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Textos essenciais da psicanálise volume I

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Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
 1 
 
 
 
Modelos Psicanalíticos e Humanistas 
 
“Textos Essenciais da Psicanálise: Volume I – O 
Inconsciente, os Sonhos e a Vida Pulsional” 
Sigmund Freud 
 
 
 
Mestrado Integrado em Psicologia | 2º ano 
 
 
 
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da 
Universidade do Porto 
 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
 2 
 
1. Análise Leiga: A questão da Análise Leiga 
I 
Os pacientes reconhecem que estão doentes e recorrem a um médico. Estes examinam 
os órgãos que produzem os sintomas e recomendam interrupções no modo normal da 
vida do paciente. 
O analista não usa qualquer instrumento – nem receita nem medicamentos. Deixa o 
doente no seu próprio ambiente e modo normal de vida durante o tratamento. O 
analista combina uma hora com o paciente, põe-no a falar, escuta-o, fala-lhe e fá-lo 
escutar. Os tratamentos analíticos levam meses ou anos. O analista não despreza a 
palavra, visto que é um instrumento muito utilizado e poderoso. É o meio através do 
qual transmitimos os sentimentos entre nós, o método para influenciar outras pessoas. 
Incita-se a que o paciente seja inteiramente sincero, que não esconda intencionalmente 
nada do que lhe venha à cabeça e que ponha de lado toda e qualquer reserva que possa 
impedi-lo de contar certos pensamentos ou recordações. É necessário fazer-lhe notar 
que não se usa influência pessoal nem “sugestões” para suprimir os sintomas da doença, 
como acontece com a sugestão hipnótica. Pretende-se que o paciente compreenda que 
esses sentimentos duradouros e persistentes têm uma base real e que se pode 
descobrir. 
II 
Ego: uma organização mental que está interpolada entre, por um lado, os estímulos 
sensoriais e a perceção das necessidades somáticas e, pelo outro, os atos motores e que 
serve de mediador entre eles para um fim especial. É a camada externa e periférica do 
aparelho mental (do id) que foi modificada por influência do mundo externo (da 
realidade). O ego é algo mais superficial. Fica entre a realidade e o id. Caracterizado por 
uma tendência notória no sentido de unificação, da síntese. Os processos do ego são os 
únicos que se podem tornar conscientes (nem todos e nem sempre, podendo grandes 
parcelas permanecerem indefinidamente inconscientes). A sua principal função é 
decidir quando é mais apropriado controlar as próprias paixões, curvando-se perante a 
realidade, e quando é mais apropriado alinhar com elas e lutar contra o exterior. 
Id: região mental mais extensa, dominante e obscura que o “eu”. É mais profundo. Não 
há conflitos: as contradições e as antíteses vivem lado a lado, sendo muita vezes 
ajustadas pela formação de compromissos. Não existe a característica da unificação, 
estando “em bocados” (os seus diferentes impulsos prosseguem independentemente 
os seus respetivos propósitos, sem tomar os outros em consideração). Tudo o que 
acontece no id é permanentemente inconsciente. 
Superego/Consciência: instância ligada imediatamente ao mundo externo, um sistema, 
um órgão, pela excitação. Pode ser excitada tanto do exterior – recebendo assim (com 
a ajuda dos órgãos sensoriais) os estímulos do mundo externo – como do interior – 
tomando, assim, consciência das sensações do id e também dos processos 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
 3 
desenvolvidos no ego. Pertence ao ego e compartilha do seu elevado grau de 
organização psicológica, mas tem também uma ligação particularmente íntima com o 
id. É um precipitado dos primeiros investimentos do id num objeto e é o herdeiro do 
complexo de Édipo depois de ele ter sido abandonado. É capaz de enfrentar o ego e 
trata-lo com um objeto. A saúde mental depende fortemente do facto de o superego 
estar normalmente desenvolvido – isto é, de ele se ter tornado suficientemente 
impessoal. 
Qualquer observação permite que podem ocorrer-nos ideias que não podiam ter 
brotado sem preparação. Mas não sentimos nenhuma dessas fases preliminares do 
pensamento, embora também elas tenham natureza mental. 
O ego e o id formam um todo. 
 
III 
As forças que põem o aparelho mental em atividade são produzidas nos órgãos do corpo 
como expressão das principais necessidades somáticas. A estas necessidades corporais, 
damos o nome de pulsões. Estas pulsões preenchem o id: todas as energias do ide têm 
nelas a sua origem e derivam das forças existentes no id. Pretendem a satisfação, isto é, 
a criação de situações nas quais as necessidades corporais possam ser extintas. Uma 
diminuição da tensão da necessidade é sentida pelo nosso órgão de consciência como 
prazer. Um aumento dessa tensão é sentido como um desprazer – “predomínio do 
prazer”. Se as exigências pulsionais do id não são satisfeitas, podem criar-se condições 
intoleráveis. 
É missão do ego estar de guardar contra estas condições, servindo de mediador entre 
as exigências do id e as objeções do mundo exterior. Por um lado, e com a ajuda dos 
órgãos dos sentidos, o sistema de consciência observa o mundo externo, de modo a 
captar o momento favorável para uma satisfação sem prejuízos. Por outro lado, 
influencia o id, põe-lhe um travão nas suas “paixões”, convence as pulsões a adiar a sua 
satisfação e modifica os seus alvos ou, mediante uma qualquer compensação, a desistir 
deles – “princípio da realidade”. 
No recalcamento, o ego segue o princípio do prazer, coisa que tem por hábito corrigir, 
e é bem possível que sofra danos. Este dano reside no facto de o ego ter para sempre 
estreitado a sua esfera de influência. A noção pulsional recalcada está agora isolada, 
abandonada a si mesma, inacessível mas também não influenciável. Esta pulsão produz 
derivados psíquicos para a substituir. Penetra à força no ego e na consciência sob a 
forma de um qualquer substituto distorcido e irreconhecível e cria aquilo a que 
chamamos de sintoma. 
Origem da neurose: o ego fez uma tentativa no sentido de suprimir certas porções do 
id, mas de ma maneira não adequada. Essa tentativa falhou e o id “vingou-se”. Uma 
neurose é o resultado de um conflito entre o ego e o id em que se lançou o ego, porque 
deseja manter a sua adaptabilidade em relação ao mundo exterior real. Este conflito é 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
 4 
originado na circunstância de o ego ter recorrido ao instrumento ineficiente que é o 
recalcamento para resolver esse problema. O ego está ainda pouco desenvolvido e sem 
poder, sendo que os recalcamentos decisivos acontecem sempre na infância. 
Tratamento das doenças neuróticas: Tentar refazer o ego, libertá-lo das suas restrições 
e devolver-lhe o comando sobre o id que perdeu por causa dos seus anteriores 
recalcamentos. Procurar descobrir os recalcamentos que foram criados e incitar o ego a 
corrigi-los e a enfrentar os conflitos de melhor forma (ao invés da fuga). Uma vez que os 
recalcamentos pertencem aos primeiros anos de vida, também o trabalho do analista 
nos leva de volta a este período. O caminho até essas situações de conflito, que foram 
na maioria esquecidas e que se tenta reavivar na mente do paciente, é-nos indicado 
pelos seus sintomas, sonhos e associações livres. O processo será bem-sucedido se a 
situação de recalcamento puder ser reproduzida na memória. 
 
