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TCC Danielee

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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO
bacharelado em serviço social
DANIELE CÂNDALLA DE LIMA TENÓRIO
O ASSISTENTE SOCIAL NO COMBATE AO ALCOOLISMO NA ADOLESCÊNCIA
Paulo Afonso-BA
2016
DANIELE CÂNDALLA DE LIMA TENÓRIO
O ASSISTENTE SOCIAL NO COMBATE AO ALCOOLISMO NA ADOLESCÊNCIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.
Professora Orientadora: Ms. Amanda Boza C. Gonçalves. 
Tutora Eletrônica: Mariana Barcellos Pinheiro.
Paulo Afonso-BA
2016
Dedico esse trabalho aos meus pais que sempre me incentivaram nos estudos, ao meu noivo pelo apoio e aos meus familiares.
agradecimentos
Em primeiro lugar a Deus que me capacitou e me deu forças para chegar até aqui.
Aos meus pais Tenório e Janeide por me incentivarem nesse longo caminho.
Ao meu noivo Giliard pelo apoio, cuidado, paciência e incentivo. 
Aos colegas de turma, que sempre estiveram presentes, contribuindo de alguma forma para o meu processo de formação tanto pessoal como profissional.
A todos os professores, tutores de sala e eletrônicos, que deixaram os seus ensinamentos e um pouco de si em minha vida, ajudando na minha formação acadêmica.
A Cristiana Marques Luna (kika) secretária de assistência social do município de Delmiro Gouveia; que me deu oportunidade para que eu pudesse executar uma etapa do curso, que é o estágio.
A minha supervisora de campo Marisa e minha orientadora acadêmica Magna por me ajudarem na construção do meu conhecimento em busca de uma melhor formação.
 Aos amigos e familiares que torceram por mim e vieram a contribuir para ampliar meus conhecimentos, me fazendo acreditar que valeria a pena passar pela faculdade e alcançar meus objetivos. A todos vocês muito obrigada pelo carinho.
Enfim todos que contribuíram de forma direta e indireta dando força para a conclusão da minha formação acadêmica. Sem falar nas pessoas que não acreditaram em meu potencial, é a vocês que dedico especialmente a minha vitória.
TENÓRIO, Daniele Cândalla de Lima. O ASSISTENTE SOCIAL NO COMBATE AO ALCOOLISMO NA ADOLESCÊNCIA. 2016. 50. Trabalho de Conclusão de Curso (Serviço Social) – Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Norte do Paraná, Paulo Afonso-BA, 2016.
RESUMO
Este trabalho tem o objetivo de compreender o problema do alcoolismo e seu impacto direto nos adolescentes. Busca-se demonstrar as principais conseqüências do alcoolismo e a forma como este afeta a vida dos indivíduos no que diz respeito às suas relações familiares. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica com levantamento de dados em artigos, livros, citações e sites da internet sobre o tema. O alcoolismo é um fator relacionado ao consumo excessivo, prolongado e por uma dependência do álcool do ponto de vista físico e psíquico, é compreendido como o vício de ingestão excessiva e regular de bebidas alcoólicas. O alcoolismo é, portanto, um conjunto de diagnósticos, que é considerado uma doença complexa, em que as causas são múltiplas: no indivíduo, no plano biológico genético e psicológico, no meio circundante: a nível social e a nível cultural.
Palavras-Chave: Alcoolismo, Adolescência, Serviço Social.
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TENÓRIO, Daniele Candalla of Lima. The SOCIAL WORKER IN THE FIGHT AGAINST ALCOHOLISM IN ADOLESCENT. 2016. 50. Work Completion of course (Social Service) - Centre for Applied Business and Social Sciences, University of Northern Paraná, Paulo Afonso BA, 2016.
ABSTRACT
This study aims to understand the problem of alcoholism and its direct impact on adolescents. The aim is to demonstrate the main consequences of alcoholism and how this affects the lives of individuals with regard to their family relationships. This is a bibliographic research with survey data in articles, books, citations and internet sites on the subject. Alcoholism is a factor related to excessive consumption, prolonged and a dependence on the physical and mental point of view alcohol, is understood as the addiction to excessive and regular intake of alcohol. Alcoholism is therefore a set of diagnostics, which is considered a complex disease, in which the causes are manifold: the individual, genetic and psychological biological level, the surrounding environment: the social and cultural level.
Keywords: Alcoholism, Adolescence, Social Services.
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SUMÁRIO
1. 	INTRODUÇÃO		8
2. 	REVISÃO BIBLIOGRÁFICA		10
2.1 	QUESTÃO SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO		10
2.2	O SERVIÇO SOCIAL NO ENFRENTAMENTO ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL		13
3.	A POLÍTICA DE ATENÇÃO AO USUÁRIO DE ÁLCOOL E DROGAS		18
3.1	UMA VISÃO CRÍTICA ACERCA DA POLÍTICA NACIONAL ANTI-DROGAS 			18
3.2	A ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS E POLÍTICAS PÚBLICAS FRENTE AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 		24
3.3	O CONSUMO DE DROGAS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA		26
3.3.1	Alcoolismo		26
3.3.2	O indivíduo em meio a uma sociedade de consumo		27
3.3.3	Adolescentes e Álcool		30
4 	A FAMÍLIA NO CONTEXTO DA DROGA		31
4.1 	FAMÍLIA: UMA NOVA PERSPECTIVA ANALÍTICA		31
4.2	ÁLCOOL E FAMÍLIA: RELAÇÃO POSSÍVEL?		33
4.3	TRATANDO O ALCOOLISMO COMO DOENÇA: SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE E OS ATENDIMENTOS PSICOSSOCIAIS		37
4.4	ALCOOLISMO E OS SERVIÇOS DE ATENDIMENTO DO CAPS AD		40
4.5	PREVENÇÃO DE DROGAS: IDENTIFICANDO DESAFIOS PARA O TRABALHO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL		43 
5. 	CONSIDERAÇÕES FINAIS		47
REFERÊNCIAS		49
 
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1. INTRODUÇÃO 
As dimensões para o trabalho profissional do Serviço Social na contemporaneidade tendem a ampliar-se devido a fatores como o agudizamento da questão social, entendida aqui a partir da contradição capital e trabalho e cujas expressões e rebatimentos são observados no cotidiano de formas diferenciadas. A profissão ao longo de sua caminhada histórica acumulou conhecimentos técnicos científicos que lhe permitem a intervenção na realidade e, dessa forma, é fundamental que ocupe espaços diferenciados construindo possibilidades para o exercício profissional comprometido com a construção de nova ordem societária, conforme preconizado no Código de Ética Profissional. 
A problemática do uso de álcool com adolescentes no Brasil, se configura como uma das expressões da questão social tem sido alvo de esforços diferenciados por parte de Governo, sociedade civil, empresas privadas e diversas outras organizações. Na contemporaneidade, têm-se buscado desenvolver estratégias que não se atenham a resolver as situações geradas pelo uso de drogas (dependência química, vulnerabilidade social, envolvimento em práticas ilegais), mas se antecipem ao implementar ações que tenham como finalidade principal a prevenção ao uso. 
Tal busca se orienta pela necessidade constatada em estudos e pesquisas das mais diversas áreas do conhecimento, que apontam para o desafio de se desenvolverem ações que tenham como foco as atitudes preventivas, uma vez que práticas como a criminalização do usuário, a repressão pontual e limitada não tiveram sua eficácia constatada na diminuição dos casos de dependência química e todas as situações advindas da mesma. Com a aprovação da Política Nacional sobre Drogas (27 de Outubro de 2005), o Estado Brasileiro reconheceu legalmente a necessidade de se conjugar esforços para que as ações relativas à problemática do uso de álcool e drogas tenham o seu principal enfoque voltado para a prevenção. 
Todavia, como política pública, a Política Nacional Sobre Drogas pressupõe o conjugar de esforços dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal) para o desenvolvimento das ações, além da mobilização da sociedade no intuito de reconhecer a prevenção como estratégia mais eficaz e humana do que a simples repressão. 
Considerando que o Serviço Social tem nas políticas
públicas um espaço privilegiado para o exercício profissional, as ações da Política Nacional sobre Drogas podem configurar-se como possibilidades de trabalho efetivo na defesa de direitos e principalmente como partícipe nesse conjugar de esforços com vistas à prevenção ao uso de drogas. Nesse sentido, a inserção do profissional de Serviço Social nesse lócus, pode ser entendida para além da possibilidade de ocupação profissional, mas como dever de uma profissão, que tem no seu caráter ontológico o compromisso ético da defesa e aprofundamento da cidadania. 
Dessa forma o presente trabalho tem como objetivo compreender o problema do alcoolismo e seu impacto direto nos adolescentes, apresentando como objetivos específicos ressaltar a importância do assistente social na elaboração, promoção e execução de política de prevenção; identificar ações de prevenção ao consumo dessa substância; conhecer o trabalho do assistente social nessa área; compreender a importância do Assistente Social no combate ao alcoolismo.
A pesquisa esta dividida em três capítulos, onde o primeiro capítulo aborda a questão social no contexto brasileiro, bem como o enfrentamento do serviço social as expressões da questão social. O segundo capitulo apresenta a política de atenção ao usuário de álcool e drogas, abordando 	uma visão crítica acerca da política nacional anti-drogas, a organização dos serviços e políticas públicas frente ao consumo de substâncias psicoativas e o consumo de drogas na sociedade contemporânea, mencionando dessa forma o alcoolismo, o indivíduo em meio a uma sociedade de consumo, finalizando o mesmo falando sobre adolescentes e álcool. O terceiro e último capítulo relata a família no contexto da droga, como também faz menção sobre o alcoolismo e os serviços de atendimento do CAPS AD e 	prevenção de drogas identificando desafios para o trabalho profissional do serviço social. O trabalho finaliza com as considerações finais e referências.
