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Um caso de amor e ódio entre a obesidade e depressão

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UM CASO DE AMOR E ÓDIO: A RELAÇÃO INTRÍNSECA ENTRE A OBESIDADE E A DEPRESSÃO
Dinarci Stroppa�
Karla Cristina Rocha Ribeiro�
RESUMO
O objetivo desta pesquisa é analisar a dificuldade e o sofrimento gerados pela obesidade na vida de tantas pessoas, com foco na relação intrínseca observada entre a obesidade, compulsão alimentar e emoções prejudiciais provocadas por elas e que as determinam e podem levar a transtornos como a depressão. Este estudo tem relevância, uma vez que a obesidade e a depressão estão entre os maiores problemas de saúde da população. Esta encabeça as consultas psiquiátricas, aquela já é classificada pela OMS como epidemia. A obesidade e a depressão apresentam fatores genéticos, metabólicos, comportamentais, culturais envolvidos no seu desenvolvimento e chama a atenção de profissionais de várias áreas. Nesta pesquisa, o levantamento bibliográfico foi usado porque há autores que, direta ou indiretamente, já trataram deste assunto. Assim, seus pensamentos nos serviram de base para as reflexões feitas a partir da abordagem qualitativa. Investigamos a intrínseca relação existente entre Obesidade e Compulsão Alimentar. A primeira se caracteriza por um acúmulo excessivo de gordura corporal e a segunda, pela dificuldade experimentada por determinadas pessoas para encontrarem o ponto de saciedade. Ambas se relacionam com as Pulsões da Obesidade, que aparecem como o sintoma manifesto, provavelmente o resultado de vários fatores apresentados em diferentes períodos da vida. Com isso, esperamos compreender a relação entre a obesidade e a depressão. As duas são consideradas o “mal do século” pela Organização Mundial de Saúde e estão presentes tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento. A depressão é considerada um transtorno mental moderno e comum. É causada por estresse prejudicial, ansiedade, medo, perda de interesse pela vida, ausência de prazer. Podemos perceber que o obeso apresenta um grande vazio dentro de um corpo cheio. Sua relação com seu corpo como invólucro de sentimentos e emoções está muito além do entendimento de seu corpo biológico. Por fim, o indivíduo faz uso do alimento como substituto do afeto perdido ou desejado. A alimentação deixa de ser fonte de nutrição para ser manancial de conforto para as horas de ansiedade. A nível psicológico, a imagem corporal advinda da obesidade poderá ocasionar desvalorização da autoimagem, declínio da autoestima. Não é difícil a depressão assolar pessoas com sobrepeso e obesas. O corpo jamais vai corresponder à imagem ideal construída pela sociedade e por nós mesmos, pois tal corpo é tão leve que chega a ser um mito, quase invisível. O corpo real é concreto, tem peso, massa e por isso, muitas vezes, difícil de ser carregado. Cabe a psicologia, a tentativa de conhecer melhor tal problema com seus diversos fatores geradores e buscar acolher, se possível tentar colaborar com tais indivíduos para tornar sua carga mais leve e mais fácil de ser carregada.
Palavras chaves: Obesidade. Depressão. Emoções Prejudiciais.
AN AFFAIR OF LOVE AND HATE: THE INTRINSIC RELATION BETWEEN THE OBESITY AND THE DEPRESSION
ABSTRACT
The objective of this research is to analyze the difficulty and suffering brought by obesity in the lives of so many people, focusing on the intrinsic relation observed between obesity, binge eating and the harmful emotions caused by them and that determine them and they can lead to disorders such as the depression. This study has relevance, since both obesity and depression are among the greatest health problems of the population. This heads the medical psychiatric appointment and that is already classified by the WHO as an epidemic. Obesity and depression present genetic, metabolic, behavioral, cultural factors involved in their development and they call the attention of professionals from various areas. In this research, the bibliographic survey was used because there are authors who, directly or indirectly, have already dealt with this subject. Thus, their thoughts served us as basis for the reflections that would be made from the qualitative approach. We investigated the intrinsic relationship between Obesity and Binge Eating. The first one is characterized by an excessive accumulation of body fat and the second one by the difficulty experienced by certain people to find their point of satiety. Both of them are related to the Obesity Drives, which appear as the manifest symptom, probably the result of several factors presented in different periods of life. With this, we hope to understand the relationship between obesity and depression. Both are considered the "evil of the century" by the World Health Organization and they are present in both developed and developing countries. Depression is considered a modern and common mental disorder. It is caused by harmful stress, anxiety, fear, loss of interest in life, lack of pleasure. We can realize that the obese presents a big empty inside a full body. His relationship to his body as a casing of feelings and emotions is far beyond understanding of his biological body. Finally, the individual makes use of the food as a substitute for the lost or desired affection. The feeding stops being a source of nutrition for being a fountain of comfort for the hours of anxiety. At the psychological level, the body image derived from obesity may bring on the devaluation of self-image, a decline in self-esteem. It is not difficult for the depression desolates overweight and obese people. The body will never correspond to the ideal image constructed by society and by ourselves, for such a body is so light that it becomes a myth, almost invisible. The real body is concrete, it has weight, mass and so, it is often difficult to be loaded. It is due to psychology, the attempt of knowing better this problem with its various generating factors and seeks to shelter those individuals; if possible the psychology might try to collaborate with such individuals to make their burden lighter and easier to load.
Key words: Obesity. Depression. Harmful Emotions.
INTRODUÇÃO
“Sua ansiedade correspondia a um forte anseio reprimido [...]. O anseio pode transformar-se completamente em satisfação, se o objeto ansiado lhe for concedido. Porém, esta não é uma verdade quando se trata de ansiedade, pois ela permanece ainda que o anseio seja satisfeito.” (Freud)
Este artigo objetivou o estudo e pesquisa das relações existentes entre a obesidade/depressão e fatores emocionais geradores dessas. A dificuldade e sofrimento causados na vida de um número cada vez mais significativo da população mostrado pela OMS e pelas pesquisas na área de psiquiatria e psicologia, levaram-me a ver como relevante o debruçar-me sobre vários autores, suas observações e conclusões a respeito do tema. 
Foquei a intrínseca relação entre Obesidade e Compulsão Alimentar; a constatação da impulsividade como fator desencadeante de ambas. Busquei conhecer sobre as origens e pulsões que conduzem o indivíduo à obesidade. Também busquei analisar as semelhanças de sentimentos decorrentes da depressão e obesidade e quanto os dois problemas parecem caminhar juntos.
Finalmente tratei da disparidade existente em um corpo cheio, porém onde se percebe um vazio imenso de sentimentos positivos e mesmo de saúde. Debati a realidade contemporânea da insatisfação, desamparo e solidão que leva o indivíduo a buscar no alimento, o substituto para suas expectativas frustradas, inalcançadas, para seu desamparo e desafeto. Enfim, procurei pesquisar, estudar mais sobre o assunto, para quiçá, encontrar uma pequena luz no túnel escuro da obesidade e da depressão para ajuda e conscientização das pessoas quanto à relevância deste assunto.
 
(1) A Intrínseca Relação Entre Obesidade E Compulsão Alimentar
A dificuldade e o sofrimento gerados pela obesidade na vida de um sem número de pessoas despertaram o interesse de conhecer mais sobre este assunto e a relação intrínseca entre
a compulsão alimentar e consequente obesidade. 
