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Atividades de literatura.docx

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Questão 1)
Sermão da Sexagésima
Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante dúvida, será a matéria do sermão. Quero começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir.
VIEIRA, A. Sermões Escolhidos, v. 2. São Paulo: Edameris, 1965.
No Sermão da sexagésima, padre Antônio Vieira questiona a eficácia das pregações. Para tanto, apresenta como estratégia discursiva sucessivas interrogações, as quais têm por objetivo principal
a) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre o conteúdo que será abordado no sermão.
 
b) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os temas abordados nas pregações.
c) apresentar questionamentos para os quais a Igreja não possui respostas.
d) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador sobre a eficácia das pregações.
e) questionar a importância das pregações feitas pela Igreja durante os sermões.
Questão 2)
Cordel resiste à tecnologia gráfica
   O Cariri mantém uma das mais ricas tradições da cultura popular. É a literatura de cordel, que atravessa os séculos sem ser destruída pela avalanche de modernidade que invade o sertão lírico e telúrico. Na contramão do progresso, que informatizou a indústria gráfica, a Lira Nordestina, de Juazeiro do Norte, e a Academia dos Cordelistas do Crato conservam, em suas oficinas, velhas máquinas para impressão dos seus cordéis.
   A chapa para impressão do cordel é feita à mão, letra por letra, um trabalho artesanal que dura cerca de uma hora para confecção de uma página. Em seguida, a chapa é levada para a impressora, também manual, para imprimir. A manutenção desse sistema antigo de impressão faz parte da filosofia do trabalho. A outra etapa é a confecção da xilogravura para a capa do cordel.
   As xilogravuras são ilustrações populares obtidas por gravuras talhadas em madeira. A origem da xilogravura nordestina até hoje é ignorada. Acredita-se que os missionários portugueses tenham ensinado sua técnica aos índios, como uma atividade extra-catequese, partindo do princípio religioso que defende a necessidade de ocupar as mãos para que a mente não fique livre, sujeita aos maus pensamentos, ao pecado. A xilogravura antecedeu ao clichê, placa fotomecanicamente gravada em relevo sobre metal, usualmente zinco, que era utilizada nos jornais impressos em rotoplanas.
VICELMO, A. Disponível em: <www.onordeste.com>. Acesso em: 24 fev. 2013 (adaptado).
A estratégia gráfica constituída pela união entre as técnicas da impressão manual e da confecção da xilogravura na produção de folhetos de cordel
a) realça a importância da xilogravura sobre o clichê.
b) oportuniza a renovação dessa arte na modernidade.
c) demonstra a utilidade desses textos para a catequese.
d) revela a necessidade da busca das origens dessa literatura.
e) auxilia na manutenção da essência identitária dessa tradição popular.
Questão 3) 
	
	Profetas de Aleijadinho à frente da Basílica Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas do Campo, Minas Gerais.
Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes nas vestes e nas feições, a escultura barroca no Brasil tem forte influência do rococó europeu e está representada aqui por um dos profetas do pátio do Santuário do Bom Jesus de Matosinho, em Congonhas (MG), esculpido em pedra-sabão por Aleijadinho. Profundamente religiosa, sua obra revela
a) personalidade, modelando imagens sacras com feições típicas do povo brasileiro.
b) singularidade, esculpindo personalidades do reinado nas obras divinas.
c) liberdade, representando a vida de mineiros à procura de salvação.
d) simplicidade, demonstrando compromisso com a contemplação do divino.
e) credibilidade, atendendo a encomendas dos nobres de Minas Gerais.
Questão 4)
   Por onde houve colonização portuguesa, a música popular se desenvolveu basicamente com o mesmo instrumental. Podemos ver cavaquinho e violão atuarem juntos aqui, em Cabo Verde, em Jacarta, na Indonésia, ou em Goa. O caráter nostálgico, sentimental, é outro ponto comum da música das colônias portuguesas em todo o mundo. O kronjong, a música típica de Jacarta, é uma espécie de lundu mais lento, tocado comumente com flauta, cavaquinho e violão. Em Goa não é muito diferente.
De acordo com o texto de Henrique Cazes, grande parte da música popular desenvolvida nos países colonizados por Portugal compartilham um instrumental, destacando-se o cavaquinho e o violão. No Brasil, são exemplos de música popular que empregam esses mesmos instrumentos:
a) Maracatu e ciranda.
b) Carimbó e baião.
c) Choro e samba.
d) Chula e siriri.
e) Xote e frevo.