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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 QUESTÃO SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO 
Até meados do século XIX, a escravidão foi o “modo de produção” brasileiro onde, a questão social, se expressava nas condições de vida e trabalho em que os negros eram submetidos. As longas e exaustivas horas de trabalho, as condições de alojamento dos escravos nas senzalas e os castigos que sofriam denunciavam a desigualdade social existente na sociedade. 
A Questão Social Brasileira tem suas raízes latentes na escravidão e no patriarcalismo, expressando-se no período colonial pelo trabalho escravo e pelas questões de raça e etnia, sendo um fenômeno presente durante todo o processo de formação da sociedade brasileira. 
Nesse contexto destacamos dois papéis relevantes desempenhados pela escravidão brasileira: o do trabalho servil, que submetia os negros à longas e exaustivas horas de trabalho, à precárias condições de moradia e sobrevivência, manifestando a desigualdade social existente na sociedade; e o das relações sexuais, materializada no livre exercício da sexualidade masculina, especialmente com as negras que eram tidas por seus senhores como objeto de satisfação sexual. 
O patriarcalismo exerceu forte influência nas relações sociais, caracterizado como fenômeno político típico do período colonial, porém atualmente percebemos ainda a manifestação de traços deste fenômeno nos processos políticos e sociais. 
Ressalta-se ainda como expressão da Questão Social, após a abolição da escravatura, através da Lei Áurea, assinada em 13 de julho de 1888, o desemprego, sendo este gerado por dois fatores: inicialmente, pelo fato do Estado não ter atentado em oferecer possibilidades de integração no mercado de trabalho para os ex-escravos e, em segundo lugar, pela primazia ao trabalho escravo voltado para a produção da lavoura. Assim, restringiu-se a previsão de oportunidades de trabalho para o conjunto de habitantes da colônia brasileira. A manifestação do desemprego neste período abre espaço para a negação do pensamento conservador e atribuiu ao povo indígena um caráter indolente. 
Essa característica foi fruto da falta de condições de trabalho próprias do regime econômico mesquinho que a colonização implantou, levando o Brasil a ter um aspecto de estagnação; transformando a Colônia em detentora de um padrão econômico que gerou baixo nível de vida e alto nível de pobreza econômica, social, política e cultural (SILVA, 2008, p. 36). 
Assim, as classes desfavorecidas encontraram dificuldades em conseguir emprego e prover o sustento de suas vidas, em decorrência do preconceito. Desta forma, as condições de vida e trabalho dos negros continuam precarizadas e, aqui, já observamos o misto de pobreza e exclusão social. “Ao longo da evolução histórica, o caráter degradante da pobreza, do ponto de vista econômico, social e cultural, afigura-se de modo diferenciado, sendo também diversos os contextos em que se manifesta”. (SIQUEIRA, 2009, p. 3). 
Na transição do império para a república a sociedade brasileira tinha uma população de aproximadamente um milhão de escravos negros e mestiços com alto índice de analfabetismo, sendo considerada, portanto, mão de obra com baixo nível de qualificação técnica para uma economia ainda patriarcal, porém agora voltada para exportação. 
Com o advento da República em 1889, se estabeleceu no Brasil um novo desenho político e administrativo, com traços de uma modernidade capitalista e industrial. A partir de então, a Questão Social surge como produto da acumulação capitalista e passa a ser tratada como uma questão política e não mais como caso de polícia. Nesta perspectiva, o Estado passa a criar estratégias de enfrentamento às expressões da Questão Social, objetivando conter os trabalhadores que são os mais afetados por este fenômeno. 
O processo de modernização brasileira é marcado por traços patrimonialistas e coloniais, reatualizando traços conservadores transformados com as novas marcas da “soberania financeira”, no contexto de proliferação do capital no mundo moderno. Desse modo, a nova realidade socioeconômica do país é construída por intermédio dos processos arcaicos e conservadores. 
Segundo Iamamoto (2008), 
A revolução burguesa no País nasce marcada com o selo do mundo rural, sendo a classe dos proprietários de terra um de seus protagonistas. Foi a agricultura que viabilizou historicamente a acumulação de capital de âmbito do comercio e da indústria. Aos fazendeiros, juntaram-se os imigrantes que vinham cobrir as necessidades de suprimento de mão-de-obra no campo e na cidade. Uma vez desfeitas as ilusões do enriquecimento rápido e do sonho de retorno ás regiões de origem, os imigrantes deslocam-se do meio rural, mas levam consigo as concepções rurais de organização de vida. Assim, as origens e o desenvolvimento da revolução burguesa explicam a persistência e tenacidade de um horizonte que colide com as formas de concepção do mundo e organização de vida inerentes a uma sociedade capitalista [...]. (IAMAMOTO, 2008, p. 136). 
Destaca-se a seguinte premissa: a modernidade no país surge como desdobramento do “velho”, esta se torna explicativa para as relações conservadoras e submissas que marcam setores avançados da economia brasileira. À medida que juntamente com implantação de máquinas e tecnologias de ponta, acentua-se a precarização das relações de trabalho. 
A transição do capitalismo concorrencial ao monopolista no Brasil tem características também distintas dos outros países. Esse processo foi marcado pela implantação das filiais de multinacionais na economia brasileira, dividindo a acumulação econômica do país com o exterior, acentuando o desenvolvimento do capitalismo monopolista nos países centrais. Somente por volta dos anos 1950 que o Brasil aparece como região econômica dinamizada da periferia deixando de exercer papel de subalternidade na economia central. 
Ou seja, o desenvolvimento monopolista brasileiro, deu-se por uma oposição entre soberania do imperialismo e profundas diferenças no desenvolvimento dos países ditos desenvolvidos, em
relação aos países periféricos, como o Brasil. Essas diferenças acentuam as desigualdades econômicas, sociais e regionais, contribuindo com a concentração de renda, e reconhecimento e poder de determinadas regiões, em nível. 
O Estado exerceu papel central nesse processo de “modernização pelo alto” (IAMAMOTO, 2008, p.132), pois, com o objetivo de manter a ordem nas relações sociais e a subordinação do capital nacional ao capital internacional as pressões populares foram evitadas. Nesta perspectiva, a grande propriedade foi transformada em empresa agrária e a inserção do capital estrangeiro no Brasil deu visibilidade ao país, enquanto sociedade moderna, urbanizada, mas com estrutura social embaraçosa. Desse modo a exclusão das classes populares e os acordos realizados “pelo alto” pelos grupos financeiros dominantes são fatos que caracterizam o desenvolvimento da sociedade brasileira. 
Na cena contemporânea, a volatilidade do desenvolvimento e por consequência a concentração de renda e a multiplicação da pobreza, acentuam a desigualdade regionalmente distribuída, bem como, a distância entre o salário dos trabalhadores e o capital produzido. A tendência inesperada de abertura da economia dos países periféricos, sob orientação das instituições financeiras mundiais, resultou no aumento da taxa de juros, fechamento de empresas nacionais, aprofundamento no déficit da balança comercial e na sólida entrada de capital especulativo. Sendo um dos principais elementos agravantes da questão social o desemprego, tendo a subalternidade da produção em relação aos investimentos de caráter especulativos como a raiz da queda no nível de emprego. 
Nesse contexto, segundo Iamamoto, a antiga questão social, ganha novas roupagens. Evidenciada no distanciamento entre as relações sociais e o progresso da força de trabalho social, sendo a primeira caracterizada como a mola propulsora da segunda. Esse processo resulta na vulgarização da vida humana, na violência obscurecida pelo fetiche do dinheiro e na penetração do capital em todas as dimensões da vida. Entendemos assim, que todo esse contexto não atinge apenas as esferas políticas e econômicas do país, mas também suas condições de sociabilidade. Como afirma Iamamoto: 
As configurações assumidas pela questão social integram tanto determinantes históricos objetivos que condicionam a vida dos indivíduos sociais, quanto dimensões subjetivas, fruto da ação dos sujeitos na construção da historia (IAMAMOTO, 2008, p. 156). 
Atualmente a questão social passa por um processo de criminalização, trazendo de volta discursos conservadores de classes perigosas e não mais, a classe de trabalhadores vulneráveis a repressão e extinção. Criando-se assim, um processo de naturalização da questão social acompanhado da transformação desta em objeto de intervenções estatais. 
2.2 O SERVIÇO SOCIAL NO ENFRENTAMENTO ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL 
Historicamente, o Serviço Social institui-se como profissão que atua no enfrentamento das desigualdades sociais. Neste tópico, trataremos de abordar como o Serviço Social tem desenvolvido sua prática profissional no enfrentamento às expressões da questão social enquanto profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho, ao mesmo tempo em que, ganham escopo na sociedade brasileira a lógica neodesenvolvimentista e suas “novas” formas de enfrentamento à questão social. 
O surgimento do Serviço Social no Brasil: 
[...] não se baseará, no entanto em medidas coercitivas emanadas do Estado. Surge da iniciativa de grupo e frações de classe, que se manifestam principalmente por intermédio da Igreja Católica. Possui em seu início uma base social bem delimitada e fontes de recrutamento e formação de agentes sociais informados por uma ideologia igualmente determinada. (CARVALHO et al., 1981 apud SPOSATI et al., 2010, p. 43). 