IV 
A análise baseia-se numa confiança plena. Contam-se coisas que são escondidas de 
todas as outras pessoas. Os fatores da vida sexual desempenham um papel 
extremamente importante, dominante e específico como causa e fator precipitante das 
doenças neuróticas. Os impulsos instintivos sexuais acompanham a vida desde o 
nascimento, o que é precisamente na intenção de vencer essas pulsões que o ego 
infantil institui recalcamentos.A função sexual, desde o seu começo até à forma definitiva, sofre um processo de 
desenvolvimento. Nasce de várias pulsões parciais com diferentes alvos e passa por 
diversas fases de organização, até que entra ao serviço da reprodução. Nem todas as 
pulsões parciais que a compõem têm igual utilidade para o produto final; terão de ser 
modificadas, remodeladas e, em parte, suprimidas. Acontecem inibições n 
desenvolvimento, fixações parciais nos primeiros estágios de desenvolvimento. Se mais 
tarde surgirem obstáculos de exercício da função sexual, o impulso sexual – líbido – 
pode recuar até esses anteriores pontos de fixação. 
Na vida sexual das crianças, é necessário vincar o facto de estas pulsões sexuais se 
desenvolverem nos primeiros cinco anos de vida. Desde então até à puberdade, 
estende-se o período de latência. Durante este período, a sexualidade não costuma 
avançar; aliás, os impulsos sexuais diminuem de força e muitas coisas que a criança fazia 
e sabia são abandonadas e esquecidas. 
Depois da primeira florescência da sexualidade, surgem atitudes do ego como vergonha, 
repulsa e moralidade, atitudes destinadas a, mais tarde, fazer frente às tempestades da 
puberdade e a estabelecer o caminho dos desejos sexuais que acordam – a isto chama-
se “instauração difásica”. 
É vulgar que os rapazes pequenos temam ser comidos pelo pai. As crianças do sexo 
masculino têm medo que o pai lhes roube o seu órgão genital e esse medo de castração 
tem influência no desenvolvimento do seu caráter e na decisão da direção a seguir pela 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
 5 
sexualidade. O órgão sexual feminino não desempenha nela qualquer papel, até porque 
a criança ainda não o descobriu. A ênfase recai no órgão masculino, todo o interesse da 
criança está voltado para a questão de saber se esse órgão está ou não presente. As 
meninas sentem profundamente a falta de um órgão sexual de valor igual ao masculino; 
por este motivo, consideram-se inferiores, e essa “inveja do pénis” é a origem de todo 
um número de reações femininas características. É típico que as suas necessidades de 
excreção sejam investidas de um interesse sexual. 
As crianças orientam geralmente os seus desejos sexuais na direção dos seus parentes 
mais próximos. O primeiro objeto de amor de um rapaz é a sua mãe e de uma rapariga 
é o pai. O outro genitor é sentido como um rival incomodativo e não poucas vezes 
encarado com forte hostilidade. Os seus desejos culminam na intenção de ter e procriar 
um bebé. A toda esta estrutura mental damos o nome de “complexo de Édipo”. 
Somos tentados a dizer que a neurose nas crianças não é exceção. Na maioria dos casos, 
esta fase neurótica da infância é superada espontaneamente. 
Os impulsos sexuais das crianças encontram as suas principais expressões na 
autogratificação, pela fricção dos seus próprios órgãos genitais. 
No que diz respeito ao tratamento analítico, é necessário ter em conta determinadas 
etapas. Inicialmente, é necessário encontrar a interpretação correta. Depois, temos de 
esperar pelo momento certo para comunicar, com certa possibilidade de êxito, essa 
interpretação ao paciente. A fórmula é esperar até ele se ter aproximado tanto do 
material recalcado que lhe falte dar apenas pouco mais passos sob a direção da 
interpretação que lhe propomos. De seguida, descobre-se que fomos enganados pelo 
paciente, que não podemos contar com a sua colaboração, que ele está pronto a erguer 
todos os obstáculos possíveis para entravar o seu trabalho em comum. O paciente quer 
ser curado – mas também quer não ser curado. O seu ego perdeu a unidade e por essa 
razão também o seu querer não tem unidade – “ganho da doença”. Nos neuróticos, cujo 
complexo de Édipo não passou pelo processo correto de transformação, o superego não 
está completamente desenvolvido para garantir a saúde mental. A doença é empregada 
como instrumento para a autopunição e os neuróticos têm de se comportar como se 
fossem governados por um sentimento de culpa que, para ser satisfeito, precisa de ser 
castigado pela doença. O “sentimento inconsciente da culpa” representa a resistência 
do superego. Se durante o primeiro período, o ego, por medo, estabeleceu um 
recalcamento, então esse medo continua a existir e manifesta-se como resistência, se o 
ego se aproximar do material recalcado. A resistência do id consiste na dificuldade em 
seguir um novo caminho que acaba de ser aberto subitamente. A função do analista é 
lutar contra estas resistências. 
Com o desenrolar do processo, surge uma paixão de amor do paciente pelo analista. O 
amor do paciente não se satisfaz com ser obediente; torna-se exigente, pede satisfações 
sexuais e de afeto, exige exclusividade; desenvolve ciúmes e vai mostrando cada vez 
mais o reverso da medalha, a sua prontidão em tornar-se hostil e vingativo quando não 
consegue o que pretende. Ao mesmo tempo, afasta qualquer outro material mental; 
extingue o interesse no tratamento e na recuperação. 
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 6 
À medida que as facetas puramente sensuais e hostis do seu amor tentam manifestar-
se, a oposição do paciente a essas facetas é despertada. Ele luta contra elas e tenta 
recalca-las perante os nossos olhos. E aí compreendemos que, nesse cair apaixonado 
pelo analista, o paciente está a repetir experiências mentais por que já anteriormente 
passou; transferiu para o analista atitudes mentais que estavam prontas dentro de si e 
que se encontravam intimamente ligadas à neurose; repete antigas ações defensivas. O 
enigma do amor transferencial é resolvido e a análise prossegue o seu caminho. 
VI 
Os médicos formam um grupo de pessoas que fazem tratamentos sem possuir 
conhecimentos e capacidade para tal no campo da análise. Muitas vezes, praticam 
tratamentos analíticos sem os terem aprendido e sem os compreenderem. Freud 
propõe uma política de laissez faire, isto é, com regulamentos suficientes para quem 
pratica a psicanálise (já que considera que demasiadas proibições não irão funcionar). 
VII 
Freud não anula a possibilidade de médicos procederem com a análise, mas com os 
devidos cuidados. No entanto, a forma como os médicos lidam com os problemas 
neuróticos é acrescido, na medida em que a precaução no diagnóstico é essencial. O 
diagnóstico preferencial nem sempre é fácil e na pode ser feito de imediato em todas as 
fases. 
O diagnóstico é habitualmente feito por um médico e depois, este deverá encaminhar o 
paciente para um analista. No entanto, o diagnóstico de uma neurose não é facilitado, 
visto que se pode apresentar através de várias facetas com diferentes significados (como 
por exemplo, estar perto da loucura). Há ainda outra situação em que o analista tem de 
recorrer a um médico: quando o paciente apresenta sintomas físicos, podendo estar 
relacionados com a neurose ou com uma doença orgânica. 
Uma regra técnica diz que, se no tratamento surgirem sintomas dúbios, o analista tem 
de recorrer a um médico que não esteja ligado ao caso, mesmo que o analista seja 
médico e tenha conhecimentos nesse campo. Existem várias razões para a 
implementação desta regra. Em primeiro lugar, não é boa ideia que uma combinação de 
tratamento orgânico e psíquico seja feito pela mesma pessoa. Em segundo lugar, a 
relação na transferência pode tornar desaconselhável que o analista examine o paciente 
fisicamente. Em terceiro lugar, o analista tem todas as razoes para pôr em dúvida a sua 
imparcialidade, visto que os seus interesses estão orientados para os fatores psíquicos. 
 
 
 
 
 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
 7 
 
2. O significado dos sonhos 
Introdução 
Hoje em dia, já ninguém ignora que grande parteda vida mental se desenrola sem delas 
termos consciência, isto é, que o nosso ego “não é dono e senhor da sua própria casa”. 
Esse inconsciente inclui a vida pulsional, cujos derivados, sob a forma de desejos, lutam 
pela satisfação. O modo próprio do inconsciente segue os seus cainhos, dirigidos apenas 
no sentido de alcançar o prazer. Usa uma linguagem pictórica que não tem palavras à 
sua disposição. 
A pessoa dorme para regressar a um estado primário e tente experimentar em sonhos 
tudo aquilo que durante o dia manteve sob o mais rigoroso controlo por amor às 
considerações da realidade. 
Freud considera os sonhos como a mais importante via conducente às forças 
subterrâneas que determinam as parapraxias da vida quotidiana, a escolha do parceiro 
no amor e a formação de sintomas de neurose e psicose nas doenças mentais. 
 
I 
Existem 3 linhas de pensamento acerca dos sonhos. Uma delas é utilizada por certos 
filósofos. Consideram que a base da vida onírica é um estado peculiar de atividade 
mental, tratando-se de um estado de elevação a um nível superior. Afirmam que os 
sonhos nascem essencialmente de impulsos mentais e representam manifestações de 
forças mentais que foram impedidas de se expandir livremente durante o dia. Um 
segundo ponto de vista é defendido pela maioria dos médicos que dizem que os sonhos 
só muito tangencialmente atingem o nível de serem fenómenos psíquicos. Os únicos 
instigadores dos sonhos são os estímulos sensoriais e somáticos que se impõem à 
pessoa que dorme vindos do exterior ou se tornam acidentalmente ativos nos seus 
órgãos internos. O que é sonhado não tem sentido ou significado. A opinião popular 
acredita que os sonhos têm um significado que está relacionado com a predição do 
futuro e que pode ser descoberto por qualquer processo de interpretação de um 
conteúdo que muitas vezes é confuso e intrigante. Os métodos de interpretação 
consistem na transformação dos conteúdos do sonho tal como é recordado para uma 
relação simbólica. 
 
