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Informativo 897-STF (18/04/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
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 Informativo 897-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
TRIBUNAL DE CONTAS 
 Competência do TCU para fiscalizar a Fundação Banco do Brasil somente quanto aos recursos oriundos do Banco do 
Brasil. 
 
ORDEM ECONÔMICA 
 Lei estadual pode conceder meia-entrada em eventos culturais e desportivos para menores de 21 anos. 
 
DIREITO PENAL 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
 Crimes tributários e o limite de 20 mil reais. 
 
FURTO 
 Sistema de vigilância em estabelecimento comercial não constitui óbice para a consumação do furto. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
RECURSOS 
 Tempestividade do recurso interposto antes da decisão recorrida ter sido publicada. 
 
HABEAS CORPUS 
 Relator pode determinar, de forma discricionária, que HC seja julgado pelo Plenário do STF (e não pela Turma). 
 A superveniência da sentença condenatória faz com que o habeas corpus impetrado anteriormente fique 
prejudicado. 
 
EXECUÇÃO PENAL 
 Impossibilidade de transferência do apenado para outro Estado da Federação sob a alegação de que estaria 
recebendo tratamento privilegiado. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
TRIBUNAL DE CONTAS 
Competência do TCU para fiscalizar a Fundação Banco do Brasil 
somente quanto aos recursos oriundos do Banco do Brasil 
 
Não compete ao TCU adotar procedimento de fiscalização que alcance a Fundação Banco do 
Brasil quanto aos recursos próprios, de natureza eminentemente privada, repassados por 
aquela entidade a terceiros, eis que a FBB não integra o rol de entidades obrigadas a prestar 
contas àquela Corte de Contas, nos termos do art. 71, II, da CF. 
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Informativo 897-STF (18/04/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
A FBB é uma pessoa jurídica de direito privado não integrante da Administração Pública. 
Assim, a FBB não necessita se submeter aos ditames da gestão pública quando repassar 
recursos próprios a terceiros por meio de convênios. 
Por outro lado, quando a FBB recebe recursos provenientes do Banco do Brasil — sociedade 
de economia mista que sofre a incidência dos princípios da Administração Pública previstos 
no art. 37, caput, da Constituição Federal, — ficará sujeita à fiscalização do TCU. Isso porque, 
neste caso, tais recursos, como são provenientes do BB, têm caráter público. 
STF. 2ª Turma. MS 32703/DF, Rel. Min. Dias Tóffoli, julgado em 10/4/2018 (Info 897). 
 
Fundação Banco do Brasil 
O Banco do Brasil (BB) é uma sociedade de economia mista federal. 
Em 1986, o Banco do Brasil instituiu uma fundação privada, denominada “Fundação Banco do Brasil” (FBB). 
A FBB persegue finalidades privadas. Ela não desempenha função exclusiva da Administração. Não exerce 
atribuição pública. Seus objetivos estão listados no art. 2º do seu Estatuto Social, destacando-se: “a 
promoção, apoio, incentivo e patrocínio de ações no domínio educacional, cultural, social, filantrópico, 
recreativo/esportivo, de fomento a atividades de pesquisa científico-tecnológica e assistência a 
comunidades urbano-rurais.” 
A FBB apoia, com dinheiro, projetos sociais voltados ao desenvolvimento sustentável, à inclusão 
socioprodutiva e à reaplicação de tecnologia social. São transferidos recursos para instituições sem fins 
lucrativos por meio da celebração de convênios ou contratos. 
 
O TCU tem competência para fiscalizar o Banco do Brasil? 
SIM. O Banco do Brasil integra a Administração Pública federal indireta e, portanto, está sujeito à 
fiscalização do TCU, nos termos do art. 71, II, da CF/88: 
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal 
de Contas da União, ao qual compete: 
(...) 
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores 
públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e 
mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou 
outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público; 
 
O TCU tem competência para fiscalizar a Fundação Banco do Brasil? 
Em regra, não deveria ter. Isso porque como se trata de uma fundação de caráter privado, em regra, ela 
não está sujeita à fiscalização do TCU nem se submete aos princípios e à legislação aplicáveis à 
Administração Pública. 
Como fundação de direito privado, a FBB está, em regra, submetida apenas à fiscalização do Ministério 
Público estadual, nos termos do art. 66 do Código Civil: 
Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas. 
 
Quando a FBB for transferir dinheiro para alguma entidade social, de pesquisa etc., precisará observar 
os princípios que regem a Administração Pública (ex: a Lei nº 8.666/93)? Essa transferência está sujeita 
à fiscalização do TCU? 
Depende. É necessário analisar a natureza jurídica do recurso transferido pela FBB (se são recursos 
públicos ou eminentemente privados) para que se possa aferir, com exatidão, a necessidade de submissão 
aos princípios norteadores da gestão pública e, consequentemente, ao crivo do controle externo. 
 
 
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A situação é, portanto, a seguinte: 
• se os recursos que a FBB estiver transferindo para terceiros forem provenientes do Banco do Brasil ou 
de alguma outra entidade do poder público (o BB transferiu esses recursos para a FBB e agora a FBB está 
repassando para terceiros): haverá fiscalização do TCU. Isso porque, neste caso, tais recursos, como são 
provenientes do BB, têm caráter público. 
• se os valores que a FBB estiver transferindo forem “recursos próprios” (excluídas as dotações que recebe 
do Banco do Brasil): não haverá fiscalização do TCU porque a FBB não é uma entidade da Administração 
Pública. Logo, se são recursos eminentemente seus (recursos próprios), a verba é privada. 
 
A FBB não poderia ser considerada como uma fundação instituída e mantida “pelo Poder Público 
federal”, atraindo sempre a fiscalização do TCU com base no art. 71, II, da CF/88? 
NÃO. Isso porque o STF entende que o Banco do Brasil, apesar de integrar a Administração Pública federal, 
não pode ser considerado como “poder público”: 
O Banco do Brasil, entidade da Administração Indireta dotada de personalidade jurídica de direito privado, 
voltada à exploração de atividade econômica em sentido estrito, não pode ser concebida como poder 
público. 
STF. Plenário. MS 24427, Rel. Min. Eros Grau, DJ 24/11/06. 
 