Questão 5)
Navio negreiro I
‘Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
[...]
‘Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
‘Stamos em pleno mar... Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço. [...]
Castro Alves                            
O contexto histórico, social e político no qual se enquadra boa parte da poética de Castro Alves permite considerá-lo um autor
a) parnasiano, pelo rigor formal e pela eloquência dos versos.
b) modernista da primeira fase, por conta do caráter cotidiano de sua poética.
c) romântico da terceira fase, pelo caráter ideológico e pelo compromisso social.
d) romântico da segunda fase, em virtude do pessimismo escatológico de seus versos.
e) modernista da segunda fase, pela focalização da realidade social brasileira em linguagem concisa.
Questão 6)
Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar.
Florbela Espanca
Disponível em: <http://www.marciaapinheiro.tripod.com/>. Acesso em: 1o jun. 2014.
O poema pertence à poeta portuguesa Florbela Espanca. Florbela ficou conhecida no meio literário como a poeta dos excessos, pois seus textos eram repletos de uma intensidade subjetiva muito forte. Tal característica faz com que o poema anterior se aproxime, em termos de temática, do
a) Barroco.
b) Romantismo.
c) Arcadismo.
d) Simbolismo.
e) Modernismo.
Questão 7)
                    Que havemos de esperar, Marília bela?
                    Que vão passando os florescentes dias?
                    As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
                    E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
                    Ah! Não, minha Marília,
                    Aproveite-se o tempo, antes que faça
                    O estrago de roubar ao corpo as forças
                    E ao semblante a graça.
Lira XIV, parte 1. In: GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997.
O arcadismo foi a estética vigente durante o século XVIII e teve muitas de suas
características resumidas por expressões em latim. No fragmento apresentado, percebe-se predominantemente qual dessas expressões?
a) Fugere urbem, pelo enaltecimento à vida campestre. 
b) Carpe diem, pela consciência da efemeridade existencial. 
c) Inutilia trucat, pelo desprezo ao luxo da vida citadina, breve e fugaz. 
d) Aurea mediocritas, pela busca do semblante e da graça no ambiente pastoril. 
e) Locus amoenus, pela descrição idílica do lugar para o amor material, portanto transitório.
Questão 8)
Leia o poema a seguir
	Dedicatória
	A pomba d’aliança o voo espraia
Na superfície azul do mar imenso,
Rente... rente da espuma já desmaia
Medindo a curva do horizonte extenso...
Mas um disco se avista ao longe... A praia
Rasga nitente o nevoeiro denso!...
Ó pouso! ó monte! ó ramo de oliveira!
Ninho amigo da pomba forasteira!...
Assim, meu pobre livro as asas larga
Neste oceano sem fim, sombrio, eterno...
O mar atira-lhe a saliva amarga,
O céu lhe atira o temporal de inverno...
O triste verga à tão pesada carga!
Quem abre ao triste um coração paterno?...
É tão bom ter por árvore – uns carinhos!
É tão bom de uns afetos – fazer ninhos!
Pobre órfão! Vagando nos espaços
Embalde às solidões mandas um grito!
Que importa? De uma cruz ao longe os braços
Vejo abrirem-se ao mísero precito...
Os túmulos dos teus dão-te regaços!
Ama-te a sombra do salgueiro aflito...
Vai, pois, meu livro! e como louro agreste
Traz-me no bico um ramo de... cipreste!
	(ALVES, C. Espumas flutuantes. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. p.17.) 
 
Acerca do poema, é possível inferir:
a) Como o próprio título sugere, este poema é uma dedicatória construída associando-se a paisagem marítima aos poemas incluídos no livro.
b) A primeira estrofe do poema desvincula-se de uma contemplação melancólica da paisagem marítima associada aos sentimentos do poeta diante da expectativa da morte ou do retorno a sua terra natal.
c) Na terceira estrofe, percebe-se um tom otimista diante do destino do eu lírico. A morte, vista pelos românticos como a melhor solução diante da cruel realidade, é também apontada como caminho a ser buscado e esperado.
d) O poema, assim como diversos presentes no livro, apresenta a sensualidade feminina representada pelas imagens da pomba e do ninho que se destacam nas duas primeiras estrofes.
e) O texto foi elaborado de forma similar ao da Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, demonstrando uma ampla aversão aos temas que pudessem contribuir na construção da identidade nacional.
