Grócio divide 
a guerra em três tipos em vista de seus atores: guerra pública, guerra privada e guerra 
mista. Grócio também discute a justiça material da guerra: uma guerra é justa se sua 
causa também é. De acordo com ele, o direito natural e o direito voluntario não 
proíbem toda a guerra, mas apenas aquelas que estão em conflito com os princípios 
da sociedade humana, isto é, com os direitos alheios. Dessa maneira, sempre é licito 
empreender uma guerra com a finalidade de restabelecer o fim natural do homem. 
Grócio aponta três causas como legitimas para a guerra: 1) defesa contra uma injuria, 
atual ou ameaçadora, mas não antecipatória; 2) recuperação do que é legalmente 
devido para o Estado prejudicado; 3) punição do Estado ameaçador. Além dessas três 
causas legitimadoras da guerra, Grócio também afirma ser licito um estado 
empreender uma guerra para infringir castigo ou vingar injurias cometidas contra o 
direito natural. 
 
JOHN LOCKE (1632 – 1704) 
1. BIOGRAFIA 
John Locke nasceu em Wrington, Somerset, Inglaterra, no 
dia 29 de agosto de 1632. Filho de um pequeno proprietário 
de terras, que serviu como capitão de cavalaria. Estudou 
Filosofia, Medicina e Ciência Naturais na Universidade de 
Oxford, onde depois lecionou filosofia, retórica e grego. 
Estudou as obras de Frances Bacon e René Descartes. Em 
1683, refugiou-se nos Países Baixos ao ser acusado de 
traição junto ao seu mentor político o lorde Shaftesbury que era líder da oposição ao 
rei Carlos II no parlamento. Voltou à Inglaterra quando Guilherme de Orange subiu ao 
trono, em 1688. Locke esteve envolvido de modo próximo com a Revolução Gloriosa, 
de 1688, que pôs fim ao Absolutismo e declarou, em 1689, o Bill of Rights inglês. Em 
1695, foi nomeado membro do Parlamento, permanecendo no cargo até 1700. John 
Locke faleceu em Harlow, Inglaterra, no dia 28 de outubro de 1704. 
 
2. OBRAS 
Com obras importantes nas áreas de política e epistemologia (ramo da filosofia 
e ciência que estuda o próprio conhecimento e a capacidade humana de conhecer e 
investigar), John Locke é um pensador nato. Todos os livros foram publicados já na 
fase avançada da vida de Locke, depois dos 50 anos de idade. Locke foi dos 
pensadores cuja maturidade foi um fator essencial para a elaboração de seu 
pensamento. As principais obras de Locke foram: cartas sobre a tolerância; segundo 
tratados sobre o governo e ensaio acerca do entendimento humano. 
 
 
CARTAS SOBRE A 
TOLERÂNCIA 
(1689) 
Nesta obra, como em todas as outras, Locke anuncia e 
prepara o grande movimento do Iluminismo, que 
culminará com Voltaire. Locke distingue primeiramente as 
três ordens da força, da razão e da fé. Em seguida, afirma 
que todos os homens pertencem a duas sociedades: a 
civil e a religiosa. O problema da intolerância resulta da 
confusão entre estes dois domínios; a sua confusão é 
prejudicial quer à saúde do corpo social como à busca da 
saúde individual. Locke, defende as ações dos cidadãos, 
principalmente no campo religioso, que devem ser 
toleradas pelo Estado, desde que cumpram as funções de 
defender a vida, a liberdade e a propriedade. Locke afirma 
que a reivindicação por tolerância tem como pressuposto 
a separação entre Estado e Igreja, ideia revolucionaria 
para o cenário político da época. Assim, ele, defende a 
igualdade de direitos sem distinção de crença ou religião 
e a laicidade do estado. 
TRATADO SOBRE O 
GOVERNO 
(1689) 
Nesta obra, as ideias liberais de Locke são postas em 
evidência e lançam as bases para o liberalismo político. 
Defende a laicidade do estado, o direito à propriedade 
privada e o desenvolvimento econômico, bem como 
governos representativos com poderes limitados. Em seu 
2º Tratado sobre o Governo Civil, Locke contraria Hobbes 
ao defender que o estado de natureza não poderia ser 
uma guerra de todos contra todos, mas um estado de 
perfeita liberdade, sem nenhuma forma de subordinação 
ou sujeição, sendo todos os homens iguais em poder. 
Nesse estado, os homens gozariam dos chamados 
direitos naturais: vida, liberdade, igualdade e propriedade 
privada – essa última seria derivada do trabalho e, 
portanto, natural. Ele, tinha como objetivo contestar a 
doutrina do direito divino dos reis e do absolutismo real. 
ENSAIO ACERCA DO 
ENTENDIMENTO 
HUMANO 
(1690) 
Este é o principal trabalho no campo da epistemologia de 
Locke. É aqui que o pensador afirma que o ser humano 
nasce como uma “Folha em Branco”, ou como ficou 
conhecido nas traduções em português, uma “Tabula 
Rasa”, que é preenchida à medida que se tem 
experiências do mundo a sua volta. Segundo Locke, todo 
conhecimento tem origem na experiência prática. 
 
A maior parte de sua obra é caracterizada pela oposição ao autoritarismo, na 
esfera individual, política e religiosa. Por isso, tornou-se o teórico da revolução liberal 
inglesa, cujas ideias refletiram por todo o século XVIII, dando fundamento filosófico às 
revoluções ocorridas não só na Europa como nas Américas. 
 
3. DIREITO NATURAL 
Para Locke, os direitos naturais são anteriores à própria formação do Estado 
porque se configuram num atributo do ser racional. Contudo, Locke não se baseia 
num direito natural advindo de uma razão inata. Para ele, a lei de natureza não está 
inscrita nas mentes dos homens. Pelo contrário, bem ao molde empirista, afirma o 
direito natural como um conhecimento alcançável somente por meio da experiência 
dos sentidos. 
Eduardo Bittar, esclarece, que a originalidade da obra de Locke está em sua 
radical defesa dos direitos naturais, que não são inatos, mas de fácil apreensão pela 
razão e não podem ser desrespeitados pelo “estado civil” que é instituído, exatamente, 
com o intuito de assegurar sua proteção. A sociedade é, então, apenas o artificio para 
manterem-se os direitos naturais, e não pode corrompê-los, desvirtuá-los ou suprimi-
los. 
Observa-se então, que Locke é um dos destacados defensores do direito 
natural, que assume, em sua perspectiva, uma faceta muito distinta daquela da visão 
clássica, aristotélica. Para Aristóteles, o direito natural é advindo da própria condição 
social humana. Mas Locke, separando um estado de natureza individual de um estado 
civil social, identifica o direito natural não com a sociedade, mas sim com o estado de 
natureza individual, pois a lei natural, como diretriz para a conduta humana, aí já se 
apresenta. 
Ele, ainda afirma, que a organização das leis e do Estado deve ser feita com o 
objetivo de garantir o respeito aos direitos naturais. A garantia dos direitos naturais do 
povo – a proteção da vida, da liberdade e da propriedade de todos – é definida por ele 
como a única razão de ser de um governo. Se o governante não respeita esses 
direitos, os governados podem derrubá-lo e substituí-lo por outro mais competente. 
 
4. RAZÃO RAZOABILIDADE 
Locke, entende que os homens são todos (à exceção dos loucos e das 
crianças) aptos ao entendimento e, nesse sentido, são seres racionais, capazes 
de compreender o que é o Bem. Essa é a primeira definição da natureza do homem, 
para Locke, ocupado com o tema no Tratado sobre o Entendimento Humano. 
Segue-se a isso o fato de que os seres humanos são também, essencialmente, seres 
sociáveis. São seres racionais a medida que, pela lei da razão, estabelecem as 
primeiras sociedades regidas pelas leis naturais. E são sociais por estarem prontos a 
viver em comum conforme as leis da natureza sem a imposição de norma alguma por 
parte de um soberano. 
Locke considerava que os homens são capazes de impornormas a si próprios 
sem que para isso fosse preciso instituir um soberano. Observa-se imediatamente a 
razão como instrumento dessas vontades particulares consentidas, e que precisam 
contratar os meios pelos quais essas concessões serão respeitadas. Locke aponta a 
lei como guardiã dessa vontade expressa pela racionalidade. 
 
5. PRINCIPAIS DIREITOS NATURAIS 
 Locke defende os direitos naturais. Para ele, os direitos naturais são 
universais na medida em que extensivos a todos os indivíduos, independentemente 
de posição social ou talentos. Sendo os seres humanos iguais, é inviável que se 
cause danos à vida, a propriedade, à saúde e à liberdade de cada indivíduo. Sua 
concepção de direitos naturais abarca, portanto, o direito à vida, proibindo agressões 
à vida humana visto ser esta parte da obra de Deus, o direito à liberdade que garante, 
em princípio, que os indivíduos pautem suas ações sem restrições ou coações e, por 
último, o direito de propriedade, decorrência do trabalho de cada indivíduo. 
Portanto, relativamente ao Direito, expôs a ideia de que no estado de natureza, 
que já seria social, visto que os homens são sociáveis por natureza, havia alguns 
direitos, como à liberdade, ao trabalho, à propriedade, faltando, apenas, autoridade 
que garantisse a efetividade. 
John Locke afirma, que esses direitos, além de naturais, eram também 
inalienáveis. Ou seja, direitos inalienáveis são aqueles direitos que ninguém pode tirar 
de você. Direito inalienável é tudo aquilo que não é possível remover ou retirar de uma 
pessoa. Nenhum governo, nenhuma autoridade, nenhum rei tem competência para 
negar certos direitos que são de todos os seres humanos. John Locke dizia que a 
vida, a liberdade e a propriedade eram três dos principais direitos naturais e 
inalienáveis de todo homem. 
 
5.1. PROPRIEDADE 
A propriedade é um direito natural e seu fundamento é o próprio homem, ou 
seja, a capacidade que os homens possuem de reverter, em seu benefício, as 
externalidades que o mundo oferece. Se Deus criou os homens de forma igual, todos 
têm as mesmas chances de conquistar terras e cultivá-las. Por isso, a liberdade de 
agir não pode violar o direito à propriedade de cada indivíduo. Não é lícito que um 
homem possa tomar de outro aquilo que lhe é de direito. A propriedade privada, 
portanto, é uma necessidade humana legítima e um direito natural que parte do estado 
de natureza, sendo um bem necessário para a conservação entre direito à vida e 
direito à liberdade. Para tal, a capacidade que o homem possui de trabalhar foi dada 
por Deus. Logo, conquistar bens é uma consequência dessa doação divina. 
Para Locke, a propriedade já existe no estado de natureza e, sendo uma 
instituição anterior à sociedade, é um direito natural do indivíduo que não pode ser 
violado pelo Estado. Além disso, o direito à propriedade é um direito que deve ser 
assegurado pelo governo instituído através do contrato social. O homem era 
naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu trabalho. Como a terra fora 
dada por Deus em comum a todos os homens, ao incorporar seu trabalho à matéria 
bruta que se encontrava em estado natural o homem tornava-a sua propriedade 
privada, estabelecendo sobre ela um direito próprio do qual estavam excluídos todos 
os outros homens. O trabalho era, pois, na concepção de Locke, o fundamento 
originário da propriedade: “o trabalho é responsável pela maior parte do valor das 
coisas de que desfrutamos neste mundo”. 
 
5.2. VIDA 
Para Locke, o direito à vida significa em última instância a proibição de um 
indivíduo agredir o outro, principalmente por hierarquização dos homens. Para o 
filósofo, Deus criou os homens como iguais e independentes, portanto, destituindo a 
possibilidade da agressão mútua entre eles. Apesar de não permitir a agressão mútua, 
em Locke, o direito à vida permite que todos tenham direito à autodefesa, como 
consequência da proibição divina de agressão à vida humana. 
No entendimento do professo Felipe Jacques, o direito a vida é natural, porque, 
o homem necessita do seu corpo para trabalhar, ou seja, a vida é propriedade do 
homem. 
 
