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Uma Introducao Pesquisa Qualitativa Ensino Ciencias

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Universidade Federal de Mato Grosso dos Sul 
 
2013 
UMA INTRODUÇA O A PESQUISA 
QUALITATIVA EM ENSINO DE 
CIE NCIAS 
Paulo Ricardo da Silva Rosa 
 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
UMA INTRODUÇA O A PESQUISA 
QUALITATIVA EM ENSINO DE 
CIE NCIAS 
Paulo Ricardo da Silva Rosa 
 
 
 
 
Campo Grande, 2013. 
 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam 
certas. 
Mário Quintana1 
 
 
1 Poeta gaúcho (1906 – 1994). http://www.releituras.com/mquintana_cadernoh.asp 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 4 
 
 
 
Sumário 
Capítulo 1. O projeto de pesquisa ............................................................................................................................................ 13 
Capítulo 2. O trabalho científico e sua metodologia ........................................................................................................ 22 
2.1 A Estrutura da Pesquisa Científica - O V Epistemológico de Gowin ............................................................. 23 
2.1.1 O Domínio Metodológico e o Domínio Conceitual ...................................................................................... 24 
2.1.2 O uso do V Epistemológico no Ensino .............................................................................................................. 29 
2.2 Fases do Trabalho Científico ......................................................................................................................................... 30 
Capítulo 3. A questão básica de pesquisa ............................................................................................................................. 33 
3.1 O que é um evento ou fenômeno? ............................................................................................................................... 33 
3.2 Problema de pesquisa versus questão básica de pesquisa ............................................................................... 34 
3.3 A origem da questão básica ........................................................................................................................................... 37 
Capítulo 4. Delineamentos de Pesquisa com Intervenção ............................................................................................ 39 
4.1 Diferentes tipos de pesquisa ......................................................................................................................................... 39 
4.2 Fatores de Validade Interna .......................................................................................................................................... 43 
4.2.1 Maturação ..................................................................................................................................................................... 43 
4.2.2 História ........................................................................................................................................................................... 44 
4.2.3 Testagem ....................................................................................................................................................................... 44 
4.2.4 Instrumentação .......................................................................................................................................................... 44 
4.2.5 Seleção ............................................................................................................................................................................ 45 
4.2.6 Mortalidade .................................................................................................................................................................. 45 
4.2.7 Regressão ...................................................................................................................................................................... 45 
4.2.8 Efeitos de interação entre os vários fatores .................................................................................................. 45 
4.3 Fatores de Validade Externa.......................................................................................................................................... 46 
4.3.1 Validade de População ............................................................................................................................................ 46 
4.3.2 Validade Ecológica..................................................................................................................................................... 47 
Capítulo 5. Delineamentos de pesquisa sem intervenção............................................................................................. 51 
5.1 Características da Pesquisa Qualitativa sem intervenção ................................................................................ 52 
5.2 Análise Documental ........................................................................................................................................................... 52 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 5 
 
 
5.3 Observação direta .............................................................................................................................................................. 57 
5.4 Intermezzo – O Positivismo e sua influência nas ciências físicas e a pesquisa empírica ................... 57 
5.4.1 O Positivismo e sua influência nas ciências físicas ..................................................................................... 58 
5.4.1 A Pesquisa Etnográfica ............................................................................................................................................ 61 
5.4.2 Dinâmica Social: aspectos dialéticos ................................................................................................................. 63 
5.5 Observação Participante ................................................................................................................................................. 63 
5.6 Pesquisa Participante ....................................................................................................................................................... 64 
5.7 Pesquisa Ação....................................................................................................................................................................... 70 
5.8 Estudo de Caso ..................................................................................................................................................................... 71 
5.8.1 Definição e Validação de Estudos de Caso ...................................................................................................... 72 
5.8.2 Metodologia do Estudo de Caso .......................................................................................................................... 77 
5.9 Grupos Focais ....................................................................................................................................................................... 81 
5.9.1 Como montar, conduzir e analisar dados de Grupos Focais ................................................................... 83 
5.9.2 Condução .......................................................................................................................................................................87 
5.9.3 Análise dos registros ................................................................................................................................................ 90 
5.9.4 Comentários finais sobre Grupos Focais ......................................................................................................... 92 
5.10 Críticas aos delineamentos sem intervenção com análise qualitativa ..................................................... 92 
Capítulo 6. Os Instrumentos de Coleta de Registros ....................................................................................................... 94 
6.1 O questionário ..................................................................................................................................................................... 94 
6.1.1 Cuidados necessários ao elaborar os itens de um questionário ........................................................... 94 
6.1.2 Outros cuidados necessários na elaboração de questionários .............................................................. 98 
6.2 Opinário ou Escala de Atitudes ...................................................................................................................................... 99 
6.3 A Entrevista Clínica ......................................................................................................................................................... 101 
6.3.1 Conteúdo, tarefas e método da entrevista clínica. ................................................................................... 102 
6.3.2 Fidedignidade e Validade .................................................................................................................................... 104 
6.3.3 Conduzindo a entrevista ...................................................................................................................................... 106 
6.3.4 A porção flexível: linhas gerais de atuação ................................................................................................. 111 
6.4 Construindo testes .......................................................................................................................................................... 121 
Capítulo 7. Analisando os registros coletados ................................................................................................................ 125 
7.1 O Discurso e sua análise ................................................................................................................................................ 125 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 6 
 
 
7.2 Análise de Conteúdo Categorial ................................................................................................................................ 129 
7.3 Outros tipos de Análise de Conteúdo ..................................................................................................................... 132 
7.3.1 Análise de Avaliação .............................................................................................................................................. 132 
7.3.2 Análise de enunciação .......................................................................................................................................... 133 
7.4 Análise Microgenética ................................................................................................................................................... 135 
7.5 A questão da transcrição das falas ........................................................................................................................... 138 
Capítulo 8. Comunicando os resultados da pesquisa ................................................................................................... 140 
8.1 O problema das citações e transcrições ................................................................................................................ 141 
8.2 Trabalhos acadêmicos ................................................................................................................................................... 142 
8.2.1 Monografia ................................................................................................................................................................. 142 
8.2.2 Dissertação ................................................................................................................................................................ 142 
8.2.3 Tese ............................................................................................................................................................................... 142 
8.3 A estrutura da Tese e da Dissertação ..................................................................................................................... 143 
8.3.1 Elementos Pré-textuais ........................................................................................................................................ 143 
8.3.2 Elementos Textuais ................................................................................................................................................ 143 
8.3.3 Elementos Pós-Textuais ...................................................................................................................................... 145 
8.4 Trabalho regular de pesquisa .................................................................................................................................... 146 
8.4.1 Artigo científico ....................................................................................................................................................... 146 
8.4.2 Relatórios ................................................................................................................................................................... 148 
8.4.3 Comunicação em encontros científicos ........................................................................................................ 150 
Referências ................................................................................................................................................................................ 155 
Anexo ............................................................................................................................................................................................ 159 
Índice ............................................................................................................................................................................................ 171 
 