A obesidade não é incluída nem considerada um transtorno mental no DSM-5. Entretanto, associações são feitas entre ela e uma série de outros transtornos mentais (p. ex., transtorno de compulsão alimentar, transtornos depressivo e bipolar, esquizofrenia). Os efeitos colaterais de alguns medicamentos psicotrópicos contribuem de maneira respeitável para o seu aumento. A obesidade pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de alguns transtornos mentais (p. ex., transtornos depressivos). (Manual Diagnóstico E Estatístico De Transtornos Mentais - 5ª edição - DSM-5)
A obesidade tem alcançado índices preocupantes na saúde das pessoas. Atualmente, ela é tida como um problema de saúde pública mundial, pois tanto os países desenvolvidos como os em desenvolvimento apresentam sua prevalência. (PINHEIRO, 2004) Grande parte da população adulta e um número crescente de crianças e adolescentes se encontram acima do peso. Bem se sabe que pessoas com sobrepeso correm risco maior no desenvolvimento de uma série de doenças. (BECK, 2009)
A obesidade se caracteriza por um acúmulo excessivo de gordura corporal. Em mulheres sadias, ela corresponde a mais ou menos 25% do peso corporal e em homens, a 18%. Sobrepeso se refere ao peso acima de uma norma de referência. Na maioria dos casos, o aumento de peso sugere obesidade crescente, porém nem sempre. Indivíduos musculosos podem ter sobrepeso (peso alto para a altura da pessoa) sem serem obesos. Também há quem tenha o peso normal, mas tem um aumento de adiposidade corporal. (SADOCK, 2007)
Para a medida dos índices de gordura corporal foram desenvolvidos indicadores com base na altura e peso. O mais comum deles é o índice de massa corporal (IMC). Seu cálculo é feito pela divisão do peso em quilogramas pela altura em centímetros ao quadrado. O IMC ideal gira em torno de 20 a 25 Kg/m2; quando ele se encontra entre 25 a 27 kg/m2, ele se relaciona a um risco um tanto elevado; acima de 27 kg/m2, associa-se a um aumento claro de risco; acima de 30 kg/m2, a um grande aumento de risco. (SADOCK, 2007)
No Brasil, em 2012, 49% da população tinham excesso de peso, revelam dados da pesquisa VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), divulgada pelo Ministério da Saúde. O número aumentou em relação aos resultados anteriores: em 2006, a proporção era de 42,7%. No mesmo período, o percentual de obesos subiu de 11,4% para 15,8%. O aumento da obesidade e do excesso de peso atinge tanto a população masculina quanto a feminina. Em 2006, 47,2% dos homens e 38,5% das mulheres estavam acima do peso, enquanto que, em 2011, as proporções passaram para 52,6% e 44,7%, respectivamente. (SADOCK, 2007)
Nos Estados Unidos, país de primeiro mundo, a epidemia crescente de obesidade já atinge 40% das mulheres, 35% dos homens e 17% das crianças e adolescentes. Entre as populações minoritárias, especialmente entre as mulheres, a obesidade é mais prevalente, por exemplo, cerca de 60% das mulheres afro-americanas com 45 anos ou mais têm sobrepeso. O índice mais alto parece ser atribuído principalmente à baixa renda e a menores índices de instrução, e não à raça. A obesidade é seis vezes mais prevalente em mulheres com baixo status socioeconômico. (SADOCK, 2007)
O acúmulo de gordura ocorre quando se ingere mais calorias do que a quantidade de energia gasta. Uma diferença de por volta de 10% a menos na ingestão e 10% a mais no gasto de calorias levaria a uma perda aproximada de três quilos em um ano. A evidente redução da atividade física na sociedade contemporânea parece ser a maior razão para o aumento da obesidade como problema alarmante da saúde pública, uma vez que a inatividade física independe do gasto de energia e ainda pode contribuir para o aumento do consumo de alimentos. Não reduzimos nossa alimentação de forma proporcional por nos exercitarmos menos, daí um dos resultados da obesidade (SADOCK, 2007). 
Há diversos outros fatores também influentes neste processo, como o fator genético. Cerca de 80% dos indivíduos obesos tem histórico familiar de obesidade. Tal constatação deve ser atribuída também à identificação da pessoa com pais obesos e seus métodos orais para lidar com a ansiedade, por exemplo. Também alguns distúrbios clínicos são associados à obesidade, como o hipotireoidismo. Alguns medicamentos também concorrem para isso, como aqueles à base de corticóide, por exemplo. (SADOCK, 2007). Outros, como o cloridrato de metilfenidadto (Ritalina), indicado para o tratamento do transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade e para a narcolepsia, em adultos e crianças com mais de 6 anos de idade, se administrado a pessoas com qualquer problema na tireóide, essas poderão ter seus quadros de Hipotiroidismo agravados e poderão apresentar significativo aumento de peso.
Fatores psicológicos também são importantes no desenvolvimento da obesidade, porém não se sabe como eles resultam em obesidade. Além deles, a influência ambiental, fatores culturais, familiares e psicodinâmicos também podem contribuir para seu desenvolvimento. Pessoas com sobrepeso podem sofrer de vários transtornos psiquiátricos e ter diversas histórias de perturbação. Muitos pacientes sofrem emocionalmente e aprendem a fazer uso da alimentação como válvula de escape para o enfrentamento dos seus problemas psicológicos. (SADOCK, 2007)
Não necessariamente só as pessoas obesas relatam a experiência acima. É também interessante citar que alguns obesos, perdem grande quantidade de peso quando se apaixonam e a ganham significativamente ao perderem um ente querido. Dentre essas pessoas, esta autora se enquadra perfeitamente. A obesidade causa outros problemas à saúde. Há forte relação entre ela e doenças cardiovasculares, hipertensão arterial (acima de 160/95), níveis altos de colesterol. O diabete, apesar de ter uma relação genética evidente, pode ser revertido com a diminuição de peso. Além de problemas nos rins, articulações, músculos e também problemas psiquiátricos como a depressão. A longevidade também está relacionada à diminuição de peso. São grandes os benefícios, maior ainda deve ser a auto-conscientização, pois sem ela não se chega a emagrecimento algum e nota-se ainda, que ela é definitivamente esquecida quando sentimentos como desamparo, desvalia, solidão batem à porta da pessoa com sintomas ou propensões à obesidade. (SADOCK, 2007)
Algumas pessoas têm dificuldade de encontrar o ponto de saciedade, parecem incapazes de parar de comer enquanto houver alimento disponível. Elas demonstram não conseguir distinguir entre fome e sede, por exemplo. O comer parece ser precipitado por situações estressantes do dia-a-dia, e uma vez presentes, o indivíduo recorre à comida ou às guloseimas até sentir alívio do seu stress. A compulsão alimentar parece ser uma reação ao estresse. (SADOCK, 2007)
Da mesma forma, a impulsividade, enquanto traço de temperamento presente na compulsão alimentar, é foco importante de estudos sobre a obesidade e transtornos alimentares. Como característica de personalidade, ela dota o indivíduo de espontaneidade e iniciativa, mas se exacerbada, afeta sua capacidade de fazer boas escolhas. Ela é percebida nos atos impensados, no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (instabilidade cognitiva), sexo compulsivo, transtornos alimentares, entre outros (American Psychiatric Association, 2003 apud PEREIRA & CHEHTER, 2011). 
Embora exista consenso para uma associação positiva entre obesidade e impulsividade, há disparidade de resultados nos estudos devido à diversidade de metodologias e instrumentos. Agir sem muita cautela, temperamento explosivo, busca de novidades ou impulso para experimentação, ausência de tenacidade para resistir a alimentos hipercalóricos, mesmo consciente de que eles podem levar a ganho de peso, são exemplos de expressões do traço impulsivo mais exacerbado. (KIRBY & FINCH, 2010 apud PEREIRA & CHEHTER, 2011).
A impulsividade é um forte componente de a
compulsão alimentar (CA). Esta acontece em indivíduos com peso normal, com sobrepeso ou obesos e é definida pelos seguintes critérios: ingestão de grande quantidade de comida em um período de tempo delimitado (até duas horas), acompanhado da sensação de perda de controle sobre o que ou do quanto se come. A ocorrência desses episódios duas vezes por semana caracteriza o transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP). (PEREIRA & CHEHTER, 2011). A perda de controle é a principal particularidade do episódio de compulsão alimentar. Em seguida, aparecem outras como a quantidade de alimento ingerido, a velocidade e o tempo. Cinquenta por cento dos obesos que procuram tratamento para emagrecimento apresentam compulsão alimentar de maior ou menor gravidade (COUTINHO, 1998 apud PEREIRA & CHEHTER, 2011). 
(2) - Em busca das Origens e Pulsões da Obesidade 
Para se entender a obesidade é fundamental a compreensão da relação existente entre corpo, sintoma e psique. 
Sob o enfoque psicanalítico, ela é estudada dando-se atenção a três aspectos conceituais: pulsão, função materna e corpo. Leva-se em conta não apenas o concreto índice da obesidade de IMC igual ou maior que 30.0 kg/m2. Quando a pessoa progressivamente engorda e se torna obesa há, sem dúvida, significados extras por trás de tal processo, além dos mostrados pelo seu corpo gordo. A obesidade - sintoma manifesto - provavelmente é o resultado de vários fatores surgidos em diversos períodos de sua vida.
