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APOSTILA - Prof. Chemin - Processo Penal I - 1ºe 2º BI

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Ana	
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PROCESSO PENAL – 1º BIMESTRE 
Professor: Rodrigo Chemim 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Nós temos dois grandes grupos de doutrinadores: 
• Grupo mais tradicional. 
• Grupo mais moderno. 
O que diferencia um grupo do outro é primeiro, nós temos duas leituras do Processo Penal 
e esse grupo mais tradicional costuma muitas vezes dar mais preferência para interpretar o 
Processo a partir do Código, da Legislação infraconstitucional e o grupo mais moderno prefere 
a Constituição e parte de uma compreensão mais circular da Constituição para o Código e do 
Código para a Constituição, só por isso se pode dizer que esse grupo tem uma melhor 
percepção da importância Constitucional. 
Mesmo assim os dois grupos estão convivendo juntos no dia a dia. 
Porque os dois estão convivendo até hoje no dia a dia? Ocorre talvez pelo fato dessa lei 
infraconstitucional (Código de Processo Penal Brasileiro), ela colide ideologicamente falando 
com a Constituição. 
O Código de Processo Penal brasileiro ele é de 1941, é o mesmo Código que ainda usamos 
hoje. 
O Presidente da República em 1941 era o Getúlio Vargas (na versão ditador, Estado Novo). 
Normalmente os ditadores não se autoproclamam ditadores. Se dizem ser democratas apesar 
de agirem de maneira totalitária. 
Para se dizer democrata ele vai usar muito fortemente o Direito, ele vai dizer que está só 
usando a lei, lei que foi aprovada no parlamento. E que tipo de lei interessa a um ditador? Uma 
lei que permita o agir totalitariamente. 
Dentro de um universo legislativo (CC; CPC; CT...), o Código de Processo Penal é muito 
importante para quem pretende exercer poder de maneira a ser um sujeito que diminua suas 
liberdades individuais e que atue de forma mais totalitária. 
O Código Penal, o Direito Penal material ele seleciona condutas e prevê sanções. Só que 
ele só se efetiva no fim de um processo. Só no fim do processo que o Direito Penal vai 
aparecer de verdade na prática. O processo ao contrário chega antes. 
Ana	
  Carolina	
  Gradowski	
  Cagliari	
  
É através das regras do Processo Penal, que alguém pode bater na porta da sua casa às 6 
horas da manhã dizendo que você está preso. Não adianta discutir nessa hora, no momento 
você está preso. Então isso é poder. 
O processo invade a esfera de autonomia privada de liberdade, antes mesmo de você ter 
uma chance de arrolar definitiva de culpa. 
Portanto, a um ditador interessa o Processo Instrumental Legislativo que facilite isso. 
O Getúlio quando assume o poder, ele se depara com um “problema” para ele. Quando ele 
assume o poder nós tínhamos no Brasil autonomia dos Estados muito mais definitivo do que é 
hoje, inclusive no Plano Legislativo Processual Penal. Então, quando Getúlio assume o poder, 
cada Estado da Federação tinha o seu Código de Processo Penal. Nós tínhamos aqui o Código 
do Estado do Paraná que era diferente do Código do Estado do Rio de Janeiro, que era 
diferente do da Bahia. Então imagine um ditador que quer centralizar poder, quer exercitar esse 
poder no país inteiro, dá uma ordem e seus subalternos dizem que não deu porque lá no 
Estado do Paraná não fazem como o nosso. Então como ele quer uma legislação para que 
possa usar no país inteiro, ele faz um Código de Processo Penal para o país inteiro. Isso 
diminui a autonomia dos Estados. 
O grande inspirador de Getúlio Vargas era o Mussolini, na Itália. O Mussolini na Itália já 
tinha antecipado em tempo cronológico de Getúlio e não à toa o Mussolini encomendou um 
Novo Código de Processo Penal para a Itália. Encomendou para seu Ministro da Justiça a 
elaboração desse Código. Então o Código de 1930 da Itália, ele é um Código que servia do 
regime fascista de Mussolini. Então Getúlio diz para o seu Ministro da Justiça, Francisco 
Campos que precisa de um Código do modelo italiano aqui. Então, Francisco Campos, em 
certa medida, faz uma “cópia” mal feita do Código Italiano de 1930. 
O nosso Código de Processo Penal brasileiro de 1941, ele tem uma base ideológica 
fascista. 
Houveram já 2 grandes modificações em nosso processo, uma em 2008 e a outra em 2011. 
Várias vezes dentro do próprio Código de Processo Penal você tem uma situação de 
desarmonia, porque uma regra colide com a outra, além de colidir com a Constituição Federal 
também. 
A CF/88 já nasce com um modelo de garantias onde o discurso de Processo Penal e as 
garantias de Processo Penal, elas aparecem com toda sua potencialidade no texto da CF/88 
(art. 5º.). 
Então é possível dizer que o nosso processo hoje também é constitucionalizado. 
Quando eu tenho uma regra infraconstitucional que colide com a regra constitucional, qual 
prevalece? A constitucional. Isso é óbvio, porém não tão óbvio assim em parte da doutrina ou 
não é tão óbvio assim muitas vezes na jurisprudência. 
Ana	
  Carolina	
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  Cagliari	
  
Como essa pergunta tão óbvia as vezes não se efetiva nem na doutrina (boa parte dela à 
tradicional) e nem tão pouco na jurisprudência? Qual é a dificuldade de entender isso que é tão 
óbvio? A dificuldade decorre muitas vezes da natureza humana. O ser humano tem 
dificuldades de olhar para o novo com os olhos do novo. Tem dificuldade de abrir mão daquilo 
que estava acostumado a fazer em nome de um novo modelo que lhes obrigue a ajustar e 
adaptar. Então, as vezes, o interprete que estudou naquele modelo anterior da Constituição de 
88, que aprendeu a partir das regras do Código e que desde 1941 estava aplicando às regras 
do Código daquele mesmo jeito sempre, quando vem a Constituição e trás aquilo como 
princípio que colide com as regras, dá um jeito de continuar fazendo isso. Ele tem dificuldade 
de ajustar-se ao novo. 
Nós somos capazes de torturar nosso semelhante por prazer. Exemplo: Era medieval, 
Idade Média. 
O ser humano ainda continua com as dificuldades de olhar o novo com os olhos do novo. 
Exemplo contemporâneo: nós tivemos uma grande mudança no Código de Processo Penal 
em 2008. E dentre uma das regras que foram alteradas diz respeito a forma de inquirição da 
testemunha no Processo Penal. Era de um jeito que se fazia e passou a ser de outro, a partir 
da mudança no Código em 2008. 
 
à REGRA VELHA: como se fazia a inquirição de uma testemunha do Processo Penal 
brasileiro desde 1941 (quando o código foi feito) até 2008 quando mudou a regra. Funcionava 
assim na sala de audiência. O juiz fazia o comprometimento legal da testemunha dizer a 
verdade e começava a inquirição. SÓ quem perguntava para a testemunha era o juiz. O juiz 
era a única pessoa autorizada pela lei a formular perguntas a testemunha. O juiz começa a 
inquirir, ele perguntava, perguntava, perguntava. Fazia o escrivão anotar as respostas. Esgotou 
toda a curiosidade dele, ele não tem mais nada para perguntar. Aí ele vira para as partes 
(advogado e promotor) e pergunta quem foi que arrolou a testemunha. Ah, foi o promotor. Dr. 
Promotor diz o juiz, tem alguma repergunta para fazer além das que eu já fiz? Aí o promotor 
vira para o juiz e diz: tenho excelência, GOSTARIA que fosse reperguntado isso. O juiz então 
diz que é uma boa pergunta. Pega para ele a pergunta, reformula e com as suas palavras 
formula a pergunta para a testemunha que só então está autorizada a responder. Mais alguma 
pergunta diz o juiz ao promotor. Não, estou satisfeito excelência. O advogado tem alguma 
pergunta para fazer? No mesmo modelo responde o advogado a excelência: GOSTARIA que 
fosse reperguntado isso. O juiz diz boa pergunta, reformula e ele juiz com as suas palavras faz 
a pergunta para a testemunha a qual agora está autorizada a responder. Mais alguma pergunta 
Dr. Advogado? GOSTARIA que fosse perguntado isso também. Ojuiz diz que é impertinente 
esta pergunta, tem mais alguma? Não, estou satisfeito diz o advogado. 
Ana	
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Juiz senhor absoluto da produção probatória. Tudo passa por ele, as partes não perguntam 
para a testemunha, quando muito elas sugerem uma pergunta complementar ao final. 
Testemunha e juiz são os dois únicos que conversam na produção probatória. Parte (advogado 
e promotor) não conversam com testemunha. 
 
à REGRA NOVA: em 2008 muda a lei (lei 11.690/2008). Nova redação do artigo 212. 
 
Art. 212 – As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não 
admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa 
ou importarem na repetição de outra já respondida. 
 
Parágrafo único: sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a 
inquirição. 
 
