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Microcefalia numa visão sociológica

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
ANA TAINAR MOTA SOUZA
DESYREÉ MONIQUE VIEIRA ROCHA
IRACY MENEZES DE SOUZA BARBOSA
GENIERE ROCHA DOS SANTOS JOÃO
MICROCEFALIA
SÃO CRISTOVÃO
2018
ANA TAINAR MOTA SOUZA
DESYREÉ MONIQUE VIEIRA ROCHA
IRACY MENEZES DE SOUZA BARBOSA
GENIERE ROCHA DOS SANTOS JOÃO
 
PROJETO DE PESQUISA:
MICROCEFALIA: A NECESSIDADE DE ENXERGAR ALÉM DO QUE SE VÊ
Pesquisa apresentada como requisito total para a segunda avalição da disciplina de sociologia I pela Prof. Vilma Soares, no 2° semestre de 2016.
SÃO CRISTOVÃO
2018
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................. 4
OBJETIVO.........................................................................................................5
METODOLOGIA..............................................................................................5
DADOS ESTATÍSTICOS...................................................................5
QUESTÕES NORTEADORAS ........................................................6
JUSTIFICATIVA..............................................................................................6
PREOCUPAÇÕES FUTURAS........................................................................9
RELATÓRIO DA VISITA...............................................................................10
APÊNDICE........................................................................................................11
REFERÊNCIAS................................................................................................15
1.INTRODUÇÃO
Estatuto da Criança e do Adolescente: Art. 7º - “A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”. 
Para que haja direito à vida digna é necessário, sobretudo, educação e saúde. Por isso, no decorrer deste projeto, será tratado um tema a partir da visão sociológica, o qual é recorrente desde 2015, a Microcefalia. 
A doença em questão possui, além da influência dos fenótipos, um caráter genético, dessa forma, divide-se em duas: Microcefalia Verdadeira e Craniossinostese. A primeira é aquela que possui caráter hereditário, ou seja, genes recessivos do pai e da mãe são passados para o filho e irá exteriorizar na criança- é perceptível ao nascimento. Já a segunda pode ser causada pelo consumo de cigarro, álcool, drogas, outros medicamentos e doenças infecciosas. 
Segundo o Ministério da Saúde, “A microcefalia não é um agravo novo. Trata-se de uma malformação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Neste caso, os bebês nascem com perímetro cefálico (PC) menor que o normal, que habitualmente é superior a 32 cm”. Essa má formação traz consigo também, um problema social, o estigma, ou seja, um indivíduo rotulado a partir de um atributo profundamente depreciativo. E que está associado a um indivíduo que crescer incapaz de desenvolver as atividades cotidianas normalmente. 
Dessa forma, os bebês que possuem essa doença são, sobretudo, seres que dependerão com maior assiduidade dos responsáveis e do Estado. Isto porque, essa enfermidade não possui cura, todavia conta com um tratamento rico em diversidade. É necessária uma equipe de profissionais da saúde e das áreas sociais prontos para cuidar do enfermo. E a partir da compreensão das limitações impostas pela doença e de todo cuidado multiprofissional necessário envolvido buscamos compreender a ação social envolvida, onde segundo Weber, é fomentada pela orientação ou influência pela conduta de outros, tendo como objetivo compreender o sentido da ação, isto é, o motivo sustentado pelo agente como fundamento de sua ação.
O Brasil não é um país pronto para atender a grande demanda desses casos. Por isso, muitas famílias sentem uma mudança brusca e decisiva na vida e rotina de cada um. Famílias pobres, por exemplo, ficam a mercê de uma saúde precária fornecida pelo Estado. Ou seja, para tais pessoas, ter um filho com microcefalia é ainda mais difícil adaptar-se. Além dos altos gastos com medicamentos, fonoaudiólogos e terapeutas, devido a necessidade de estimulação precoce. Pode-se observar, também, a dura lei da procura e da oferta, a qual resulta em um aumento significativo no valor de produtos essenciais como o repelente. 
Pode-se dizer, portanto, que gestar alguém com microcefalia exige, antes de tudo, um afeto e uma aceitação maior. O presente trabalho irá debater exatamente essa questão: “as dificuldades em ter um filho com microcefalia na contemporaneidade”, analisando a ação social de Marx Weber, o Estigma de Goffman e o capitalismo discutido por Karl Marx. 
