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Rev. Brasil. Biol., 59(3): 407-419 ESTUDO COMPARATIVO DE MTODOS DE AMOSTRAGEM DE COMUNIDADES DE COSTÌO 407 ESTUDO COMPARATIVO DE MTODOS DE AMOSTRAGEM DE COMUNIDADES DE COSTÌO SABINO, C. M.1 e VILLAA, R.2 1Mestranda da Universidade Federal Fluminense, Programa de Ps-graduao em Biologia Marinha 2Universidade Federal Fluminense, Programa de Ps-graduao em Biologia Marinha, C.P. 100436, CEP 24001-970, Niteri, RJ, Brasil Correspondncia para: Roberto Villaa, Universidade Federal Fluminense, Programa de Ps-graduao em Biologia Marinha, C.P. 100436, CEP 24001-970, Niteri, RJ, Brasil, e-mail: gbmbeto@vm.uff.br Recebido em 22/04/98 — Aceito em 11/09/98 — Distribudo em 10/09/99 (Com 8 figuras) ABSTRACT Sampling methods for rocky shores This study compares three sampling methodologies of rocky shore communities: visual estimation, point intercept quadrats and destructive sampling. Visual estimation was performed in two sizes of sampling device and, point intercept quadrats was done with different numbers of marked dots. The sampling took place on the rocky shore of Forno beach, Búzios, RJ, in two different algae belts; one whose the landscape is characterized by Amphiroa sp., the other, Sargassum furcatum was the most conspicuous species. The data were analyzed by ANOVA and Kruskal-Wallis tests. Number of species, total percent cover, diversity and evenness indices were the variables used. The results shown that in general the methods compared were not statistically different one from the other in this community. There were significative differences between the methods when comparison was made between non- destructive and destructive sampling. However, smaller areas of sampling devices and fewer intercept points decreased the sampling power in respect of sampling species richness. All of the methods studied were considered similar in concern of total cover index and of diversity and evenness indices, with some exceptions. Present data are useful only for rocky communities with similar profiles. The choice of method must be made in regard of each situation. Key words: sampling methods, rocky shore, phytobenthos, Búzios, RJ. RESUMO O presente estudo compara três metodologias de amostragem de costão rochoso: estimativa visual, pontos de interseção e raspagem total do substrato. No método de estimativa visual, variou-se o tamanho do amostrador e, no de pontos de interseção, o número de pontos marcados. As amostras foram coletadas no costão da praia do Forno, Búzios, RJ, em duas faixas, uma dominada fisionomicamente por Amphiroa sp. e a outra, por Sargassum furcatum. Foram aplicados testes de ANOVA e Kruskal- Wallis aos resultados encontrados, utilizando-se como variáveis os índices bionômicos de número de espécies, porcentagem total de recobrimento, índice de diversidade e índice de uniformidade. Os resultados provaram que nenhuma metodologia de amostragem semelhante mostrou-se estatisticamente diferente da outra. Existe diferença quando se comparam os métodos não-destrutivos ao método destrutivo. No entanto, amostradores com menor área ou menor número de pontos não amostram bem o índice número de espécies. Os métodos não apresentaram diferença significativa em relação à cobertura total e aos índices de diversidade e uniformidade, salvo algumas exceções. Os resultados do presente trabalho são aplicáveis apenas a comunidades de costão rochosos com perfis similares ao da comunidade estudada. A escolha do método deve ser considerada para cada situação. Palavras-chave: metodologia de amostragem, costão rochoso, fitobentos, Búzios, RJ. Rev. Brasil. Biol., 59(3): 407-419 408 SABINO, C. M. e VILLAA, R. INTRODUÌO No estudo de estrutura de comunidades essencial a adequao dos mtodos de amostragem aos objetivos especficos do trabalho a ser desen- volvido. Desde a escolha do local de estudo at o desenho experimental, todas so fases de um procedimento de amostragem que deve visar coletar dados o mais adequadamente possvel, tendo em mente as hipteses que se quer testar. A maior parte dos estudos, aparentemente, procede mais pelo costume e tradio, seguindo metodologias j consagradas e descritas, do que pela considerao cuidadosa de padres potenciais e dos problemas inerentes amostragem de dife- rentes organismos em diferentes regies (Greig- Smith, 1983; Andrew & Mapstone, 1987; Kingston & Riddle, 1989). Na tentativa de procurar entender os padres de distribuio e abundncia das comunidades assume-se, implicitamente, que os mtodos em- pregados fornecem uma estimativa precisa e consistente do nmero de organismos realmente presentes (Meese & Tomich, 1992). Mas, preciso considerar que as informaes sobre a distribuio e abundncia dos organismos so geralmente a nica base para decises ecolgicas e de mane- jo. A descrio precisa e exata de um padro , portanto, essencial para a maioria dos aspectos ecolgicos (Andrew & Mapstone, 1987). absolutamente impossvel amostrar toda uma comunidade de um dado ecossistema, por isso, o tipo de amostragem escolhido deve ser consi- derado o mais representativo da comunidade em questo. O problema da representatividade bsico em qualquer