5.3. LIBERDADE 
Se os homens nasceram iguais, nenhum indivíduo particularmente considerado 
possui poder sobre os demais. No sentido hobbesiano, liberdade é ausência de 
impedimentos externos do movimento (aplica-se a coisas e pessoas). Já para Locke, 
o direito à liberdade proíbe que alguns homens, por meio de uma hierarquia de poder, 
ajam sob pressão de outros. Exercer a liberdade é agir de modo plenamente racional. 
Esta racionalidade imputaria aos homens a capacidade de subsistir no estado de 
natureza respeitando apenas as leis da natureza. 
Segundo Felipe Jacques, o direito à liberdade é necessário, pois, para trabalhar 
e viver o homem necessita ser livre. O homem tem o direito natural de ser proprietário 
de sua própria liberdade. Para entender melhor, devemos perceber que a propriedade 
é um conceito-chave na teoria de Locke: a liberdade é um bem natural de cada um 
dos indivíduos. O indivíduo através do trabalho transforma a matéria bruta e assim 
demarca sua propriedade, o trabalho assim é o fundamento originário do espaço 
privado. 
 
6. CONTRATO SOCIAL 
6.1. MOTIVOS 
No estado de natureza, não havendo autoridade ou leis para impedir que os 
indivíduos se molestem, põe-se nas mãos de todos os homens o poder de preservar 
sua propriedade contra os danos de outros homens. É claro que, numa situação em 
que todos têm o direito de castigar um infrator, surgem inconvenientes: sendo os 
homens juízes de seus próprios casos, o amor próprio, a paixão e a vingança os 
levariam longe demais na punição de outrem, daí seguindo a confusão e a desordem. 
Além disso, caso um homem não tenha força para punir seu ofensor, ou defender-se 
dele, não há apelo a fazer senão aos céus. Por causa desses inconvenientes, os 
homens, por “necessidade e conveniência”, decidiram reunir-se fazendo um pacto 
para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens. Assim, a sociedade 
política nasce quando os indivíduos renunciam ao seu poder natural de justiça, 
passando-o às mãos do governo, com o objetivo único de conservar a si próprio, sua 
liberdade e sua propriedade – o chamado “Contrato Social”. Em outras palavras, para 
Locke, o governo não surge para restringir liberdades individuais, mas para preservá-
las. 
MOTIVOS 
PAIXÕES 
levam à impulsos irracionais (ofende o direito natural do 
outro) 
PARCIALIDADE 
Falta de um juiz imparcial: No Estado de Natureza, se há uma 
injustiça, que é uma ofensa ao Direito Natural, é pela própria 
força do indivíduo que se resolvem as intrigas, podendo 
transformar-se em Vingança e justiça com as próprias mãos. 
Desse modo é necessário um juiz imparcial. Estado criará 
uma instância competente para resolver estas questões 
 
 
6.2. CONCEPÇÃO 
Ao contrário de Hobbes, para quem o estado natural era de guerra de todos 
contra todos, em Locke o estado de natureza é pacífico, pois o homem, mesmo nessa 
condição, tem meios de compreensão da lei natural. O homem não tem, no 
pensamento de Locke, uma inclinação de natureza a ser lobo do homem. 
O contrato social existe por três motivos: 
1) manter a harmonia social - Locke, enfatizou o pacto de união em que os 
homens sacrificam a liberdade individual para a preservação da harmonia social. 
2) proteger a sociedade - O homem deve ter consciência de seu estado de 
liberdade, não como um estado onde ele possa fazer o que bem entender, mas sim 
um estado regido por leis, que visa o bem-estar de todos em comunidade, onde um 
homem não deva criar obstáculos na vida do outro. 
3)regular a propriedade- Locke situa a propriedade de modo amplo, como a 
vida, a liberdade e os bens. Sem um governo, a propriedade não está resguardada. 
Buscando tal proteção, então, os indivíduos estabelecem o contrato social. A 
finalidade precípua do contrato social é, para o pensamento de Locke, a garantia da 
propriedade privada. São célebres suas palavras nesse sentido, no Segundo tratado: 
“O fim maior e principal para os homens unirem-se em sociedades políticas e 
submeterem-se a um governo é, portanto, a conservação de sua propriedade”. 
 Eis como deve ser o contrato para Locke: um pacto de consentimento em que 
os homens concordam livremente em formar a sociedade civil para preservar e 
consolidar ainda mais os direitos que possuíam originalmente no estado de natureza 
com a instituição de um governo a fim de proteger os direitos naturais que são: o 
direito à vida, à liberdade e à propriedade. Estes direitos devem ser assegurados pelo 
Estado e quando isso acontece os cidadãos lhe devem obediência, caso contrário eles 
têm todo o direito de se rebelar, como o que aconteceu com a Revolução Inglesa do 
século XVII que pretendeu coibir os abusos do rei instaurando uma monarquia 
constitucional. O papel do governo restringe-se a tais garantias. Sua função é 
“mínima”: proteger a propriedade, defender os cidadãos de ataques externos, 
preservar a ordem pública e garantir que este contrato seja cumprido. 
 
7. ESTADO MÍNIMO 
O Estado é necessário, mas não é indispensável, o estado deve ser pequeno, 
ou seja, um Estado Liberal Burguês. Para Locke a atuação estatal nunca deve ir além 
do que exige o bem público, por um lado, e menos ainda deve avançar sobre as 
liberdades individuais dos homens, já que estes retêm em suas mãos tal direito natural 
– não possuindo o Estado o direito de retirar dos homens tais direitos. 
Dentre as bases do Estado mínimo estão: 1. Conservar e regular a propriedade: 
a propriedade é um direito natural, portanto o Estado apenas o regula. 2. Organizar 
uma força comum para garantir a boa execução das leis: função do Estado de 
constituir o poder de polícia. O Estado não cria os direitos, e sim, fomenta aqueles que 
já temos, ou seja, ele cria mecanismos para fomentar o direito; 3. Defender o Estado 
contra inimigos externos; 4. Garantir os bens públicos: são os bens mínimos 
necessários para a atividade do governo. O estado não tem função produtiva; 5. O 
estado não deve intervir nas atividades econômicas. Que mais tarde se 
consubstanciou no “laissez-faire, laissez-passer” (“deixar fazer, deixar passar”) que 
sintetiza a concepção liberal de que a economia possui as suas próprias leis, ou o que 
Adam Smith chamou de “mão invisível do mercado”, que seria responsável pela 
regulação dos mercados das atividades econômicas. 
 
8. DIREITO DE REVOLTA 
O direito de revolta é assegurado aos cidadãos, ou seja, é possível desfazer o 
pacto. Isso porque os indivíduos ainda são livres, pois não há perda de liberdade e 
sim delegação da mesma. A revolta deve ocorrer se o interesse individual se sobrepor 
ao interesse coletivo. 
 
 
 
 
 
 
Obs.: segundo Locke o consentimento com o contrato 
social decorre da utilização do beneficio disponibilizado 
pelo estado e não da celebração por escrito de um contrato. 
Assim, para Locke, o governo civil legítimo é instituído pelo consentimento 
explícito dos governados, que decidem transferir para ele, por acordo, o seu direito de 
executar a lei de natureza e de julgar seu próprio caso. Estes são os poderes que são 
dados ao governo central e que legitimam a função do sistema da justiça dos 
governos. Todavia, a transferência dos direitos naturais para o Estado, representada 
pelo pacto originário, é parcial. Ao ingressar no estado civil, os indivíduos renunciam 
a um único direito: o de fazer justiça pelas suas próprias mãos. Conservam todos os 
outros, principalmente o direito à propriedade, que já nasceria perfeita no estado de 
natureza, fruto de uma acção natural - o trabalho -, que não dependeria do 
reconhecimento alheio. 
 
9. DIREITO DE RESISTÊNCIA 
Segundo Eduardo Bittar, outra peculiaridade do pensamento de Locke é sua 
posição a favor do direito de resistência. Locke baseia sua posição na impossibilidade 
de os magistrados, cuja autoridade fundamenta-se na proteção dos direitos naturais, 
desrespeitarem a “lei natural”. Caso isso ocorra, a oposição dos cidadãos é totalmente 
legitima. Como esclarece o próprio Locke: “Aquela que exceda com sua autoridade o 
poder que lhe foi dado pela lei e faça uso da força que possui sob seu comando para 
fazer, com respeito aos súditos, o que a lei não permite, deixa, por isso, de ser 
magistrado e, como delibera sem autoridade, justifica a oposição que lhe faça, assim 
como nos opomos a qualquer pessoa que viole com força o direito alheio”. 
Assim, para John Locke toda vez que o soberano invadisse ou violasse os 
direitos naturais, rompendo com o contrato social, caberia a resistência dos indivíduos 
que teriam a liberdade de entrar em estado de guerra contra o poder instituído a fim 
de derrubá-lo derrocá-lo e instaurar um governo justo em seu lugar. É o que podemos 
chamar de “direito de resistência”. Para Locke, tanto o governante quanto a forma de 
governo estariam submetidos ao jugo dos membros do pacto, cabendo a esses se 
insurgirem contra os governantes que deixassem de cumprir as funções para as quais 
fora designado, ou seja, garantir os direitos naturais. No momento em que o 
governante deixa de garantir os direitos naturais, colocando em risco a condição de 
igualdade e liberdade entre os indivíduos, esses retornam ao estado de guerra contra 
o governante, dissolvendo o Estado e proclamando um novo estado de natureza do 
qual poderia nascer um novo contrato político. 
 
10. DIVISÃO DOS PODERES 
Locke, seguindo ainda a velha classificação de Aristóteles, trata da monarquia, 
da oligarquia e da democracia. Em todas essas formas, o governo deve buscar a 
conservação da propriedade. Contudo, tomando partido de uma visão de política 
bastante oposta à de Hobbes, Locke dirá que a monarquia absoluta não se coaduna 
com os propósitos da sociedade civil: Fica, portanto, evidente que a monarquia 
absoluta, que alguns consideram o único governo no mundo, é de fato incompatível 
com a sociedade civil, e portanto não pode ser, de modo algum, uma forma de governo 
civil. 
Locke também estabelece uma distinção entre os poderes na sociedade 
política, destacando três: o legislativo, o executivo e o federativo – este, um poder 
encarregado das relações exteriores. Para Locke, no balanço entre tais poderes, o 
poder legislativo, escolhido pela maioria, tem um poder supremo em relação aos 
demais: “Em todos os casos, enquanto subsistir o governo, o legislativo é o poder 
supremo. Pois o que pode legislar para outrem deve por força ser-lhe superior.” A 
divisão de poderes, no pensamento político de Locke, é fundamental como modo de 
evitar a concentração de poderes nas mãos de um apenas. 
LEGISLATIVO 
É o poder máximo. É onde estão concentrados os Direito 
natural e a liberdade. Representa os anseios do povo; 
elaborando leis que regem o estado. 
EXECUTIVO 
É responsável pela execução das leis. Deve ainda manter a 
justiça além de ser responsável pelo poder Judiciário 
FEDERATIVO Cuida das relações internacionais, relações de soberania 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JEAN JACQUES ROUSSEAU (1712 – 1778) 
1. BIOGRAFIA 
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) nasceu em Genebra, 
Suíça, no dia 28 de junho de 1712. Filho de um relojoeiro ficou 
órfão de mãe logo ao nascer. Foi educado por um pastor 
protestante. Em 1722 ficou órfão de pai. Com 16anos de idade 
foi para Savóia, Itália e sem meios de se manter procura uma 
instituição católica e manifesta o desejo de se converter. De 
volta a Genebra retorna ao protestantismo. Leva uma vida 
errante, foi relojoeiro, pastor e gravador, sem sucesso. Demonstra grande interesse 
pela leitura e pela música. Em 1742, estabeleceu-se em Paris, onde fez amizade com 
os filósofos iluministas (os chamados "philosophes"), entre os quais estavam Diderot 
e Condillac. Colaborou na "Enciclopédia" (coordenada por Diderot), escrevendo 
diversos verbetes. No ano de 1762, Rousseau começou a ser perseguido na França, 
pois suas obras foram consideradas uma afronta aos costumes morais e religiosos. 
Refugiou-se na cidade suíça de Neuchâtel. Em 1765, foi morar na Inglaterra a convide 
do filósofo David Hume. De volta à França, Rousseau casou-se com Thérèse 
Levasseur, no ano de 1767. Morando em Paris, descobre o Iluminismo e passa a 
colaborar com o movimento. Torna-se conhecido por seus trabalhos sobre política, 
filosofia e música. Em seus últimos anos, viveu sob a proteção do marquês de 
Girardin, no castelo de Ermenonville, na França. Jean-Jacques Rousseau faleceu em 
Ermenonville, França, no dia 2 de julho de 1778. Seus restos mortais foram 
transportados para o Panteão de Paris. Em sínteses: Jean-Jacques Rousseau, foi um 
filósofo social, teórico político e escritor suíço. Foi o mais popular dos filósofos que 
participaram do Iluminismo, movimento intelectual do século XVIII. Suas ideias 
influenciaram a Revolução Francesa. Em sua obra mais importante "O Contrato 
Social" desenvolveu sua concepção de que a soberania reside no povo. 
 