 As partes perguntam direto, o juiz indefere as que achar impertinentes e ele pode 
complementar sobre os pontos não esclarecidos. 
 De acordo com a nova regra quem pergunta primeiro são as partes. Porém, está cheio 
de juiz que ainda continua perguntando primeiro. Para esses juízes não mudou nada, apenas 
que as partes perguntam direto para a testemunha, para ele não mudou, ele continua 
perguntando primeiro. 
 Vários promotores e advogados entraram com recurso desta postura de alguns juízes, 
mencionando que está violando a regra. E a coisa chegou lá no Supremo. O Supremo disse 
que violou a regra, não pode, a regra nova não fala que o juiz pergunta primeiro, quem 
pergunta primeiro são as partes. Só que o Supremo fez o seguinte: “virgula” mas, não vejo 
prejuízo no fato do juiz perguntar primeiro. Então o Supremo disse que não havia prejuízo e 
legitimou dizendo que tanto faz. 
 Como assim não tem prejuízo? Como assim, tanto faz? Como assim não tem problema? 
 Veja a dificuldade do interprete brasileiro. Porque o legislador mudou essa regra? Tem 
uma razão de ser. E porque o Supremo não enxergou isso? O supremo são 11 pessoas que 
julgam HC, incompetência originária, ação penal originária do país inteiro. No ano de 2015 o 
Supremo julgou 93 mil processos só no ano passado (11 pessoas julgaram 93 mil processos). 
Por esse motivo o Ministro para de estudar. Mudou a lei e eles não tem tempo de estudar. E se 
não tem tempo de estudar como faz para decidir a interpretação de uma regra nova. Saiu uma 
lei nova, e daí? Vê alguém aí que tem tempo para estudar, escrever um livro e ver o que o cara 
diz, nós vamos por aí. 
Ana	
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 Nesse caso aqui, o Supremo usou uma doutrina que permitiu dizer o que ele diz. Eles 
pegaram o Guilherme de Souza Nucci para sustentar esta tese lá no Supremo. E logo que saiu 
a nova lei em 2008, o Nucci começou a dar palestras convidado pelos Tribunais para explicar o 
que mudou na nova lei. E nessa palestra o que Nucci disse a respeito desse art. 212, que a 
única coisa que tinha mudado era que agora as partes perguntavam direto para a testemunha, 
mas que o juiz continuava perguntando primeiro. Até porque disse ele: “Se o juiz não puder 
perguntar primeiro, seria como transformar o juiz numa samambaia de sala de audiência”. Essa 
foi uma expressão que foi incorporada nos acórdãos. 
 O problema do juiz perguntar primeiro é que tem que entender que um modelo anterior 
ele facilitava o exercício de um poder mais arbitrário de um juiz em comparação com o modelo 
novo que diminui a possibilidade de um arbítrio não necessariamente consciente do juiz. 
 O ser humano, qualquer um de nós quando detêm poder tende a buscar, até 
inconscientemente, em qualquer esfera, inclusive em relações de micro poder (exemplo: 
professor – aluno). 
 Então o modelo anterior facilitava o abuso. 
 A doutrina tradicional não trabalha com a compreensão da complexidade, das relações 
interpessoais lidas a partir de uma transdisciplinaridade. E isso a doutrina moderna já faz. 
 Para estudar o direito, não basta ficar lendo o Código, tem que estudar o ser humano, 
tem que entender outras coisas que sustentam, que dão base, que fundamentam os discursos 
legislativos. 
 Hoje, tudo o que fazemos na vida tem uma regra tutelando, difícil alguma situação no 
nosso dia a dia que não tenha um regramento dizendo como fazer, se pode ou não pode fazer. 
 Por uma questão didática se resolveu organizar esses regramentos em pequenos 
grupos (direito civil, direito empresarial, direito ambiental). Foi se organizando por grupos de 
regras que vão tentando dizer o que se faz, o que não se faz, qual é a sanção do desvio de 
comportamento. E tem um pequeno grupo de regras que está lá no cantinho e a gente criou 
para tentar atuar como dizia Nelson Hungria: “Esse conjunto de regras ao qual damos o nome 
de Direito Penal, ele atua como se fosse um soldado de reserva. Só vai para a linha de frente 
em último caso”. Ele está para estabelecer a pior sanção prevista em todo o conjunto de regras 
quando os demais conjuntos de regras não foram capaz de dar conta, de organizar a relação 
interpessoal. 
 O ser humano tem uma condição própria de não ser muito fácil na convivência. Kant 
dizia que o ser humano é de uma sociabilidade insociável, ao mesmo tempo eu que dependo 
para viver, porque viver isolado é para poucos, a maioria precisa de outras pessoas por sermos 
seres sociáveis, ao mesmo tempo somos egoístas, primeiro eu e depois o outro. 
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 A natureza humana faz com que a gente seja refratário quando qualquer coisinha possa 
ser diferente daquilo que a gente acha que deva ser. Somos naturalmente conflitivos, e somos 
agressivos por natureza, em maior ou menor medida. 
 Para Freud, nós somos constituídos por uma grande falta que a gente não sabe bem o 
que é. Freud chamava isso de “a coisa” que seu discípulo vai chamar de “objeto A”, ou seja, “a 
coisa” ou “objeto A” tanto um quanto o outro dizem que nós temos uma grande falta constitutiva 
do nosso ser, que a gente não sabe o que é. E como nós não sabemos o que é, isso nos 
angustia. E para tentar viver nós substituímos essa grande falta por pequenas faltas no 
cotidiano. Essas pequenas faltas geram desejos que precisam ser gozados. E na medida em 
que são gozados imediatamente em seguida ressurge uma nova falta que gera um novo desejo 
e que precisa ser gozado, e assim por diante. É isso que faz a gente viver, a levantar e ir para 
a faculdade cedo, por exemplo. Se fomos até a faculdade é porque alguma coisa falta para 
nós. Para uns o que motiva é aprender, para outros receber apenas o diploma, para outros 
porque o pai manda. É isso que faz a gente viver. O dia em que acordarmos e não sentirmos 
falta de nada, a tendência é entrar em depressão. (Depressão é a ausência de falta). 
 Então nós somos constituídos de uma grande falta, dizia Freud, que nós substituímos 
por pequenas faltas que geram desejos e precisam ser gozados. 
 Freud diz que o ser humano é agressivo instintivamente por natureza. E daí que na 
primeira infância ele começa a constituir uma capa de contenção de sua instintividade 
agressiva que faz com que ele não queira gozar sem limites. 
 Quando o pai diz para o filho “não”, e o filho começa a entender que não é o único ser 
do mundo, que tem outras pessoas que existem, que são importantes, que interferem na sua 
liberdade de gozar na sua plenitude. Este pai castrador vai moldando e dizendo ao filho pode 
fazer, não pode fazer. E o resultado entre o “id” e o “ego” é o “EU”. 
 Quantos mais “não” você receber na sua primeira infância, mais contensão de gozo 
absoluto você terá, mais sociável você será. Quanto menos “não” você receber na primeira 
infância,mais facilmente você violará as normas de convivência social. 
 No segundo momento vai ser já adulto, se você não recebeu os suficientes “não” na 
primeira infância, talvez você não queira desviar do comportamento nas relações interpessoais 
levando em conta o colega e a possível vergonha que você possa ter do colega em relação ao 
seu comportamento. O colega não atura o seu tipo de comportamento. Para a sociologia seria 
um controle social interno, vergonha do colega. Isso eu não vou fazer porque as pessoas com 
quem eu convivo já me deixaram claro que não toleram esse meu comportamento. Então eu 
me contenho mesmo que na infância eu não tenha recebido “não” o suficiente, eu vou procurar 
construir uma capa de conduta para mim nas relações interpessoais. 
Ana	
  Carolina	
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 Se você não se conteve suficientemente pelos “não” recebidos na primeira infância e 
não tem mais vergonha do seu colega, nada te segura a não ser o direito. O direito vem com a 
tentativa de organizar aqueles que não receberam os suficientes “não” da vida e que perderam 
totalmente a vergonha do colega. 
 Freud explica que são 3 fatores que causam o desconforto do homem (3 fatores que 
geram tristeza e angustia no homem). 
1- Incapacidade humana em relação a natureza. Nós não somos capazes de conter os 
fenômenos da natureza (tsunami, terremoto, vulcão) e isto nos angustia. 
2- Incapacidade relacionada a fragilidade dos próprios corpos. Somos seres finitos, temos 
uma única certeza, que é que todos vamos morrer. E a fragilidade dos próprios corpos 
também nos incomoda. 
3- Regra: o ser humano não gosta de regra, de ser tutelado. Mas segundo Freud, se não 
houvesse regra pela natureza humana instintiva o ser humano mataria que quisesse matar, 
estupraria quem quisesse estuprar, roubaria quem quisesse roubar. Tudo para ele, 
pensando só nele. 
Nós somos contidos pelos “não” que recebemos e pelas regras da sociedade. 
O conjunto de regras que organiza a vida em sociedade ele provoca um mal-estar no ser 
humano mas ao mesmo tempo ele é necessário. 
Dentro desse universo de regras a coisa tem que ser organizada de uma forma tal qual 
que nos permita viver de uma forma mais ou menos harmônica em sociedade. E aí o Direito 
Penal está ali para servir de auxilio para isso. 
O Direito Penal material, ele olha para essa vida toda em sociedade, procura identificar 
quais são os comportamentos mais graves, o que diz por em risco a convivência social, 
comportamentos estes que os demais ramos jurídicos não estão dando conta de minimizar sua 
incidência. E aí o Direito Penal seleciona aquele comportamento, desvalora aquele 
comportamento e prevê uma sanção para ele. Quando se diz que desvalora não é no sentido 
de retirar valor, é ao contrário, é no sentido de agregar, acrescentar uma carga de valor 
negativa para aquele comportamento (não mate, não furte, não estupre). Ele desvalora, atribui 
uma carga de valor negativo, seleciona e prevê a pior sanção de todo o conjunto de regras. 
Isso faz o Direito Penal. Só que o Direito Penal não é autoaplicável. Não basta verificar 
que alguém realizou aquele comportamento que foi selecionado pelo Direito Penal para que 
automaticamente aquela pena prevista ali seja aplicada. Por exemplo: matar alguém é o 
comportamento selecionado pelo Direito Penal. Ele diz que se alguém matar outra pessoa ela 
receberá uma sanção que começa com 6 anos de reclusão ou então eu verifico uma pessoa 
que acabou de matar outra pessoa. Automaticamente vem o Estado e diz: recebe 6 anos já, vai 
começar a cumprir. Não! Porque se fosse assim o poder punitivo seria muito forte, muito 
Ana	
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perigoso. Então para tentar conter esse poder punitivo que é necessário por um lado mas que 
deve ser contido por outro para que não se abuse, porque afinal de contas quem vai exercer 
esse poder é um ser humano em relação ao se semelhante. Nós precisamos ter um conjunto 
de regras que nos permita fazer toda uma verificação das circunstâncias em que aquele fato 
ocorreu (circunstâncias, tudo que está ao redor de alguma coisa). Então eu verifico o 
comportamento matar alguém. Eu quero saber quem foi. Será que foi mesmo aquela pessoa 
que estão dizendo que foi? De repente foi outra pessoa. Se foi ela, matou em que 
circunstância? Porque dependendo da circunstância o próprio direito vai legitimar. O Direito 
Penal diz que posso matar alguém em legítima defesa. Há um regramento que exclui a licitude 
do comportamento. Ou outro regramento que exclui a culpabilidade. 
Será que ele era capaz de entender o caráter ilícito do fato? Será que era exigido dele 
um comportamento diverso? Eu tenho que fazer toda uma verificação das circunstâncias que 
envolvem aquele comportamento. Como fazer isso? Eu creio um segundo conjunto de regras 
ao lado desse primeiro chamado Direito Penal e este segundo conjunto de regras damos a ele 
um nome chamado Direito Processual Penal. 
O Direito Processual Penal vem então como um instrumental de permitir fazer uma 
verificação do comportamento de uma determinada pessoa. 
Saber tudo que envolve aquela situação permitindo a essa pessoa (a acusada de ter 
praticado tal comportamento) de se defender, de mostrar o seu lado da história. De fazer com 
que se consiga ter uma melhor compreensão. Para que se possa finalmente decidir se a pena 
prevista no Direito Penal será ou não será aplicada aquele sujeito. E mais que isso, em qual 
medida ela será aplicada porque a pena prevista é de 6 a 30 anos. Para fazer essa verificação 
toda, eu vou precisar de um ritual de verificação. É um conjunto de regras vai disciplinar como 
isso vai acontecer. Nós chamamos esse conjunto de regras de Direito Processual Penal. 
Como deve atuar o Direito Penal e como deve atuar o Direito Processual Penal na 
coletividade? 
 Hoje em dia temos variados discursos que procuram ou legitimar ou procuram desvelar 
funções escondidas tanto da própria razão do Estado quanto função do Direito Penal, quanto 
também do processo. Tudo vai depender agora da forma a qual você vai entender a razão de 
ser do Estado e pena. 
Existem diversas maneiras de pensar no que vai ser falado a partir daqui. 
 Tem alguns doutrinadores que trabalham com teorias abolicionistas, muitas vezes 
vinculadas as Teorias da Pena. 
 O Zaffaroni, por exemplo, tem uma forma de entender a pena como o que ele chama de 
Teoria Agnóstica da Pena. 
Ana	
  Carolina	
  Gradowski	
  Cagliari	
  
