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Relatório Final de Atividades do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC/UFRPE/CNPq Universidade Federal Rural de Pernambuco 12 de julho de 2018 1 Identificação Nome do aluno: Eudes Thomas Gomes da Silva Curso: Licenciatura em Física Programa: Iniciação Científica Nome do orientador: Fernando Jorge Sampaio Moraes Departamento: Departamento de Física Período: 40 Relatório:( )Parcial (X)Final Início do Programa Agosto de 2017 2 Título do Projeto Geometria e Teoria de Campos em Matéria Condensada 3 Resumo do Relatório Os compostos e materiais de carbono permitem uma variedade de estudos e aplicações em fenômenos de transporte. Em particular, os polímeros condutores deram novas perspectivas ao desenvolvimento de dispositivos eletrônicos [1]. A aromaticidade em anéis de compostos deste tipo depende do número de carbonos, como mostrado em [2] para nano-anéis, mas a ação de um campo elétrico pode alterá-la [3]. É verificado teoricamente que acima de 30 carbonos aproximadamente, já não se verifica mais a aromaticidade do composto [4]. Usando modelos de anéis do tipo (CH)n, variando a conformação da cadeia e o número de átomos para compreensão do efeito do campo elétrico, verificamos que a aromaticidade perdida é restaurada quando usado um campo de 0,006 u.a = 0,3085 V/Å para o anel (CH)34 e, para anéis maiores, basta utilizar um campo mais intenso. Além disso, as cadeias com 4n elétrons pi, com n inteiro, não sofrem alteração de aromaticidade pois aromaticidade, como veremos, depende principalmente do número de elétrons pi no último orbital ocupado [5]. Como iremos ver, o tamanho da estrutura está diretamente relacionado com a dimerização da cadeia. Aqui, focaremos nossa atenção sobre os efeitos da curvatura, efeitos de um campo elétrico sobre a geometria, propriedades eletrônicas, nas correntes induzidas e, por fim, nos índices e métodos de determinar aromaticidade em anéis. Utilizando o programa GaussView 1 construímos estruturas de carbono unidimensionais com o intuito de analisar o efeito da geome- tria em suas propriedades eletrônicas. Obtivemos a otimização de geometria usando a Teoria do Funcional da Densidade (DFT) e as propriedades eletrônicas usando o funcional B3Lyp e a base 6-311G com o programa Gaussian03. Por serem vastamente utilizados na literatura para análises de estruturas compostas por átomos "leves" e, como o Poliacetileno é um polímero com fórmula molecular (CH)n, os resultados obtidos a partir desses métodos são suficientemente confiáves. Veremos abaixo que o aumento do número de átomos da cadeia faz com que anéis aromáticos tornem-se dimerizados devido ao Efeito Jahn-Teller de segunda ordem [6], como também, qual o efeito de um campo elétrico sobre a organização dos orbitais. Falaremos sobre como um campo elétrico é capaz de estabilizar o anel em sua forma aromática evitando a transição de Jahn-Teller e, por fim, investigamos a indução de correntes na estrutura anular quando esta é exposta a um campo magnético. Para analisarmos o comportamento da molécula exposta a um campo magné- tico, usaremos dois métodos: NICS e veremos o sentido das correntes induzidas. O NICS é um método que computa o negativo da blindagem absoluta no centro ou em qualquer ponto do espaço. Para valores de NICS < 0, computados no centro do anel, têm-se que a molécula é aromática, caso contrário, para valores positivos, isto é: NICS > 0 no centro do anel, a molécula é antiaromática. Após a escolha do polímero, variamos sua conformação fechando-o em forma de anel. Com isso podemos analisar o efeito da curvatura sobre a estrutura eletrônica do polímero. Como a curvatura geométrica é dada por K = 1/R, onde R é o raio do círculo [7], variamos a quantidade de átomos em nossa cadeia molecular de modo a variarmos o raio de forma que o efeito da curvatura fosse sendo alterado. 