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(AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 1 Tribunal de Justiça 12ª Câmara Cível Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 Agravantes: MARCELO RIBEIRO FREIXO E OUTRO Agravados: ESTADO DO RIO DE JANEIRO E OUTROS Relator: DESEMBARGADOR CHERUBIN SCHWARTZ DECISÃO Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por MARCELO RIBEIRO FREIXO e ELIOMAR DE SOUZA COELHO em face a decisão do Juízo da 9ª Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital, que indeferiu a liminar nos autos da Ação Popular ajuizada em face do ESTADO DO RIO DE JANEIRO, LUIZ FERNANDO DE SOUZA e EDSON ALBERTASSI, em que se objetivava a tutela provisória para sustar o ato lesivo de indicação do terceiro agravado para a vaga no Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, bem como para realização da nova lista tríplice composta exclusivamente por auditores do Tribunal de Contas e ou membros do Ministério Público Especial do Tribunal de Contas. A Ação Popular deflagrada pelos autores, aqui agravantes, aduz em síntese, que a vaga a ser preenchida por S. 18 CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ JUNIOR:13776 Assinado em 13/11/2017 16:55:03Local: GAB. DES CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ JUNIOR (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 2 Exa., o Sr. Deputado Estadual, Edson Albertassi, terceiro agravado, em razão da escolha feita pelo Sr. Governador do Estado do Rio de Janeiro, caberia, em cumprimento ao comando inserto na Constituição da República, o qual é de repetição obrigatória pela Constituição do Estado do Rio de Janeiro, ponto que não foi observado pelo segundo agravado. O parecer do Ministério Público em primeiro grau, de forma judiciosa, analisa a controvérsia e opina pela concessão da medida liminar, no sentido de interromper, ao menos momentaneamente, o processo de investidura do novo indicado pelo Sr. Governador do Estado. O parecer do órgão fiscal tem o seguinte teor: “Trata-se de ação popular movida por MARCELO RIBEIRO FREIXO e ELIOMAR DE SOUZA COELHO em face do ESTADO DO RIO DE JANEIRO, LUIZ FERNANDO DE SOUZA “PEZÃO” e EDSON ALBERTASSI, que tem por objeto impedir a indicação do Deputado Estadual Edson Albertassi para o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Salientam os autores populares que, em razão da aposentadoria do ex- Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, Jonas Lopes de Carvalho Júnior, então ocupante da vaga destinada a escolha do Poder Executivo, foi iniciado o processo para indicação pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro, de um auditor do TCE, segundo lista tríplice formada pelo próprio Tribunal de Contas. Em sequencia, no dia 19 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 3 28/09/2017, o Presidente interino do TCE-RJ, exma. Dra. Marianna Montebelo Willeman, encaminhou o Ofício n.º 285/2017 ao governador Fernando Pezão, com indicação da lista tríplice de auditores fiscais do TCE, seguindo o critério da antiguidade, o que se deu a partir de ordem de classificação do concurso público para preenchimento da vaga de conselheiro do TCE. No entanto, no dia 01/11/2017, os indicados na referida lista tríplice firmaram declaração de que não têm interesse em concorrer à vaga de Conselheiro em questão. Assim, visando preencher a referida vaga, em 08/11/2017, o Governador do Estado, Luiz Fernando Pezão indicou o nome do Deputado Estadual EDSON ALBERTASSI, líder do governo na ALERJ, o que é impugnado na presente demanda. Assim, requer em sede liminar seja concedida a tutela provisória de urgência, para sustar o ato lesivo impugnado, determinando-se a formação de nova lista tríplice composta exclusivamente por auditores do Tribunal de Contas ou por membros do Ministério Público junto ao Tribunal, A jurisprudência pátria tem consagrado o entendimento de que contra atos do Poder Executivo, de natureza discricionária ou interna corporis, descabe o controle judicial, sob pena de violação ao Principio da Separação de Poderes, consagrado no artigo 2º da Constituição Federal. decidir acerca da legalidade da ação dos demais Poderes do Estado. No exercício desse mister, não se pode perder de mira a regra da autocontenção, que lhe impede de invadir a esfera reservada à decisão política