 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 7 
 
 
Índice de Figuras 
Figura 1 – Informações básicas que devem constar em um projeto de pesquisa. ............................................. 13 
Figura 2 - Campos a serem preenchidos em formulários de apresentação de projetos de pesquisa. ...... 14 
Figura 3 – Elementos que devem constar da descrição da metodologia do projeto de pesquisa. .............. 16 
Figura 4 – Fluxograma auxiliar para elaboração do Cronograma. ............................................................................ 17 
Figura 5 – Modelo de tabela de cronograma. ..................................................................................................................... 18 
Figura 6 - Modos de apresentação de projetos de pesquisa. ....................................................................................... 21 
Figura 7 – O V epistemológico de Gowin............................................................................................................................... 24 
Figura 8 - Duas cadeiras...............................................................................................................................................................25 
Figura 9 - Poltrona. ........................................................................................................................................................................ 25 
Figura 10 - Uma mola que se contrai sob a ação de uma força. Exemplo referente à Lei de Hooke. .......... 26 
Figura 11 – Gráfico para a Lei de Hooke (dados fictícios). ............................................................................................ 28 
Figura 12 – Fases do trabalho científico. .............................................................................................................................. 30 
Figura 13 - Fases do trabalho científico. ............................................................................................................................... 31 
Figura 14 – Uma pirâmide. ......................................................................................................................................................... 33 
Figura 15 – Uma estrela. .............................................................................................................................................................. 33 
Figura 16 - O delineamento da pesquisa. ............................................................................................................................. 39 
Figura 17 - Tipos de delineamentos de pesquisa. ............................................................................................................ 41 
Figura 18 - O espaço da pesquisa. ........................................................................................................................................... 41 
Figura 19 - Características da Pesquisa Empírica Experimental. .............................................................................. 42 
Figura 20 - Fatores que afetam a validade interna de uma pesquisa empírica experimental. ..................... 44 
Figura 21 – Exemplo de gráfico de interação estatística. .............................................................................................. 50 
Figura 22 – Visão esquemática da Análise Documental. ............................................................................................... 53 
Figura 23 – Natureza dos relatos da Análise Documental. ........................................................................................... 56 
Figura 24 – A evolução da humanidade segundo o Positivismo. ............................................................................... 58 
Figura 25 – A fase científica da evolução da humanidade. ........................................................................................... 59 
Figura 26 - A Ciência Positiva. ................................................................................................................................................... 59 
Figura 27 – Características do cientista positivo. ............................................................................................................. 60 
Figura 28 – Metodologia da Pesquisa Etnográfica ........................................................................................................... 62 
Figura 29 – Características do Relatório de Campo na Pesquisa Etnográfica. .................................................... 62 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 8 
 
 
Figura 30 – Características da Observação Participante. .............................................................................................. 63 
Figura 31 – Características da ideologia. .............................................................................................................................. 65 
Figura 32 - Exemplos de classe. ................................................................................................................................................ 66 
Figura 33 - Mecanismos ideológicos. ..................................................................................................................................... 67 
Figura 34 – Relação entre classe dominante, Estado e ideologia. ............................................................................. 67 
Figura 35 – Participação do grupo pesquisado na definição a Pesquisa Participante. .................................... 68 
Figura 36 – Metodologia da Pesquisa Participante. ........................................................................................................ 68 
Figura 37 - Esquema operacional da Pesquisa Participante. ...................................................................................... 69 
Figura 38 – A Pesquisa Ação. ..................................................................................................................................................... 71 
Figura 39 – Ciclo da Pesquisa Ação como reflexão sobre a prática. ......................................................................... 71 
Figura 40 - Classificação dos Estudos de Caso - Dimensão compreensão buscada pelo pesquisador 
(STAKE, 1995, apud COUTINHO & CHAVES, 2002). ........................................................................................................ 73 
Figura 41 - Classificação dos Estudos de Caso - Dimensão natureza do estudo. ................................................ 76 
Figura 42 – Características desejáveis do pesquisador que desenvolve estudos de caso. ............................. 77 
Figura 43- Etapas do Estudo de Caso. ..................................................................................................................................... 78 
Figura 44 – Componentes do Protocolo de Estudo de Caso. ......................................................................................... 78 
Figura 45 – Características do Relatório de Campo. ....................................................................................................... 79 
Figura 46 – Elementos que devem estar presentes no Relatório Final do Estudo de Caso. ........................... 80 
Figura 47 – Fontes de evidência em estudos de caso. .................................................................................................... 80 
Figura 48 – Princípios de análise no Estudo de Caso. ...................................................................................................... 81 
Figura 49 – Classes de critérios para composição de Grupos Focais. ....................................................................... 86 
Figura 50- Críticas aos delineamentos de pesquisa sem intervenção. .................................................................... 92 
Figura 51 – Possíveis respostas às objeções sobre os delineamentos de pesquisa sem intervenção. ...... 93 
Figura 52 – Características do Opinário. ............................................................................................................................ 100 
Figura 53 –Tipologia da entrevista. ..................................................................................................................................... 101 
Figura 54 – Aspectos da entrevista. ..................................................................................................................................... 102 
Figura 55 – Primeira fase da entrevista. ............................................................................................................................ 106 
Figura 56 - Formato da Entrevista. ...................................................................................................................................... 108 
Figura 57 – Tipos de questões da entrevista ................................................................................................................... 114 
Uma Introdução à PesquisaQualitativa em Ensino de Ciências Página | 9 
 
 
Figura 58 - (a) Um atirador que não é fidedigno, porque não acerta sempre em torno do mesmo ponto, 
e tampouco válido, pois não acerta o centro; (b) Um atirador é fidedigno, porque acerta sempre em 
torno do mesmo ponto, mas não válido porque não acerta o centro; (c) Um atirador que é fidedigno, 
pois acerta sempre em torno do mesmo ponto, e válido, porque acerta o centro, objetivo do jogo. ..... 122 
Figura 59 – Diferenciação entre Análise do Discurso e Análise de Conteúdo. ..................................................... 125 
Figura 60 – Características da Ideologia. .......................................................................................................................... 126 
Figura 61 – Exemplos de classe. ............................................................................................................................................ 126 
Figura 62 - O Campo Discursivo. ........................................................................................................................................... 127 
Figura 63 – Classe dominante e ideologia......................................................................................................................... 128 
Figura 64 – Características da Análise de Conteúdo Categorial. .............................................................................. 128 
Figura 65 – Características do Corpus na Análise do Conteúdo Categorial. ....................................................... 130 
Figura 66 – Exemplo de apresentação inadequada. ..................................................................................................... 151 
Figura 67 - "Tradução visual" da Figura 66. .................................................................................................................... 152 
 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 10 
 
 
Índice de Quadros 
Quadro 1- Dados fictícios para um experimento sobre a Lei de Hooke. ................................................................. 27 
Quadro 2 – Tipos de Pesquisa Empírica em Ciências Sociais ...................................................................................... 40 
Quadro 3 - Classificação dos vários tipos de Estudo de Caso segundo Gomez*. .................................................. 74 
Quadro 4 - Comparação das características entre os dois tipos de formato de entrevista.* ..................... 105 
Quadro 5 – Normas para transcrição de falas. ................................................................................................................ 138 
 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 11 
 
 
Apresentação 
Quando alguém aponta a Lua, o tolo olha do dedo, o sábio olha a Lua2. 
Provérbio Chinês 
Seja bem-vindo! 
Supomos que você, por escolher nosso texto para ler, seja um estudante em fase de elaboração de seu 
projeto. Este projeto poderá ser seu Trabalho de Conclusão de Curso (uma Monografia, uma 
Dissertação ou uma Tese) ou um projeto que será submetido a alguma agência de fomento para 
obtenção de fundos para o seu desenvolvimento (uma bolsa, por exemplo). De qualquer modo, 
esperamos que o manual que preparamos especialmente para você seja útil na elaboração de seu 
projeto de pesquisa. Cremos, também, que um material como o nosso possa ser útil ao pesquisador 
iniciante na construção de seus projetos de pesquisa. Além disso, esperamos que nosso texto possa 
também auxiliar professores das disciplinas de metodologia da pesquisa a formar novos 
pesquisadores. 
Este texto foi produzido a partir de nossa experiência como docente da Universidade Federal de Mato 
Grosso do Sul (UFMS) nas disciplinas Metodologia da Pesquisa para o Ensino de Ciências I (Curso de 
Mestrado em Ensino de Ciências), Prática de Ensino de Física IV (Licenciatura em Física) e em outras 
disciplinas do curso de Licenciatura em Física. Contribuiu, também, para a sua produção a nossa 
experiência na orientação de trabalhos de pesquisa de estudantes destes dois cursos. 
Neste texto, discutiremos a metodologia do trabalho científico, procurando desenvolver seus aspectos 
operacionais e formais. Nosso foco será a Pesquisa Qualitativa. Neste sentido, o presente texto deve ser 
entendido como complementar a outro (MOREIRA e ROSA, 2013), no qual abordamos as técnicas de 
pesquisa quantitativa. Entretanto, para completude do texto atual, vamos introduzir, de forma 
resumida, alguns conceitos da pesquisa quantitativa na análise de testes. 
Os aspectos operacionais dizem respeito à formulação do problema científico e ao estabelecimento de 
estratégias para encontrar a solução procurada. Discutiremos o que é um problema e a sua delimitação 
(o que chamamos de questão básica de pesquisa). Discutiremos, ainda, as formas de obter a resposta à 
questão que formulamos (aspectos metodológicos). 
Os aspectos formais do trabalho científico dizem respeito à forma de apresentação do trabalho 
produzido. As regras para a elaboração de monografias, dissertações e teses, bem como de artigos e 
projetos científicos serão discutidas. 
Os caminhos que percorreremos cobrirão tópicos que ajudarão você a: 
 Estruturar um trabalho científico; 
 Elaborar um projeto de pesquisa; 
 