Logo, a FBB consiste em entidade privada não instituída pelo poder público. 
 
Em suma: 
Não compete ao TCU adotar procedimento de fiscalização que alcance a Fundação Banco do Brasil 
quanto aos recursos próprios, de natureza eminentemente privada, repassados por aquela entidade a 
terceiros, eis que a FBB não integra o rol de entidades obrigadas a prestar contas àquela Corte de Contas, 
nos termos do art. 71, II, da CF. 
A FBB é uma pessoa jurídica de direito privado não integrante da Administração Pública. Assim, a FBB 
não necessita se submeter aos ditames da gestão pública quando repassar recursos próprios a terceiros 
por meio de convênios. 
Por outro lado, quando a FBB recebe recursos provenientes do Banco do Brasil — sociedade de 
economia mista que sofre a incidência dos princípios da Administração Pública previstos no art. 37, 
caput, da Constituição Federal,— ficará sujeita à fiscalização do TCU. Isso porque, neste caso, tais 
recursos, como são provenientes do BB, têm caráter público. 
STF. 2ª Turma. MS 32703/DF, Rel. Min. Dias Tóffoli, julgado em 10/4/2018 (Info 897). 
 
 
ORDEM ECONÔMICA 
Lei estadual pode conceder meia-entrada em eventos 
culturais e desportivos para menores de 21 anos 
 
É constitucional lei estadual que concede o desconto de 50% no valor dos ingressos em casas 
de diversões, praças desportivas e similares aos jovens de até 21 anos de idade. 
STF. Plenário. ADI 2163/RJ, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado 
em 12/4/2018 (Info 897). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
A Lei nº 3364/2000, do Estado do Rio de Janeiro, assegura o desconto de 50% no valor dos ingressos em 
casas de diversões, praças desportivas e similares aos jovens de até 21 anos de idade (Lei da Meia Entrada). 
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Em 2006, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) ajuizou ADI contra essa Lei afirmando que ela seria 
formal e materialmente inconstitucional. 
 
O STF concordou com os argumentos do autor? Essa Lei é inconstitucional? 
NÃO. 
 
Formalmente constitucional 
Sob o prisma formal, o STF considerou constitucional a lei impugnada, uma vez que tanto a União quanto 
os Estados-membros e o Distrito Federal podem atuar sobre o domínio econômico, por possuírem 
competência concorrente para legislar sobre direito econômico, nos termos do art. 24, I, da CF/88: 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: 
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; 
 
Ademais, diante da inexistência de lei federal sobre a matéria, o ente exerceu a competência legislativa 
plena para atender às suas peculiaridades: 
Art. 24 (...) 
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa 
plena, para atender a suas peculiaridades. 
 
Materialmente constitucional 
A constitucionalidade material também foi reconhecida. 
A Constituição elenca os fundamentos e objetivos da República Federativa do Brasil em seus arts. 1º e 3º. 
No entanto, para a realização desses fundamentos e objetivos, é necessária a atuação do Estado sobre o 
domínio econômico. 
Se de um lado a CF/88 assegura a livre iniciativa, de outro determina ao Estado que adote providências 
para garantir o efetivo exercício do direito à educação, à cultura e ao desporto (arts. 23, V; 205; 208; 215 
e 217, § 3º, da CF/88). Na composição entre esses princípios e regras, há de ser preservado o interesse da 
coletividade. 
 
Esse critério etário, ou seja, conceder meia-entrada para todo mundo que for menor que 21 anos, é válido? 
SIM. A lei é constitucional porque facilita o acesso dos jovens à cultura, à educação e a atividades 
desportivas. 
“Entendo que essa é uma lei evidente e eminentemente inclusiva. Tem como alvo o jovem que 
tradicionalmente não flui dessas regalias. O jovem excluído do sistema educacional”, disse o então 
Ministro Joaquim Barbosa, que participou do julgamento. 
O Ministro Ricardo Lewandowski defendeu que, nesse caso, é legítima a intervenção do Estado no domínio 
econômico. “Aqui me parece que o legislador estadual foi generoso porque ele quer também dar acesso 
ao lazer e à cultura aos jovens em geral, mesmo aqueles que não tiveram o privilégio de ter ido à escola 
ou que possam ir à escola. São aqueles jovens que trabalham, que não têm lazer, não têm cultura”. 
 
Em suma: 
É constitucional lei estadual que concede o desconto de 50% no valor dos ingressos em casas de 
diversões, praças desportivas e similares aos jovens de até 21 anos de idade. 
STF. Plenário. ADI 2163/RJ, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 
12/4/2018 (Info 897). 
 
Outro precedente no mesmo sentido envolvendo uma Lei do Estado de São Paulo: 
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(...) 1. É certo que a ordem econômica na Constituição de 1.988 define opção por um sistema no qual joga 
um papel primordial a livre iniciativa. Essa circunstância não legitima, no entanto, a assertiva de que o 
Estado só intervirá na economia em situações excepcionais. 
2. Mais do que simples instrumento de governo, a nossa Constituição enuncia diretrizes, programas e fins 
a serem realizados pelo Estado e pela sociedade. Postula um plano de ação global normativo para o Estado 
e para a sociedade, informado pelos preceitos veiculados pelos seus artigos 1º, 3º e 170. 
3. A livre iniciativa é expressão de liberdade titulada não apenas pela empresa, mas também pelo trabalho. 
Por isso a Constituição, ao contemplá-la, cogita também da "iniciativa do Estado"; não a privilegia, 
portanto, como bem pertinente apenas à empresa. 
4. Se de um lado a Constituição assegura a livre iniciativa, de outro determina ao Estado a adoção de todas 
as providências tendentes a garantir o efetivo exercício do direito à educação, à cultura e ao desporto 
[artigos 23, inciso V, 205, 208, 215 e 217 § 3º, da Constituição]. Na composição entre esses princípios e 
regras há de ser preservado o interesse da coletividade, interesse público primário. 
5. O direito ao acesso à cultura, ao esporte e ao lazer, são meios de complementar a formação dos 
estudantes. 
6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. 
STF. Plenário. ADI 1950, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 03/11/2005. 
 
