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Aula 8 A origem da mais-valia Profª Dayani Aquino Objetivo: – Analisar a transformação do dinheiro em capital de modo a desvendar a origem da mais-valia: 1. A fórmula geral do capital 2. Contradições da fórmula geral 3. Compra e venda da força de trabalho 1. A fórmula geral do capital • Circulação simples de mercadorias: M – D – M – A mercadoria é o ponto de partida e de chegada, portanto esgota-se no segundo M as relações de troca possíveis – A continuidade das mudanças de forma da mercadoria só poderia se dar se um novo M fosse produzido pelo tecelão e novamente trocado por dinheiro: ML – D – MB – ML – D – MT – ML – D ... • Onde: ML = mercadoria linho; D = dinheiro; MB =mercadoria Bíblia; MT =mercadoria trigo, etc Circulação simples de mercadorias • Entretanto, para que o tecelão consiga novamente produzir linho para venda, ele não pode esgotar todo seu dinheiro na compra da bíblia, portanto destaca-se da circulação simples um circuito muito importante que é: ML – D – MB – ML – D – MT – ML – D ... • Significa dizer que da venda do primeiro linho o tecelão poderia gastar apenas uma pequena parte de D na compra da bíblia (e de outras mercadorias de consumo pessoal) o restante de D deveria ser direcionado para nova produção de linho, ou seja, dinheiro (D) transforma-se em capital. • De forma abreviada, portanto, a fórmula que interessa ao capitalista ou a fórmula do capital será: D – M – D Características da fórmula geral do capital D – M – D • O ponto de partida e de chegada é o dinheiro • O objetivo final do capital nunca pode ser o consumo pessoal e sim um novo processo de produção de mercadorias para venda, portanto, visa sempre o valor de troca • D inicial e final são qualitativamente iguais: ambos são dinheiro • D inicial e D final não podem ser quantitativamente iguais, pois não se troca dinheiro por igual quantidade de dinheiro, um capitalista não adianta um quantia D para recuperar no final a mesma quantia D. • De fato da fórmula completa do capital é D – M – D’ Fórmula geral do capital D – M – D’ • Um capitalista adianta uma quantidade de dinheiro (D) na compra de mercadorias (M) para, após vendê-las, adquirir uma quantidade D’ de dinheiro. • Portanto, D’ = D + ∆D • A esse ∆D Marx chama demais-valia. Princípio da troca de equivalentes • Origem do valor: vimos que somente o dispêndio de força de trabalho é que gera valor, portanto, o valor não nasce da troca, não nasce da circulação de mercadorias, não nasce da venda de mercadorias, mas somente da produção de mercadorias – Esfera da produção: onde o valor é produzido – Esfera da circulação: onde o valor é circulado, por meio da circulação de mercadorias • Marx sempre supõe a troca de equivalentes: na circulação de mercadorias, portanto deve vigorar o princípio da troca de equivalentes: certa quantidade de trabalho (ou sua expressão monetária) deve ser sempre trocada por igual quantidade de trabalho Princípio da troca de equivalentes • É evidente que nas trocas cotidianas um vendedor pode tentar passar o outro para trás e vender sua mercadoria por um preço acima do valor (e freqüentemente isso acontece). • O ponto central aqui é entender que a origem do valor não pode ser buscada nestes atos de trapaça, pois um vendedor pode vender mais caro aqui, mas comprar mais caro ali e assim sua vantagem desparece. • Portanto, quando se pretende construir uma explicação real de qual é a origem do valor, deve-se ter como hipótese a troca de equivalentes, ou seja, que as compras e vendas se dão pelos seus respectivos valores. • A pergunta importante é: como D – M – D’ respeita a troca de equivalentes? Há aí uma contradição aparente... Quadro comparativo Circulação simples de mercadorias M – D – M Fórmula geral do capital D – M – D ‘ Ponto de partida e de chegada é M Ponto de partida e de chegada é D Objetivo é o consumo pessoal: valor de uso Objetivo é o consumo produtivo: valor de troca M inicial e M final são qualitativamente diferentes: são diferentes valores de uso D inicial e D final são qualitativamente iguais: ambos são dinheiro M inicial e M final são quantitativamente iguais: respeitando-se a troca de equivalentes: ambos contém a mesma quantidade de trabalho, logo mesma expressão monetária D inicial e D final não podem ser quantitativamente iguais, pois não se troca dinheiro por igual quantidade de dinheiro, mas D inicial e D final não poderiam ser quantitativamente diferentes se quisermos respeitar a troca de equivalentes. Como Marx resolve esta aparente contradição? 2. Contradição da fórmula geral • Dado o princípio da troca de equivalentes, a fórmula D – M – D’ , contem uma contradição aparente: • Se na circulação as mercadorias devem ser trocadas por seus equivalentes, e na circulação do capital D inicial deve ser menor do que D final, então de onde surge o ∆D (a mais-valia) de modo que a troca de equivalente possa ser mantida na esfera da circulação? • O possuidor de dinheiro deve comprar mercadorias por seu valor e vendê-las por seu valor e mesmo assim extrair no final do processo mais-valia. • Qual é, portanto, a origem da mais-valia? 