2 A esse respeito, vale a pena ler o conto em http://abcimaginario.blogspot.com.br/2011/10/quando-um-dedo-aponta-para-lua-
o-tolo.html. 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 12 
 
 
 Desenvolver esse projeto; e, 
 Comunicar o resultado obtido a outras pessoas. 
O eixo articulador de nosso texto será a construção de um projeto de pesquisa. Escolhemos esta forma 
por uma razão simples: a elaboração de projetos de pesquisa faz parte da vida do pesquisador. Hoje em 
dia, as formas de financiamento da pesquisa passam, sempre, pela elaboração de projetos de pesquisa. 
Em muitas áreas, sobram recursos e faltam bons projetos. Além dessa razão prática, a construção do 
projeto de pesquisa permite que exploremos aspectos fundamentais da construção da pesquisa 
científica, tais como: a questão básica de pesquisa, a Introdução e a Justificativa de um projeto de 
pesquisa, questões de natureza metodológica, aspectos ligados a orçamentos e cronogramas. 
Estes últimos dois tópicos são de particular interesse e não são cobertos, normalmente, em textos 
sobre Metodologia da Pesquisa. Entretanto, muitos projetos não são aprovados por órgãos 
financiadores ou não são levados a bom termo devido ao mau planejamento das ações (expressas pelo 
cronograma do projeto) ou porque os recursos alocados ao projeto foram insuficientes ou mal 
distribuídos entre as diferentes rubricas (itens contemplados na proposta orçamentária). 
Quanto às formas de divulgação da pesquisa realizada, nos preocuparemos mais com o estudo de 
formas atreladas diretamente ao trabalho do pesquisador atuante: a Dissertação e a Tese, o artigo 
científico, a comunicação em congressos (oral e o pôster), etc. Abordarmos, no que diz respeito à 
comunicação científica, apenas os aspectos ligados à estrutura e a finalidade destes trabalhos, focando 
na sua construção e nos elementos que neles devem aparecer. Parece-nos que esta área está pouco 
coberta pelos textos já existentes. Diferentemente de outros textos, não daremos ênfase aos aspectos 
ligados à editoração da comunicação da pesquisa (normatização da paginação, citações, forma de 
referenciar, etc.). Além das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT3, existem 
vários manuais que fazem isso que você poderá consultar. Ao final, na lista de referências, você 
encontrarávárias fontes para esses conteúdos, tanto impressas como na Internet. 
Os conteúdos apresentados podem ser cobertos em aproximadamente quinze semanas, com quatro 
horas de aula por semana. Juntamente com os conteúdos cobertos em Moreira & Rosa (2013), forma 
um curso completo em Metodologia da Pesquisa que pode ser coberto em um semestre. Todavia, 
convém lembrar o caráter introdutório dos dois textos. O pesquisador, ao escolher determinada 
metodologia, deve buscar nas referências listadas ao final dos dois textos o aprofundamento dos 
conteúdos que apresentamos. 
Para finalizar, um comentário sobre o provérbio que abre esta apresentação. A metodologia da 
pesquisa é uma ferramenta, o dedo. O que importa é a Lua: o conhecimento sobre o mundo que 
obtemos após realizar a pesquisa. 
Boa leitura. 
 
3 Embora as Normas da ABNT não tenham força de lei, elas servem de referência a muitas organizações para a normatização dos 
trabalhos produzidos em seu âmbito. 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 13 
 
 
Capítulo 1. O projeto de pesquisa 
Um projeto de pesquisa é uma proposta de pesquisa a ser apresentada a algum órgão ou instituição. 
Normalmente, o projeto de pesquisa aborda o objetivo da pesquisa (com a justificativa de sua 
relevância e ineditismo), a questão básica de pesquisa que se quer analisar e a metodologia pela qual 
pretendemos chegar ao objetivo pretendido. Outros itens do projeto de pesquisa são: seu Cronograma, 
seu Orçamento, a relação dos profissionais envolvidos (com suas atribuições no projeto) e a lista de 
instituições que participarão do projeto. As informações básicas que devem constar no projeto são 
mostradas na Figura 1. 
Figura 1 – Informações básicas que devem constar em um projeto de pesquisa. 
Para desenvolver o projeto de pesquisa, vamos nos basear no modelo de formulário para apresentação 
de projetos de pesquisa utilizado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (veja o Anexo). 
Agências de Fomento e outras instituições usam outros formulários, mas os elementos básicos são 
estes que você encontrará no formulário mostrado no Anexo. A Figura 2 mostra os campos que são 
normalmente encontrados em formulários para apresentação de projetos de pesquisa. Esses campos, 
em geral, são: 
1. Folha de identificação do projeto. 
Nesta folha, você necessitará preencher dados de modo a identificar o proponente do 
projeto: título do projeto, nome e dados pessoais do coordenador, instituição na qual o 
projeto será desenvolvido, orçamento resumido, aprovações institucionais, etc. 
2. Introdução 
Nesta parte do formulário do projeto você deve apresentar e contextualizar o 
problema de pesquisa que será analisado, apontando claramente qual é a questão 
básica que será respondida pela pesquisa. Nesta parte, não cabem transcrições de 
autores. Podemos citá-los apenas com a intenção de contextualizar nosso problema. 
Tampouco devemos fazer revisão da literatura. 
Projeto de Pesquisa 
Objeto do 
Projeto 
Estado da arte da 
área 
Referencial Teórico 
da Pesquisa Metodologia 
da Pesquisa 
Cronograma 
Orçamento 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 14 
 
 
3. Justificativa 
Nesta seção devemos apontar para o avaliador de nosso projeto as razões pelas quais 
achamos que a pesquisa que nos propomos a realizar deve ser feita. É nesta parte que 
apresentamos nossas razões para o convencimento ao avaliador. Essas razões devem 
ter por base o ineditismo e a relevância do que estamos nos propondo a investigar. A 
importância social do conhecimento que pode ser potencialmente produzido também 
deve ser salientada. 
Também é aqui que a crítica a trabalhos anteriores deve ser feita, apontando em que 
aspectos estes trabalhos não conseguiram bons resultados ou foram incompletos e 
como nosso trabalho pretende completar ou corrigir os resultados obtidos até o 
momento em que a proposta de pesquisa é apresentada. 
 