2. OBRAS 
Escreveu, além de estudos políticos, romances e ensaios sobre educação, 
religião e literatura. Suas obras principais são: Discurso sobre as ciências e as artes 
(1750), Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens 
(1755) e Do contrato social (1762). 
 
Discurso sobre as 
ciências e as artes 
(1750) 
O “Discurso sobre as ciências e as artes” lembra um 
pouco, em seu método e estilo, a maiêutica de 
Sócrates. Rousseau faz afirmações incisivas, mas são 
poucas. No mais das vezes ele duvida e formula 
perguntas. Logo de início diz: “O restabelecimento das 
ciências e das artes contribuiu para purificar ou para 
corromper os costumes? Eis o que se trata de 
examinar. Que partido devo tomar nessa questão? 
Aquele, senhores, que convém a um homem de bem 
que nada sabe e que como tal não se estima menos.” 
Assim, apresentando dúvidas e formulando questões, 
Rousseau vai extraindo, como em um parto, a 
experiência vivida de seus leitores para que cheguem a 
uma conclusão geral. A grande questão é: o homem, ao 
deixar seu estado de natureza, com toda a sua 
probidade, honradez, força e energia para se dedicar 
às ciências e às artes não teria se corrompido no que 
possuía de mais puro? A resposta cabe, 
exclusivamente, ao leitor. É a maiêutica. 
Discurso sobre a 
origem e os 
fundamentos da 
desigualdade entre os 
homens 
(1755) 
Qual a origem da desigualdade entre os homens? Esta 
pergunta atual, contundente e complexa fascinou 
Rousseau em meados do século XVIII. O filósofo, 
impressionado com a grandiosidade da questão, 
produziu o Discurso sobre a origem e os fundamentos 
da desigualdade entre os homens. Publicado em 1755, 
este ensaio exerceu uma grande influência não 
somente sobre o pensamento cultural e político da 
época – insuflando os líderes da Revolução Francesa 
com seu entusiasmo e a defesa apaixonada de seus 
ideais – como também serviu de base, mesmo que 
indiretamente, para diversos pensadores como 
Proudhon, Marx e Heidegger. Rousseau, ao realizar um 
estudo crítico sobre a desigualdade, sustenta sua 
argumentação em dois grandes pilares: a instituição da 
propriedade privada – que seria o fator de grande 
ruptura na organização social da humanidade, 
desencadeador de guerras e crimes – e a ambiguidade 
da própria civilização, fruto do conflito entre o homem e 
a natureza, ao mesmo tempo perversa e 
impulsionadora do progresso. Mostra como aconteceu 
o desenvolvimento do homem desde seu estado de 
natureza até a vida em sociedade. Dividida em duas 
partes, na primeira o autor descreve o homem e o 
ambiente em que vive no estado natural. Na segunda, 
mostra que a sociedade civil teve início com o homem 
que afirmou - 'Isto é meu'. Para ele, o homem selvagem 
anseia apenas o repouso e a liberdade, já o outro, 
sempre ativo, agita-se, trabalha até a morte, faz a corte 
aos ricos e se envaidece de sua escravidão pela vida. 
Do contrato social 
(1762) 
“O homem nasceu livre, e em toda parte vive 
acorrentado. O que se crê amo dos outros não deixa 
de ser mais escravo que eles. Como essa mudança 
se deu? Não sei. O que a pôde tornar legítima?” 
Este é o famoso enunciado que abre Do contrato social, 
tratado político escrito pelo filósofo Jean-Jacques 
Rousseau e publicado pela primeira vez em 1762. 
Polêmico e controverso, o livro suscitou um debate que 
dura até os dias de hoje e que atravessa muitos campos 
do conhecimento humano. Rejeitando a ideia de que 
qualquer um tem o direito natural de exercer autoridade 
sobre o outro, Rousseau defende um pacto, o “contrato 
social”, que deveria vigorar entre todos os cidadãos de 
um Estado e que serviria de fonte para o poder 
soberano. Aos olhos de Rousseau, é a sociedade que 
degenera o homem, ele próprio um animal com pendor 
para o bem. Extraído de uma obra maior, “iniciada 
outrora sem ter consultado minhas forças e 
abandonada faz tempo”, este é um livro que trata de 
questões ligadas à política e à lei, à liberdade e à 
justiça. A sociedade imaginada por Rousseau foi 
considerada por muitos um modelo de totalitarismo, e 
para outros foi uma poderosa declaração de princípios 
democráticos. 
 
3. RACIONALISMO 
O pensamento de Rousseau é muito original em comparação com os demais 
filósofos modernos do Iluminismo. Era comum aos iluministas uma exaltação da razão 
contra as trevas da fé religiosa. Rousseau, em face desse quadro, não toma parte do 
obscurantismo religioso, mas também não toma parte de um pleno racionalismo. 
Rousseau crítica o racionalismo, ao fazer, como Sócrates, um elogio à ignorância, 
pois, segundo este, os que se consideram e são considerados como sábios, são os 
últimos a sê-lo. Rousseau, aponta que o pensador do século XVIII acusa a “razão 
raciocinante” de ser uma razão instrumental responsável de aprisionar os seres 
humanos “na subjetividade turva da opinião e da ilusão”. Rousseau nos recomenda 
consultar a natureza, cujos movimentos são sempre retos. A voz da natureza, para 
Rousseau, é menos a de nossas inclinações que a da consciência. Mas a própria 
consciência não é um juízo da razão, é o “impulso” de um ser sensível. Embora se 
oponha, em nós, ao amor de nós mesmos, ela, como ele, vem do domínio da 
sensibilidade. Amor do bom ou do belo moral, sentimento inato, instinto divino, em seu 
princípio ela permanece independente da própria razão. Ora, segundo Rousseau, é a 
consciência que deve ser a regra de nossas ações, porque é infalível, enquanto 
acontece da razão extraviar-se. 
 
4. DIREITO NATURAL 
Ao mesmo tempo em que se filia à tradição do direito natural, Rousseau se 
destaca dos demais jusnaturalistas modernos por não compreender, como os demais, 
o direito natural como produto da razão cerebrina dos indivíduos. O jusnaturalismo 
moderno, burguês, caracteriza-se pela compreensão de uma lei extraída 
racionalmente de cada indivíduo. Rousseau, pelo contrário, constrói o acesso à lei 
natural no turbilhão de sentimentos e afecções humanas. 
Nas suas obras fundamentais para a política e o direito, o Discurso sobre a 
origem e os fundamentos da desigualdade entreos homens e O contrato social, 
Rousseau se dedica a afirmar um direito natural e, ao mesmo tempo, demonstrar a 
dificuldade que se tem de extrair dele uma diretriz para a vida humana. Em primeiro 
lugar, porque os homens da atualidade só alcançam o direito natural e o estado de 
natureza a partir da condição de civilização atual, portanto, de modo viciado, com as 
lentes de hoje. Além disso, porque os homens não chegam à própria natureza e ao 
direito natural apenas pela razão, mas pelos seus sentimentos e interesses. 
Para Rousseau, mesmo havendo um direito natural, ele se revela e se resolve 
na lei civil, na convenção humana a partir do contrato social. Certo que não em 
qualquer pacto e também não na submissão a um terceiro, mas sim no modelo de 
contrato social proposto por ele. 
O direito natural, para Rousseau, não é uma fonte de mera contemplação a 
partir da qual se construa, como reflexo, a legislação social. O modelo de direito 
natural de Rousseau, ao contrário dos demais modernos, não é estático, é dinâmico: 
o justo é uma mudança dos homens, transformando seu individualismo e seu amor-
próprio em solidariedade. 
 