4 Introdução Figura 1: Transpoliacetileno Figura 2: Anel de transpolia- cetileno (CH)30 A descoberta de polímeros condutores [8] deu o prêmio No- bel de Química no ano 2000 para seus descobridores: o físico Alan J. Heeger (Univ. da Califórnia em Santa Bárbara, EUA) e os quí- micos Alan G. MacDiarmid (Univ. da Pensilvânia, em Filadélfia, EUA) e Hideki Shirakawa (Univ. de Tsukuba, Japão) . Após essa descoberta os polímeros condutores passaram a ser amplamente estudados, principalmente por suas aplicações na eletrônica. O poliacetileno em suas formas linera e anular (ver figuras 1 e 2 res- pectivamente) foi escolhido para estudarmos suas conformações e analisarmos os efeitos geométricos sobre suas propriedades eletrô- nicas. Com o programa GaussView, as moléculas foram construí- das e com o Gaussian03, otimizadas. A partir das otimizações, foram feitos cálculos de energias. Seguimos a análise dos níveis de energia dos anéis de poliacetileno em função da quantidade de 2 carbono e observamos seu comportamento. Como a curvatura K do círculo é dada por 1/R, sendo R o raio do círculo, variando o número de carbonos na estrutura, consequentemente variamos o valor de R. Dessa forma, partindo do anel (CH)10 até o anel (CH)150, comparamos suas energias a partir dos orbitais de fronteira, ou mais conhecidos por HOMO e LUMO, que são os acrónimos em inglês para orbital molecular ocupado mais alto (highest occupied molecular orbital) e orbital molecular não ocupado mais baixo (lowest unoccupied molecular orbital), respectivamente. A par- tir do HOMO - LUMO, olhamos também para o comportamento dos orbitais "acima e abaixo" desses níveis. Num limite infinito para o raio, a curvatura é 0, dessa forma espera-se que o gap HOMO-LUMO tenda ao gap experimental do poliacetileno linear que é de 1.5 eV [9] e os parâme- tros internos tais como: ângulo de ligação e distancia C-C-C do anéis tendam ao caso linear. Como a curvatura está variando com o número de átomos de carbono, fizemos o cálculo também para cadeias lineares (sem curvatura mas com o mesmo número de átomos de carbono) para servir como referência. Como toda essa primeira parte foi discutida e apresentada no relatório e apresentações parciais, aqui focaremos na explicação e descrição de alguns fenômenos encontrados posteriormente e nos limitaremos a uma descrição não formal por questões de simplicidade. Veremos adiante que um campo elétrico paralelo ao plano do anel de poliacetileno não mostrou o mesmo efeito que o mostrado em [10] para o benzeno e que, enquanto o limite onde ocorre a dimerização no anel (CH)m, é m = 30 [4], um campo elétrico aplicado paralelamente ao plano do anel é capaz de fazer com que esse limite ocorra em valores maiores de n, assim como o mostrado em[3] para os policali- cenos. E veremos que um campo magnético pode induzir correntes nos anéis cujo sentido depende do preenchimento do HOMO [5]. Caracterizaremos essa aromaticidade por alguns métodos, tais como: correntes induzidas nos anéis, NICS e distância entre átomos de carbono vizinhos. Todos esses métodos serão descritos ao longo do relatório. 5 Objetivos 5.1 Geral Tivemos como objetivo principal analisar influências externas, tais como: curvatura, campos elétricos e magnéticos nas propriedades eletrônicas dos anéis de poliacetileno. 5.2 Específico • Análise da influência da curvatura nas propriedades eletrônicas do anel de poliacetileno; • Identificar e caracterizar correntes induzidas por campos elétricos e magnéticos externos; • Induzir aromaticidade em anéis 4n+2 fora do limiar de aromaticidade; • Publicação de artigos em revistas científicas; • Apresentação em congressos nacionais e internacionais; 6 Metodologia Iniciamos o trabalho construindo as moléculas com o software GaussView para a partir disso otimizar a geometria molecular a fim de encontrar a menor energia do sistema. Com a geometria 3 otimizada pudemos então fazer uma comparação entre os parâmetros para o caso linear e anular. O segundo passo foi utilizarmos as moléculas em diferentesmétodos. Inicialmente adicionamos um campo elétrico