Questão 9) 
	Soneto
	Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando
Negros olhos as pálpebras abrindo
Formas nuas no leito resvalando
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
	In: Álvares de Azevedo. Seleção de textos de Bárbara Heller, Luís Percival L. Brito e Marisa Lajolo. Sâo Paulo: Abril Educação, 1982. p. 22. Literatura Comentada.
 
Levando-se em conta o autor e a corrente estética em que se enquadra o soneto apresentado, pode-se afirmar que a figura feminina é tratada
a) de forma idealizada e sensualista, como se vê na recorrência à ideia de brancura, palidez e voluptuosidade.
b) de forma sensualista e mórbida, como referência a um cientificismo trágico que também é comum na estética naturalista.
c) de maneira a sentir-se plena e realizada na concretude dos sentimentos amorosos e integrada ao ser amado.
d) sem rebuscamento ou idealização, já que há um profundo sentido de morbidez que arremata o poema.
e) sem fantasia ou valorização sensualista, uma vez que o ultrarromantismo vê a mulher a partir do binômio amor x morte.
Questão 10)
Soneto
Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! o seio palpitando
Negros olhos as pálpebras abrindo
Formas nuas no leito resvalando
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
In: Álvares de Azevedo. Seleção de textos de Bárbara Heller, Luís Percival L. Brito e Marisa Lajolo. Sâo Paulo: Abril Educação, 1982. p. 22. Literatura Comentada.
Levando-se em conta o autor e a corrente estética em que se enquadra o soneto apresentado, pode-se afirmar que a figura feminina é tratada
a) de forma idealizada e sensualista, como se vê na recorrência à ideia de brancura, palidez e voluptuosidade.
b) de forma sensualista e mórbida, como referência a um cientificismo trágico que também é comum na estética naturalista.
c) de maneira a sentir-se plena e realizada na concretude dos sentimentos amorosos e integrada ao ser amado.
d) sem rebuscamento ou idealização, já que há um profundo sentido de morbidez que arremata o poema.
e) sem fantasia ou valorização sensualista, uma vez que o ultrarromantismo vê a mulher a partir do binômio amor x morte.
Questão 11)
O escrivão da armada de Cabral, Pero Vaz de Caminha referindo-se aos indígenas da terra recém-descoberta escreveu:
“E naquilo sempre mais me convenço que são como aves ou animais montesinhos, aos quais faz o ar melhor pena e melhor cabelo que aos mansos, porque os seus corpos são tão limpos, tão gordos e formosos, a não mais poder.” […] “Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E, portanto, se os degredados que aqui hão de fi car aprenderem bem a sua fala e eles a nossa, não duvido que eles, segundo
a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles todo e qualquer cunho que lhes quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o fato de Ele nos haver até aqui trazido, creio que não o foi sem causa. E portanto, Vossa Alteza, que tanto deseja acrescentar à santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E aprazerá Deus que com pouco trabalho seja assim.” […] “Eles não lavram nem criam. Não há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao convívio com o homem. E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.”
CASTRO, Silvio. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996.
De acordo com o texto e seus conhecimentos acerca do Quinhentismo brasileiro, marque a alternativa correta:
a) Caminha, numa visão eurocentrista, exalta a cultura do “descobridor”, menosprezando todos os aspectos referentes ao modo de vida dos nativos, por exemplo, a não exploração daqueles mamíferos placentários exóticos, citados na carta, introduzidos no Brasil quando da colonização.
b) Caminha realiza, através de farta adjetivação, descrições botânicas minuciosas acerca da flora da nova terra, destacando o tipo de alimentação do europeu — rica em vitaminas e sais minerais — em contraposição à indígena, que é rica em lipídios.
c) A religiosidade está presente ao longo do texto, quando se constata que o emissor, tendo em mente a conversão dos índios à “santa fé católica” — pretensão dos europeus conquistadores —, ressalta positivamente a existência de crenças animistas entre os nativos.
d) Na carta de Pero Vaz de Caminha, que apresenta linguagem formal, por ser o rei português
o destinatário, há forte preocupação com aspectos da necessária conversão dos índios ao catolicismo, no contexto de crise religiosa na Europa.
e) Ao realizar concomitantemente a narração e a descrição dos hábitos dos nativos, o remetente destaca informações não só do habitat como dos usos e costumes indígenas, exaltando o cultivo das plantas de lavouras e dos pomares.