5. ESTADO DE NATUREZA X ESTADO CIVIL 
ESTADO DE NATUREZA - O homem em natureza não se vale dos engenhos, 
não necessitando de ferramentas ou técnicas, nem da palavra, nem da residência, 
nem da guerra, nem do vínculo com os seus semelhantes. O homem, em natureza, 
não está adstrito aos demais, nem às leis ou convenções de outrem. Se alguém lhe 
impede de se deitar sob a fronde de uma árvore, o homem procura outra. É certo que 
o homem está limitado na sua relação com a natureza, na dependência que tem em 
relação àquilo que pode perceber dos recursos naturais. Mas, em relação a outros 
homens, o homem natural é livre. Além disso, são características do homem natural o 
amor próprio – que conduz à sua luta pela conservação – e também uma piedade 
inata – na medida em que as dificuldades da vida natural fazem com que o observador 
se identifique com o sofredor. O próprio Rousseau faz um balanço da primitiva 
condição humana, sob estado de natureza: “Concluamos que, errando pelas florestas, 
sem engenho, sem a palavra, sem domicílio, sem guerra e sem vínculos, sem a menor 
necessidade de seus semelhantes, assim como sem nenhum desejo de prejudicá-los, 
talvez até sem jamais reconhecer algum deles individualmente, o homem selvagem, 
sujeito a poucas paixões e bastando-se a si mesmo, tinha apenas os sentimentos e 
as luzes próprias desse estado, sentia apenas suas verdadeiras necessidades, só 
olhava o que acreditava ter interesse de ver e sua inteligência não fazia mais 
progressos do que sua vaidade”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OBS.: há três filósofos que trataram do estado de natureza, tendo cada um 
significado próprio do que seja esse estado. 
1) Para Thomas Hobbes, o "Estado de Natureza" é qualquer situação em que 
não há um governo que estabeleça a ordem. O fato de todos os seres humanos 
serem iguais no seu egoísmo faz com que a ação de um só seja limitada pela força 
do outro. "O homem é o lobo do homem". 
2) Para John Locke, o Estado de Natureza não é apenas uma construção teórica, 
ele sempre existiu. Locke entendia que no Estado de Natureza as pessoas eram 
submetidas à Lei da Natureza o que era possível porque elas eram dotadas de razão. 
Nesta Lei da Natureza cada indivíduo poderia fazer o papel de juiz e aplicar a pena 
que considerasse justa ao infrator. Ao contrário de Hobbes, na teoria de Locke não 
haveria uma guerra generalizada. 
3) Rousseau não acreditava que o estado de natureza seria uma etapa da 
história humana caracterizada por inconveniências que deveriam ser substituídas 
pela sociedade civil. Na verdade, Rousseau é conhecido por ser o filósofo do bom 
selvagem por atribuir características positivas ao estado de natureza. Na concepção 
de Rousseau, o ambiente natural seria como se fosse criado para servir as 
necessidades do homem. Por isso ele havia de ter poucas preocupações, tais como 
preservação, reprodução e alimentação. Outro ponto importante é o fato de que em 
estado de natureza, o homem primitivo vive em isolamento. A ausência de 
comunidades era consequência da falta de necessidade que um tinha do outro. 
ESTADO CIVIL – O surgimento da propriedade privada marca a destruição da 
condição de felicidade natural, passando a impor aos homens os sofrimentos sociais. 
São célebres as frases de Rousseau: “O primeiro que, tendo cercado um terreno, 
atreveu-se a dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas simples o suficiente para acreditar 
nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, 
assassínios, quantas misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele 
que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, houvesse gritado aos seus 
semelhantes: “Evitai ouvir esse impostor. Estareis perdidos se esquecerdes que os 
frutos são de todos e que a terra não é de ninguém!” Porém, ao que tudo indica, então 
as coisas já haviam chegado ao ponto de não mais poder permanecer como eram, 
pois, essa ideia de propriedade, dependente de muitas ideias anteriores que só 
puderam nascer sucessivamente, não se formou de uma só vez no espírito humano”. 
Com o exercício da vaidade e da hierarquização entre os homens, chega-se a um 
momento na vida humana em que o conflito se instaura. Para Rousseau, passa a 
haver ambição, avareza e maldade entre os homens. Disso resultam combates e 
assassínios. Mas as facilidades da divisão do trabalho, a propriedade que subjuga e 
as aquisições dela provenientes não permitem aos homens que renunciem a tal 
estado de vida social. A guerra passa a destruir o gênero humano, colocando-o à beira 
de sua ruína. Com um estado de guerra instaurado a partir da propriedade privada e 
da competição entre os homens em sociedade, os próprios ricos pensam então em 
ludibriar os pobres, dando-lhes a promessa de que instituições seriam construídas 
para dar garantias a todos. O Estado e o direito daí então se levantam, como 
enganação coletiva possibilitada por um contrato social feito em face da guerra que 
arruinava os homens. 
TRANSIÇÃO DO ESTADO DE NATUREZA PARA O ESTADO CIVIL – 
Quando o homem passou do Estado de Natureza para o Estado de Sociedade ou 
Estado de Civilização? Em certo momento na história, alguém passou a escravizar 
outros homens, utilizando a força, criando a propriedade privada, o Estado e 
suprimindo a sua liberdade natural. A desigualdade – opondo ricos e pobres, 
governantes e governados – seria a fonte primeira de todos os males sociais, a origem 
primordial de todas as outras desigualdades, da qual surgiram a exploração e a 
escravidão. A instituição da propriedade privada seria o marco do fim da liberdade 
natural encontrada no estado de natureza. Quando o homem cercou um terreno e 
definiu o que seria somente seu, ele é coibido a pensar em necessidades que não 
possuía. A coletividade sufocaria as qualidades naturais e despertaria paixões e 
vicios, que empobreciam e infelicitavam a vida em sociedade. Seria então um estado 
de guerra generalizada. A passagem do Estado de Natureza para a sociedade é uma 
ruptura na qual o homem acaba por distanciar-se de sua essência. A sociedade, 
então, condenou o homem a todos os tipos de crime, inveja, cobiça, guerras, mortes, 
horrores, sede de poder e vaidade. A alma do homem foi se deturpando de forma que, 
hoje, ele está irreconhecível. Para existir harmonia e bem-estar, deveria haver uma 
nova sociedade, na qual cada um, em vez de submeter-se à vontade de outrem, 
obedeceria apenas a uma chamada “vontade geral”, que o homem reconheceria como 
sua própriavontade. Como isso ocorreria? A partir de um acordo racional entre os 
homens, o famoso Contrato Social. 
 
6. CONTRATO SOCIAL 
“Em estado natural, os homens são iguais: os males só 
surgiram depois que certos homens resolveram 
demarcar pedaços de terra, dizendo a si mesmo: Esta 
terra é minha. E então nasceram os vários graus da 
desigualdade humana”. 
 
Para Rousseau a única esperança de garantir os direitos de cada um está na 
organização de uma sociedade civil, com direitos iguais para todos. Isso poderia ser 
realizado por meio de um contrato estabelecido entre os vários membros do grupo. 
Por esse acordo, cada indivíduo concordaria em submeter-se à vontade da maioria: 
nasce o Estado. 
O Contrato Social é um acordo com a finalidade de criar a sociedade civil e do 
Estado. Nele, os homens abdicam de todos os seus direitos naturais em favor da 
comunidade, recebendo em troca a garantia de sua liberdade no limite estabelecido 
pela lei: “O que o homem perde pelo Contrato Social são a liberdade natural e um 
direito ilimitado a tudo o que tenta e pode alcançar; o que ganha são a liberdade civil 
e a garantia da propriedade de tudo o que possui”. 
Quando esse acordo não é feito em liberdade (pacto de submissão), entre 
partes desiguais, constrói-se um Estado autoritário. Quando é feito em liberdade 
(pacto de liberdade), por livre vontade, entre partes que estejam em pé de igualdade, 
tem-se a democracia. Nessa democracia (direta), a soberania, portanto, não residiria 
no rei, como dizia Hobbes, mas nos cidadãos, os quais escolheriam seu governante 
segundo as próprias necessidades. É a chamada soberania popular, ou seja, a 
vontade suprema seria a Vontade Geral dos cidadãos. Esse Estado garantiria a 
liberdade dos homens e a obediência, já que todos reconhecem as autoridades como 
legítimas e percebem que o propósito do Estado é garantir o bem comum. Como todos 
aceitam a legitimidade desse Estado, obedecê-lo é como obedecer a si mesmo. Nessa 
sociedade domina a lei, e não a vontade política dos que governam. 
Contra a organização política estabelecida a partir de representantes, 
Rousseau se encaminha para apontar a necessidade de assembleias permanentes 
que reúnam os cidadãos, membros soberanos do Estado, para que deliberem a 
respeito das próprias leis e dos administradores públicos, podendo o povo revogá-las 
e removê-los. Por meio da democracia ativa e direta, busca-se minorar os indesejáveis 
efeitos do perecimento do Estado em razão dos governantes. Para Rousseau, o 
soberano é o povo. 
 
7. VONTADE GERAL 
Na fórmula de Rousseau para esse contrato social, aparece então o elemento 
fundamental da vontade geral. O pacto que se estabelece entre os indivíduos, 
consolidando sua associação, retira dos mesmos indivíduos a possibilidade de fazer 
valer seus interesses pessoais. Mas, não sendo os indivíduos alheios à entidade que 
se forma coletivamente, e sim seus membros ativos, sua vontade individual mergulha, 
então, numa vontade geral, que aponta para o objetivo do bem comum. A vontade 
geral passa a ser a diretriz de toda a vida social institucionalizada. Os interesses 
pessoais que se lhe contraponham são ilegítimos. Assim sendo, a vida política no 
Estado passa a ser não apenas legitimada por conta de instrumentos formais – como 
o era com os demais contratualistas, com a mera delegação de um poder a um terceiro 
–, mas sim por uma diretriz substancial – o bem comum. O contrato social de 
Rousseau, lastreado na vontade geral, passa a ter uma perspectiva formal e também 
material de orientação. 
O próprio Rousseau, na originalidade da sua proposta sobre a vontade geral, 
reconhece que ela não é simplesmente a soma ou a média matemática dos interesses 
isolados de todos os indivíduos. A vontade geral é uma vontade soberana orientada 
para o bem comum, ainda que os indivíduos, isoladamente, assim não pensem ou não 
percebam. 
Será a lei, para Rousseau, que consubstanciará a vontade geral. O bem comum 
não se identifica à vista de todos como um elemento da natureza. A sociedade não é 
um organismo ao molde físico, mas sim moral. Não é também a vontade de um 
indivíduo com poderes absolutos que ditará as regras do bem comum. A vontade geral 
é fixada em conjunto pelos membros do Estado, por meio de leis. 
 
8. LEI E JUSTIÇA 
Segundo Eduardo Bittar, a lei só pode ser identificada com ordem à medida que 
é ela a orientação racional de todos para todos, ou seja, expressão maior da vontade 
geral, concretização do que o pacto quer ver acontecer orgânica e harmoniosamente 
em sociedade. Nesse sentido, a lei só pode ser a representação das vontades, em 
que cada indivíduo vê cristalizado também seu interesse; em que residem todos os 
interesses, na lei reside o interesse de cada individuo e de todos os indivíduos. A lei, 
assim retratada, só pode ser vista como sendo uma continuidade da própria lei natural, 
ou seja, daquela lei que preside a vivencia humana anterior ao estado cívico. 
Rousseau aponta para o caráter de universalidade necessário às leis, a fim de 
que se orientem em busca da vontade geral. Devem ser as leis impessoais, gerais e 
universais. Ao mesmo tempo, não bastam seus atributos meramente formais. É 
necessário que as leis, para serem instrumentos diretivos da vontade geral, atentem 
para determinados objetivos. Rousseau exprime tais objetivos na fórmula da busca da 
liberdade e da igualdade. 
A justiça estabelecida na lei deve ter reciprocidade entre os indivíduos, cada 
um tendo seus direitos e deveres, tanto o soberano quanto os súditos. Por isso, as 
leis devem representar toda a sociedade, sendo consideradas como vontade geral 
(não no sentido de uma união das vontades individuais e sim da vontade do corpo 
político). A obediência à vontade geral evita injustiças e desigualdades, visto que é 
direcionada ao bem comum. Vale considerar que, segundo Rousseau, a justiça tem 
origem divina e, se os homens soubessem recebê-la dessa fonte, não seria preciso 
haver leis ou governos. Assim, a necessidade de convenções e leis é a garantia da 
união de direitos e deveres, no sentido da manutenção da justiça no estado civil, no 
qual a lei determina e salvaguarda direitos. Segundo Eduardo Bittar, a justiça reside 
no respeito pelo que da natureza humana deflui, não se podendo ultrapassar os limites 
que são ditados pelo ato de concessão de poder quando do perfazimento do contrato. 
A injustiça, representa aquilo que não corresponde a vontade geral dos contratantes. 
IMMANUEL KANT (1724 – 1804) 
1. BIOGRAFIA 
Immanuel Kant nasceu em Königsberg, na Prússia Oriental, 
então Império Alemão no dia 22 de abril de 1724. Filho de um 
artesão de descendência escocesa era o quarto de nove filhos. 
Passou grande parte de sua vida nos arredores de sua cidade 
natal. Dos pais luteranos recebeu uma severa educação 
religiosa. Na escola local estudou latim e línguas clássicas. Em 
1740, com 16 anos ingressou na Universidade de Königsberg, 
onde estudou com o filósofo Martin Knutzen e se aprofundou no estudo da filosofia 
racionalista de Leibniz e de Christian Wolff. Despertou também o interesse pela 
Ciência Natural, em particular pelos estudos de Newton. Em 1746, após a morte do 
pai, Kant se viu obrigado a deixar a universidade e passou a dar aula particular para 
ajudar no sustento da família. Em 1754 retornou à universidade e após concluir o 
doutorado foi nomeado professor universitário. Lecionou Filosofia Moral, Lógica e 
Metafísica. No início de 1760, influenciado pela filosofia do filósofo inglês David Hume, 
começou a dar forma à tese central de sua filosofia. Em 1770, depois de obter a 
cátedra, transcorreram 10 anos de silêncio, durante os quaisse dedicou ao trabalho 
de construir sua “Filosofia Crítica”, ao entrar em contato com o empirismo cético do 
filósofo inglês, David Hume, que lhe permitiu, segundo suas próprias palavras, 
“despertar de um sonho dogmático”. Em 1792, devido a suas idéias sobre religião, foi 
proibido de escrever ou dar aulas sobre assuntos religiosos pelo rei Frederico 
Guilherme II, da Prússia. Em 1798, com a morte do rei, Kant viu-se desobrigado de 
obedecer à censura, publicando um sumário de suas idéias religiosas. Immanuel Kant 
faleceu em Königsberg, Alemanha, no dia 12 de fevereiro de 1804. 
 
