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Introdução: conectando vida e pesquisa MILLS, Wright. Do artesanato intelectual. BEAUD, Stéphane; WEBER, Florence. Guia para a pesquisa de campo. Produzir e analisar dados etnográficos.

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Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais
Metodologia da Pesquisa em Ciências Sociais
Letícia Mara Sales
Primeira resenha
Primeira sessão: Introdução: conectando vida e pesquisa 
MILLS, Wright. Do artesanato intelectual. 
BEAUD, Stéphane; WEBER, Florence. Guia para a pesquisa de campo. Produzir e analisar dados etnográficos. 
No capítulo “Do artesanato intelectual”, o autor Wright Mills faz um apelo para que sociólogos não deixem a imaginação e a criatividade de lado, ao exercerem sua profissão, em favor de uma pretensa objetividade e neutralidade do trabalho científico. Para o autor as grandes obras e os grandes intelectuais da história nunca abriram mão de sua reflexividade e criatividade, além de uma postura crítica diante da realidade.
Para ele a ciência social é um ofício, sendo muito melhor acreditar em uma exposição feita por um estudioso, sobre como ele realiza seu trabalho, do que “uma dúzia de codificações de procedimento por consequência”; é pela conversação dos pensadores sobre suas formas práticas de trabalho que é possível transmitir aos estudantes iniciantes a capacidade de entender a utilidade de método e teoria. Visto isso, ele acredita que assim ele deve expor como realiza seu ofício.
A primeira colocação do autor, extremamente relevante para aqueles que pretendem iniciar um trabalho independente, é se atentar de que os pensadores mais admiráveis dentro do campo intelectual que escolheram, não separam seu trabalho de suas vidas. Nesse sentido, é preciso que o estudante reconheça que, como intelectual, tem a oportunidade de estabelecer um modo de vida que estimule os hábitos do bom trabalho, formando seu próprio “eu” a medida que se aproxima do seu ofício, para que isso aconteça, é preciso aprender a usar a experiência de sua vida no seu trabalho de forma contínua. 
Não somente, o autor diz ser importante controlar a influência do passado no presente, além de saber que é preciso isolar o que se experimenta e usar dessa forma um tipo de guia e prova das próprias reflexões; nesse processo, se molda o artesão intelectual, presente no centro de si mesmo. Para fazer isso ele diz que é preciso organizar uma espécie de arquivo, ou um diário. Nele deve-se descrever as experiências pessoais e atividades profissionais, além dos estudos elaborados e estudos planejados; também é preciso anotar o que está fazendo intelectualmente e o que se experimenta como pessoa.
Esse hábito do uso do diário estimula a retenção do que ele chama de “pensamentos marginais”, que são várias ideias do que é a vida diária, sonhos, pensamentos soltos, conversas ouvidas na rua, e assim por diante. Uma vez que esses pensamentos são anotados, inibem que sejam repetidos e permite que o trabalho desenvolva, pois, o uso de anotar todas as ideias faz com que ele desenvolva a capacidade de expressão e mantém a experiência controlada.
Dessa forma ele faz uma crítica que ocorre com a maioria dos cientistas sociais: a necessidade de escrever seus planos somente quando vão pedir financiamento para uma pesquisa ou projeto. E então, ele retoma sua obra escrevendo que é importante que para tudo se tome notas, e deu o exemplo de tomar notas dos livros que lemos, pois ao ler certos livros tentamos aprender a estrutura de argumentação do autor e ao tomar notas, quando futuramente voltarmos a ler tal livro, ao invés de lermos ele inteiro, captaremos a essência das notas tomadas anteriormente.
Segundo o autor esse arquivo de produção intelectual deve ser usado de modo que acarrete crescente ideias e fatos desde os mais vagos aos mais precisos. Pois daí, saem as ideias (que começam e terminam nele) para a preparação de um esboço, reunindo itens isolados e ligações impercebíveis. A junção desses pontos a partir do arquivo é a tentativa de uma combinação de ideias e notas sobre diferentes fatos. No material existente do autor, ele encontrou três tipos de entendimento: várias teorias relacionadas com o tópico, material já utilizado por outros (como comprovação dessas teorias, suponho que notas de livros lidos), e material já reunido em fases de centralização (mas ainda não transformado em material relevante). E então ele diz, que somente depois desse esboço de uma teoria, a partir desse material existente, ele pode localizar com eficiência suas afirmações e sugestões centrai para planejar pesquisas e poder confirmá-las.
Nessa perspectiva o autor indaga “Como ocorrem essas ideias? Como é a imaginação estimulada a colocar juntos todas as imagens e fatos, a torná-las relevantes e dar sentido a eles?”, e para responder, ele diz que não há uma fórmula, porém ele fala do que chama de “imaginação sociológica”, que consiste na capacidade de passar de uma perspectiva a outra, que distingue o cientista social do técnico, já que os técnicos são treinados, e a imaginação sociológica tende a ser cultivada.