Leis federais posteriores 
Depois que esta Lei do Estado do Rio de Janeiro foi publicada (2000), o Congresso Nacional editou duas 
leis que tratam sobre meia-entrada em eventos culturais e desportivos. 
 
Lei nº 12.933/2013 
Concede meia-entrada em espetáculos artístico-culturais e esportivos a: 
a) Estudantes (educação infantil, ensino fundamental, médio e superior, inclusive especialização, 
mestrado e doutorado); 
b) Pessoas com deficiência, inclusive seu acompanhante quando necessário (ex: um cego que vai ao 
cinema acompanhado de uma pessoa para ler as legendas para ele; nesse caso, ambos terão direito à 
meia-entrada); 
c) Jovens de 15 a 29 anos de idade de baixa renda, inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do 
Governo Federal (CadÚnico) e cuja renda familiar mensal seja de até 2 (dois) salários mínimos; 
d) Idosos, ou seja, pessoas com idade igual ou superior a 60 anos (art. 23 da Lei 10.741/2003). 
 
Lei nº 12.852/2013 (Estatuto da Juventude) 
Assegura o direito à meia-entrada em eventos educativos, esportivos, de lazer e entretenimento: 
• aos estudantes; e 
• aos jovens de famílias de baixa renda (a família deve estar inscrita no Cadastro Único para Programas 
Sociais do Governo Federal - CadÚnico e ter renda mensal de até 2 salários mínimos). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO PENAL 
 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
Crimes tributários e o limite de 20 mil reais 
 
Qual é o valor máximo considerado insignificante no caso de crimes tributários e descaminho? 
20 mil reais (tanto para o STF como para oSTJ) 
Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando 
o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor 
do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 
75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda. 
STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/02/2018 (recurso 
repetitivo). 
STF. 1ª Turma. HC 127173, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão: Min. Roberto Barroso, julgado 
em 21/03/2017. 
 
Cuidado. Neste informativo 897, a 1ª Turma do STF afirmou que esse parâmetro de 20 mil 
reais não poderia produzir efeitos penais em virtude do princípio da independência das 
instâncias: Asseverou que a lei que disciplina o executivo fiscal não repercute no campo penal. 
Tal entendimento, com maior razão, deve ser adotado em relação à portaria do Ministério da 
Fazenda. 
STF. 1ª Turma. HC 128063, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/4/2018 (Info 897). 
Este precedente, contudo, não é a posição majoritária, não sendo recomendável a sua adoção em 
provas. 
 
O princípio da insignificância pode ser aplicado no caso de crimes tributários e no descaminho? 
SIM. É plenamente possível que incida o princípio da insignificância tanto nos crimes contra a ordem 
tributária previstos na Lei nº 8.137/90 como também no caso do descaminho (art. 334 do CP). 
O descaminho é também considerado um crime contra a ordem tributária, apesar de estar previsto no art. 
334 do Código Penal e não na Lei nº 8.137/90. 
 
Existe algum limite máximo de valor para que possa ser aplicado o princípio da insignificância nos crimes 
tributários? 
SIM. A jurisprudência criou a tese de que nos crimes tributários, para decidir se incide ou não o princípio 
da insignificância, será necessário analisar, no caso concreto, o valor dos tributos que deixaram de ser 
pagos. 
 
E qual é, então, o valor máximo considerado insignificante no caso de crimes tributários? 
20 mil reais. 
Assim, se o montante do tributo que deixou de ser pago for igual ou inferior a 20 mil reais, não há crime 
tributário (incluindo descaminho), aplicando-se o princípio da insignificância. 
 
Qual é o parâmetro para se adotar esse valor? 
Esse valor foi fixado pela jurisprudência tendo como base a Portaria MF nº 75, de 29/03/2012, na qual o 
Ministro da Fazenda determinou, em seu art. 1º, inciso II, “o não ajuizamento de execuções fiscais de 
débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil 
reais).” 
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Em outros termos, essa Portaria determina que, até o valor de 20 mil reais, os débitos inscritos como 
Dívida Ativa da União não serão executados. 
Com base nisso, a jurisprudência construiu o seguinte raciocínio: ora, não há sentido lógico permitir que 
alguém seja processado criminalmente pela falta de recolhimento de um tributo que nem sequer será 
cobrado no âmbito administrativo-tributário. Se a própria “vítima” não irá cobrar o valor, não faz sentido 
aplicar o direito penal contra o autor desse fato. 
Vale lembrar que o direito penal é a ultima ratio. Se a Administração Pública entende que, em razão do 
valor, não vale a pena movimentar a máquina judiciária para cobrar a quantia, com maior razão também 
não se deve iniciar uma ação penal para punir o agente. 
 
Esse valor de 20 mil reais é adotado tanto pelo STF como pelo STJ? 
SIM. 
Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito 
tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 
20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério 
da Fazenda. 
STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/02/2018 (recurso 
repetitivo). 
 
O princípio da insignificância deve ser aplicado ao delito de descaminho quando o valor sonegado for 
inferior ao estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, com as atualizações feitas pelas Portarias 75 e 
130, ambas do Ministério da Fazenda. 
STF. 1ª Turma. HC 127173, Relator p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 21/03/2017. 
STF. 2ª Turma. HC 136843, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 08/08/2017. 
 