2. OBRAS 
No início dos anos 1760, Kant, influenciado pela filosofia de Hume, começa a 
dar forma à tese central da sua filosofia, de que o conhecimento humano pressupõe 
a participação ativa da mente humana, dando origem a livros que são os pilares de 
sua obra. São eles: Crítica da razão pura (1781), que criou as bases para a teoria do 
conhecimento como disciplina filosófica e marcou o início da filosofia moderna, 
Fundamentação da metafísica dos costumes (1785), Crítica da razão prática (1788) e 
Crítica da faculdade do juízo (1790). Em comum, todos eles defendem um profundo 
estudo do conhecimento humano, das formas e dos limites das faculdades cognitivas 
do homem, partindo do princípio de que o conhecimento começa com a experiência, 
mas não deriva dela. Doutrina do Direito (1796). 
Crítica da razão pura 
(1781) 
É a principal obra de teoria do conhecimento do filósofo 
Immanuel Kant, cuja primeira edição é de 1781, com 
alterações substanciais feitas pelo autor em 
determinadas seções, de 1787. A obra é considerada 
como um dos mais influentes trabalhos na história da 
filosofia, e dá início ao chamado idealismo alemão. 
Fundamentação da 
metafísica dos 
costumes 
(1785) 
'A Fundamentação da Metafísica dos Costumes' 
aborda o problema do imperativo moral. Na obra, o 
objecto de análise é o juízo comum dos homens em 
matéria moral. É considerada por muitos filósofos a 
mais importante obra já escrita sobre a moral. É nesta 
obra que o filósofo delimita as funções da ação 
moralmente fundamentada e apresenta conceitos como 
o Imperativo categórico e a Boa vontade. 
Crítica da razão prática 
(1788) 
A segunda das três "Críticas" publicadas por Kant, dá 
continuidade à sua investigação crítica acerca dos 
princípios da moral, então iniciada em 1784, com a 
publicação da "Fundamentação da Metafísica dos 
Costumes". Nela Kant analisa as condições de 
possibilidade para uma moral com pretensão 
universalista e apresenta mais uma vez o imperativo 
categórico, forma da lei moral para uma vontade 
imperfeita. O imperativo categórico - agir de tal modo 
que a máxima da tua ação possa valer como lei 
universal - é tomado então como um fato da razão, a 
revelar como essência sua a liberdade da vontade, 
liberdade que é assim compreendida como autonomia. 
Crítica da faculdade do 
juízo (1790) 
Terceira das três críticas publicadas, é nesta obra que 
Kant apresenta e discute o conceito de juízo estético. O 
título da obra que tem melhor tradução do alemão por 
Crítica da Faculdade do Juízo, é a terceira e última 
crítica elaborada pelo filósofo alemão Immanuel Kant. 
A primeira, Crítica da Razão Pura, examina os limites 
da razão quanto as possibilidades a priori do 
conhecimento. A segunda, Crítica da Razão Prática, 
discorre sobre os limites dos princípios morais já 
fundamentados a priori na razão. Nesta terceira obra, 
Kant busca além da razão, ele investiga os limites 
daquilo que podemos conhecer pela nossa faculdade 
de julgar, que leva em consideração não apenas a 
razão, mas também a memória e os sentimentos. 
Doutrina do Direito 
(1796) 
Entre a primeira Crítica e a segunda, em 1785, 
escreveu 'Fundamentos da Metafísica dos Costumes', 
em que coloca as bases de uma ética em consonância 
com sua metodologia crítica, abrindo caminho para um 
estudo do Direito e da Moral. Somente em 1796 veio a 
lume a primeira parte da 'Metafísica dos Costumes' com 
o nome de 'Doutrina do Direito'. Em suma, a obra agora 
dada à publicação é um livro obrigatório para todos que 
pretendem realizar um estudo sério do modelo jurídico-
liberal, vale dizer do Direito atual entre nós, em suas 
bases mais profundas, desde que se leia com espírito 
crítico, lembrando que Kant é um homem do século 
XVIII, do individualismo e da luta contra as formas 
diversas de despotismo, a que falta a visão do social 
que Comte, Hegel e Marx iriam destacar no século XIX, 
a partir dele e dialeticamente negando o e superando 
seu sistema para construir uma sociedade ainda mais 
justa. 
 
3. IDEALISMO ALEMÃO 
O idealismo alemão foi um movimento filosófico muito específico e fundamental 
pelo menos em parte para desenvolvimento crítico no desenvolvimento da 
epistemologia, sobretudo, em referência ao movimento formulado por Kant. O 
idealismo alemão, começa no final do século XVIII e prolonga-se, nas suas últimas 
consequências, até à metade do século XIX, sendo a sua criação em Kant, o seu 
apogeu em Fichte, a sua maturidade em Schelling e a sua consumação em Hegel. 
O propósito do idealismo alemão é a criação de um amplo sistema filosófico, 
rigorosamente homogêneo e fundamentado na irrefutabilidade de sua especulação 
lógica, cuja finalidade é encontrar a indivisibilidade do absoluto. Neste sentido, pode-
se indicar, em geral, como o elemento característico das grandes doutrinas idealistas, 
a busca de um sistema unificador da totalidade do real, um pensamento que contenha 
a própria idéia do ser, o absoluto. 
A construção do modelo filosófico kantiano não é nem empirista nem 
racionalista. Kant reconhece em David Hume uma verdade necessária: por meio das 
experiências, somos informados dos eventos e fatos que se nos apresentam. Mas o 
conhecimento, para Kant, não era somente a apresentação das coisas à nossa vista. 
Sua proposta, muito mais elaborada que o racionalismo e o empirismo, serão 
conhecidos como um dos momentos marcantes do idealismo alemão. Trata-se de 
uma relação superior entre realidade e razão. Kant é um dos grandes nomes do 
idealismo, mas se trata aqui da nomenclatura de uma larga corrente. Por outros 
caminhos, Hegel também é conhecido como um filósofo alemão idealista. 
 
4. RAZÃO PURA 
A questão do conhecimento é o grande eixo da proposta filosófica kantiana. Ao 
seu tempo, a filosofia estava enredada nos dilemas do racionalismo e do empirismo. 
O primeiro método filosófico, o racionalismo, dando ênfase às ideias prévias ao 
conhecimento, a essências ou conteúdos inatos, apresentava como problema 
insolúvel o seu descolamento da realidade. Já o empirismo, por sua vez, fazia do 
conhecimento uma mera apreensão imediata de coisas, sem que a razão tivesse um 
papel preponderante. A grande construção kantiana sobre o conhecimento e sobre a 
relação entre razão e realidade está no seu livro Crítica da razão pura. Kant constrói, 
ao cabo de sua empreitada na Crítica da razão pura, um conhecimento que é calcado 
na subjetividade, mas que é universal, com categorias prévias à experiência. A 
universalização de Kant, antes que pelo objeto, que não se alcançava, era pelo sujeito 
do conhecimento, porque contava este com categorias necessárias e universais. 
Segundo Eduardo Bittar, o conhecimento só é possível para Kant na medida 
em que interagem condições materiais de conhecimento advindas da experiencia (o 
que os sentidos percebem) com condições formais de conhecimento (o que a razão 
faz com que os sentidos percebam). A experiencia é o inicio do conhecimento, mas 
sozinha é incapaz de produzir conhecimento: “Se, porém, todo o conhecimento se 
inicia com a experiencia, isso não prova que todo ele derive da experiencia”. 
O conhecimento, assim, nãoé só a apreensão sensível dos fenômenos, é 
também um pensar a respeito deles. Quando se apreende um fenômeno, é necessário 
que sua compreensão envolva categorias como a de quantidade ou causalidade. São 
as categorias a priori que possibilitam uma intelecção universal e necessária dos 
fenômenos percebidos. 
 
4.1. JUÍZO SINTÉTICO A PRIORI E A POSTERIORE 
As categorias que possibilitam o conhecimento dos fenômenos são 
denominadas, por Kant, juízos sintéticos a priori. São juízos necessários, universais. 
Diferem--se dos juízos sintéticos a posteriori. Quando alguém diz que a sala de aula 
tem a cor branca, fez um juízo sintético a posteriori. Foi à sala, viu a cor de sua parede, 
e então depois (a posteriori) atribuiu uma propriedade a um objeto (a parede é branca). 
Trata-se de um conhecimento casual – outra parede pode ter outra cor, e a própria 
parede em referência, visitada amanhã, pode ter outra cor. Mas os juízos sintéticos a 
priori são distintos. Quando se diz que toda parede pintada assim o é porque recebeu 
a ação de um pintor, que a toda ação corresponde uma reação, trata-se de um juízo 
sobre a causalidade necessária dos fenômenos. Não é preciso ver a parede em si 
para saber que houve a ação de um pintor com tintas para que ela esteja pintada. A 
categoria da causalidade é uma ferramenta que se apresenta de modo necessário, 
antes da própria experiência de ver o fenômeno da parede pintada. 
O juízo sintético a posteriori é um conhecimento no qual os predicados 
acrescentam alguma novidade ao sujeito porque são apreendidos pela experiência 
empírica. Quando se diz que um giz caiu, esse juízo só é possível pela experiência do 
próprio fenômeno, mas é um juízo contingente, individual ao fenômeno. 
Já os juízos sintéticos a priori são os que acrescentam um predicado a um 
sujeito não pelo fato percebido, mas sim por relações necessárias e universais. Todo 
giz solto no ar cai. A causalidade, como já visto, é um juízo sintético a priori. É nesses 
juízos a priori que se concentra o interesse da filosofia kantiana, porque são universais 
e necessários. 
Na Crítica da razão pura, Kant tentou resumir seu itinerário: “Todo o nosso 
conhecimento parte dos sentidos, vai daí ao entendimento e termina na razão, acima 
da qual não é encontrado em nós nada mais alto para elaborar a matéria da intuição 
e levá-la à suprema unidade do pensamento”. 
 
4.2. ESPAÇO E TEMPO 
Sem tais estruturas prévias no sujeito do conhecimento, é impossível a 
apreensão de quaisquer fenômenos. Essa organização espacial e temporal dos 
fenômenos é que possibilita sua própria apreensão. Não cabe ao homem afirmar 
sobre o tempo em si ou o espaço em si, mas apenas asseverar que as formas do 
tempo e do espaço são universais e necessárias, vale dizer, organizam necessária e 
universalmente o conhecimento sensível. Como a apreensão é de fenômenos, e não 
de coisas em si, o espaço e o tempo não são da conta das coisas, mas sim do sujeito 
do conhecimento. 
 
 
 
5. RAZÃO PRATICA 
Outra de sua grande crítica, a Crítica da razão prática, Kant se ocupará não do 
conhecimento, mas sim da aplicação dos juízos de valor na realidade, tratando, por 
exemplo, da questão da justiça. A razão prática é o campo filosófico no qual Kant 
constrói sua teoria a respeito da valoração ética, moral, jurídica, estética, política. 
A razão pratica trata-se da conduta adotada a partir da vontade humana, sendo 
que seu núcleo reside no imperativo categórico. Para Kant, todo homem é um fim em 
si mesmo, um sistema particular capaz de governar-se a si próprio de acordo com a 
orientação da maxima decorrente do imperativo categórico. o homem, como ser por 
natureza racional, é o ser que tem em si o princípio do domínio de si. 
 