Figura 2 - Campos a serem preenchidos em formulários de apresentação de projetos 
de pesquisa. 
4. Objetivos 
Os objetivos do projeto são os conhecimentos que nos propomos a obter, os produtos 
que pretendemos desenvolver, etc., como resultado das atividades do projeto. Os 
objetivos devem ser expressos na forma de observáveis (mensuráveis ou não). Para 
isso, use verbos com essas características. 
É importante diferenciar, quando falamos de projetos na área do ensino, o que são 
objetivos de ensino e o que são objetivos de pesquisa. Os objetivos de ensino são 
aqueles ligados às competências e habilidades que queremos que os alunos 
desenvolvam. Para isto desenvolvemos estratégias de ensino e produzimos materiais 
instrucionais (jogos, programas de simulação, sequências didáticas alternativas, etc.). 
Os objetivos de pesquisa estão relacionados à avaliação do efeito destes materiais e 
Formulário de Projeto 
de Pesquisa 
Folha de rosto 
Introdução 
Justificativa 
Metodologia da 
Pesquisa 
Objetivos e Metas 
da pesquisa 
Cronograma 
Orçamento 
RH e Instituições 
participantes 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 15 
 
 
das abordagens a eles associadas na aprendizagem dos alunos. Assim, por exemplo, 
consideremos um projeto de pesquisa que tenha por objetivo avaliar o uso de um 
novo programa de simulação na aprendizagem de conceitos de Física Moderna por 
alunos do terceiro ano do ensino médio. Neste caso, um objetivo de ensino seria: 
Ao final da sequência didática os alunos deverão saber calcular a intensidade da 
corrente elétrica gerada por efeito fotoelétrico em uma placa metálica. 
Este objetivo diz respeito ao que o professor espera que os alunos sejam capazes de 
realizar após o desenvolvimento da sequência didática aplicada. Por outro lado, um 
objetivo de pesquisa seria: 
Qual o efeito da utilização de um programa de simulação sobre o efeito 
fotoelétrico na aprendizagem do cálculo da intensidade da corrente elétrica em 
uma placa metálica? 
Como podemos ver são objetivos completamente diferentes. Em um projeto de 
pesquisa, na seção dos objetivos, devemos listar os objetivos de pesquisa e não os 
objetivos de ensino (objetivos didáticos). Observe que nada falamos sobre o 
desenvolvimento do programa de simulação como um dos objetivos do projeto. Do 
ponto de vista do projeto, o desenvolvimento do programa não é um objetivo, mas 
uma ferramenta necessária ao desenvolvimento do projeto. O que queremos avaliar é 
o efeito desta ferramenta sobre a aprendizagem dos alunos. 
5. Metas 
A palavra Meta pode ter duas interpretações. Pode ser entendida como um objetivo de 
caráter mais geral ou como um objetivo ao qual associamos indicadores de 
mensuração. Por exemplo: formar 90% dos acadêmicos da Física com uma nova 
metodologia de ensino. 
6. Metodologia 
Nesta parte, o pesquisador demonstra seu domínio do tema e das técnicas disponíveis 
(ou que estão sendo propostas) para atingir os objetivos propostos. Na Metodologia, o 
pesquisador descreve as ações que serão desenvolvidas para atingir os objetivos e 
metas. É nesta parte que tipificamos a pesquisa que será executada, se experimental 
ou não, qualitativa ou não. 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 16 
 
 
É importante salientar que a proposta metodológica do projeto é subordinada ao Referencial Teórico e 
à Questão Básica da pesquisa que está sendo proposta. A 
 
Figura 3 mostra, esquematicamente, esta subordinação da Metodologia. Discutiremos mais este 
aspecto da Metodologia no próximo capítulo. 
 
 
Figura 3 – Elementos quedevem constar da descrição da metodologia do projeto de 
pesquisa. 
7. Referências 
Nesta parte do formulário do projeto você deve listar, segundo as normas exigidas, 
normalmente as da Associação Brasileira de Normas Técnicas4 (ABNT), os trabalhos 
citados no projeto. Quanto a isto, você deve responder a duas perguntas: 
i) Todos os trabalhos citados são listados? 
 
4 A ABNT (http://www.abnt.org.br) não é um órgão oficial, mas uma entidade de caráter privado que sugere normas a serem 
seguidas para a produção de textos científicos. Estas normas são seguidas por muitas instituições. 
Metodologia 
Referencial 
Teórico 
Questão 
básica 
Delineamento 
Métodos de 
coleta de dados 
Métodos de 
análise de dados 
Métodos de seleção do 
grupo estudado 
 
Metodologia 
Referencial 
Teórico 
Questão 
básica 
Delineamento 
Métodos de 
coleta de dados 
Métodos de 
análise de dados 
Métodos de seleção do 
grupo estudado 
 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 17 
 
 
ii) Todos os trabalhos listados são citados? 
Se as respostas a estas duas questões for positiva, então a lista de referências está 
completa. Uma forma segura de garantir a resposta afirmativa a estas duas questões é 
usar os mecanismos de indexação bibliográfica que os modernos editores de texto 
oferecem. 
8. Instituições participantes 
Neste item, listamos as instituições que participarão do projeto, juntamente com suas 
funções. 
9. Participantes do Projeto 
Nesta parte do formulário de pesquisa são listadas as pessoas que participarão do 
projeto. Listamos suas funções e a carga horária que elas dedicarão ao projeto. Aqui 
devemos ser absolutamente honestos, pois, senão, o projeto pode ficar inviável. 
10. Cronograma 
Neste item, fazemos uma descrição do tempo que será gasto em cada tarefa do projeto. 
Muito cuidado deve ser tomado na análise de tempo que será gasto em cada etapa. A 
elaboração do cronograma é fundamental para que possamos desenvolver o projeto 
no prazo que nos propomos. 
Deixe sempre uma folga no Cronograma, pois imprevistos que consomem tempo 
acontecem e podem atrasar o desenvolvimento de uma atividade da qual dependem 
todas as outras. Somente a experiência no desenvolvimento de projetos nos dá uma 
visão mais acurada de quanto tempo cada tarefa nos tomará. 
Figura 4 – Fluxograma auxiliar para elaboração do Cronograma. 
Apesar de ser necessária experiência com o tema do projeto para a elaboração de um 
bom cronograma, algumas ações favorecem a sua construção: 
Início 
Tarefa 1 
Tarefa 6 Tarefa 5 
Tarefa 2 Tarefa 3 
Tarefa 4 
Mesmo 
tempo 
Outras tarefas 
Mesmo 
tempo 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 18 
 
 
 Liste todas as ações que serão necessárias para desenvolver o projeto; 
 Construa um fluxograma, colocando no topo as ações que primeiro precisam 
ser desenvolvidas e as ações que podem ser desenvolvidas 
concomitantemente na mesma linha (veja a Figura 4); 
 Construa o cronograma, colocando as tarefas que devem ser executadas na 
ordem em que elas deverão ser realizadas, como expressa no fluxograma 
(veja a Figura 5). 
Tarefa a ser realizada Mês de desenvolvimento 
1 2 3 4 5 6 
Tarefa 1 
Tarefa 2 
Tarefa 3 
Tarefa 4 
Figura 5 – Modelo de tabela de cronograma. 
Observe que a tabela do cronograma deve ficar parecendo uma escada. No modelo que 
apresentamos, a unidade de tempo utilizada foi o mês. Naturalmente, isto deve ser 
adaptado às necessidades do projeto. 
11. Orçamento detalhado 
Nesta parte do formulário do projeto de pesquisa, o pesquisador aponta os gastos que 
decorrerão da execução do projeto. Um ponto importante é o seguinte: somente são 
justificáveis gastos com atividades do projeto. Não coloque nenhum gasto que não 
possa ser justificado a partir das necessidades da pesquisa. Seu projeto será 
reprovado pelas agências de financiamento, com certeza5. 
Um exemplo: se você colocar um notebook como item de um projeto que não envolve 
pesquisa de campo, na qual esse tipo de aparelho pode ser útil, seu projeto poderá não 
ser aprovado. 
Outro ponto importante é justificar claramente cada item pedido em função das 
necessidades do projeto. Não adiante pedir um computador se o projeto não necessita 
desse tipo de equipamento, por mais que o seu computador esteja pedindo água! 
Normalmente, nas agências públicas6 que financiam pesquisas, o Orçamento é 
dividido em dois grandes grupos: Custeio e Capital. As despesas de Custeio são 
 
