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1 Direito Penal II - Resumo ESPÉCIES DE PENAS RESTRITIVAS (PARTE 1) Prestação pecuniária Definição e destinatários Art. 45, CP: A pena de prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. A finalidade dessa sanção é reparar o dano causado pela infração penal. Inclusive o valor pago deve ser deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários. Teria sido mais adequado e mais técnico que ela tivesse sido definida como “multa reparatória”, que é a sua verdadeira natureza. Preferencialmente, nessa sanção o montante da condenação se destina à vítima ou aos seus dependentes. Só de maneira excepcional em duas hipóteses o resultado dessa condenação em prestação pecuniária pode ter outro destinatário: o se não houver dano a reparar ou o se não houver vítima imediata ou seus dependentes. Nesses casos, o montante da condenação se destina a entidade pública ou privada com destinação social. Essa excepcionalidade se prende ao caráter indenizatório que essa sanção traz na sua finalidade. Na verdade, não teria sentido, havendo vítima e dano a reparar, em destinar o produto da condenação a “entidade pública ou privada com destinação social”, e depois, em “eventual condenação em ação de reparação civil”, deduzir o montante a indenizar, nos termos do art. 45, §1º, CP. Injustificada limitação da "compensação": condenação em ação reparatória O texto legal que prevê a dedução do valor pago a título de prestação pecuniária é taxativo, não deixando margem à discricionariedade. Uma vez aplicada essa sanção penal e sobrevindo sentença condenatória em “ação de reparação civil”, a dedução do valor pago do montante resultante da condenação é obrigatória. 2 Cezar Roberto Bitencourt entende que o legislador não foi muito feliz ao condicionar o direito de “compensar” o valor pago a título de “prestação pecuniária” só ao montante resultando de eventual “condenação” em ação reparatória no âmbito civil. Liminar esse direito compensatório mostra um descompasso entre a lei e a melhor política de solução dos litígios judiciais, que é por meio da “composição”. De acordo com o texto legal, a eventual composição ou conciliação cível não pode ser compensada pela sanção de prestação pecuniária aplicada no crime, ainda que procedida em ação reparatória cível e com coincidência de destinatários. Possibilidade de estender a "compensação" às conciliações cíveis A despeito do texto legal, Cezar Roberto Bitencourt defende que é possível estender a possibilidade da dedução prevista na segunda parte do §1º do art. 45 às conciliações em ações de reparação civil, qualquer que seja o rito processual. É admitida, então, a possibilidade de aplicar a dedução no âmbito dos Juizados Especiais (Lei n. 9.009/1995). Desse modo, vai ser possível compensar o montante da pena de prestação pecuniária – decorrente de transação penal (art. 76 ou 79, CP) ou de condenação na audiência de instrução e julgamento (art. 81, CP) – com eventual composição cível (art. 74, CP), todos processados no Juizado Especial Criminal. Contudo, esse processamento só pode ocorrer em ação penal pública incondicionada, na medida em que a composição cível extingue a punibilidade nas ações de iniciativa privada ou pública condicionada à representação, não havendo sanção penal de qualquer natureza. Perda de bens e valores Outra nova pena restritiva de direitos é a perda de bens e valores pertencentes ao condenado, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, levando em conta como teto o prejuízo causado pela infração penal ou o proveito obtido pelo agente ou por terceiro, conforme art. 45, §3º, CP. Na verdade se trata da pena de confisco, que não existia há muito tempo no DP moderno e por isso essa pena é considerada um retrocesso. Distinção entre "confisco-pena" e "confisco-efeito da condenação" O produto da perda de bens e valores se destina ao Fundo Penitenciário Nacional, como acontece com o produto da pena de multa e ao contrário da prestação pecuniária que tem caráter indenizatório. O objeto desse confisco, não vão ser os instrumentos ou produtos do crime, coo acontece no “confisco- efeito da condenação, e sim o próprio patrimônio do condenado, que é definido como “bens e valores”. 3 Existem duas diferenças básicas entre “confisco-pena” e “confisco-efeito da condenação”. o o confisco-efeito se destina à União, como receita tributária, enquanto o confisco-pena se destina ao Fundo Penitenciário Nacional o o objeto do confisco-efeito são os instrumentos e produtos do crime (art. 91, II, CP), enquanto o objeto do confisco-pena é o patrimônio pertencente ao condenado (art. 45, §3º, CP). Limites do confisco Esse confisco tem dois limites: o limitação do quantum a confiscar: o teto é o maior valor entre o montante do prejuízo causado e do proveito obtido com a prática do crime o limitação em razão da quantidade de pena aplicada: ou seja, essa sanção só pode ser aplicada na hipótese de condenações que não ultrapassem o limite de quatro anos de prisão Além disso, só cabe pena de “perda de bens e valores” quando for possível a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, de acordo com a previsão do art. 45 e dos seus §§. Como se trata de uma sanção penal, não é admissível interpretação extensiva, tanto em caso de condenação superior a 4 anos quanto em caso de condenação de até 4 anos que não satisfaça os requisitos legais da substituição. A legislação especial pode dar a essa sanção uma destinação diversa do Fundo Penitenciário nacional. O art. 243, CRFB/88, por exemplo, prevê a expropriação de glebas de terras destinadas ao cultivo de drogas, destinando essas terras ao assentamento de colonos sem-terra. Prestação de outra natureza (inominada) Se o beneficiário concordar, a pena de “prestação pecuniária” pode ser substituída por “prestação de outra natureza” (art. 45, §2º, CP). Se ela pode ser substituída por prestação de outra natureza, estão eliminadas as penas de multa e de perda de bens e valores, que também tem natureza pecuniária. Essa prestação de outra natureza é, na verdade, uma pena inominada, ou seja, indeterminada, que viola o princípio da reserva legal (art. 5º, XXXIX, CRFB/88 e art. 1º, CP). Esse princípio exige que preceito e sanção sejam claros, precisos, certos e determinados. Em ternos de sanções criminais, são inadmissíveis, pelo princípio da legalidade, expressões vagas, equívocas ou ambíguas. Natureza consensual dessa "conversão" A lei autoriza a substituição da “natureza da prestação”, ou seja, a substituição da natureza pecuniária de uma prestação por outra natureza qualquer vai 4 depender da aceitação do beneficiário. Essa substituição tem caráter consensual e por isso o beneficiário precisa ser ouvido. A competência para aplicar essa pena nunca poderia ser do órgão recursal. Além da supressão de um órgão de jurisdição, não seria possível ao órgão recursal convocar o beneficiário para ser ouvido em sessão de julgamento. Então, se o processo estiver em grau de recurso deve retornar à origem, onde o cabimento vai ser examinada e eventualmente o beneficiário vai ser ouvido.
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