2.OBJETIVO
O objetivo principal da pesquisa é entender em que ponto um problema de má formação neurológica (problema de saúde) se torna um problema social. E dessa maneira, buscar compreender a ligação de temas sociológicos, como: Lei da Procura e da Oferta, Lutas de Classes, Relação Social, Ação Social, Fato Social, Patologia Social e o Estigma, com a Microcefalia. 
E assim, fazer uma análise do relacionamento dessas crianças com os profissionais de saúde, as famílias (em especial, as mães) e a sociedade. Além de entender como o Estigma, de Goffman, é vivenciado por essas famílias e como isso resulta em patologias sociais sérias como: depressão e estresses. 
3. METODOLOGIA
3.1 DADOS ESTATÍSTICOS
	O primeiro registro de Zika foi registrado na Uganda em 1947. Anos depois, em 1977 diversos casos surgiram no Paquistão, Malásia e Indonésia. E 30 anos depois reapareceu na Micronésia. Em 2013 chegou a Polinésia francesa e em 2014 chega ao Brasil. E em 2015 o surto de Zika atingiu 22 países. 
No mundo, temos 73 países afetados pela Zika e 26 com casos de microcefalia. Os casos dessa doença no Brasil correspondem a 90% dos diagnósticos de Microcefalia no mundo. Em todo território nacional, já foram diagnosticados 2.327 casos de bebês afetados pelo vírus da Zika. Segundo outro boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, em 2017, foram registrados 3.961 casos prováveis no país, apresentando uma taxa de incidência de 1,9 caso/100 mil habitantes. Destes, 942 (23,8%) foram confirmados. Dos 10 primeiros estados no ranking 9 são do Nordeste. O estado de Sergipe é o 5º no ranking de registros com 15% dos casos de microcefalia no Brasil. Sendo que, as cidades com maior número de registros são Capela, Própria, Lagarto, Itabaiana e Estância.
Dados do Data Folha de 2016 apontam que 78% dos casos de microcefalia são de jovens, negras e indígenas, nordestinas e de zona rural. E 19% são casos urbanos de áreas periféricas. Essas porcentagens expõe a realidade social da doença sobre grupos vulneráveis que vivem em áreas sem condições básicas devido a ineficiência do estado. 
Cerca de 20% dos ainda não recebem tratamento. E certa de 50% demora até seis meses para iniciar o tratamento. A estimulação neurológica precisa iniciar logo após o nascimento para promover a neuroplasticidade, ou seja, aumento da massa muscular e da capacidade sináptica. Porém quanto mais tempo passa para iniciar o tratamento acarreta numa menor chance de evolução do caso. 
No Brasil existem cerca de 180 centros especializados em realização, oferecendo estimulação precoce. Sendo o de São Luís, no Maranhão, considerado Centro de Referência em Neurodesenvolvimento, Assistência e Reabilitação de Crianças (Ninar), que prestará tratamento especializado a crianças com microcefalia.
3.2 QUESTÕES NORTEADORAS 
As entrevistas foram as bases práticas do projeto de pesquisa. Funcionaram como argumento de autoridade sobre os dados estatísticos e a visão dos sociólogos. Por meio delas, foi possível identificar a visão de diversos segmentos como: o papel da enfermagem, da família, da fisioterapia e dasociedade em relação a Microcefalia. 
Pôde-se, partir de então, concluir a necessidade da equipe multiprofissional para o tratamento e das mudanças valorativas no contexto social para dirimir os efeitos do estigma e das patologias sociais. 
 
4. JUSTIFICATIVA
Segundo a visão da Antropóloga contemporânea Débora Diniz, 2015, a Microcefalia espelha a desigualdade social do Brasil. O zika, até então trabalhado como problema de saúde pública, transformou-se em um agravante dos problemas sociais, que atinge diretamente as mulheres: Mães e muitas vezes cuidadoras integrais de seus filhos. Para a pesquisadora, a doença atinge as classes mais vulneráveis devido às condições em que vivem, à falta saneamento e de distribuição de água adequados, à falta de informação e de assistência por parte do Estado. 
Buscando compreender a relação da sociologia clássica com os fatos que cercam a Microcefalia temos: 
Na visão de Karl Marx, a Luta de Classe que na sua obra é a análise da realidade de patrão e operário pode ser vista além da estrutura física de uma fábrica. Essa luta compreende duas faces: uma classe que luta para sobreviver enquanto a outra simplesmente vive. Na Microcefalia analisamos a classe que sobrevive, geralmente, famílias carentes que lutam para conseguir tratamento, medicação e ajuda de custo. Lutando para alcançar seus direitos.