Até aqui, tudo bem. Qual foi, no entanto, a última “polêmica” sobre o tema? 
Foi divulgado no Informativo 897 um julgado no qual a 1ª Turma do STF afirmou que não se deve aplicar 
o limite de 20 mil reais (valor fixado na Portaria 75/2012). 
Segundo o Min. Marco Aurélio, relator deste julgado, o princípio da insignificância nos crimes tributários 
não deve ter nenhuma relação com a quantia que a Administração Pública considera como sendo de 
pequeno valor para ajuizar a execução fiscal. 
Para o Ministro, “a lei que disciplina o executivo fiscal não repercute no campo penal. Tal entendimento, 
com maior razão, deve ser adotado em relação à portaria do Ministério da Fazenda.” 
O art. 935 do Código Civil estabelece o princípio da independência das esferas civil, penal e administrativa, 
de forma que a repercussão no âmbito penal se dá apenas quando decisão proferida em processo-crime 
declarar a inexistência do fato ou da autoria. 
STF. 1ª Turma. HC 128063, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/4/2018 (Info 897). 
 
Diante disso, muitos leitores indagaram: o que fazer agora? Houve mudança de entendimento do STF? 
O STF deixou de aplicar o limite de 20 mil reais da Portaria 75/2012? 
NÃO. De fato, este julgado (HC 128063) vai contra aquilo que o STF vinha decidindo há anos sobre o tema. 
Isso não significa, contudo, que o STF tenha mudado de posição. 
O que houve, no presente caso, foi uma decisão isolada decorrente de uma ausência temporária de dois 
Ministros na Turma. 
Vamos explicar com calma. 
A 1ª Turma é composta por 5 Ministros: 
 
 
 
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Princípio da insignificância e crimes tributários 
Como julgam os Ministros da 1ª Turma do STF? 
Ministro Adota o critério 
de R$ 20 mil? 
Precedente 
Roberto Barroso SIM STF. 1ª Turma. HC 127173, Relator p/ Acórdão Min. Roberto 
Barroso, julgado em 21/03/2017. 
Luiz Fux SIM STF. 1ª Turma. HC 118067, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 
25/03/2014. 
Rosa Weber SIM STF. 1ª Turma. HC 136984, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 
18/10/2016. 
Marco Aurélio NÃO STF. 1ª Turma. HC 128063, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado 
em 10/4/2018 (Info 897). 
A. de Moraes NÃO STF. 1ª Turma. HC 128063, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado 
em 10/4/2018 (Info 897). 
 
Desse modo, 3 Ministros adotam o critério de R$ 20 mil contra 2 que não o acolhem. 
No dia do julgamento do HC 128063, estavam ausentes os Ministros Roberto Barroso e Luiz Fux. Logo, 2 
Ministros (Marco Aurélio e Alexandre de Moraes) votaram contra a insignificância e uma Ministra (Rosa 
Weber) manifestou-se favoravelmente. 
Se houvesse a presença de mais um Ministro, o resultado teria sido diferente e o HC seria concedido ao 
réu (seja pelo empate, seja pelo placar de 3x2). 
Assim, não se pode dizer, pelo menos não por enquanto, que tenha havido uma mudança de 
entendimento do STF. 
O que ocorreu foi uma decisão contrária à jurisprudência da Corte, em razão da ausência episódica de dois 
Ministros. 
Lamenta-se apenas pela segurança jurídica e pelo réu, que deu “azar” e teve seu habeascorpus julgado 
em um dia no qual dois Ministros favoráveis à tese estavam justificadamente ausentes. Se o processo 
tivesse sido apreciado um dia antes ou depois, talvez o resultado fosse completamente diferente. 
 
 
FURTO 
Sistema de vigilância em estabelecimento comercial não constitui óbice para a consumação do furto 
 
A existência de sistema de vigilância em estabelecimento comercial não constitui óbice para a 
tipificação do crime de furto. 
STF. 1ª Turma. HC 111278/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Roberto Barroso, 
julgado em 10/4/2018 (Info 897). 
 
Súmula 567-STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de 
segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração 
do crime de furto. 
 
Se o agente praticou uma conduta que é descrita na lei como crime, mas o meio que ele escolheu para 
praticar o delito é ineficaz, ele deverá responder pelo delito? Ex.: João, pretendendo matar Pedro, pega 
uma arma que viu na gaveta e efetua disparos contra a vítima; o que João não sabia é que a arma tinha 
balas de festim, razão pela qual Pedro não morreu. O agente responderá por tentativa de homicídio? 
Se o agente praticou uma conduta que é descrita na lei como crime, mas o objeto material (a pessoa ou 
a coisa sobre a qual recai a conduta) é inexistente, ele deverá responder pelo delito? Ex.: João pretende 
matar Pedro; ele avista seu inimigo deitado no sofá e, pensando que este estivesse dormindo, dispara 
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diversos tiros nele; o que João não sabia é que Pedro havia morrido 15 minutos antes, de parada 
cardíaca; João atirou, portanto, em um cadáver, em um corpo sem vida. Logo, não foram os tiros que 
mataram Pedro. O agente responderá por tentativa de homicídio? 
Para discutir as perguntas acima, os estudiosos do Direito Penal desenvolveram algumas teorias tratando 
sobre o “crime impossível”. Vejamos: 
 
1) TEORIA SUBJETIVA. Os que defendem a teoria subjetiva afirmam que não importa se o meio ou o objeto 
são absoluta ou relativamente ineficazes ou impróprios. Para que haja crime, basta que a pessoa tenha agido 
com vontade de praticar a infração penal. Tendo o agente agido com vontade, configura-se a tentativa de 
crime mesmo que o meio seja ineficaz ou o objeto seja impróprio. É chamada de subjetiva porque, para essa 
teoria, o que importa é o elemento subjetivo. Assim, o agente é punido pela sua intenção delituosa, mesmo 
que, no caso concreto, não tenha colocado nenhum bem em situação de perigo. 
 