 
No decorrer dos anos, um sintoma pode alterar seu significado ou seu significado principal, ou o papel principal pode passar de um significado para outro. É como se houvesse no caráter das neuroses um traço conservador que assegura que um sintoma uma vez formado será, se possível, retido, muito embora o pensamento inconsciente a que ele deu expressão tenha perdido seu significado. (FREUD, 1905(1901) /1980 apud BERG, 2008, pág. 51) 
O indivíduo buscou ter prazer em alguma coisa, em algum momento anterior, mas frustrou-se; dessa forma, ele passa a buscar a satisfação desejada no alimento. Seus desejos, conflitos e aspirações são transformados na formação de um sintoma, no nosso caso, a obesidade. No entanto, em geral, o ponto de partida é inconsciente, e, portanto, desconhecido para o próprio individuo. Em alguns casos, o princípio de tudo remete a mais tenra infância...
Hoje em dia, as patologias referentes à alimentação têm sido cada vez mais frequentes e crescentes. As pessoas se utilizam do corpo como o caminho de escape e de manifestação de suas angústias, conflitos, tristezas, decepções, desamparo, perplexidades. Parece ser “muito simples” a ligação entre consumo e gasto calóricos, uma simples subtração como dizem alguns, no entanto, as inquietações alimentares parecem ser trazidas da infância para idade adulta, do psíquico para o corpo, seus resultados individuais de expectativas sociais exacerbadas, inalcançáveis. Ao não encontrar possibilidade de escape emocional, psíquico, o indivíduo lança mão do corpo para dar lugar para seus desejos e sentimentos incômodos. Dentre as inúmeras vazões, a depressão é uma das que se manifesta como comorbidade da obesidade. Tal assunto será mais bem tratado posteriormente.
Quando um obeso busca tratamento, e há a tentativa de alguma intervenção ao seu ato compulsivo (por exemplo, a cirurgia bariátrica), ele se angustia, pois sua compulsão tem, justamente, por objetivo, a tentativa de evitar e descarregar a angústia sentida por ele. O corpo da pessoa obesa é, desta forma, um envoltório cheio, no entanto, o indivíduo vive um vazio incalculável. (BERG, 2008) A comida é um tranqüilizante, suas frustrações são descarregadas por meio de sua compulsão alimentar. A despensa e geladeira são seu refúgio alto, porém traiçoeiro em sua hora da angústia, auxílio em suas tribulações, dia e noite, diuturnamente. Para o obeso, o alimento é uma bengala de cana esmagada, em que ele se apóia, porém suas farpas lhe entram pela mão e a transpassa.
Segundo SALLES (2005 apud BERG, 2008), o obeso está sempre preso em sua tentativa de fugir de suas frustrações, tristezas, inadequações. Por esta razão, o tratamento da obesidade implica levar o sujeito a encontrar o objeto “vazio” da sua fantasia e ir além do invólucro cheio de decepções e insucessos. A autora descreve o caso de uma paciente obesa que ao perder 40 kg, não conseguia se olhar no espelho, enxergar-se magra, comprar roupas compatíveis com seu manequim de então. Para ela, por exemplo, houve um momento da vida, quando adolescente atraente, e seu pai começou a chamá-la de “prostituta”. Para reagir a tantas agressões paternas, ela se voltou para sua própria infância, tempo em que a mãe a entupia de comida. Seu corpo atraente foi substituído por um “corpo de monstro”, adjetivo com que o pai começou então a lhe designar. Ela utilizava o corpo de “monstro” para acabar com a menina/ moça/ mulher atraente e ganhou assim uma nova marca psíquica: de “prostituta” a “monstro”. (BERG, 2008)
O conceito de pulsão é fundamental para se pensar nas patologias alimentares.
A fome, a vontade e o desejo incontrolável de comer são eventos mentais regidos pelo princípio do prazer. Segundo FREUD (1920/1980, apud BERG, pág. 59), “o curso desses eventos é colocado em movimento por uma tensão desagradável e que toma uma direção tal, que seu resultado final coincide com uma redução dessa tensão, isto é, com uma evitação de desprazer ou uma produção de prazer.” A fome seria a necessidade biológica de se alimentar. Já o desejo incontrolável nos leva ao conceito de pulsão e à busca do prazer, que vai além da satisfação das necessidades físicas. Algumas vezes, por minha própria experiência, chego a pensar que o desejo de comer, e, evidentemente, determinados alimentos, é de fato, praticamente incontrolável a despeito de qualquer conscientização conseguida no decorrer dos anos.
O conceito de pulsão foi apresentado por Freud, pela primeira vez em 1905, no artigo “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. A pulsão é regida, disse ele, pelo princípio do prazer – o objetivo da atividade psíquica é aumentar o prazer e reduzir o desprazer. Há uma correlação entre o corpo e o psíquico, é como se um enviasse um impulso ao outro. A palavra pulsão se origina do latim pulsio e de fato, designa o ato de impulsionar. O conceito “pulsão” seria “uma carga energética encontrada na origem da atividade motora do organismo e do funcionamento psíquico inconsciente do homem”. (ROUDINESCO, 1998, p.628) Em outras palavras, a pulsão da nutrição existe para explicar a fome. Freud, em “As pulsões e os destinos da pulsão” (1915) define pulsão da seguinte forma:
Uma pulsão é um conceito situado na fronteira entre o psíquico e o somático, como representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente, como uma medida de exigência feita à mente no sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo. (FREUD, 1905 [1901] /1980 apud BERG, 2008, pág. 60)
Podemos entender que a pulsão se origina nas células do corpo e dão lugar a necessidades tais como a fome. Seu impacto é constante sobre nossa vida e nos parece uma necessidade. O objetivo da pulsão é a satisfação. No caso de uma doença, uma pulsão se torna capaz de se unir a outra e mudar sua finalidade. Então, por exemplo, a pessoa deseja afeto, amparo, reconhecimento, atenção e não os tem. São desejos emocionais. Seu anseio, então, é satisfeito, por meio do corpo, com alimentos capazes de lhe trazer sensações de bem estar e prazer (por exemplo, o chocolate).
Posteriormente, em “Além do princípio do prazer” (1920), Freud manteve a ideia da existência de dois tipos de pulsões, porém com um conceito pouco diferente. Ele colocou a pulsão sexual e a de autoconservação como pulsão de vida e acrescentou a pulsão de morte, que procura levar o que é vivo a um estado anterior, inanimado. Freud (1920/1980), frente esta nova conceituação, reordenou suas classes de pulsões:
Lidando não com a substância viva, mas
com as forças que nela operam, fomos levados a distinguir duas espécies de pulsões: aquelas que procuram conduzir o que é vivo à morte, e as outras, as pulsões sexuais, que estão perpetuamente tentando e conseguindo uma renovação de vida. (FREUD, 1905 [1901] /1980 apud BERG, 2008 pág. 62)
Com a pulsão de morte introduzida no conceito das pulsões, a primeira teoria das pulsões sexuais e de autoconservação é modificada e Freud dá outra definição para os dois novos conceitos. Eros ou pulsão de vida englobaria a pulsão sexual e a de autoconservação; e Thanatos ou pulsão de morte, aquela que procura conduzir a vida orgânica de volta ao estado inanimado.
É interessante notar: o alimento deve ser usado para gerar vida, subsistência, estabilidade, enfim, pulsão de vida. No entanto, muitas pessoas, em suas carências e instabilidade têm tornado a alimentação em caminhos de morte. Muitas vezes, de tão transtornadas com seus problemas, aquilo que deveria proporcionar vida, pode levá-las à doença e à morte literalmente. Os transtornos alimentares surgem daí... 
Segundo a OMS, a obesidade pode causar a morte do indivíduo, entretanto ela é possível de ser evitada. Milhões de adultos vão a óbito em consequência da obesidade ou do sobrepeso. A doença está também no princípio de muitos casos de diabetes, de doença arterial coronariana e de determinados tipos de cancro. Na Europa, cerca de um milhão de pessoas morrem por excesso de peso. Em média, a obesidade diminui a esperança de vida entre seis a sete anos. Existe uma associação entre valores de IMC superiores a 32 kg/m2 e a duplicação da taxa de mortalidade entre mulheres.
Em geral, a obesidade, a compulsão alimentar e os sentimentos prejudiciais ligados a elas trazem infelicidade tal que a pessoa passa a se “esconder” sob roupas largas. A frustração gerada por esses fatores leva a outros desequilíbrios. Algumas vezes o emagrecimento é buscado com tanta gana, com tanto desespero que o fator “saúde” é totalmente deixado de lado. Remédios e drogas são usados sem maiores cuidados. Algumas vezes, o próprio médico endocrinologista os receita, mesmo sabendo (ou seria possível que não soubesse?) que a solução está além do remédio e seu resultado emagrecedor acaba quando uma nova crise emocional acontece. Desta forma, também, podem ocorrer outros transtornos como a anorexia ou a bulimia. 