dos dois outros Poderes. Na hipótese em tela, o autor popular informa que a indicação feita pelo Exmo. Governador do Estado não poderia se afastar da regra constitucional de nomeação de um auditor técnico, ou seja, descaberia a livre nomeação em razão da renúncia de todos os integrantes da lista 20 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 4 tríplice ao cargo público. Invocam os autores populares em favor da sua tese a regra prevista no artigo 128 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro: Art. 128 O Tribunal de Contas do Estado, integrado por sete Conselheiros, tem sede na Capital, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo território estadual, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 158 da Constituição. (NR) (...) § 2º Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado serão escolhidos: I - três pelo Governador do Estado, com a aprovação da Assembleia Legislativa, sendo dois alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e merecimento; II - quatro pela Assembleia Legislativa. Outrossim, tal regra encontra simetria constitucional no que dispõe o artigo 73, § 2º, caput do artigo 75 da Constituição Federal, que impôs compulsoriamente aos Estados e ao Distrito Federal a observância desse modelo federal aos respectivos tribunais de contas, conforme jurisprudência uníssona do Egrégio Supremo Tribunal Federal. Ressalte-se que o citado parágrafo segundo do artigo 128 da CERJ foi alterado recentemente para incluir a obrigatória presença de um auditor na composição da Corte de Contas, o que deu apenas a partir da Emenda Constitucional n. 53, de 2012, o que demonstra a recente preocupação do legislador estadual em cumprir a ordem superior constitucional. Neste sentido, a Súmula 653: No Tribunal de Contas Estadual, composto por sete conselheiros, quatro devem ser escolhidos pela Assembléia Legislativa e três pelo chefe do Poder Executivo estadual, cabendo a este indicar um dentre auditores e outro dentre membros do Ministério Público, e um terceiro a sua livre escolha. Portanto, a questão em exame deve ser analisada 21 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 5 apenas sob o manto do Princípio da Legalidade Estrita da livre escolha feita pelo Exmo. Governador do Estado do Rio de Janeiro, sem adentrar neste momento preliminar na presença dos demais requisitos previstos no artigo 128, parágrafo primeiro da CERJ ou no alegado desvio de finalidade ou quebra da moralidade administrativa, invocados na petição inicial, até porque não se está analisando a conduta ou qualificação do indicado. Neste ponto, numa análise inicial, a indicação de um ocupante de cargo político no legislativo estadual parece colidir com a regra constitucional acima prevista que determina, de forma cogente e imperativa, a indicação pelo Governador do Estado de um auditor integrante do próprio Tribunal de Contas. Ressalte-seque os documentos que instruem a inicial informam que a vaga a ser ocupada seria destinada ao referido cargo técnico, tanto que foi encaminhada a lista tríplice pela Exma. Presidente Interina do TCE, após procedimento administrativo instaurado para tal fim. Ademais, o cargo de auditor substituto somente foi preenchido em 2016, mediante concurso público, sendo impossível que antes de tal data alguma vaga oriunda do Executivo tenha sido preenchida por técnico. Outrossim, não houve, ao que parece, justificada recusa à formação da lista tríplice de auditores por parte do Exmo. Governador ao fundamento de que a vaga a ser ocupada seria de livre nomeação, o que demonstra a sua predisposição inicial a cumprir a ordem constitucional de composição plenária da Corte de Contas. A título de mera ilustração, se mostraria impensável que, havendo recusa ou renúncia dos três integrantes da lista tríplice encaminhada ao cargo de desembargador, seja de carreira ou pelo quinto constitucional previsto no artigo 94 da CF, pudesse o Exmo. Governador nomear para o cargo um advogado, membro do 22 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 6 parquet ou mesmo um juiz de carreira de sua livre escolha. Por diversas vezes, a solução usualmente adotada para hipóteses de recusas ou vacâncias, é o retorno da lista tríplice ao órgão para indicação privativa de novo nome para completar a lista a ser a posteriori submetida