estudo ecolgico — uma boa amostra deve oferecer uma imagem, se possvel, comple- ta, qualitativa e quantitativamente da comunidade estudada (Rosso, 1995). A partir da, surgem as questes relacionadas ao dimensionamento amostral, como a eficincia do mtodo de amostragem e o nmero de amostras, procurando sempre respeitar a relao exatido/preciso. Implcito no tamanho do amostrador est a questo da rea amostral mnima. Boudouresque (1974) definiu-a como a menor rea onde ainda se observa a estrutura geral da comunidade e, por conseguinte, onde melhor esto representadas as espcies que ocorrem nessa comunidade. Assim, as reas mnimas tendem a aumentar em comu- nidades de maior complexidade estrutural. Essa uma questo bastante discutida e ainda sem resul- tados conclusivos. Sinteticamente, o tamanho do amostrador deve ser compatvel com as caracte- rsticas da comunidade e o arranjo espacial que se queira estudar ou revelar (Andrew & Mapstone, 1987; Rosso, 1995). A preocupao com a forma do amostrador particularmente interessante em situaes em que ela possa se adequar forma de agregao dos or- ganismos ou s feies topogrficas que influen- ciem na disposio dos organismos (Andrew & Mapstone, 1987). No entanto, pouco feito no sentido de melhor esclarecer como a forma interfere nos resultados. A adoo quase generalizada de elementos quadrados (ou retangulares) todavia indiscutvel (Rosso, 1995). Apesar da importncia do tamanho e da for- ma do amostrador, a parte mais crtica de um pla- nejamento amostral a determinao do nmero de amostras. esse ndice que vai conferir maior preciso metodologia aplicada. A preciso o grau de concordncia entre um nmero de medidas, ou estimativas, para uma mesma populao. A preciso reflete-se na variabilidade de uma esti- mativa e um atributo do procedimento amostral e, no, um reflexo de alguma caracterstica da po- pulao que est sendo amostrada (Andrew & Mapstone, 1987). Ainda segundo esses autores, a utilidade de uma estimativa dependente da sua preciso, assim como da exatido. Exatido a proximidade de uma medida, ou estimativa, do va- lor de uma varivel medida ou do parmetro que est sendo estudado. Assim, apesar de os mtodos disponveis para amostragem serem muitos e variados, os dados coletados tm duas implicaes comuns a todos eles: 1. todos esto sujeitos a problemas de ine- xatido e impreciso provenientes da aplicao dos mtodos amostrais; 2. todos os profissionais so limitados por tempo e recursos financeiros, o que restringe a localizao e o nmero de amos- tras que podem ser feitas (Andrew & Mapstone, 1987). Existemdiferentes mtodos de amostragem de bentos de substrato duro. Acredita-se que cada um tenha aplicaes especficas, caractersticas de exatido, preciso, repetibilidade e consistncia tambm diferentes. A escolha da metodologia mais adequada associa o conhecimento terico do m- todo ao tipo de ambiente a ser estudado. Portanto, necessrio o conhecimento prvio das caracte- Rev. Brasil. Biol., 59(3): 407-419 ESTUDO COMPARATIVO DE MTODOS DE AMOSTRAGEM DE COMUNIDADES DE COSTÌO 409 rsticas de uma determinada comunidade, bem como dos fatores ambientais que podem influenciar na sua ocorrncia. A densidade populacional, o tamanho e o modo de disperso dos indivduos exigem uma dimenso amostral prpria. Um m- todo prprio para uma comunidade pode no ser para outra. A comparao entre os mtodos, de forma a identificar o mais representativo da realidade da comunidade e o mais adequado a ser utiliza- do, tem instigado alguns estudos recentes (Meese & Tomich, 1992; Dethier et al., 1993), apesar de a metodologia da amostragem em si j ser um ob- jeto de discusso muito antigo. Estudos comparativos de metodologias tm sido desenvolvidos para avaliar criticamente a eficcia relativa de cada mtodo sob reais con- dies de campo. Meese & Tomich (1992) exa- minaram cinco mtodos de estimativa de reco- brimento: estimativa visual, fotografia, pontos de interseo randmicos, pontos de interseo com distribuio regular e pontos de interseo estra- tificados randomicamente. Dethier et al. (1993) avaliaram os mtodos de estimativa visual e pontos de interseo com amostras no campo e simula- es no computador. Foster et al. (1991) compa- raram os mtodos de pontos de interseo com o de fotografias dos quadrados amostrados. Todos os estudos utilizaram resultados de porcentagem de recobrimento para fins comparativos. Embora sabendo-se das particularidades ine- rentes a cada ambiente e comunidade, estudos dessa natureza so valiosos medida que fornecem a base sobre a qual decises podem ser tomadas a cerca de qual mtodo mais apropriado a um determinado conjunto de circunstncias ambientais (Meese & Tomich, 1992). Embora isso no inutilize a importncia de uma amostragem preliminar, muito pelo contrrio, vem confirmar a necessidade de tal procedimento e adicionar informaes sobre os vrios mtodos disponveis. De certa forma, trabalhos des- sa natureza fornecem maiores subsdios aos pesquisa- dores para um planejamento mais conciso desse impor- tante estgio do dimensionamento amostral, que atualmente est to subestimado. O presente estudo tem como objetivo com- parar trs das mais utilizadas metodologias de amostragem de comunidades