Em o COMPÊNDIO DE PSIQUIATRIA – Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica, 9ª edição, seus autores Benjamin James Sadock, M.D. e Virginia Alcott Sadock, M.D. tratam dos transtornos da alimentação no capítulo 23, p. 788-806.
A anorexia nervosa (AN) é caracterizada por comportamento obstinado e proposital direcionado a perder peso, baixo peso, preocupação com o peso corporal e a alimentação, [...] medo intenso de aumento de peso, alterações da imagem corporal e amenorréia. Cerca de metade dessas pessoas perderá peso reduzindo drasticamente a ingestão de alimentos, e algumas também desenvolverão programas de exercícios rigorosos. Há aqueles que fazem dieta rigorosa, mas perdem o controle e se envolvem regularmente em comportamentos de compulsão alimentar seguidos por comportamentos de purgação. Alguns pacientes purgam após ingerir pequenas quantidades de alimentos. [...]... é caracterizada por uma alteração profunda da imagem corporal e pela busca incansável da forma esbelta, por vezes até o ponto de inanição. [...] As questões psicológicas relacionadas aos sentimentos de impotência e à dificuldade de estabelecer autonomia também tem sido sugeridas como fatores que contribuem para o desenvolvimento do transtorno. (SADOCK & SADOCK, 2007, pág. 788)
Eles ainda afirmam que essa patologia implica fatores biológicos, sociais e psicológicos e a anorexia nervosa é associada à depressão em 65% dos casos. A maioria dos pacientes com essa doença não tem interesse no tratamento psiquiátrico e psicológico. Normalmente são levados aos consultórios contra sua vontade. Eles se opõem às iniciativas de amigos e parentes. Esses, por sua vez, pela falta de conhecimento aceitam tal imposição sem o conhecimento de que a anorexia pode levar a pessoa a óbito. 
Ainda sobre a anorexia, de acordo com os autores do capítulo 69, Transtornos Alimentares, SALZANO, F. T et al: 
A anorexia nervosa se caracteriza como um transtorno alimentar no qual ocorre perda de peso autoinfringida na busca por magreza, acompanhada por distorção da imagem corporal e alterações hormonais devidas à desnutrição. [...] Medo mórbido de engordar, insatisfação significativa com o próprio corpo e distorção da imagem corporal constituem, em geral, as motivações para a busca por magreza na anorexia nervosa. [...] é responsável pela maior taxa de morbimortalidade entre todos os transtornos psiquiátricos. Mulheres entre 15 e 25 anos são o grupo mais atingido pelo NA. (SALZANO et al, 2011, pág. 931)
Dentro do tema “anorexia”, expressões como “medo mórbido”, “insatisfação significativa” parecem saltar aos olhos. Outra vez, na descrição do transtorno, sentimentos negativos afloram. Medo já é algo ruim de se sentir, mas seu significado é reforçado por mórbido, doentio. Medo que dói. Além disso, tal transtorno é responsável pela maior taxa de morbimortalidade entre mulheres jovens demais. A busca pela magreza se torna uma obsessão tal que ainda que conscientemente elas consigam entender que devem se alimentar, seu inconsciente, igual a um feitor do mal, as faz enxergar gordura onde há apenas ossos.
A bulimia nervosa (termo com o significado de compulsão alimentar) é definida como:
(...) ingerir mais alimentos do que a maioria das pessoas em circunstâncias similares e em um período semelhante de tempo, com uma forte sensação de perda de controle. Quando a compulsão alimentar ocorre em pessoas com peso normal ou excessivo que também são muito preocupadas com sua forma e seu peso corporal e que costumam se engajar a comportamentos para evitar as calorias ganhas, constitui-se o transtorno conhecido como bulimia nervosa (BN) [...] De forma diferente de pacientes com anorexia nervosa, aqueles com bulimia nervosa podem manter um peso corporal normal. (SADOCK B.J & SADOCK V.A, 2007, pág. 796)
Assim como a anorexia nervosa, a bulimia nervosa é provocada por fatores biológicos, sociais e psicológicos. “Aos pacientes com bulimia nervosa faltam o controle de superego e a força do ego que há entre aqueles com anorexia nervosa”, escrevem Sadock & Sadock.
Ainda afirmam:
A interrupção social ou o desconforto físico – isto é, dor abdominal ou náuseas – interrompem a compulsão alimentar, que costuma ser acompanhada de sentimentos de culpa, depressão e autodepreciação. Pessoas com BN também exibem comportamentos compensatórios recorrentes – como purgação (vômitos auto-induzidos, utilização repetida de laxantes ou diuréticos), jejum ou exercícios excessivos – para prevenir o aumento de peso. [...] (SADOCK B.J. & SADOCK, V.A, 2007, pág. 796)
A “magreza” é vista como solução dos problemas, pois somente as pessoas magras seriam bem-sucedidas, as gordas seriam infelizes. Com tanta ênfase dada à beleza e à esbelteza é mais fácil a compreensão do humor deprimido, do sentimento de vergonha e fracasso relacionados aos episódios de compulsão alimentar (FAIRBURN et al., 1997 apud OLIVEIRA; DEIRO, 2013). Para a maioria das pessoas, não existe a possibilidade de elegância com um corpo com sobrepeso. Nada se encaixa, nada fica bom, nada se ajusta ou acomoda.
Tomemos como exemplo o filme “O Substituto”. Ele exibe de forma angustiante a realidade pessoal e social de indivíduos de determinada escola de periferia. Seus sentimentos íntimos, relacionamentos interpessoais insanos, ambiente escolar e familiar dramáticos, famílias que afrontam ainda mais a tragédia na vida dos adolescentes e adultos. A personagem que representa o caos e sofrimento da vida é uma garota “gordinha”. Na sala de aula, ela é chamada de “sapatão”, porém suas atitudes parecem ser de uma garota amável, delicada. Mas, ela se difere das outras pelo seu corpo mais cheio,
suas roupas próprias da pessoa que deseja se esconder. Seu pai, provavelmente sem os conhecimentos ideais para lidar com a adolescente, sugere-lhe que ela faça uma dieta, arrume-se e quem sabe assim ela pudesse arrumar um namorado. Também lhe diz que depois de um dia de trabalho, ele não teria tempo para a depressão de adolescente. 
Meredith, uma garota retraída, desamparada em seu mundo familiar, se deprime ainda mais e premedita a própria morte. De forma trágica, a depressão e a obesidade ganham terreno na vida da garota e ela se suicida por envenenamento. Coincidentemente, o meio usado é a comida. Um cupcake de carinha infeliz que a garota come até o último pedaço que lhe traz a morte. As chagas da alma não são tratadas dentro do ambiente familiar de adultos quanto mais de adolescentes desamparados, deixados de lado e feitos invisíveis por seus próprios pais e familiares.
A década de 1970 foi marcada por pesquisas que resultaram no aparecimento dos Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina, o famoso Prozac®, denominado como a pílula da felicidade, antidepressivo indicado para alguns tipos de depressão. Hoje o homem luta por sua própria realização, diante de sua impotência e culpa por um não sucesso, ele se aflige e isso se materializa em auto-recriminações, que se tornam, muitas vezes, em pontos centrais de um estado depressivo. (PERES, 2009) A realização ou irrealização pessoal recai sobre a própria responsabilidade e traz consigo a insuficiência e a culpa que caminham de mãos dadas. Freud pontuou a dimensão de desamparo que acompanha o ser humano. O bebê é um desamparado, carente da ajuda materna para satisfação de suas necessidades, em especial a relacionada à alimentação. A situação de insuficiência constitui a condição humana e se faz presente na nossa falta de estrutura. A obra de Freud é pontuada pela necessidade de proteção que nos acompanha pela vida, proteção por meio do amor paterno. Sentimentos de desamparo perduram por toda vida. A pessoa com tendências a obesidade busca no alimento o aconchego, o abrigo, o amparo não recebidos por meio dos seus objetos de relação. E quando suas necessidades não são supridas, seus sentimentos e carências podem se expressar em quadros depressivos.