à escolha da autoridade competente. Ou seja, nas hipóteses de ‘vagas reservadas’, a escolha do Governador não é ampla e irrestrita. O Egrégio Supremo Tribunal Federal já assentou o entendimento no sentido de que a ausência de auditores ou membros do Ministério Público Especial não autoriza a utilização de critério de escolha incompatível com o modelo federal traçado pela Carta Magna, que não prevê semelhante hipótese de escolha livre pelo Chefe do Poder Executivo. Em precedente jurisprudencial, a Suprema Corte brasileira declarou a inconstitucionalidade de dispositivo da Constituição do Estado do Pará que autorizava a nomeação de livre escolha do Governador do Estado, na falta de auditor ou de membros do Ministério Público Especial junto ao Tribunal de Contas que preencham os requisitos estabelecidos em lei para o cargo. Também já restou pacificado o entendimento de que "Na solução dos problemas de transição de um para outro modelo constitucional, deve prevalecer, sempre que possível a interpretação que viabilize a implementação mais rápida do novo ordenamento" (ADI 2.596, Pl., 19.03.2003, Pertence). Cabe trazer a baila as referidas decisões do Egrégio Supremo Tribunal Federal: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 307, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO PARÁ, ACRESCIDO PELA EMENDA CONSTITUCIONAL 40, DE 19/12/2007. INDICAÇÃO DE CONSELHEIROS DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO E DOS MUNICÍPIOS. DISPOSITIVO QUE AUTORIZA A 23 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 7 LIVRE ESCOLHA PELO GOVERNADOR NA HIPÓTESE DE INEXISTÊNCIA DE AUDITORES OU MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESPECIAL APTOS À NOMEAÇÃO. OFENSA AOS ARTIGOS 73, § 2º, E 75, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. LIMINAR DEFERIDA. I - O modelo federal de organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas, fixado pela Constituição, é de observância compulsória pelos Estados, nos termos do caput art. 75 da Carta da República. Precedentes. II - Estabelecido no artigo 73, § 2º, da Carta Maior o modelo federal desproporção na escolha dos indicados às vagas para o Tribunal de Contas da União, ao Governador do Estado, em harmonia com o disposto no artigo 75, compete indicar três Conselheiros e à Assembleia Legislativa os outros quatro, uma vez que o parágrafo único do mencionado artigo fixa em sete o número de Conselheiros das Cortes de Contas estaduais. III - Em observância à simetria prescrita no caput do art. 75 da Carta Maior, entre os três indicados pelo Chefe do Poder Executivo estadual, dois, necessariamente e de forma alternada, devem integrar a carreira de Auditor do Tribunal de Contas ou ser membro do Ministério Público junto ao Tribunal. Súmula 653 do Supremo Tribunal Federal. IV - Medida cautelar deferida. ADI 4416 MC / PA - PARÁ MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI Julgamento: 06/10/2010 Órgão Julgador: Tribunal Pleno CONSTITUCIONAL. TRIBUNAIS DE CONTAS ESTADUAIS: COMPOSIÇÃO. I - A composição dos Tribunais de Contas estaduais deve observar o seguinte: quatro Conselheiros são indicados pela Assembléia Legislativa e três Conselheiros pelo Governador. Esta a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que, no julgamento da 24 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 8 ADI 3.361-MC/MG, Relator o Ministro Eros Grau, foi perfilhada. II - É também da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que, quanto à clientela do Governador, um provimento será de livre escolha; as duas vagas restantes deverão ser preenchidas, necessariamente, uma por ocupante de cargo de Auditor do Tribunal de Contas e a outra por membro do Ministério Público junto àquele órgão. ADI 3.361- MC/MG. III - O preenchimento das vagas obedece ao critério de origem de cada um dos Conselheiros, vinculando-se cada uma delas à respectiva categoria a que pertencem. ADI 2.117/DF, Ministro Maurício Corrêa, Plenário 03.5.2000, DJ de 7.11.2003. IV - Cautelar indeferida. Agravo não provido. (Rcl 3177 MC-AgR / MG - MINAS GERAIS AG.REG.NA MEDIDA CAUTELAR NA RECLAMAÇÃO Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO Relator(a) p/ Acórdão: Min. RICARDO LEWANDOWSKI Julgamento: 11/10/2007 Órgão Julgador: Tribunal Pleno) Ação direta de inconstitucionalidade: processo de escolha dos Conselheiros dos Tribunais de Contas do Estado do Pará e dos Municípios - art. 307, I, II e III e § 2º, das Disposições Constitucionais Gerais, da Constituição do Estado, conforme a redação dada pela EC 26, de 16 de junho de 2004. 