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�PAGE � �PAGE �1� DIREITO DAS PESSOAS Justiniano (Inst. 2,12) “Vejamos antes as pessoas, pois é conhecer pouco o direito, se desconhecemos as pessoas, em razão das quais ele foi constituído”. Vocábulo “pessoa” – deriva de persona (palavra de origem etrusca) – significa “máscara de teatro” – com o tempo persona passou a significar o ser humano, sujeito de direitos e obrigação Pessoa e homem são conceitos diversos para os romanos. Só o homem que reúne certos requisitos é pessoa. Homem é conceito biológico. Pessoa é conceito jurídico. Pessoa é o ser humano acompanhado de atributos. Pessoas: físicas = ser humano + status jurídicas = conjunto de pessoas (= universitas personarum) conjunto de coisas ( = universitas rerum) Status - é a qualidade em virtude da qual o romano tem direitos - é a condição civil de capacidade. 1. Sujeitos de direito - são as pessoas, quer físicas, quer jurídicas, que atuam no mundo do direito. O sujeito de direito subjetivo é denominado, tecnicamente, pessoa. Os romanos, porém, não possuíam termo específico para exprimi-la. Havia duas categorias de pessoas: pessoas físicas ou naturais (os homens, que não os escravos) e as pessoas jurídicas ou morais (seres abstratos aos quais a ordem jurídica considera sujeitos de direitos, como as associações e as fundações). 2. Pessoa Física As pessoas são os homens, mas nem todo homem é pessoa física (por exemplo, os escravos). Modernamente, basta o nascimento com vida para que, juridicamente, se configure um homem. O mesmo na ocorria em Roma, eram exigidos três requisitos: 1º- o nascimento com vida (sinais visíveis) 2º - a vida extra-uterina (separação total do feto – corte do cordão) 3º - a forma humana. Nascimento - para os romanos o feto era apenas parte das vísceras da mulher e não podia, portanto, ser considerado homem. O nascimento ocorria quer o parto fosse natural, quer se tivesse verificado mediante intervenção cirúrgica, a qual, entre os romanos somente se fazia em cadáver de mulher, que, ao falecer, estivesse grávida. O feto teria que nascer com vida e com forma perfeita, caso contrário era considerado monstrum. Nascituro - o nascituro é o que irá nascer, ou seja, o feto durante a gestação. Não era considerado ainda ser humano porque não preenchia ainda o primeiro princípio, o nascimento, mas, desde a concepção já era protegido. No terreno patrimonial, a ordem jurídica, embora não reconhecesse no nascituro um sujeito de direito, levava em consideração o fato de que, futuramente, o seria, e, por isso, protegia antecipadamente, direitos que ele viria a ter quando fosse pessoa física. Com base nesses princípios que foram enunciados pelos jurisconsultos clássicos, surgiu, no direito justinianeu, a regra geral de que o nascituro, quando se tratasse de vantagem em seu favor. Extinguia-se a pessoa física com a morte do indivíduo. Desconhecia-se o registro civil e a declaração e presunção de morte pelo desaparecimento. A personalidade do morto permanecia em seus bens até ser repartido entre os herdeiros. Comoriência 3.Capacidade Jurídica de Gozo ou personalidade jurídica A ordem jurídica romana não reconhecia a todo e qualquer homem a qualidade de sujeito de direitos Assim, o escravo não a possuía, uma vez que era considerado coisa (res), isto é, objeto de direitos. Personalidade jurídica é a aptidão do homem para adquirir direitos e contrair obrigações. A Capacidade podia ser: jurídica e de fato. Capacidade jurídica – é inerente ao ser humano que nasce com capacidade e permanece até a morte. Capacidade de fato - é a aptidão para praticar diretamente os atos da vida civil, sem necessidade de autorização. Requisitos para ter completa capacidade jurídica de gozo: a) ser livre; b) ser cidadão romano; c) independente do pátrio poder (sui iuris, paterfamilias). Causas restritivas da capacidade de fato: Idade Enfermidades físicas (castrados, esterilizados, cegos, surdos-mudos) Enfermidades mentais (furiosos e mentecaptos – dementes) Prodigalidade Infâmia (atos considerados ofensivos à dignidade pública) Turpitude – pessoa torpe – comportamento indecoroso Religião - a partir de Constantino, os não cristãos passaram a ter diminuída a capacidade civil. Essas posições, em que se encontravam as pessoas com relação ao Estado (como homens livres e cidadãos romanos) ou à família (como pater famílias ou filius familias) denominavam-se status (estados), que eram três: status libertatis; status civitatis; status familiae. Status - é a qualidade em virtude da qual o romano tem direitos: é a condição civil de capacidade. Em 190 a.C. a Lei Plaetoria definiu a idade de 25 anos para o homem ser considerado com plena capacidade Pela idade eram assim divididos: - Infantes – os que ainda não podiam falar – eram absolutamente incapazes – até os 7 anos; - Impúberes - de 7 a 14 anos – quando ainda não apresentavam o desenvolvimento físico necessário para o casamento (12 anos para as mulheres e 14 anos para os homens). 