2) TEORIAS OBJETIVAS. Os que defendem essa teoria afirmam que não se pode analisar apenas o elemento 
subjetivo para saber se houve crime. É indispensável examinar se está presente o elemento objetivo. Diz-
se que há elemento objetivo quando a tentativa tinha possibilidade de gerar perigo de lesão para o bem 
jurídico. Se a tentativa não gera perigo de lesão, ela é inidônea. A inidoneidade pode ser: 
a) absoluta (aquela conduta jamais conseguiria fazer com que o crime se consumasse); ou 
b) relativa (a conduta poderia ter consumado o delito, o que somente não ocorreu em razão de 
circunstâncias estranhas à vontade do agente). 
 
A teoria objetiva se subdivide em: 
2.1) OBJETIVA PURA: para esta corrente, não haverá crime se a tentativa for inidônea (não importa se 
inidoneidade absoluta ou relativa). Enfim, em caso de inidoneidade, não interessa saber se ela é absoluta 
ou relativa, não haverá crime. 
2.2) OBJETIVA TEMPERADA: esta segunda corrente faz a seguinte distinção: 
Se os meios ou objetos forem relativamente inidôneos, haverá crime tentado. 
Se os meios ou objetos forem absolutamente inidôneos, haverá crime impossível. 
 
Qual foi a teoria adotada pelo Brasil? 
A teoria OBJETIVA TEMPERADA. Veja o que diz o art. 17 do CP: 
Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta 
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. 
 
Ineficácia absoluta do meio 
Ocorre quando o meio empregado jamais poderia levar à consumação do crime. Trata-se de um meio 
absolutamente ineficaz para aquele crime. Ex1: uma pessoa diz que vai fazer uma feitiçaria para que a 
outra morra. Não há crime de ameaça por absoluta ineficácia do meio. É crime impossível. Ex.2: tentar 
fazer uso de documento falso com uma falsificação muito grosseira. 
 
Impropriedade absoluta do objeto 
A palavra objeto, aqui, significa a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. Diz-se que há 
impropriedade absoluta do objeto quando ele não existe antes do início da execução ou lhe falta alguma 
qualidade imprescindível para configurar-se a infração. Ex.1: João quer matar Pedro, razão pela qual 
invade seu quarto e, pensando que a vítima está dormindo, nela desfere três tiros. Ocorre que Pedro não 
estava dormindo, mas sim morto, vítima de um ataque cardíaco. Dessa forma, João atirou em um morto. 
Logo, trata-se de crime impossível, porque o objeto era absolutamente inidôneo. Ex.2: a mulher, 
acreditando equivocadamente que está grávida, toma medicamento abortivo. 
 
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Informativo 897-STF (18/04/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
Ineficácia ou impropriedade relativas = crime tentado 
Como no Brasil adotamos a teoria objetiva temperada, se a ineficácia do meio ou a impropriedade do 
objeto forem relativas, haverá crime tentado. 
 
Qual é a natureza jurídica do crime impossível? 
Trata-se de excludente de tipicidade. Nesse sentido: (Juiz Federal TRF1 2013 CESPE) O crime impossível 
constitui causa de exclusão da tipicidade (CERTO). 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
João ingressa em um supermercado e, na seção de eletrônicos, subtrai para si um celular que estava na 
prateleira. Ele não percebeu, contudo, que acima deste setor havia uma câmera por meio da qual o 
segurança do estabelecimento monitorava os consumidores, tendo este percebido a conduta de João. 
Quando estava na saída do supermercado com o celular no bolso, João foi parado pelo segurança do 
estabelecimento, que lhe deu voz de prisão e chamou a PM, que o levou até a Delegacia de Polícia. João 
foi denunciado pela prática de tentativa de furto. A defesa alegou a tese do crime impossível por ineficácia 
absoluta do meio: como existia uma câmera acima da prateleira, não haveria nenhuma chance de o réu 
conseguir furtar o objeto sem ser visto. O cometimento do crime seria impossível porque o meio por ele 
escolhido (furtar um celular que era vigiado por uma câmera) foi absolutamente ineficaz. 
 
A tese da defesa é aceita pela jurisprudência? O simples fato de o estabelecimento contar com sistema 
de segurança ou vigilância eletrônica (câmera) já é suficiente para caracterizar o crime impossível? 
NÃO. A existência de sistema de segurança ou de vigilância eletrônica não torna impossível, por si só, o 
crime de furto cometido no interior de estabelecimento comercial. 
No caso de furto praticado no interior de estabelecimento comercial (supermercado, p. ex.) equipado com 
câmeras e segurança, a jurisprudência entende que, embora esses mecanismos de vigilância tenham por 
objetivo evitar a ocorrência de furtos, sua eficiência apenas MINIMIZA as perdasdos comerciantes, visto 
que não impedem, de modo absoluto (por completo), a ocorrência de furtos nestes locais. 
Existem muitas variáveis que podem fazer com que, mesmo havendo o equipamento, ainda assim o agente 
tenha êxito na conduta. Exs.: o equipamento pode falhar, o vigilante pode estar desatento e não ter visto 
a câmera no momento da subtração, o agente pode sair rapidamente da loja sem que haja tempo de ser 
parado etc. 
É certo que, na maioria dos casos, o agente não conseguirá consumar a subtração do produto por causa das 
câmeras; no entanto, sempre haverá o risco de que, mesmo com todos esses cuidados, o crime aconteça. 
Desse modo, concluindo: na hipótese aqui analisada, não podemos falar em ABSOLUTA ineficácia do meio. 
O que se tem, no caso, é a inidoneidade RELATIVA do meio. Em outras palavras, o meio escolhido pelo 
agente é relativamente ineficaz, visto que existe sim uma possibilidade (ainda que pequena) de o delito 
se consumar. 
Sendo assim, se a ineficácia do meio deu-se apenas de forma relativa, não é possível o reconhecimento 
do instituto do crime impossível, previsto no art. 17 do CP. 
 