“Umas coisas funcionam, outras não. Aqui no CR2 Vitória faz tratamento com a fisioterapeuta, a fonoaudióloga e a terapeuta ocupacional duas vezes por semana. Umas se dedicam bastante, outras fazem porque tem que fazer”.
	Karl Marx tem influência de Adam Smith, pai do Liberalismo Econômico, que criou a Lei da procura e da oferta. A relação com Microcefalia é direta pois ficou perceptível o aumento do custo dos repelentes, com aumento que chega a 70%. Como medida preventiva o ministério da saúde criou um programa para distribuir repelentes para as mulheres grávidas cadastradas pelo bolsa família. 
Na visão de Weber, 1930, Ação Social trata-se de uma conduta orientada por outrem. Tendo como objetivo compreender o sentido da ação, isto é, o que motiva o agente a sua prática. Nesse caso, cada segmento, separadamente, apresenta uma motivação, sendo os profissionais da saúde movidos pela Ação Racional por finalidade, os quais buscam um resultado para o determinado tratamento; As famílias são motivadas pela Ação Afetiva movida pelo amor e afeto. A partir disso, juntamente, os segmentos, apresenta uma Relação Social, pois uma pluralidade de agentes se orienta a partir do mesmo princípio. 
Dessa forma podemos concluir que, a Microcefalia na visão de Weber relaciona toda forma de cuidado que se inicia com descoberta da doença e segui por toda a vida. O dia-a-dia dessa criança é uma ação social pois tudo a sua volta acaba movendo em sua função. O tratamento é o exemplo mais nítido da relação pois um conjunto de profissionais, famílias e, indiretamente, o estado se move para orientar aquela ação.
Para Durkheim, 1897, a sociedade assim como um indivíduo estar suscetível a um estado normal ou patológico. O peso que a sociedade põe sobre a família, principalmente, a mãe, leva a patologias como depressão e até suicídio. 
“Por um minuto eu perdi o fôlego e só queria acordar longe dessa situação. Pensei em me matar, pensei em abortar [...] mas o tempo todo eu sentia como se tivesse carregando um peso. ” 
Comparar o pensamento de Durkheim e Weber sobre como interpretar Fato social e Ação social dos respectivos sociólogos, e entender a importância de estudar a Microcefalia por ambas as vias para compreender que os métodos diferentes levam a visões diferenciadas de um mesmo tema, nesse caso, a Microcefalia.
 Dado que, de um lado, Durkheim mostra que o cientista deve, desde o princípio, romper com seus juízos de valor buscando ter neutralidade sobre o tema. Do outro lado, Weber afirma que na medida em que a realidade é infinita e que se escolhe estudar uma parte dela, já apresenta uma pessoalidade, o que resultará numa possível falta de objetividade em sua totalidade. Ou seja, sempre haverá laços com os juízos de valor do pesquisador.
Na visão de Erving Goffman, 1961, o Estigma é caracterizado a partir de cada sociedade, onde estabelece os meios para categorizar as pessoas. Sendo ele, o estigma, um traço que afasta o sujeito estigmatizado das relações sociais e minimiza todos os outros atributos que lhe são característicos.
São perceptíveis as dificuldades encontradas pelas mães dos bebês diagnosticados com microcefalia, desde a gravidez até a fase do desenvolvimento. Fica nítida a visão que as outras pessoas têm em relação à mãe e seu bebê. É transparente o preconceito existente e duradouro.
	“Com certeza. A gente pensa logo no preconceito. Durante a gravidez eu já via como a minha própria família falava. ”, afirmação de Laianne, mãe que passou por suspeita de microcefalia. 
Essa visão caracteriza-se como estigma. É uma forma de relação especial entre o “normal” para a sociedade e o estereótipo criado. Dessa maneira, fortalece os fatores estigmáticos sobre os portadores de microcefalia.
Além disso, com o nascimento dos bebês, a mãe, no período puerpério enfrenta as dificuldades entre viver bem para acolher o bebê, ter a disposição e disponibilidade para frequentar as consultas, terapias estimulantes e os centros de atendimento e reabilitação, como também enfrenta os olhares preconceituosos das pessoas ao redor, como demonstra a entrevista.
Com base na pesquisa, percebe-se o medo das mães de seus filhos não corresponderem às expectativas da realidade social. Sendo que, muitas vezes, olhares maldosos, ou comentários inoportunos reforçam o medo; a sensação de que a criança não seja aceita no grupo social. Isso faz com que no futuro seja vista como uma pessoa desprovida de potencialidades. 