 As funções da pena são retributiva, preventiva e para o Zaffaroni não tem função 
nenhuma, seria uma Teoria Agnóstica. 
 Teorias preventivas da pena. 
- Geral Positiva (reafirmação da lei na norma): fazer com que toda vez que eu aplique a pena 
eu comunique a sociedade que a norma foi observada. Para que a sociedade tenha mais 
confiança na norma. Porque a confiança é um valor importante na vida em sociedade. 
- Geral Negativa (intimidação): visa evitar que as pessoas cometam crime. Não faça porque 
você será punido. 
- Especial Positiva (ressocialização) 
- Especial Negativa (neutralização) 
 Zaffaroni diz que não acredita em nenhuma dessas funções. Diz que isso tudo é coisa 
furada, por afinal de contas as pessoas continuam cometendo crimes. 
 Toda vez que uma pessoa comete um crime, eu diria que função geral não adotou para 
ela, a função especial não vai ressocializá-la, por que prender alguém não socializa ninguém e 
sim desocializa tirando-a da sociedade e jogando numa jaula. Ele (Zaffaroni) vai criticando uma 
a uma das funções, dizendo que não tem razão de ser, por isso ele não acredita em nada e por 
isso ele é agnóstico (não acredita nas funções da pena). Então se elas são funcionam porque 
eles punem,Zaffaroni diz que é porque isso é assim desde que o homem é homem, ele é 
vingativo por natureza e ele quer se vingar das pessoas. Mas para que ele se vingue 
invidualmente o Estado substitui e acaba sendo o Estado vingador. Mas aí dentro dessa leitura 
é preciso conter o poder do Estado. 
 Então, toda a preocupação do Zaffaroni e de quem segue a linha dele, Teoria Agnóstica, 
é enxergar o Direito Penal e o Direito Processual Penal como instrumento de contenção do 
poder política, só. Só para isso que ele serviria. 
 Professor acha pensamento do Zaffaroni muito exagerado. Claro que o Direito Penal tem 
que ter essa função, mas não é só isso. Ele discorda um pouco dos radicalismos de não 
chegar a função preventiva da pena, principalmente a preventiva geral negativa. 
 O Zaffaroni diz que toda vez que alguém comete um crime é porque a função preventiva 
geral negativa não atuou sobre esse cara. Tanto não atuou que ele cometeu esse crime. Não 
atuou em relação a ele, mas em quantas outras pessoas não atuou, que não cometeram o 
crime. 
 Por isso o professor acha um pouco exagerado dizer que não tem função de prevenção 
geral negativa. Daí Zaffaroni diz que você não precisa do Direito Penal para formatar na 
cabeça das pessoas ideia de que elas não podem ter desvio de comportamento, basta dar 
educação. A educação resolve. Professor acha importante a educação e entende que a 
educação é fundamental. Mas para ele, mesmo assim, uma coisa não afasta a outra, porque 
Isolar indivíduo da sociedade 
Ana	
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por mais que você tenha educação com as pessoas coletivamente falando e isso vai diminuir a 
criminalidade (principalmente se essa educação vier da primeira infância como falava Freud.). 
Vai diminuir o desvio de comportamento, mas não vai evitar que pessoas cometam. 
 Toda vez que você pensar “não vou fazer porque vai dar merda” é a função preventiva 
geral negativa atuando. 
 Se Zaffaroni e seguidores dizem assim: a única função do Direito Penal e do Processo 
Penal é conter o poder punitivo. Nesta fase está presente a necessidade da existência do 
poder punitivo. Porque a frase não é “preciso eliminar o poder punitivo”, “é preciso conter o 
poder punitivo”. E se eu digo que preciso conter o poder punitivo é porque na leitura as 
avessas dessa frase eu estou legitimando o poder punitivo. Se ela está dizendo que precisa 
conter o poder punitivo então ele precisa existir. E aí se ele tem que existir ele tem que ter 
alguma finalidade. É a partir daqui que o professor discorda um pouco. Ele acha que deve 
conter o poder punitivo, porem, sem esse poder tem que ter alguma efetividade, porque senão 
não haveria motivo para sua própria existência. 
 E aí vem o outro lado da moeda, que é a dificuldade de estabelecer um equilíbrio entre 
razão de ser do poder punitivo e a necessidade da existência do poder punitivo, e a contenção 
deste poder punitivo. Efetividade contida. Por isso o professor acha que não dá para trabalhar 
só de um lado, enxergar só freio do exercício do poder. Ele acha que também tem uma função 
de orgazinar a vida em sociedade. Ele acredita na função de prevenção negativa da pena no 
momento da cominação. Porque aí você pode trabalhar a função de prevenção na cominação, 
função de repressão na aplicação e função de ressocialização na execução. São momentos 
diferentes. O Estado comina na lei, o Estado o aplica, o Estado executa. 
 Basta olhar para nossa sociedade complexa hoje sem que exista alguém exercitando um 
poder para tentar organizar a bagunça? Dá para viver nessa sociedade sem exercício do 
poder? Professor acha que não, é muito complexa, cada vez mais complexa. Quão complexa 
ficou a vida depois da internet, do Google, do Facebook. Se não tiver alguém, por exemplo, no 
Facebook para dizer e organizar imagine o que não seria. Se mesmo assim tem gente que 
viola imagine se não tivesse gente cuidando e organizando. Então o exercício do poder ele é 
necessário. 
 Como funciona a razão de ser do Estado? 
 Nós tivemos 3 grandes momentos pós revolução francesa que vão repercutir na nossa 
Constituição de 88. A CF/88 é o resultado de uma somatória histórica, uma sucessão de 
modelos de Estado que deságua nela. E muita fortemente pós revolução francesa. Porque esta 
revolução francesa como dizia era o poder absoluto do monarca. O rei dizia o mundo. Aí vem a 
revolução francesa patrocinada em grande parte pela burguesia, classe comerciante burguesa, 
detentora do poder econômico, pega o povão, chega para o rei e diz: chega, chega de se 
Ana	
  Carolina	
  Gradowski	
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intrometer na nossa vida. Não queremos mais. Está se intrometendo demais e a gente não 
consegue nem se organizar aqui. Está exagerado o negócio. Sai fora você. E o que se coloca 
no lugar? Simbolicamente o povo. E aí passam a dizer que não é mais vontade do rei e sim 
vontade popular. Não é mais o rei que dita a regra, é o povo. O fato é que tiro alguém e coloco 
outra pessoa para exercer o poder. Vai ter um exercício de poder, só que um exercício de 
poder contido. Então, Estado fica na tua você só vai ser chamado aqui para algumas coisinhas 
bem pontuais. O resto fica na tua, não se meta. Então vem o Estado Liberal de Direito, que é o 
que acontece depois da revolução francesa. Estado Liberal a proposta é “deixa fazer, deixa 
passar”. Não se mete. Deixa que a gente dá conta aqui, só precisamos para dar uma 
organizada basicona, o resto a gente se vira aqui. Isso durou um tempo até que vai girar uma 
situação perversa em relação a classe mais economicamente desfavorecida. O que facilita a 
vida do comerciante, mas o comerciante explora até o limite e gera uma pobreza toda 
generalizada, uma classe privilegiada e uma classe desfavorecida. Então não é a toa que já 
vem em seguida, que o Marx surge aí. Não é a toa que o discurso Marxista vem e diz: 
Precisamos repensar nisso aí, isso aí está complicado. Todos os discursos socialistas vem da 
sociedade econômica, para fazer com que o Estado regularize esse negócio para favorecer a 
classe desfavorecida. Precisamos de um Estado Social de Direito, não mais em Estado Liberal. 
 Percebemos com o passar do tempo que o direito não conseguiu segurar duas grandes 
guerras. Precisando então de um novo modelo de Direito, nem um Estado Social, mas sim um 
Estado Democrático. Democracia onde a vontade da maioria prevalece, porém que ela não 
aniquile a minoria. Que mantenha a vontade da maioria desde que a minoria seja também 
protegida. Por isso vem as cláusulas pétreas da CF, para que as gerações seguintes não 
elimine tudo que foi conquistado pela geração antecedente, porque não viveu tudo que foi 
vivido. 
 Vai ter na CF aquilo que existia de importante no Estado Liberal, contenção do poder 
punitivo, mas vai ter também aquilo de importante que existia no estado social, que é a atuação 
positiva do estado em favor da população. 
 A Constituição brasileira vai trazer não só uma única baliza de contenção, mas duas 
balizas. A razão de ser do Estado, e aí a razão do direito Penal e Processo Penal estão 
também relacionadas e orientadas e só são legitimadas a partir disso. 
 Proibição de excesso de um lado (evidente que decorre do estado liberal), proibição de 
proteção insuficiente do outro lado. Não adianta ter poder se não tiver o mínimo de efetividade. 
A proteção que o Estado me dá não pode ser insuficiente ao ponto que eu não possa viver sem 
ter que me preocupar de ser morto ali na esquina, por exemplo. Punir acaba sendo um ato 
civilizatório em certa medida. 
Ana	
  Carolina	
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 Se vende muito na academia a ideia de que aumentar pena não resolve para nada. Os 
crimes e as razões pelas quais aspessoas cometem crimes variam dependendo do tipo de 
crime. O que leva alguém a matar uma pessoa não tem nada que vê com alguém que recebe o 
dinheiro para vender uma sentença. São razões completamente diferentes. Então aumentar a 
pena do crime de homicídio talvez não tenha muita efetividade, mas aumentar a pena, por 
exemplo, para punir um desvio de comportamento de um juiz que vendeu sua própria sentença 
em troca de dinheiro, de um prefeito que frauda uma licitação que era destinada a construir 
escola para as crianças, de um médico que forja um dedo de silicone e dá para o colega 
fraudar sua presença no postinho de saúde para ele atender no particular. Para esses caras a 
racionalidade deles é diferente para aquele que comete um homicídio. Para esses caras, eles 
não tem medo do direito penal hoje. Do jeito que está hoje no Brasil o Direito Penal não os 
alcança. Nesses casos tem que aumentar a pena. E não adianta pegar no bolso. É uma falácia 
dizer: “siga o dinheiro que você chegará no dono”. 
 Prescrição retroativa favorece quem tem poder. E só existe no Brasil. 
 