Alguns dos sintomas comuns de depressão são: sentir-se triste durante a maior parte do dia, diariamente; perder o interesse em atividades rotineiras; perder o apetite, com perda de peso, ou ter aumento do apetite, com ganho de peso; insônia, ou o contrário, necessidade aumentada de dormir; sentir-se cansado e fraco o tempo todo; sentir-se inútil, culpado e sem esperança; sentir-se irritado e cansado o tempo todo; sentir dificuldade em concentrar-se, tomar decisões ou lembrar-se das coisas; e ter pensamentos frequentes de morte e suicídio. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, Suicídio: Informando para prevenir, 2014, pág.33, grifos meus)
O indivíduo, neste século, pode ser considerado vítima de grande desamparo devido à fragilização da família, das mudanças no conceito de trabalho, da saída da mulher para jornada de trabalho de oito horas, o enorme crescimento do universo virtual que confina, isola e segrega o homem, a incidência grande de famílias cuja babá perfeita para a criança é TV. Não sabemos o que nos espera social, política e financeiramente e desta forma nutrimos um sentimento acentuado de desamparo. Somos uma geração de adultos e crianças desamparados. Ganhamos e damos liberdade, mas a família hoje é incapaz de gerar segurança, por esta razão nos tornamos livres inseguros, vivemos o conflito entre nossos desejos, capacidades e possibilidades. (PERES, 2009)
3. Um caso de “amor”: a relação entre obesidade e depressão
A dificuldade e o sofrimento gerados pela obesidade na vida de um sem número de pessoas são motivadores para melhor conhecermos o quadro geral desta patologia. Levaremos em consideração a relação existente entre a depressão, emoções e sentimentos prejudiciais/ saudáveis e o aumento/ diminuição de peso, impulsividade, compulsão alimentar e consequente obesidade. Impressiona a quantidade de indivíduos que relata engordar quando em dificuldades emocionais. Os fatores emocionais são os ocasionadores da obesidade ou é o fato de se estar acima do peso, o fator desencadeante de problemas emocionais como a depressão, por exemplo? Os sofrimentos e as implicações biopsicossociais gerados pelo processo “engordar/ emagrecer” produz dificuldades, angústias, desânimo. Tudo isso torna este tema relevante para esta pesquisadora. 
A obesidade e a depressão, consideradas o “mal do século” (OMS), embora não necessariamente relacionadas e interligadas, têm alcançado índices preocupantes na escala mundial. A primeira, como já mencionado acima, é um acúmulo excessivo de gordura corporal que provoca prejuízos à saúde da pessoa. Ela é um problema de saúde pública geral, pois tanto os países desenvolvidos como os em desenvolvimento apresentam aumento de sua prevalência. (PINHEIRO et al, 2004) Já a depressão é considerada um transtorno mental moderno e comum causado por um estresse prejudicial ou desagradável, um estado de ansiedade, medo, preocupação ou agitação com resultados psicológicos negativos e doloridos. Ela se caracteriza por tristeza, perda de interesse, ausência de prazer, oscilações entre sentimentos de culpa e baixa autoestima, além de distúrbios do sono ou do apetite. Também há a sensação de cansaço e falta de concentração. Pelo menos 5% das pessoas que vivem em comunidade sofrem de depressão, o que alcançaria mais de 350 milhões de pessoas no mundo. É o mal que encabeça as consultas psiquiátricas. Acredita-se que em 2020, a depressão ocupará o segundo lugar entre as causas de doenças incapacitantes no mundo, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares (ANDRADE, 2013). 
A associação entre depressão e doenças clínicas é muito freqüente, e leva a pior evolução tanto do quadro psiquiátrico como da doença clínica, com menor aderência às orientações terapêuticas, além de maior morbidade e mortalidade. Diversas doenças estão claramente associadas à depressão, com maior destaque para as doenças cardiovasculares, endocrinológicas, neurológicas, renais, oncológicas e outras síndromes crônicas dolorosas (ANDRADE, 2013).
Ter depressão na adolescência é um fator de risco para a obesidade na fase adulta. O contrário também é verdadeiro: a obesidade na juventude aumenta o risco de depressão na vida adulta. É interessante observar a relação entre os dois problemas. Algumas vezes, ao se tratar a depressão, há aumento de peso; outras vezes, com a perda de peso, há melhoras no quadro depressivo. É como se sentimentos como tristeza, desinteresse, desprazer, culpa, desamparo, rejeição, baixa autoestima, solidão implicassem peso concreto no corpo e na balança. (ARAÚJO, 2015)
Há uma relação cíclica entre obesidade e depressão, uma interfere de forma negativa sobre a outra. Cerca de 30% dos pacientes que buscam tratamento para emagrecer, apresentam algum grau/tipo de depressão. Por outro lado, pessoas obesas se deprimem mais facilmente. A depressão pode apresentar sintomas como a compulsão alimentar e o aumento de apetite. Assim, o indivíduo come excessivamente, arrepende-se, fica depressivo. Internamente, o estresse aumenta a circulação de cortisol e isso pode levar a um acúmulo de células de gordura na região abdominal (ARAÚJO, 2015). Parece haver uma relação biológica entre a obesidade e a depressão. Existem investigações científicas de como os mesmos desajustes imunológicos se associam ao aparecimento dessas duas doenças. Por exemplo, os processos inflamatórios podem se instaurar de forma crônica e relacionados a essas enfermidades e a obesidade passa a ver vista também como um estado de inflamação crônica de baixa intensidade. 
Muitas pessoas se deprimem, pois insistem em viver suas vidas em função do outro ou para o outro – uma pessoa, um princípio, um ideal ou uma instituição – em vez de para si mesmos. De repente, seu objetivo de vida acaba: é o filho que passa no
vestibular e se muda de cidade, ou então se casa. É uma comunidade que se dissolve por mudanças de interesses; ou uma empresa geradora de lucros que pelas crises econômicas se desmorona, fali. E quando a depressão chega pelas inúmeras contrariedades, ele percebe que esse outro por quem ele viveu, nunca vai corresponder às suas expectativas nas suas horas difíceis. (SADOCK 2007)
Os atuais critérios utilizados para o diagnóstico e classificação dos estados depressivos se encontram no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, em sua quinta edição (DSM-V, lançado em maio de 2013). Os critérios diagnósticos para o Transtorno Depressivo Maior, de acordo com o DSM-V, são: 
A.	Cinco ou mais dos sintomas seguintes presentes por pelo menos duas semanas e que representam mudanças no funcionamento prévio do indivíduo; pelo menos um dos sintomas é: 1) humor deprimido ou 2) perda de interesse ou prazer (Nota: não incluir sintoma nitidamente devido à outra condição clínica):
1.	Humor deprimido na maioria dos dias, quase todos os dias (p. ex.: sente-se triste, vazio ou sem esperança) por observação subjetiva ou realizada por terceiros (Nota: em crianças e adolescentes pode ser humor irritável);
2.	Acentuada diminuição do prazer ou interesse em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (indicado por relato subjetivo ou observação feita por terceiros);
3.	Perda ou ganho de peso acentuado sem estar em dieta (p.ex. alteração de mais de 5% do peso corporal em um mês) ou aumento ou diminuição de apetite quase todos os dias (Nota: em crianças, considerar incapacidade de apresentar os ganhos de peso esperado);
4.	Insônia ou hipersônia quase todos os dias;
5.	Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outros, não apenas sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento);
6.	Fadiga e perda de energia quase todos os dias;
7.	Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante), quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente);
8.	Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros);
9.	Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico; ou tentativa de suicídio ou plano específico de cometer suicídio;
B.	Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo;
C.	Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (p. ex.: droga) ou outra condição médica (Notas: 1. Os critérios de A-C representam um episódio depressivo maior; 2. Respostas a uma perda significativa (luto, perda financeira, perda por um desastre natural, uma grave doença médica ou invalidez) podem incluir sentimentos de tristeza intensa, reflexão excessiva sobre a perda, insônia, falta de apetite e perda de peso observado no critério A, que pode assemelhar-se a um episódio depressivo. Embora estes sintomas possam ser compreensíveis ou considerados apropriados para a perda, a presença de um episódio depressivo maior em adição a uma resposta normal a uma perda significativa, deve também ser considerado cuidadosamente. Esta decisão, inevitavelmente, requer o exercício de julgamento clínico baseado na história do indivíduo e as normas culturais para a expressão de angústia no contexto de perda); (DSM -V, 2013, pag. 160-161) (grifos meus) 
Há uma variação de especificadores no Transtorno Depressivo Maior, e aqui importam algumas delas, especialmente as manifestas com características ansiosas e com características atípicas. Desta forma, encontra-se no DSM - V:
Para complementar o diagnóstico existem os especificadores, que são extremamente úteis para melhor caracterização, acompanhamento e prognóstico de cada caso. Eles podem ser observados na lista a seguir.