	“Quando comecei o pré-natal, já recebi a notícia que minha filha poderia nascer doente e ainda com uma doença que impediria dela crescer normal, que não seria ninguém e dependeria de mim para tudo. ”
Nesse contexto, as mães sofrem tanto por imaginar como será a fase inicial do bebê, como também o desenvolvimento. É indispensável o apoio familiar, psicológico e assistencial. Estes são fatores essenciais na vida dessas famílias.
	“Por um minuto eu perdi o fôlego e só queria acordar longe dessa situação. Pensei em me matar, pensei em abortar, mas meus pais me fizeram forte e por eles eu segui. ”	
Frequentemente, as mães relatam a dificuldade para conseguir o atendimento de reabilitação, devido à recorrente opção dos profissionais por realizar a terapia em bebês que apresentam evolução clínica aparente. Além de que, a maioria dos casos são registrados no interior e apenas as capitais possuem o atendimento.
“A fisioterapia é realizada duas vezes por semana, porém existem muitos empecilhos que não permite que essas crianças venham, já que a maioria depende do transporte por residirem no interior. Além de que, frequentemente, o transporte quebra ou não passa. ” Afirma a Fisioterapeuta do CR2.
Em síntese, pode-se afirmar que a sociedade limita a capacidade de um indivíduo, estigmatizando-o e marca-o como desacreditado, determinando os efeitos maléficos que ele representa. Além disso, a família tem papel fundamental na busca do desenvolvimento e inclusão social do bebê, como também o apoio psicológico, terapêutico e clínico é determinante na forma de apoio e de diminuir os desgastes físicos, emocionais e sociais. 
5. PREOCUPAÇÕES FUTURAS 
 Não há como ignorar o fato de uma provável dificuldade e de um grande número de obstáculos existente no caminho e no futuro dos microcéfalos. 
Crianças com Microcefalia são alvos de muitas pesquisas e dúvidas a respeito do que virá. O Brasil não possui o suporte necessário para atender a demanda desses meninos. Apesar de a saúde ser um direito fundamental garantido pela Constituição Federal de 1988, ela não é fornecida da maneira devida pelo país. Isto é, as famílias carentes são as maiores vítimas da deficiência nacional.Logo, há um desassossego fruto desta instabilidade da nação. Além da saúde, temos a educação, a segurança, a moradia, dentre outros problemas sociais, como empecilhos ainda maiores para o futuro dos meninos acometidos com essa condição neurológica.
Com uma educação precária, a qual clama por psicólogos, psicopedagogos, assistentes sociais e professores altamente capacitados nas escolas torna-se ainda mais difícil a inclusão deles no meio acadêmico. 
No âmbito familiar e social, existe um elo que jamais deve ser quebrado. Para que os filhos sejam aceitos socialmente, eles precisam, antes de tudo, do acolhimento familiar. Assim, terão forças para encarar a realidade dura e preconceituosa que os atingirá por detrás dos muros das suas residências. Os responsáveis devem e merecem ter um acompanhamento psicológico atrelado ao da criança, dado que sofrem em demasiado por não possuírem o poder de curar o familiar.
Quando a criança é rejeitada por algum membro da família, ela tem uma dificuldade ainda maior de desenvolvimento devido, também, ao trauma do abandono. Nesse cenário, serão vítimas ainda mais recorrentes e sofridas do preconceito, injúria, rejeição social.
Pode-se dizer, portanto, que as preocupações futuras são imensuráveis e difíceis de serem solucionadas, pois esses problemas no Brasil são históricos e cabem muito mais ao caráter e o compromisso de quem gera o país do que de propostas remediadoras para que haja um melhoramento.
 
6. RELATÓRIO DA VISITA 
Foram realizadas algumas visitas como meio de pesquisa de campo para um melhor embasamento do tema abordado.
Primeiramente, uma parte do grupo foi à Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, onde obtiveram a informação de que para acompanhar a rotina desse local era necessária a apresentação antecipada de um projeto de pesquisa; o tempo estabelecido não estava de acordo com o prazo de entrega do trabalho e, portanto, não foi de muito êxito a busca da informação. 
Ainda na maternidade citada acima, os componentes contataram com uma assistente social, a qual se dispôs a responder o questionário e indicou lugares que facilitavam o nosso objetivo: agregar maiores conhecimentos através da área prática. 