com o método singlepoint no intuito de visualizarmos a influência do campo no comportamento dos níveis eletrônicos das moléculas. Posteriormente, utilizamos o campo elétrico junto à otimização da geometria, buscando trazer os anéis fora do limiar de aromaticidade de volta à aromaticidade. Outro método usado, ainda que indiretamente, foi o NMR, como forma de aplicar um campo magnético para com este induzirmos correntes nos anéis a fim de subsidiar os estudos em correntes induzidas. Os dados coletados, tais como comprimento de ligação em função do campo elétrico, controle da transição de Jahn-Teller com o campo elétrico e as intensidades das correntes induzidas em função do campo magnético estão tabelados na seção Resultados e Discussão. O uso de softwares complementares como GIMIC possibilitou, a partir dos cálculos do NMR, obter os resultados referentes às correntes induzidas. O cálculo do NICS (descrito na subseção Critérios Magnéticos) foi realizado utilizando também o NMR, entretanto, se é adicionado um "átomo de prova"denotado por "Bq" e sua posição é dada por suas coordenadas (x,y,z). Esse átomo não possui carga nem propriedades químicas, é apenas um “átomo fantasma”. 6.1 Efeitos geométricos Figura 3: Distância oposta ao ângulo de li- gação Os parâmetros internos do transpoliacetileno linear, tais como distân- cia e ângulo de ligação, são de 1.44 ± 0.02 Å e 1.36 ± 0.02 Å e de 125.0◦, respectivamente [11]. A partir disso, mediremos os mesmos parâmetros para o caso anular do transpoliacetileno. Como o acréscimo de átomos de carbono na estrutura aumenta o raio do anel, consequentemente, o efeito da curvatura vai diminuindo de modo que deverá haver um limite de curva- tura que seja suficiente para considerarmos o caso anular geometricamente igual ao linear. Para o caso linear, d fica em torno de 2.48 Å. A regra de Hückel nos diz que anéis 4n+2 e 4n elétrons pi são respectivamente aromáticos e antiaromáticos, entretanto, como cada átomo de carbono contribui com 1 elétron pi, temos por exemplo que a estrutura (CH)26 é aromática (n = 6) e que o anel (CH)28 é antiaromático (n = 7). Nas seções seguintes, veremos que isso não vale para qualquer valor de n. De fato, os autores H.C. Longuet-Higgins, F.R.S. e L. Salem [4] demonstraram que para n = 30 surge a dimerização em polienos cíclicos conjugados e a referência [6] verificaram o mesmo resultado em anulenos. 6.2 Efeito Stark O efeito Stark consiste no deslocamento e na divisão de linhas espectrais de átomos e moléculas submetidas a um campo elétrico externo. O efeito Stark não pode ser explicado pela mecânica clássica, contudo é explicado perfeitamente pelas leis que regem a mecânica quântica. Esse efeito pode conduzir à separação dos níveis de energia degenerados, como ilustrado na figura 4. 6.3 Aromaticidade Poliacetileno linear é naturalmente dimerizado devido a instabilidade de Peierls [12], que o faz ser um semicondutor em temperaturas finitas, mas devido ao fato de aqui analisarmos uma cadeia fechada, o anel é submetido a uma instabilidade similiar, o efeito Jahn-Teller, típico efeito de anéis aromáticos. O efeito Jahn-Teller é um mecanismo de quebra espontânea de simetria em um sistema 4 Figura 4: Efeito Stark - Separação das linhas espectrais molecular e diz, essencialmente, que qualquer molécula cíclica com um estado eletrônico espacial degenerado sofrerá uma distorção geométrica que eliminará a degenerescência. A aromaticidade corresponde a um estado não dimerizado, um estado condutor. Embora a aromaticidade não tenha uma definição geral, ela é caracterizada a partir de alguns critérios teóricos usuais, são eles: geométricos, magnéticos e energéticos [13]. 