1.Controvérsia relativa ao critério de precedência (oude prevalência) na ordem de preenchimento de vagas, com alternância entre o Legislativo e o Executivo. 2.Não ofende a Constituição o estabelecimento, pela Constituição Estadual, da precedência da indicação feita por um dos Poderes sobre a do outro (v.g. ADIn 419, Rezek, DJ 24.11.95; ADIn 1068, Rezek, DJ 24.11.95; ADIn 585, Ilmar, DJ 2.9.94). 3. Entretanto, no caso da composição dos Tribunais de Contas paraenses, a situação atual, marcada com indicações feitas sob quadros normativos diferentes, necessita de ajuste para se aproximar do 25 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 9 desenho institucional dado pela Constituição. 4. "Na solução dos problemas de transição de um para outro modelo constitucional, deve prevalecer, sempre que possível a interpretação que viabilize a implementação mais rápida do novo ordenamento" (ADI 2.596, Pl., 19.03.2003, Pertence). 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente, em parte, para conferir ao texto impugnado e ao seu § 1º, por arrastamento, interpretação conforme à Constituição, nestes termos: Quanto ao TCE: a) a cadeira atualmente não preenchida deverá serde indicação da Assembléia Legislativa; b) após a formação completa (três de indicação do Governador e quatro da Assembléia), quando se abra vaga da cota do Governador, as duas primeiras serão escolhidas dentre os Auditores e membros do Ministério Público junto ao tribunal; Quanto ao TCM: a) Das duas vagas não preenchidas, a primeira delas deverá ser de indicação da Assembléia Legislativa e a segunda do Governador, esta, dentre Auditores; b) após a formação completa, quando se abra a vaga das indicações do Governador, o Conselheiro será escolhido dentre os membros do Ministério Público junto ao Tribunal. ADI 3255 / PA - PARÁ AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE Julgamento: 22/06/2006 ,Órgão Julgador: Tribunal Pleno DJe-157 DIVULG 06-12-2007 PUBLIC 07-12-2007 DJ 07-12- 2007 PP-00018 EMENT VOL-02302-01 PP-00127 Por fim, entende o parquet que se encontra presente o periculum in mora a autorizar o deferimento da liminar, eis que já adotadas as medidas administrativas para submissão do nome do indicado à sabatina na ALERJ, no início da semana que se aproxima. Uma vez nomeado o novo integrante do Tribunal de Contas, as relevantes funções poderiam em breve ser exercidas. 26 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 10 Com a nomeação de Conselheiro não auditor ou técnico, ainda mais distante do modelo constitucional estará nossa Corte de Contas, postergando os Poderes Públicos o cumprimento da regra constitucional por mais alguns anos, ao menos até a próxima vacância. Ressalte-se ainda que, caso ao final da demanda popular, a mesma venha a ser julgada procedente, restaria a abertura de inúmeros questionamentos jurídicos acerca da validade das decisões tomadas pela Corte de Contas com a participação de um membro posteriormente excluído. O autor popular ainda sustenta que, não havendo outras opções dentre auditores do TCE, a vaga deveria ser destinada a membros do Ministério Público junto ao Tribunal, conforme prevê o inciso I do § 2º do art. 128 da CERJ, atentando para o critério do conhecimento técnico sobre as matérias atinentes ao Tribunal. Tal questão merece melhor análise jurídica após ampla instrução probatória, até porque ainda não se tem notícia do atual quadro de auditores substitutos ou em espera para convocação para a Corte de Contas, após o concurso público realizado no ano passado. No entanto, s.m.j., não há em principio óbice a que, por ordem judicial motivada e autorização legal, a composição do TCE ainda se mantenha temporariamente ocupada por auditores substitutos até a nomeação de Conselheiro efetivo na ordem prevista constitucionalmente ou até o retorno dos conselheiros afastados. Certo que a solução jurídica apontada não é nem de longe a ideal, mas ainda assim se mostra menos gravosa à saúde institucional da Corte de Contas, ao próprio Estado do Rio de Janeiro e ao Princípio da Segurança Jurídica do que a