Questão 12)
Leia o poema Triste Bahia de Gregório de Matos.
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
(MATOS, Gregório de. In: DIMAS, Antônio, sel., notas. Literatura comentada: Gregório de Matos. São Paulo: Abril Educação, 1980. p. 17.)
Analisando o poema à luz do contexto histórico do Barroco no século XVII, é correto afirmar que:
a) tematiza a questão religiosa, a partir da constatação da decadência da cidade da Bahia.
b) o eu-poético usa um tom satírico para criticar o comportamento das classes sociais menos favorecidas da Bahia seiscentista.
 
c) o sujeito lírico problematiza a exploração das riquezas da Bahia, comparando a decadência da cidade com a sua própria decadência.
d) exemplifica a produção poética do Barroco brasileiro, principalmente no que diz respeito ao caráter iluminista desse movimento. 
e) a expressão máquina mercante refere-se à influência dos produtores de café na economia baiana.
Questão 13)
O artista renascentista italiano Michelangelo Buonarroti produziu sua obra inspirado no modelo do século XVI. Nesse mesmo período, fruto das mesmas ideias, Portugal fez grandes descobertas marítimas, como as cantadas em Os Lusíadas, de Luís de Camões. Acerca do Brasil nesse período, podemos afirmar que
a) produzia arte clássica nos mesmos moldes da pintura apresentada.
b) reproduzia os modelos europeus principalmente na épica camoniana.
c) dava os primeiros passos para a construção de sua história com manifestações literárias documentais e catequéticas. 
d) caminhava para a construção crítica de uma ideia de nacionalismo com a criação do “mito do paraíso terreno”, expresso já na carta de Pero Vaz.
e) copiava os modelos espanhóis, sobretudo na arte sacra, sem imprimir traços de brasilidade por ser uma colônia europeia.
Questão 14) 
	Texto I
	Quando à noite no leito perfumado
	Quando à noite no leito perfumado
Lânguida fronte no sonhar reclinas,
No vapor da ilusão por que te orvalha
Pranto de amor as pálpebras divinas?
E, quando eu te contemplo adormecida
Solto o cabelo no suave leito,
Por que um suspiro tépido ressona
E desmaia suavíssimo em teu peito?
Virgem do meu amor, o beijo a furto
Que pouso em tua face adormecida
Não te lembra no peito os meus amores
E a febre do sonhar de minha vida?
Dorme, ó anjo de amor! No teu silêncio
O meu peito se afoga de ternura
E sinto que o porvir não vale um beijo
E o céu um teu suspiro de ventura!
Um beijo divinal que acende as veias,
Que de encantos os olhos ilumina,
Colhido a medo como flor da noite
Do teu lábio na rosa purpurina,
E um volver de teus olhos transparentes,
Um olhar dessa pálpebra sombria,
Talvez pudessem reviver-me n’alma
As santas ilusões de que eu vivia!
	Álvares de Azevedo                   
	Texto II
	Todo azul do mar
	Foi assim, como ver o mar/ a primeira vez que meus olhos se viram no seu olhar/ Não tive a intenção de me apaixonar/ mera distração e já era momento de se gostar/ Quando eu dei por mim, nem tentei fugir/ do visgo que me prendeu dentro do seu olhar/ Quando eu mergulhei, no azul do mar/ sabia que era amor e vinha pra ficar/ Daria pra plantar todo o azul do céu/ Dava pra encher o universo da vida que eu quis pra mim/ Tudo o que eu fiz foi me confessar escravo do seu amor/livre para amar/ Quando eu mergulhei, fundo nesse olhar, fui dono do mar azul/ de todo azul do mar/ Foi assim, como ver o mar/ Foi a primeira vez que eu vi o mar/ Onda azul, todo azul do mar/ Daria pra beber todo azul do mar/ Foi quando eu mergulhei no azul do mar.
	Flávio Venturini, Ronaldo Bastos, Toninho Horta. 1997.