6.3.1 Critérios Geométricos Um dos principais critérios para haver a aromaticidade é a planaridade. Para se determinar a forma geométrica da molécula pode se usar tanto métodos experimentais como Raio-X, espec- troscopia de microondas ou métodos computacionais como o ab-initio e o DTF, portanto para determinação da aromaticidade via geometria é crucial que os cálculos sejam feitos com alto nível de teoria. A partir disso, podemos calcular o Índice de Aromaticidade HOMA (Harmonic Oscillator Model of Aromaticity) dado por HOMA = 1− α n ∑ (Ropt −Ri)2 , (1) onde n é o número de ligações consideradas no somatório e α é uma constante empírica, escolhida de modo a fornecer HOMA = 0 para estruturas de Kekulé hipotéticas (com comprimentos de ligação CC iguais aos dos polienos acíclicos, 1,3-butadieno86) e HOMA = 1 para sistemas que possuam todas as ligações com comprimentos iguais a Ropt. Os comprimentos individuais são descritos por Ri [14, 13]. 6.3.2 Critérios Magnéticos Anéis aromáticos, ou seja, que possuam o último estado totalmente preenchidos, respondem de uma forma única a um campo magnético externo. Pauling mostrou que cada um dos elétrons pz dos carbonos aromáticos são livres para se movimentarem entre carbonos adjacentes quando se encontram sob ação de campo magnético externo [15]. Deste modo, o movimento dos elétrons livres induz as correntes de anel. Há dois tipos de correntes: diamagnética e paramagnética. Os anéis que 5 apresentem correntes diamagnéticas são chamados de aromáticos, enquanto que os que possuem correntes paramagnéticas, são os anti-aromáticos. Um método que pode nos fornecer informações a respeito da aromaticidade é o NICS (abreviação para: nucleus-independent chemical shift) [16] e é definido como o negativo da blindagem absoluta computada no centro do anel ou em algum outro ponto de interesse. Anéis com valores negativos de NICS qualificam-se como aromáticos e quanto mais negativos for o NICS, mais aromáticos são os anéis, enquanto que sistemas antiaromáticos terão NICS > 0 [17, 18]. 6.3.3 Critérios Energéticos Compostos aromáticos são conhecidos por serem extremamentes estáveis, ou seja, pouco reati- vos. Para determinarmos o quão estável é um composto, podemos utilizar diversos métodos que visam encontrar a estabilização termodinâmica, a qual nos remete às energias de ressonância e a estabilidade cinética, diretamente relacionada ao comportamento reacional do composto [13]. 6.4 Aromaticidade induzida por um campo elétrico externo Figura 5: Sentido do campo elétrico Devido à existência de um limiar de quantidade de carbonos que mantêm a aromaticidade em anéis de 4n+2 elétrons pi, que é a transição de Jahn-Teller [6] (em torno de 30 como visto acima), adicionamos um campo elétrico no plano da estrutura [figura 5] com o intuito de trazer os anéis à aromaticidade, como feito para os policalicenos [3]. 6.4.1 Caracterização da aromaticidade Embora possa se pensar em aromaticidade como sendo a igualdade das liga- ções químicas, existem alguns outros critérios que determinam se um com- posto é ou não aromático como visto na seção 6.3. Para anéis (CH) com até 26 átomos de carbono, a regra de Hückel para determinar a aromati- cidade funciona perfeitamente, entretanto, devido ao efeito Jahn-Teller [6], para anéis maiores deixa de haver a ressonância nas ligações [4] como visto na figura 10. Usamos os critérios energéticos e magnéticos para descrevermos a aromaticidade e seus efeitos. 7 Resultados e Discussão A partir da pesquisa literária para valores experimentais de parâmetros tais como gap do trans-poliacetileno, angulos internos e distância de ligação fizemos comparações dos resultados computacionais e, como era de se esperar, encontramos uma tendência do comportamento dos parâmetros internos e dos orbitais das estruturas anulares se aproximarem dos correspondentes ao trans-poliacetileno linear com o crescimento do número de átomos de carbono. 