5 Em projeto apresentado a certa agência de fomento, um pesquisador colocou uma impressora no projeto com a justificativa de 
que precisava imprimir! Outro justificou o pedido em duplicata de um mesmo equipamento argumentando que se o 
equipamento estragasse ele teria um sobressalente! 
6 Algumas agências públicas de fomento à pesquisa científica são: Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Conselho 
Nacional de Pesquisas e Desenvolvimento (CNPq), Fundação de Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior 
(CAPES) e Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (FUNDECT). 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 19 
 
 
aquelas correntes enquanto que as despesas de capital normalmente são associadas a 
equipamentos e materiais permanentes. Cada item de gasto é chamado de rubrica. 
Despesas de Custeio 
As Despesas de Custeio são classificadas em: 
a. Diárias 
Este tipo de gasto tem por objetivo cobrir gastos decorrentes de deslocamentos dos 
integrantes da equipe do projeto e pode ser usado para pagar hotéis, refeições, etc. O 
valor é definido pelo órgão que financia o projeto e é estipulado por dia de 
afastamento da sede do pesquisador. Usualmente, o coordenador do projeto paga em 
espécie ou deposita na conta do pesquisador que recebe a diária. 
b. Passagens e despesas de locomoção 
Este tipo de gasto também existe para cobrir despesas de locomoção para fora da sede 
do projeto tais como: táxi, passagens aéreas, passagens terrestres, etc. Normalmente é 
vedado o uso desse recurso do projeto para cobrir participação em encontros 
científicos (assim como os valores reservados a diárias). Um aviso importante: se você 
pagou Diárias, você não pode pagar despesas de táxi ou outro meio de transporte 
urbano, tampouco despesas com hospedagem não podem ser pagas 
c. Serviços de Terceiro - Pessoa Física 
Este tipo de recurso é usado para pagar eventuais trabalhos de autônomos em 
atividades ligadas ao projeto. Hoje em dia, evita-se gastar nessa rubrica, pois, 
normalmente, não há previsão de cobertura para gastos sociais (impostos, taxas, INSS, 
etc.) que são contrapartida do empregador (no caso o coordenador do projeto). Além 
disso, deve-se ter cuidado com este tipo de gasto, para que a frequência com que este 
tipo de pagamento é realizado não caracterize vínculo empregatício. 
d. Serviços de Terceiros - Pessoa Jurídica 
Este tipo de recurso existe para pagar empresas por atividades desenvolvidas em 
função do projeto. As empresas contratadas devem estar em dia com suas obrigações 
fiscais e previdenciárias. O coordenador do projeto deve ter bastante cuidado a esse 
respeito, porque senão terá problemas na prestação de contas do projeto. 
e. Consumo 
Neste item são detalhados os gastos com materiais descartáveis a serem utilizados no 
projeto. Por exemplo, o mouse de um computador é material de consumo, assim comoa tinta da impressora e o papel. Reagentes químicos, filmes fotográficos, CDs são 
outros exemplos de materiais de consumo. Normalmente, cada agência lista os 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 20 
 
 
materiais que considera de consumo. É sempre bom consultar esta lista antes de 
classificar os materiais previstos no projeto. 
Outro ponto que você como coordenador tem que prestar atenção é o seguinte: um 
material que é considerado como consumo, um pente de memória para computador, 
por exemplo, pode não ter sua compra autorizada pela agência de fomento se ela 
considerar que a compra desse material é uma contrapartida da instituição na qual o 
projeto será desenvolvido. 
Despesas de Capital: Equipamentos e Material Permanente 
No Setor Público, esse é o tipo de dinheiro mais difícil de ser conseguido no orçamento 
dos diferentes órgãos. Por material permanente é entendido todo o tipo de material 
que não se degrada pelo uso e que durará bastante tempo. Mesas, cadeiras, armários, 
máquinas em geral, computadores, etc., são classificados como materiais 
permanentes. Em geral, qualquer item passível de ser patrimoniado é considerado 
material permanente. Pela Portaria 448 de 13 de setembro de 2002 (BRASIL/STN/MF, 
2002) todo bem com vida útil superior a dois anos é considerado material 
permanente. 
Importante: você não pode usar recurso alocado em uma rubrica em outra, mesmo 
que esteja sobrando, sem autorização explícita do órgão financiador. Em geral, é 
vedado o uso de recursos de Custeio em Materiais Permanentes e vice-versa. 
 12. Cronograma de desembolso 
Nesta parte do formulário, a programação de liberação dos recursos é sugerida à agência de 
fomento (ou instituição que financiará o projeto). Nele, você deverá apontar em que momento 
ao longo do projeto os recursos precisam estar disponíveis. 
Embora este quadro seja quase sempre solicitado, na maior parte das vezes os recursos são 
liberados de uma única vez na conta do projeto quando do seu início. 
Os projetos de pesquisa são submetidos às agências financiadoras de duas maneiras distintas: por 
demanda espontânea ou por demanda induzida. No primeiro caso, o pesquisador apresenta o projeto à 
agência, na forma de fluxo contínuo: o pesquisador apresenta a qualquer momento o seu projeto de 
pesquisa. No segundo caso, o mais comum, a agência de financiamento lança um Edital, anunciando 
que financiará projetos em certo campo do conhecimento. A Figura 6 mostra esquematicamente estes 
dois esquemas de submissão de projetos de pesquisa. 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 21 
 
 
 
Figura 6 - Modos de apresentação de projetos de pesquisa. 
 
Edital Órgão de 
Fomento 
Projetos de 
Pesquisa 
Lança 
Chamada induzida: 
Por demanda: 
Projeto de Pesquisa Órgãos de fomento 
Direcionado a 
Fluxo 
contínuo 
Direcionado a 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 22 
 
 
Capítulo 2. O trabalho científico e sua metodologia 
Um texto sobre Metodologia, como o próprio nome sugere, é um texto dedicado ao método adequado 
pelo qual alguma tarefa deve ser realizada. Sobre o verbete Metodologia o dicionário Houaiss nos 
ensina que Metodologia é (HOUAISS, 2001): 
1 Rubrica: lógica. 
ramo da lógica que se ocupa dos métodos das diferentes ciências 
1.1 parte de uma ciência que estuda os métodos aos quais ela própria recorre 
1.2 Rubrica: literatura. 
em literatura, investigação e estudo, segundo métodos específicos, dos componentes e do caráter 
subjetivo de uma narrativa, de um poema ou de um texto dramático 
2 Derivação: por extensão de sentido. 
corpo de regras e diligências estabelecidas para realizar uma pesquisa; método 
Nesta definição, o termo Método aparece de forma intensa, o que nos leva a questionar o que Método 
significa. Novamente, recorremos ao dicionário (HOUAISS, 2001): 
1 procedimento, técnica ou meio de se fazer alguma coisa, esp. de acordo com um plano 
Ex.: há dois m. diferentes para executar essa tarefa 
2 processo organizado, lógico e sistemático de pesquisa, instrução, investigação, apresentação etc. 
Ex.: m. analítico, dedutivo 
3 ordem, lógica ou sistema que regula uma determinada atividade 
Ex.: ensinar com m. 4 modo de agir; meio, recurso 
Ex.: encontrou um bom m. para economizar 
5 conjunto de regras e princípios normativos que regulam o ensino ou a prática de uma arte 
Ex.: aprendeu a ler pelo m. da silabação 
6 Rubrica: filosofia. 
conjunto sistemático de regras e procedimentos que, se respeitados em uma investigação 
cognitiva, conduzem-na à verdade. 
Portanto, Metodologia pode ser entendida como o conjunto de regras ou procedimentos (o método) 
pelo qual fazemos algo. Por outro lado, Metodologia da Pesquisa, se refere ao termo Pesquisa, a qual, 
ainda segundo o Houaiss pode ser definida como (HOUAISS, 2001): 
- conjunto de atividades que tem por finalidade a descoberta de novos conhecimentos no domínio 
científico, literário, artístico etc.; 
- investigação ou indagação minuciosa 
Portanto, podemos definir a Metodologia da Pesquisa como sendo o estudo dos métodos pelos quais 
fazemos pesquisa ou, em outras palavras, o estudo dos métodos que nos permitem obter novos 
conhecimentos. 
Em particular, como o título de nosso texto aponta, estamos interessados no estudo da Metodologia da 
Pesquisa em Ensino de Ciências, ou seja, estamos interessados nos métodos pelos quais a pesquisa em 
Ensino de Ciências deve ser realizada. Portanto, uma possível definição de Metodologia da Pesquisa em 
Ensino de Ciências é: 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 23 
 