II 
A descoberta das linhas de pensamento que, ocultas à consciência, fazem a ligação entre 
as ideias patológicas e o restante conteúdo da mente, é equivalente a uma solução dos 
sintomas, e tem como consequência o domínio das ideias que até então não podiam ser 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
 8 
inibidas. Usou-se a psicoterapia como ponto de partida de procedimento para a 
explicação dos sonhos. 
Inicialmente, pedimos ao paciente que dê atenção a tudo o que lhe venha à mente e 
sem exceção e que o participe ao médico. Se ele afirmar que é incapaz de fixar a atenção 
em qualquer coisa, tiramos-lhe essa ideia da cabeça, assegurando-lhe que a ausência 
completa de qualquer ideia é absolutamente impossível. Se conseguirmos convencer o 
paciente a abandonar o seu criticismo perante as ideias que lhe ocorrem e a continuar 
a prosseguir as linhas de pensamento continuarão a emergir se ele mantiver a atenção 
fixa nelas, encontraremos uma quantidade de material psíquico que está ligado à ideia 
patológica que nos serviu de ponto de partida. Irá permitir-nos substituir a ideia 
patológica por uma outra que se insere no nexo do pensamento de modo inteligível. 
Se usarmos o mesmo processo com nós mesmos, seguiremos melhor a investigação se 
formos desde o início escrevendo o que, no começo, parecem associações ininteligíveis. 
É aconselhável dividir um sonho nos seus elementos e descobrir as associações que se 
ligam separadamente a cada um destes fragmentos. Seguindo as associações dos 
elementos separados do sonho, isolados do seu contexto, existem inúmeros produtos 
importantes para a vida mental. Esse material revelado pela análise do sonho está 
intimamente ligado ao conteúdo do sonho, mas a conexão é de tal natureza que nunca 
seria possível inferir o novo material desse conteúdo. Por vezes, os sonhos permitem a 
consciência de profundos impulsos afetivos. 
O sonho é uma espécie de substituto para os processos de pensamento, cheio de 
significado e emoção. 
Conteúdo manifesto do sonho: sonho como está retido na memória 
Conteúdo latente do sonho: material relevante descoberto através da análise 
Trabalho do sonho: processo que transforma o conteúdo latente dos sonhos em 
conteúdo manifesto 
Trabalho de análise: transformação no sentido inverso 
 
III 
Os sonhos podem ser divididos em três categorias. 
1. Sonhos que fazem sentido e são ao mesmo tempo inteligíveis, isto é, os que, sem 
mais dificuldades, podem ser inseridos no contexto da nossa vida mental. São 
geralmente curtos e parecem pouco dignos de atenção, visto não haver neles 
nada de estranho. A sua ocorrência constitui poderoso argumento contra a 
teoria que defende que os sonhos têm a sua origem na atividade isolada de 
grupos separados de células cerebrais. Eles não nos dão qualquer indicação de 
uma atividade psíquica reduzida ou fragmentária. 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
 9 
2. Sonhos que, embora tenham conexão em si mesmos e um sentido claro, têm o 
efeito de nos espantar, porque não vemos como inserir esse sentido na nossa 
vida mental. 
3. Sonhos que não fazem qualquer sentido nem são inteligíveis, porque aparecem 
desconexos, confusos e sem sentido. A maioria dos produtos dos nossos sonhos 
exibem estas características. 
O contraste entre os conteúdos manifesto e latente dos sonhos só têm significação em 
sonhos de segunda e terceira categoria. 
Há uma relação íntima e regular entre a natureza inteligível e confusa dos sonhos e a 
dificuldade de comunicarmos os pensamentos que lhes estão subjacentes. 
Os sonhos das crianças encontram-se na primeira categoria, visto que têm significado e 
não são intrigantes. Todos os sonhos das crianças realizam desejos que tinham estado 
ativos todo o dia, mas que tinham ficado por satisfazer. Os sonhos eram simplesmente 
e sem disfarce a realização de desejos. Têm uma direta relação com a vida diurna. Os 
sonhos de caráter infantil são particularmente comuns em condições extremas ou fora 
do usual. 
No caso dos adultos, regra geral, os sonhos estão cheios do mais estranho e indiferente 
material e não há no seu conteúdo qualquer sinal de realização de um desejo. Os sonhos 
mostram-nos o desejo já realizado. Apresentam essa realização como real e presente e 
o material utilizado nas representações do sonho consiste em situações e imagens 
sensoriais (principalmente visuais). 
 
IV 
O trabalho do sonho realizou um trabalho de compreensão ou de condensação em 
grande escala. De cada elemento do conteúdo de um sonho, saem ramificações 
associativas em duas ou mais direções. Cada situação de um sonho parece o resultado 
conjunto de duas ou mais impressões ou experiências. Em todos os componentes terá 
de existir um ou mais elementos comuns. 
A interpretação dos sonhos indica que, ao analisar um sonho, se uma incerteza pode ser 
resolvida por u “ou-ou”, devemos na interpretação substituir por um “e”, e tomar cada 
uma das alternativas como pontos de partida independentes para outra série de 
associações. O modo mais conveniente de juntar dois pensamentos latentes que, à 
partida, nada têm em comum, é alterar a forma verbal de um deles, levando-o ao 
encontro do outro, que pode estar igualmente vestido com uma nova forma verbal. 
A combinação de diferentes pessoas numa só representante no conteúdo do sonho tem 
um significado: pretende indicar um “e” ou “tal como”, ou comparar entre si as pessoas 
originais sob um qualquer aspeto, que pode até estar especificado no sonho. Esse 
elemento comum entre as pessoas combinadas pode apenas ser descoberto por meio 
da análise, e está indicado no conteúdo do sonho apenas pela formação da figura 
coletiva.Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
 10 
Cada elemento no conteúdo de um sonho é “sobredeterminado” pelo material dos 
pensamentos do sonho. Não deriva de um único elemento desses pensamentos, mas de 
todo um número deles. Um elemento do sonho é o representante de todo o material 
díspar no conteúdo do sonho. 
A condensação, juntamente com a transformação de pensamentos (dramatização), é a 
característica mais importante do trabalho do sonho. 
 
V 
O que no sonho sobressai ousada e claramente como seu conteúdo essencial deve, 
depois da análise, satisfazer-se com o desempenho de um papel extremamente 
subordinado perante os pensamentos do sonho. 
No decurso do trabalho do sonho, a intensidade psíquica passa dos pensamentos e 
ideias a que propriamente pertence para outras que, na nossa opinião, não têm direito 
a tal ênfase. 
“Deslocamento onírico”: a intensidade psíquica, a significação ou a potencialidade 
afetiva do pensamento é transformada em vividez sensorial. Surge como uma 
substituição de uma experiência importante por outra sem interesse. No entanto, a 
análise descobre vias associativas que ligam estas trivialidades com coisas de alta 
importância psíquica sob o ponto de vista do sonhador. 
Quanto mais obscuro e confuso um sonho parece ser, tanto maior a proporção da sua 
construção que pode ser atribuída ao fator do deslocamento. 
Todos os sonhos estão relacionados com uma qualquer impressão dos dias anteriores 
ou do dia que precede imediatamente o sonho (o dia do sonho). 
Se, além da condensação, ocorrer também um deslocamento, é constituída uma “uma 
entidade intermediária” que está numa relação para com os dois diferentes elementos. 
 
VI 
O processo de deslocamento é o principal responsável por não sermos capazes de 
descobrir ou reconhecer os pensamentos oníricos, sem antes termos compreendido a 
razão para a sua distorção. 
Os pensamentos oníricos com que primeiramente deparamos ao procedermos à análise, 
vêm simbolicamente representados por meio de metáforas e imagens que se 
assemelham às imagens da linguagem poética. 
O conteúdo manifesto dos sonhos consistem em situações pictóricas. 
O material psíquico dos pensamentos do sonho habitualmente inclui recordações de 
experiências marcantes, principalmente do período da infância, apercebidas como 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
 11 
situações com cariz visual. Esta porção de pensamentos oníricos constitui um núcleo de 
cristalização que atrai a si o material dos próprios pensamentos oníricos. 
O conteúdo dos sonhos inclui também fragmentos desconexos de imagens visuais, 
discursos e até porções de pensamento não modificadas. 
Os sonhos reproduzem a conexão lógica por uma aproximação no tempo e no espaço. 
Uma relação causal entre dois pensamentos ou não é representada ou é substituída por 
uma sequência de dois segmentos de sonho de diferente extensão. A transformação 
imediata de uma coisa em outra parece representar a relação de causa efeito. 
Ideias contraditórias são expressas nos sonhos preferentemente por um só e mesmo 
elemento. A oposição entre dois pensamentos, a relação de inversão, pode manifestar-
se através da sensação de inibição do movimento – manifestação da contradição de dois 
impulsos, um conflito de vontades. 
O absurdo num sonho significa a presença nos pensamentos latentes de contradição, 
ridículo e escárnio. 
 