6. DEVER E MORALIDADE 
Segundo Kant, para estruturar a razão prática é preciso distinguir entre dever e 
moralidade. Agir conforme o dever é empreender as ações que sigam os trâmites de 
uma determinada legalidade. Mas seguir o dever não significa, necessariamente, o 
cumprimento da moralidade. Alguém pode cumprir o dever da caridade por interesse: 
quer ter reconhecimento social. Outro pode praticar o dever de caridade por gosto: 
dá-lhe satisfação pessoal saber que alguém está melhor por causa de sua ajuda. Para 
Kant, tais ações configuram o dever, mas ainda não a moralidade. A moralidade não 
é apenas o cumprimento do dever. É mais: trata-se de uma predisposição a cumprir o 
dever sem nenhum outro fundamento que não apenas o próprio querer. Por isso, a 
moralidade não se mede pelo seu resultado. O querer, sem intenções outras que não 
o próprio cumprimento do dever, é seu fundamento último. Assim sendo, a moralidade 
se instaura no campo de uma vontade que busca cumprir o dever sem interesses 
externos. 
 
7. LIBERDADE 
Seria a autonomia, o agir de maneira incondicionada. Agir com base na razão 
pura, independentemente de qualquer condicionamento, finalidade, causa. Seria o 
que ele chama de agir por dever (independentemente de qualquer coisa). Todo ser 
racional tem a capacidade de agir por dever, não podendo, então, lesionar o outro; 
deve respeitar o próximo. Para Kant, ser livre (agir por dever) é ser moral. Kant funda 
a autonomia da moral na razão. 
Ser livre é ser capaz de obedecer à razão. De acordo com o pensamento 
kantiano, a liberdade é a independência da vontade em relação a toda a outra lei que 
não seja a lei moral. 
A liberdade, em Kant, permanece grande parte do tempo como mera 
possibilidade. Será impossível ser sempre livre; se faz necessária, então, a presença 
do Estado, que será a instrumentalização do uso da forma, com base na ameaça de 
sanção, que deverá servir para proteger a autonomia. Enquanto seres morais, 
estamos submetidos à duas ordens legais 
▪ imperatividade do dever (liberdade) - autonomia 
▪ legalidade do direito – heteronomia 
Esses dois conceitos são notadamente kantianos, eis o que significam: A 
autonomia da vontade é a qualidade que significa que a vontade tem de ser uma lei 
para si mesma. A autonomia é atribuída à vontade moral, pois as leis devem ser dadas 
por si mesmo, pelo próprio sujeito, a vontade moral é, portanto, uma vontade 
autônoma. A heteronomia é quando a vontade busca a lei, não em si mesma, mas em 
outro lugar, exterior a si mesma. 
 
8. PESSOA X COISA 
A pessoa seria aquela que tem capacidade de agir por dever, capacidade de 
autodeterminação - exige ser considerada como um "fim em si mesmo", que seria o 
respeito à liberdade de se autodeterminar. Já a coisa não tem capacidade de 
autodeterminação. Possui preço, utilidade (pode ser utilizada como meio). 
 
9. IMPERATIVO CATEGÓRICO 
O núcleo do pensamento kantiano sobre a moralidade repousa no conceito de 
imperativo categórico. Trata-se de uma orientação para o agir moral racional. Para 
Kant, o homem, não sendo um Deus, não age natural ou necessariamente no caminho 
da moralidade. Por isso, racionalmente, a moralidade se apresenta como um 
imperativo. Trata-se de um dever-ser que se apresenta à vontade e à racionalidade 
humana, e não simplesmente um desdobramento natural do ser do homem. Além 
disso, é um imperativo para o agir. O imperativo categórico é não apenas um saber 
que orienta a moral, mas uma diretiva que tem em vista a ação. 
Kant distingue os imperativos categóricos dos imperativos hipotéticos. Estes 
últimos são os modos de ação típicos da técnica ou do pragmatismo. Se um homem 
quer buscar um objeto que foi jogado no telhado, então sua melhor técnica deve ser 
a de subir uma escada; se alguém quer sua felicidade, então pensa positivamente. 
Todos esses imperativos – técnicos ou pragmáticos – propõem deveres que servem 
como meiosa fins. São imperativos hipotéticos. O imperativo categórico, ao contrário, 
não se estabelece assim. Não é orientado a fins específicos. Não faz alguma coisa 
para conseguir outra. É orientado ao cumprimento do dever pelo dever e, por isso, é 
independente de condicionantes concretas, sendo, pois, universal. 
A universalidade é a marca dos imperativos categóricos. Isso quer dizer, há 
uma pressuposição da aplicação universal e de um querer advindo de uma 
pressuposta universalidade dos agentes. A universalidade é uma medida fundamental 
do pensamento prático kantiano. Sua flexibilização, abominável à razão. Exemplo 
clássico dessa visão de mundo kantiana está na possibilidade moral da mentira. Se o 
imperativo categórico fosse flexível, não necessariamente universal, mentir seria 
legítimo moralmente. Mas, para Kant, com isso não seria possível pressupor a vida 
em sociedade, nem seriam possíveis os contratos, se fosse legítimo moralmente aos 
contratantes mentirem quando do acordo de vontades. Somente a verdade pode ser 
universalizada enquanto lei moral, e, assim, somente ela é expressão de uma 
racionalidade que se compreende em todos os homens. Não mentir seria, pois, o 
desdobramento necessário do imperativo categórico. 
Em síntese, para o filósofo alemão, imperativo categórico é o dever de toda 
pessoa agir conforme princípios os quais considera que seriam benéficos caso fossem 
seguidos por todos os seres humanos: se é desejado que um princípio seja uma lei 
da natureza humana, deve-se colocá-lo à prova, realizando-o para consigo mesmo 
antes de impor tal princípio aos outros. Em suas obras, Kant afirma que é necessário 
tomar decisões como um ato moral, ou seja, sem agredir ou afetar outras pessoas. O 
imperativo categórico é enunciado com três diferentes fórmulas (e suas variantes). 
São elas: 1) Lei Universal: "Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, 
através da tua vontade, uma lei universal." Variante: "Age como se a máxima da tua 
ação fosse para ser transformada, através da tua vontade, em uma lei universal da 
natureza." 2) Fim em si mesmo: "Age de tal forma que uses a humanidade, tanto na 
tua pessoa, como na pessoa de qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo como fim 
e nunca simplesmente como meio." 3)Legislador Universal (ou da Autonomia): "Age 
de tal maneira que tua vontade possa encarar a si mesma, ao mesmo tempo, como 
um legislador universal através de suas máximas." Variante: "Age como se fosses, 
através de suas máximas, sempre um membro legislador no reino universal dos fins." 
 
10. CONTRATUALISMO 
Todo o projeto jusfilosófico kantiano se funda numa ideia contratualista muito 
própria, sem a qual o sistema jurídico não se completa em sua racionalidade. Na ideia 
do contrato social, e na verdade na pressuposição da vontade geral do povo, é que 
reside para Kant a legitimidade do direito. O contrato social é uma necessidade do 
pensamento, tendo em vista que o Estado de direito se funda nesse nível de 
racionalidade que pressupõe o resguardo institucional da liberdade dos indivíduos em 
convívio. O Estado apenas garante as possibilidades da liberdade dos indivíduos, por 
isso sua função é assegurar, nas palavras de Kant, apenas a justiça. Para Kant, em 
uma perspectiva muito refratária ao que se possa pensar como crítica das 
desigualdades sociais, o direito não deve se ocupar do eventual sofrimento do povo. 
O contrato social, na sua opinião, é tão somente uma ideia que organiza a 
concretização da justiça enquanto garantia da liberdade. 
ESTADO DE NATUREZA - Para Kant, não há um estado de natureza como 
um fato. Ele também é uma ideia. A justiça tem dificuldade de se assentar no estado 
de natureza, pois a possibilidade do direito não se faz presente nessa hipótese de 
pensamento. A superação do estado de natureza, no entanto, não é simplesmente o 
estabelecimento do Estado. 
POLÍTICA – Para Kant, somente numa forma republicana se alcança uma 
soberania da organização social e política tal que a liberdade seja garantida. Por isso, 
o despotismo, embora se organize a partir de um Estado, não é artífice suficiente do 
Estado de direito. O arbítrio, para Kant, é o fundamento de sociedades anárquicas e 
despóticas. O direito é o fundamento das sociedades republicanas. 
 
11. DIREITO 
No âmbito do Direito, Kant situou a liberdade como o valor máximo a ser 
alcançado: “O Direito é o conjunto de condições segundo as quais o arbítrio de cada 
um pode coexistir com o arbítrio dos demais, de harmonia com uma lei universal de 
liberdade.” 
Para Kant, o direito se distingue da moral porque esta última busca uma espécie 
de prática da lei por si mesma, tendo seu âmago na vontade interna do sujeito, 
enquanto o direito se impõe como uma ação exterior, concretizando-se no seu 
cumprimento, ainda que as razões do sujeito não sejam morais. Embora tal distinção, 
há, no entanto, um núcleo comum ao direito e à moralidade. Para Kant, a forma do 
direito é semelhante à forma da moralidade. 
Os direitos naturais, que identificou com a liberdade, poderiam ser conhecidos 
a priori pela razão e independiam da legislação externa. Como os demais burgueses 
modernos, para ele o direito natural é da razão, extraído como possibilidade do 
pensamento do sujeito. Não é necessário que se o meça na realidade. Basta a sua 
forma pensada, apriorística, para que se afirme. Por isso, Kant representa a mais 
radical ruptura com o pensamento jurídico antigo, clássico, cujo maior propositor fora 
Aristóteles. Para este, a natureza ensinava, servia de guia e mensuração. Para Kant, 
o direito justo é pensado, e não necessita nem de confirmação nem de correções na 
realidade. 
JUSTIÇA – Kant enfatiza que o critério de justiça está atrelado a existência de 
liberdade de ações e que estas devem coexistir pacificamente segundo a lei universal: 
“É justa toda ação que por si ou por sua máxima não constitui obs táculo à 
conformidade da liberdade do arbítrio de todos com a liberdade de cada um segundo 
as leis universais”. Sendo assim a ideia de justiça em Kant é apresentada em três 
momentos: no primeiro momento tem-se por justa a ação que admite a liberdade como 
sendo um direito natural pertencente a todos os humanos. No segundo momento, 
justa seria a ação por meio da qual seriam realizadas as liberdades externas de cada 
um, contudo, tendo a igualdade como elemento limitador que, nesse sentido, aparece 
como lei universal harmonizando e estabelecendo a organização social. No terceiro 
momento, justa seria a lei criada tendo como base a racionalidade, a partir disto ter-
se-ia uma ordem jurídica universal que compusesse a vontade de todos. Destarte, a 
liberdade de expressão de toda a vontade humana ergue-se como primeiro 
fundamento de justiça, mas em seu encalço está a igualdade como lei universal 
limitando o exercício das liberdades de cada um, harmonizando-as de modo a garantir 
a organização social. A igualdade, em Kant, apresenta-se com três aspectos: todos 
os seres racionais são igualmente detentores do direito à liberdade (direito natural); a 
igualdade como elemento limitador das liberdades individuais para a formação de uma 
sociedade civil organizada e a igualdade num contexto político na participação da 
criação da vontade geral, o que inclui também as leis. Essa organização social seria 
alcançada com uso da razão na elaboração do direito positivo. 
12. ESTRUTURA DA TEORIA DO DIREITO 
Na Metafísica dos costumes, Kant expõe sua “Doutrina universal do direito” em 
duas partes, sendo a primeira delas sobre o direito privado e a segunda sobre o direito 
público. Tal apresentação não é aleatória: para Kant, o fundamento do direito reside 
primeiro no direito privado, esó depois no direito público. A propriedade privada e o 
contrato são elementos inscritos já no estado de natureza, antes mesmo da posterior 
transformação de tal situação natural em civil. 
 
12.1. DIREITO PRIVADO 
Seria sinônimo de direito natural. Irá dizer respeito ao exercício da liberdade. 
Direito real, pessoal e pessoal de tipo real. 
 
