Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO À PARTICIPAÇÃO (titulo provisório) por Wanderlino Nogueira Neto. Junho / 2010. 1 Os 25 Anos de vigência da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança no mundo completa 25 anos: disseminar para promover avanços e neutralizar retrocessos. Por Wanderlino Nogueira Neto Uma pergunta paira no ar para mim e para muitos outros: - Será que deveremos comemorar, isoladamente, os 25 anos da promulgação e vigência da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança em todo mundo? Será que deveremos, também isoladamente, disseminar esse tratado internacional e aplicá-lo através de decisões judiciais e do desenvolvimento de políticas públicas em cada país que a ela aderiu? Em que contexto deveremos comemorar esse tempo de vigência da CDC, no mundo e especialmente no Brasil, onde ela é quase ignorada, diferentemente da maior parte dos países no mundo. Penso que essas comemorações devem ser postas num contexto mais amplo e de maneira mais articulada com outros fatos. Essa igualmente se me parece ser a proposta que faz a o nosso Comité das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança a todos os Estados Parte da Convenção. . Esses 25 anos foram um tempo de lutas em favor das necessidades, dos desejos, dos interesses e principalmente dos direitos fundamentais da pessoa humana e de modo específico, daqueles segmentos da população que mais necessitam dessa defesa de seus direitos, via normativa jurídica internacional, como direitos humanos positivados. Ou seja, esse foi um tempo de ação global em favor daqueles que mais precisavam da promoção e proteção integrais desses direitos fundamentais, como as classes trabalhadoras e os grupos mais vulnerabilizados, em função de determinadas condições de exclusão, subalternização e dominação - por exemplo, mulheres, afrodescendentes, populações indígenas e tradicionais (quilombolas, ribeirinhos amazônicos, ciganos etc.), explorados no trabalho, pessoas com deficiência, segmentos LGBTT 1 , idosos, jovens adultos e, em especial, crianças e adolescentes. No período que antecedeu os nossos comemorados 25 anos em 2014, desenrolou-se o trabalho na ONU de elaboração de um Projeto de Convenção sobre os Direitos da Criança, que viria atualizar e dar cunho jurídico internacional à então vigente Declaração sobre os Direitos da Criança. Esse processo de elaboração e aprovação de tal tratado internacional iniciou-se com a apresentação na ONU do chamado Projeto-Polônia (1978). A partir daí a discussão nas Nações Unidas aconteceu em permanente diálogo com os paradigmas éticos e políticos dos Direitos Humanos, isto é, de suas doutrinas multidimensionais embasadoras; e também especificamente, e com os princípios jurídicos do Direito Internacional dos Direitos Humanos, que consiste em "um sistema de normas, procedimentos e instituições internacionais desenvolvidos para implementar esta concepção e promover o respeito dos 1 Lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais - LGBTT DIREITO À PARTICIPAÇÃO (titulo provisório) por Wanderlino Nogueira Neto. Junho / 2010. 2 direitos humanos em todos os países, no âmbito mundial2”,como dizia Richard BILDER apud Flavia PIOVESAN . Em 20 de novembro de 1989, trigésimo aniversário da Declaração dos Direitos da Criança, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou por unanimidade a Convenção sobre os Direitos da Criança - CDC. Com a iniciativa de se elaborar uma Convenção, pretendia-se que a aprovação desse tratado internacional coincidisse com a celebração do Ano Internacional da Criança, em 1979. A intenção da Polônia subestimou seriamente a magnitude e a complexidade da tarefa, que, com bastante dificuldades e muita negociação, apenas pôde ser completada a tempo para o décimo aniversário do Ano Internacional da Criança, em 1989. O anteprojeto original, como observaram vários governos na consulta inicial feita em 1978, consistia essencialmente em mera reformulação - como normas jurídicas - das afirmações já reconhecidas anteriormente apenas como normas morais e políticas, na Declaração citada de 1959, A redação final da CDC, porém, foi mais além: (1) transformou a criança/adolescente, de objeto de direito a receber uma mera proteção especial, em um sujeito titular de um amplo espectro de direitos e liberdades; (2) esclareceu o significado de praticamente toda uma gama de direitos humanos para crianças/adolescentes e (3) estabeleceu um comitê internacional de especialistas em direitos da criança, com sede em Genebra, vinculado ao Alto Comissariado para os Direitos Humanos, o qual eu integro, no momento, eleito em 2012, pela maioria absoluta de votos na Assembleia Geral da ONU e que deveria ficar incumbido de orientar e recomendar aos Estados Parte de todo mundo, sobre