4. STATUS LIBERTATIS (Liberdade) No direito romano os homens ou eram livres ou eram escravos.A liberdade era o maior bem para o romano. A liberdade é a regra; a escravidão é a exceção. O jurista Gaio classifica as pessoas em 4 grupos: divisão fundamental (summa divisio) - homens livres e escravos; cidadãos e não cidadãos (latinos e peregrinos); estado das pessoas na casa romana (paterfamilias) sui iuris e alieni iuris. 4.1. ESCRAVIDÃO Escravidão (servitus) é a instituição mediante a qual um ser humano (servius), privado da liberdade (libertas) é equiparado aos objetos, às coisas (res). Várias eram as causas de escravidão: pelo nascimento (filho de escrava, escravo é, não importa a condição paterna); por fatos posteriores ao nascimento. - prisioneiros de guerra; - aquele que não prestava declarações ao censo; - aquele, queconvocado não se apresentava o exército; - o desertor; - aquele que os romanos entregavam ao inimigo ou à nação estrangeira que ele tivesse ofendido; - o ladrão preso em flagrante; - devedor insolvente; - o filius familias vendido pelo pater familias. O escravo, em Roma, era, assim como um animal, coisa (res), não podiam ser sujeitos de direito, eram objetos de relações jurídicas, não tinham direitos e obrigações. Com o passar dos tempos, porém, principalmente por influência do cristianismo, as situações vão se abrandando. Restrições ao escravo: a)não tinha direito ao connubium, isto é, não podia casar-se legitimamente ( sua união com escrava ou mulher livre chamava-se contubernium ou união de fato); não tinha patrimônio; não podia ser parte (autor ou réu) em juízo; seu proprietário podia transferí-lo, onerosa ou gratuitamente, a outro homem livre e até matá-lo. O pater familias tinha poderes totais sobre os escravos; poderes de vida e morte. Em fins da República a condição do escravo sofre radicais mudanças por influência do cristianismo - era proibido abandonar escravos velhos, doentes, recém-nascidos, sob pena de perder a dominica potestas. Dominica Potestas é a relação jurídica que liga o dominus ao servus Os estrangeiros eram considerados escravos, se caíssem no poder dos romanos, ainda que seu país não estivesse em guerra com Roma. A condição de escravo era permanente - o escravo sem dono não se tornava livre - escravo sem dono (res nullius) . 4.2.LIBERDADE DO ESCRAVO A atribuição da liberdade ao escravo fazia-se por meio de um ato voluntário do dono, chamado Manumissão ou alforria . Havia 2 formas de Manumissão: forma solene e não solene Forma não solene: 1) inter amicos (entre amigos); 2) post mensam (após a ceia); 3) per epistolam (por carta); Forma solene: Manumissio vindicta - era a declaração simples mas solene do dono, perante o pretor, conferindo liberdade ao escravo;Manumissio censu - era a inscrição do nome do escravo na lista dos cidadãos livres, feita pelos censores a cada 5 anos; Manumissio testamento - o testador concedia a liberdade do escravo após a sua morte; Manumissio in sacrosanctis eclesiis - perante o sacerdote e a comunidade (na era do cristianismo). O escravo libertado era chamado liberto, seus direitos eram limitados, encontrava-se sob o patronato do ex dono implicando assim uma interdependência entre ex-dono (patrono) e o escravo (liberto). 5. STATUS CIVITATIS (Cidadania) Não pode ter a civitas quem não tem a libertas. Os romanos denominavam status civitatis a dependência de um indivíduo a uma comunidade juridicamente organizada. A princípio, o Estado se identificava com a cidade de Roma: eram cidadãos seus habitantes livres. E mesmo quando Roma se vai expandindo, não abandona ela a concepção primitiva da cidade-Estado. Por isso, embora acrescente novos territórios ao seu, não estende a cidadania às populações que vai reduzindo a sujeição. Daí, haver, no império Romano, ao lado do cives (cidadãos), súditos livres (peregrini= peregrinos) que não o eram. O direito Romano inicialmente, só se aplicava aos cidadãos romanos. Os estrangeiros ou peregrinos não tinham a capacidade jurídica de gozo no concernente aos direitos e obrigações do “jus civile”, a eles aplicavam-se as regras do ius gentius. Podiam adquirir propriedades, fazer testamentos, conforme as regras de suas cidades. Os Peregrinos são os estrangeiros aos quais se reconhecem alguns direitos. Dividem-se em: a) Peregrinos ordinários - são os habitantes das cidades que, cercados, tinham concluído tratados de paz com Roma. Tornavam-se povos aliados dos romanos e conservavam seus usos e costumes; b) Peregrinos deditícios são os habitantes das cidades que resistiram aos romanos, lutando até o fim e que acabaram firmando tratados de aliança com os vencedores Os latinos, vizinhos de Roma, tinham capacidade jurídica de gozo semelhante à dos romanos, podiam votar nos comícios (Roma), podiam comerciar e contrair núpcias. 