de costo rochoso: estimativa visual (John et al., 1977), pontos de interseo (Jones et al., 1980) e raspagem total do substrato (Boudouresque, 1971; Murray & Littler, 1978; Yoneshigue, 1985; Villaa, 1988). No en- tanto, alm de comparar os mtodos atravs da porcentagem de recobrimento, tambm foram uti- lizados os parmetros de descrio da comunidade: nmero de espcies, ndice de diversidade e n- dice de uniformidade. çREA DE ESTUDO Este estudo foi desenvolvido no costo es- querdo da praia do Forno, no municpio de B- zios, litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, local que se destaca como uma das regies mais preservadas do Estado. Geomorfologicamente uma praia localizada no fundo de uma longa enseada voltada para su- doeste, formada por costes dos dois lados e uma pequena faixa de areia de aproximadamente 150 m. Fica protegida de uma situao de mar aber- to pela sua prpria conformao e pela ponta da Lagoinha (Fig.˚1). Enseada do Forno 22”45’ 23”00’ 42” Oceano Atântico Bœzios Rio Una Ilha de Cabo Frio N 101234 5 KM Estaçªo de Coleta Fig. 1 — Localização geográfica da estação de coleta, praia do Forno, Búzios, RJ. A rea de costo escolhida para o estudo no tem uma inclinao muito acentuada, aproxima- damente 20 a 30o, o que permite que durante o perodo de mar de baixamar de sizgia, uma faixa de aproximadamente 7 m, fique emersa durante quase 2 h. O modo predominantemente calmo, podendo ficar batido com a entrada de ventos de Rev. Brasil. Biol., 59(3): 407-419 410 SABINO, C. M. e VILLAA, R. SW ou SE. Nessa rea, o costo dominado fisio- nomicamente pelas algas Amphiroa spp., Jania adhaerens, Sargassum furcatum e pelo ourio Echinometra lucunter. MATERIAL E MTODOS Trabalho de campo Os mtodos utilizados foram: estimativa vi- sual (EV), estimativa por pontos de interseo (PI) (mtodos no-destrutivos) e raspagem (RT) (m- todo destrutivo). Para o mtodo de estimativa visual foram utilizados dois tamanhos de quadrados. Foram escolhidas duas faixas distintas da comunidade entre mars e franja do infralitoral: uma dominada fisionomicamente pela alga rodo- fcea calcria Amphiroa spp. e outra, em que a alga feofcea Sargassum furcatum a mais conspcua. A extenso do costo estudado de aproximada- mente 5 m. Na faixa de Amphiroa, os dados de cober- tura foram obtidos utilizando-se os trs mtodos citados acima, enquanto na faixa de S. furcatum foram empregados apenas os mtodos de estimativa visual e o de pontos de interseo. O mtodo de estimativa visual foi utilizado conforme descrito por John et al. (1977). Foram utilizados quadrados de 400 cm2 (EV20) dividi- dos em 25 subquadrados e quadrados de 100 cm2 (EV10), tambm subdivididos em 25 quadrados. O recobrimento foi estimado atribuindo-se o valor 1 (um) a espcie que ultrapassasse, em recobrimento, metade da rea do subquadrado. Caso duas espcies ocupassem igualmente o subqua- drado, as duas recebiam o valor 1 (um). Quando a predominncia de uma espcie no fosse obser- vada em algum dos subquadrados, nenhum valor era anotado. Para o clculo da porcentagem de recobrimento utilizou-se o somatrio de vezes que a alga foi encontrada nos subquadrados, dividi- do pelo nmero total de subquadrados, multipli- cando-se o resultado por 100. O mtodo de pontos de interseo foi uti- lizado conforme descrito por Meese & Tomich (1992). O procedimento para atribuio de valores s espcies encontradas foi o mesmo que o uti- lizado na estimativa visual. No presente estudo, optamos por testar quadrados de 400 cm2 com 10 (PI10), 30 (PI30) e 50 (PI50) pontos de interseo marcados em uma malha de 100 pontos. As in- tersees foram marcadas com o auxlio de uma tabela de nmeros aleatrios. J o mtodo de ras- pagem total, consistiu na retirada de todos os orga- nismos que estavam recobrindo a superfcie rochosa. Optou-se por um quadrado de 400 cm2 para deli- mitar a rea de raspagem. Esse mtodo foi utilizado somente na faixa de Amphiroa. Para cada mtodo foram feitas 5 replicaes, dentro da extenso de 5m. A replicao foi fei- ta sorteando-se um valor na tabela de nmeros aleatrios a cada 1 m de extenso do costo, de- finindo, assim, a distncia mnima entre uma r- plica e outra. No total foram realizadas 55 amostras, 30 na faixa de Amphiroa e 25 na faixa de Sar- gassum furcatum. As amostragens foram efetuadas entre Abril e Julho de 1995, preferencialmente nos perodos de baixamar de sizgia. Tratamento de dados Os ndices bionmicos de estrutura de co- munidade utilizados foram: n, nmero total de espcies presentes em cada rplica e em cada trata- mento; n v , nmero de espcies vegetais; n a , nmero de espcies animais; R i , porcentagem da superfcie do substrato coberta pela espcie ÒiÓ; R t , somatrio dos R i de todas as espcies de uma rplica, po- dendo ser superior a 100 pela possibilidade de haver mais de um estrato de vegetao. Foram calculados tambm, HÕ, ndice de diversidade de Shannon; E, ndice de uniformidade para cada rplica. Para o clculo dos ndices HÕ e E, utili- zou-se as frmulasapresentadas em Legendre & Legendre (1983). A diferena entre os tratamentos (mtodos) foi testada atravs de Anlise de Varincia, uti- lizando-se como variveis nmero de espcies e os ndices de diversidade e uniformidade