simples e imediata supressão da regra constitucional de composição do órgão. Por fim, inexiste no momento qualquer dano grave à ordem 27 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 11 pública com o deferimento da tutela de urgência, eis que, caso os réus demonstrem, após o pleno contraditório, que a vaga seria efetivamente destinada à livre nomeação do Governador, poderá ser revista a liminar deferida a qualquer tempo, com a célere conclusão do procedimento de nomeação ao cargo de Conselheiro do TCE. Isto posto, oficia o MINISTÉRIO PÚBLICO no sentido de que seja deferida a liminar postulada para suspender o procedimento de investidura iniciado pela indicação feita pelo Exmo. Governador do Estado do cidadão Edson Albertassi, noticiada através da Mensagem nº 38/2017, publicada no DO de 08 de novembro de 2017.” Por outro lado, o nobre julgador de primeiro grau, igualmente de forma judiciosa indeferiu a liminar argumentando o que se segue: “Trata-se de ação popular proposta por Marcello Ribeiro Freixo e Eliomar de Souza Coelho em face do Estado do Rio de Janeiro, de Luiz Fernando de Souza ´Pezão´ e de Edson Albertassi, pleiteando a concessão de tutela provisória de urgência para sustar o ato impugnado e que seja determinando a formação de nova lista tríplice composta exclusivamente por auditores do Tribunal de Contas ou por membros do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas do Estado (TCE). Ressaltam os autores que os indicados na lista tríplice declararam, por escrito, que não possuem interesse na vaga de Conselheiro do TCE (PDF 96), razão pela qual o Governador, Luiz Fernando de Souza, segundo réu, indicou para o cargo o nome do terceiro, Deputado Estadual Edson Albertassi, líder do governo na Assembleia Legislativa 28 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 12 do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). A Constituição da República (CR) estabelece, em seu artigo 73, §2º, critério de preenchimento das vagas para o Tribunal de Contas e no parágrafo único do artigo 75, fixa o número de conselheiros. Desta forma, a Constituição Estadual (CE), em consonância com o mandamento constitucional, no §2º do artigo 128 estabeleceu a forma de escolha do cargo de Conselheiro do TCE. ´Art. 128 O Tribunal de Contas do Estado, integrado por sete Conselheiros, tem sede na Capital, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo território estadual, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 158 da Constituição. [...] § 2º Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado serão escolhidos: I - três pelo Governador do Estado, com a aprovação da Assembleia Legislativa, sendo dois alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e merecimento; II - quatro pela Assembleia Legislativa.´ Como destacado pela representante do Ministério Público (MP) a jurisprudência já consagrou o entendimento de que contra atos do Poder Executivo, de natureza discricionária ou interna corporis, descabe o controle judicial, sob pena de violação ao Princípio da Separação de Poderes, consagrado no artigo 2º da Constituição da República (CR) Conforme entendimento do e. Supremo Tribunal Federal (STF), no Recurso Extraordinário 717.424, de 21.08.2014, cujo relator foi o Ministro Marco Aurélio, em face da dualidade de critérios fixados no §2º do artigo 73 da CR, deve-se primeiro levar em conta o órgão ao qual compete a escolha e, depois, o ligado à clientela imposta ao Poder Executivo: ´Os Tribunais de Contas possuem atribuição, constitucionalmente estabelecida, de auxiliar o Poder Legislativo no controle da 29 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 13 execução do orçamento público e de emitir parecer final sobre as contas da Administração Pública. Visando concretizar o sistema de freios e contrapesos e viabilizar a natureza eminentemente técnica desempenhada por esses órgãos, o constituinte disciplinou modelo heterogêneo de composição, e o fez em dois níveis: partilhou a formação, consoante a autoridade responsável pela indicação, entre os Poderes Legislativo e Executivo (artigo 73, §2º, incisos I e II). [...] Quanto aos Tribunais estaduais, integrados por sete Conselheiros, essas regras, segundo o artigo 75 da Constituição, devemser aplicadas no que couberem, tendo o Supremo definido que a escolha de quatro