7.1 Distância oposta ao ângulo de ligação Nas figuras 6 e 7 estão os gráficos da distância d ou C-C-C (oposta ao ângulo de ligação) para os casos anular e linear, respectivamente. Note que a distânciad do caso linear tende bem mais rápido ao valor assintótico que no caso anular, evidenciando o efeito da geometria nos parâmetros 6 internos da molécula anular. Da mesma forma, os valores de d para os anéis 4n+2 aproximam-se mais rápido da assíntota que os 4n, sendo alcançado por estes na região entre 30 e 40 átomos de carbono. Justamente onde ocorre a transição de Jahn-Teller. Figura 6: Distância d em função da quantidade de átomos para o caso anular. Os pontos laranjas são as moléculas 4n e os azuis são as moléculas 4n+2. De 10 à 50 as moléculas foram acrescidas de 2 em 2 átomos, a partir do 50 passaram a ser 10 em 10. Figura 7: Distância d em função da quantidade de átomos para o caso linear de 10 à 80 átomos de carbono. 7.2 Efeito do aumento da cadeia nos orbitais moleculares Como estávamos interessados em estudar o efeito da geometria nas propriedades eletrônicas dos anéis de poliacetileno, variamos a quantidade de átomos na cadeia afim de variarmos o raio. Entretanto, como o acréscimo de átomos aumenta a quantidade de elétrons da estrutura, os níveis de energia também seriam alterados. Aqui, mostramos como o gap HOMO-LUMO e alguns níveis abaixo e acima dele se comportam respectivamente. As imagens seguintes mostram a posição dos níveis eletrônicos em função da quantidade de átomos da cadeia. 7 Figura 8: Níveis de energia em função da quantidade de átomos para anéis 4n+2 e 4n, respectiva- mente. 7.3 Efeitos do campo elétrico em anéis de poliacetileno (Efeito Stark) A partir dos resultados obtidos sobre a influência da curvatura nos níveis de energia na seção acima, estudamos a influência de um campo elétrico externo na estrutura eletrônica, a fim de perceber os níveis de energia acima do LUMO cruzando-se, como também reduzindo o gap HOMO-LUMO usando campos elétricos paralelos aos anéis, assim como foi mostrado em [10] para o benzeno. As estruturas anteriormente otimizadas geometricamente com o método B3lyp com conjunto de base 6-311G agora são cálculadas apenas em singlepoint com o mesmo funcional e com conjunto de base 6-311G++(d,p), que significa que nossa função de base é difusa e polarizada. A difusão é utilizada para que se leve em conta os elétrons fracamente ligados, ou seja, elétrons que estão mais distantes do núcleo, pois esses elétrons influenciam nas propriedades elétricas das moléculas, enquanto que a polarizabilidade permite uma melhor descrição dos elétrons nos orbitais atômicos, levando em conta as deformações sofridas pelos orbitais nas ligações químicas. O método de otimização também calcula as energias, entretanto, a escolha do singlepoint junto à nova escolha de base se deu por estarmos interessados numa maior acurácia dos resultados para as energias sem interferirmos na geometria. Apesar de não verificarmos a quebra de degenerescência dos níveis com aplicação do campo elétrico, a separação entre os níveis inicialmente muito próximos aumenta com a intensidade do 8 Figura 9: Níveis de energia em função do campo elétrico campo, seguindo o padrão do efeito Stark (veja figura 4). Note que não encontramos cruzamentos de níveis de energia em função do campo para os anéis de poliacetileno (figura 9) para os valores de campo usados, diferentemente do que ocorre em [10] para o benzeno. Como os anéis de poliacetileno são bem maiores que o benzeno, possivelmente precisríamos de campos elétricos ainda mais fortes para observar tal fenômeno. Entretanto, campos muito fortes desestabilizam a estrutura, levando ao rompimento das ligações. Além disso, como campos mais intensos significa mais tempo de processamento (que nas máquinas disponíveis chegou a semanas para as maiores estruturas). 