calculados para cada tratamento e respectivas rplicas. No caso da porcentagem total de recobrimento foi utilizado o teste Kruskal-Wallis. O mtodo de raspagem total foi comparado aos demais mtodos, considerando-se apenas os resultados obtidos na faixa de Amphiroa. Quando detectada diferena significativa (p˚≤ 0,05) nos resultados das Anlises de Varincia, foi utilizado o teste de Duncan para comparao de mdias a posteriori. Todos os testes estatsticos foram feitos no programa Statistica (StatSoft, Inc., 1993). Rev. Brasil. Biol., 59(3): 407-419 ESTUDO COMPARATIVO DE MTODOS DE AMOSTRAGEM DE COMUNIDADES DE COSTÌO 411 RESULTADOS A comparao entre os mtodos utilizados foi realizada atravs dos resultados obtidos para os ndices bionmicos: nmero de espcies, por- centagem de recobrimento, ndice de diversida- de e ndice de uniformidade, conforme exposto a seguir. O resultado das Anlises de Varincia entre os tratamentos de estimativa visual (EV) e pontos de interseo (PI) em relao a cada ndice bionmico est apresentado na Tabela 1, abaixo. TABELA 1 Valores de p resultantes dos testes de ANOVA aplicados aos experimentos com os mtodos de estimativa visual e pontos de interseo em relao s variveis: nmero de espcies, ndice de diversidade e ndice de uniformidade. Variveis p Nmero de espcies 0,00000** Œndice de diversidade 0,00029** Œndice de uniformidade 0,00063** Na Tabela 2 esto apresentados os resultados dos testes de Anlise de Varincia em que, alm dos tratamentos de estimativa visual e pontos de interseo, foram tambm considerados os resultados obtidos atravs do mtodo de raspagem total (RT). TABELA 2 Valores de p resultantes dos testes de ANOVA aplicados aos experimentos com os mtodos de estimativa visual, pontos de interseo e raspagem total em relao s vari- veis: nmero de espcies, ndice de diversidade e ndice de uniformidade. Variveis p Nmero de espcies 0,00000** Œndice de diversidade 0,04303* Œndice de uniformidade 0,00004** Nmero de espcies A comparao dos mtodos em relao ao nmero de espcies mostrou que h diferena signifi- cativa entre os mtodos, p < 0,01 (Tabela 1). O resultado do Teste de Duncan mostrou que os m- todos de menor rea (EV10) e menor nmero de pontos de interseo (PI10) equivalem-se, assim como os mtodos de tamanho intermedirio (EV20 e PI30) (Fig. 2). PI50 foi o nico mtodo consi- derado diferente dos demais. De fato, foi o m- todo mais eficiente, registrando maior nmero de espcies, situao que se reflete na maior mdia entre os cinco tratamentos. No entanto, tambm apresentou maior variabilidade nos valores obtidos (Fig. 2). EV10 e PI10 registraram os menores nmero de espcies, porm, apresentaram valores mdios bem prximos (3,2 e 3,8, respectivamente); o mes- mo observa-se para EV20 e PI30 (5,1 e 5,6), mas com valores mais prximos de PI50 (Fig. 2). A comparao incluindo o mtodo de ras- pagem total apresentou diferena significativa, p < 0,01 (Tabela 2). O Teste de Duncan identi- ficou como diferente o tratamento de raspagem total. De fato, esse mtodo, por retirar toda a rea amostrada, permite um exame mais detalhado das espcies presentes, registrando maior nmero de espcies. A Fig. 3 permite uma boa visualizao desse resultado. Nela bem visvel a diferena do mtodo de raspagem total em relao aos demais, e evi- dencia a sobreposio dos demais mtodos. EV10, PI10 e PI30 formaram um grupo de valores mdios mais prximos mas no caracterizaram forte di- ferena em relao a EV20 e PI50. Observa-se tam- bm a ampla variao dos resultados obtidos a partir de RT. Porcentagem de recobrimento A comparao entre os mtodos em relao porcentagem de recobrimento foi testada atravs do teste de Kruskal-Wallis, que no detectou dife- rena entre os mtodos (p = 0,0521), mostrando que, quando se considera isoladamente porcen- tagem de recobrimento, todos os mtodos fornecem resultados semelhantes. Na Fig. 4 est representada a distribuio das mdias. Observa-se que, de fato, os valores obtidos em cada mtodo ficaram pra- ticamente em uma mesma faixa de valores. EV10, EV20 e PI50 apresentaram as maiores variabili- dades internas. Œndice de diversidade Comparando-se os mtodos atravs do n- dice de diversidade, o resultado do teste de ANO- VA indicou diferenas significativas, p < 0,01 (Tabela 1). O resultado do Teste de Duncan separou ape- nas o tratamento de menor rea, que pode ser a causa dos menores valores de diversidade obti- dos (Fig. 5). Rev. Brasil. Biol., 59(3): 407-419 412 SABINO, C. M. e VILLAA, R. ±1,96* Desvio-padrªo ±1,00* Desvio-padrªo Média Métodos N œm er o de es pé ci es 0 2 4 6 8 10 12 EV10 EV20 PI10 PI30 PI50 ±1,96* Desvio-padrªo ±1,00* Desvio-padrªo Média Métodos 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 EV10 EV20 PI10 PI30 PI50 RT N œm er o de es pé ci es Fig. 2 — Número médio de espécies em cada método (EV10 e EV20, estimativa visual 10 x 10 cm e 20 x 20 cm; PI10,30 e PI50, pontos de interseção com 10, 30 e 50 pontos). Fig. 3 — Número médio de espécies obtido no seis métodos (EV10 e EV20, estimativa visual 10 x 10 cm e 20 x 20 cm; PI10, 30 e PI50, pontos de interseção com 10, 30 e 50 pontos; RT, raspagem total). O tratamento PI10, o prximo na escala de mdias, com o segundo menor valor de