Neste sentido, entende-se que o Serviço Social iniciou sua prática profissional no enfrentamento a questão social como mecanismo da Igreja pautado sob um cariz filantrópico e caritativo apresentando assim, uma ausência de legitimidade8 e de compreensão acerca das refrações deste fenômeno social. 
Segundo Iamamoto & Carvalho (2011, p. 83-84), a questão social pode ser entendida como: 
A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão. 
À medida que a questão social – fruto das contradições do modo capitalista de produção – tornou-se um fenômeno evidente na sociedade brasileira não podendo mais ser enfrentada pela caridade da Igreja, o Estado passa a interferir no modo como a questão social era tratada com políticas de proteção social e a demandar profissionais habilitados para amenizar as sequelas da questão social. 
O Serviço Social é então requisitado a uma ação profissional mais técnica desvinculando-se da dependência das ações apostolares. “Este traço da busca do rompimento da dependência, marca a trajetória da profissão e lhe confere uma face de compromisso com a justiça e a liberdade” (SPOSATI et al., 2010, p. 44). 
Ao longo da evolução histórica da sociedade brasileira, o Serviço Social vai adquirindo maior compreensão e reflexão crítica de seu fazer profissional, apreendendo de forma mais consolidada a questão social, a partir do entendimento de Iamamoto & Carvalho (2011), já citado anteriormente. Sua trajetória profissional enveredou por caminhos que plasmaram no rompimento com o conservadorismo profissional. Os próprios fundamentos sócio-históricos do Serviço Social, atestam que não há como desvincular estes três elementos: a história da profissão, a questão social e a história social, econômica e política brasileira. 
Dessa forma, a questão social constitui-se como um elemento fundamental para compreensão do papel da profissão nesta sociabilidade burguesa. Nos termos de Iamamoto (2011), estabelece-se como o objeto de trabalho do Serviço Social, pois suas múltiplas expressões são alicerce para o trabalho do assistente social na apreensão dos processos sociais experimentados pelos sujeitos e assim, base de fundação da profissão como especialização do trabalho através da prestação de serviços socioassistenciais. 
Sabemos, no entanto, que a concepção e abrangência conceitual da questão social, diz respeito não somente ao Serviço Social, mas também a outras profissões que possuem suas atuações determinadas por este fenômeno. Neste sentido, ao destacarmos a questão social como objeto de trabalho do Serviço Social, fazemos referência tanto às determinações que as expressões da questão social incidem na profissão, quanto o grau de empoderamento da profissão em sua especificidade de atuação. 
Vivemos em tempos de flexibilização e precarização do trabalho, onde as expressões da questão social passam por um momento de naturalização que, ora focalizam o seu enfrentamento no “combate à pobreza”, ora focalizam seu enfrentamento no “combate à violência”. 
Desse modo, Iamamoto (2011, p. 28) aponta que: 
[...] decifrar as novas mediações por meio das quais se expressa a questão social, hoje, é de fundamental importância para o Serviço Social em uma dupla perspectiva: para que se possa tanto apreender as várias expressões que assumem, na atualidade, as desigualdades sociais – sua produção e reprodução ampliada – quanto projetar e forjar formas de resistência e de defesa da vida. (grifos originais). 
Para compreendermos estas nuances que envolvem a questão social, foi de fundamental importância para a profissão à apropriação de um arcabouço teórico consolidado, a saber, a Teoria Social Crítica. Teoria, que propiciou ao Serviço Social uma visão mais reflexiva, crítica e totalizante não só das imbricações às quais as expressões da questão social estão
imersas, mas, sobremaneira, de sua própria constituição enquanto profissão na divisão social e técnica do trabalho. Possibilitou ainda a profissão, um olhar mais apurado acerca de sua intervenção no campo das políticas sociais desenvolvendo sua prática profissional com habilidade e competência teórica, ética e política. 
Contudo, outra perspectiva vem sendo disseminada na sociedade. Perspectiva essa, que sorrateiramente vem buscando (re)configurar as formas de enfrentamento a questão social, bem como busca promover uma visão alienante das transformações societárias em curso. Nesta ótica, o Serviço Social deve estar atento a estas implicações conjunturais, a fim de que sua prática profissional não se conforme a este discurso diametralmente e ideologicamente oposto àquele defendido pela categoria profissional. 
A citada perspectiva faz referência ao chamado neodesenvolvimentismo que, segundo Castelo (2012, p. 624), “surgiu no século XXI, após o neoliberalismo experimentar sinais de esgotamento, e logo se apresentou como uma terceira via, tanto ao projeto liberal quanto do socialismo”. Dessa forma, mediante os sinais de esgotamento sociais do neoliberalismo sentidos na década de 1990, bem como: 
A crise de estrangulamento cambial e a subsequente tutela da política econômica pelo FMI jogavam por terra qualquer possibilidade de camuflar a absoluta impotência do Estado brasileiro diante dos ditames do capital financeiro. (SAMPAIO JR., 2012, p. 678-679). 
Castelo (2012) destaca a figura de Luiz Carlos Bresser Pereira10 como um dos primeiros apoiadores do neodesenvolvimentismo, de forma que, em um artigo publicado na Folha de S. Paulo, Bresser defendeu o neodesenvolvimentismo como “uma estratégia de desenvolvimento nacional para romper com a ortodoxia convencional do neoliberalismo” (CASTELO, 2012, p. 624). Para Bresser, o novo desenvolvimento apresenta-se como possibilidade de superação ao neoliberalismo, conforme já citado, mas levando em consideração três características fundamentais que com ele surgem, a saber: abertura ao comércio internacional, investimento privado na infraestrutura e maior atenção à estabilidade econômica. 
O neodesenvolvimentismo expressou-se de forma mais visível, a partir do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. As transformações ocorridas em seu governo, como por exemplo, retomada do crescimento econômico, sinais de recuperação do salário e a “aparente” resistência brasileira diante da crise mundial seriam, por assim dizer, a materialização desse novo desenvolvimento (SAMPAIO JR., 2012). 
Segundo Sampaio Jr. (2012, p. 679), o desafio do neodesenvolvimentismo consiste em: 
[...] conciliar os aspectos “positivos” do neoliberalismo — compromisso incondicional com a estabilidade da moeda, austeridade fiscal, busca de competitividade internacional, ausência de qualquer tipo de discriminação contra o capital internacional — com os aspectos “positivos” do velho desenvolvimentismo — comprometimento com o crescimento econômico, industrialização, papel regulador do Estado, sensibilidade social. 
Desse modo, apresentam-se como principais correntes do novo desenvolvimento: 1) a primazia do mercado e a atuação reguladora do Estado nas falhas apresentadas pelo mercado na produção da riqueza, tendo foco nas políticas cambiais e de juros; 2) o papel do Estado em auxiliar o setor privado nas tomadas de decisões de investimentos, atuando na diminuição das incertezas do setor econômico; 3) a afirmação do mercado interno via consumo em massa estando às políticas macroeconômicas subordinadas ao desenvolvimento. (CASTELO, 2012). 
E como a política social, campo de trabalho do assistente social, se configura no neodesenvolvimentismo? A resposta que ousamos aludir é que a política social como mecanismo de enfrentamento das refrações da questão social acabou por “migrar ostensivamente do atendimento as necessidades humanas às necessidades do capital” (GOUGH, 2003 apud PEREIRA, 2012, p. 737). 
[...] voltou-se prioritariamente para satisfazer as necessidades de lucro do capital, como condição universal e necessária para a completa sobrevivência do capitalismo, que agora, na sua versão financeira/especulativa/rentista, sujeita a constantes endividamentos e bancarrotas, se tornou o alvo preferencial da assistência do Estado (PEREIRA, 2012, p. 737). 
Nesse sentido, as formulações defensoras do neodesenvolvimentismo partem da falácia de que o crescimento econômico é a chave para o enfrentamento das desigualdades sociais e com isso vem reduzindo as lutas de classe ao controle de “forças externas” ocasionando no lugar do confronto, a conformação a estas forças. Assim, o que se evidencia é a preocupação em discutir a aplicabilidade da política econômica para superar os entraves do crescimento, a fim de conciliar o trinômio: equilíbrio macroeconômico, política industrial e política social. Dessa forma, o “impacto devastador da ordem global sobre o processo de formação da economia brasileira não é considerado [...]. A discussão não ultrapassa o horizonte da conjuntura imediata.” (SAMPAIO JR., 2012, p. 680). 
Nesse contexto, o Serviço Social acaba sofrendo as inflexões dessas transformações conjunturais sob dois âmbitos: em suas relações contratuais como trabalhadores que vendem sua força de trabalho e como profissionais que em sua atuação visualizam cotidianamente a materialização do neodesenvolvimentismo nas políticas sociais através do engessamento das possibilidades de ação dessas políticas e/ou mesmo a sua naturalização no enfrentamento as desigualdades sociais. 
Se, antes, no movimento de intenção de ruptura, a aproximação com a teoria social crítica possibilitou reflexões e posicionamento crítico que plasmaram o rompimento da profissão com o conservadorismo, hoje, torna-se urgente à profissão a constância desta visão crítica para a análise de conjuntura da realidade brasileira, a fim de que as inflexões do neodesenvolvimentismo sejam, antes de tudo, compreendidas e, de modo algum abraçadas, mas ao contrário, questionadas em sua gênese e formação para que se processe o seu real enfrentamento.