 
Metodologia da Pesquisa em Ensino de Ciências, então, é o estudo dos métodos 
que nos permitem descobrir novos conhecimentos no Ensino de Ciências, ou 
novos conhecimentos sobre como ensinar Ciências. 
Essa, talvez, deva ser a primeira lição: não há um único método ou o método certo pelo qual podemos 
conhecer algo a respeito do Ensino de Ciências. O que existe são diferentes abordagens para diferentes 
problemas. A abordagem que é adequada a uma classe de problemas pode não ser a mais adequada 
para outra classe de problemas. Nosso objetivo é oferecer a você ferramentas variadas, de modo que 
você, frente à determinada situação, escolha a mais adequada. 
O importante, e o pesquisador deve ter isto sempre em mente, é o fato de que os métodos de pesquisa 
(ou procedimentos de pesquisa) são subordinados ao Referencial Teórico do pesquisador e, portanto, 
devem ser coerentes com ele. 
2.1 A Estrutura da Pesquisa Científica - O V Epistemológico de Gowin 
A pesquisa científica não acontece de forma isolada do contexto social no qual o pesquisador está 
inserido. Este contexto é formado pelos aspectos físicos, sociais e históricos da sociedade particular na 
qual a pesquisa é realizada. Importante, também, lembrar que a pesquisa ocorre em um momento no 
tempo. Como consequência disto, o pesquisador tem a sua frente questões de pesquisa específicas 
oriundas de um modo particular (e histórico) de interagir com o mundo a sua volta. Este conjunto de 
elementos presentes na mente do pesquisador é chamado de Domínio Conceitual da pesquisa. Por 
outro lado, ao realizar a pesquisa, o investigador da ciência faz uso de certos métodos, concebidos a 
partir de sua visão particular do assunto objeto da pesquisa. Estes métodos são compostos por 
conceitos, formas de construir dados, asserções de valor e asserções de conhecimento. A este conjunto 
chamamos de Domínio Metodológico da pesquisa. O V Epistemológico de Gowin é uma figura na qual 
representamos os dois ramos da Pesquisa Científica (Figura 7),os domínios metodológico e conceitual 
(MOREIRA, 1990). 
No campo educacional, além de nos permitir visualizar a estrutura dos experimentos científicos, o V 
Epistemológico de Gowin, ou simplesmente V Epistemológico, é uma ferramenta muito útil em vários 
contextos: como auxiliar no planejamento, como recurso instrucional, como instrumento de avaliação 
do aluno, como ferramenta auxiliar na análise do material instrucional, na análise do Currículo7 de um 
material instrucional, etc. Por material instrucional entende-se uma aula, um experimento de 
laboratório, um livro, um artigo de revista, um programa de computador, um vídeo, etc. A vantagem do 
uso do V Epistemológico, em relação a outras ferramentas de análise, é a capacidade de síntese que 
aquele possui. 
 
 
7 Por currículo entende-se o que pode ser apreendido daquele material instrucional. Nesse sentido, currículo deve ser 
diferenciado de uma grade curricular que simplesmente é um conjunto de disciplinas que compõem um curso. 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 24 
 
 
A rigor, o V Epistemológico não traz novidades conceituais em termos da interpretação da atividade de 
pesquisa. A sua grande virtude está na forma como estes conceitos são apresentados, a síntese visual 
que possibilita e a maneira lógica como os vários elementos que compõem a pesquisa são identificados. 
A base sobre a qual o V Epistemológico se sustenta é a ideia de que a pesquisa é construída sobre uma 
rede de significados composta por conceitos, teorias, eventos, questões, transformações de dados, 
asserções de valor e significado. O papel do V Epistemológico é o de explicitar esses componentes. Esta 
crença, por sua vez, tem sua base na hipótese cognitivista de que o conhecimento é estruturado na 
mente dos sujeitos e que essa estrutura subsiste por trás do projeto de pesquisa. 
 
Figura 7 – O V epistemológico de Gowin. 
2.1.1 O Domínio Metodológico e o Domínio Conceitual 
A percepção de um evento passa pela estrutura cognitiva de quem percebe. Da mesma forma, o que é 
uma questão básica também depende de quais conceitos o sujeito traz naquela estrutura. Por exemplo, 
considere a seguinte questão: 
Quanto tempo uma pedra leva para cair? 
Evento 
Registro
Dados 
Conceitos 
Asserções de 
conhecimento 
Asserções de 
valor 
Domínio 
Metodológico 
Domínio 
Conceitual 
Leis 
Teorias 
Filosofias (visões de 
mundo) 
Domínios em 
interação 
Questão básica 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 25 
 
 
A formulação desta questão, que parece de uma trivialidade e simplicidade extremas, só foi possível 
após o trabalho de Galileu Galilei8 no século XVII e a consequente algebrização da Física iniciada por 
ele. 
Assim, em toda pesquisa, para que possa haver a compreensão do evento sobre o qual a pesquisa está 
interessada, aqui entendida como a identificação do evento estudado, da formulação da questão básica 
que suscita e as respostas que porventura possa oferecer, há sempre necessidade da mediação da 
estrutura conceitual dos sujeitos. 
Figura 8 - Duas cadeiras 
Para prosseguir, temos que definir o que entendemos por um conceito. Em nossa interação com o 
mundo percebemos regularidades em objetos e eventos. Dessa observação de regularidades criamos 
entidades mentais que são abstrações das propriedades observadas nestas regularidades. Estas 
entidades mentais são os conceitos. Por exemplo, tomemos o conceito de cadeira. Mesmo duas cadeiras 
completamente diferentes como as mostradas na Figura 8 são percebidas por nós como sendo objetos 
que têm algo em comum e que pertencem à mesma classe de objetos. Por outro lado, o objeto 
mostrado na Figura 9, mesmo tendo características similares às de uma cadeira (assento, encosto, pés, 
etc.) é percebido claramente como um objeto que pertence à outra classe de objetos, as poltronas. 
Figura 9 - Poltrona. 
O ser humano tem a capacidade de associar signos (verbais ou não) a conceitos. Ao longo do nosso 
desenvolvimento, por volta dos dois anos, já temos capacidade de associar um signo sonoro a 
diferentes objetos e eventos, aprendendo, assim, a linguagem. A partir daí, temos uma associação, que 
para os adultos é quase uma identidade, entre a linguagem e os conceitos. Quando pensamos 
internamente, operamos sobre os signos linguísticos em um espaço isomorfo ao dos conceitos. A 
 
8 Físico e Matemático italiano responsável, entre outros, pela matematização da Física e pelo uso do telescópio como 
instrumento astronômico com fins científicos. 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 26 
 
 
discussão desse processo foge ao objetivo deste texto. Se você estiver interessado neste assunto, 
sugerimos a leitura do texto de Vygotsky (1993). 
Tomemos, como exemplo, um experimento no qual devemos obter a Lei de Hooke (veja a Figura 10). 
Esta lei estabelece que, dentro de certos limites, a força restauradora9 em uma mola é proporcional a 
sua elongação, definida como a variação do comprimento da mola em relação à posição de equilíbrio 
(quando nenhuma força age sobre ela). 
Figura 10 - Uma mola que se contrai sob a ação de uma força. Exemplo referente à Lei de Hooke. 
Para entendermos o que está dito na frase anterior é necessário que tenhamos na nossa estrutura 
cognitiva os conceitos de mola, força, posição de equilíbrio, comprimento, variação, proporcionalidade 
e assim por diante. Ou seja, a interpretação e mesmo o projeto de um experimento que viesse a obter 
ou verificar a Lei de Hooke somente seria possível se tivéssemos na nossa mente todos estes conceitos. 
Estes conceitos se ligam de forma ordenada e lógica para gerarem asserções que estabelecem como os 
entes representados pelos conceitos se relacionam. A estas asserções chamamos uma Lei. Um aspecto 
importante de uma Lei é que ela expressa relações de causalidade entre eventos observados. Em geral 
a estrutura de uma Lei é: p  q. Sendo p e q são duas proposições, a Lei nos diz que se a primeira 
proposição, p, for verdadeira então a segunda proposição ,q, também o será10. Um exemplo de Lei é a 
Lei de Hooke que enunciamos acima: ela relaciona vários conceitos dizendo como a força restauradora 
se comportará se soubermos qual é a elongação da mola. 
As leis, por sua vez, podem ser agrupadas em estruturas mais gerais, formando as Teorias. Um exemplo 
de teoria é a Mecânica Clássica na Física ou a Genética na Biologia ou a Teoria do Átomo na Química. As 
Teorias têm um poder de explicação mais geral que uma Lei e elas expressam uma síntese de todo um 
campo do conhecimento. A Lei de Hooke que vimos usando como um exemplo se encaixa dentro da 
teoria mais geral da Mecânica Clássica. Enquanto a Lei dá conta de um evento específico, uma Teoria dá 
conta de princípios mais gerais envolvidos em todos os eventos de uma mesma classe. A Lei de Hooke é 
específica para o evento de uma mola esticada ou comprimida enquanto que as Leis de Newton se 
 