 
ANÁLISE DAS NORMAS DE PROCESSO PENAL EM 
COMPARAÇÃO COM AS NORMAS DE DIREITO PENAL 
MATERIAL 
 
v Jorge de Figueiredo Dias. 
 
Ø Direito Penal Material: - Lícito - Punível 
 - Ilícito - Não punível 
 
Ø Direito Processual Material: - Existência - Validade 
 - Inexistência - Não validade 
 
 
Figueiredo Dias trabalha com critério axiológico quanto a observar ou não observar a 
regra e a consequência que daí decorre. Ele diz mais ou menos o seguinte: regras de Direito 
Penal, o que o Direito Penal faz, do que o Direito Penal se ocupa. 
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  Carolina	
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O Direito Penal ele acaba selecionando determinados comportamentos em sociedade, 
ele recruta comportamentos mais gravosos que o restante do ordenamento não deu conta de 
resolver, desvalora esse comportamento (atribui uma carga de valor negativa para esse 
comportamento) e prevê sanções estabelecendo as regras que permitirão punir ou não punir 
esse sujeito. 
Então ele seleciona esse comportamento, classifica esse comportamento como um 
ilícito. Então uma das coisas que ele faz é separar o que é ilícito do que é lícito, por exclusão. 
Que não foi selecionado por exclusão ele é lícito. 
Então Figueiredo diz: observar ou não observar uma regra do ponto de Direito Penal 
Material depende de dizer se a conduta é lícita ou ilícita. Então um dos planos de valoração, de 
observância ou não observância, uma regra de Direito Penal, trabalha com essa dicotomia 
lícita e ilícita. Então se a regra está regulamentando uma discussão em torno disso, 
comportamento é lícito ou é ilícito esta regra é uma regra de Direito Penal Material. 
No mesmo plano o Direito Penal também se ocupa de regrar as situações nas quais eu 
posso ou não posso punir o sujeito. Então regras que regulamentam uma possibilidade de 
punir ou não punir alguém também são regras de Direito Penal Material. Então o segundo 
plano de análise é verificar se a regra está discutindo se a conduta é punível ou não punível. 
Então, de acordo com Figueiredo Dias regras que discutem licitude ou ilicitude no 
comportamento; punição ou não punição no comportamento são regras de Direito Penal 
Material. 
O Direito Processual Penal ele não está preocupado em selecionar condutas ou criar 
hipóteses punitivas ou não. O Processo Penal está preocupado em construir um ritual através 
do qual nós vamos poder esclarecer, construir um fato, instruindo um juiz que não conhece, 
para que esse juiz então conheça e possa tomar uma decisão ao final estabelecendo 
mecanismos que deem efetividade a aplicação da jurisdição. Então o Processo Penal está 
preocupado em estabelecer uma sequência pré-ordenada de atos que ritualize essa mecânica 
de verificação do fato e permita que se tome uma decisão ao final de todas as garantias do 
cidadão sendo preservadas. Está discutindo o que eu tenho que fazer para que as garantias 
processuais sejam observadas para que o Estado não exceda, para que ao mesmo tempo a 
coisa chegue ao fim, qual é o ritual, qual ato tem que fazer primeiro e depois, como fazer cada 
ato, então ele está discutindo o ritual. 
 Regras que regulamentam o ritual, observância ou não observância dessas regras gera 
um tipo de análise em termos de consequência. 
 Num primeiro momento observar ou não observar uma regra do Processo Penal permite 
dizer se o ato processual existiu ou não existiu. 
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 O primeiro plano de análise trabalha com a dicotomia de existência ou inexistência do 
ato. Observei a regra e o ato realizado existiu, não observei, não realizei o ato, não existiu. 
 Quando se fala de existência aqui, ele não esta falando apenas de uma existência física, 
mas também de uma existência jurídica. O ato deve existir juridicamente falando, e não apenas 
fisicamente falando. 
 Se pudéssemos imaginar que haveria um portal que nos separa do mundo real, do 
mundo virtual das regras. O ato processual deve existir tanto aqui quanto lá, desse mundo 
virtual. Como é que faz para existir também do mundo virtual, do jurídico, do mundo das regras 
do Direito Processual Penal. Eu tenho que passar esse portal. Para passar esse portal eu 
preciso observar uma determinada regra, que serviria como se fosse uma chave de passagem, 
que me permitisse abrir esse portal e passar para lá também. Então determinadas regras de 
processo servem para permitir que o ato exista no mundo jurídico, e não apenas no mundo 
físico. Essas regras me permitem dizer que o ato existente no mundo jurídico sem observadas 
permitirão concluir pela existência do ato juridicamente falando. Se não observadas permitem 
dizer a inexistência do ato juridicamente falando. 
 Então uma regra que regulamenta ritual será uma regra processual quando a 
observância ou não observância desta regra permitir dizer se o ato existe juridicamente ou não 
existe juridicamente. 
 Exemplo: Júri simulado da faculdade. Como é que funciona geralmente um júri simulado 
da faculdade. Normalmente o professor que vai organizar o júri, ele escolhe um caso verídico, 
de preferência de um processo já encerrado. Fotocopia esse processo inteiro, entrega um jogo 
de cópias para os alunos que fará as vezes de Ministério Público, o outro jogo de cópias para 
os alunos que farão a defesa, um terceiro jogo de cópias para o aluno que fará as vezes de 
juiz. A ideia do júri simulado é treinar na prática as regras que regulamentam o ritual do júri. 
Vamos por exemplo no júri simulado observar a regra que diz que para começar o júri tem que 
ter pelo menos 15 jurados presentes na sessão. Se tiver 14 presentes o júri não sai, essa é 
uma regra. Aí desses 15 ou mais, ate 25 jurados que devem estar presentes nós vamos sortear 
7. Porque 7? Porque 7 é uma regra do júri que diz que o nosso júri é composto no seu 
conselho de sentença por 7 jurados. Esses jurados serão compromissados. Porque 
compromissados? Porque essa é uma regra que regulamenta o rito que deve ser observado. 
Depois disso acontece instrução processual. Vamos ouvir testemunhas, interrogar o réu dentro 
de um conjunto de regras que regulamentam isso. Depois vamos para os debates orais, 1 hora 
e meia para o promotor falar, 1 hora e meia para o advogado falar. Porque 1 hora e meia? 
Porque a regra diz que é 1 hora e meia. 
 Depois o promotor tem oportunidade de réplica por mais 1 hora e a defesa de tréplica 
por mais 1 hora. Encerrados os debates o juiz lê um questionário para os jurados. Como é a 
Ana	
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ordem das perguntas? Tem uma regra que diz que a primeira pergunta é da materialidade do 
crime, a segunda pergunta da autoria, a terceira pergunta é se o réu absolve quarta pergunta 
eventual qualificadora. Tem uma ordem. Tudo isso é observado no júri simulado. 
 Então vamos imaginar que esse júri simulado na faculdade, que todas essas regras de 
processo são observadas. No caso verídico o réu foi condenado a 20 anos de reclusão e está 
cumprindo pena na Penitenciária Central do Estado. E o caso dele é reapreciado no júri da 