3. A POLÍTICA DE ATENÇÃO AO USUÁRIO DE ÁLCOOL E DROGAS 
3.1 UMA VISÃO CRÍTICA ACERCA DA POLÍTICA NACIONAL ANTI-DROGAS 
O problema da droga não existe em si, é o resultado do encontro de um produto, uma personalidade e um modelo sócio-cultural. Qualquer pessoa, a qualquer momento, pode encontrar um produto tóxico, legal ou ilegal, em seu caminho. Para Olievenstein (1984), toda política sobre drogas deve levar em conta estes pressupostos, sabendo que não existe um destino igual para todos, pois muitos experimentam drogas uma ou mais vezes e não significa afirmar que tornar-se-á um doente. 
Os discursos sobre a droga são, de maneira geral simplistas, permanecendo no campo restrito do “faz mal” e “é proibido”. Pensar o uso de drogas dessa forma reducionista dificulta a possibilidade de construção de uma fala alternativa, o que gera muitas identificações perigosas e, desta forma, a associação da necessidade de uma prevenção repressiva antidrogas (ACSELRAD, 2005). 
Nas campanhas elaboradas pelo governo brasileiro, predomina o mote “diga não às drogas”, “drogas, nem morto”, “drogas, tô fora”, “sou careta, mas sou feliz”, prevenção clássica baseada na interdição de consumo, projeto de prevenção que confunde mais do que esclarece (Ibidem, 2005, p.190). 
Acselrad em seu artigo intitulado “A Educação para a Autonomia: construindo um discurso democrático sobre as drogas”, publicado em 2005, faz referências às políticas públicas sobre drogas no Brasil, em que aponta um predomínio dos discursos repressivos, influenciados pela política repressiva norte-americana. 
Segundo a autora: 
No Brasil, predomina ainda o discurso repressivo, não havendo registro de políticas democráticas, identificadas com o interesse público no que se refere às drogas. A política governamental foi, durante muitos anos, uma expressão do texto legal – Lei n. 6368, elaborada em 1976, que dispõe sobre medidas de
prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica (nascida com base na Segurança Nacional) durante a ditadura militar 1964-1979. Essa Lei mantém presentes as características de um período de exceção: “todos” os brasileiros “devem prevenir o uso e combater o tráfico ilícito”, sob risco de penalização; as escolas que não colaborarem correm o risco de perder subvenções eventuais. Professores deverão receber formação sobre o tema durante a graduação, benefício até hoje não implementado. Criminaliza-se o usuário, penalizam-se todos os que estiverem próximos, como cúmplices, facilitadores (ACSERALD, 2005, p.190).
 
Sustenta ainda que, distante de um debate público mais amplo nos anos 90, surgem propostas alternativas à Lei nº 6368/76. Pressionado pela comunidade internacional, principalmente pela Organização dos Estados Americanos (OEA), o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em ocasião da 2ª Sessão Especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre drogas, em 1998 criou a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), ligada à Presidência da República, que atualmente é dirigida por um representante das Forças Armadas. 
Concordando com Acselrad (2005), Mesquita (2004) refere que: 
A Constituição do Brasil em seus artigos de 142 a 144, trata do papel das Forças Armadas e da Segurança Pública, e em nenhum momento dá atribuição aos militares de cuidar da questão das drogas. Ainda que no tocante à segurança. É claro que emergencialmente poderia ser aceita intervenção pontual das Forças Armadas em questões de segurança, mas a história de outros países não recomenda seu emprego de maneira permanente em questões afetadas à polícia Federal, Estadual (civil, militar e corpo de bombeiros), Rodoviária e Ferroviária. Um poder crucial na defesa do estado Democrático de Direito não pode ser permeável à marginalidade e ao crime, capazes de corromper e desviar os objetivos maiores da corporação (MESQUITA, 2004, p.12). 
Segundo Mesquita (2004), o nome atribuído à Secretaria foi bastante infeliz e justifica que a droga é uma substância inerte, incapaz de por si só causar qualquer problema. Outra crítica refere-se à localização institucional da SENAD que foi inapropriada – junto ao então Gabinete Militar da presidência da República, hoje Gabinete de Segurança Institucional. 
A SENAD, além dos aspectos de repressão, ficou com atribuições relativas à prevenção, tratamento e reinserção social dos usuários de drogas, atribuíveis aos Ministérios da Saúde, Educação e Assistência Social. 
O Sistema Nacional Antidrogas (SISNAD), regulamentado pelo Decreto nº 3696/00, orienta-se pelo princípio básico da responsabilidade compartilhada entre Estado e sociedade, propondo a municipalização das ações, entendendo que é a melhor forma de possibilitar a participação da sociedade civil organizada nas ações desenvolvidas em nosso país (BRASIL, 2003). 
O Fórum Nacional Antidrogas, realizado em Brasília no ano de 2000, embora não conseguisse libertar a SENAD do binômio repressão/abstinência, trouxe como novidade, a divulgação pública de uma Política Nacional Antidrogas, criada pelo Decreto nº 4.345/02, com o mérito de ser a primeira expressão pública de uma política governamental sobre o tema em nosso país. Apesar de seu conteúdo limitado, o plano trouxe a possibilidade de haver um documento para que a sociedade ampliasse o debate sobre a política de drogas. 
De acordo com Acselrad (2005), o clima é de guerra nas estrelas, sugerindo medidas repressivas, consideradas segundo seus representantes vitais à preservação da saúde, à tranqüilidade dos lares, à produção e à segurança pública. O entendimento, portanto, é de um controle sobre os sujeitos, atribuindo-se responsabilizações individualizadas, em que se constrói uma imagem negativa do mesmo, apontando-o como ameaça à tranqüilidade coletiva. 
Com o fim da ditadura militar e da legislação de exceção, remanesceu um arcabouço de legislação excepcional dedicada ao fenômeno drogas, com a falaciosa sensação de que a legislação criminal, por si, poderia proteger a sociedade de todos os males. Violação de residências sem mandados judiciais, extração de pátrio poder de mães usuárias, internações hospitalares sem autorização dos pacientes em questão, e estabelecimento de penas iguais ou superiores aos de homicídios nos crimes relacionados às drogas ilícitas, são alguns dos exemplos deste pesado rescaldo e da necessidade de rediscussão da legislação do país concernente ao tema. Se não para colocar a questão das drogas no seu trilho, ao menos para evitar uma permanente ameaça ao Estado Democrático de Direito (MESQUITA, 2004 p.11). 
Do ponto de vista do interesse público, fica o temor da militarização crescente da guerra contra as drogas, em que é afirmada pela promessa de um combate mundial, rigoroso e sem tréguas ao comércio das drogas hoje consideradas ilícitas. 
Segundo Karam (2005), o Estado com a pretensão de punir, controlar a oferta e a demanda de determinadas drogas, assume a função de repassar uma enganosa publicidade que consegue vender o sistema penal como o produto destinado a fornecer as almejadas proteção e segurança, fazendo destes instrumentos o centro de uma política supostamente destinada a conter, ou até mesmo erradicar o problema, com a temida circulação daquelas mercadorias, ao mesmo tempo em que busca intensificar o controle sobre os próprios indivíduos. 
A função geral da ordem jurídica de proteção da dignidade da pessoa, que, em nossa ordem constitucional, surge como um dos fundamentos da República, expresso no inciso III do artigo 1º da Constituição Federal, gera princípios limitadores do poder de punir, vinculantes do legislador. Tais princípios fazem do dano social ponto de referência obrigatório para a fixação de parâmetros, na confecção das normas incriminadoras. Reforçando esta obrigatória consideração do dano social, tem-se ainda a norma contida no inciso X do artigo 5º da Constituição Federal, que, assegurando a inviolabilidade da intimidade e da vida privada, desautoriza qualquer intervenção estatal sobre condutas que, restritas à esfera individual, não tenham potencialidade para atingir bens de terceiros (KARAM, 2005, p.157). 
O autor afirma ainda que, a exclusividade assumida pelo Estado e seus legisladores em lidar com a temática das drogas, é o que parece estar tornando a política ineficaz. Cabe então assinalar que, para uma eficácia no tratamento deste fenômeno - que é multilateral - certamente dever-se-ia envolver outras áreas governamentais, universidades, entidades da sociedade civil organizada, setores empresariais, dentre outros segmentos sociais, que têm interesse em um tema tão cadente. 
No governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, houve iniciativas para a mudança da política de drogas, em que se destaca a mudança do nome original da SENAD para Secretaria Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas e a sua colocação junto ao Ministério da Justiça (que tem capacidade de articular outros Ministérios e a Sociedade Civil para uma resposta de natureza mais ampla). 
A Política Nacional Antidrogas (PNAD), está pautada na prevenção, recuperação e reinserção social; redução de danos sociais e à saúde e repressão. Prevê também uma intervenção por meio da prevenção Primária, Secundária e Terciária. 
No entanto, segundo Barreto (2000, p.39): 
Cabe ao governo fornecer linhas gerais para uma política integrada com áreas de educação, saúde e administração pública e ainda [...] um processo coletivo que envolva toda a sociedade e os poderes públicos nesta batalha frente às drogas. 
Os governos devem assumir, sem exploração política ou ideológica, suas responsabilidades de garantir o acesso à orientação e ao tratamento de qualidade, respeitados os direitos e liberdades individuais. 