diversi- dade, foi agrupado com os demais, fato que pode estar relacionado com a rea do quadrado e, no somente, com o nmero de pontos marcados. Em- bora, esse seja um nmero reduzido de pontos, a chance de registrar espcies diferentes aumenta com o tamanho da rea delimitada pelo quadra- do — 400 cm2. Na Fig. 5, observa-se que os mtodos que foram considerados semelhantes ficaram todos dentro de uma mesma faixa de valores mdios e apresentaram variabilidades menores e mais ho- mogneas se comparadas quelas apresentadas por Rev. Brasil. Biol., 59(3): 407-419 ESTUDO COMPARATIVO DE MTODOS DE AMOSTRAGEM DE COMUNIDADES DE COSTÌO 413 EV10. Neste aspecto, o agrupamento encontra- do parece estar relacionado preferencialmente com o tamanho dos quadrados, ou seja, quando con- sidera-se a varivel diversidade no importa a metodologia de amostragem se os amostradores tm as mesmas dimenses. Em relao compa- rao com o mtodo de raspagem total, o resul- tado do teste ANOVA, utilizando ndice de diver- sidade, indicou diferena significativa, com p < 0,05 (Tabela 2). O Teste de Duncan separou os mtodos em dois grupos que se sobrepem. Os mtodos PI10 e PI30 aparecem nos dois grupos. O mtodo EV10 o nico que fica isolado dos demais. ±1,96* Desvio-padrªo ±1,00* Desvio-padrªo Média Métodos 0,2 0,8 1,4 2,0 2,6 3,2 EV10 EV20 PI10 PI30 PI50 Ín di ce de di ve rs id ad e Fig. 4 — Porcentagem média de recobrimento em cada método (siglas conforme explicitado na Fig. 2). Métodos 70 90 110 130 150 170 EV10 EV20 PI10 PI30 PI50 Re co br im en to (% ) ±1,96* Desvio-padrªo ±1,00* Desvio-padrªo Média Fig. 5 — Médias dos índices de diversidade obtidas em cada método (siglas conforme explicitado na Fig. 2). Rev. Brasil. Biol., 59(3): 407-419 414 SABINO, C. M. e VILLAA, R. Os mtodos que compem o primeiro gru- po (EV10, PI30 e PI10) foram aqueles que apre- sentaram as menores mdias (Fig. 6). O segundo grupo (PI30, PI10, EV20, PI50 e RT) apresenta valores mdios mais prximos. Mas o fato de EV10 ser o nico a ficar isolado — no houvesuper- posio com o segundo grupo — evidenciado pelo menor valor mdio obtido e uma das maiores varia- bilidades. O maior valor mdio de diversidade e a menor variabilidade de resultados foi do mtodo RT (2,26), no sendo, no entanto, considerada diferente dos demais, o que ocorreu apenas com EV10. Œndice de uniformidade Em termos de ndice de uniformidade, a com- parao entre os mtodos apresentou diferenas significativas, p < 0,01 (Tabela 1). O resultado do Teste de Duncan mostrou que a diferena est no mtodo PI10, que apresentou o maior valor mdio de uniformidade (0,95). Os demais mtodos for- maram um s grupo com valores mdios que varia- ram de 0,77 a 0,83. Esse resultado evidencia que para o ndice de uniformidade mais relevante uma amostragem em que os mtodos considerem toda a rea amos- trada ou o maior nmero de pontos de interseo possvel. Uma grande rea de quadrado, com pou- cos pontos de interseo marcados, possibilita uma amostragem tendenciosa a registrar apenas o orga- nismo dominante, resultando em um ndice que exagera na uniformidade da amostra. Na Fig. 7, observa-se que, embora, as m- dias dos tratamentos de estimativa visual e pontos de interseo de 30 e 50 pontos tenham ficado mui- to prximas, a variabilidade dos resultados foi muito grande, com exceo do tratamento PI10 que apresentou a maior mdia (0,95) e a menor variabilidade. Incluindo-se o mtodo de raspagem total no teste de comparao, utilizando-se o ndice de uni- formidade, foi detectada diferena significativa, com p < 0,01 (Tabela 2). O Teste de Duncan in- dicou que raspagem total diferente dos demais. A Fig. 8 evidencia esta diferena, mostrando que a mdia dos ndices de uniformidade obtidos a par- tir da raspagem total foi a menor (0,66) e est bas- tante fora do intervalo em que ficaram as demais. Os mtodos RT e PI10 apresentaram as menores variabilidades. DISCUSSÌO Os ndices bionmicos utilizados para com- parao dos mtodos so usualmente empregados na descrio da estrutura de comunidades: nmero de espcies, porcentagem de recobrimento, ndice de diversidade e de uniformidade. ±1,96* Desvio-padrªo ±1,00* Desvio-padrªo Média Métodos 0,4 1,0 1,6 2,2 2,8 3,4 EV10 EV20 PI10 PI30 PI50 RT Ín ci ce de di ve rs id ad e Fig. 6 — Médias dos índices de diversidade obtidas nos seis métodos (siglas conforme explicitado na Fig. 3). Rev. Brasil. Biol., 59(3): 407-419 ESTUDO COMPARATIVO DE MTODOS DE AMOSTRAGEM DE COMUNIDADES DE COSTÌO 415 ±1,96* Desvio-padrªo ±1,00* Desvio-padrªo Média Métodos 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 EV10 EV20 PI10 PI30 PI50 Ín di ce de un ifo rm id ad e ±1,96* Desvio-padrªo ±1,00* Desvio-padrªo Média Métodos 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 EV10 EV20 PI10 PI30 PI50 RT Ín di ce de un ifo rm id ad e Fig. 7 — Médias dos índices de uniformidade obtidas em cada método (siglas conforme explicitado na Fig. 2). Fig. 8 — Médias dos índices de uniformidade obtidas nos seis métodos (siglas conforme explicitado na Fig. 3). Em relao s variveis nmero de espcies, ndice de diversidade e ndice de uniformidade, o resultado dos testes indicou, em alguns casos, que h diferena significativa entre os mtodos. No entanto, em