VII 
Fachada: só entra em operação depois de já ter sido construído o conteúdo do sonho. 
A sua função consiste em dispor os componentes do sonho de modo a que formem um 
todo mais ou menos conexo. Tem em conta considerações de inteligibilidade. 
Compreende o conteúdo com base em certas ideias antecipadas e rearranja o sonho 
com a intenção de o tornar inteligível. Ao fazê-lo, corre o risco de falsificá-lo e, na 
verdade, quando não consegue associá-lo a algo de familiar, é presa das mais estranhas 
confusões. Os sonhos que sofreram uma revisão deste género são “bem contruídos”. 
Estas revisões são feitas pela instância consciente da nossa vida mental. As fantasias 
cheias de desejo reveladas pela análise nos sonhos da noite, muitas vezes vem a 
verificar-se serem repetições ou versões modificadas de cenas da infância. Assim, em 
alguns casos, a fachada do sonho revela diretamente o verdadeiro núcleo do sonho 
distorcido pela misturado de outro material. 
 
VIII 
Os pensamentos que surgem no sonho estão realmente presentes na mente, e de posse 
de uma certa intensidade psíquica, mas estavam numa situação especial, em 
consequência da qual não se pode ter consciência deles – recalcamento. 
Há uma ligação causal entre a obscuridade do conteúdo do sonho e o estado de 
recalcamento – inadmissibilidade pela consciência. 
“Distorção do sonho”: tem em vista a dissimulação, isto é, o disfarce do que pretende 
surgir no sonho. 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
 12 
Caso se esteja a lidar com um neurótico, a aceitação do pensamento recalcado ser-lhe-
á imposta pela força, devido à ligação desse pensamento com os sintomas da sua doença 
e devido à melhoria que sente quando troca esses sintomas por ideias recalcadas. 
 
IX 
No caso dos sonhos com significado, descobriu-se que são realizações não disfarçadas 
de desejos. A situação do sonho representa como satisfeito um desejo conhecido da 
consciência, desejo que ficou da vida diurna e que merece interesse. 
No caso dos sonhos obscuros e confusos, trata-se de uma representação de um desejo 
como realizado – um desejo proveniente de pensamentos oníricos, mas que será 
representado de forma irreconhecível, podendo apenas ser reconhecível através da 
análise. Nesses casos, o desejo ou é ele mesmo um desejo recalcado e estranho à 
consciência ou está intimamente ligado a pensamentos recalcados. A fórmula para estes 
sonhos é a seguinte: são realizações disfarçadas de desejos reprimidos. 
Consoante a sua atitude para com a realização de desejos, os sonhos podem ser 
divididas em 3 categorias: 
1. Sonhos que representam sem disfarce um desejo não recalcado. São os sonhos 
do tipo infantil, que se vão tornando cada vez mais raros nos adultos. 
2. Sonhos que exprimem disfarçadamente um desejo recalcado. Estas formam a 
maioria dos nossos sonhos e é necessário recorrer à análise para os 
compreender. 
3. Sonhos que representam um desejo recalcado, mas sem disfarce ou com disfarce 
insuficiente. São acompanhados por angústia que os interrompe. Esta angústia 
substitui a distorção do sonho. 
 
X 
Tudo o que é rejeitado pelo superego está em estado de recalcamento. Sob certas 
condições, e o estado de sono é uma delas, a relação entre a força das duas instâncias 
(ego e id) é modificada de um tal modo que aquilo que está recalcado não pode ser mais 
mantido na retaguarda. Isto acontece no estado de sono talvez devido a um 
relaxamento da censura (superego). 
A censura nunca fica completamente eliminada, mas apenas reduzida, o material 
recalcado terá de submeter-se a certas alterações que mitiguem as suas características 
ofensivas. O que se torna consciente nestes casos é um compromisso entre as intenções 
de uma instância e as exigências da outra. 
Recalcamento  Relaxamento da censura  Formação de um compromisso 
A formação de compromissos é acompanhada de processos de condensação e de 
deslocamento, e pelo emprego de associações superficiais. 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
 13 
Quando o estado de sono acaba, a censura recupera rapidamente toda a sua força, e 
pode apagar tudo o que foi ganho durante o período da sua fraqueza. 
Esta deve ser pelo menos uma parte da explicação da razão porque esquecemos os 
sonhos. Um fragmento do conteúdo do sonho,que parecido esquecido, reemerge. Esse 
fragmento recuperado do esquecimento proporciona-nos invariavelmente o melhor e 
mais direto acesso ao significado do sonho. 
 
XI 
Os sonhos são como guardiões do sono e esta é a sua função. 
Nas crianças, o sonho mostra um desejo realizado que é acreditado, durante o sono. 
Assim, o sonho vai apagar esse desejo, tornando o sono possível. 
Nos adultos, acontece um processo diferente. A atenção que está de guarda, está 
também dirigida para os estímulos internos, de desejos que emanam do material 
recalcado, e combinam-se com eles para formar o sonho que, como forma de 
compromisso, satisfaz simultaneamente ambas as instâncias. O sonho proporciona uma 
espécie de consumação psíquica do desejo que fora suprimido, representando-o como 
realizado. Mas satisfaz também outra instância, permitindo-lhe que o sono continue. 
Quando acontecem sonhos de angústia, o sonho já não consegue executar a sua função 
de evitar a interrupção do sono e, em seu lugar, assume a outra função de fazer acabar 
prontamente esse sono. Ao fazê-lo, está apenas a comportar-se como consciencioso 
guarda-noturno, que a princípio cumpre o seu dever acalmando os distúrbios para que 
as pessoas não acordem, mas que depois continua a cumprir o seu dever ao acordar 
essas pessoas, se as causas do distúrbio lhe parecem séries e de uma espécie que não 
pode controlar sozinho. 
Os estímulos sensoriais que surgem durante o sono influenciam o conteúdo dos sonhos. 
Há várias maneiras como as pessoas que dorme pode reagir a um estímulo sensorial 
externo. Ela pode acordar ou conseguir continuar a dormir, apesar desse estímulo. 
Neste último caso, pode recorrer a um sonho para se livrar do estímulo externo. Ou, ao 
estímulo externo é dada uma interpretação que o insere no contexto de um desejo 
recalcado que nesse momento espera realização. Desse modo, ao estímulo externo é 
roubada a sua realidade e ele é tratado como se fosse parte do material psíquico. 
 
XII 
A origem da maior parte dos sonhos dos adultos consiste em desejos eróticos. Muitos 
outros sonhos, que no seu conteúdo manifesto não mostram o mínimo sinal de serem 
eróticos, vêm a revelar-se, depois do trabalho de interpretação da análise, como a 
realização de desejos sexuais. A análise prova que muitos dos pensamentos que ficam 
da atividade da vida acordada como “resíduos do dia anterior” conseguem apenas abrir 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
 14 
caminho para uma representação nos sonhos com a ajuda de desejos eróticos 
recalcados. 
Podemos fazer notar que nenhum outro grupo de pulsões foi submetido a tao intensa 
supressão pelas exigências da educação cultural, ao mesmo tempo que as pulsões 
sexuais são também aquelas que, na maioria das pessoas, com mais facilidade escapam 
ao controlo das mais elevadas instâncias mentais. Quase toda a pessoa civilizada ainda 
tem ei si as formas infantis da vida sexual num ou noutro aspeto. Os desejos sexuais 
infantis recalcados fornecem as forças motivadoras mais frequentes e mais fortes para 
a construção de sonhos. 
O material das ideias sexuais não deve ser representado como tal, mas terá de ser 
substituído no conteúdo do sonho por alusões, insinuações e formas similares de 
representação indireta. Os modos de representação que satisfazem a estas condições 
são geralmente descritos como “símbolos” das coisas que representam. 
É possível compreender o significado de elementos separados do conteúdo de um sonho 
ou sonhos inteiros, sem ter de perguntar à pessoa que sonha as suas associações. Há 
alguns símbolos que têm um único significado quase que universalmente: assim, 
 Imperador e a imperatriz: pais 
 Quartos: mulheres 
 Entradas e saídas do quarto: aberturas do corpo da mulher 
 Armas aguçadas, objetos longos e rígidos (troncos de árvore ou bengalas): órgão 
genital masculino 
 Armários, caixas, carruagens, fornos: útero 
 Escadaria, subir escada: relações sexuais 
 Gravata: órgão sexual masculino 
 Madeira: órgão sexual feminino 
Os símbolos estão presentes em todos os sonhadores que pertencem a um mesmo 
grupo linguístico ou cultural. Aqui, podemos distinguir aqueles cuja pretensão à 
representação de ideias sexuais é de imediato justificada pelo uso linguístico. 
Há outros que só aparecem dentro do mais restritos limites individuais. Isto é explicado 
pelo facto de a relação com ideias sexuais parecer recuar aos primeiros tempos da 
humanidade e às mais obscuras profundezas do nosso funcionamento concetual. 
O simbolismo dos sonhos é também indispensável para a compreensão daqueles sonhos 
que são conhecidos como “sonhos típicos” que todos temos e dos sonhos “recorrentes” 
nos indivíduos. 
 