9 Força restauradora é a força que aparece em uma mola quando a esticamos ou comprimimos fazendo com que uma mola volte 
à sua posição de equilíbrio. 
10 A este respeito, o trabalho de Toulmin (2006) discute o conceito de Lei e a visão da Lei a partir da lógica. 
Elongação 
Mola antes da ação da força Mola após a ação da força 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 27 
 
 
aplicam tanto a situações envolvidas na Lei de Hooke como em outras situações não contempladas pelaúltima. 
Ainda, em um grau mais geral do que as Teorias, encontramos a Filosofia11 subjacente a todo material 
instrucional ou currículo. Uma Filosofia é um conjunto de ideias que dão um substrato epistemológico 
às Teorias. Por exemplo, por trás da Mecânica Newtoniana se encontra a filosofia racionalista que 
postula que o Universo é passível de entendimento pela razão humana e que as leis naturais podem ser 
descritas em termos matemáticos. 
Estes elementos assim definidos constituem o que é chamado de Domínio Conceitual do fazer 
científico. Conceitual por envolver aspectos ligados à estrutura de conceitos de quem faz um 
experimento em Ciência. 
Os conceitos são importantes não só como as peças a partir das quais estruturas mais gerais (as Leis, 
as Teorias e as Filosofias) são construídas, mas, também, como elementos guia do processo 
experimental em Ciência. Senão vejamos o nosso experimento sobre a Lei de Hooke. Se fossemos para 
um laboratório para obter a relação entre a força restauradora em uma mola e a sua elongação, como o 
faríamos? Bem, o procedimento mais simples é medir a mola em repouso, na horizontal (por quê?) e a 
seguir, usando várias massas pequenas, medirmos a elongação da mola quando submetida ao peso das 
massas. A partir desse experimento construiríamos uma tabela do tipo mostrado no Quadro 1 
(resultados fictícios). 
Quadro 1- Dados fictícios para um experimento sobre a Lei de Hooke. 
Massa (g) Elongação observada (cm) 
0 0 
1 2 
2 4 
3 6 
4 8 
5 10 
Se traçarmos um gráfico destes dados, colocando no eixo horizontal os valores das massas e, no eixo 
vertical, os valores da elongação, obteremos um gráfico semelhante ao mostrado na Figura 11. 
 
11 Algumas vezes também chamadas de Visão de Mundo. 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 28 
 
 
Figura 11 – Gráfico para a Lei de Hooke (dados fictícios). 
Analisemos, agora, que conceitos estão intervindo nesse processo. O fato de medirmos a elongação (ou 
seja, o quanto a mola esticou em relação à situação na qual a mola não está esticada ou comprimida) 
tem sentido na medida em que tenham sido construídos pelo sujeito os conceitos de medição e de 
diferença de comprimento. Sem eles, é impossível entender o processo. Outro conceito que intervém é 
o de força restauradora, que aqui aparece conjugado ao conceito de força. Como se vê, o processo de 
medida não é independente do Domínio Conceitual envolvido. Mas vamos adiante. Outro conceito 
envolvido, de forma subjacente, por certo, é o conceito de proporcionalidade. Sem ele, fica impossível 
obter a expressão para a Lei de Hooke. 
Para que possamos analisar o evento sob estudo e responder à questão básica formulada, qual a 
relação funcional entre a elongação e a força restauradora, certas transformações sobre os dados 
brutos obtidos no experimento devem ser feitas. As grandezas que realmente são medidas nesse 
experimento são um comprimento (da mola) e uma massa (do contrapeso colocado). Todo o resto 
(elongação, peso, tabelas, gráficos) são transformações desses Registros de Eventos chamadas de Dados. 
Portanto, um Dado é o resultado de uma (ou mais) transformação que é feita sobre os Registros de 
Eventos. Exemplos de Dados são a tabela e o gráfico que apresentamos acima. Um ponto importante 
que deve ser ressaltado aqui: os Dados são sempre resultado de um processo de construção mediado 
pelos conceitos que o pesquisador tem em sua estrutura cognitiva. Principalmente em Ciências Sociais, 
o dado nunca existe independente da teoria que orienta o trabalho do pesquisador. 
A partir dos Dados podemos fazer afirmações a respeito do evento sobre o qual fizemos a nossa 
questão básica tentando agora respondê-la. No nosso exemplo, uma Asserção de Conhecimento é: a 
relação entre a elongação x da mola e a força restauradora F é do tipo12: 
F kx . (Lei de Hooke) 
Nessa expressão, k é uma constante que depende da mola somente. Obtemos essa expressão a partir da 
forma do gráfico: uma reta13. Essa expressão é a chamada Lei de Hooke. (Pergunta: qual a origem do 
sinal negativo que temos na expressão da Lei de Hooke?) 
O nosso experimento, entretanto, não se esgota na obtenção dessas asserções de conhecimento. Todo 
conhecimento, e o científico em particular, deve servir a algum propósito. Para que serve estudar a Lei 
 
12 Por simplicidade tomamos a equação escalar. 
13 Como sabemos, a expressão de uma reta é dada por 
 y ax b
. 
Massa 
E
lo
n
g
a
çã
o 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 29 
 
 
de Hooke? Por que devemos gastar preciosos minutos de nossas vidas tentando obtê-la? A (s) resposta 
(s) a esse tipo de pergunta é o que chamamos de Asserções de Valor, pois são afirmações a respeito da 
utilidade e da importância, particular ou social, daquele conhecimento obtido. No nosso exemplo, 
estudar a Lei de Hooke é importante porque muitos sistemas físicos são bem descritos, dentro de certos 
limites, por expressões semelhantes à obtida neste experimento. Todas essas informações a respeito 
da metodologia da realização do experimento formam o Domínio Metodológico de um experimento. 
Podemos representar esses dois domínios (Conceitual e Metodológico) por um V como na Figura 7. 
Proposta de exercício: construa o V Epistemológico para o experimento da Lei de Hooke. 
2.1.2 O uso do V Epistemológico no Ensino 
Como dissemos anteriormente, além de usarmos o V Epistemológico em situações de pesquisa, 
podemos usá-lo em várias situações de ensino. A seguir as listaremos e teceremos alguns comentários 
a respeito. 
1. Planejamento 
Uma possível aplicação do V Epistemológico é durante a fase de planejamento de um curso, de 
uma aula expositiva, de um experimento, etc. Nesse momento o professor pode usar o V 
Epistemológico como uma forma de explicitar relações e esclarecer como os conceitos e leis a 
serem ensinados se ligam e explicitar relações de dependência entre as várias partes do 
currículo. 
Ainda dentro deste domínio, outra aplicação do V Epistemológico é como auxiliar na escolha do 
livro didático por parte do professor. O V é um excelente instrumento para explicitar a 
estrutura do material instrucional contido nos livros sob análise e, a partir daí, decidir qual 
livro adotar para aquela turma específica. 
2. Instrumento de ensino 
Esta é outra aplicação potencial do V Epistemológico. Como o V traz a informação contida no 
currículo do material instrucional em uma forma compacta ele pode ser usado como forma de 
apresentar o conteúdo do material instrucional antes ou após o seu desenvolvimento. Uma 
aplicação na qual o uso do V se mostra particularmente útil é na análise de experimentos de 
laboratório, depois da sua realização, como ferramenta de feedback, propiciando a reflexão por 
parte do aluno sobre a atividade experimental desenvolvida. 
3. Ferramenta de Avaliação 
Relatórios de experimentos de laboratório podem ser substituídos pela construção por parte 
dos alunos de um V Epistemológico do experimento por eles realizado; da mesma forma, em 
vez de solicitar que os estudantes respondam a um questionário sobre determinado capítulo 
de um livro porque não solicitar a construção de um V daquela unidade? 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 30 
 