9 7.4 Perda da aromaticidade em anéis de poliacetileno Seguindo a regra de Hückel, os anéis 4n+2 elétrons pi deveriam ser aromáticos, entretanto, Longuet-Higgins e Salem mostraram que a aromaticidade é perdida quando o número de carbonos cresce [4], pois, embora uma molécula possua estruturas ressonantes equivalentes, não necessari- amente ela adotará uma configuração intermediária entre as configurações. A figura 10 mostra claramente o aparecimento da dimerização (alternância de ligações sinples e duplas ou perda de aromaticidade) em função do tamanho do anel. Figura 10: Distância de ligação em função da quantidade de átomos. Note que a partir de 30 átomos começa a dimerização do anel de poliacetileno. Os pontos verdes são as ligações simples e os amarelos são as ligações duplas. Em nossas análises vimos que, para anéis maiores que (CH)30, a diferença entre os compri- mentos de ligação cresce, caracterizando um estado dimerizado. Para o caso do anel (CH)34, a aromaticidade é totalmente perdida (ver figura 10), assim como mostrado em [2] e em acordo com o mostrado em [4]. A dimerização ocorre como consequência do efeito Jahn-Teller que estabelece o alargamento do gap HOMO-LUMO [6]. 7.5 Efeito do campo elétrico sobre a aromaticidade A tabela 1 mostra que a energia de formação vai diminuindo em função do campo elétrico aplicado, o que significa que a molécula vai ficando mais estável. E embora a molécula fique mais estável, a geometria molecular sofre distorções que por fim acabarão rompendo as ligações devido ao campo. Para um campo superior a 0,61704 V/Å o anel 34 se rompe. Quando um anel 4n+2 dimerizado é exposto a um campo elétrico paralelo a seu plano, o anel sofre uma deformação que reduz a diferença entre o comprimento das ligações, conforme mostrado na figura 11. Isto terá efeito nas correntes induzidas por um campo magnético perpendicular ao plano do anel, como será visto a seguir. 7.6 Correntes induzidas Moléculas aromáticas possuem um estado delocalizado, o que significa que os elétrons pi daquele estado estarão “livres” para circular por toda molécula. Devido a isto, uma corrente elétrica pode então ser induzida no anel por um campo magnético aplicado [19]. Para analizarmos os efeitos do campo magnético na molécula fazemos um cálculo de NMR (do inglês Nuclear Magnetic Resonance) 10 Figura 11: Distância das ligações em função do campo elétrico. Onde os pontos azuis, verdes e amarelos são os mesmos da figura 10 e os pontos cor de vinho e ciano são os respectivos pontos a partir do (CH)30 com um campo elétrico de 0,5420 V/Å aplicado paralelamente ao plano da molécula. Tabela 1: Energia de formação em função do campo elétrico Campo elétrico em V/Å Energia de formação em HF 0 -1315.85600980 0,10284 -1316.22367847 0,20568 -1316.23462047 0,30852 -1316.25406926 0,41136 -1316.28268719 0,51420 -1316.32153514 0,61704 -1316.37169843 para, a partir do campo magnético utilizado no método, utilizarmos o software GIMIC (Gauge- Including Magnetically Induced Currents) [20] que nos permite visualizar as correntes induzidas. Figura 12: Campo magnético perpendicular ao plano do benzeno. A curva laranja representa a corrente induzida e as curvas violetas o campo magnético induzido por esta corrente. Note que o campo magnético resultante no interior do anel é menor que o campo aplicado. São ditas diamagnéticas as substâncias que, não possuindo magnetização a campo zero, apre- sentam uma magnetização contrária a um campo aplicado, ou seja, uma susceptibilidade mag- nética negativa. Por outro lado, substâncias que não apresentam magnetização espontânea (a campo nulo), mas se magnetizam no mesmo sen- tido de um campo aplicado têm uma susceptibi- lidade magnética positiva e são chamadas para- magnéticas [13]. Anéis de camada aberta (4n) possuem sempre uma magnetização intrínseca que fará com que os elétrons circulem a estru- tura no sentido ao qual são induzidos, enquanto que anéis de camada fechada (4n+2) pelo fato de poderem ser vistos como sendo um condutor, fazem o contrário no sentido de reduzir o campo magnético no interior do anel. Deste modo, no 11 primeiro caso tem-se uma resposta paramagnética e no segundo,diamagnética. Dá-se o nome de paratrópica e diatrópica, respectivamente, às correspondentes correntes induzidas. O segundo caso está exemplificado na figura 12. Figura 13: Correntes diatrópicas (aromáticos) têm o sentido anti-horário enquanto que correntes paratrópicas (antiaromáticos) possuem sentindo