Resumindo: 
A existência de sistema de vigilância em estabelecimento comercial não constitui óbice para a tipificação 
do crime de furto. 
STF. 1ª Turma. HC 111278/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Roberto Barroso, 
julgado em 10/4/2018 (Info 897). 
 
Essa é a posição sumulada do STJ: 
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Informativo 897-STF (18/04/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
Súmula 567-STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de 
segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do 
crime de furto. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
RECURSOS 
Tempestividade do recurso interposto antes da decisão recorrida ter sido publicada 
 
Não é extemporâneo recurso interposto antes da publicação do acórdão. 
Sob o ângulo da oportunidade, a publicação do acórdão impugnado é elemento neutro, 
podendo a parte, ciente da decisão proferida, protocolar o recurso. 
Assim por exemplo, admite-se a interposição de embargos declaratórios oferecidos antes da 
publicação do acórdão embargado e dentro do prazo recursal. 
STF. 1ª Turma. HC 113826, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/4/2018 (Info 897). 
 
Tempestividade 
Para que um recurso seja conhecido, é indispensável que ele preencha requisitos intrínsecos e extrínsecos. 
Um dos requisitos extrínsecos de todo e qualquer recurso é a tempestividade. 
Tempestividade significa que o recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado em lei. 
Todo recurso tem um prazo e, se a parte o interpõe após este prazo, o recurso não será conhecido por 
intempestividade. 
 
Imagine o seguinte exemplo hipotético: 
João foi condenado a 8 anos de reclusão. 
A defesa interpôs apelação, tendo o TJ mantido a sentença. 
Contra o acórdão, foi manejado recurso especial ao STJ. 
A 6ª Turma do STJ negou provimento ao recurso especial. 
Antes de o acórdão do REsp ser publicado no Diário de Justiça, o advogado de João foi até o STJ, leu a 
decisão, preparou embargos de declaração e deu entrada no recurso. 
 
Os embargos de declaração opostos são tempestivos? 
SIM. 
Não é extemporâneo recurso interposto antes da publicação do acórdão. 
Sob o ângulo da oportunidade, a publicação do acórdão impugnado é elemento neutro, podendo a 
parte, ciente da decisão proferida, protocolar o recurso. 
STF. 1ª Turma. HC 113826, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/4/2018 (Info 897). 
 
Admite-se a interposição de embargos declaratórios oferecidos antes da publicação do acórdão 
embargado e dentro do prazo recursal. 
Se a parte tomar conhecimento do teor do acórdão antes de sua publicação e entender haver omissão, 
contradição ou obscuridade, pode embargar imediatamente. Não há nada que impeça isso. 
Não se pode dizer que o recurso é prematuro porque o prazo começa a correr da data de intimação da 
parte, e a presença do advogado, a manifestar conhecimento do acórdão, supre a intimação. 
Assim, se a parte se sentir preparada para recorrer antecipadamente, pode fazê-lo. 
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Recurso intempestivo é aquele interposto após o decurso do prazo. 
STF. Plenário. AI 703269 AgR-ED-ED-EDv-ED/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015 (Info 776). 
 
Novo CPC 
O CPC/2015 reforça essa conclusão do STF ao trazer a seguinte regra: 
Art. 218 (...) 
§ 4º Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo. 
 
 
 
HABEAS CORPUS 
Relator pode determinar, de forma discricionária, que HC seja julgado 
pelo Plenário do STF (e não pela Turma) 
 
Importante!!! 
A competência para julgar determinados habeas corpus é de uma das duas Turmas do STF (e 
não do Plenário). Ex: HC contra decisão do STJ, em regra, é de competência de uma das Turmas 
do STF. 
O Ministro Relator do HC no STF, em vez de submetê-lo à Turma, pode levá-lo para ser julgado 
pelo Plenário? 
SIM. Essa possibilidade encontra-se prevista no art. 6º, II, “c” e no art. 21, XI, do RI/STF. 
Para fazer isso, o Relator precisa fundamentar essa remessa? É necessário que o Relator 
apresente uma justificativa para que o caso seja levado ao Plenário? 
NÃO. É possível a remessa de habeas corpus ao Plenário do STF, pelo relator, de forma 
discricionária, com fundamento no art. 6º, II, “c” e no art. 21, XI, do RI/STF. 
STF. Plenário. HC 143333/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11 e 12/4/2018 (Info 897). 
 
O STF é formado por quais órgãos? 
• Plenário (composto pelos 11 Ministros); 
• 1ª e 2ª Turmas (com 5 Ministros, cada); 
• Presidente do STF (que também é considerado um órgão); 
 
De quem é a competência para julgar habeas corpus impetrado contra decisão do STJ? 
De uma das Turmas do STF (art. 9º, I, “a”, RISTF). 
 
Imagine agora a seguinte situação: 
O réu impetra um habeas corpus contra decisão do STJ. 
O habeas corpus é distribuído para um Relator no STF. 
Em regra, este Relator deveria levar o HC para ser julgado pela Turma. 
O Relator decide, no entanto, levar o HC para ser julgado pelo Plenário do STF. 
 
Isso é possível? O Ministro Relator do HC no STF, em vez de submetê-lo à Turma, pode levá-lo para ser 
julgado pelo Plenário? 
SIM. Essa possibilidade encontra-se prevista no art. 6º, II, “c” e no art. 21, XI, do Regimento Interno do 
Supremo Tribunal Federal (RI/STF): 
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Art. 6º Também compete ao Plenário: 
(...) 
II – julgar: 
c) os habeas corpus remetidos ao seu julgamento pelo Relator; 
 
Art. 21. São atribuições do Relator: 
(...) 
XI – remeter habeas corpus ou recurso de habeas corpus ao julgamento do Plenário; 
 
Para fazer isso, o Relator precisa fundamentar essa remessa? É necessário que o Relator apresente uma 
justificativa para que o caso seja levado ao Plenário? 
NÃO. Segundo decidiu o STF: 
É possível a remessa de habeas corpus ao Plenário do STF, pelo relator, de forma discricionária, com 
fundamento no art. 6º, II, “c” e no art. 21, XI, do RI/STF. 
STF. Plenário.HC 143333/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11 e 12/4/2018 (Info 897). 
 