Faculdade de Direito, e vamos imaginar que o resultado do júri simulado seja que o réu foi 
absolvido. Aí os alunos filmaram esse júri simulado e jogaram na internet (youtube, facebook) e 
aquilo circulou tanto que bateu no ouvido do nosso amigo que está cumprindo pena de 20 anos 
de reclusão porque foi condenado no caso concreto. Imagine o cara preso lá e ele fique 
sabendo que o caso dele foi “reapreciado” pela Faculdade de Direito e o resultado é que ele foi 
absolvido. O cara pira lá, “finalmente entenderam o meu caso”, “finalmente alguém entendeu 
que sou inocente, eu sou inocente” “agora o meu caso foi reapreciado na Faculdade de Direito 
e não por qualquer um”. Ele documenta isso tudo, faz uma petição de próprio cunho, pede uma 
revisão criminal ao Presidente do Tribunal de Justiça do Paraná, anexando todas as provas, 
que no caso dele foi reapreciado na Faculdade de Direito tendo como resultado a absolvição, 
requerendo que ele seja colocado imediatamente em liberdade já que ele foi absolvido na 
Faculdade de Direito. Protocoliza isso que virá um pedido revisão criminal no Tribunal de 
Justiça do Paraná. E esse pedido chega ao Presidente do Tribunal de Justiça. O que faz o 
Presidente? Arquiva, porque o júri simulado que está embasando o pedido observou várias 
regras de Processo Penal, esta é a razão do júri simulado. Só que observou quase todas as 
regras menos uma regra que é essencial para que aquilo que aconteceu na faculdade pudesse 
ingressar no mundo jurídico. O que ficou faltando? Qual regra não foi observada? Faltou poder. 
Quem está sentado na cadeira do juiz não é o juiz, é um estudante de direito. Quem está 
sentado na cadeira do promotor, não é promotor, é um estudante de direito. Quem está 
sentado na cadeira do advogado não é advogado, é um estudante de direito. As pessoas não 
são, do verbo “ser”. Elas não existem como tais. Então se elas não são, os atos que elas 
realizam, mesmo que observem todas as outras regras de processo, não conseguem ingressar 
no universo jurídico do Processo Penal. Ficam só no plano da realidade física. Afinal de contas 
as pessoas estavam lá, falaram, observaram as regras, o júri simulado aconteceu. Só que ele 
ficou só no plano físico, ele não ingressou no mundo jurídico do Direito Processual Penal, 
porque a chave para ingressar nesse universo paralelo era a exigência que fosse tudo aquilo 
precedido por um juiz com jurisdição, que o promotor tivesse poder para atuar no caso 
concreto e que o advogado fosse um bacharel inscrito na OAB. Como nada disso aconteceu, 
aquilo foi uma simulação de algo que juridicamente é um nada.Não tem efeito nenhum a 
Ana	
  Carolina	
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realização de um júri simulado no universo jurídico. Por isso o Presidente diz que o pedido está 
embasado em ato juridicamente inexistente. 
 Então a não observância de uma regra de processo (regra que exige que o processo 
seja conduzido por um juiz com poder jurisdicional, que o promotor tenha prestado concurso e 
recebeu o poder para atuar ali e o advogado a mesma coisa), o ato realizado por pessoas que 
não tenham poder é um ato juridicamente inexistente. A violação dessa regra implica na 
inexistência do ato. A observância dessa regra implica na existência do ato. 
 Por isso Figueiredo Dias diz: regras que regulamentam a possibilidade de se discutir se 
o ato existe ou não existe são regras de Processo Penal. 
 Tem um segundo plano de análise que é o plano da validade, do aproveitamento ou não 
do ato. 
 Não basta existir, é preciso ser válido. Não basta então que o ato exista no mundo 
jurídico. É preciso que ele seja aproveitável. Para ser aproveitável tem que observar as demais 
regras. 
 A não observância em outro grupo de regras permite ser que o ato não é válido. A 
observância das outras regras permitirá dizer que o ato é válido. Então observar ou não 
observar as regras que discutem validade ou não validade do ato, esse tipo e regra é uma 
regra de Processo Penal. 
 Em síntese, regras de Direito Penal material discutem no plano da licitude, ilicitude, da 
punição ou não punição do sujeito. Regras do Direito Processual Penal discutem o ritual de 
existência, não existência, validade ou não validade. 
 Isso é importante porque dependendo da análise que você faça ao se deparar com uma 
regra nova, se você disser que essa regra nova é uma regra do Direito Penal material, como é 
que você vai interpretá-la. Como se interpreta uma nova regra do Direito Penal material? Tem 
que analisar se ela é mais benéfica ou não em comparação a lei velha. Se for mais benéfica 
retroage para alcançar fatos que ocorreram antes da vigência da lei. Se ela for mais gravosa 
ela só se aplica para novos fatos, novos crimes. 
 No processo, se a regra for processual a análise num primeiro momento não é feita 
nestes termos. Se a regra for processual do art. 2º do CPP dá outro tipo de orientação. 
 
Art 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos 
realizados sob a vigência da lei anterior. 
 
 Então daqui se extraem 2 princípios de interpretação: 
à Princípio da imediatidade – 1ª parte. 
àPrincípio da irretroatividade – 2ª parte. 
Ana	
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 É diferente interpretar uma regra nova do Direito Penal material e do Direito Processual 
Penal. 
 No entanto algumas regras vão se misturar. 
 
v Regra de Conteúdo Misto ou Variado. 
 Essa regra indica que ela trás no mesmo artigo uma parte de Direito Penal material e outra 
parte de Processo Penal, só que a regra é uma só. 
 Regra 
 
 
 
 
 
 
 Exemplo art. 366, CPP. 
 
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão 
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a 
produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão 
preventiva, nos termos do discurso no art. 312. 
 
 Essa regra foi alterada em 1996. 
 A regra velha regulamentava a seguinte situação. 
 O processo começa quando o promotor oferece a denúncia (petição inicial). Protocoliza 
a petição inicial chamada Denúncia. E daí o juiz decide se recebe ou não essa denúncia. 
Recebida a denúncia, o próximo passo é o juiz determinar a citação do acusado (citação serve 
para informar e chamar). Eu informo que existe um processo contra ele e chamo para que ele 
venha a se defender. Essa citação tem que ser a principio pessoal. Emite-se um mandado de 
citação, entrega-se esse documento na mão do oficial de justiça que irá então no endereço do 
indicado bater na porta, buscar a pessoa e formalizar essa citação entregando uma cópia da 
citação onde consta que ele deve comparecer num determinado dia, num determinado horário 
por exemplo na 4ª Vara Criminal. Então o oficial de justiça vai no endereço, vamos imaginar 
que ele chegue no endereço, bata na porta e a pessoa que atende na porta não é o acusado. 
Então ele pergunta a respeito do acusado e o morador do endereço diz: olha, eu não conheço 
essa pessoa, mas eu sei da existência dela porque muita gente vem atrás dela aqui, e eu fui 
me informare ele é o antigo morador daqui. Esse imóvel eu aluguei fazem 6 meses. Ele não 
	