horário. Figura 14: Correntes induzidas. Note que as escalas e a direção das correntes são diferentes 12 Podemos ver na figura 14 a corrente induzida para dois tipos de estruturas: (CH)28 e (CH)26, respectivamente. Perceba que o anel (CH)26 é aromático. enquanto que o (CH)28 é antiaromático pois eles são de 4n+2 e 4n elétrons pi, respectivamente. As correntes são geradas a partir de um campo magnético perpendicular ao plano da molécula, orientado como mostra a figura 12. Da mesma forma, o anel 4n+2 (CH)34 possui correntes diatrópicas ao contrário do 4n (CH)32 (veja a figura 14), mesmo após a dimerização, como mostrado na figura 10. Embora a partir do anel (CH)26 comece a acontecer a dimerização, fazendo com que o efeito da aromaticidade sobre as ligações seja anulado, para esses anéis maiores ainda existem correntes coerentes, no sentido de que: anéis 4n+2 ainda possuem correntes diatrópicas enquanto anéis 4n, paratrópicas. Mesmo que haja uma confusão na determinação da aromaticidade, é perfeitamente compreensível que anéis 4n+2 sempre possuam correntes diatrópicas. As correntes alternam de sentido devido ao preenchimento dos elétrons nos orbitais (como mostrado em [5]) e como o campo elétrico não altera essa quantidade, ele não é capaz de alternar o sentido da correte. Todavia, o campo elétrico tem o papel de reforçar as contribuições dia e paramagnéticas como mostrado nas tabelas 2 e 3 para os anéis (CH)32 e (CH)34, respectivamente. Campo Elétrico (V/Å) Corrente diatrópica (nA/T) Corrente paratrópica (nA/T) 0 0.853137 -31.719539 0.10284 0.895213 -34.960882 0.20568 0.775834 -44.688008 0.30852 0.457005 -62.076842 0.41136 0.433745 -96.230487 0.51420 0.074370 -151.20766 0.61704 0.683939 -45.352141 Tabela 2: Contribuições diatrópica e paratrópica como função do campo elétrico para o anel (CH)32. Campo Elétrico (V/Å) Corrente diatrópica (nA/T) Corrente paratrópica (nA/T) 0 45.123132 -1.838205 0.10284 44.123132 -0.569483 0.20568 53.724695 -0.417739 0.30852 58.066481 -0.479549 0.41136 56.426809 -0.354128 0.51420 56.918022 -0.540906 0.61704 54.737769 -0.569437 Tabela 3: Contribuição diatrópica e paratrópica como função do campo elétrico para o anel (CH)34. 7.7 NICS Como já visto, uma forma de mensurarmos a aromaticidade é usando o método NICS (Nucleus- independent chemical shift) que é o negativo da blindagem absoluta computada no centro ou em algum ponto de interesse como visto na seção 6.3.2, desse modo, NICS < 0 indica aromaticidade e NICS > 0 indica antiaromaticidade [13]. Veja a tabela abaixo onde são mostrados os valores dos 13 NICS(0) e NICS(1) que correspontem ao valor do NICS no centro do anel e a 1 Å acima do centro, respectivamente. N0 de átomos NICS(0) NICS(1) N0 de átomos NICS(0) NICS(1) 10 -19,4543 -13,3565 28 12,9535 12,3272 12 91,1882 70,409 30 -16,6729 -15,9161 14 -20,1847 -16,2729 32 10,2361 9,86060 16 26,0660 22,1749 34 -12,6239 -12,1775 18 -19,8620 -21,4754 36 8,06540 7,83340 20 20,8621 18,8524 38 -9,62750 -9,35460 22 -19,4937 -17,8398 40 6,58960 6,43690 24 16,4061 15,3183 42 -7,37360 -7,20210 26 -19,2096 -18,0453 44 5,01360 4,91870 Tabela 4: Valor NICS para duas posições (ao centro e a 1 Å dele) em função da quantidade de átomos de carbono. Note que a alternância (negativo/positivo) se dá devido ao fato de que de 2 em 2 átomos, ocorre a troca 4n/4n+2 elétrons pi. 8 Cronograma de Execução Ano de 2017 Atividade Ago Set Out Nov Dez Familiarização com o Gaussian. X X Construção das estruturas e preparo dos inputs X X Análise dos dados X X Preparo de tabelas e gráficos X X Ano de 2018 Atividade Jan Fev Mar Abr Mai Jun Submissão em trabalho na SBF X X Preparo da apresentação no Encontro de Outono SBF X X Apresentação de trabalho no EOSBF X Preparação do relatório Final X X X 9 Considerações Finais Observamos a dependência da aromaticidade com a quantidade de átomos e vimos que um campo elétrico paralelo ao plano molecular é capaz de fazer uma estrutura dimerizada ser aromática desde que ela seja 4n + 2 e