Importante destacar que a decisão do Relator que remete o habeas corpus para ser julgado pelo Plenário 
é irrecorrível, nos termos do art. 305 do RI/STF. 
 
Previsão no RI/STF, que tem força de lei 
Essa possibilidade discricionária está prevista, como vimos, no art. 21, XI, do RI/STF, que não exige a 
apresentação de qualquer justificativa. 
Vale ressaltar que a Constituição Federal atribui aos Tribunais a elaboração de seus regimentos internos 
(art. 96, I, “a”) e estes são “normas de idêntica categoria que as leis”. 
Assim, em caso de conflito da lei com o regimento interno, esta aparente antinomia não se resolve 
mediante o critério da categoria normativa ou da hierarquia, mas sim pelo critério da substância regulada 
(ADI 1.105 MC, DJU de 24/04/2001). 
Veja o Texto Constitucional: 
Art. 96. Compete privativamente: 
I - aos tribunais: 
a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das normas 
de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o 
funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos; 
 
Princípio do juízo natural 
O STF afirmou que essa afetação ao Plenário não viola o princípio do juízo natural considerando que o 
Plenário do STF é que seria, em tese, o órgão naturalmente competente para julgar todas as causas da 
Corte, havendo essa divisão em Turmas apenas para se conseguir manter uma funcionalidade. 
Como ressalta o Min. Fachin: 
“O STF encontra, em sua composição Plenária, a unidade sinérgica à qual incumbe, por excelência, a 
guarda da Constituição e o exercício integral de sua competência. Embora, regimentalmente, sejam 
admitidas e legítimas diversas atuações fracionárias e unipessoais, é no colegiado maior que a missão 
constitucional da Corte resta exercitada em sua inteireza.” 
 
Ficaram vencidos 
Vencidos, no ponto, os Ministros Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio, os quais ressaltaram a 
necessidade de que o deslocamento de processos ao Plenário se dê motivadamente, na forma do art. 93, 
IX, da Constituição Federal. 
 
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HABEAS CORPUS 
A superveniência da sentença condenatória faz com que o 
habeas corpus impetrado anteriormente fique prejudicado 
 
A superveniência de sentença condenatória que mantém a prisão preventiva prejudica a 
análise do habeas corpus que havia sido impetrado contra o título originário da custódia. 
Se, após o habeas corpus ser impetrado contra a prisão preventiva, o juiz ou Tribunal prolata 
sentença/acórdão condenatório e mantém a prisão anteriormente decretada, haverá uma 
alteração do título prisional e, portanto, o habeas corpus impetrado contra prisão antes do 
julgamento não deverá ser conhecido. 
STF. Plenário. HC 143333/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11 e 12/4/2018 (Info 897). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João estava preso preventivamente e impetrou habeas corpus contra esta prisão. 
Antes que o writ fosse julgado, o juiz condenou o paciente a 8 anos de reclusão, mantendo a prisão 
cautelar na sentença. 
 
Diante disso, indaga-se: o habeas corpus que havia sido impetrado anteriormente fica prejudicado? A 
superveniência da sentença condenatória faz com que o habeas corpus que estava aguardando ser 
julgado fique prejudicado? 
Havia divergência entre as duas Turmas do STF. 
A 1ª Turma respondia que SIM (haveria prejuízo). 
A 2ª Turma, por outro lado, entendia que NÃO. 
 
O Plenário do STF apreciou o tema e decidiu que o habeas corpus fica prejudicado: 
A superveniência de sentença condenatória que mantém a prisão preventiva prejudica a análise do 
habeas corpus que havia sido impetrado contra o título originário da custódia. 
Se, após o habeas corpus ser impetrado contra a prisão preventiva, o juiz ou Tribunal prolata 
sentença/acórdão condenatório e mantém a prisão anteriormente decretada, haverá uma alteração do 
título prisional e, portanto, o habeas corpus impetrado contra prisão antes do julgamento não deverá 
ser conhecido. 
STF. Plenário. HC 143333/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 11 e 12/4/2018 (Info 897). 
 
A superveniência da sentença produz uma realidade processual de maior amplitude em relação à 
considerada no momento da formalização da impetração. 
A sentença impõe uma alteração do campo argumentativo, exigindo-se que o exame das questões 
articuladas pelo impetrante opere-se à luz de um espectro processual não coincidente com o inicialmente 
impugnado. 
 
Decisão apertada 
Vale ressaltar que ficaram vencidos os ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Marco 
Aurélio e Celso de Mello, que entendiam que o habeas corpus deve ser conhecido em tais casos. Assim, a 
decisão acima foi alcançada por apertada maioria. Diante disso, não é possível afirmar, com certeza, que 
a 2ª Turma irá obedecer este entendimento em casos futuros. 
 
 
 
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Informativo 897-STF (18/04/2018) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
Possibilidade de concessão de HC de ofício 
O tema acima tem importância teórica, mas pouca relevância prática. Isso porque o fato de o Tribunal 
reconhecer que o habeas corpus não deve ser conhecido, não impede que seja concedida a ordem de 
ofício. Em outras palavras, o Tribunal reconhece que o writ impetrado está prejudicado (não deve ser 
conhecido) e, apesar disso, pode determinar, de ofício, a liberdade do paciente se verificar que existe 
ilegalidade flagrante ou teratologia. 
 