A. DIREITO REAL 
Pela expressão direito real (jus reale) não se deve entender simplesmente o 
direito a uma coisa (jus in re), mas, sim, também o conjunto de todas as leis que se 
referem ao meu e teu real. Está claro, todavia, que um homem que existisse 
completamente só sobre a terra não poderia propriamente ter nem adquirir nada 
exterior como seu porque entre ele como pessoa e todas as outras coisas exteriores 
como coisas, não caberia a menor relação de obrigação. Não há, pois, propriamente 
falando, nenhum direito a uma coisa; porém, chama-se assim ao que corresponde a 
um com relação a uma pessoa que está em comunidade de posse (em estado de 
sociedade) com todas as demais. (Doutrina Do Direito – Kant) 
 
B. DIREITO PESSOAL 
A posse do arbítrio de outra pessoa como faculdade de determina-la pelo meu 
a um certo ato, segundo leis de liberdade (o meu e o teu exterior com relação à 
causalidade de outro), é um direito (e como este posso ter vários, seja com respeito a 
uma mesma pessoa, seja com respeito a várias). E o conjunto (o sistema) das leis, 
segundo as quais posso ter essa posse, é o direito pessoal, o qual é essencialmente 
uno. A aquisição de um direito pessoal nunca pode ser primitiva e pessoal; de outro 
modo seria contrario ao principio da conformidade de minha vontade com a liberdade 
dos demais, e, por conseguinte seria injusta. Tampouco posso adquirir por meio de 
um fato injusto do outro. (Doutrina Do Direito – Kant) 
 
C. DIREITO PESSOAL DO TIPO REAL 
Este direito é o da posse de um objeto exterior como de uma coisa e de seu 
uso como de uma pessoa. (O meu e o teu que concernem a esse direito é tudo que 
se refere à família, e a relação, neste estado, é a da comunidade de seres livres que 
pela influência mutua – de uma pessoa sobre outra – produzem, segundo o princípio 
da liberdade exterior – causalidade- , uma sociedade de membros de um todo – entre 
pessoas que vivem em comunidade, o que se chama família). A maneira de adquirir 
este estado não ocorre nem por um fato arbitrário, nem por simples contrato, mas sim 
por uma lei. Esta lei, pelo fato de não ser somente um direito contra uma pessoa, como 
também e ao mesmo tempo uma posse dessa pessoa, deve ser um direito superior a 
todo real e pessoal, a saber; o direito da humanidade em nossa própria pessoa. A 
aquisição, segundo esta lei, é de três espécies quanto ao objeto: o homem adquire 
uma mulher, o casal adquire filhos e a família adquire servos. Essas coisas suscetíveis 
de aquisição não o são igualmente de alienação. (Doutrina Do Direito – Kant) 
 
12.2. DIREITO PUBLICO 
O direito público é aquele haurido do Estado, que dá condições para a liberdade 
dos indivíduos na convivência entre si, dos povos entre si e mesmo dos Estados e de 
seus indivíduos entre si. Por isso, Kant o estrutura, na Metafísica dos costumes, em 
três partes: direito do Estado; direito das gentes; direito cosmopolita. 
 
A. DIREITO PENAL (PUNIR) 
O direito de punir é o direito que tem o soberano de atingir o súdito 
dolorosamente devido à transgressão da lei. A transgressão da lei pública, que torna 
aquele que a comete indigno do direito de cidadania, chama-se crime pura e 
simplesmente, crime privado e crime público. 
 
B. DIREITO INTERNACIONAL 
ESTADO - A relação entre os povos, os Estados e os indivíduos em outros 
Estados constitui a reflexão kantiana a respeito do direito internacional, cujo horizonte 
maior é o que ele denominará por direito cosmopolita, mas a análise do próprio Estado 
é a primeira grande reflexão kantiana no direito público. O Estado, para Kant, é 
pensado, ao molde burguês iluminista, como um poder tripartite, executivo, legislativo 
e judiciário. Em sua concepção restrita, a cidadania é somente um atributo formal, ou 
seja, meramente a aptidão a votar. Além da questão da cidadania, Kant, na sua 
reflexão sobre o direito público, trata também a respeito do poder do soberano e do 
direito à revolução. Também aqui demonstrará sua visão filosófica conservadora. Para 
Kant, ainda que o soberano seja um tirano, injusto, não há um direito de resistência 
do povo, que deve se conformar à condição jurídica dada, sem postular uma 
revolução. 
No seu projeto de paz perpétua, Kant estatui as convenções e as normas a 
serem seguidas pelas nações entre si a fim de que o projeto jusnaturalista racionalista 
levasse à harmonia universal sustentada pelo direito, embora o próprio Kant 
lembrasse ironicamente que tirou o nome de seu livro de uma lápide tumular, único 
local no fundo em que a humanidade viveria em definitiva paz perpétua. Além do 
direito público interno, nas suas obras À paz perpétua e Metafísica dos costumes Kant 
avança para outras duas importantes esferas de reflexão jurídica, estas no campo do 
direito internacional: o direito das gentes e o direito cosmopolita. 
No que tange ao direito das gentes, Kant constata que os Estados se 
encontram, nas relações entre si, muitas vezes numa situação ou de guerra ou de 
hostilidade, semelhante ao estado de natureza entre os indivíduos. A fim de superar 
tal estágio, não se há de pensar num poder soberano por sobre os Estados, pois isso 
acabaria com suas independências e se encaminharia a uma tirania de um Estado 
mais forte sobre os outros. A proposta kantiana é de uma federação de Estados. 
 
C. DIREITO COSMOPOLITANO 
Além de um direito das gentes, Kant aponta em direção a um direito 
cosmopolita. Pode-se dizer que o direito cosmopolita é um avanço proposto por Kant 
em relação ao já tradicional direito das gentes. Não se trata apenas de analisar o 
direito que é dado a cada cidadão a partir de seu Estado. Trata-se do direito do 
cidadão numa sociedade internacional. O direito cosmopolita aponta, ao mesmo 
tempo, para os Estados e os indivíduos. 
 
 
 
 
 
 
HEGEL (1770 – 1831) 
1. BIOGRAFIA 
Hegel nasceu em 27 de agosto de 1770, em Stuttgart, na 
Alemanha. Era o mais velho de três irmãos, filhos de um 
funcionário público do ducado de Württemberg. Fez seus 
estudos em casa com tutores e a mãe, mas também no colégio 
local, onde permaneceu até os 17 anos. Aprendeu latim com a 
mãe, além de estudar grego, francês e inglês e muito cedo teve 
contato com os clássicos gregos e romanos. Apesar de sua 
sólida educação humanista, Hegel teve uma ótima formação científica. Perdeu a mãe 
aos 13 anos, e ficou aos cuidados de uma irmã, Cristiana. Com incentivo do pai, em 
1788, ingressou no seminário da Universidade Tübingen a fim de ser pastor. Entre 
seus companheiros estavam o filósofo Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling (1775- 
1854) e o poeta Friedrich Hölderlin (1770 - 1843). Em 1793, começa a atuar como 
tutor privado em Berna, na Suíça. No ano seguinte, aconselhado por Hölderlin, 
começa a análise dos escritos de Immanuel Kant (1724-1804) e Johann Fichte (1762-
1814). No fim de 1796, mudou-se para Frankfurt, onde Holderlin lhe conseguira um 
lugar de preceptor. Com a morte de seu pai em 1799, Hegel herda um pequeno 
patrimônio e assim pode se dedicar inteiramente aos estudos. Dessa maneira pôde 
habilitar-se como docente livre na universidade de Jena em 1801, atuando como livre 
docente viveu em clima romântico e estudou o idealismo de Johann Gottlieb Fichte e 
de Schelling. Em 1802, escreveu um trabalho sobre a constituição da Alemanha. De 
1807 a 1808, Hegelfoi diretor de um jornal em Bamberg, e de 1808 a 1816, diretor do 
ginásio em Nuremberg. Tornou-se, então, professor da universidade de Heidelberg e, 
em 1818, foi chamado para Berlim, ocupando a cátedra de filosofia, vaga desde a 
morte de Fichte. Georg Wilhelm Friedrich Hegel morreu em Berlim, na Alemanha, no 
dia 14 de novembro de 1831. 
 
2. CONTEXTOS HISTÓRICO 
A época de Hegel é importante para analisar a sua filosofia. Ele vivia numa 
Alemanha dividida em territórios independentes, cada qual, com aparato jurídico e 
militar próprio. Isso Foi relevante para que Hegel desse ao Estado um papel tão 
importante, a mais alta realização do espírito absoluto. No que se refere aos fatos 
históricos, a Revolução Francesa e o advento de Napoleão são os acontecimentos 
capitais na vida de Hegel, para quem a Revolução é a tentativa de restauração da 
cidade antiga - o triunfo da razão e da liberdade, a construção do real de acordo com 
o pensamento - e Napoleão é "a alma do mundo", a individualidade superior que, 
perseguindo apaixonadamente seu objetivo, é agente "de um fim que constitui uma 
etapa na marcha progressiva do Espírito Universal”. 
 
3. OBRAS 
Sua obra encontra eco, desde sua época, em vários setores (estética, teoria do 
conhecimento, logica, direito etc.). Ademais, vários de seus textos notabilizaram-se e 
alcançaram aceitação universal: Princípios da filosofia do direito; Fenomenologia dos 
espíritos; Ciência da lógica; Enciclopédia das ciências da lógica. 
Fenomenologia dos 
espíritos 
(1807) 
Hegel pretende iniciar sua tentativa de construir um 
Sistema de Filosofia, com a Fenomenologia do Espírito, 
onde a fenomenologia desempenha a função de ser 
uma introdução à Ciência. A intenção do autor é 
articular com o fio de um discurso científico - ou com a 
necessidade de uma lógica - as figuras do sujeito ou da 
consciência que se desenham no horizonte do seu 
afrontamento com o mundo objetivo. Representa a 
teoria do conhecimento de Hegel. Ela forma uma árvore 
do saber que vai desde o conhecimento pelos sentidos, 
que é o mais baixo da escala, até o saber Absoluto. 
Ciência da lógica 
(1815) 
Hegel apresenta o seu entendimento do conceito de 
lógica. Articulado em duas partes – lógica objetiva e 
lógica subjetiva – e em três livros – Doutrina do Ser, 
Doutrina da Essência e Doutrina do Conceito. 
Construída a partir da Fenomenologia do Espírito, ele 
desenvolve uma lógica ontológico-metafísica, que se 
reporta à antiga filosofia da lógica, sendo também uma 
Ontoteologia. 
Princípios da Filosofia 
do Direito 
(1820) 
Trata-se do desenvolvimento de uma seção da 
Enciclopédia das ciências filosóficas publicada no ano 
anterior e onde Hegel expõe de maneira dogmática 
esse pensamento, agora já tendo atingido sua forma 
definitiva. O que Hegel chama de Direito não é o direito 
abstraio, que nos vem dos romanos, nem o direito 
natural. "É a existência da vontade livre"; é a "liberdade 
consciente de si", o direito da pessoa, por exemplo, é 
apenas um momento no devir desta liberdade. No 
sentido hegeliano, podemos ainda situar o direito na 
história do espírito." 
Enciclopédia das 
ciências filosóficas 
(1830) 
A "Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Epítome" 
constitui o único resumo e sinopse que Hegel nos 
deixou, em sucessivas edições, de todo o seu sistema. 
A primeira parte, A Ciência da Lógica, aqui contida, e 
votada à doutrina do Ser, é o núcleo do círculo da 
filosofia, tal como Hegel a entendia. A segunda parte 
expõe a passagem do Espírito, que quer libertar-se e 
vai caminhando para a consciência e o conceito. A 
terceira parte aborda o significado do conhecimento da 
verdade do homem e da própria essência, enquanto 
Espírito. 
 