relao porcentagem total de recobrimento, a comparao entre os mtodos de estimativa visual e os pontos de interseo no apresentou diferenas significativas. Meese & Tomich (1992) compararam mtodos de amostragem para estimativa da porcentagem de recobrimento abordando tambm o aspecto da repetibilidade e acurcia dos mtodos utilizados. O resultado mostrou que nenhum mtodo foi sig- nificativamente melhor do que outro, resultado que corrobora o que foi encontrado no presente estudo. No entanto, eles encontraram alta variabilidade quando compararam resultados obtidos pelo mtodo de estimativa visual por observadores diferentes na estimativa de uma mesma amostra. Os autores pontuaram essa como uma das prin- cipais desvantagens associadas a esse mtodo. Isso indica que o mtodo pode no refletir precisamente o valor real da varivel que est sendo estimada, embora Andrew & Mapstone (1987) afirmem que Rev. Brasil. Biol., 59(3): 407-419 416 SABINO, C. M. e VILLAA, R. o valor verdadeiro da porcentagem de recobrimento para cada rea estudada difcil de ser conhecido. O mtodo de estimativa visual tem como maior vantagem a rapidez na obteno da estima- tiva de recobrimento, pois o tempo um fator crtico quando se estuda comunidades da zona entremars (Jones et al., 1980; Meese & Tomich, 1992; Dethier et al., 1993). Dispe-se de apenas algumas horas durante o perodo de baixamar para fazer as amostragens. Um fator a ser considerado nos mtodos de estimativa visual o tamanho dos subquadrados. prefervel maior nmero de pequenos subqua- drados pois ajudam o censo visual quando as es- pcies encontram-se espalhadas ou apresentam baixo recobrimento. O uso de grandes subquadrados no fornece ao olho uma referncia precisa o suficiente dos contornos dessas subamostras (Dethier et al., 1993). Da mesma forma, tais mtodos no podem se apoiar na criao de complexas regras de de- ciso, pois diminuem a eficincia amostral e au- mentam a variabilidade entre os observadores, o que pode tornar os resultados obtidos por tais mtodos incomparveis. A comparao em relao ao nmero de es- pcies evidenciou que o mtodo que abrange maior rea e maior nmero de pontos de inter- seo (PI50) registra maior nmero de espcies, sendo considerado, portanto, diferente dos de- mais. O restante dos mtodos foi agrupado em dois grupos distintos: os mtodos de menor di- menso e menor nmero de pontos (EV10 e PI10) e os de caractersticas intermedirias (EV20 e PI30). Os primeiros indicaram menor nmero de espcies, enquanto o segundo grupo apresentou resultados mais prximos ao de PI50. Resulta- do bastante coerente com a varivel considerada. Menor rea e menor nmero de pontos de inter- seo registram menor nmero de espcies e vice- versa (Jones, 1980; Pringle,1984; Dethier et al., 1993). A questo do tamanho ideal da rea amos- trada muito antiga. H alguns anos atrs, junto com a preocupao de conseguir uma represen- tao fiel da comunidade estudada, grande parte dos pesquisadores comeou a preocupar se com o tempo necessrio para amostragem quando ava- liam as dimenses dos seus amostradores (Jones et al., 1980; Pringle, 1984; Meese & Tomich, 1992). Procura-se atingir o melhor resultado com uma combinao de preciso e rapidez na amos- tragem, principalmente, nos trabalhos desenvol- vidos na zona entremars. Certamente, a natureza de cada estudo dever ser considerada na esco- lha de uma simplificao da metodologia, de forma a no prejudicar os objetivos e o teste de hip- teses do estudo em questo. Na questo sobre a rea dos amostradores bastante evidente que a estrutura da comunidade e a faixa de tamanho dos organismos estudados tero um efeito a ser considerado. Na verdade, o objetivo de especificar um tamanho de rea amostrada que inclua todas as espcies pratica- mente irreal, mas o conhecimento adquirido atravs das relaes espcie/rea permite que o efeito dos vrios tamanhos de rea possa ser avaliado para uma regio de estudo (Hawkins & Hartnoll, 1980). Ballesteros (1986) ressalta, ainda, que o clcu- lo da rea mnima de amostragem de uma comu- nidade, a partir de poucas amostras, em um nica estao do ano intil, uma vez que a variao na escala de tempo da riqueza especfica e da es- trutura da comunidade so suficientemente impor- tantes para que seja necessrio um estudo durante o ciclo de um ano. Segundo esse autor, a rea mnima deve ser maior do que aquelas encontradaspara as diferentes pocas do ano. Esse mesmo conceito defendido por Cer- queira et al.