  
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reside aqui já há 6 meses e eu não faço a menor ideia do seu paradeiro até porque eu não 
conheço esse sujeito. O oficial de justiça através dessa informação vira o mandado no verso e 
escreve o seguinte: Certifico que compareci no endereço indicado e fui informado pelo atual 
morador que o acusado não reside ali a mais de 6 meses e que não se sabe do seu paradeiro 
estando para mim em local incerto e não sabido. Devolve este documento e o MP vai tentar 
localizar o endereço dele atualizado. O endereço que vem é sempre o velho, não tem mais o 
que fazer, enfim, o que a lei dizia nesse caso: bom: se esgotaram as tentativas de citação 
pessoal resta a citação por edital, que é uma citação ficta. Fica fixado no edital por 60 dias. 
Para dar mais publicidade o juiz publica também no Diário da Justiça. Isso faz com que na 
prática a possibilidade do sujeito ficar sabendo que tem um processo contra ele. A 
possibilidade do sujeito saber que tem um processo contra ele é zero, probabilidade nula. Não 
várias vezes o processo chega ao fim sem o réu saber da existência dele. 
 Na prática funcionava assim, citado por edital, quando do dia marcado para o 
comparecimento do réu, o juiz abria formalmente a audiência, perguntava para o escrivão, tá 
presente o réu? Não. Aí o juiz dizia, vamos aguardar 15 minutos. Passou 15 minutos, 
compareceu? Não. Bom, então dizia a lei velha, decreto a revelia do acusado, nomeio um 
advogado para ele e toco o barco. O advogado nomeado assim sem ter contato com o réu vai 
fazer uma defesa com limitações próprias de quem nunca conversou com o réu. Fará uma 
defesa com menor potencia se tivesse conversado com o réu. Então várias vezes o processo 
caminhava e no final tinha uma sentença condenatória, e muitas vezes o advogado nem 
recorria, deixava transitar em julgado. Cadê o réu que ninguém achou ele. Ele está condenado 
à 15 anos de reclusão, expeça-se mandado de prisão, e ficava o mandado de prisão aberto. 
 Vamos imaginar que o nosso amigo réu mudou de endereço porque ficou 
desempregado e não tinha condição de pagar aluguel, então foi morar com a irmã na mesma 
rua. Mas como ele foi morar com a irmã o endereço dele não apareceu em lugar nenhum. Ele 
estava desempregado, passa um tempo e ele finalmente consegue um emprego. Como 
burocracia da empresa sempre é pedido uma certidão negativa, mesmo que você já tenha dito 
que nunca respondeu a processo criminal e tal. Aí ele vai ao cartório do distribuidor, pede uma 
certidão negativa de antecedentes criminais. O cartório o manda voltar em 48 horas. Então dois 
dias depois ele retorna, se apresenta no balcão para o funcionário. O funcionário percebe que 
é ele, diz para ele esperar um pouco. Nisso chega à polícia militar, algema ele, ele pergunta o 
que está acontecendo. Dizem para ele que ele está preso. Aí ele diz como assim? O senhor 
não é fulano, filho de beltrano? Sim, sou eu mesmo. Então não há dúvidas, o senhor está 
condenado a 15 anos de pena de reclusão. Por favor, o senhor nos acompanhe até a 
penitenciária. Não tem o que discutir, o senhor tem que cumprir a pena, o seu tempo de discutir 
já passou à Era assim até 1996. 
Ana	
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 A partir de 1996 a lei passou a ser como é hoje. Até 96 o réu não aparecia, o juiz 
decretava a revelia, nomeava um advogado e tocava o processo. Na lei nova, ficarão 
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional podendo o juiz determinar a produção 
antecipada das provas consideradas urgentes, se fosse o caso, decretar prisão preventiva, nos 
termos do disposto no art. 312. 
 Agora mudou a história. Se o réu não compareceu e não ficou sabendo da existência do 
processo, suspende o processo até que o Estado ache o réu. Enquanto não achar o processo 
não segue. Porque o princípio constitucional da ampla defesa que pressupõe ampla defesa 
exige que o réu pelo menos saiba formalmente que existe um processo contra ele, para evitar 
uma surpresa à Agora suspende o processo. 
 Essa regra nova, quando ela fala que ficará suspenso o processo, esse pedaço da regra 
“ficará suspenso o processo” tem natureza processual. Se o juiz quiser fazer mesmo assim a 
audiência, está violando a regra, portanto como consequência não haverá validade do ato à a 
regra diz, fica suspenso o processo, o juiz diz, mas eu vou fazer. O que fizer não será válido 
porque violou a regra. Então se violar a regra implica em dizer que eu não aproveito o ato, a 
regra é de processo. 
 Agora o art. prossegue dizendo que fica suspenso também o curso do prazo 
prescricional. Regras que regulamentam prescrição tem natureza de Direito Penal material. Se 
esta regra é de natureza Penal material parcela que diz que fica suspenso o prazo 
prescricional, esse pedaço é de direito penal material. Então percebe-se que o art. 366 do CPP 
tem um pedaço que fala em Processo Penal quando diz que ficará suspenso o processo e o 
outro pedaço do mesmo artigo que é de direito penal material quando diz que suspende o 
prazo prescricional àexemplo clássico de uma regra de conteúdo misto ou variado. 
 Se nós olharmos para a parcela de direito penal desse dispositivo o que a gente vai 
perceber que suspender o curso do prazo prescricional é melhor ou pior para o réu? É pior, 
porque vou ter mais tempo para punir (o Estado vai ter mais tempo para me punir). Então a lei 
é mais grave do que eu tinha antes. 
 Na parte do direito penal material eu posso dizer que suspender o prazo é uma lei mais 
gravosa do que a lei velha. Se ela é mais gravosa, eu posso retroagir? Eu posso aplicar para 
um processo que está em curso? Não. Ela só pode ser aplicada para novos fatos. 
 No dia que a lei entrou em vigor aplica o art. 366 ou não? Os juízes aplicaram de tudo. 
Teve juiz que aplicou o artigo por inteiro, teve juiz que não aplicou nada e teve juiz que cortou a 
regra no meio (aplicou a parte processual e não aplicou a parte de direito material) à depois de 
muita discussão o que prevaleceu no STJ, prevaleceu o seguinte critério de interpretação da 
regra. O primeiro critério de uma regra de conteúdo misto e variado disse o STJ é manter a 
unidade do dispositivo (do artigo). 
Ana	
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  Cagliari	
  
 O STJ disse que devo manter o dispositivo, por que ele entendeu que o juiz é ser 
humano e ser humano é criativo por natureza. E se deixar que um juiz pegue uma regra e diga 
que vai aplicar um pedaço dela e outro não, se dá para imaginar o que vem depois disso aí. 
Abriu a porteira ninguém segura mais. 
 Se eu tenho que manter a unidade do dispositivo, eu não posso separar uma coisa da 
outra, o que vai prevalecer na interpretação? Evidente que vai prevalecer a parcela de direito 
penal material, porque ela é mais severa que as regras de processo. 
 O Direito Penal material ele é o principal e o processo é o acessório. 
 Como é que vou interpretar uma regra de conteúdo misto ou variado? Eu vou olhar só 
para a parcela de direito penal, vou desconsiderar a parcela de direito processual. Olhando só 
para a parcela de direito penal material eu vou verificar se é melhor ou pior para o réu em 
relação a matéria, e vou aplicar o critério de interpretação de uma lei nova de direito pena 
material. Se for melhor ela retroage e o processo aplica junto. Se for pior, só para novos fatos e 
o processo também. Para onde for o direito penal vai o processo junto. 
 Então nesse art. 366 do CPP, a parcela do direito penal ela é mais gravosa para o réu, 
porque amplia o prazo prescricional. Se é mais gravosaquem acertou lá em 96 foi o juiz que 
não aplicou e continuou aplicando a lei velha. A lei velha tinha um problema, ela era 
inconstitucional, mas aí a solução era outra. A solução era declarar a inconstitucionalidade 
daquela regra e dizer que ela violava a ampla defesa e resolve por ali, mas eu não podia 
aplicar a lei nova. 
 Acertaram os juízes que só aplicaram esse art. 366 na nova redação para novos crimes 
que ocorreram a partir de sua vigência, e continuaram aplicando até os processos que já 
estavam em curso, nos crimes que ocorreram antes de 17/04/1996. 
 Em síntese podemos dizer assim, regra de conteúdo misto ou variado interpretam como 
se fosse regra de direito penal material. 
 
v Regra Processual com Conteúdo Material. 
 Regra 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
   
 
 
 
 
 A regra aqui inteira é de direito processual penal, só que ela tem conteúdo de direito 
penal. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
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 Exemplo: regras que regulamentam a prisão preventiva. 
 Regras que regulamentam prisão preventiva são regras de processo. Porque prisão 
preventiva não decorre de uma sentença, decorre de uma necessidade. Visa a cautelar uma 
situação de momento. Então ela é uma medida cautelar processual. E ela é cheia de regras. 
 Para decretar a prisão preventiva o juiz tem que observar regras que regulamentam que 
dizem quando pode fazer isso. Se ele viola a regra que prevê a prisão preventiva a 
consequência é a não validade da decretação da prisão. 
 Então observar ou não observar uma regra que regulamenta a prisão preventiva gera a 
validade ou não validade da prisão em si. 
 O critério de Figueiredo Dias nos permite dizer que esta é uma regra processo penal. 
Mas o cara vai preso, não está punindo o cara de certa forma? É uma regra processual, só que 
tem um conteúdo material. 
 2011 no Brasil foi alterado o código de processo penal justamente neste ponto, naquela 
regra que dizia qual tipo de crime eu posso decretar prisão preventiva e qual não posso. 
Porque a prisão preventiva não cabe para qualquer caso. O critério até 2011 era um, a partir de 
2011 passou a ser outro critério. Mudou a lei. 
 Qual era o critério mínimo para decretar prisão preventiva na lei de 1941 até 2011? Só 
caiba prisão preventiva em crime doloso punido com reclusão. 
 Crimes mais graves à punidos com reclusão. 
 Crimes menos graves à punidos com detenção. 
 Na cadeia reclusão e detenção é tudo igual. Qual a diferença então? A diferença é mais 
processual do que penal. O processo penal usa o critério reclusão e detenção para estabelecer 
algumas possibilidades processuais para um tipo de crime para outro não. Por exemplo, 
intercepção de comunicação telefônica, não cabe para todo crime. Só cabe para crime punido 
com reclusão. 
 Nos crimes punidos com detenção eu não posso nem com autorização judicial fazer 
interceptação de comunicação telefônica, gravar uma conversa de duas pessoas sem que elas 
saibam. Mas se é punido com reclusão então pode. Esse era o critério da lei até 2011, tinha 
que ser doloso punido com reclusão. 
 Em 2011 muda a lei. O critério que passa ser agora é que o continua sendo doloso (aqui 
não mudou), porém agora eu não discuto mais reclusão ou detenção. O critério novo é que o 
crime tem que ter uma pena máxima prevista em abstrato na lei superior a 4 anos. 
Até 4 anos tanto faz reclusão ou detenção, não cabe prisão preventiva. 
 Acima de 4 anos tanto faz pena de reclusão ou detenção cabe prisão preventiva. Então 
vários crimes que permitiam prisão preventiva até 2011 porque a pena era de reclusão, não 
permitem mais porque a pena máxima é igual ou menor do que 4 anos. 
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à Regras de processo penal com conteúdo material devem ser interpretadas como se fosse 
direito penal material (posição dominante) 
 
Ø Como saber se eu estou diante de uma regra com conteúdo material. 
 Tem dois doutrinadores de leitura mais moderna que usam critérios que não dá para usar, 
estão errados. 
 - Aury Lopes Jr à para ele não tem diferença nenhuma, regra de direito penal e regra de 
processo, para ele é tudo igual. Para ele toda regra de processo tem conteúdo material à toda 
regra de processo deve ser interpretada de direito material (não dá para usar esse critério). 
 - Luiz Flávio Gomes à para ele toda regra de processo cujo conteúdo toque em direitos e 
garantias do cidadão, do art. 5º da CF, tem conteúdo material. O problema do critério de Luiz 
Flávio está na própria frase, direito e garantia. Direito é material e garantia é processual. 
 