a aplicação da Convenção. O novo essencial passou, desde então, a ser a superação da busca do “bem estar” ou meramente o "atendimento de interesses, necessidades e desejos", para se tornar a “realização de direitos”, ou seja, a “promoção, proteção e garantia de direitos da pessoa humana”. Mais especificamente como Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes. Contudo, às vezes, essa afirmação de mudança de perspectivas não tem ainda um conteúdo mais consistente pela falta de um discurso verdadeiro e crítico sobre o que é o Direito, em si, da parte dos juristas, dos demais profissionais de outras áreas técnicas e científicas e da população em geral (incluindo crianças e adolescentes). Tem-se reduzido – comumente, o Direito às Leis: um verdadeiro equívoco jurídico, em termos técnico- científicos. Muitos só veem o Direito como “moldura” da realidade, como limitador, como formalidade oca e desencarnada. E não verdadeiramente como parte integrante da paisagem social, uma vez que o Direito é parte dessa realidade (relações sociais intersubjetivas), ele é igualmente Valor (paradigmas ético-políticos) e Norma (princípios e regras jurídicas). O “Direito nasce nas ruas” (dizia o professor Roberto Lyra Filho na UnB) e ali, parte dele é recolhido seletivamente e transformado pelas elites 2 Apud BILDER, Richard. In PIOVESAN, Flávia. “Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional”. 1996/97. DIREITO À PARTICIPAÇÃO (titulo provisório) por Wanderlino Nogueira Neto. Junho / 2010. 3 dominantes em leis, decretos, resoluções, portarias etc., através do processo legislativo, com maior ou menor participação da população, especialmente das forças populares. Na maioria das sociedades, as diferenças biológicas entre crianças/adolescentes e adultos justificam e legitimam desigualdades, no que diz respeito ao poder atribuído aos adultos sobre crianças / adolescentes. Isso se tem reconhecido como uma cultura popular e institucional chamada de “adultocêntrica” 3, onde se estabelecem relações de discriminação, negligência, exploração e violência, isto é, de opressão e dominação sobre crianças e adolescentes 4 , num claro (mas raramente reconhecido) processo de hegemonia social, cultural, econômica e jurídica do mundo adulto, em detrimento do mundo infanto-adolescente. Nessa luta emancipatória da infância e adolescência, tem-se procurado alternativas novas, através de (a) instrumentos normativos jurídicos, de (b) espaços públicos institucionais ou não e de (c) mecanismos estratégicos (políticos, sociais, econômicos, culturais), que se tornam verdadeiros mecanismos de mediatização-mediação (cfr. MARX), nessa luta pelo asseguramento, tanto da essência humana da criança-adolescente, quanto da identidade geracional deles; “para venceremo processo de des-humanização, de dominação e opressão, de desclassificação social de crianças e adolescentes, nesse jogo hegemônico e contra-hegemônico que condena grandes contingentes do público infanto- adolescente a um processo mais específico e doloroso de marginalização” , como afirmava Wanderlino NOGUEIRA NETO. A novidade do novo discurso jurídico da CDC, baseado na doutrina ou teoria jus-humanista, 5 está na qualificação do antigo atendimento de necessidades e desejos de crianças e adolescentes, como reconhecimento e garantia de seus direitos. Na verdade, não está propriamente na estratégia da chamada “proteção integral” o coração da nova normativa internacional6. E sim na idéia-mãe da centralidade na “dignidade, liberdade e diversidade humana”. E mais na decisão de se reconhecer a “titularidade de direitos” em favor de crianças e adolescentes. Dessa fonte, decorrem os paradigmas ético-políticos, os princípios gerais jurídicos e as suas estratégias de operacionalização: isto é, o respeito ao superior interesse da criança/adolescente e a não discriminação, o direito a ter sua opinião ouvida e considerada, o direito a ter respeitado o processo evolutivo de suas capacidades/competências (desenvolvimento), o direito a uma proteção integral e especial em determinadas circunstâncias, por exemplo. Para essa teoria ou doutrina 7 , a questão não está na eliminação do Poder nas relações entre o mundo adulto e o infanto-adolescente, por exemplo. Deveríamos nos esforçar para “domesticar o poder”; para “funcionalizá-lo o mais adequado possível, minimizando o negativo da pura dominação e fazendo excelente a sua dimensão de integração e solidariedade” (RUSSEL)8. 3 Cf. NOGUEIRA NETO, Wanderlino. 2003. “Direitos Humanos de Geração”. Fortaleza/Brasília. Ed. SEDH/CEDCA-CE 4 Cf. NOGUEIRA NETO, Wanderlino. 2006. “Sistema de Garantia de Direitos” in Revista Serviço Social & Sociedade. Tomo 83. São Paulo. Editora Cortez. 