Nos últimos 30 anos, inúmeros esforços foram feitos para deter o crescimento das drogas
como poder econômico e degradante da sociedade. A repressão e o encarceramento já demonstraram ter pouca eficácia, gerando efeitos colaterais como o aumento da população carcerária e dos custos para mantê-la. Segundo Zaluar (2005), as campanhas de informação, o incentivo à cooperação entre população e polícia e o investimento em programas de tratamento de dependentes graves, podem diminuir a criminalidade, sendo um caminho para lidar melhor com um problema que já faz parte da cultura mundial. 
Desde os anos 70, os Estados Unidos vêm investindo cifras altíssimas para a “guerra às drogas”, mas com uma política de repressão, violenta e inútil que não consegue minimizar os problemas das drogas naquele país. Segundo Acselrad (2005) citando Nadelman (1991), registrou-se um assustador aumento nos anos 90, do número de pessoas encarceradas nos Estados Unidos – cerca de 30 a 45% condenadas por violação de leis concernentes a drogas. Hoje este número cresceu ainda mais, já se computando mais de dois milhões de pessoas nas prisões norte-americanas e cerca do dobro submetidas a outras medidas penais, permanecendo as condenações relacionadas a drogas qualificadas como ilegais sendo o principal fator deste crescimento. 
De acordo com o Conselho Social e Econômico das Nações Unidas (1994), o crime organizado transnacional, com capacidade de expandir suas atividades a ponto de ameaçar a segurança e a economia dos paises, particularmente aqueles em transição e desenvolvimento, representa atualmente o maior perigo que os governos precisam enfrentar para assegurar sua estabilidade e segurança (ZALUAR, 2002). 
Esta abordagem acerca das medidas repressivas em relação às drogas tem por objetivo ressaltar que o Brasil adotou o modelo americano para lidar com as questões relativas às drogas em nosso país. O governo sempre adotou medidas repressivas no combate às drogas, e a polícia tem um enorme poder em determinar quem será ou não processado e preso como traficante – crime considerado hediondo. Zaluar (2002) destaca ainda que, no que se refere à administração da justiça, jovens pobres, negros ou mulatos são presos como traficantes, o que ajuda a criar uma superpopulação carcerária, além de tornar ilegítimo e injusto o funcionamento jurídico no país. 
Não falta no Brasil, o que o antropólogo norte-americano Becker (1997) chamou de “motivação de um ato desviante”. Esta deriva de uma situação na qual o sujeito não aceita o jogo social e político vigente, e se revolta contra ele. A pobreza não explica o ato desviante, mas, em conjugação com as falhas do Estado, pode facilitar a escolha ou adesão às subculturas marginais de uso de drogas ilícitas. Tais subculturas se formam a partir do próprio preconceito dos agentes governamentais e da sociedade em relação aos usuários de drogas. A imagem negativa, a discriminação, o medo, a “satanização” do viciado contribuem decisivamente para a cristalização desses grupos, assim como dos tons agressivos e anti-sociais que algumas vezes adquirem. 
Hygino e Garcia (2003) fazem uma reflexão pertinente com relação à problemática das drogas, afirmando que o uso de drogas é marcado por forte ênfase moral, em que as abordagens predominantes acerca do uso de tais substâncias não fazem, em geral, distinção entre a prática, o usuário e droga. “O que se constata nas campanhas supostamente educativas ou preventivas é uma tendência a atingir três alvos: demonizar a droga, condenar o uso, culpabilizar o usuário” (Ibidem, 2003, p.31). 
Contudo, o usuário ou o dependente de drogas é um cidadão com direitos e deveres, sendo esta noção apontada como muito tímida em nosso país. Violências são cometidas em nome do combate às drogas, sendo comuns à população que mora em favelas, sistematicamente identificada ao tráfico de drogas ilícitas, reforçando a construção da identidade dos moradores dessas comunidades (ACSELRAD, 2005). 
O que a sociedade precisa é uma política voltada para os usos problemáticos, respeitosa dos direitos de cidadania, baseada em uma ética de uso equilibrado e responsável, tendo em vista os padrões de consumo atuais incorporados. 
3.2 A ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS E POLÍTICAS PÚBLICAS FRENTE AO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS 
A política de educação preventiva adotada pelo Ministério da Educação (ME, 2004), prevê a inclusão de matérias sobre o tema drogas nos currículos dos ensinos fundamental e médio, porém a proposta não foi efetivada. 
Na saúde, o Ministério da Saúde (MS), através da área técnica de Saúde Mental, define as diretrizes políticas de tratamento e de prevenção, onde se destaca a Lei nº 10216 de 06/04/2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em Saúde Mental. 
O MS vem emitindo portarias visando implementar uma rede de assistência aos usuários de álcool e outras drogas, com ênfase na reabilitação e reinserção social dos usuários. Entre elas destaca-se a portaria nº 2.197, de 14 de outubro de 2004, que redefine e amplia a atenção integral para usuários de álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). A Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral à Usuários de Álcool e outras Drogas, prioriza ações de caráter terapêutico, preventivo, educativo e reabilitador, direcionadas a pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas (e seus familiares), baseado em informações fornecidas pela OMS (2001), sustentadas por estudos e pesquisas epidemiológicas consistentes, de que a dependência de álcool acomete cerca de 10 a 12% da população mundial. 
Há uma necessidade de fortalecer a articulação da rede de atenção à saúde das pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas, nos seus diferentes níveis de complexidade, criando-se em hospitais gerais, leitos de retaguarda aos casos que necessitam de internação – esta é uma necessidade recorrente dos profissionais que lidam com esta realidade. 
Segundo Delgado (2005) esta é uma lacuna existente na rede de atenção básica de saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e a solução para amenizar os danos à saúde decorrentes do uso de álcool e outras drogas, perpassam por serviços de atendimento, prevenção e acompanhamento sistemático dos usuários de drogas acompanhado por uma equipe especializada para dar respostas eficazes, efetivas e eficientes a esses problemas. 
Ainda no âmbito do SUS, os serviços oferecidos aos usuários de drogas concentram-se no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), sendo locais de referência e tratamento para pessoas que sofrem de transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros, cuja gravidade e/ou persistência justifiquem sua permanência num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor da vida. 
O objetivo do CAPS é oferecer atendimento à população de sua área de abrangência, realizando o acompanhamento clínico e reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Os recursos terapêuticos são: atendimento individual, em grupo, para as famílias, atividades comunitárias e reuniões para organização dos serviços (BRASIL, 2003). 
O Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas (CAPSad), modalidade de atendimento iniciado em 2002, destina-se especificamente aos usuários cujo principal problema é o uso abusivo e prejudicial de álcool e outras drogas. São desenvolvidas atividades desde o atendimento individual – medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros, até o atendimento em grupos ou oficinas terapêuticas, além de visitas domiciliares (MIRANDA, 2004). 
Ainda se apresenta como sendo uma resposta tímida da saúde pública a este desafio e vem se expandido lentamente pelas cidades brasileiras. Sem duvida é um dispositivo importante para o enfrentamento das questões concernentes ao uso abusivo de drogas, mas este atendimento não está formalizado na maioria das cidades brasileiras, isto é, o CAPSad é um recurso
que não está disponível à população em várias localidades. 
3.3 O CONSUMO DE DROGAS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA 
3.3.1 Alcoolismo 
Assim como o uso de drogas ilícitas, o álcool também constitui uma das principais causas desencadeadoras de situações de vulnerabilidade na adolescência. A OMS aponta o álcool como a substância psicoativa mais consumida no mundo e também como a droga de escolha entre crianças e adolescentes (JESUS et al., 2011). 
No Brasil, o álcool também é a droga mais usada em qualquer faixa etária e o seu consumo entre adolescentes vem aumentando, principalmente entre os mais jovens de 12 a 15 anos de idade (VIEIRA et al., 2007). 
O alcoolismo é um problema de saúde pública, que gera para sociedade um índice considerável de conseqüências indesejáveis. Atualmente estima-se que as conseqüências do álcool correspondam a 1,5% das mortes (MINTO et al., 2007).
Os relatórios de organizações internacionais evidenciam que 200 milhões de pessoas consumiram alguma droga ilícita entre 2001 e 2002, ou seja, 3,4% da população mundial (SILVA et al., 2007). 
No Brasil, em 2006, o Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas (CEBRID) evidenciou que, dos adolescentes entre 12 e 17 anos, 48,3%, já beberam alguma vez na vida. Destes, 14,8% bebem regularmente e 6,7% são dependentes de álcool, o que o faz a droga mais utilizada pelo público adolescente, que está precocemente exposto ao contato (ROZIN et al., 2012). 
Para Gonçalves et al. (2007) o consumo de drogas lícitas, a exemplo do álcool, seja o principal elemento que estimula o uso de drogas ilícitas, sendo considerado “porta de entrada ” para a iniciação nas drogas. 
A probabilidade de o adolescente tornar-se dependente aumenta quanto mais precoce for seu consumo. Além disso, com o uso freqüente, o organismo cria tolerância à droga, e para satisfazer (como nos efeitos iniciais) é preciso aumentar as doses, que, em conseqüência do uso contínuo, desenvolve a dependência pelo álcool (ROZIN et al., 2012). 
3.3.2 O indivíduo em meio a uma sociedade de consumo 
Vivemos em uma sociedade regida e organizada segundo a lógica do consumo, num tempo dos objetos, que intermediam as relações entre humanos e qualquer coisa, inclusive o sujeito está à mercê de se tornar um objeto (BAUDRILLARD, 1970 apud GARCIA, 1997). 