esteja acima do limiar mostrado. Analisamos a influência de um campo magnético em moléculas aromáticas/antiaromáticas e descrevemos o comportamento das correntes 14 induzidas pelo campo. Por fim, mostramos alguns métodos de quantificar a aromaticidade de forma simples e eficiente usando métodos teóricos/computacionais tais como: NICS e correntes induzidas com o software Gaussian03 e o GIMIC. Estes pacotes computacionais nos permitiram notar que a aromaticidade é destruída a partir de um certo número de carbonos, condizendo com a literarura. Com isso, estamos propondo que podemos ter compostos aromáticos com tamanhos diferenciados, desde que sejam aplicados campos elétricos sobre eles. Uma das perspectivas é estudar outros tipos de compostos que apresentam aromaticidade e relacionar seus efeitos com os aqui apresentados. A análise do Efeito Stark nos permitiu observar que diferentemente do benzeno, os anéis de poliacetileno não sofrem cruzamentos em seus níveis acima do LUMO. Nossa intenção é extender esse trabalhos a outras moléculas orgânicas e analisar características semelhantes com o fim de obter resultados semelhantes. Um dos possíveis compostos é o nanotubo de carbono. Um de seus variantes é o nanotubo zig-zag que pode ser visto como sendo vários anéis de poliacetileno empilhados e interligados, portanto, investigar os efeitos de campos elétricos e magnéticos nesses tipos de compostos pode nos dar informações relevantes para a análise e descrição de efeitos de transporte. 10 Atividades relevantes desenvolvidas pelo bolsista Participação periódica em reuniões de grupo, apresentação de poster durante a JEPEX 2017. Apresentação de trabalho em Maio de 2018 no encontro de outono da Sociedade Brasileira de Física, com título Electric field control of the Jahn-Teller transition in (CH)x nanorings . 11 Dificuldades Encontradas Os únicos empecilhos que surgiram durante o período da bolsa foram computacionais, pois devido às instabilidades da rede elétrica da UFRPE não foi possível realizar cálculos mais demorados. Referências [1] Katsumi Yoshino, Yutaka Ohmori, Akihiko Fujii, and Masanori Ozaki. Organic electronic devices based on polymeric material and tunable photonic crystal. Japanese Journal of Applied Physics, 46(9R):5655, 2007. [2] Jenő Kürti, János Koltai, Bálint Gyimesi, and Viktor Zólyomi. Hydrocarbon chains and rings: bond length alternation in finite molecules. Theoretical Chemistry Accounts, 134(10):114, 2015. [3] Justyna Dominikowska, Tadeusz Marek Krygowski, Wojciech Piotr Oziminski, and Marcin Palusiak. Aromaticity induced by electric field: The case of polycalicenes. The Journal of organic chemistry, 80(18):9091–9101, 2015. [4] Hugh Christopher Longuet-Higgins and L Salem. The alternation of bond lengths in long conjugated chain molecules. Proc. R. Soc. Lond. A, 251(1265):172–185, 1959. [5] Erich Steiner and Patrick W Fowler. Four-and two-electron rules for diatropic and paratropic ring currents in monocyclic pi systems. Chemical Communications, (21):2220–2221, 2001. 15 [6] Cheol Ho Choi and Miklos Kertesz. 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Wiley Interdisciplinary Reviews: Computational Molecular Science, 6(6):639–678, 2016. 16 Identificação Título do Projeto Resumo do Relatório Introdução Objetivos Geral Específico Metodologia Efeitos geométricos Efeito Stark Aromaticidade Critérios Geométricos Critérios Magnéticos Critérios Energéticos Aromaticidade induzida por um campo elétrico externo Caracterização da aromaticidade Resultados e Discussão Distância oposta ao ângulo de ligação Efeito do aumento da cadeia nos orbitais moleculares Efeitos do campo elétrico em anéis de poliacetileno (Efeito Stark) Perda da aromaticidade em anéis de poliacetileno Efeito do campo elétrico sobre a aromaticidade Correntes induzidas NICS Cronograma de Execução Considerações Finais Atividades relevantes desenvolvidas pelo bolsista Dificuldades Encontradas
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