 
 
 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
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3. O conceito de inconsciente 
Introdução 
Breuer e Freud concluíram que a doença histérica de um indivíduo era desencadeada 
por um regresso ao passado. Freud aponta que a recordação a que o histérico está 
ligado, não é uma recordação de acontecimentos reais, mas antes de fantasias 
anteriores. O histérico regressa a fantasias de desejos infantis. 
Classificamos os processos psíquicos em pré-conscientes, conscientes e inconscientes. 
Distinguimos os processos pré-conscientes de pensamento dos inconscientes, cuja 
existência decorre num reino diferente da vida mental e que estão isolados da 
consciência por fortes forças contrárias, isto é, por resistências que apenas podem ser 
vencidas com a ajuda da interpretação dos sonhos ou da associação livre. 
O pensar inconsciente é um processo primário, em contraste com o processo de 
pensamento consciente que se desenvolve mais tarde, o processo secundário. 
Enquanto o pré-consciente e o consciente podem sem dificuldade passar de um nível ao 
outro e fazer uma troca dos seus elementos, há na fronteira entre o sistema consciente 
e o sistema inconsciente guardiães que examinam e fazem a censura dos elementos que 
emergem da profundidade quanto á sua admissibilidade, e que devolvem tudo o que é 
sujeito a objeções do consciente – recalcamento. 
 
Uma nota sobre o inconsciente na psicanálise 
Consciente: conceito que está na nossa consciência e de cuja presença nos damos conta. 
Inconsciente: conceito de que não estamos cientes, mas cuja existência estamos, 
contudo, prontos a admitir devido a outras provas e sinais. 
Numa experiência de Bernheim, uma pessoa é posta em estado hipnótico e, de seguida, 
é acordada. Enquanto está no estado hipnótico, é-lhe dada a ordem de executar 
determinada ação em determinado momento fixo depois de ter acordado. Ele acorda e 
parece estar perfeitamente consciente e no seu estado normal: não recorda o seu 
estado hipnótico e, no entanto, como pré-ordenado, sobe-lhe subitamente o impulso 
de fazer tal e tal coisa, e fá-lo conscientemente, embora sem saber porquê. A ordem 
estivera presente na mente da pessoa num estado de latência, ou estivera 
inconscientemente presente, até chegar o momento dado, e que nesse momento se 
tornara consciente. Mas, no consciente, não emergiu tudo; apenas o conceito do ato a 
executar. Todas as outras ideias associadas ao conceito continuam inconscientes, até 
neste momento. 
A ação ordenada na hipnose tornou-se ativa: foi traduzida em ação, logo que a 
consciência se tornou ciente da sua presença. Sendo o estímulo real a ordem dada pelo 
médico, será difícil não reconhecer que também a ideia da ordem do médico se tornou 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
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ativa. No entanto, esta última ideia não se revelou à consciente e, por isso, estava 
simultaneamente ativa e inconsciente. 
A mente do paciente histérico está cheia de ideias ativas se bem queinconscientes; 
todos os seus sintomas provêm de tais ideias. 
Uma ideia latente ou inconsciente não é necessariamente fraca. Já certas ideias latentes 
que não penetram no consciente, por muito fortes que se tornem. Podemos chamar às 
ideias latentes do primeiro tipo de pré-conscientes e reservamos o termo inconsciente 
para outro tipo de pensamentos. 
A inconsciência é uma fase regular e inevitável nos processos que constituem a nossa 
atividade psíquica; qualquer ato psíquico começa por ser inconsciente e pode, quer 
permanecer assim, quer continuar a desenvolver-se e passar para a consciência, e isto 
depende de encontrar (ou não) resistência. 
 
O Inconsciente 
I. Justificação para o conceito de inconsciente 
Existem atos psíquicos a que falta a consciência, isto é, os processos mentais são em si 
próprios inconscientes. 
 
II. Vários significados de “o inconsciente” – o ponto de vista topográfico 
O inconsciente inclui, por um lado, atos que estão meramente latentes, 
temporariamente inconscientes, mas que eu nenhum outro aspeto diferente dos 
conscientes e, por outro lado, processos tais como os recalcados que, se se tornassem 
conscientes, sobressairiam em profundo contraste perante o resto dos processos 
conscientes. 
Um ato psíquico passa por duas fases no que diz respeito ao seu estado, entre as quais 
está entreposta uma espécie de teste (censura). Na primeira fase, o ato psíquico está 
inconsciente e pertence ao sistema inconsciente. Se no teste é rejeitado, não lhe é 
permitido passar à segunda fase. Está recalcado e deve permanecer inconsciente. Se 
passar no teste, entra na segunda fase e pertence ao segundo sistema – o sistema 
inconsciente. Ainda não está consciente, mas é certamente capaz de tornar-se 
consciente. Tendo em consideração, esta capacidade para se tornar consciente, ao 
sistema consciente também chamamos “pré-consciente”. O sistema pré-consciente 
partilha das características do sistema consciente e a rigorosa censura executa a sua 
missão no ponto de transição do inconsciente para o pré-consciente. 
A nossa hipótese baseia-se no facto da fase do consciente ser uma ideia que implica um 
novo registo, situado num outro local. 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
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Ser comunicarmos a um paciente uma ideia que ele em tempos tinha recalcado, mas 
que descobrimos nele, o facto de lha termos contado não provoca, a princípio, qualquer 
alteração na sua condição mental. Tudo o que conseguimos, a começo, será uma 
rejeição da ideia recalcada. Mas agora o paciente tem de facto a mesma ideia sob duas 
formas, em diferentes locais do seu aparelho mental: primeiro, tem a recordação 
inconsciente do traço auditivo da ideia, transmitido no que lhe contámos; segundo, 
também possui a recordação inconsciente da sua experiência como ela era na sua forma 
anterior. Não há levantamento do recalcamento até que a ideia consciente, depois de 
vencidas as resistências, tenha entrado em ligação com o traço de memória 
inconsciente. Só quando esta última se torna consciente é que consegue o sucesso. 
 
III. Sentimentos inconscientes 
Uma pulsão nunca pode tornar-se objeto da consciência – só a ideia que representa a 
pulsão o pode. 
É certamente da essência de uma emoção que estejamos conscientes dela, isto é, que 
seja do conhecimento da consciência. 
Um impulso afetivo ou emocional pode ser apercebido, mas mal interpretado. Devido 
ao recalcamento do seu representante próprio, viu-se forçado a ligar-se a outra ideia, e 
é agora considerado pela consciência como a manifestação dessa ideia. Se repomos a 
verdadeira ligação, chamamos ao impulso afetivo original um impulso “inconsciente”. O 
uso dos termos “afeto inconsciente” e “emoção inconsciente” é referente às vicissitudes 
sofridas, em consequência do recalcamento. 
O sistema consciente controla a afetividade e a motricidade. 
 