5.1. Cidadania. A cidadania romana adquiria-se pelo nascimento ou por fatos posteriores ao nascimento. Adquiria-se a cidadania: por nascimento (filho de romana é cidadão romano, qualquer que seja a situação paterna); por fatos posteriores ao nascimento: por transferência de domicílio p/Roma; por lei (Edito de Caracala - 212 d.C., exceto os peregrinos deditícios) por prestação de serviço militar por concessão graciosa. Perdia-se a cidadania romana o cidadão que: se perdesse o status libertatis - fosse feito escravo; se tornasse membro de uma cidade estrangeira; se sofresse alguma condenação (a deportação). 6. STATUS FAMILIAE (Situação da Família) A posição de uma pessoa dentro da família romana é muito importante para determinar-se a amplitude de sua capacidade jurídica, no campo do direito privado. Família é o vocábulo que, em Roma, além de outros sentidos, significa “conjunto de pessoas colocadas sob o poder de um chefe, o pater familias (pater não quer dizer pai, mas chefe) e o patrimônio do pater familias”. A família romana é de base patriarcal, tudo gira em torno de um pater familias, ao qual, sucessivamente, se vão subordinando os descendentes até a morte do chefe. O pater familias , pai de família, tem o dominium in domo, a potestas. É o dominus, o senhor a quem está confiada a domus, ou grupo doméstico. Na qualidade de sui juris, independente, detinha todo um regime de poderes sobre os aliene juris, dependentes, quer livres, quer escravos, e sobre o patrimônio doméstico. A mater familias, mãe da família, e os filhos e filhas eram súditos “livres” do paterfamilias, detentor, pois, de todo o poder. Poderes do Paterfamilias: sobre a mulher - Manus; sobre os membros da família - patria potestas; sobre os escravos - dominica potestas; sobre os bens que lhe pertencem - dominium. A domus era o grupo doméstico: grupo religioso - (pater é sacerdote); grupo econômico (pater é o dirigente); grupo jurídico-político (pater é o magistrado). A organização familiar se constituía por: pater familias (sui iuris) - (que não está subordinado a nenhum ascendente masculino vivo); b) os filii familias ( alieni juris)-(isto é, todas as pessoas livres que estão sob a potestas do pater familias: assim por exemplo, sua mulher in manu (isto é sob o poder do pater familias); seus filhos e filhas; suas noras in manu; seus netos e netas, e respectiva mulheres in manu). Os alieni juris podiam votar e ser votados para as magistraturas, podiam casar com o consentimento do paterfamilias, mas tudo o que adquiria era para o paterfamilias. Falecido o pater familias, a mater, filius e filia tornavam-se independentes. A regra geral é que a patria potestas só se extingue com a morte do paterfamilias, porque enquanto o chefe está vivo, mas durante a vida do paterfamilias, pode extinguir-se a patria potestas, nos seguintes casos: emancipação elevação do filius a certas dignidades; abandono do filius pelo pater;perda da libertas ou da civitas pelo pater. Entretanto, a dominica potestas, ou seja a relação jurídica que subordina um escravo a seu patrão e o mancipium, que liga um homem livre a outro homem livres, são transmitidos aos herdeiros do pater. 7. PARENTESCO Como entre os romanos o parentesco não era biológico, sangüíneo, a mater familias, apesar de viúva, nenhum poder passava a exercer sobre os filhos e filhas. No direito romano havia duas espécies de parentesco: agnação (agnatio) é o parentesco civil, aos olhos da lei,que se transmite apenas pelos homens e repousa na identidade de potestas, sendo, pois, agnatos todos os que se acham sob a pátria potestas dum mesmo chefe; todos que assim continuaram até a morte do pater; todos que cairiam sob o poder do pater, casa este vivesse indefinidamente. cognação (cognatio) é o parentesco que se propaga pelo sangue, e, em conseqüência, tanto por via masculina, quanto por via feminina. É o laço de sangue que há entre as pessoas que descendem umas das outras (filho, pai, avô) ou de um ascendente comum (irmãos, que descendem dos mesmos pais). Antigamente só a agnação gerava direitos. Em 534 Justiniano extingue a agnação e o direito de família repousa daí por diante na comunidade de sangue.
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