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FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO Curso: Estudos Brasileiros Disciplina: Estudos de Sociedade e Cultura Profa. Dra. Cecília Turatti Aluno: EDSON LUIZ FOGO Resumo: O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil (cap. II, IV e V) 1 - Introdução Segundo Darcy Ribeiro, a sociedade brasileira fundiu as matrizes originais indígena, negra e europeia em uma entidade étnica nova e se reajustou para incorporar esses contingentes numa versão neocolonial da civilização industrial. 2 – Conceitos Fundamentais A civilização europeia se impôs sobre a população indígena, primeiro, dizimando através de doenças (bexiga, coqueluche, tuberculose, sarampo, etc) e, depois, através de guerras de extermínio e da escravidão. Entretanto, esses foram somente os passos iniciais do extermínio genocida e etnocida. Os colonos usuram os índios como guias, remadores, lenhadores, caçadores e pescadores, criados domésticos, artesãos; e sobretudo as índias, com quem tiveram uma vasta prole mestiça, que viria a ser, depois, os brasileiros. Nas tarefas da conversão do gentio e sua integração na cristandade, foram soldados principais o jesuíta, o franciscano e o carmelita. Os missionários não tentaram transplantar os modos europeus de ser e viver para o Novo Mundo, mas recriar aqui o humano, desenvolvendo suas melhores potencialidades, para implantar uma sociedade nas bases sonhadas pelos profetas: solidária; igualitária; orante; e pia. Essas utopias religiosas se opunham tão cruamente ao projeto colonial que a guerra se instalou entre os colonos e sacerdotes. Prevaleceu a vontade do colono, que via nos índios a força de trabalho que necessitava para prosperar (e as coroas ibéricas optaram por esse projeto). As lutas mais longas e mais cruentas que se travaram no Brasil foram a resistência indígena e também a luta dos negros contra a escravidão, que durou desde quando começou o tráfico negreiro até a abolição. O enorme contingente negro e mulato é, talvez, o mais brasileiro dos componentes da população porque, desafricanizado pela escravidão, não sendo nem índio nativo nem branco reinol, só podia encontrar sua identidade como brasileiro. A análise do crescimento da população brasileira e de sua composição segundo a cor é altamente expressiva da dominação que o branco impôs aos outros componentes. Os censos (séculos XIX e XX) refletem um decréscimo progressivo da proporção de negros na população brasileira, que passou de um quinto para um vigésimo da população no último século. Também em números absolutos houve queda, porque depois de um ascenso de 2 a 6,6 milhões, nos cinquenta anos posteriores à abolição, caiu para 5,6 milhões em 1950 e apenas alcança 7,2 milhões em 1990. É evidente o contraste da progressão do grupo negro com o grupo branco, que salta de 38%, em 1872, para 62%, em 1950, e para 55%, em 1990. O alto incremento do contingente branco não é explicável pelo crescimento da migração europeia, a partir de 1880. O preconceito de cor dos brasileiros, incidindo, diferencialmente, segundo o matiz da pele, tendendo a identificar como branco o mulato claro, conduz antes a uma expectativa de miscigenação. Expectativa discriminatória porque aspira que os negros clareiem, em lugar de aceitá-los tal qual são, mas impulsora da integração. Essa ideologia integracionista encorajadora do caldeamento é, provavelmente, o valor mais positivo da conjunção inter-racial brasileira porque tem o valor de reprimir a segregação. Quando os imigrantes europeus e asiáticos começaram a chegar em maiores contingentes (segunda metade do século XIX), a população nacional já era tão maciça numericamente e tão definida do ponto de vista étnico, que pôde iniciar a absorção cultural e racial do imigrante sem grandes alterações no conjunto. A grande perplexidade das classes dominantes atuais é que esses descendentes daqueles negros, índios e mestiços ousem pensar que este país é uma república que deve ser dirigida pela vontade deles. A razão do fracasso dos nossos esforços no plano socioeconômico está nos desígnios das classes dominantes em resguardar velhos privilégios: seus interesses, fundados numa ordenação estrutural arcaica e num modo infeliz de articulação com a economia mundial, atuam como um fator de atraso, mas são defendidos com todas as suas forças contra qualquer mudança. 3 – Considerações finais O povo brasileiro sofreu o impacto de duas revoluções tecnológicas (a agrária e a industrial), mas acabou por conformar-se como uma configuração histórico-cultural única e diferenciada: já não há praticamente índios; os negros desafricanizados se integraram como um contingente diferenciado, mas que não aspira a nenhuma autonomia étnica; o branco vai ficando cada vez mais moreno e orgulhoso disso. O patronato, na função de coordenador das atividades produtivas, e o patriciado, no exercício do papel de ordenador da vida social, puderam fazer frente a todas as tendências dissociativas, preservando a unidade nacional. A contraparte dessa tarefa unificadora foi a ordenação da sociedade nacional obediente aos interesses oligárquicos, diante dos quais o próprio poder central sempre claudicou, incapaz de enfrentá-los, apesar da oposição flagrante entre seus interesses e aos da população trabalhadora. 4 – Referência bibliográfica Ribeiro, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
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