 
 
EXECUÇÃO PENAL 
Impossibilidade de transferência do apenado para outro Estado da Federação 
sob a alegação de que estaria recebendo tratamento privilegiado 
 
É inviável a remoção de apenado para outro Estado com fundamento em suposto tratamento 
privilegiado. Apenas razões excepcionalíssimas e devidamente fundamentadas poderiam 
legitimar essa medida. 
STF. 2ª Turma. HC 152.720/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/4/2018 (Info 897). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
Sérgio Cabral, ex-Governador do Rio de Janeiro, estava preso em um presídio na capital fluminense. 
O Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba e o Juízo da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, em decisão conjunta, 
determinaram a transferência de Cabral para uma unidade prisional de Curitiba (PR), sob o argumento de 
que o réu estaria gozando de regalias indevidas no presídio do Rio de Janeiro. 
A defesa de Cabral impetrou habeas corpus contra esta decisão. 
No writ, o impetrante alegou que as supostas regalias não ocorreram e que o paciente deveria permanecer 
preso na unidade prisional do Rio de Janeiro a fim de ficar próximo de seus familiares. 
 
O habeas corpus impetrado foi acolhido pelo STF? 
SIM. O STF decidiu que: 
É inviável a remoção de apenado para outro Estado com fundamento em suposto tratamento 
privilegiado. Apenas razões excepcionalíssimas e devidamente fundamentadas poderiam legitimar essa 
medida. 
STF. 2ª Turma. HC 152.720/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/4/2018 (Info 897). 
 
Violação ao devido processo legal 
Antes de ter sido determinada a remoção do apenado, ele deveria ter sido ouvido, não havendo razões 
para se negar o contraditório prévio neste caso considerando que a transferência não era urgente. Houve, 
portanto, violação do art. 282, § 3º do CPP: 
Art. 282 (...) 
§ 3º Ressalvados os casos de urgência oude perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o 
pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de cópia 
do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo. 
 
Além disso, a decisão judicial foi tomada sem que tenha sido sequer instaurado procedimento disciplinar 
para apurar o comportamento carcerário do réu. 
Desse modo, para o STF, não houve respeito ao devido processo legal e a garantia do contraditório, 
previstos no art. 5º, LIV e LV, da CF/88. 
 
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Uso de algemas 
O Min. Gilmar Mendes ressaltou em seu voto que Sérgio Cabral foi exibido às câmeras de televisão 
algemado por pés e mãos, durante o transporte, a despeito de sua aparente passividade, o que teria 
violado a Súmula Vinculante 11. 
O uso infundado de algemas é causa de “nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere”, nos 
termos do enunciado sumular. Ou seja, tal irregularidade seria suficiente para invalidar a transferência. 
 
Assistência da família ao preso 
Vale ressaltar que é permanência do custodiado no Estado onde residem seus familiares está de acordo 
com a Constituição Federal, que assegura ao preso o direito à assistência da família: 
Art. 5º (...) 
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe 
assegurada a assistência da família e de advogado; 
 
No mesmo sentido é a Lei de Execuções Penais: 
Art. 103. Cada comarca terá, pelo menos 1 (uma) cadeia pública a fim de resguardar o interesse 
da Administração da Justiça Criminal e a permanência do preso em local próximo ao seu meio 
social e familiar. 
 
Assim, apenas razões excepcionalíssimas e devidamente fundamentadas autorizariam uma transferência 
para outra unidade da federação. 
 
Precedentes do STJ 
O STJ também entende que “a transferência para distante localidade, com afastamento do preso de sua 
família, exige especial motivação.” (STJ. 6ª Turma. RHC 93.825/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 
17/04/2018). 
 
 
EXERCÍCIOS 
 
Julgue os itens a seguir: 
1) Por gerir recursos púbicos, a Fundação Banco do Brasil deve ser submetida aos princípios da 
Administração Pública e, portanto, à fiscalização do TCU. ( ) 
2) É constitucional lei estadual que concede o desconto de 50% no valor dos ingressos em casas de 
diversões, praças desportivas e similares aos jovens de até 21 anos de idade. ( ) 
3) A existência de sistema de vigilância em estabelecimento comercial não constitui óbice para a tipificação 
do crime de furto. ( ) 
4) (Procurador BACEN/2013 CESPE) A existência de sistema de vigilância em estabelecimento comercial 
exclui a possibilidade de consumação de crime patrimonial, dada a caracterização de crime impossível 
ante a ineficácia absoluta do meio empregado. ( ) 
5) É extemporâneo recurso interposto antes da publicação do acórdão. ( ) 
6) É possível a remessa de habeas corpus ao Plenário do STF, pelo relator, desde que de forma motivada. ( ) 
7) É inviável a remoção de apenado para outro Estado com fundamento em suposto tratamento 
privilegiado. Apenas razões excepcionalíssimas e devidamente fundamentadas poderiam legitimar essa 
medida. ( ) 
 
Gabarito 
1. E 2. C 3. C 4. E 5. E 6. E 7. C 
 
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OUTRAS INFORMAÇÕES 
 
Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio 
eletrônico* 
 Em curso Finalizados 
Pleno 11.4.2018 12.4.2017 8 21 53 
1ª Turma 10.4.2018 — 0 49 81 
2ª Turma 10.4.2018 — 0 7 75 
 
* Emenda Regimental 51/2016-STF. Sessão virtual de 6 a 12 de abril de 2018. 
 
 
 
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS 
9 A 13 DE ABRIL DE 2018 
 
Lei Complementar nº 162, de 6.4.2018- Institui o Programa Especial de Regularização Tributária das 
Microempresas e Empresas de Pequeno Porte optantes pelo Simples Nacional (Pert-SN). Publicada no DOU, 
Seção 1, Edição n° 67, p.1, em 9.4.2018 
Lei nº 13.650, de 11.4.2018- Dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes de assistência social, 
na área de saúde, de que trata o art. 4º da Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009; e altera as Leis nº s 
12.101, de 27 de novembro de 2009, e 8.429, de 2 de junho de 1992. Publicada no DOU, Seção 1, Edição n° 
70, p.2, em 12.4.2018 
 
 
Secretaria de Documentação – SDO 
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD 
CJCD@stf.jus.br

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