Os objetos diferenciam um indivíduo do outro e a diferenciação entre os indivíduos é socialmente determinada – ter para ser; consumir para existir- e os que consomem mais exibem maior prestígio do que os consomem menos. Porém ao mesmo tempo em que o sistema de consumo é o responsável pela produção social das diferenças, é ele que paradoxalmente homogeneíza os indivíduos que, “ao entrarem na moda” determinada pelo consumo, abdicam de sua singularidade. Sendo assim, “[...] o sujeito consome isoladamente, na tentativa de obter prazer ou simplesmente para aliviar o mal-estar ao qual está submetido sem se dar conta de que apenas satisfaz uma exigência do sistema” (GARCIA, 2003, p.123). 
A informação chega aos indivíduos de várias formas (TV, rádio, outdoors, revistas, etc.), sendo um dos fatores que influenciam para o aumento do consumo de drogas, por exemplo o álcool. Segundo Pinsky (2004), estudos recentes comprovam que crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos, apontam que através de propagandas de bebidas alcoólicas, sentem vontade de consumir álcool. 
No Brasil, os comerciais estão sempre associados a momentos gloriosos, conquistas esportivas, à sexualidade e ao orgulho de ser brasileiro. Podemos acrescentar ainda que, além desta imagem repassada pelos veículos de comunicação, sempre chama a atenção “musas”, com corpos perfeitos e cheias de “saúde”, apresentando o produto. “Beba, entorpeçase e será feliz!” (s/a, s/d). 
O uso de certas drogas lícitas, como o álcool continuam sendo evocados de forma glamourizada – associadas à juventude, à beleza, ao sucesso de figuras públicas – e incentivado, como na recente publicidade do “experimenta”, numa abordagem bem diferente dos clips das campanhas contra as drogas de uso ilícito: nesse caso o prazer é totalmente negado, predominando imagens de perigo, doença, escuridão, degradação física, horror, morte. Assim, permanece a confusão do verdadeiro e do falso, que não contribui para esclarecer as diferenças de uso que foram, e continuam sendo, construídas historicamente. O esclarecimento se compromete, assim como a construção de uma consciência de riscos (ACSELRAD, 2004, p.195). 
Drogar-se constitui a promessa de um prazer absoluto e a possibilidade de evitar o mal-estar, e isto faz da droga o mais poderoso dos objetos de consumo e fazem da parceria entre toxicômano e sua droga uma relação inabalável, extremamente destruidora e radicalmente contemporânea (GONÇALVES, 2003). 
Para Freitas (2001), o homem da modernidade é incentivado freqüentemente a utilizar algum tipo de anestésico para seu mal-estar psíquico, para as suas angústias. As exibições performáticas, os espetáculos que cultuam a superficialidade e a fugacidade são marcos importantes de uma sociedade totalmente consagrada aos exibicionismos narcísicos e às teatralidades. A aparência é extremamente valorizada, fazendo com que as pessoas estejam sempre num palco representando personagens que, ao participarem do cenário social, o fazem de forma a exaltar um eu triunfante. 
Na onda do consumismo moderno, apregoa-se a posse material e o consumo intensivo de bens e produtos. Isso também estimula o uso crescente de drogas. Produtos antigos ou recentes, legais ou ilegais conheceram novas formas de fabricação e comercialização, indo ao encontro de novas motivações e novas formas de procura. Em detrimento de modos saudáveis de vida, enfatiza-se, com freqüência, certos ideais irreais de força, vigor e juventude, atrelados à idéia de um prazer imediato e permanente na “curtição” da vida (BUCHER, 1996, p.9). 
Podemos ter uma melhor dimensão acerca da toxicomania contemporânea no monólogo que se encontra no filme Trainspotting, do diretor Danny Boyle, que traz a recusa dos anseios da sociedade de consumo. 
Escolha a vida. Escolha um emprego. Escolha uma carreira. Escolha uma família. Escolha a porra de uma televisão grande, escolha máquinas de lavar roupa, carros, aparelhos de CDs e abridores de lata elétricos. Escolha boa saúde, colesterol baixo e seguro dentário. Escolha novos pagamentos de hipoteca com juros fixos. Escolha um lar para começar a vida. Escolha seus amigos. Escolha roupas confortáveis e bagagem combinando. Escolha um terno completo de aluguel, numa variedade de tecidos horríveis. Escolha um “Faça você mesmo”, perguntando a você mesmo quem diabo você é numa manhã de domingo. Sentar naquele sofá assistindo a programas esportivos que embotam a mente e amassam o espírito, enchendo a boca de comida de lanchonete. Apodrecer no fim de tudo, dando o último suspiro numa casa miserável, nada mais do que o embaraço para os filhos egoístas que você gerou para que tomem seu lugar. Escolha o seu futuro. Escolha vida. Eu escolho não escolher a vida: escolho outra coisa qualquer. E as razões? Não há nenhuma. Quem precisa de razões quando se tem heroína? (TRAINSPOTTING, 1996, 00:03min). 
A citação pode ser interpretada como sendo o retrato de uma geração que começa a comprar, como nenhuma outra, o sonho da droga e se deixa capturar novamente pela sociedade de consumo, recuperando rapidamente o objeto droga como instrumento integrado à sua lógica, ou seja, à lógica de um tipo de gozo que serve perfeitamente ao tipo de exercício totalitário.
Sendo assim, por um lado o discurso da toxicomania se destacaria como marginalidade, fundada na recusa dos ideais desta sociedade consumista, mas por outro, mesmo na recusa, estar-se-ia buscando o “objeto” que poderia libertar os sujeitos deste empobrecimento psicológico (MOURÃO, 2003, p. 114). 
Delgado (2003) referindo-se à obra de Freud (1930), pontua quanto ao perigo de se apostar em uma possibilidade única de satisfação,
apontando a ilusão de achar que um único objeto, exclusivo, poderá promover a felicidade. A demanda de todo ser humano é ser feliz, e é para este fim que os sujeitos se orientam; a busca de felicidade é o propósito de vida do homem. 
Nesse sentido, a intoxicação química é descrita por Freud (1930) como um meio eficaz de produção imediata do prazer, proporcionando também aos homens um afastamento da realidade, que possibilita suportar o sofrimento derivado da civilização. 
Não obstante às implicações psicológicas deflagradas pela busca do objeto droga, a difusão maciça de seu consumo na atualidade, transformou a toxicomania numa grave expressão da questão social. 
A análise desta situação contemporânea permite compreender as conseqüências deste processo, em que os mais fortes sobrevivem e outros tantos são condenados e expostos às mais variadas formas de violência nas relações sociais, à desesperança, o esmagamento dos mais desprotegidos e fracos, à solidão que atualmente são expressões de uma civilização que, parece estar esgotando suas possibilidades de desenvolvimento (Ibidem, 2003). 
A tendência é o surgimento de formas e condições de existência individualizadas, que compelem as pessoas, para sua própria sobrevivência material, a se tornarem o centro de seu próprio planejamento e condução da vida. De fato, é preciso escolher e mudar a própria identidade social, e assumir os riscos de fazê-lo. (BAUMAN, 2001, p. 156). 
Com efeito, o modelo de sociedade que se apresenta nos dias atuais está balizada num comportamento extremamente individualista e competitivo. Segundo Acselrad (2004), as pessoas convivem com restrições dos espaços de prazer, em que o mercado de produção crescente de substâncias psicoativas somam-se negativamente para fortalecer a tendência a resolvermos nossos problemas pela via química. 
O homem contemporâneo parece cada vez mais incapaz de pensar os desafios resultantes de sua própria ação, orientada pela razão instrumental. Prisioneiro da máquina produtiva por ele mesmo criada, o indivíduo se obriga a sacrificar valores como solidariedade, fraternidade e compaixão. Ele próprio se condena a abandonar seus sonhos, projetos e utopias de um mundo melhor (PLASTINO, 2005). 
O bem-estar que a sociedade de consumo nos promete é ilusório, pois na verdade, se possível fosse, determinaria uma quebra da ordem vigente, inviabilizando o atual estado de coisas e colocando um basta nessa reciclagem perpétua, que é consideração para que o sistema se mantenha. Portanto a reflexão a qual devemos nos deter refere-se às famílias em meio a esta lógica e realidade. Nos dias atuais, as famílias em geral sofrem mudanças em sua dinâmica devido à necessidade de deixar o lar para dedicar-se ao mercado de trabalho, esvaziando assim a convivência com seus membros. Estes, por sua vez, ficam à mercê da escola e da rua, sabendo que a primeira também passa por dificuldades de toda a ordem e não cumpre seu papel de maneira eficaz. Deste modo, cresce o número de crianças e adolescentes envolvidos com o tráfico e o uso de drogas por falta de uma estrutura familiar e social para ampará-los. É esta a realidade que se apresenta atualmente, permeada por falta de perspectiva para que crianças, adolescentes e pais assegurem um futuro e vislumbrem algum tipo de oportunidade para a melhoria de condições de vida, sendo desta forma as principais vítimas da desigualdade, da injustiça social e do não cumprimento dos direitos sociais. 
3.3.3 Adolescentes e Álcool 
A adolescência é uma fase do ciclo da vida que se constitui por uma labilidade emocional decorrente de instabilidade no processo de transição entre o desejo de ainda querer ser criança e o adulto jovem, que se desprende progressivamente dos pais e se lança no mundo (NJAINE et al., 2009). 