 
Considerando a leitura dos dois textos anteriores, podemos inferir que
a) diferentemente do que acontecia na poesia nacionalista, o texto de Álvares de Azevedo e o de Flávio Venturini se detêm na subjetividade e no sentimentalismo, evidenciando a visão egocêntrica.
b) o eu lírico do texto I demonstra adoração pela mulher quando afirma “E, quando eu te contemplo adormecida/ Solto o cabelo no suave leito”; o do texto II, diferentemente, não demonstra sentimentalismo nem exagero.
c) como pertencem a momentos históricos diferentes, não há como evidenciar exagero, emoção, idealização e forte subjetividade em ambos os textos. Isso só aparece no texto de Álvares de Azevedo.
d) a antítese aparece no texto de Álvares de Azevedo, quando ele diz “Dorme, ó anjo de amor! No teu silêncio/ O meu peito se afoga de ternura”. Esse recurso estilístico não aparece no texto II.
e) a natureza representa o topo no texto I, enquanto no texto II ela aparece como um recurso pouco importante para exemplificar o sentimento do eu lírico.
Questão 15)
Leia o poema abaixo, de Manuel Botelho de Oliveira (Bahia, 1636-1711), escritor barroco brasileiro:
Eco de Anarda
	Entre males desvelados,
Entre desvelos constantes,
Entre constâncias amantes,
Entre amores castigados;
Entre castigos chorados,
E choros, que o peito guarda,
Chamo sempre a bela Anarda;
E logo a meu mal, fi el,
Eco de Anarda cruel
Só responde ao peito que “Arda”.
	(Música do Parnaso, 1705)
A redundância pode assumir diversas funções num texto artístico. Assinale a alternativa que melhor explique sua
função nesse caso.
a) Sugerir a permanência da amada na memória afetiva do amante.
b) Mimetizar a sinuosa linha da relação afetiva do casal, sugerindo que a amada sofre mais do que o amante.
c) Insinuar a desilusão amorosa do amante diante da crueldade da amada, por meio da imitação das formas ondulantes dela.
d) Sugerir a reiteração das negativas da amada e a das súplicas do amante.
e) Expressar a sonoridade do sofrimento amoroso do poeta.
Questão 16)
     Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres... O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas que levam, de que eu trato, são os outros – ladrões de maior calibre e de mais alta esfera... os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, estes, sem temor nem perigo; os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.
Sermão do bom Ladrão, de Pe. Antônio Vieira.
Em relação ao estilo empregado por Vieira nesse trecho, pode-se afirmar que
a) o autor recorre ao cultismo da linguagem com o intuito de convencer o ouvinte e, por isso, cria um jogo de imagens.
b) Vieira recorre ao preciosismo da linguagem, isto é, através de fatos corriqueiros, cotidianos, procura converter o ouvinte.
c) padre Vieira emprega, principalmente, o conceptismo, ou seja, o predomínio das ideias, da lógica, do raciocínio. 
d) o pregador procura ensinar preceitos religiosos ao ouvinte, o que era prática comum entre os escritores gongóricos.
e) Vieira usa de retórica, através do uso de metáforas, fortalecidas pelo cultismo, estabelecendo a ausência de lógica em seu discurso.
Questão 17) 
	Texto I
	Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
Meu Deus, eu sinto e tu bem
vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
	ABREU, C. Poetas românticos brasileiros. São Paulo: Scipione, 1993.
 
	Texto II
	     A ideologia romântica, argamassada ao longo do século XVIII e primeira metade do século XIX, introduziuse em 1836. Durante quatro decênios, imperaram o “eu”, a anarquia, o liberalismo, o sentimentalismo, o nacionalismo, através da poesia, do romance, do teatro e do jornalismo (que fazia sua aparição nessa época).
	MOISÉS, M; A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1971 (fragmento).
 
De acordo com as considerações de Massaud Moisés no texto II, o texto I centra-se
a) no imperativo do “eu”, reforçando a ideia de que estar longe do Brasil é uma forma de estar bem, já que o país sufoca o eu lírico.
b) no nacionalismo, reforçado pela distância da pátria e pelo saudosismo em relação à paisagem agradável onde o eu lírico vivera a infância.
c) na liberdade formal, que se manifesta na opção por versos sem métrica rigorosa e temática voltada para o nacionalismo.
d) no fazer anárquico, entendida a poesia como negação do passado e da vida, seja pelas opções formais, seja pelos temas.
e) no sentimentalismo, por meio do qual se reforça a alegria presente em oposição à infância, marcada pela tristeza.