4. DIALÉTICA 
Para Hegel, a dialética não é, como era antes dele, um procedimento adotado 
pelo intelecto humano como forma de desvendar um conflito que estava aparente em 
dois conceitos opostos. Isso está presente na tradição filosófica platônica, aristotélica, 
tomista, da qual até Kant tomou proveito, e essa tradição da dialética baseia-se na 
compreensão dos aparentes opostos, que se resolvem por meio de uma mediação 
entre tais. A dialética de Platão, por exemplo, seria uma forma de diálogo onde era 
possível chegar a obter o conhecimento. Em geral, para essa tradição, a dialética é 
muito mais um processo de argumentação, de compreensão de argumentos, 
resolvendo-os e descobrindo suas oposições. Para Hegel, contudo, a dialética é 
diversa de tudo isso. 
A grande inovação do pensamento hegeliano, no que tange à dialética, reside 
justamente no fato de que o conflito entre tese e antítese, entre os opostos, é um 
conflito real. É real, é de se lembrar, tanto no plano de sua efetividade quanto no de 
sua racionalidade, pois o real e o racional se confundem. Portanto, há conflito na 
própria realidade. A síntese é superação desses conflitos. Superação, nesse sentido, 
não tem a ver com a correção de impropriedades no que diz respeito às afirmações 
da tese e da antítese, mas tem a ver com um momento outro, que faz por transformar 
a própria conflituação. A dialética representa a troca de patamares. A síntese, em 
Hegel, é negação da negação da tese. É algo novo, portanto surgido na história. Não 
é algo já dado previamente e ao qual só basta operar procedimentos ideais para 
descobri-lo, nem é a escolha de um dos dois lados do conflito. É superação original. 
Nessa superação original, de negação da negação, perfaz-se o processo histórico. 
A dialética de Hegel geralmente aparece fragmentada em três momentos 
chamados: tese (a revolução francesa), antítese (o terror subsequente) e a síntese (o 
estado constitucional de cidadãos livres). Assim, para Hegel, o processo dialético 
compreende um momento de afirmação abstrata, outro de negação e outro posterior 
de afirmação racional positiva. Nesse processo trifásico se perfaz o caminho da 
dialética. 
DIALÉTICA INDIVIDUAL - A dialética, para Hegel, é um processo ao mesmo 
tempo de entendimento racional e filosófico do mundo, mas é também o próprio modo 
pelo qual se dá o desenvolvimento da realidade. O indivíduo, por meio de sua 
apreensão imediata, percebe o conflito; dialeticamente, consegue entender 
racionalmente o quadro geral no qual está inserida a realidade conflituosa, e entende 
a razão que está ligada a esse ser. Assim, a dialética é o processo de entendimento 
do mundo. 
 
5. VERDADE ABSOLUTA 
A verdade absoluta é a verdade dos homens e para os homens. Não interessa 
a verdade enclausurada em si mesma. A verdade é verdade no meio dos homens, na 
sua objetivação, na relativização de seu caráter absoluto. A verdade é constituída 
como verdade na medida em que se aliena na realidade humana. Esse momento, por 
sua vez, não é absoluto e único, mas consequência do absoluto primeiro da verdade 
em si mesma. Na filosofia de Hegel, a verdade revela-se, no processo histórico e é 
concebida como verdade absoluta, no sentido de que, embora ela não seja a mesma 
para todas as épocas, tem validade para todos os homens. Assim, deve-se estudar a 
filosofia com olhos em seu passado, seu momento histórico. 
 
6. ESTADO 
O Estado não terá fundamento nem no indivíduo nem na sociedade civil, que 
lhe são momentos inferiores. O Estado para Hegel não é, portanto, um ente resultante 
do acordo de vontades individuais. Sua existência é para além dos indivíduos e da 
sociedade civil, e postula-se, também, pela insuficiência dessas esferas como 
racionais em si mesmas, na medida em que a sociedade civil, para Hegel, é 
essencialmente a esfera privada burguesa. O grau de universalidade de seus 
interesses é discutível, e a desigualdade que disso resulta é patente. 
Portanto, o Estado funda-seem si mesmo, em sua própria substancialidade. 
Não é o resultado do acordo de vontades dos indivíduos – portanto, Hegel rejeita, 
definitivamente, o contrato social. Não é, tampouco, uma instância que encontra 
limites na moralidade individual – o Estado é um momento dialético superior ao plano 
da moralidade e da individualidade. O Estado não está em função do indivíduo, nem 
é resultante das vontades individuais. 
A linguagem extravagante usada por Hegel para descrever o Estado e sua 
ideia, foram prato cheio para fundamentar os estados totalitários. Hegel, foi o 
inspirador simultâneo do nazismo e do marxismo, dois filhos da sua doutrina, opostos, 
adversários, mas análogos em muitos aspectos. Hegel tornou o Estado a expressão 
da Divina Idéia concrecionada na Terra. Nunca se endeusou tanto o Estado, também 
nunca se endeusou tanto um filósofo, como o foi Hegel pelos autoritários prussianos 
e pelos filósofos alemães de então, cuja maioria o proclamava o supremo ditador da 
filosofia, apesar de muitos, de inegável valor e dignidade, terem-se oposto às suas 
doutrinas. 
 
6.1. SOCIEDADE DO BEM COMUM (OU CIVIL) X SOCIEDADE INDIVIDUALISTA 
O denominador comum de todo o pensamento jusfilosófico moderno foi o 
individualismo e, em consequência, a teoria do contrato social. O individualismo, 
fazendo do sujeito sede da racionalidade e cerne dos direitos. O contratualismo, como 
manifestação da racionalidade e da vontade individual, portanto momento superior 
que dava razão de ser ao próprio Estado. Hegel romperá com essa ordem de 
explicações. De um lado, Hegel escapa ao contratualismo moderno, tendo em vista 
que o Estado não é o acordo dos indivíduos, mas é dado em si e para si. De outro 
lado, as instâncias sociais que uma parte da tradição moderna dividia sem muita 
clareza entre estado de natureza e estado civil (sendo este tanto social quanto político, 
formado com base no contrato social), Hegel irá especificá-las de outra maneira: a 
sociedade civil não se confunde com o Estado, havendo uma distinção muito clara 
entre essas duas esferas. 
Em Hegel, cessa o esquema moderno de elaboração conceitual do Estado 
como uma decorrência da sociedade civil. Por isso, não chegando à conclusão da 
existência de um contrato social, Hegel não partilhará a hipótese de que tenha havido 
um estado de natureza, como pensavam os modernos. Não há, para Hegel, uma etapa 
pré-social e outra social, na qual, então, passasse a se desenvolver a história da 
sociedade. 
 
 
7. ESPIRITO EM HEGEL 
O idealismo hegeliano expressa-se pelo estudo do espirito, e de suas 
manifestações em todas as latitudes, em todas as dimensões, em todos os sentidos 
em que aparece. Por isso, a doutrina do espirito envolve a compreensão do que seja 
o espirito e de quais sejam as expressões do espirito. Segundo Paulo Nader, o 
espírito, é a ideia em si e por si, se manifesta de três modos: espírito subjetivo (a 
alma, a consciência e a razão); espírito objetivo (Direito, Moralidade e o Costume); 
espírito absoluto (Arte, Religião e a Filosofia), que é uma síntese do espírito subjetivo 
e objetivo. Enquanto a Arte registra a intuição da ideia do absoluto, a Religião 
representa a ideia do absoluto e a Filosofia expressa o absoluto. 
 
7.1. ESPIRITO SUBJETIVO 
É a manifestação do espirito como algo diverso da realidade que o circunda, o 
espirito subjetivo é a alma, consciência e razão. É a vontade individual na composição 
da tomada de decisão. 
 
7.2. ESPIRITO OBJETIVO 
O espirito objetivo pode ser compreendido como a manifestação da ideia na 
história ou a própria sociedade, Hegel distingue ainda três graus dialético no espirito 
objetivo, o direito, a moralidade e a eticidade. 
 
▪ DIREITO – é a liberdade em grau máximo, em sua abstração lógica 
mais genérica e, portanto, infinita em si, que se projeta para fora de 
modo imperfeito – esta é a liberdade em si. 
 
▪ MORALIDADE – é a liberdade voltada para o sujeito que dela se vale, 
dela se utiliza, por meio dela valora a sociedade e as pessoas, os 
fatos e os acontecimentos, e, portanto, infinita para si, que se projeta 
para dentro – esta é a liberdade para si. 
 
▪ ETICIDADE (COSTUME) – é a objetivação do que mora no sujeito em 
termos de moralidade e, mais que isso, a síntese (costume/eticidade) 
entre direito (tese) e moral (antítese) – esta é a liberdade feita objeto 
social e coletivo do comportamento. 
 
A eticidade caracteriza-se no pensamento de Hegel pela efetivação da 
liberdade imediatamente na realidade, é a própria moralidade concreta, não apenas 
as opiniões e boas intenções dos indivíduos fundamentando as leis e as instituições, 
mas a eticidade se torna conjunto da moralidade, da família, da sociedade civil, e do 
Estado. 
▪ FAMÍLIA – A família, para Hegel, é tomada no seu sentido moderno, 
baseada em laços de amor, gerando filhos e dotando-os de educação 
suficiente para sua autonomia. No campo da família reside também o 
patrimônio, em busca de uma satisfação das necessidades 
econômicas. 
▪ SOCIEDADE CIVIL – No que tange à sociedade civil, trata-se da sua 
forma de organização burguesa. A interação entre os indivíduos, no 
campo da sociedade civil, é feita por meio dos liames da economia. 
Muitas relações se apresentam nesse campo. Há vínculos originados 
da necessidade e da carência, que estabelecem relações de 
dependência recíproca entre os indivíduos. 
▪ ESTADO – considera o Estado a razão em si e para si, no entanto, 
Hegel não propõe uma filosofia política de tipo absolutista. Sua 
compreensão não é reacionária, no sentido de negar a individualidade 
do sujeito de direito em troca de um Estado pleno. Pelo contrário, 
Hegel procede a uma dialética entre Estado e indivíduo. É justamente 
o Estado que garante o sujeito como cidadão, com seus direitos. E, 
ao mesmo tempo, sendo o Estado a razão, o indivíduo não se 
apresenta como o ápice da hierarquia dos interesses políticos. 
 
7.3. ESPIRITO ABSOLUTO 
O espirito absoluto é uma síntese do espírito subjetivo e objetivo. O espírito 
absoluto está representado em elementos como a Arte, a Religião e a Filosofia. 
Enquanto a Arte registra a intuição da ideia do absoluto, a Religião representa a ideia 
do absoluto e a Filosofia expressa o absoluto. 
 
 
 
8. DIREITO 
A concepção de direito de Hegel compreende o fenômeno jurídico de maneira 
bastante vasta. Em suas obras, o direito é apresentado não como tradicionalmente 
pensado e trabalhado pelos juristas jus positivistas. Questões tidas por Hegel como 
do direito são, mais que jurídicas, também da ética, da moral, da política e da 
economia. Ocorre que Hegel, buscando empreender um sistema filosófico que tivesse 
por vista a totalidade, não considera que seja possível compreender o direito a partir 
do seu estrito núcleo normativo-judicial. Mergulhado historicamente no todo social, o 
direito deve ser compreendido justamente na interface com os demais fenômenos 
desse todo. 
É preciso, para Hegel, entender a razão de ser dessa própria ciência positiva 
do direito no todo social. Por isso, para Hegel não é a ciência do direito, mas sim a 
filosofia do direito, o momento superior da reflexão sobre o próprio direito, na medida 
em que o pensamento jusfilosófico analisa o direito pelo todo. A compreensão 
filosófica do direito no todo social aponta para seus laços com a economia, a política, 
a moral. Ao contrário das correntes jusnaturalistas, que já ao seu tempo começavam 
a postular uma interpretação do direito meramente arraigada ao normativismo.

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