Para Rozin et al. (2012), a inserção do adolescente no meio social, deixa-o exposto as situações diversas, dentre estas, o contato com o álcool. Esta é uma droga socialmente aceita por todos os níveis sociais, de fácil acesso e possibilita, conforme suas reações iniciais bem-estar instantâneo como forma de resolução de incertezas e conflitos, mas também para comemorar momentos felizes e agradáveis. 
A preferência pelo consumo de álcool por adolescentes ocorre pelos efeitos da substância que, no início, é de bem- estar. Além disso, proporciona satisfação, fácil inserção no grupo com os amigos, sendo utilizado como fonte de alívio para o estresse em relação aos fatores familiares e escolares (SIMÕES et al., 2006). 
Os fatores de risco estão relacionados a influência da mídia, relacionamento conturbado com os pais e presença de um membro da família que faz uso, abuso sexual e baixa autoestima e ainda, curiosidade e pressão de colegas e amigos para a inserção em grupos. Também está articulado ao estímulo à experimentação da própria família, por definições culturais, para melhorar a insatisfação diante das condições de vida, inclusive, aquelas ligadas ao desemprego (SOLDERA et al., 2004). 
As conseqüências do uso abusivo de álcool e outras drogas são poderosos determinantes para a morbi-mortalidade, nem sempre bem dimensionados pela população devido a atitudes ambivalentes e o estigma associado ao uso e ao usuário (LUIZ & LUNETA, 2005). 
Entretanto a autopercepção de seu uso não é vista, na maioria das vezes, pelos adolescentes como uma droga com grande potencial de riscos à saúde, além de muitos não o entenderem como droga, que demonstram ser invulneráveis e onipotentes em relação à substância (ROZIN et al., 2012).
4. A FAMÍLIA NO CONTEXTO DA DROGA
4.1 FAMÍLIA: UMA NOVA PERSPECTIVA ANALÍTICA 
 A família brasileira, em meio a discussões sobre a sua desagregação ou enfraquecimento, está presente e permanece enquanto espaço privilegiado de socialização, de prática de tolerância e divisão de responsabilidades, de busca coletiva de estratégias de sobrevivência e lugar inicial para o exercício da cidadania sob o parâmetro da igualdade, do respeito e dos direitos humanos. Ela desempenha um papel decisivo na educação, sendo um espaço em que são absorvidos os valores éticos e humanitários e onde se aprofundam os laços de solidariedade (KALOUSTIAN, 1994). 
Nos dias atuais, as famílias vem sendo tema principal para pesquisadores e estudiosos da área. Segundo Szymansky (2002, p.9), “família é compreendida como sendo uma associação de pessoas que escolhe conviver por razões afetivas e assume um compromisso de cuidado mútuo e, se houver, com crianças, adolescentes e adultos”. 
Sobre isso, acrescenta Mioto (2000, p. 217): 
A família é um núcleo de pessoas que convivem em determinado lugar, durante um lapso de tempo, mais ou menos longo e se acham unidas (ou não) por laços consangüíneos. É marcado por relações de gênero e, ou de relações de gerações, e está dialeticamente articulada com a estrutura social na qual está inserida. 
Estas definições corroboram a idéia de que na sociedade contemporânea houve transformações profundas relacionadas à ordem econômica, à organização do trabalho e ao fortalecimento da lógica individualista, bem como mudanças de valores e liberalização de hábitos e costumes (Ibidem, 2000). 
As famílias então, partícipes deste processo, acompanharam estas transformações, e começaram a se organizar, por força destas transformações, de várias maneiras, não exclusivamente estruturadas como sendo nuclear (pai, mãe e filhos). 
A realidade atual indica que as formas de organização das famílias são totalmente diversas e modificam-se, continuamente, para atender às exigências que lhe são impostas pela sociedade, pelos sujeitos que a compõem e pelos eventos da vida cotidiana. O terreno sobre o qual a família se movimenta não é o da estabilidade, mas o do conflito, o da contradição. As relações são profundamente marcadas pelas contradições entre as expectativas que a sociedade tem e as possibilidades objetivas de realização. Esta situação é condicionada tanto pela organização econômica e social
da distribuição de recursos, como pela coexistência de modelos culturais (valores, normas, papéis) reciprocamente contraditórios. Veja-se o paradoxo do fortalecimento da lógica individualista em termos societários e o apelo para a preservação da lógica da solidariedade familiar (Ibidem, 2000, p.219). 
Estas considerações acerca do que atualmente se entende e se conceitua como sendo família, tem fundamental importância para a compreensão de que a família não é, a priori, um lugar de felicidade, ideologia aceita e compartilhada nos dias de hoje pelos profissionais que trabalham junto às famílias: 
Imbuídos dessa ideologia, muitas vezes os profissionais, embora compartilhando da idéia de que família não é um grupo natural, naturaliza as suas relações e com isso trabalha com esteriótipos do ser pai, ser mãe, ser filho. Esquecem-se que dinâmica relacional estabelecida em cada família não é dada, mas é construída a partir de sua história e de negociações cotidianas que ocorrem internamente entre seus membros e externamente com o meio social mais amplo (Idem, 1997, p.117). 
Sendo a família, portanto, uma instituição social historicamente condicionada e dialeticamente articulada com a sociedade na qual está inserida, é necessário pensar as famílias sempre numa perspectiva de mudança, evitando-se a idéia de modelos cristalizados para se refletir as possibilidades em relação ao futuro (Idem, 1997). 
Neste sentido, em relação aos profissionais que atuam junto às famílias, Neder (2000) pontua a necessidade da valorização das famílias, enxergando as diferenças étnicoculturais presentes na sociedade e também que se tenha respeito por tais diferenças. 
É preciso então “[...] evitar os paradigmas de família regular x família irregular, responsável, em larga medida, pelos preconceitos que produzem a evasão escolar, a displicência e o descaso no atendimento médico e a truculência policial em relação às classes populares” (Ibidem, 2000, p. 44). 
Esta reflexão sobre as famílias (organizadas da maneira que for) é essencial para se efetivar trabalhos e atendimentos mais eficazes a este segmento social tão vulnerável e carente de atenção nas mais diferentes instituições públicas. 
4.2 ÁLCOOL E FAMÍLIA: RELAÇÃO POSSÍVEL?
Para Kaloustian (2010) é abundante a literatura contemporânea a respeito da importância da família para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Estuda-se, do ponto de vista biológico, a fragilidade do bebê humano em relação às demais espécies, o que justifica a necessidade de protegê-lo para que sobreviva. A psicologia demonstra a importância das relações afetivas para a obtenção da saúde mental e as ciências sociais indicam que a presença de adultos confiáveis e o exercício da autoridade são indispensáveis para assegurar o convívio democrático entre homens e mulheres na sociedade.
Ainda segundo Kaloustian (2010) o consenso a respeito da família como lócus privilegiado para o adequado desenvolvimento humano está consagrado em documentos internacionais e, no caso do Brasil, em sua Constituição e no estatuto da Criança e do Adolescente.
Já no preâmbulo da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da criança (20/11/1989), os Estados partes declaram-se “convencidos de que a família, como elemento básico da sociedade e meio natural para o crescimento e o bem-estar de todos os seus membros, e em particular das crianças, deve receber a proteção e assistência necessárias para poder assumir plenamente suas responsabilidades na comunidade” e reconhecem que a “criança, para o pleno e harmonioso desenvolvimento de sua personalidade, deve crescer no seio da família, em um ambiente de felicidade, amor e compreensão” (Kaloustian, 2010, p.60).
As palavras de Zagury (apud ROBAINA, 2010, p. 33), enaltece a relevância da estrutura familiar para o equilíbrio dos adolescentes e jovens: “uma família estruturada, harmônica e equilibrada produz, quase sempre, jovens equilibrados e estruturados. A falta dos pais é sentida de forma substancial pelo jovem, sendo causa maior de fragilidade emocional” (ROBAINA, 2010).
A família constitui-se no espaço indispensável para a garantia de sobrevivência, do desenvolvimento e da proteção integral dos filhos e demais membros, independente do arranjo ou da forma como vem se estruturando. Garantias estas claramente citadas no artigo 4º da lei Federal 8069/1990 – ECA e, no artigo 227 da Constituição Federal de 1988. Esta instituição vem se modificando em sua essência, para poder acompanhar as profundas transformações que ocorreram em seu interior, pois com a evolução da sociedade houve alteração nos papéis sociais de cada um dos membros familiares e o bom desempenho dos papéis sociais é importantíssimo na preservação dos valores éticos e morais que sustentam a sociedade.
É no convívio da família que tais valores são absorvidos e os laços de afeto e solidariedade são aprofundados, porém as famílias que convivem com o drama do alcoolismo, convivem diariamente com o medo, a opressão, a culpa e a raiva. Estes tipos de sentimentos vivenciados com frequência são nocivos ao desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes, para Bellini (2002): “a violência nas relações familiares configura-se como uma das formas de relação de poder, mantendo-se com a participação de todos os membros, ora nas mãos de uns, ora de outros” (p. 33).
Segundo Pinski et al (2004), família é um sistema, um conjunto de elementos que interagem entre si e possuem características comuns, ligados por interações especificas cujos atributos podem ser expressos com relação aos papeis ou funções que desempenham. Não refere-se necessariamente a família nuclear, ou a família cujos membros vivem juntos, mas aquela composta por indivíduos que interagem intensamente.