5 No Brasil, chamada de “doutrina da proteção integral”, na verdade uma chave hermenêutica teleológica (finalística) do Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelecida em seu artigo 1º. 6 Convenção sobre os Direitos da Criança e seus três Protocolos Adicionais e mais outros documentos internacionais da ONU e de suas agências e organismos (Regras de Beijing et alii) 7 Teoria dos Direitos Humanos - multidimensional: ética, política, antropológica, sociológica, jurídica etc. 8 RUSSEL, Bertrand. 1979. “O Poder” DIREITO À PARTICIPAÇÃO (titulo provisório) por Wanderlino Nogueira Neto. Junho / 2010. 4 Chega-se assim à conclusão de que crianças e adolescentes - a partir dessa visão ético-política e jurídica dos direitos humanos - têm direitos subjetivos e exigíveis, à liberdade, à dignidade, à integridade física, psíquica e moral, à educação, à saúde, à proteção no trabalho, à assistência social, à cultura, ao lazer, ao desporto, á habitação, a um meio ambiente de qualidade e outros direitos individuais indisponíveis, sociais, difusos e coletivos. E conseqüentemente crianças e adolescentes postam-se, como credores desses direitos, diante do Estado e da sociedade, devedores de direitos, com obrigação de reconhecerem e garantirem tais direitos. A CDC vê a criança e o adolescente, em primeiro lugar, como titulares de direitos exigíveis e indisponíveis, como visto essencialmente. Em segundo lugar como pessoas em condições especiais de desenvolvimento ou em processo evolutivo de suas capacidades/competências, ou seja, como pessoas que precisam de alguém, de grupos e instituições. Em seu Preâmbulo e em muitos dos seus artigos, a Convenção multicitada define os direitos da criança realmente num sentido próximo ao da Declaração dos Direitos da Criança, da ONU, em 1959, isto é, apenas como direitos a uma proteção e cuidados especiais: “A criança tem necessidade de uma proteção especial e de cuidados especiais, notadamente de uma proteção jurídica, antes e depois de seu nascimento”. Contudo, a nossa tradição ainda está presa a essa visão reducionista, protecionista e tutelar, de só ver a criança e o adolescente como objeto de nossa atenção, quando ela estiver em condições especialmente difíceis (isto é, situações de risco, de vulnerabilidade, conflito com a lei, marginalização, exclusão social, exploração, violência, negligência etc.). Todavia, em muitos outros pontos, a Convenção avança e acresce a esse “direito à proteção especial”, outros tipos de direitos que só podem ser exercidos pelos próprios beneficiários, isto é, direitos decorrentes da titularidade reconhecida: por exemplo, o direito à liberdade de opinião (art.12), à liberdade de expressão (artigo 13), à liberdade de pensamento, de consciência e de religião (artigo 14), à liberdade de associação (art.15). Direitos que pressupõem grau de capacidade, de responsabilidade, isto é, que pressupõem sujeitos de direitos como titulares. As crianças e os adolescentes são seres essencialmente autônomos 9 , mas com capacidade limitada de exercício dos seus direitos, em conta o grau de evolução das suas competências ou capacidades (“grau de desenvolvimento”). São eles responsáveis por seus atos, por sua vida – mas em nível diverso que o adulto. Têm deveres, pois não se pode conceber o direito sem os seus dois polos das vantagens e dos deveres. Pois, os deveres se integram com os direitos, como faces da mesma moeda. A CDC apresenta uma visão sistematizada, integrada e específica dos direitos humanos de uma larga faixa da população mundial (40% da população). Igualmente, essa Convenção assenta-se numa nova visão da criança, pois embora reconheça que se trata de uma pessoa que carece de proteção e assistência, a CDC atribui principalmente direitos às crianças e aos adolescentes (a) de formar e exprimir suas opiniões, (b) de participar no processo decisório sobre assuntos que lhe digam respeito e (c) de participar, enquanto parceiro proativo, no processo de desenvolvimento da sociedade em que se insere. Todavia, precisamos ir um pouco além, pautando entre nós a discussão mais profunda sobre a eficacia juridica da normativa juridica internacional e nacionais, em tese e sobre a efetividade socio politica dessas mesmas leis; vez que não nos interessam "leis mortas", sem eficácia e efetividade, ou seja, leis 9 A autonomia/ liberdade (ao lado da dignidade) é marca definidora da “essencialidade humana” de toda a pessoa (cfr. MARCUSE). DIREITO À PARTICIPAÇÃO (titulo provisório) por Wanderlino Nogueira Neto. Junho / 2010. 