ü Rito Comum Ordinário. 
• Lei Velha. 
1. MP fornecendo a denúncia. 
2. Juiz recebe. 
3. Citação. 
4. Interrogatório. 
5. Defesa prévia. 
6. Audiência inquirição MP. 
7. Audiência inquirição testemunha defesa. 
8. Alegações finais. 
9. Sentença. 
 
• Lei Nova. 
1. MP fornecendo a denúncia. 
2. Juiz recebe. 
3. Citação. 
4. Resposta técnica. 
5. Absolvição sumária (possibilidade). 
6. Audiência de Instrução e Julgamento: 
a) Ouvir vítima. 
b) Ouvir testemunhas do MP. 
c) Ouvir testemunhas defesa. 
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d) Interrogatório do réu. 
7. Alegações finais. 
8. Sentença. 
 
 No rito da lei velha o interrogatório do réu é o primeiro ato de instrução. Já na lei nova o 
interrogatório do réu está lá no fim. 
 Na velha lei interrogava o réu e depois ouvia as testemunhas. Na lei nova primeiro ouço as 
testemunhas para depois interrogar o réu. 
 A lei nova ao deslocar o interrogatório de primeiro ato de instrução para o último ato de 
instrução, ela ampliou a defesa. Para o réu é melhor falar depois. 
 A lei nova é mais benéfica para o réu, ela ampliou a defesa. 
 Agora usa o critério do Aury e usa o critério do Luiz Flávio e vê o que acontece na prática. 
 Na prática significa dizer, vamos anular todos os processos que existiram na história do país. 
 Então como é que eu sei que estou diante de uma regra com conteúdo material? Uso o 
critério do Figueiredo Dias. Se o conteúdo de fato tocar no direito punitivo é direito penal, se 
não, não. 
 
 
 
 
INTERPRETAÇÃO DA REGRA DE PROCESSO NO 
ESPAÇO E UTILIZAÇÃO DO CÓDIGO DE PROCESSO 
 
 O art. 1º. do CPP trás uma regra que decorre do problema que Getúlio Vargas enfrentava 
que era o fato de cada Estado da Federação tinha o seu código de processo penal. E ele então 
unifica a legislação. 
 
Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo território brasileiro, por este código. 
 
 Este código aplica-se em todo território brasileiro, com algumas ressalvas, diz o legislador 
relacionadas: 
 
I – Os tratados, as convenções e regras de direito internacional. 
 
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 Então o Brasil é signatário de vários tratados, de várias convenções que submete a regra do 
direito internacional. 
 Vários desses tratados tratam inclusive de matéria processual penal. E um deles é bastante 
importante para o processo que é a: 
ü Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica) – Decreto 
678/92. 
 Essa convenção trás várias regras de processo penal, por isso ela é bastante destacada. 
 O STF interpreta a Convenção dizendo que a Convenção Americana, ela está entre a 
Constituição e o Código de Processo Penal, hierarquicamente falando em termos de 
importância. Então está acima do Código de Processo Penal e um degrau abaixo da 
Constituição. 
 Então nós podemos fazer em relaçãoao Código de Processo Penal tanto um controle de 
constitucionalidade como um controle de convencionalidade. 
 Um exemplo prático para a importância da convenção e como ela se sobrepõe até o código 
de processo é a Audiência de Custódia. 
 Se for procurar no código de processo penal sobre audiência de custódia não vai achar nada 
a respeito dela. Não existe uma regra no código de processo. 
 Já na Convenção Americana de Direitos Humanos está lá um disciplinado que quem foi 
preso em flagrante delito tem o direito de ser apresentado a um juiz, imediatamente 
apresentado a um juiz. 
 Então até o final do ano passado, começo desse ano (2016), nunca demos muita bola para a 
Convenção Americana no Brasil nesse ponto. E era da tradição interpretativa brasileira não 
exigir que o preso em flagrante delito fosse imediatamente apresentado a um juiz. O código 
trabalha com a interpretação a um delegado de polícia. E o delegado quando muito comunica 
ao juiz em 24 horas que alguém foi preso. Mas a pessoa que foi presa não era apresentada 
para se entrevistar com o juiz. 
 Então o Pacto de San José diz que as pessoas tem o direito de serem apresentadas a um 
juiz. Por isso começou um movimento há mais ou menos um ano e meio para fazer valer a 
Convenção. 
 Ainda que eu não tenha uma regra no Código a Convenção diz isso a respeito e portanto se 
começou um movimento nesse sentido, que foi acolhido pelo CNJ (Conselho Nacional de 
Justiça) que resolveu disciplinar como é que esse negócio vai ser feito. 
 Cada Estado da Federação está criando regras a respeito disso aí, o que é perigoso, o ideal 
seria ter uma lei. 
 Já estão fazendo a audiência de custódia porém com uma dificuldade de ajuste para fazer 
funcionar, pois não foi feito um cargo de juiz só para fazer isso. 
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Falta estrutura mas tem que fazer. 
 O Código não se aplica quando colide com uma convenção de natureza internacional com a 
qual o Brasil é signatário à isso que está dizendo o art. 1º do CPP em última análise. 
 O Código também não se aplica. 
 
II - As prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de estado, 
nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do supremo tribunal 
federal, nos crimes de responsabilidade. 
 
 Isso aqui na verdade é infração política, não é crime propriamente dito. Quando ele fala de 
crime de responsabilidade ali está se referindo a ação de natureza política, é o famoso 
processo de impeachment, regulado por uma lei da década de 50. 
 Então no processo de impeachment você não usa o código de processo penal, você usa a 
lei especial que regulamenta o processo de impeachment. 
 O inciso III também excepciona o uso do código de processo penal para: 
 
III – Os processos da competência da justiça militar. 
 
 Essa é uma regra de 1941, permanece vigente ainda hoje porque saindo de ditadura 
militar, lá na década de 80, caminhamos para uma redemocratização do país um dos acordos 
que foi feito para que a coisa fosse uma transição não bélica, foi que os militares não abriram 
mão de manter a sua justiça. Então esse acordo vai afrontar. A constituição brasileira manteve 
a Idea de uma justiça militar à existe um código de processo militar. 
 Os processos de competência da justiça militar você não usa o código de processo 
penal, você usa o código de processo penal militar. 
 O inciso V, regra lá de 1941 fala que eu não uso o código de processo penal para: 
 
 V – Os processos por crime de imprensa. 
 
 Esse inciso V tem que ser hoje em conjunto do parágrafo único do art. 1º. 
 
Parágrafo único – aplicar-se-á, entretanto, este código aos processos referidos nos ns. IV e 
V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso. 
 
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 Na conjugação do inciso V com o parágrafo único interpreta-se esse inciso V hoje como 
relacionado a qualquer lei especial preveja um rito especial que não apenas a belíssima lei de 
imprensa. 
 Então qualquer lei especial hoje traga um regramento de processo penal, a lei especial 
prepondera sobre o código de processo penal e poderá ser usado subsidiariamente naquilo 
que não conflitar com o código de processo penal. 
 Então, se tem várias leis especiais que trazem regramentos de processo penal e elas 
estão então são usadas preferencialmente em relação ao código. 
àExemplo: Lei 9.099/95 – Lei que regulamenta os juizados especiais criminais. Trás 
todos um regramento diferente de como funciona o processo no juizado especial. Lá tem a 
chamada transação penal, a possibilidade do promotor fazer um acordo com um autor do delito 
e não processá-lo. Tem também regras da suspensão do processo. Enfim, tudo isso está 
naquela lei, no código não vai achar. Usa aquela lei e o código só se aplica subsidiariamente. 
 
Art. 3º. A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem 
como o suplemento dos princípios gerais do direito. 
 
 
v Regras de interpretação quanto ao alcance. 
 
• Interpretação Declarativa. 
 É aquela que não exige nenhum esforço do interprete, é a regra clara. 
 Exemplo: no futebol, a bola caiu dentro da área é pênalti, caiu fora da área não é pênalti. 
 