Todo sistema familiar tem por objetivo evoluir segundo o próprio ciclo vital. Nascimento, casamento, aposentadoria, falecimento, seguindo um processo de renovação. Qualquer alteração dessa ordem pode provocar uma crise e pôr em risco o equilíbrio do sistema. Por isso, a família tende naturalmente a manter a coerência, a segurança e estabilidade em seu interior. O que pode não ser encontrado como referencia numa família onde se encontra um alcoolista (PINSKI, 2004).
O alcoolismo é uma doença que mais destrói vidas, pois não só o alcoolista é lesado em sua dignidade humana e sim todos em sua volta principalmente as crianças e adolescentes que tem suas vidas marcadas de forma dolorosa, traumática e prejudicial a um desenvolvimento saudável, perpetuando-se assim um círculo vicioso de violências, destruição e mortes. Portanto conforme Araújo (2007, p 18) “o alcoolismo é reflexo de uma perturbação social profunda com consequências pessoais e sociais mais amplas”.
Conforme aponta Ramos e Pires (1997) a dependência do álcool ou o alcoolismo pode ocasionar problemas tanto orgânico/clínico quanto psicológico e social. Quanto aos problemas orgânico/clínicos a dependência pode levar a doenças, como: cirrose, gastrite, úlcera, pancreatites, hipertensão, câncer e outras. Em relação aos problemas psicológicos, pode levar a auto piedade, ao remorso, a culpa pela ingestão, a perda da auto-estima, a depressão, ao isolamento entre outros. No caso dos problemas sociais, pode provocar acidentes de trânsito; repercutir nas relações sociais, através da perda dos amigos, de problemas no emprego e com os vizinhos; além de repercutir no relacionamento familiar, levando a desentendimentos, violência verbal e em casos mais extremos a violência física.
Em dezembro de 1995, na Conferência sobre Saúde, Sociedade e Álcool em Paris, promovida pela Organização Mundial da Saúde - OMS foi aprovada e assumida por 49 países a Carta Européia do Álcool. Nesta, podemos ler que “todas as pessoas têm direito a uma família, uma comunidade e uma profissão protegida de acidentes, de violência e outras consequências negativas devido ao consumo de álcool”.
A situação vivenciada no contexto familiar, em todas as suas dimensões e particularidades,
reflete positiva ou negativamente, influenciando todos os membros da família despertando sentimentos e atitudes que se não trabalhadas adequadamente por profissionais capacitados podem gerar problemas de proporções inimagináveis.
A família pode ser considerada um suporte necessário para moldar dentro dos princípios éticos e morais assim, Martins (2007) salienta:
O impacto da doença do alcoolismo não incide somente no contexto social mais amplo e na saúde do dependente, uma vez que, a dependência do álcool interfere também na relação familiar, pois os componentes da família vivenciam diariamente a realidade do familiar que enfrenta a dependência do álcool. É importante, portanto, ter clareza de como esse fenômeno se manifesta na relação familiar (2007, p. 25).
É importante destacar que numa família que possui um alcoolista não apresenta equilíbrio emocional necessário para um relacionamento estável e saudável que proporcione o desenvolvimento físico, psíquico e emocional de crianças e adolescentes e nisso consiste a atuação do profissional do Serviço Social. Atender essas famílias dando-lhes atendimento especializado com o objetivo de suprir todas as suas dificuldades de relacionamento, contribuindo assim com a emancipação social da família.
As crianças e adolescentes que convivem em um ambiente de alcoolismo são constantemente submetidas à violência física, psicológica, moral e sexual. São constantes brigas que ocorrem no contexto familiar, por não haver uma convivência harmoniosa e saudável entre pais e filhos, pela falta de intimidade no relacionamento familiar, falta de dialogo, constantes trocas de ofensas entre o casal, abusos e maus tratos geram um estresse emocional muito grande podendo ocasionar com isso: Problemas físicos e emocionais; Timidez; Isolamento social; Baixa auto-estima; Dificuldades de aprendizagem; Distúrbios de comportamento e de relacionamento prejudiciais a um desenvolvimento psíquico social e emocional saudável.
Lazo (2008) afirma que, as crianças e adolescentes que crescem em uma família de dependente do álcool podem vir a apresentar uma série de deficiências e dificuldades, que vão desde os transtornos emocionais e afetivos que geram dificuldades escolares, dificuldades de convivência social, ansiedade, depressão, até conflitos psicossociais que podem envolver o uso de drogas.
4.3 TRATANDO O ALCOOLISMO COMO DOENÇA: SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE E OS ATENDIMENTOS PSICOSSOCIAIS
As dimensões para o trabalho profissional do Serviço Social na contemporaneidade tendem a ampliar-se devido a fatores como o agudizamento da questão social, entendida aqui a partir da contradição capital e trabalho e cujas expressões e rebatimentos são observados no cotidiano de formas diferenciadas. A profissão ao longo de sua caminhada histórica acumulou conhecimentos técnicos científicos que lhe permitem a intervenção na realidade e, dessa forma, é fundamental que ocupe espaços diferenciados construindo possibilidades para o exercício profissional comprometido com a construção de nova ordem societária, conforme preconizado no Código de Ética Profissional.
A problemática do uso de drogas no Brasil, que se configura como uma das expressões da questão social tem sido alvo de esforços diferenciados por parte de Governo, sociedade civil, empresas privadas e diversas outras organizações. Na contemporaneidade, têm-se buscado desenvolver estratégias que não se atenham a resolver as situações geradas pelo uso de drogas (dependência química, vulnerabilidade social, envolvimento em práticas ilegais), mas se antecipem ao implementar ações que tenham como finalidade principal a prevenção ao uso.
Tal busca se orienta pela necessidade constatada em estudos e pesquisas das mais diversas áreas do conhecimento, que apontam para o desafio de se desenvolverem ações que tenham como foco as atitudes preventivas, uma vez que práticas como a criminalização do usuário, a repressão pontual e limitada (desenvolvidas até recentemente na história brasileira) não tiveram sua eficácia constatada na diminuição dos casos de dependência química e todas as situações advindas da mesma. 
Com a aprovação da Política Nacional sobre Drogas (27 de Outubro de 2005), o Estado Brasileiro reconheceu legalmente a necessidade de se conjugar esforços para que as ações relativas à problemática do uso de drogas tenham o seu principal enfoque voltado para a prevenção.
Todavia, como política pública, a Política Nacional Sobre Drogas pressupõe o conjugar de esforços dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal) para o desenvolvimento das ações, além da mobilização da sociedade no intuito de reconhecer a prevenção como estratégia mais eficaz e humana do que a simples repressão.
Considerando que o Serviço Social tem nas políticas públicas um espaço privilegiado para o exercício profissional, as ações da Política Nacional sobre Drogas podem configurar-se como possibilidades de trabalho efetivo na defesa de direitos e principalmente como partícipe nesse conjugar de esforços com vistas à prevenção ao uso de drogas. Nesse sentido, a inserção do profissional de Serviço Social nesse lócus, pode ser entendida para além da possibilidade de ocupação profissional, mas como dever de uma profissão, que tem no seu caráter ontológico o compromisso ético da defesa e aprofundamento da cidadania. 
Os assistentes sociais que se inserem na área temática da saúde no Sistema Único de Saúde são chamados a atuar, no tempo presente, na esfera de gestão e planejamento, ampliando seu espaço ocupacional para atividades relacionadas ao controle social, à implantação e orientação de conselhos gestores, à capacitação de conselheiros e à assessoria às equipes de saúde das chamadas “redes sentinelas” na sensibilização para a atenção aos acidentes de trabalho nas emergências públicas de saúde, somando-se às atividades tradicionais demandadas historicamente, como a assistência e a tão decantada em debate da saúde coletiva, que é a questão do acolhimento individual (MENDES e WUNSCH, 2008).
A questão do modelo assistencial é um dos pontos nevrálgicos do debate estrutural da área. Embora esse fosse o retrato da realidade na década de 1990, ainda hoje, com o “reordenamento” do modelo, com institucionalização da Renast — Rede de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, o problema não foi resolvido, tendo se cristalizado ainda mais. O assistente social, potencialmente, tanto pode contribuir para reforçar a alienação, no avesso do seu discurso humanista tradicional, como também para elucidar e desencadear mediações em relação a situações e processos sociais, no sentido do seu entendimento mais amplo, no local de trabalho e na sociedade e na direção do enfrentamento das contradições, expressas na realidade cotidiana, posição que Freire (2003) denomina “avesso do avesso”.
Considerando que, por meio da apreensão do referencial teórico-metodológico, ético-político, investigativo e técnico-operativo, o assistente social tem a exigência de moldar o trabalho profissional com vistas a um trabalho consciente, crítico, não subalterno, direcionado aos interesses e às necessidades dos usuários, e não subordinado aos rearranjos propostos pelo Estado neoliberal que vem ao longo dos anos descaracterizando a proposta original do SUS contido no projeto de Reforma Sanitária. Iamamoto (2009) complementa afirmando que sendo o Serviço Social a profissão que busca inserir o homem ao seu meio social, o grande desafio é encontrar novas alternativas e possibilidades para o trabalho profissional, traçando novos horizontes para a formulação de propostas que façam frente à questão social apresentada.
A busca pela garantia de acesso a saúde por aqueles que sofrem o alcoolismo exige atualmente, que os profissionais sejam preparados para intervir no modo de vida daqueles que a vivenciam, não só como vítimas, mas como sujeitos que lutam pela preservação e conquista de sua vida e de sua dignidade. Isso deve porque segundo

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