(1995) em relao ao ndice de diver- sidade, pois, segundo os autores, o clculo deste ndice pode ser influenciado pelas escalas de tempo e espao das amostras. A variao na disponibi- lidade de recursos, bem como flutuaes no ta- manho das populaes e na riqueza de espcies aliado fragmentao e isolamento dos hbitats estariam influenciando o clculo da diversidade. Dessa forma, os autores propem que estudos de diversidade sejam feitos em grandes escalas de espao e tempo. Em relao comparao dos mtodos atra- vs dos ndices de diversidade e uniformidade, os resultados obtidos no presente estudo foram bas- tante semelhantes. Em cada um dos casos, os m- todos apontados como significativamente diferentes tinham caractersticas desfavorveis em relao varivel analisada. Nesse caso, para o ndice de diversidade importante a dimenso do amostrador enquanto que para o ndice de uniformidade im- porta mais a representatividade do mtodo, ou seja, amostrar a maior rea possvel dentro do amos- trador. Rev. Brasil. Biol., 59(3): 407-419 ESTUDO COMPARATIVO DE MTODOS DE AMOSTRAGEM DE COMUNIDADES DE COSTÌO 417 Em relao ao ndice de diversidade, o m- todo destacado como diferente dos demais foi EV10, apresentando o menor valor mdio para este ndice (HÕ = 1,32). O ndice de diversidade con- sidera a relao nmero de espcies presentes na amostra e a abundncia relativa de cada espcie. Uma vez que os valores de ndice de diversidade dependem da rea amostrada (Ballesteros, 1986), este resultado est relacionado pequena rea desse amostrador (100 cm2) em relao aos demais (400 cm2). Essa observao pode ser corroborada pelo fato de que o prximo mtodo na escala de m- dias foi PI10 (HÕ = 1,79 bits/ind.), que embora amostrasse apenas 10 pontos de interseo, a rea amostrada era quatro vezes maior que a de EV10. Segundo Margalef (1980), em alguns ecossistemas a diversidade aumenta quase indefinidamente quando se aumenta o tamanho da amostra. Isso significa que novas espcies so registradas quando se aumenta a rea e a representao de suas pro- pores flutuante, sendo esse o caso de siste- mas mais estruturados. Em outros ecossistemas, a diversidade cresce rapidamente quando se au- menta a rea, mas estabiliza-se rapidamente tam- bm, sendo esse o caso de sistemas pouco estruturados e, portanto, muito uniformes. De fato, como discutido anteriormente, os resultados do presente estudo indicaram que o quadrado de 100 cm2 de rea (EV10) no foi su- ficiente para estimar a comunidade em sua estrutura bsica, diferenciando esse mtodo dos demais de- vido ao menor valor mdio de ndice de diversidade encontrado. No entanto, quando a comparao foi fei- ta atravs do ndice de uniformidade, uma medida relativa da diversidade, o mtodo considerado di- ferente dos demais foi PI10. Esse resultado indica que, de acordo com a rea do quadrado, poucos pontos de interseo marcados podem acarretar uma amostragem tendenciosa. Dethier et al. (1993) e Foster et al. (1991) afirmam que a preciso dos mtodos de pontos de interseo aumenta com o nmero de pontos marcados ou com o aumento do nmero de quadrados amostrados. O mtodo de raspagem total apresentou o menor valor de ndice de uniformidade, embora tenha registrado o maior valor de nmero de es- pcies e de ndice de diversidade. Atribuiu-se essa diferena prpria manipulao da amostra que favorece sua desagregao, podendo conduzir a valores tendenciosos de estimativa de recobrimento para as espcies encontradas, potencializando as diferenas entre as dominantes. Isto, particular- mente, aplica-se ao presente estudo, uma vez que as algas amostradas formavam densos tufos, muito compactos, que se desagregavam no momento da raspagem. Dessa forma, a estrutura bsica da comu- nidade encontrada pode no corresponder ob- servada em campo ou registrada pelos mtodos no-destrutivos. Para o clculo do ndice de uniformidade, parece ser mais interessante utilizar mtodos que considerem toda a rea do amostrador (estimativa visual) ou que, dentro de uma rea, grande nmero de pontos de interseo (em relao a rea do amostrador) seja amostrado; uma vez que esse ndice est relacionado ao grau de recobrimento de cada espcie em relao s demais. Em comu- nidades em que existe dominncia isolada de pou- cas espcies, a chance de amostrar somente as espcies dominantes aumenta com a diminuio da quantidade dos pontos marcados em relao rea do amostrador, talvez propiciando a carac- terizao de uma falsa homogeneidade. Meese & Tomich (1992) no consideraram a variao no nmero de pontos de interseo em seus amostradores, mas apontaram esse mtodo como um dos que resultaram em maior variao entre os observadores e as amostragens, prin- cipalmente, quando comparado ao mtodo de foto- grafia com posterior digitalizao para anlise em computador. Dethier et al. (1993) observaram que aumen- tando o nmero de pontos aleatrios de 50 para 100 havia uma melhoria na preciso e uma diminui- o na variabilidade das estimativas. No presente estudo, no entanto, no foi observada diminuio dessa variabilidade com o aumento do nmero de pontos. Meese & Tomich (1992) consideram que existem algumas desvantagens associadas ao m- todo de pontos de interseo, como o tempo ne- cessrio para a amostragem e a subjetividade associada identificao do organismo que est sob o ponto marcado. Em relao ao tempo de amostragem, os autores defendem a idia de que quando utiliza-se mtodos mais rpidos, o aumento no nmero de amostras pode compensar favora- velmente o pequeno aumento na preciso quan- do utiliza-se qualquer dos mtodos de pontos de interseo. Essa opinio tambm compartilhada por Dethier et al. (1993) e Andrew & Mapstone Rev. Brasil. Biol., 59(3): 407-419 418 SABINO, C. M. e VILLAA, R. (1987) quando afirmam que deve ser avaliado o ganho real do estudo quando aumenta-se o nmero de pontos de interseo e diminui-se o nmero de amostras. Meese & Tomich (1992) sugeriram que o benefcio sobre os mtodos visuais so pequenos e, provavel- mente, no