1. Com características ansiosas
Exige a presença de pelo menos dois dos seguintes sintomas durante a maioria dos dias do TDM:
1.	Sentir-se tenso;
2.	Sentir-se inquieto;
3.	Dificuldade de concentração devido a preocupações;
4.	Medo que algo terrível aconteça;
5.	Sensação de que pode perder o controle sobre si mesmo.
2. Com características mistas [...]
3. Com características melancólicas [...]
4. Com características atípicas
A.	Reatividade do humor (melhora com estímulos positivos);
B.	Dois (ou mais) dos seguintes:
1.	Aumento do apetite significativo ou ganho de peso;
2.	Hipersônia;
3.	Sensação de peso nas pernas e nos braços, além de falta de energia; [...] (DSM V, pág.185-186, grifos meus) 
(http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=5879)
Características semelhantes podem ser observadas nos indivíduos com sobrepeso, tais como tensão, inquietação, melancolia, ansiedade. E o aumento de apetite significativo ou ganho de peso, sem dúvida, também caracterizam as pessoas obesas. Elas se tornam depressivas pela obesidade ou seu corpo pesado e deformado por gorduras, sem definição de musculatura são os causadores da depressão?
A falta de compreensão das razões de um indivíduo comer excessivamente, mesmo consciente do sofrimento e complicações implicados nesta atitude, se torna um empecilho para clínica médica, que se utiliza de vários métodos para diagnosticar e gerar tratamentos para a obesidade. A maioria deles, baseada em critérios científicos e fisiológicos, todavia, em geral, sem levar em conta os fatores psicológicos, subjetivos, ainda que com a possibilidade de eles interferirem nos resultados esperados. Como a obesidade é considerada uma doença, sua manutenção poderia gerar outras comorbidades, desta forma, a busca por um corpo magro implica saúde. Muitas vezes, há a crença de que o indivíduo não emagrece por preguiça, falta de vontade e perseverança, negligência, descuido. No entanto, os aspectos psicológicos deveriam ser mais bem repensados e focados, uma vez que os casos de obesidade causados por causas genéticas ou endócrinas bem definidas são a minoria. (MOTTA, 2011)
A obesidade, considerada como doença endêmica, atinge a saúde física e mental. Suas desordens físicas e psíquicas são manifestas por meio do corpo. Os fatores psicológicos sofrem influência da cultura, ambiente, história familiar, etc. Investigações recentes focam dificuldades emocionais nas pessoas com excesso de peso não mensuráveis por testes psicológicos. Elas são provenientes de amigos sem a devida compreensão do problema ‘obesidade’, e dizem respeito à frustração, desamparo ou solidão e podem ocasionar distúrbios emocionais. (MOTTA, 2011)
Se nos voltamos para a depressão com suas características, sentimentos e emoções, nós percebemos quanto ela e a obesidade parecem caminhar juntas, comórbidas. Algumas expressões serão elencadas aqui a respeito da depressão, mas que descrevem perfeitamente bem a pessoa obesa: humor deprimido, perda de interesse ou prazer, sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento; fadiga e perda de energia quase todos os dias; sentimento de inutilidade ou culpa excessiva; sentimentos de tristeza intensa; ansiedade; tensão; inquietação, sonolência; hipersônia; medo que algo terrível aconteça; sensação de que pode perder o controle sobre si mesmo; aumento do apetite significativo ou ganho de peso; sensação de peso nas pernas e nos braços, além de falta de energia, etc. Os sintomas da depressão causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo (DSM – V, 2014). Assim também ocorrem com os sintomas da obesidade, causam sofrimentos e prejuízos significativos em importantes áreas do indivíduo.
4.Um grande vazio dentro de um corpo cheio
A percepção atenta mostra certa infelicidade na pessoa com sobrepeso. Seus conflitos, o vazio existente, provavelmente desde sua infância, as
ansiedades e falta de perspectivas melhores e adequadas, o desamparo físico e/ou emocional sofrido pelos pais e amigos contribuíram para a construção de seu corpo obeso. Em geral, nem o próprio indivíduo percebe os significados implícitos na sua obesidade. Seu relacionamento com seu corpo está além da noção de um corpo biológico, pois ele se torna um depositário de suas amarguras e insatisfações. (MOTTA, 2011)
Marisa, uma cliente citada por Loli (2000), foi deixada quando pequena, com os avós no sítio e os pais foram para cidade com a filha mais velha. Ela sentia muita falta da irmã mais velha, e nunca perdoou a mãe por tê-la abandonado. Viveu, após ter ido morar com os pais, para se “exibir” para mãe: a filha a quem ela havia desamparado. Depois de adulta, ela continuava agindo da mesma forma, sempre com o desejo de agradar a mãe e a irmã, porém nunca se achava o suficientemente boa em todos os serviços que lhes prestava. Ela sentia que jamais conseguiria atingir as expectativas das duas. Frente à culpa por tê-las odiado, Marisa se oferecia ao papel de “desvalorizada, gata borralheira”. Ela sempre desejava mostrar-se como a melhor filha para conseguir o afeto desejado da mãe e da irmã e, desta forma, ela se desligava de sua verdadeira casa: o marido e os filhos. (LOLI, 2000)
Sua dificuldade em dizer “não” foi interpretada como uma expressão de sua agressividade. Ela temia que seus relacionamentos pessoais pudessem ser destruídos pelas suas manifestações de raiva da mesma maneira como foi sua vivência na infância: sua mãe, fonte de amor e rivalidade, a abandonara em um período quando a presença e percepção maternas são extremamente marcantes, imprescindível na vida de uma criança. (LOLI, 2000)
Paulatinamente, Marisa aprendeu a dizer “não” para as pessoas, conversar com elas, explicar-se e pedir explicações, e essas atitudes foram sentidas como positivas para ela. Ela se deu conta de que sua submissão à mãe e à irmã mais velha na tentativa de lhes agradar era uma forma de conseguir sua atenção, carinho, afeto. A cada pedido seu atendido pela mãe em termos de fazer-lhe alguma comida, ela se sentia amada, acolhida por ela. Seu vazio de amor, o desamparo vivido na infância, a carência de carinho, atenção, afeto eram preenchidos pelos doces, feijoadas feitos pela mãe. (LOLI, 2000)
Esta paciente, por meio da terapia, teve oportunidade de entender o vazio existente dentro do seu corpo obeso. Ela precisava do amparo materno e, ao não conseguir satisfazer-se com o que lhe era oferecido emocionalmente, ela encontrava na comida, nos sacos de biscoitos e doces o acolhimento, o calmante para sua dor. (LOLI, 2000)
A necessidade de ajuda psicológica é gritante no indivíduo com sobrepeso ou com obesidade, assim como reflexões e avaliações, o autoconhecimento dos próprios motivos, da real razão de sua fome. Evidentemente, cada indivíduo tem seu “vazio” devido a alguma falta sentida na infância. Em geral a figura materna está relacionada com seu problema. A oralidade é marcante na obesidade: a busca de prazer da forma mais primária possível (oralidade) é a realidade de grande parte das pessoas que sofrem com este problema. As perturbações alimentares não são tão simples como pensam alguns: ingestão calórica menor que gasto energético, a solução da obesidade. Não, antes elas cruzam a infância e a idade adulta, o psíquico e o somático, o individual e o social. (BERG, 2008) O sujeito não consegue dar vazão às suas emoções e usa seu corpo para fazê-lo, usa um recurso comportamental. Dentre as maneiras de dar e encontrar vazão está também a depressão, normalmente presente nas perturbações alimentares como uma comorbidade, e que se manifesta como frustração, e como inveja do corpo e da fome da pessoa magra, aparentemente é mais feliz e melhor dotado, mais bem resolvida. (BERG, 2008)
 
5.O alimento como substituto do afeto
A alimentação é uma forma de sobrevivência, o alimentar-se é importante para a nutrição e a manutenção do corpo, no entanto este seu papel parece ser distorcido nas pessoas obesas. O alimento se torna objeto das relações, com significados diferentes, ele passa a servir como instrumento de conforto e companhia nos momentos de ansiedade, solidão e medo. Se a saciedade da fome é natural, as práticas alimentares não o são. Elas se situam na esfera de sistemas simbólicos e relações sentimentais criados pelo indivíduo ao se nutrir. Ele cria para si regras fundamentadas no senso comum, na religião, nos seus próprios conhecimentos médicos, no seu contexto cultural e familiar. Na busca para estabelecer um limite entre seus verdadeiros sentimentos e às pessoas a eles vinculadas, o alimento substitui relações e a busca do prazer no comer substitui emoções intoleráveis. (BERG, 2008)
A angústia sempre aparece quando se interfere no ato de comer do obeso, pois sua compulsão alimentar tenta justamente evitar seu aparecimento e utiliza a comida como um tranquilizante, um analgésico para sua dor. E assim que quando acaba o ato de comer, o efeito de analgesia passa e a sensação de culpa ocasionada pela compulsão parece aumentar ainda mais a dor, a angústia, o vazio. 