Questão 18)
I - Juca Pirama
VIII
“Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
“Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
“Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
“Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas como asco e terror!
[...]
In: Poemas de Gonçalves Dias. Seleção de Péricles Eugênio da Silva Ramos. Rio de Janeiro. Ediouro.
A força dramática do canto VIII de “I - Juca Pirama”, analisada sob a ótica indianista do romantismo brasileiro, decorre
a) das imagens utilizadas na maldição do pai, segundo o filho passaria a ser ente solitário e errante.
b) das sugestões visuais e táteis do texto, que sugerem a superioridade dos timbiras sobre o guerreiro tupi.
c) das representações sinestésicas do texto, que, de acordo com as palavras de um pai envergonado, sugerem o ato de fraqueza do filho.
d) das ideias discutidas ao longo, principalmente, da segunda estrofe do texto, em que as mulheres e amigos de I-juca Pirama também são amaldiçoados.
e) das organizações estruturais das estrofes, marcadas recorrentemente pelo rigor e pelo uso do solene verso decassílabo.
Questão 19)
I - Juca Pirama
VIII
“Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
“Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
“Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
“Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas como asco e terror!
[...]
In: Poemas de Gonçalves Dias. Seleção de Péricles Eugênio da Silva Ramos. Rio de Janeiro. Ediouro.
O poema “I - Juca Pirama” compõe o livro Últimos Cantos, de 1851, do poeta maranhense Antônio Gonçalves Dias. Sabendo-se que tal obra pertence à primeira geração do romantismo, pode-se inferir que nela encontraremos
a) grande força telúrica, sobretudo pela recorrência a elementos da fauna e da flora brasileiras, conforme se vê no fragmento.
b) idealização do índio como elemento simbólico de uma nação que começa a construir sua identidade mesmo esbarrando em influências estéticas “afrancesadas”.
c) valorização do índio como elemento histórico de resistência aos processos de colonização impostos por monarquias europeias.
d) evidências da permanente influência da cultura europeia, que persistirá no Brasil literário até o fim do período que convencionamos chamar de pós-modernismo.
e) profundo sentimento nativista, sobretudo no ato de coragem do pai que intercede pelo filho junto ao chefe timbira temendo por sua vida.
Questão 20)
LIRA XIV
Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura;
Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos Deuses
Sujeitos ao poder ímpio Fado:
Apolo já fugiu do Céu brilhante,
Já foi Pastor de gado.
(...)
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.
In: Marília de Dirceu. Tomás Antônio Gonzaga
Assinale o item que contém o provérbio que melhor expressa os ideais árcades presentes no texto.
a) “Não deixe para amanhã o que pode ser feito hoje”.
b) “Tudo o que sei é que nada sei”.
c) “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando”.
d) “Quem conta um conto aumenta um ponto”.
e) “Depois da tempestade vem sempre a calmaria”.
Questão 21)
Ornemos nossas testas com as flores,
e façamos de feno um brando leito;
prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
gozemos do prazer de sãos amores (...)
(...) aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças
e ao semblante a graça.
Tomás Antônio Gonzaga
A tela de Fragonard retrata o tema do amor em abiente bucólico (conforme os padrões da arte neoclássica do séc. XVIII) e confronta temas árcades comuns aos versos que:
a) revelam a presença não só de formas mais exageradas de inversão sintática – hipérbatos –, como também de comparações excessivas, resíduos do estilo cultista.
b) comprovam a predileção pelo verso branco e pela ordem direta da frase, característicos da naturalidade desejada pelos poetas do Arcadismo.
c) denotam – pela singeleza do vocabulário, pela sintaxe quase prosaica – a vontade de alcançar a simplicidade da linguagem, em oposição à artificialidade do Barroco.
d) se organizam em torno de antíteses, na busca de caracterizar, em atitude pré-romântica, o amor ideal e a pureza do lavor da terra.
e) se constroem pelo desdobramento contínuo de imagens, compondo um quadro em que a emoção é tratada de modo abstrato, de acordo com a convenção árcade.
Questão 22) 
	Texto III
	Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é mentira... se é verdade
Tanto horror perante os céus?...
Ó mar! por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei
os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados,
Que não encontram em vós,
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?...
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa!
Musa libérrima, audaz!
São os filhos do deserto
Onde a terra esposa a luz,
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados,
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão...