IV. Topografia e dinâmica de recalcamento 
O recalcamento trata-se de uma retirada de investimento. Há uma retirada do 
investimento pré-consciente, uma retenção do investimento inconsciente ou uma 
substituição do investimento pré-consciente por um inconsciente. 
Precisamos de um processo que mantenha o recalcamento, no primeiro caso (o caso do 
recalcamento posterior) e que no segundo (recalcamento originário) garanta que ele 
seja não só estabelecido como também continuado. Este outro processo encontra-se no 
pressuposto de um contra-investimento, por meio do qual o sistema pré-consciente se 
protege da pressão que sobre ele exerce a ideia inconsciente. O contra-investimento é 
o único mecanismo do recalcamento originário; no caso do recalcamento propriamente 
dito há a acrescentar a retirada do investimento. 
Na histeria de angústia, consiste na aparição da angústia sem o sujeito saber do que tem 
medo. Somos obrigados a supor que no inconsciente estava presente um qualquer 
impulso de amor a exigir transposição para o sistema pré-consciente; mas o 
investimento que lhe fora dirigida por este último sistema, retirou-se do impulso (como 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
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que numa tentativa de fuga) e o investimento libidinal inconsciente da ideia rejeitada 
descarregou-se sob a forma de angústia. 
Na altura de uma repetição deste processo, o movimento que se pôs em fuga por 
associação à ideia rejeitada e, pelo outro, escapou ao recalcamento graças à sai distância 
da ideia – “substituto por deslocamento”. Ela desempenha agora o papel de um contra-
investimento para o sistema consciente, protegendo-o de uma emergência da ideia 
recalcada. Por outro lado, é o ponto de partida para a libertação de afeto de angústia. 
Na segunda fase da histeria de angústia, o contra-investimento do sistema consciente 
levou à formação de um substituto. 
O processo de recalcamento não está ainda completo e encontra novo objetivo na tarefa 
de impedir o desenvolvimento da angústia proveniente do substituto. 
Quanto mais distanciados do substituto temido estão situados os sensíveis e vigilantes 
contra-investimentos, tanto mais precisamente poderá funcionar o mecanismo 
destinado a isolar a ideia substitutiva e a protegê-la de nova excitação. A fuga de um 
investimento consciente da ideia substitutiva manifesta-se nas evitações, renúncias e 
proibições pelas quais reconhecemos a histeria de angústia. 
A terceira fase repete o trabalho da segunda numa escala mais ampla. O sistema 
consciente protege-se agora contra a ativação da ideia substitutiva por meio de um 
contra-investimento do meio que o rodeia. 
O ego comporta-se como se o perigo de um desenvolvimento de angústia o ameaçasse, 
ficando assim capaz de reagir a esse perigo externo com as tentativas de fuga 
representadas pelas evitações fóbicas. 
Na histeria de conversão, o investimento pulsional da ideia recalcada transforma-se na 
inervação do sintoma. O papel desempenhado pelo contra-investimento proveniente 
do sistema consciente e torna-se manifesto na formação do sintoma. A quantidade de 
energia despendida pelo sistema consciente no recalcamento não precisa de ser tão 
grande quanto a energia de investimento do sintoma. Porque a força do recalcamento 
é medida pela quantidade do contra-investimento despendido, ao passo que o sintoma 
é mantido, não apenas por esse contra-investimento, mas também pelo investimento 
pulsional do sistema inconsciente, que está condensado no sintoma. 
Quanto às neuroses obsessivas, o contra-investimento do sistema consciente dica mais 
notoriamente em proeminência. É isso que, organizado como uma formação reativa, 
produz o primeiro recalcamento, e que mais tarde constitui o ponto em que a ideia 
recalcada vem à superfície. 
 
V. Características especiais do sistemaInconsciente 
O núcleo do inconsciente consiste em representantes pulsionais que procuram 
descarregar o seu investimento. Consiste em impulsos de desejos. Estas moções 
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pulsionais estão coordenadas entre si, existem lado a lado sem serem mutuamente 
influenciadas e estão livres de contradição mútua. 
Neste sistema, não há negações, dúvidas, graus de certeza; todas estas são apenas 
introduzidas com o trabalho de censura. A negação é um substituto, a nível mais 
elevado, do recalcamento. 
Pelo processo do deslocamento, uma ideia pode ceder a outra toda a sua quota de 
investimento; pelo processo da condensação pode apropriar-se de várias outras ideias. 
Os processos do sistema inconsciente são intemporais, menosprezam a realidade (estão 
sujeitos ao princípio do prazer – substituição externa pela psíquica), só são passiveis do 
nosso conhecimento sob as condições do sonho ou da neurose. As descargas do sistema 
inconsciente passam à inervação somática que conduz ao desenvolvimento do afeto. 
Os processos do sistema pré-consciente mostram ser capazes de se tornarem 
conscientes – uma inibição da tendência à descarga das ideias investidas. Os 
deslocamentos e condensações que acontecem no processo primário são excluídos ou 
muito restritos. Existem dois estados diferentes de energia de investimento na vida 
mental: um em que a energia está tonicamente “ligada” e outra em que ela é livremente 
móvel e faz pressão no sentido da descarga. 
Além disso, compete ao sistema pré-consciente tornar possível a comunicação entre os 
diferentes conteúdos ideativos para que possam influenciar-se mutuamente, dar-lhes 
uma ordem no tempo, criar uma censura ou várias censuras. 
 
VI. Comunicação entre os dois sistemas 
As moções pulsionais, por um lado, são altamente organizadas, livres de 
autocontradição, fizeram uso de todas as aquisições do sistema consciente, e 
dificilmente poderiam ser distinguidos das formações desse sistema. Por outro lado, são 
inconscientes e incapazes de se tornarem conscientes. Assim, qualitativamente 
pertencem ao sistema pré-consciente, mas factualmente ao inconsciente. São desta 
natureza as fantasias não só das pessoas normais como também dos neuróticos que 
reconhecemos como os estádios preliminares na formação tanto dos sonhos como dos 
sintomas e que, apesar do elevado grau de organização, continuam recalcadas e por isso 
não podem tornar-se conscientes. 
O inconsciente é mandado de volta, na fronteira do pré-consciente, pela censura, mas 
derivados do inconsciente podem lograr essa censura, atingir um elevado grau de 
organização e obter no pré-consciente uma certa intensidade de investimento. Quando, 
porém, essa intensidade é excedida e tentam forçar a entrada na consciência, são 
reconhecidos como derivados do inconsciente e são de novo reprimidos na nova 
fronteira de censura entre o pré-consciente e o consciente. A primeira dessas censuras 
atua contra o próprio inconsciente e a segunda contra os seus derivados pré-
conscientes. 
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Nas raízes da atividade pulsional, os sistemas comunicam intensamente entre si. Uma 
parte dos processos que aí são excitados passa pelo inconsciente, como por um estágio 
preparatório, e atinge o mais elevado desenvolvimento psíquico no consciente. Outra 
parte fica retida no inconsciente. 
 
VII. Avaliação do inconsciente 
Nos esquizofrénicos, observamos um grande número de alterações na fala. O paciente 
muitas vezes dedica um especial cuidado à maneira de se exprimir. No conteúdo dessas 
frases, muitas vezes é dada proeminência a referências a órgãos do corpo ou a 
inervações – fala hipocondríaca ou “fala do órgão”. 
Na esquizofrenia, as palavras são sujeitas ao mesmo processo que transforma os 
pensamentos latentes dos sonhos em imagens dos sonhos - processo psíquico primário. 
São sujeitas à condensação e, por meio do deslocamento, transferem entre si os seus 
investimentos na sua totalidade. 
O sistema inconsciente contém os investimentos de coisa dos objetos, os primeiros e 
verdadeiros investimentos objetais; o sistema pré-consciente surge quando a 
representação da coisa é sobre-investida ao ligar-se às representações de palavra que 
lhe correspondem. Podemos vem supor que são esses sobre-investimentos que dão 
origem a uma organização psíquica superior e que tornam possível que ao processo 
primário se suceda o processo secundário que é dominado no pré-consciente. Uma 
representação que não é traduzida em palavras, ou um ato psíquico que não é sobre-
investido, permanece então no inconsciente em estado de recalcamento. 
 
Apêndice C. Palavras e Coisas 
Sob o ponto de vista da psicologia, a unidade da função da fala é a “palavra”, uma 
representação complexa que se prova ser uma combinação de elementos auditivos, 
cinéticos e visuais. Na representação de palavra distinguem-se normalmente quatro 
componentes: a imagem sonora, a imagem visual de letras, a imagem motora da fala e 
a imagem motora da escrita. 
1. Aprendemos a falar associando a imagem sonora da palavra com a sensação de 
inervação da palavra. Depois de termos falado, estamos também de posse de 
uma representação motora da fala. Nesta fase de desenvolvimento da fala – no 
princípio da infância – usamos uma linguagem construída por nós próprios. 
Nisto, comportamo-nos como afásicos motores, pois associamos uma variedade 
de sons verbais externos a um único som produzido por nós próprios. 
2. Aprendemos a falar a linguagem de outras pessoas, tentando fazer com que a 
imagem sonora produzida por nós se pareça tanto quanto possível com a que 
motivou a nossa inervação da fala. 
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3. Aprendemos a soletrar juntando a imagem visual das letras a novas imagens 
sonoras. 
4. Aprendemos a ler ligando, de acordo com certas regras, a sucessão de 
representações inervatórias e motoras de palavras que recebemos quando 
falamos em letras separadas, de modo a que surjam novas representações 
motoras da palavra. 
5. Aprendemos a escrever reproduzindo as imagens visuais das letras por meio de 
imagens inervatórias da mão, até que apareçam imagens visuais iguais ou 
semelhantes. 
6. Executamos essas diferentes funções da fala pelas mesmas vias associativas que 
percorremos ao aprendê-las. 
A palavra ganha significado quando a ligamos a uma “representação de objeto”. 
A patologia das perturbações da fala leva-nos a afirmar que a representação da palavra 
está ligada na sua extremidade sensorial à representação de objeto. Chegamos assim à 
existência de duas classes de perturbações de fala: 
1. Uma afasia de primeira ordem, afasia verbal, em que só estão perturbadas as 
associações entre os diferentes elementos da representação de palavra. 
2. Uma afasia de segunda ordem, afasia assimbólica, em que está perturbada a 
associação entre a representação de palavra e a representação de objeto. 
Existem ainda a agnosia caracterizada pela perturbação no reconhecimento de objetos. 
 