membros compete à Assembleia Legislativa, e a de três, ao Governador, sendo, nesse último caso, um de livre escolha, um auditor e um membro do Ministério Público Especial. [...] Assim, o Constituinte preconizou a formação dos Tribunais de Contas em dois passos: a partilha interpoderes, fundada no princípio da separação de poderes, e a intrapoder, no caso, no âmbito das indicações do executivo, motivada pela necessidade de conferir expertise e independência ao órgão. Controvérsia relevante surge, presente regime de transição, se impossível fazer valer, simultaneamente, os dois critérios de partilha. Em certas situações, após a entrada da Carta de 1988 em vigor, para que o Governador pudesse indicar um auditor ou membro do Ministério público, foi preciso fazê-lo envolvida vaga decorrente de aposentadoria de Conselheiro anteriormente escolhido pela Assembleia, o que implicaria inversão da proporcionalidade exigida na Carta. É esse o impasse configurado no processo. O Supremo, enfrentando o tema em diversos julgamentos, proclamou que prevalece a regra constitucional de divisão proporcional das indicações entre os Poderes Legislativo e Executivo, e ao inerente critério da ´vaga cativa´, sobre a obrigatória indicação 30 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 14 de clientelas específicas pelos Governadores. O tribunal definiu tratar-se de regras sucessivas: primeiro, observa-se a proporção de escolhas entre os poderes para, apenas então, cumprirem-se os critérios impostos ao Executivo, não havendo exceção a tal sistemática, nem mesmo em razão da ausência de membro do Ministério público Especial. Isso significa que o atendimento da norma quanto à distribuição de cadeiras em favor de auditores e do Ministério Público somente pode ocorrer quando surgida vaga pertencente ao Executivo, não se mostrando legítimo sacrifício ao momento e ao espaço de escolha do legislativo. Nem mesmo a necessidade de equacionar regimes de transição, segundo a jurisprudência do Supremo, justifica o abandono dessa prioridade.´ (STF, Recurso Extraordinário 717.424, de 21.08.2014, relator Ministro Marco Aurélio) O pedido liminar, como ressaltado pela representante do Ministério Público, deve ser analisado com fulcro no princípio da Legalidade da livre escolha feita pelo Governador, sem adentrar nesta fase processual, de verificação da presença dos demais requisitos previstos no artigo 128, §1º da Constituição Estadual ou no alegado desvio de finalidade ou quebra da moralidade administrativa, invocados na petição inicial, até porque não se está analisando a conduta ou qualificação do indicado. Requisitos que ainda serão avaliados pelo Poder Legislativo, pois se trata de ato administrativo complexo. Apesar dos argumentos apresentados pelos autores e pelo MP, ouso em divergir e não vislumbro, nesta fase de cognição prévia, vício capaz de macular o ato administrativo complexo de nomeação do Conselheiro do TCE. A norma constitucional não determinou a compensação de preenchimento de cargos de Conselheiro do TCE na hipótese de vacância, conforme pretendido. Ademais, o conselheiro aposentado foi de livre nomeação do 31 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 15 Governador, devendo ser observado este critério e nas nomeações subsequentes deste deverá, aí sim, ser observada pelo Poder Executivo a regra da cadeira cativa de auditor e do Ministério Público Especial. Frise-se que conforme jurisprudência do e. STF, já transcrita nesta decisão, não pode haver inversão da escolha da ordem dos conselheiros. Assim, não vislumbro a necessidade de formação de nova lista tríplice composta exclusivamente por auditores do TCE ou por membros do Ministério Público com atuação junto aquele Tribunal de Contas, nesta fase de transição e de adequação da composição dos Conselheiros do TCE. Em face do exposto, indefiro o pedido liminar. Citem-se e intimem-se os réus. Cientifique-se o MP. PI.” É o Relatório. Consiste a hipótese na discussão acerca da presença ou não dos requisitos autorizadores da concessão da medida de antecipação de tutela cautelar. Por outro lado, a questão de fundo deduzida no âmbito da Ação Popular diz respeito à definição do critério para preenchimento da vaga de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, decorrente da aposentadoria do Conselheiro Jonas de Carvalho Lopes, girando a discussão em torno de ser a presente vaga de livre nomeação do Senhor Governador do Estado ou, se ao reverso, caberia a indicação tendo por base lista tríplice formada por membros do corpo técnico do tribunal. 