A obesidade acompanha o homem desde as sociedades pré-históricas. Podemos entender que a alimentação além de ter seus aspectos fisiológicos e psicológicos, é, sem dúvidas, um fator histórico, cultural e social. A importância foi/é grandemente dada ao “partir do pão” pelas famílias, aos banquetes oferecidos pelos reis a seus súditos, mencionados nas literaturas antigas e mesmo na Bíblia. Nesta também encontramos a associação do comer excessivo ao pecado da gula. O glutão, voraz; que come exagerada e excessivamente; com muita pressa; mastiga mal para engolir a maior quantidade possível, fecha para si a possibilidade de entrada no reino do céu. Na definição de glutão, nós não estaríamos diante de um indivíduo impulsivo, com compulsão alimentar? Não seria este aquele, que por perda de controle e de razões melhores para tê-lo, troca o verdadeiro sentido da alimentação e a torna um símbolo de prazer e desafogo? É interessante pensar nos tempos quando a gordura foi símbolo de riqueza, beleza e distinção social. No entanto, Hipócrates já considerava em seus estudos que a morte súbita atingiria mais os gordos do que os magros e também que mulheres magras seriam mais férteis que as gordas. 
A obesidade ganhou maiores cuidados a partir de 1980 por conta dos elevados gastos nos tratamentos das doenças associadas a ela e ao sobrepeso. Nos dias atuais, o ser humano tem acesso mais fácil ao alimento e o busca pela sensação prazerosa dada por ele. Desta forma, muitos acabam comendo além de suas necessidades, perdem o domínio de si (assim como acontece com sujeitos depressivos) quando começam a comer e comem compulsivamente, por impulso e desta forma desenvolvem a obesidade e outros transtornos relacionados à alimentação. Certamente tais indivíduos necessitam de ajuda para superação de suas dificuldades não somente fisiológicas, mas também e, com maior urgência, de ajuda psicológica.
Mais e mais presenciamos a magreza como padrão de beleza e saúde. Mas seria este conceito totalmente verdadeiro? 
Em uma cultura amante da Barbie, desde bem cedo em suas vidas, meninas mais cheinhas sofrem ao se compararem ao padrão de beleza oferecido. Brincam com suas bonecas e percebem suas curvas, corpos esguios... Encontram a vaidade personificada e embutida nas Barbies. Gisela Preuschoff (2003) escreve sobre a menina, a mocinha, e seu interesse por roupas, modas e também sobre a influência da mídia neste aspecto da vida. 
A imagem da mulher, na mídia, difundida em qualquer revista, é uma distorção da realidade. As mulheres menos bonitas são marginalizadas. E o interesse pelas mulheres que têm sucesso na profissão cresce proporcionalmente à sua beleza. Com tudo isso, está comprovado que pessoas bonitas nem sempre têm a vida fácil. É porque são atribuídas a elas qualidades acima da média: são consideradas pessoas mais inteligentes, mais carinhosas e de trato
mais fácil. Entretanto, muitas mulheres bonitas acham que são respeitadas somente pelo aspecto físico e não pela qualidade do seu trabalho. Isso as faz infelizes! São mulheres que nunca se sentem levadas a sério. A beleza, para elas, é como se fosse uma máscara que não podem tirar: o peso que isso comporta leva, muitas vezes, à autodestruição, seja através do álcool, das drogas ou, até, do suicídio. (PREUSCHOFF, 2003, pa. 65-66) 
Em uma pesquisa realizada, observou-se que a grande parte das mulheres entrevistadas, obesas e/ou magras, indicou, na opção por uma forma ideal de corpo foi apontada um formato de corpo mais magro que o corpo delas mesmas. Isso mostra que a insatisfação com o próprio corpo não é um problema exclusivo aos obesos. Em geral se quer ter o que não se tem em termos de peso e medidas. (ALMEIDA et al, 2005 apud BERG, 2008) Este fato é atordoador, pois podemos concluir que, em geral, as pessoas se sentem insatisfeitas com o que se deparam no espelho. E provavelmente arredias a entrarem em contato com seus conteúdos psíquicos. Há certo “buraco sem fim” em cada indivíduo.
As patologias alimentares são algumas das principais patologias contemporâneas. Elas se caracterizam por suas expressões concretas, pelo vazio de significado, pelas reações de tristeza, agressividade, solidão e desamparo, pela impulsividade das ações violentas e vorazes em detrimento do pensamento ponderado. O indivíduo revela suas angústias, sua maneira de pensar, seu perfil no modo como ele lida com seu corpo e com sua alimentação. Ele é confrontado pela ditadura da magreza com todos seus “pode, não pode”, pelos padrões alimentares rígidos e também pela proibição de ficar velho. E desta forma, o corpo adoece. Ele reage concretamente aos conflitos gerados pelas imposições culturais e sociais de um lado e pelas suas possibilidades e necessidades individuais do outro. O objeto de desejo do indivíduo, desde um doce “dos deuses” até o corpo de Venus, faz parte de elementos determinados pela mídia, que garante seu consumidor como alguém sempre em busca de novidades, eternamente descontente, inquieto e enfadado. (BERG, 2008)
A obesidade se relaciona à dificuldade de deixar de lado o prazer do contato materno na amamentação. Entretanto, a necessidade de comer impulsiva e compulsivamente se choca com as exigências sócio-culturais que têm como padrão de beleza um corpo magro e saudável. O prazer de comer muito entra em conflito com a necessidade de comer menos para se ter um corpo saudável e esbelto. Daí o obeso, se na impossibilidade de se alimentar compulsivamente, desenvolve outras patologias como é o caso da depressão.
A sociedade contemporânea considera importante o indivíduo entrar em contato consigo mesmo, com seus sentimentos, comer apenas alimentos saudáveis, fazer academia, musculação, mergulhar, dançar, caminhar, correr, aprender a se relacionar, não ter medo de ser feliz, de sentir prazer. A mídia impregna a mente das pessoas com tais ideias e ideais. Toda faixa etária é levada por essas filosofias, até mesmo as crianças já foram alcançadas por elas. Tais exigências parecem boas, no entanto, cada vez mais, elas têm se transformado em um discurso autoritário ao se esquecerem dos sentimentos de prazer e satisfação gerados pelo ato de comer, ou deixarem de lado a necessidade de conscientização que tais práticas deveriam implicar. Desta forma, qualquer falha ou desvio é visto como irresponsabilidade, culpa ou fracasso do indivíduo, não se leva em conta as diferenças individuas e sociais do ser. No caso da pessoa obesa, sua incapacidade de corresponder aos ideais culturais de um corpo perfeito o torna objeto de discriminações, piadas e críticas. (BERG, 2008) 
Como relato pessoal, certa vez, desejosa de emagrecer, fui a um endocrinologista de alto padrão na cidade em que moro. Ao lhe expor minhas dificuldades e aflições pelo sobrepeso carregado, percebi o pouco caso que ele fez de mim. Houve certo desdém em seu tratamento. Porém, para cumprir a rotina, ele fez pedidos de exames de sangue e entre eles, exames para averiguação da tireóide. No retorno com os resultados, qual foi sua surpresa ao ver o quadro de hipotireoidismo apresentado. 
- Evidente, disse ele, jamais você conseguiria perder peso com seu TSH tão alto! 
Foi preciso o resultado de exame de sangue para acontecer um tratamento mais humano, mais empático. Infelizmente, boa parte dos endocrinologistas age dessa mesma forma. O olhar para a alma, para além do corpo cheio é bem difícil de presenciar.
No entanto, em geral, a obesidade, a compulsão alimentar e os sentimentos prejudiciais ligados a elas trazem infelicidade tal que a pessoa passa a se “esconder” sob roupas largas. A frustração gerada por esses fatores leva a outros desequilíbrios e transtornos como, por exemplo, a tão alastrada e famigerada depressão. Algumas vezes, o emagrecimento é buscado com tanta gana que o fator “saúde” é totalmente deixado de lado. Remédios e drogas são usados sem maiores cuidados. Outras vezes, o próprio médico endocrinologista os receita, mesmo cônscio de que a solução do problema está além do remédio e seu “bom” resultado emagrecedor proporcionado pela medicação acaba quando uma próxima crise emocional acontece.