5 que o povo chama de "leis que não saem do papel". Diante disso, ficam as perguntas - para mim centrais nesta nossa discussão sobre violência e medidas leislativas: - Por que legislações, reconhecidas como avançadas, que procuram regular, da melhor maneira possível, relações humanas e ao mesmo tempo pretendem funcionar como vetor na evolução do pensamento e da prática, coletivos, muitas vezes dão a impressão de "ineficazes" (fenômeno jurídico) e/ou "inefetivas" (fenômeno metajurídico)? - Por que, por exemplo, muitas leis de proteção integral da infância e adolescência nas Americas e em O Caribe tem dado essa falsa impressão, a grandes segmentos da opinião pública, mesmo décadas depois de suas promulgações? De qualquer maneira, a aplicação defeituosa ou a baixa aplicação de uma lei podem levar seus destinatários à ideia de que aquela determinada legislação é inadequada social e eticamente, perdendo essa norma, consequente e paulatinamente efetividade político-institucional e eficácia jurídica. Para efeito desta análise e avaliação, considerar-se-á que a efetividade político-institucionalde uma lei em tese : Decorrente de sua capacidade real de provocar uma cadeia de reordenamentos normativos decorrentes e satisfatórios, em nível local (estadual e municipal), com a edição de leis e normas regulamentares específicas, a partir das normas gerais do Estatuto, p. ex.; Decorrente de sua capacidade real de deflagrar um processo irreversível de reordenamento institucional, onde a máquina do Estado, em nível federal, estadual e municipal, venha a ser adequada ao novo paradigma político-jurídico, com a implantação e implementação/fortalecimento de serviços/atividades e programas/projetos públicos, responsáveis pela satisfação das necessidades básicas de crianças e adolescentes, através da promoção e defesa dos direitos correspondentes; Decorrente de sua capacidade real de levar a uma flagrante melhoria do atendimento público direto a essas necessidades e direitos, que resulte na qualificação da demanda e do serviço público. Igualmente para esta análise e avaliação das medidas legislativas de proteção contra todas as formas de violação dos direitos de crianças e adolescentes contra crianças e adolescentes (especialmente a tortura, os maus tratos e os castigos físicos, cruéis e degradantes), considerar-se-á que a eficácia jurídica de uma lei: Decorre de sua aplicabilidade a casos em concreto; Decorre de sua imperatividade, impositividade e coercitividade; Decorre de sua imprescindibilidade e exigibilidade dos direitos que ela reconhece, constitui e assegura. DIREITO À PARTICIPAÇÃO (titulo provisório) por Wanderlino Nogueira Neto. Junho / 2010. 6 O Direito apenas "elaborado", enquanto "enunciado juízo de valor", ainda não é o Direito – ele é de todo impotente, "desarmado". O Direito é o que dele faz seu processo de produção, em concreto. O Direito é eficácia, a cada ato de sua produção e concretiza-se com sua aplicação. Por sua vez, as leis carregam em si o germe da inefetividade político-institucional e da ineficácia jurídica quando lhes faltam, em primeiro lugar, legitimidade social. Isso acontece, por exemplo, quando essas normas jurídicas são outorgadas, quando a produção do Direito se faz de maneira heteronômica, provocando um estado de anomia, de resistência e desrespeito à ordem jurídica posta, isto é, ao direito positivo estatal vigente. Igualmente, as leis carregam em si o germe da inefetividade político-institucional e da ineficácia jurídica, quando se limitam a estabelecer apenas princípios programáticos, conceitos abstratos e quando não preveem instrumentos que operacionalizem sua implementação (mecanismos e espaços públicos), isto é, quando não permitem a construção de um sistema de garantia dos direitos. Quando não isso, os textos normativos também são portadores da sua própria inefetividade político- institucional e ineficácia jurídica, quando contém igualmente o gérmen da "sobrecarga", isto é, quando o Direito traz mais “mundo exterior” para dentro de si do que é capaz de suportar. Uma "sobre politização e uma sobre socialização da norma jurídica” – um excesso. O Direito não existe para "criar mundo exterior”, mas normalizar as condutas sociais vividas nesse mundo exterior a si, a partir de uma utopia, a partir de determinados Valores éticos, históricos e políticos. Em conclusão: é de se reconhecer minimamente que se está hoje vivendo um tempo de transição paradigmática: a emancipação social de segmentos sociais em desvantagem, entre eles, as crianças e os adolescentes. Isso é uma aspiração óbvia, almejada e em processo de construção: um valioso instrumento de mediação e de contra hegemonização pode ser a luta pelos Direitos Humanos. Nesse sentido, necessário se torna construir uma contra hegemonia jurídica em favor dos interesses, das necessidades e dos desejos, de crianças e adolescentes, a partir daí, tornados direitos e liberdades fundamentais, exigíveis juridicamente. Petrópolis, dezembro, 2014. Wanderlino Nogueira Neto Membro Comissionado do Comitê das Nações Unidas para a Criança (Alto Comissariado para os Direitos Humanos) Genebra
Compartilhar