3. Compra e venda da força de trabalho • Marx demonstra a origem da mais-valia a partir do ato de compra e venda da força de trabalho (FT). • Força de trabalho é o conjunto de capacidades físicas e mentais do trabalhador postas em exercício durante a jornada de trabalho • No capitalismo a força de trabalho se transforma em mercadoria, pois o trabalhador vende (aliena) sua força de trabalho diária em troca de um valor. Entretanto, devemos saber que a força de trabalho é uma mercadoria muito especial, pois é a única capaz de gerar valor. Requisitos para FT tornar-se mercadoria • A força de trabalho só se torna mercadoria quando: (i) é vendida “livremente” por um período de tempo limitado; Ou seja, o trabalho despedido torna-se trabalho assalariado, não se estabelece mais relações servis (nem escravistas) (ii) o trabalhador não possa vender o produto de seu trabalho. Ou seja, o trabalhador seja expropriado da propriedade da terra e dos meios de produção Valor de uso da FT • Valor de uso da Força de Trabalho: No caso da mercadoria força de trabalho seu valor de uso é a capacidade de satisfazer a necessidade do capitalista de expandir seu capital, ou seja, o valor de uso da força de trabalho é sua capacidade de gerar valor ou, o que dá no mesmo, o valor de uso da força de trabalho é sua capacidade de trabalhar. • Em determinada jornada de trabalho o valor de uso da força de trabalho gera uma valor total que podemos chamar de L (do inglês living labour = trabalho vivo) Valor da FT • Valor da Força de Trabalho (v): a força de trabalho existe enquanto capacidade de trabalho, portanto essa capacidade precisa ser reconstituída diariamente. Assim, o valor da força de trabalho corresponde à quantidade de trabalho socialmente necessária para produzir os elementos de consumo que restaurem a capacidade de trabalho consumida durante a jornada de trabalho mais a formação de uma força de trabalho futura que venha substituir a presente (seus filhos). As necessidades de consumo do trabalhador não são apenas biológicas, mas também histórico-sociais. Origem da mais-valia (m) • A mais-valia emerge, portanto, do fato de que o capitalista paga à força de trabalho o seu valor, isto é, a quantidade de trabalho equivalente à cesta de consumo necessária à reprodução dos trabalhadores, mas recebe em troca o direito de usufruir do valor de uso dela, ou seja, de usufruir de sua capacidade de trabalho durante um determinado períodoque corresponde à jornada de trabalho. • O ponto central é que o valor gerado ao longo da jornada de trabalho pelo desfrute do valor de uso da força de trabalho é maior do que o próprio valor da força de trabalho. A figura a seguir ilustra este ponto: • Na figura, v é o valor da força de trabalho, m é a mais-valia e L é o trabalho vivo ou valor novo criado pelo desfrute do valor de uso da força de trabalho. Note que L é maior do que v (isso é garantido pelo nível de produtividade do trabalho alcançado no capitalismo), assim, o que excede v é apropriado pelo capitalista como mais-valia. Portanto, a mais-valia é trabalho alheio apropriado sob a legitimação da propriedade privada. Supondo uma jornada de trabalho de 12 horas, temos: m = L – v Nas esferas da circulação e da produção temos: D = dinheiro adiantado M = mercadorias MP = meios de produção FT = força de trabalho P = processo produtivo M’ = mercadorias novas acrescidas de valor D’ = D + ∆D, dinheiro adiantado + mais-valia v = valor da FT m = mais-valia | | | ..... ..... ' 6 6 MP D M P M' D FT v h m h jornada de trabalho=12 horas − − − −− − − − − − − − − − ↓ = = 14243 64748 64748 14444244443 Antecipando... • Do exposto segue que o trabalho é a única fonte de valor. • Pergunta: mas as máquinas utilizadas para produzir as mercadorias M’, equivalentes aos meios de produção, não criam valor? NÃO! • Veremos mais tarde que o valor dos meios de produção (máquinas, instrumentos, matérias-primas etc.) entram no valor final da mercadoria, mas não criam novo valor, porque são valor já existente ou trabalho morto: • VM’ = valor dos meios de produção + v + m trabalho morto trabalho vivo Conclusão • A força de trabalho é a fonte do valor. • A força de trabalho é colocada para trabalhar durante uma jornada em que ela reproduz seu próprio valor (v) e além dele valor excedente. • Este valor excedente é a mais-valia (m): valor criado pelo trabalhador, mas não pago a ele • A mais-valia nasce, portanto, da esfera da produção e nunca da esfera da circulação – Capital comercial e capital financeiro não geram mais-valia, seus rendimentos são, em geral, partes da mais-valia produzida pelos trabalhadores do capital industrial (produtivo) Questões • Qual é a contradição da fórmula do capital? • Demonstre a origem da mais-valia, segundo Marx. Referências • Capítulo IV: Cap. IV – Transformação do dinheiro em capital. In: MARX, K. (1985) O capital: crítica da economia política . Livro I, vol. I. São Paulo: Abril Cultural. Coleção "Os Economistas”.
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