32 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 16 O artigo 75 da CRFB/88 dispõe: “Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios. Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas respectivos, que serão integrados por sete Conselheiros.” Por seu turno, o artigo 128 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro consignei: “Art. 128 - O Tribunal de Contas do Estado, integrado por sete Conselheiros, tem sede na Capital, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo território estadual, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 158 da Constituição. § 1º - Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado serão nomeados dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos: I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade; II - idoneidade moral e reputação ilibada; III - notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública; IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os conhecimentos mencionados no inciso anterior. § 2º - Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado serão escolhidos: I - três pelo Governador do Estado, com a aprovação da Assembleia Legislativa, sendo dois alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto 33 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 17 ao Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e merecimento; II - quatro pela Assembleia Legislativa.” A regra inserta na Carta da República, é de observância obrigatória pela Constituinte Estadual, o que foi feito no caso do Estado do Rio de Janeiro. O Governador do Estado, no exercício de sua competência, detém discricionariedade na escolha do nome para ocupar a cadeira de Conselheiro do TCE, porém, tal discricionariedade não é absoluta, na medida em que o exercício deste poder deve conformar-se à observância dos requisitos enumerados na norma, para assunção do cargo. Verdadeira discricionariedade normativa ou taxativa, deve ser exercida nos estritos limites da competência do Governador, com observância aos requisitos legais. É pacífico, no âmbito do E. STF, que o artigo 75 da CRFB/88, impõe a obrigatoriedade de ser observado quanto a organização, composição e fiscalização. Significa dizer, que o modelo de composição insculpido para o TCU deve ser observado nas Cortes de Contas Estaduais. 34 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 18 Anote-se, que tal tema, foi exaustivamentedebatido pelo E. STF, que levou a edição do verbete sumular n.º 653: “No Tribunal de Contas Estadual, composto por sete conselheiros, quatro devem ser escolhidos pela Assembleia Legislativa e três pelo chefe do Poder Executivo Estadual, cabendo a este indicar um dentre auditores e outro dentre membros do Ministério Público, e um terceiro a sua livre escolha.” No caso concreto a controvérsia gira em torno dos limites da competência do Sr. Governador do Estado, de indicar livremente o nome para assumir a vaga ou, escolher um nome dentre aqueles indicados em lista tríplice, com a observância da classe de origem (MP de Contas ou Corpo Técnico do TCE). O juízo de primeiro grau, ao indeferir a liminar, não superou uma questão, qual seja, se a competência era exclusiva do Governador do Estado, na escolha do nome, porque elaborou-se uma lista tríplice? Por outro lado, o argumento de que o Sr. Governador do Estado não precisava consultar novamente o TCE, ante a desistência daqueles que se inscreveram no processo de seleção, é ponto que demanda maior reflexão e investigação. 35 (AM) Agravo de Instrumento nº 0064986-65.2017.8.19.0000 fls. 19 Diante do exposto, DEFIRO o efeito suspensivo ativo, para deferir a liminar e sustar o ato que indicou o agravado Edson Albertassi para a vaga de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, devendo-se comunicar a Assembleia Legislativa e o Governador do Estado da presente decisão. Aos agravados. Após ao MP. Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2017. Desembargador CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ JÚNIOR Relator 36
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