Ontem simples, fortes, bravos...
Hoje mísero escravos
Sem ar, sem luz, sem razão...
 
	In: O navio negreiro – Castro Alves.           
É próprio da poesia de Castro Alves tratar do tema da escravidão. Clamando em verso pelos oprimidos, recebeu o epiteto de “O poeta dos escravos”. Tal alcunha justifica-se no poema por meio da linguagem
a) denotativa, que evidencia o aspecto de crônica do cotidiano presente no texto.
b) hiperbólica, para sensibilizar o leitor para a urgência do tema e denunciar as autoridades pela inércia diante da escravidão.
c) referencial, para fazer o leitor assimilar a necessidade de reformas liberais através de uma poesia condoreira.
d) conotativa, que mescla versos ora exclamativos, ora interrogativos, ora reticentes para exprimir ideais libertários.
e) rebuscada de adjetivos macabros que evidenciam elementos próprios do mundo romântico à época do “mal-do-século”.
Questão 23) 
	Texto VIII
	“Oh! Nos meus sonhos, pelas noites minhas
Passam tantas visões sobre meu peito
Palor de febre meu semblante cobre,
Batem meu coração com tanto fogo!”
 
Assinale a alternativa em que se considera o clima romântico expresso nos versos acima característico da poesia do “Byron brasileiro”, Alvares de Azevedo.
a) A expressão exaltada serve nitidamente ao desejo de sublinhar a indignação contra os fatores históricos que sufocam a liberdade do homem.
b) A atmosfera noturna, própria ao devaneio, propicia um suave estado de contemplação poética, dentro do qual o ser encontra docemente harmonizado com o mundo e consigo mesmo.
c) A noite significa não apenas o enquadramento natural, mas meio psicológico, tonalidade afetiva correspondente às disposições do poeta aos movimentos turvos do eu.
d) Os símbolos da luz e do fogo expressam o anseio de uma nova civilização, que o poeta quer ver dirigida pela Razão e pela Justiça, suas bandeiras de luta.
e) Amante fascinado da natureza, o poeta retrata-se em cores fortes e precisas, ciente de que ela representa o plano da harmonia e da serenidade a que todos devemos apreciar.
Questão 24)
A tirinha sugere que no período do Quinhentismo brasileiro
a) as produções textuais tinham por objetivo estabelecer estratégias de guerra contra os habitantes do Novo Mundo.
b) tanto a literatura de informação quanto a literatura de catequese estavam voltadas para o desenvolvimento social da colônia.
c) as produções literárias de informação e de catequese estavam voltadas aos interesses da Coroa e da Igreja.
d) a ideia de Novo Mundo só seria viável para as colônias através da força e da fé.
e) tanto a monarquia quanto o clero divergiam quanto ao método de catequização dos indígenas.
Questão 25)
Texto I
MORALIDADE SOBRE O DIA DE
QUARTA-FEIRA DE CINZAS
Que és terra, homem, e em terra hás de tornar-te,
Te lembra hoje Deus por sua Igreja,
De pó te faz espelho, em que se veja
A vil matéria, de que quis formar-te.
Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te,
E como o teu baixel sempre fraqueja
Nos mares da vaidade, onde peleja,
Te põe à vista a terra, onde salvar-te.
Alerta, alerta pois, que o vento berra,
E se assopra a vaidade, e incha o pano,
Na proa a terra tens, amaina, e ferra.
Todo o lenho mortal, baixel humano
Se busca a salvação, tome hoje terra,
Que a terra de hoje é porto soberano.
A quarta-feira de cinzas, de Gregório de Matos.
Texto II
DEBAIXO DO TAMARINDO
No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!
Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos,
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da flora brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!
Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,
Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade
A minha sombra há de ficar aqui!
Debaixo do tamarindo, de Augusto dos Anjos.
Comparando os aspectos formais dos dois textos, podemos afirmar que
a) o texto I obedece a regras clássicas de composição, fato que não ocorre no texto II, que é assimétrico como os poemas modernistas.
b) ambos trazem o rigor clássico por serem sonetos com versos de decassílabos.
c) os dois têm versos livres e brancos no melhor do estilo barroco seiscentista.
d) o texto II difere do texto I na métrica e na rima.
e) ambos são ótimos exemplos do cultismo gongórico do poeta baiano Gregório de Matos.

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