• Interpretação Extensiva. 
 Amplia o alcance da regra na hora de interpretar, porque o legislador acabou sendo de certa 
forma econômico na redação da lei. Esqueceu de regrar alguma coisa que deveria ter regrado. 
 Como ele não lembrou e aquilo que ele não lembrou é igual aquilo que ele lembrou, você que 
está interpretando a lei pode fazer uma interpretação que amplie, estenda o alcance da regra 
para que ela venha tutelar também aquela situação que ela não regrou. Então na hora de 
interpretar você amplia o alcance da regra. 
 Exemplo: no art. 581 do CPP trata de um recurso chamado Recurso em sentido estrito e diz: 
“caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: I – que não receber a 
denúncia ou a queixa.” Se a gente lembrar da aula passada foi passado um rito comum 
ordinário. E ali como é que funcionava então o processo à O promotor oferece a denúncia. O 
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próximo passo é o juiz decidir se recebe ou não recebe essa denúncia. Se ele recebe ele 
começa o processo, citação e vai para frente. Se ele não recebe acaba ali. 
 O juiz pode não receber a denúncia? Pode. O que o juiz vai analisar para decidir se recebe ou 
não recebe a denúncia? Ele vai analisar se o promotor observou as condições para o exercício 
da ação (denúncia é a materialização da ação). A ação direito de evocar a tutela do Estado tem 
condições para fazer isso. Se ele não observou essas condições, o juiz diz: bom, você não 
poderia ter exercitado a ação porque você não observou as condições. Você não tinha 
condições para fazer isso. Então eu não recebo a denúncia. O promotor pode querer discutir 
isso, e como discutir? Através de um recurso do Tribunal de Justiça. Então se o juiz não recebe 
a denúncia, o que entende ele juiz? Promotor não tinha as condições exigidas para fazer. E o 
promotor entende ao contrário, que o juiz errou na análise, que na verdade tinha essas 
condições. Promotor recorre dessa decisão, de não receber a denúncia. E quem vai dizer 
quem tem razão é o Tribunal de Justiça. 
 Nós temos uma situação agora no processo que é a possibilidade do promotor tendo 
oferecido uma denúncia, o juiz ter recebido essa denúncia. O processo está em curso e o 
promotor no meio do processo (desde que antes da sentença) atravessa uma petição fazendo 
um aditamento a denúncia (aditamento vem do verbo aditar que é somar, acrescentar).Então o 
promotor ele pode (a lei permite) que ele atravesse uma petição a qualquer momento desse 
para acrescentar alguma coisa que ficou faltando da denúncia por variadas razões. Por 
exemplo, ele sabe que foram duas pessoas que cometeram o crime, mas até agora só foi 
identificada uma delas, a outra pessoa ninguém sabe o nome dela, nem identificação dela, nem 
nada. Então o promotor ofereceu a denúncia apenas aquela que ele sabia quem era. Dizendo 
que o crime foi cometido por duas pessoas, a outra não identificada. Passa um tempo e se 
descobre quem era essa outra pessoa. Aí o promotor atravessa uma petição no meio do 
processo e diz: olha, vim aditar a denúncia para dizer que aquela outra pessoa que eu não 
sabia quem era, é fulano e denuncia ele também. Pode acrescentar um novo fato, pode 
acrescentar um novo réu, pode reescrever o fato... Quando ele faz isso ele submete a uma 
apreciação do juiz. E o juiz vai decidir se recebe ou não recebe o aditamento a denúncia. Que 
tipo de análise o juiz vai fazer para decidir se recebe ou não o aditamento à denúncia? A 
mesma análise que ele fez quando resolveu decidir pelo recebimento da denúncia. 
 Se a natureza da decisão, que decide receber ou não receber o aditamento à denúncia é 
exatamente igual a natureza da decisão que decide não receber eventualmente a própria 
denúncia, ainda que não esteja escrito na lei que cabe recurso da decisão que não receber o 
aditamento à denúncia, que não esta escrita ali porque o legislador esqueceu, você pode usar 
essa regra para interpor um recurso em sentido estrito da decisão que eventualmente não 
recebeu o aditamento. Fazendo uma interpretação extensiva do inciso I. Você vai ler o inciso 
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primeiro de uma maneira a dizer que ele alcança também a decisão que não recebeu o 
aditamento ainda. 
 Interpretar extensivamente, portanto é pegar uma regra e aplicar uma situação que não está 
nela expressamente regrada, que deveria estar. 
 
• Interpretação restritiva. 
 Nessa interpretação você tem o legislador que acabou exagerando na hora de regrar. Ele 
regrou de forma tal que a regra ficou muito ampla. 
 Na hora de interpretar essa regra vai diminuir o alcance da regra pela via de interpretação. 
 Nesse caso o legislador disse mais do que deveria ter dito. 
 Na interpretação vai restringir o alcance de aplicação daquela regra. 
 Exemplo: o art. 312 do CPP diz que eu posso decretar prisão preventiva como garantia da 
ordem pública. Já vimos que tinha que ser crime doloso, pena superior a 4 anos e agora tem 
que ter além disso ser também por uma finalidade. Qual finalidade? Garantia da ordem pública. 
 O que é ordem pública? Então, é uma expressão muito aberta. 
 O Mirabete quando vai falar de ordem pública ele não faz interpretação restritiva, ao contrário, 
ele encaixa tudo e mais um pouco nesse conceito, que é um conceito aberto do tamanho de 
um bonde. Dizendo Mirabete que eu posso decretar prisão preventiva como forma de dar 
credibilidade à justiça. Essa não é uma interpretação restritiva, e aí o que a jurisprudência 
recomenda é que, pera aí, isso aí não dá. O legislador aqui exagerou, a expressão é muito 
aberta. Então, você que está interpretando isso vai ter que dar um jeito de diminuir o alcance 
disso aí porque senão você encaixa tudo, vai prender todo mundo. É um conceito muito aberto. 
Então na interpretação você restringe o alcance não admitindo a interpretação que Mirabete 
dá. 
 O que se admite muito hoje jurisprudencialmente falando é que quando você tem um dado 
concreto no processo e evidencia o sujeito em liberdade com destinos para reinterar o 
comportamento antigo. 
 A lei não diz quando usar interpretação extensiva e interpretação restritiva. Há alguns critérios 
de orientação para quando usar uma e quando usar outra. Um desses critérios, que parece 
bem interessante para o professor, e é dado pelo código canônico da igreja católica. 
 A igreja católica tem um código que regulamenta como é que funciona o processo penal 
canônico. Lá eles punem padre. E lá tem uma regra dizendo assim: “Toda vez que você estiver 
diante de uma regra que regulamente um direito, você pode interpretá-la extensivamente.” 
“Toda vez que você estiver diante de uma regra que limite o direito, você deve interpretá-la 
restritivamente.” Não resolve tudo, mas organiza . 
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 O art. 3º do CPP, ele só faz menção a interpretação extensiva. Mesmo não estando escrito ali 
você pode fazer tanto uma interpretação declarativa como restritiva. 
 O art. 3º também faz menção a aplicação analógica. Aplicação analógica que engloba tanto a 
analogia o que é bem parecida com a interpretação extensiva. 
 Interpretação extensiva eu tenho uma regra e eu pego essa regra e estendo o alcance dela. 
 Interpretação analógica eu não tenho regra, não está regrado o assunto. Mas tem uma regra 
em outro lugar, não ali. Então você pode buscar lá e aplicar aqui. Você tem uma lacuna, a ideia 
é de preencher a lacuna interpretativa. 
 Por exemplo, nós temos o art. 621 do CPP que trata da chamada Revisão Criminal. A 
Revisão Criminal é uma ação que pode usar depois de esgotado todos os recursos, dentro de 
alguns critérios para tentar desconstituir coisa julgada. Acabou o processo, o sujeito foi 
condenado. Cabe Revisão Criminal em alguns casos. Por exemplo, inciso III, art. 621. 
 
Art. 621, III – Quando após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do 
condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena. 
 
 Exemplo: então o sujeito foi condenado, acabou o processo, esgotado os recursos, está 
cumprindo pena. Imagine que você é o advogado e uma família inteira vai te procurar no seu 
escritório contando a seguinte história. A mulher lá do sujeito condenado diz que eles foram 
procurá-lo porque o marido foi condenado injustamente diz ela. Mas já foi condenado? Já. Mas 
está em fase de recurso o processo? Não senhor. Acabou tudo, nós perdemos tudo, fomos até 
Brasília não teve jeito. Acabou tudo e agora ele está cumprindo pena. Então porque vocês só 
me procuraram agora? Porque aconteceu o seguinte doutor, nós trouxemos aqui essas 
pessoas, essas 4 pessoas aqui para o doutor ouvir porque essas pessoas elas sabem na 
verdade que meu marido é inocente porque elas viram o crime quando ocorreu, inclusive elas 
sabem dizer quem foi que cometeu esse crime, e não foi o meu marido. E elas querem falar 
agora. Mas elas não falaram durante o processo? Não, porque tinham medo, não queriam se 
envolver. Mas daí viram que meu marido foi condenado e aí não conseguiam dormir mais com 
peso na consciência, porque eles sabem que meu marido é inocente. Então eu trouxe eles aí 
para o doutor dá um jeito nesse negócio. Então você lembra das aulas da faculdade e sabe 
que a saída é a Revisão Criminal. Porque surgiu uma prova nova, melhor do que aquelas que 
foram usadas, capaz de alterar o quadro probatório e reverter a condenação. Só que você abre 
o código de processo e está escrito nele que você tem que ter uma nova prova de inocência. Aí 
tem um problema técnico, que é como transformar a palavra dessas 4 pessoas que estão ali no 
meu escritório em prova testemunhal pré-constituída (pré-constituída porque a ação de 
Revisão Criminal, ela não admite instrução probatória). Eu não posso peticionar no tribunal 
Ana	
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dizendo, reintero que se sejam ouvidas as testemunhas arroladas... ou você tem a prova pronta 
já na mão ou então nem perca seu tempo. 
 E aí você vai ler o código inteiro tentando achar onde que está a saída, e você não 
encontra. O Código não diz como fazer para

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