A partir daí, o grupo decidiu ir ao CEMAR do Augusto Franco (local indicado pelo CEMAR do Siqueira Campos), mais especificamente a área CER 2 - Centro Especializado em Reabilitação-, que cuida de pessoas com deficiências física, motora e intelectual, fornecendo o atendimento necessário. A equipe foi recepcionada por uma enfermeira, uma fisioterapeuta e a mãe de uma das crianças atendidas no espaço.
 As informações e resultados obtidos por meio dessa pesquisa serão apresentados ao longo do trabalho e foram de grande enriquecimento, uma vez que a pesquisa de campo sai do método tradicional, que se apoia na teoria, e acrescenta uma visão real de como realmente funciona as técnicas na prática. 
7. APÊNDICE 
 7.1 ENTREVISTAS 
A VISÃO DA ENFERMAGEM 
Enfermeira M.G.B.O.S.
Qual a função da enfermagem nos casos dos pacientes com Microcefalia?
“Primeiramente, são funções da enfermagem o acolhimento da família, buscando conhecer o histórico da gestação, do pré-natal e em seguida a orientação quanto à necessidade dos tratamentos com Fisioterapeuta, Fonoaudiólogo, Psicólogo (para a mãe), Terapeuta Ocupacional e o suporte aos demais setores, quando apresenta alguma dificuldade de realizar suas funções, no caso de aparecimento de febre, crises de espasmos, convulsões ou congestão nasal”.
Quais as dificuldades no seu dia-a-dia lidando com esses pacientes?
“A dificuldade na maioria dos casos é lidar com os pais. Em geral, no CER2 famílias de classe mais baixa. Enfrentam dificuldades para ir realizar o tratamento e até falta de condição psicológica para lidar com a situação. Assim, vemos poucas evoluções nos casos”.
Existe alguma característica própria dos pacientes?
“Sim, com certeza. As crianças apresentam uma irritação intensa e observamos que a doença apresenta um maior ou menor grau a depender de quando, no período gestacional, a mãe foi infectada”.
Quais são outros pontos de apoio para essas famílias?
“Além do CER2, temos a maternidade Nossa Senhora de Lourdes, a FALOAP (que funciona na antiga Hildete Falcão), o Hospital Universitário e Hospital Santa Isabel”.
Qual sentimento em conviver com essas famílias?
“A palavra que define é: Superação”. 
Quando eu penso que estou com um problema, mas vejo os casos, sinto como se tudo em mim ficasse pequeno. “É difícil ver a dificuldade das famílias, e também a tristeza em ver a pouca evolução dos casos de microcefalia”.
A VISÃO DA FAMÍLIA 
 Mãe- L.S.S. 
1.Quando descobriu que o seu bebê tinha microcefalia? E como?
“Descobri quando Vitória estava com três meses. Eu já tinha notado que ela era diferente, mas ninguém me falou nada na maternidade. Então quando fui dar a vacina dos três meses, a enfermeira da Unidade Básica de Saúde me perguntou se ela era a criança com microcefalia. Foi um susto!”.
2.A partir da descoberta como se deu até a chegada ao CR2? 
	“A enfermeira me deu um encaminhamento para o Hospital Santa Isabel e lá foi confirmado que Vitória tinha microcefalia e, então, fui mandada para continuar o tratamento aqui, no CR2”.
3. Como é o seu dia-a-dia? E o que mudou depois de Vitória?
	“É muito difícil. Eu já tenho um menino de quatro anos e agora com Vitória eu mal consigo olhar ele. E nos dias que venho para cá tenho que deixa ele com o pai ou uma vizinha. Ela precisa de mim o tempo todo e se eu coloco deitada, ela já chora. Então é no braço o dia todo”.
4. 	De que maneira a Senhora avalia a assistência do Estado? Quais tratamentos Vitória realiza? Qual a frequência?
	“É mais ou menos. Umas coisas funcionam, outras não. Aqui no CR2 Vitória faz tratamento com a fisioterapeuta, a fonoaudióloga e a terapeuta ocupacional duas vezes por semana. Umas se dedicam bastante, outras fazem porque tem que fazer”.
5. Você acha que ainda existe preconceito sobre as crianças com Microcefalia?
	Com certeza. 
Observação do entrevistador: A resposta clara foi dada com os olhos e com ênfase na afirmação. Para os presentes foi possível ver a dor daquela mãe. 