Algumas lições elementares de psicanálise 
A natureza do psíquico 
Tudo o que é consciente é psíquico e vice-versa? Não! Ser consciente é apenas uma 
qualidade do que é psíquico, e ainda por cima uma qualidade inconstante – uma 
qualidade que está muito mais vezes ausente do que presente. O psíquico, seja qual for 
a sua natureza, é em si próprio inconsciente. 
Os chamados processos psíquicos inconscientes são os processos orgânicos que há 
muito se reconheceu seguirem paralelamente aos processos mentais. 
 
 
 
 
 
 
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4. As Moções Pulsionais 
IntroduçãoAs fontes das moções pulsionais estão na esfera biológica e somática de onde as moções 
pulsionais enviam para o reino psíquico apenas os seus derivados. Esses derivados 
alcançam o inconsciente, o sistema que lhes está mais próximo, e a partir daí tentam 
forçar a entrada no pensamento consciente e na ação. O “conflito interno” que dá 
origem a problemas para o indivíduo e o seu analista, é pois a incompatibilidade entre 
as exigências feitas pelas moções pulsionais e a faceta moral, ética e social da 
personalidade humana, que se lhe opõe. 
 
As pulsões e as suas vicissitudes 
Analisemos, primeiro, a pulsão do ângulo da fisiologia. 
Um estímulo pulsional não surge do mundo externo, mas do próprio organismo. Uma 
pulsão nunca opera como uma força que imprime um impacto momentâneo, mas 
sempre como um impacto constante. Além disso, como se manifesta a partir de dentro 
do organismo e não a partir de fora, nenhuma fuga lhe pode valer. Um termo melhor 
para pulsão será necessidade. O que acaba com a necessidade é a satisfação. Isto pode 
obter-se por meio de uma alteração apropriada da fonte interna do estímulo. 
Existe um postulado que diz o seguinte: o sistema nervoso é um aparelho que tem por 
função livrar-se dos estímulos que a ele chegam, ou de os reduzir ao nível mais baixo 
possível. 
Vamos atribuir ao sistema nervoso a tarefa de dominar os estímulos. Os estímulos 
pulsionais alteram o mundo externo, de modo a permitir a satisfação da fonte de 
estimulação interna. Obrigam o sistema nervoso a renunciar à sua intenção ideal de 
afastar os estímulos, pois mantêm um afluxo incessante e inevitável de estimulação. 
Falemos, agora, de alguns conceitos associados às pulsões: 
 Pressão: o seu fator motor é a quantidade de força ou a medida da exigência de 
trabalho que a pulsão representa. 
 Alvo: é a satisfação, que pode apenas ser obtida mediante a remoção do estado 
de estimulação na fonte da pulsão. 
 Objeto: coisa através da qual a pulsão consegue atingir o seu alvo. O objeto não 
é necessariamente algo de exterior; pode igualmente ser uma parte do corpo do 
próprio sujeito. Pode acontecer que o mesmo objeto sirva simultaneamente 
para a satisfação de várias pulsões – “confluência” de instintos (Adler). 
 Fonte: processo somático que ocorre num órgão ou parte do corpo e cujo 
estímulo é representado na vida mental por uma pulsão. 
As pulsões são todas qualitativamente semelhantes e devem o efeito que produzem À 
quantidade de excitação que veiculam ou, também, a certas funções dessa quantidade. 
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Existem as pulsões do ego/autoconservação e as pulsões sexuais. 
As pulsões sexuais são numerosas, emanam de grande variedade de fontes orgânicas, 
atuam a princípio independentes umas das outras e só numa fase posterior conseguem 
uma síntese mais ou menos completa. O alvo pelo qual cada uma luta por atingir é o 
“prazer do órgão”; só quando a síntese é conseguida é que elas entram ao serviço da 
função reprodutora e se tornam reconhecidas por todos como pulsões sexuais. 
Quando aparecem pela primeira vez, estão ligadas às pulsões de autoconservação, de 
que só gradualmente se vão separando; também na sua escolha de objeto seguem as 
vias que lhes são indicadas pelas pulsões do ego. Distinguem-se por possuírem a 
capacidade de, em ampla medida, agirem substitutivamente umas pelas outras e por 
serem capazes de mudar rapidamente de objetos. São capazes de funções em remotas 
das suas ações intencionais originais – isto é, capazes de “sublimação”. 
A observação mostra-nos que uma pulsão pode sofrer as seguintes vicissitudes – modos 
de defesa contra as pulsões: 
 Inversão no seu contrário 
Traduz-se em dois processos diferentes: uma mudança da atividade para a passividade 
e uma inversão do seu conteúdo. Temos como exemplo o sadismo-masochismo e a 
escopofilia-exibicionismo. A inversão afeta apenas o alvo das pulsões. O alvo ativo é 
substituído por um alvo passivo. A inversão do conteúdo encontra-se num único caso, o 
da transformação do amor em ódio. 
As pulsões cujo alvo respetivo é olhar ou exibir-se admitem determinadas fases: 
a) Olhar como uma atividade dirigida para um objeto externo 
b) Abandonar o objeto e fazer incidir a pulsão escopofílica sobre uma parte do 
corpo do próprio sujeito (com isto, dá-se a transformação em passividade e a 
criação de um novo alvo – o ser olhado) 
c) Introdução de um novo sujeito perante quem a pessoa se exibe para olhada por 
ele. 
Existem uma ambivalência, visto que se pode observar o sujeito e o seu oposto (passivo). 
 Retorno sobre si próprio 
A essência do processo é a mudança do objeto, enquanto o alvo permanece sem 
mudança. 
 Recalcamento 
 Sublimação 
 
À primeira fase do desenvolvimento do ego, durante a qual as pulsões sexuais 
encontram satisfação auto-erótica, dá-se o nome de “narcisismo”. Segue-se a fase 
preliminar da pulsão escopofílica, em que o corpo do próprio sujeito é objeto da 
escopofilia. A pulsão escopofílica ativa desenvolve-se a partir daí, deixando para trás o 
 Margarida Ferreira Pinto | 2016/2017 
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narcisismo. Pelo contrário, a pulsão escopofílica passiva mantém-se firmemente ligada 
ao objeto narcísico. O sujeito narcísico é, por identificação, substituído por um outro 
ego, estranho. 
A mudança do conteúdo de uma pulsão para o seu oposto é observada num único caso 
– a transformação de amor em ódio (ambivalência de sentimentos). 
Amar admite três opostos: amar - odiar, amar - ser amado e desinteresse – indiferença. 
Existem três polaridades entre as antíteses anteriores: 
1. Sujeito (ego) – Objeto (mundo externo) (real) 
A antítese ego – não ego (exterior) é imposta ao organismo desde muito cedo, pela 
experiência de que se podem silenciar estímulos externos por meio de ação muscular, 
mas que se é indefeso contra estímulos pulsionais. 
2. Prazer – Desprazer (económica) 
A polaridade prazer – desprazer está ligada a uma escala de sentimentos, cuja enorme 
importância na determinação das nossas ações já foi sublinhada. 
Para o ego – prazer, o mundo externo está dividida numa parte que é agradável, que 
incorporou em si próprio, e na remanescente, que lhe és estranha. O sujeito do ego 
coincide com o prazer, e o mundo externo com o desprazer. 
3. Ativo – Passivo (biológica) 
A antítese ativo – passivo não deve ser confundida com a antítese ego – objeto do 
mundo externo. A relação do ego com o mundo externo é passiva na medida em que 
dele recebe estímulos e ativa quando reage a esses estímulos. 
 