A cozinha, outrora lugar de encontro familiar, acabou como lugar da ditadura imposta pelo “pode, não pode”. A obsessão das dietas restritas pode bem levar aqueles do “bem comer” à tristeza, ao fundo do poço e ao desestímulo de ser um “chef” de cozinha até mesmo para sua família. 
A nível psicológico, a imagem corporal advinda da obesidade poderá ocasionar desvalorização da autoimagem, do auto-conceito e gerar um declínio da autoestima. A consequência resultante poderá vir acompanhada de sintomas depressivos e ansiosos com diminuição da sensação de bem-estar e aumento de inadequação social, com deterioração da relação interpessoal. Em uma cultura, em que o culto à magreza e ao corpo escultural tem grande relevância, não é difícil a possibilidade de a depressão bater à porta de muitas pessoas atada ao sobrepeso e à obesidade.
O corpo jamais vai corresponder à imagem ideal construída pela sociedade e por nós mesmos, pois este corpo é tão leve que chega a ser um mito, quase invisível. Porém, o corpo real é concreto, tem peso e massa e por isso, muitas vezes, é difícil de carregar. As pessoas fazem uso de próteses para expandir, lipoaspirações para reduzir. Os afetos e sentimentos são controlados por diversos fármacos: para emagrecer, para dormir, para acordar, para fazer sexo. As pessoas se submetem a cirurgias embelezadoras não apenas porque estão emocionalmente doentes, mas também por estarem insatisfeitas consigo mesmas. Elas reformam a natureza para reverterem o tempo. A velhice e suas rugas desagradam. É inadmissível sentimentos de raiva, medo, angústia, tristeza, pois eles tornam o desconhecido mais apavorante ainda. A perfeição da forma, a alegria permanente, a mocidade eterna reinam nos corações, mentes, desejos e nos corpos de interior vazio e exterior cheio. (PEREIRA, S., 2007) 
Os espelhos são mágicos, mas no mau sentido, no sentido de que refletem um sem-fim de más cópias, de surradas cópias de pobres modelos, construídos na vacuidade dos pensamentos e na gratuidade das ações. Cada vez mais big brothers, cada vez menos homens capazes de investigar seus sentimentos na busca de respostas à dureza da vida. A sociedade do espetáculo, já tão falada, nos remete ao fogo fátuo das vaidades, das imagens, das aparências, sempre enganosas. (PEREIRA,S., 2007, pág. 10)
Considerações Finais
Ao iniciarmos este artigo, tencionávamos pesquisar, estudar e conhecer mais sobre a obesidade, a compulsão alimentar e a relação intrínseca existente entre elas e as emoções prejudiciais que levam a transtornos como a depressão. Fizemos isso por meio de levantamento bibliográfico, pesquisamos autores que, direta ou indiretamente, já trataram deste assunto. Assim, seus pensamentos foram incluídos como base das reflexões feitas.
Como vimos, a OMS (Organização
Mundial de Saúde) tem a obesidade e a depressão como um dos dez principais problemas de saúde pública e classifica a primeira como epidemia. Os fatores genéticos, metabólicos, comportamentais, culturais envolvidos no seu desenvolvimento chama a atenção de profissionais de várias áreas, pois a pessoa obesa apresenta risco maior no desenvolvimento de uma série de doenças e assim, tem sua expectativa de vida reduzida. (ROMANELI, 2006; BECK, 2009)
Muitos pacientes sofrem emocionalmente e fazem uso da alimentação como válvula de escape para o enfrentamento dos seus problemas psicológicos. É-lhes difícil encontrar o ponto de saciedade, são incapazes de parar de comer enquanto há alimento disponível. Além disso, não conseguem, em muitas das situações, distinguir entre fome e sede. A compulsão alimentar parece ser gerada por situações estressantes. A impulsividade, enquanto traço de temperamento, está presente nessa e tem sido foco de estudos sobre a obesidade e transtornos alimentares. 
Buscamos entender as origens e pulsões da obesidade. Sob o enfoque psicanalítico, esta é um sintoma manifesto, provavelmente resultante de fatores surgidos durante períodos diversos da vida do indivíduo. Seus desejos, decepções, frustrações, aspirações e conflitos são transformados na formação do sintoma “obesidade”. As inquietações alimentares parecem ser trazidas da infância para idade adulta, do psíquico para o corpo, resultantes de expectativas sociais exacerbadas, inalcançáveis. O psíquico, ao não encontrar escape emocional, extravasa pelo corpo seus desejos e sentimentos incômodos. Dentre essas vazões, a obesidade se inclui. 
O conceito de pulsão é fundamental ao entendimento da obesidade. Essa é regida pelo princípio do prazer, origina-se nas células do corpo e dá lugar a necessidades como a fome. No caso de uma doença, entretanto, uma pulsão é capaz de se unir a outra e mudar sua finalidade. Necessidades de afeto, amparo, reconhecimento podem ser satisfeitas por meio do corpo, com alimentos capazes de proporcionar sensações de bem estar e prazer. Freud colocou como pulsão de morte aquela que procura levar o que é vivo a um estado inanimado. O alimento que, a princípio, deveria ser usado para gerar vida, é transformado em caminhos de morte para o obeso. De fato, milhões de adultos, segundo a OMS, vão a óbito em consequência da obesidade ou do sobrepeso.
Há um caso de “amor” entre a obesidade e a depressão. As duas, em geral, andam de mãos dadas, e são avaliadas como o “mal do século” (OMS). A última é considerada um transtorno mental moderno, incapacitante, causado por estresse prejudicial, estado de ansiedade, medo, preocupação ou agitação e tem resultados psicológicos negativos, doloridos. A depressão encabeça as consultas psiquiátricas. Sua presença na adolescência é fator de risco para obesidade na fase adulta. Ela distingue-se, entre outras características, pelos distúrbios do apetite. Seus sintomas causam sofrimento significativo e prejudicam o funcionamento social, ocupacional da vida daquele que a tem.
Existem diversas características comuns entre a obesidade e a depressão. A pergunta é: a pessoa se torna obesa pela depressão ou seu corpo pesado e deformado é o causador da depressão? A falta de compreensão das razões de um indivíduo comer excessivamente, mesmo consciente dos sofrimentos e complicações implicados nesta atitude se torna um empecilho para clínica médica, que se utiliza de métodos para diagnosticar e gerar tratamentos para obesidade, em geral, baseados em critérios científicos e fisiológicos, sem a preocupação com fatores psicológicos, subjetivos que podem interferir na eficácia dos resultados. 
A obesidade atinge a saúde física e mental. Os fatores psicológicos incidentes sobre ela sofrem influência da cultura, ambiente, história familiar, etc. Investigações recentes focam dificuldades emocionais nas pessoas com excesso de peso não mensuráveis por testes psicológicos. Se nos voltamos para as características da depressão e da obesidade percebemos o quanto elas parecem caminhar juntas, comórbidas, semelhantes. Ambas causam sofrimentos e prejuízos significativos em importantes áreas do indivíduo. 
Por fim, é notável o grande vazio existencial manifesto dentro de um corpo cheio. Não é preciso uma longa convivência para se perceber certa infelicidade, conflitos, ansiedades, ausência de perspectivas adequadas, sentimentos de solidão e desamparo sentidos pelo indivíduo escondido sob roupas largas, muitas vezes, espalhafatosas. Em geral, nem mesmo ele entende os significados implícitos na sua obesidade. Seu recorrer ao alimento como substituto de afeto, instrumento de conforto e companhia nos momentos de ansiedade, isolamento, abandono se torna uma prática intrínseca, imperceptível do seu dia-a-dia.
O clamor inaudível da população obesa deve alcançar o coração de profissionais da saúde desejosos de socorrê-la. A necessidade de ajuda psicológica/emocional é gritante. Faz-se necessário um trabalho de conscientização dessas pessoas, das origens e causas da obesidade e seus potentes malefícios em contrapartida com os benefícios oriundos de um corpo saudável. A compreensão de sua relevância como gente dentre outras pessoas a despeito de todas as mazelas trazidas da sua infância para a vida adulta, a convicção da busca do melhor para si mesmo por si mesmo. Não para o agrado e satisfação do outro, mas para a saúde do corpo no qual se habita e do ser com quem se há de conviver até seu último instante de vida. Mais estudos são requeridos para este fim, a literatura ainda é escassa para trazer soluções práticas e definitivas para tema tão relevante: ponto de partida, percursos, caminhos que conduzem à obesidade e depressão e o ponto de chegada com destino à saúde plena.
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VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para doenças Crônicas por Inquérito Telefônico)
� Discente do curso de Psicologia da Unimar
� Professora Orientadora, docente do curso de Psicologia da Unimar

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