	
 A VISÃO DA FISIOTERAPEUTA 	
1. Como é o quadro de avanço das crianças com Microcefalia?
Pouco tem sido os avanços, as crises de espasticidades ainda são muito frequentes, a irritabilidade dos bebês também é muito forte, dificultando assim o nosso trabalho.
2. Qual a frequências que essas crianças fazem fisioterapia?
A fisioterapia é realizada duas vezes por semana, porém existem muitos empecilhos que não permitem que essas crianças venham, já que a maioria depende do transporte por residirem no interior. Além de que, frequentemente, o transporte quebra ou não passa.
3. Como é feito o tratamento no CER 2? 
O tratamento é feito por meio de exercícios que quebram o padrão aspártico, possibilitando o controle da cabeça e mobilidade nos membros; em sessões que duram em média trinta minutos. 
 
 Entrevista a uma mãe que teve suspeita de microcefalia
 
 Mãe- L.S.A. 
1. O que você sentiu quando soube da chance de sua filha ter microcefalia?
	“Foi como se não houvesse mais chão. Para mim já foi difícil estar grávida, pois escondi de meus pais até os cinco meses e quando comecei o pré-natal já recebi a notícia que minha filha poderia nascer doente e ainda com uma doença que impediria dela crescer normal, que não seria ninguém e dependeria de mim para tudo. Por um minuto eu perdi o fôlego e só queria acordar longe dessa situação. Pensei em me matar, pensei em abortar, mas meus pais me fizeram forte e por eles eu segui. Mas o tempo todo eu sentia como se tivesse carregando um peso. E quando ela nasceu boa, sadia, normal. Eu não conseguia cuida dela e foi quando fui diagnosticada com depressão pós-parto”.
2. Você chegou a pensar em como a sociedade veria a sua filha?
	“Com certeza. A gente pensa logo no preconceito.Durante a gravidez eu já via como a minha própria família falava. E outra coisa, todo mundo nas redes sociais ‘ que venha com muita saúde’. Eu criei um ódio tão grande disso que apaguei minha conta no Facebook e Instagram; Além de ficar trancada em casa para não ver ninguém. 
Pensava no quanto ela ia sofrer, nos apelidos, nos olhares tortos e isso me maltratava muito. Por não querer que ela vivesse isso, pensava muito em não deixar nascer. Foram os piores três meses da minha vida”.
O caso de Heloá e Heloísa 
	Representando um caso dentre os 78% que envolve nordestinos, morador rural e pobre. É o caso de Raquel Barbosa, de 25 anos, mãe de gêmeas nascidas com microcefalia, Heloisa e Heloá.
Raquel não consegue cuidar das duas meninas, que exigem atenção constante. Ela teve que deixar uma delas com a avó das meninas, que mora em uma fazenda sem água encanada.
O governo local fornece transporte para levá-la de um subúrbio à Campina Grande, onde as crianças recebem duas sessões gratuitas de fisioterapia por semana em um hospital.
Mas ela diz que não pode pagar os 200 reais mensais necessários para comprar remédios contra as convulsões. Elas dependem, também, de doações como fraldas descartáveis e leite.
"Gostaria que eles dessem os remédios. A secretaria de saúde pública tem para dar, mas sempre está em falta e então tem que comprar. Não temos opção", explicou Raquel.
REFERÊNCIAS 
http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/educacao/noticia/2017/03/17/a-microcefalia-na-educacao-e-tema-de-simposio-neste-sabado-183-274685.php (15/04/17, 18:47)
Dados estatísticos podem ser confirmados a partir do link: (15/04/17, 20:54)
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/brasil-confirmou-165-casos-de-bebes-com-microcefalia-e-outras-alteracoes-ligadas-a-zika-em-2017.ghtml (20/04/17, 21:35)
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/especialista-em-zika-alerta-contra-descuido-do-brasil-com-a-microcefalia.ghtml (24/04/2017, 20:27)
https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/estado/2016/11/06/mundo-tem-73-paises-com-zika-e-26-com-casos-de-microcefalia.htm (25/04/17, 07:41)
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160128_zika_descoberta_brasil_mw_lab (25/04/17, 08:34)
https://www.google.com.br/search?q=avan%C3%A7o+da+zika+pelo+mundo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjokr3our_TAhWMhpAKHVmKAT0Q_AUIBigB&biw=1164&bih=631#imgrc=MQsGZ2M4SR0cSM (25/04/17, 08:35)
http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/durkheim-fato-social.htm (26/04/17, 13:36)

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