Se, por agora, definimos o amar como a relação entre o ego e as suas fontes de prazer, 
a situação em que o ego se ama apenas a si mesmo e é indiferente ao mundo externo 
ilustra o primeiro dos opostos que encontramos em “amar”. 
O objeto é pela primeira vez trazido do mundo externo para o ego pelos instintos de 
autoconservação. E não pode negar-se que também odiar caracterizou, originalmente, 
a relação entre o ego e o desconhecido mundo externo, com os estímulos que introduz. 
Se mais tarde um objeto se revela fonte de prazer, passa a ser amado, mas também é 
incorporado no ego. 
Falemos de “amor-ódio”. Depois de a fase puramente narcísica ter dado lugar à fase 
objetal, prazer e desprazer significam relações entre o ego e o objeto. Se o objeto se 
torna uma fonte de sentimentos de prazer, surge um impulso motor que procura 
aproximar o objeto do ego e incorporá-lo no ego. Falámos antes da “atração” exercida 
pelo objeto que dá prazer, e dizemos que “amamos” esse objeto. Pelo contrário, se o 
objeto é fonte de sentimentos de desprazer, há um impulso que luta para aumentar a 
distância entre o objeto e o ego, e pararepetir em relação ao objeto a tentativa original 
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de fuga do mundo externo com a sua emissão de estímulos. Sentimos a “repulsão” do 
objeto e odiamo-lo. Este ódio pode mais tarde ser intensificado ao ponto de se tornar 
numa inclinação agressiva contra o objeto – uma intenção de o destruir. 
O amor deriva da capacidade do ego para satisfazer auto-eroticamente algumas das suas 
moções pulsionais, pela obtenção do prazer do órgão. É originalmente narcísico. Torna-
se intimamente ligado à atividade das pulsões sexuais posteriores e, quando estas estão 
já completamente sintetizadas, coincide com o impulso sexual como um todo. Como o 
primeiro destes alvos, podemos reconhecer a fase do incorporar ou devorar – 
ambivalência. Na fase, mais elevada, de organização sádico-anal pré-genital, a luta pelo 
objeto aparece sob a forma de um impulso de dominação, para o qual qualquer dano 
ou aniquilação do objeto é absolutamente indiferente. Na sua atitude para com o 
objeto, o amor, nesta forma e nesta fase preliminar, é difícil distinguir do ódio. Só depois 
de estabelecida a organização genital é que o amor se torna no oposto do ódio. 
O ódio deriva do repúdio primordial do ego narcísico para com o mundo externo com a 
sua efusão de estímulos. Como expressão da reação de desprazer evocada pelos 
objetos, sempre permanece numa relação íntima com as pulsões de autoconservação. 
A mistura de ódio tem como fonte as pulsões de autoconservação. Se uma relação de 
amor com determinado objeto é interrompida, frequentemente o ódio emerge em seu 
lugar, de modo que temos a impressão de uma transformação de amor em ódio. O ódio 
adquire um caráter erótico, assegurando a continuidade de uma relação de amor. 
A terceira antítese do amar, a transformação do amor em ser amado, corresponde à 
operação da polaridade da atividade e da passividade e deve ser julgada da mesma 
maneira que os casos de escopofilia e sadismo. 
 
Além do princípio do prazer 
I 
Decidimos relacionar prazer e desprazer com a quantidade de excitação presente na 
mente, mas que não está de modo nenhum “ligada” e relacioná-los de uma maneira tal 
que desprazer corresponda a um aumento na quantidade de excitação e prazer a uma 
diminuição. 
Fechner propôs que qualquer movimento psicofísico que ultrapasse o limiar da 
consciência é, para além de certo limite, acompanhado de prazer na proporção em que 
se aproxima de uma estabilidade completa: enquanto entre esses dois limites, a que 
podemos dar o nome de limiares qualitativos do prazer e do desprazer, há uma certa 
margem de indiferença estética. 
O aparelho mental esforça-se por manter a quantidade de excitação nele presente tao 
baixa quanto possível ou, pelo menos, por mantê-la constante. 
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Sob a influência das pulsões de autoconservação do ego, o princípio de prazer é 
substituído pelo princípio da realidade. Este princípio não abandona a intenção de, no 
final, obter prazer, mas, no entanto, exige e leva a efeito do adiamento da satisfação, o 
abandono de certo número de possibilidades de obter satisfação e a tolerância 
temporária do desprazer. 
A maior parte do desprazer que sentimentos é um desprazer percetivo. Pode ser a 
perceção de uma pressão por parte das pulsões insatisfeitas; ou podem ser perceções 
externas que são desagradáveis em si mesmas ou que excitam no aparelho mental 
expectativas de desprazer. 
 
II 
Relativamente às neuroses traumáticas comuns: em primeiro, o principal peso na sua 
casualidade parece residir no fator de surpreso, de susto; segundo, um ferimento ou 
dano provocado simultaneamente vai agir contra o desenvolvimento de uma neurose. 
A “angústia” descreve um estado especial de expetativa de perigo ou uma preparação 
para ele, mesmo que esse perigo seja desconhecido. O “medo” exige um objeto definido 
de que se tem temor. O “susto” é o nome que damos ao estado em que fica uma pessoa 
quando cai num perigo sem estar preparada para ele. 
Os sonhos que ocorrem nas neuroses traumáticas têm a característica de repetidamente 
levarem o paciente a viver de novo a situação do acidente, situação essa de que acorda 
com novo susto – há uma fixação no momento em que ocorreu o trauma. 
Focamos agora nas brincadeiras das crianças – as primeiras atividades normais. As 
crianças repetem tudo o que na vida real lhes causou grande impressão, e que ao fazê-
lo, reagem à força da impressão, tornando-se senhoras da situação. Todas as suas 
brincadeiras são influenciadas por um desejo que as domina todo o tempo – o desejo 
de serem adultos de poderem fazer o que fazem os adultos. Não há necessidade de 
presumir a existência de um instinto imitativo especial para criar um motivo para 
brincar. 
 
III 
Apresenta-se agora um novo objetivo: obrigar o paciente a, com a sua memória, 
confirmar a construção do analista. A ênfase principal recaía sobre as resistências do 
paciente – a arte consistia agora em descobrir essas resistências o mais rapidamente 
possível. Apontá-las ao paciente e convencê-lo, mediante a influência humana a 
abandonar essas resistências. 
O paciente não consegue recordar tudo o que tem recalcado dentro de si. É obrigado a 
repetir o material recalcado como se fosse uma experiência contemporânea. Quando as 
coisas atingem esta fase, podemos dizer que a neurose anterior foi agora substituída 
por uma nova “neurose de transferência”. 
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As resistências do paciente provêm do seu ego, e imediatamente nos apercebemos que 
a compulsão à repetição terá de ser atribuída ao recalcado inconsciente. 
Não há dúvida de que a resistência do ego consciente e inconsciente opera sob a 
influência do princípio do prazer; procura evitar o desprazer que seria produzido pela 
libertação do material recalcado. Por outro lado, os nossos esforços têm por fim 
conseguir a tolerância a esse desprazer mediante um apelo ao princípio da realidade. 
 
IV 
O sistema pré-consciente/consciente deve estar na linha limítrofe entre o exterior e o 
interior; deve estar voltado para o mundo exterior e deve envolver os outros sistemas 
psíquicos. A “sede” da consciência localiza-se no córtex cerebral. 
O processo de excitação torna-se consciente no sistema consciente, mas sem nele 
deixar, atrás de si, qualquer traço permanente. A consciência surge em vez de um traço 
de memória. 
Damos o nome de “traumática” a qualquer excitação do exterior suficientemente 
poderosa para penetrar através do escudo protetor. O princípio de prazer é 
momentaneamente posto fora de ação. 
 
V 
A camada cortical recebe os estímulos, porque não tem qualquer escudo protetor contra 
as excitações vindas do interior. 
Uma pulsão é um impulso inerente à vida orgânica para restaurar um anterior estado 
de coisas que a entidade viva foi obrigada a abandonar sob a pressão de forças 
perturbadoras externas. 
 
VI 
Toda a substância viva tem de morrer por causas internas. A parte mortal é o corpo no 
seu sentido restrito e só ela está sujeita à morte natural. Por outro lado, as células 
germinais são potencialmente imortais, na medida em que, sob certas condições 
favoráveis, são capazes de desenvolver-se num novo indivíduo (Weismann). 
Somos levados a distinguir duas espécies de pulsões: as que procuram conduzir à morte 
o que é vivo e outras, as pulsões sexuais que perpetuamente tentam e conseguem um 
recomeço de vida. 
O ego é o reservatório e original da líbido, e que só a partir desse reservatório a líbido é 
estendida aos objetos. 
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Uma parte das pulsões do ego foiconsiderada libidinal; as pulsões sexuais – 
provavelmente juntamente com outras – operavam no ego. 
O comportamento sádico é uma componente que pode tornar-se independente e pode, 
sob a forma de perversão, dominar toda a atividade sexual de um indivíduo. Também 
emerge como uma pulsão. Esta pulsão de morte é deslocada. (Tudo isto se trata de 
especulação). 
 
VII 
Uma das primeiras e mais importantes funções do aparelho mental é domina as moções 
pulsionais que se lhe impem, substitui o processo primário prevalecente neles pelo 
processo secundário, e converter a sua energia de investimento livremente móvel num 
investimento essencialmente imóvel. 
Os processos livres ou primários dão origem e sentimentos muito mais intensos do que 
os ligados ou secundários. 
As pulsões de vida têm muito mais contacto com a nossa perceção interna – emergindo 
como perturbadoras da paz e constantemente produzindo tensões cuja descarga é 
sentida como prazer – enquanto as pulsões de morte parecem fazer o seu trabalho sem 
dar nas vistas. O princípio de prazer parece servir as pulsões da morte. 
 
 
 
 
“Aquilo a que não podes chegar voando, podes alcançar coxeando… As Escrituras 
dizem-nos que não é pecado coxear”.

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