 
Enfim, estas são apenas algumas possíveis aplicações do V Epistemológico no cotidiano da sala de aula. 
Seguramente, o Professor será capaz de imaginar outras aplicações e adaptar o V Epistemológico à sua 
situação concreta. 
Figura 12 – Fases do trabalhocientífico. 
2.2 Fases do Trabalho Científico 
Mais do que falar em método científico, cremos ser melhor falarmos nas fases de um trabalho científico 
(veja Figura 12). Antes de fazermos algo em Ciência precisamos ter percepção de que não sabemos 
algo. É somente a percepção de nosso desconhecimento que nos permite desenvolver um trabalho 
científico. Essa fase é a fase da formulação do problema com a explicitação da questão básica de 
pesquisa. 
Sabendo da necessidade de investigar algo que desconhecemos, passamos à fase de planejamento de 
nossa investigação. Nessa fase, estudamos os meios de que dispomos para atingir nosso objetivo, 
listamos as estratégias a serem seguidas para obtermos a solução do problema, estimamos o custo 
financeiro das estratégias propostas e o tempo que elas tomarão para serem desenvolvidas. Essa é a 
fase de construção do Projeto de Pesquisa. 
A terceira fase é a fase da execução das atividades de pesquisa propriamente. Nessa etapa, as 
estratégias descritas no Projeto de Pesquisa são desenvolvidas. Normalmente, essa fase é chamada de 
Desenvolvimento da Pesquisa. 
Por fim, do ponto de vista social, uma atividade de pesquisa somente se justifica se os resultados forem 
compartilhados com quem financiou a pesquisa. Além dessa razão, há outra muito importante: o 
resultado de uma pesquisa somente pode ser aceito se ele for reprodutível. Isso quer dizer que outros 
pesquisadores, partindo das mesmas premissas, devem ser capazes de obter os mesmos resultados. 
Para que isso possa ser feito, os outros pesquisadores precisam saber o que foi feito. É, portanto, uma 
obrigação ética do pesquisador a comunicação dos resultados de uma pesquisa em uma forma 
compreensível. Essa fase é a fase de Comunicação dos Resultados. 
Podemos detalhar um pouco mais as fases da pesquisa científica (RUNKEL e MC GRATH, 1972): 
Uma Introdução à Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências Página | 31 
 
 
1. Formular o problema - Para que o investigador possa ser sistemático em sua pesquisa, deve 
escolher um problema delimitado dentre todos aqueles problemas gerais do seu campo de 
trabalho; 
Figura 13 - Fases do trabalho científico. 
2. Delinear a pesquisa - Como salientado na introdução deste texto, o delineamento é uma das 
fases mais importantes da pesquisa. Delinear uma pesquisa consiste em escolher os atores, os 
comportamentos e contextos a serem observados, as partições a serem feitas entre eles e as 
comparações de que serão objeto as observações. Parte importante do delineamento da 
pesquisa é a definição da maneira pela qual os dados serão construídos. 
3. Delinear um Plano Operacional - Como pode o pesquisador ser confiante em que 
apreenderá algo sobre estas pessoas ou grupos, os quais não serão observados em sua 
totalidade? Que coisas existem para serem observadas que podem servir como indicadores de 
alguma propriedade intangível? Como pode o pesquisador estar seguro de que aquele 
comportamento observado é de fato o comportamento “natural” esperado? O Plano 
Operacional permeia a pesquisa e é o seu norte. Nele devemos estabelecer as etapas, os 
cronogramas de execução, fontes de recursos, etc... É importante ter em mente o seguinte: é na 
definição do Plano Operacional que as características inerentes aos diferentes delineamentos 
da pesquisa (se empírica ou não, se qualitativa ou quantitativa) irão aparecer e deverão ser 
traduzidas em ações pelo pesquisador. 
4. Executar o Plano Operacional – Esta é a fase na qual as ações definidas no Plano Operacional 
serão realizadas 
5. Mapear registros em dados – O registro das vezes nas quais os comportamentos de 
diferentes tipos ocorrem e sua posterior manipulação, no processo de construção dos dados, 
pode habilitar o investigador a fazer comparações entre conjuntos de observações. Muitas 
vezes, em vários delineamentos de pesquisa de tipo qualitativo o próprio registro é o dado, 
pois já é resultado de uma transformação da interação do pesquisador com a situação de 
pesquisa. Por exemplo, o Diário de Campo, comum a muitas metodologias de pesquisa é um 
registro filtrado pela memória do pesquisador, portanto, também é um dado, pois é resultado 
de um processo de reconstrução por parte do pesquisador. 
Trabalho Científico 
Registros-> Dados 
Execução do Plano 
Operacional 
Plano Operacional 
Delineamento 
Formulação do 
problema 
Dados -> Variáveis 
Relações entre 
variáveis 
Conclusões 
 
 
 
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6. Mapear dados em variáveis ou categorias - Dados podem acumular-se em uma vasta 
coleção. Como pode o investigador simplificar uma grande quantidade de dados em um modo 
compreensível e facilmente manipulável? Para isso, o pesquisador precisa construir variáveis. 
Nas metodologias de tipo qualitativo, muitas vezes estas variáveis são chamadas de categorias. 
Quer chamemos de categorias ou variáveis, o importante é o processo de sistematização e 
redução envolvido. Neste processo, o pesquisador busca o que há de geral nos dados 
construídos, em um processo de generalização. Esse processo, nas pesquisas de natureza 
qualitativa, é usualmente de tipo Generalização Analítica. Nele, o pesquisador procura insights 
para a construção de teorias explicativas do fenômeno social observado. 
7. Explorar relações - Quando a frequência de ocorrência de uma característica em uma 
população varia concomitantemente com a frequência de ocorrência de outra característica, a 
concorrência é chamada relação. Que tipos de relações são úteis e para quais propósitos? 
Deve-se observar que estas relações podem ser de natureza qualitativa ou quantitativa. 
8. Tirar conclusões - Que hipóteses poderiam ter sido feitas sobre pessoas ou grupos que 
poderiam ser explicações alternativas para os resultados obtidos? Qual a probabilidade de que 
os resultados sejam obra do acaso? Que comparações poderiam ainda ser feitas de modo a 
aumentar a confiança nos resultados obtidos? Que evidências o pesquisador tem a sua 
disposição e como estas evidências dão suporte às conclusões que foram tiradas? 
Não importa quão objetivamente o pesquisador execute seu estudo e registre-o para consulta dos 
outros pesquisadores, sua escolha de uma questão (ou hipóteses) como guia da pesquisa é sempre, em 
uma larga extensão, idiossincrática, arbitrária e pessoal. A escolha inicial de uma questão de pesquisa é 
o resultado de uma interação entre quatro fontes de conceitualização. Uma dessas fontes é o conjunto 
de ideias já disponíveis na mente do pesquisador. Outra fonte é o corpo de conhecimento presente na 
área da pesquisa. A terceira fonte possível é o mundo real observável de eventos o qual fornece ideias 
ao pesquisador quando da interação direta entre este mundo e o ser humano que é o pesquisador14. 
Por fim, mas não menos importante, são as interações sociais às quais o pesquisador está submetido. 
Qualquer projeto de pesquisa é formado em alguma extensão por todas estas fontes de 
conceitualização. 
 
 
14 Claro que isto não acontece dissociado do que o pesquisador tem em sua mente. Somente é possível de ser percebido algo que 
já está na mente do sujeito como conceito. 
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Capítulo 3. A questão básica de pesquisa 
Pesquisamos porque queremos responder alguma pergunta sobre o mundo percebido por nós. As 
origens destas perguntas são as mais diversas: a realidade imediata, a provocação intelectual colocada 
pelos resultados de outras pesquisas, discussões com colegas de profissão, acidentes, etc. 
3.1 O que é um evento ou fenômeno?

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