justificam a perda de informaes devido diminuio no nmero de amostras. Dethier et al. (1993) destacam, ainda, en- tre as desvantagens do mtodo de pontos de in- terseo, a tendncia de no registrar as espcies raras e a limitada preciso da amostragem com uma nica amostra (dependente do nmero de pontos usados). O mtodo de raspagem total bem distin- to dos demais. Para a varivel nmero de esp- cies, o resultado foi o esperado, uma vez que a simples observao dos dados evidenciou que atravs de raspagem total registra-se um nme- ro maior de espcies. Esse fato est relacionado prpria metodologia de amostragem, que implica posterior anlise do material coletado, o que permi- te uma triagem cuidadosa da amostra. Uma van- tagem associada a este mtodo foi a reduzida variabilidade dos valores dos ndices de diversidade e uniformidade quando comparados aos demais mtodos. O ndice de diversidade parece no ser um bom parmetro para testar diferenas entre m- todos, uma vez que os resultados mostram que todos os mtodos que utilizam amostradores de mesmas dimenses comportam-se de forma seme- lhante. Na comparao entre todos os mtodos, incluindo-se o de raspagem total, somente EV10 foi considerado diferente dos demais, ou seja, o nico de tamanho diferente dos demais. O mtodo de raspagem o mais indicado para levantamentos florsticos e estudos fitoso- ciolgicos (Yoneshigue, 1985; Yoneshigue & Va- lentin, 1988; Villaa, 1988), quando importante utilizar os parmetros bionmicos para caracte- rizar a estrutura da comunidade estudada. Na ver- dade, essa tcnica, tambm conhecidacomo relev, uma das mais completas para os estudos de vege- tao (Boudouresque, 1971), no entanto, uma tcnica trabalhosa e demorada no fornecimento de resultados. Atualmente, a preocupao em de- terminar as mudanas na estrutura de comunidades de costo rochoso, devido aos impactos de aes antrpicas no meio ambiente marinho, requer tc- nicas mais geis de amostragem, mas que, ainda assim, guardem sua eficincia em retratar as caracte- rsticas da comunidade estudada. Sendo assim, os mtodos no-destrutivos que utilizam o levanta- mento dos dados em campo comearam a ser mais utilizados. Estudos tm mostrado que as mudanas impostas s comunidades biticas podem ser iden- tificadas atravs de simplificaes nas abordagens metodolgicas clssicas, adaptando-as aos obje- tivos do estudo proposto (Pringle, 1984; Kingston & Riddle, 1989). Embora no presente estudo tenham sido de- tectadas diferenas significativas entre os mtodos de estimativa visual e os de pontos de interseo, essas diferenas devem-se mais s variaes das subamostras de cada mtodo. Com amostradores de mesmo tamanho e um grande nmero de pontos de interseo no h diferena importante. Am- bos os mtodos tm vantagens e desvantagens que podem ser compensadas de uma forma ou de outra, e a escolha deve adequar-se ao trabalho a ser desen- volvido e aos objetivos a serem atingidos. CONCLUS˝ES No presente estudo foram comparados trs dos mtodos mais tradicionais de amostragem (estimativa de porcentagem) de recobrimento de comunidades de costo rochoso: estimativa visual, pontos de interseo e raspagem total. Os mtodos com metodologia de amostragem semelhante so estatisticamente similares. A diferena existe quan- do comparam-se os mtodos destrutivos aos no- destrutivos. O mtodo de maior nmero de pontos de interseo e o de raspagem total so os que me- lhor registram o nmero de espcies presentes na rea amostrada. Os mtodos no-destrutivos para a estimativa total de recobrimento no apresen- tam diferena significativa nos resultados obtidos. A comparao atravs do ndice de diversidade tambm no resulta em diferenas significativas, exceo do mtodo de menor rea de amostragem, fator importante no clculo desse ndice. Para o ndice de uniformidade, o mtodo com menor nmero de pontos de interseo e o de ras- pagem total apresentam resultados que impossi- bilitam sua utilizao irrestrita. O primeiro, pelo pouco nmero de pontos marcados em relao rea do amostrador. O segundo, pela desagregao da amostra, ambos propiciando uma amostragem tendenciosa, talvez alterando a importncia relativa de cada espcie. Rev. Brasil. Biol., 59(3): 407-419 ESTUDO COMPARATIVO DE MTODOS DE AMOSTRAGEM DE COMUNIDADES DE COSTÌO 419 Cada mtodo tem suas particularidades, mas todos podem atender aos objetivos de um estu- do especfico, bastando para tal um conhecimento prvio da comunidade e das limitaes inerentes a cada mtodo. Com essas duas informaes pode- se escolher o mtodo mais adequado, porm uma amostragem preliminar ser sempre necessria para definir o planejamento amostral que melhor poder representar a comunidade que se quer estudar. Agradecimentos Ñ ¸ CAPES, pelo incentivo e fomento s atividades de pesquisa, caractersticas que tornaram poss- veis o desenvolvimento deste estudo e a capacitao cien- tfica de mais um profissional. REFERæNCIAS BIBLIOGRçFICAS ANDREW, N. L. & MAPSTONE, B. D., 1987, Sampling and description of spatial pattern in marine ecology. Oceanogr. Mar. Biol. Am. Res., 25: 39-90. BALLESTEROS, E., 1986, Métodos de análisis estructural en comunidades naturales, en particular del fitobentos. Oecol. 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