A imaginação é convidativa, e as formas de dar espaço a ela é “mais ou menos despreocupada”. Pode-se procurar sinônimos para cada um dos “termos-chave” nos dicionários e livros para conhecer melhor as conotações e aperfeiçoar os termos do problema com maior precisão; nos casos de material qualitativo, pode-se classificá-lo, obtendo assim novos tipos além de poder criticar; trabalhar termos de “sim-ou-não” nos estimula a pensar extremos opostos, o que segundo o autor é bom, pois a análise qualitativa não pode proporcionar frequências ou grandezas; escrever é pretender a atenção dos leitores, isso também é uma forma de “atiçar” a imaginação sociológica, já que é preciso pensar para quem está escrevendo, além de dar importância a dificuldade e complexidade do assunto e o status que o pesquisador pretende a si mesmo.
E dessa forma, o autor deixa alguns “preceitos e avisos” para uma melhor compreensão do artesanato intelectual, este, sugerindo que sejamos um bom artesão e busquemos usar e desenvolver a imaginação sociológica, sem que, deixemos de ser esse artesão para buscar métodos e técnicas que repreendem; ele também nos aconselha a sermos simples nas afirmações, que estas, sejam claras e que só usemos termos complicados quando acreditarmos firmemente que a sua utilização amplia o âmbito de nossas sensibilidades. Que estudamos estruturas sociais amplas, de forma que possamos estudar detalhadamente de modo a compreender a influência mútua entre eles e a estrutura; e termina dizendo que são os nossos estudos “em jogo”, são parte do que somos parte, não podemos deixar que nos sejam tirados por pretensões de somente uma especialização.
Não distante dessa procura por um campo e um objeto, as autoras Stéphane Beaud e Florence Weber iniciam o capítulo dizendo que a escolha do tema de pesquisa é delicado, difícil e determinante, e então, no primeiro parágrafo elas fazem várias perguntas que ajudam a questionar sobre a escolha desse tema. Como se fosse um “passo-a-passo” de como escolher um tema e um campo. 
Segundo elas, alguns já tem essa escolha feita, e outros, terão um momento de inquietação e dúvida. A primeira dificuldade exposta pelas autoras é o princípio sobre o qual se fundamenta a pesquisa de campo, já que a sociologia é uma disciplina teoria e isso a faz ser capaz de dar respostas globais dos quais não precisa de resposta. Dessa maneira, a pesquisa de campo é limitada, específica e local, o que ao meu ver, contrasta um pouco com a ideia do autor Wright Mills, quando o mesmo nos diz para procurar grandes resultados. 
As autoras fazem um subtítulo do que se convém evitar na pesquisa de campo, e o que confirma essa ideia é que elas mencionam que uma pesquisa de campo é limitada tanto no tempo quanto no espaço. A duração para se fazer uma tese é curta, para tanto, é importante e necessário que não se coloque em armadilhas como grandes temas e pesquisas vagas.
Para aqueles que não conseguem encontrar um tema de pesquisa, as autoras falam que é preciso correr o risco de escolher assuntos que “chocam a imaginação” pela estranheza, pelo que parece bizarro, exótico e pelo que causa curiosidade. Elas dizem que em sociologia os pesquisadores(sejam docentes ou estudantes) tem o gosto pelo “não-conformismo”, e esse gosto é o que ajuda a escolha desse exótico mencionado por ela. Porém, os temas exóticos podem permitir que muitas vezes se esqueça o que é essencial do tema, fazendo com que a pesquisa se perca. Além disso, a autora também diz que é preciso ter noção de que nem todos os temas são interessantes ou relevantes para um tema de pesquisa de campo.
Então a partir disso, os princípios que encaminham a escolha de um tema ficam claros: é preciso trabalhar com um tema que interesse, que questione; o tema deve ser objeto de forma que seja realizável no período de tempo proposto e além disso, a escolha de pequenos objetos de pesquisa, fazendo de uma questão geral, em objeto empírico.
Para que uma pesquisa de campo seja possível, é necessário que exista de objetos, lugares, escritos, algo de que se possa falar, mas o importante, segundo as autoras, é que essas questões venha do próprio pesquisador, ou seja, questões que o pesquisador tenha vontade de colocar para a sociedade mas que ele coloca a si mesmo. Para exemplificar isto, elas citam Wright Mills, onde o autor diz que para o trabalho intelectual, é preciso aprender a usar a experiência adquirida ao longo da vida, para isso é preciso interpretá-la. Ou seja, o passado ressurge no presente, e influencia nas experiências que estão por vir.
Ao escolher um tema familiar, as criadoras do texto dizem que o mais seguro é desambientalizar do tema para conseguir enxergar o mundo social, e assim poder fazer uma “conversão do olhar”.
Mais importante que a escolha do tema, é a escolha do campo, já que este, permite transformar uma questão vaga em um objeto empírico. Ao começar a procurar um campo de acordo com as próprias atividades profissionais, universitárias, associativas, esportivas, religiosas, etc, e depois de tentar definir um alvo que não seja muito familiar, é chegada a hora de escolher o campo e o objeto da pesquisa. Ambos são inseparáveis, não há um bom objeto sem um bom campo e vice-versa.
Sabendo disto, é importante se atentar no que a autora chama de “os campos difíceis e os campos próximos”. Para os campos difíceis, ela fala de certas impossibilidades materiais que não dependem exclusivamente do pesquisador, como pesquisas que sejam custosas em tempo e seria preciso pedir solicitações que demoram pra serem outorgadas (na maioria das vezes em instituições). Há também ambientes que exigem muita experiência e capacidade para impor-se como pesquisador.
Para os campos próximos, Beaud e Weber falam sobre o ajustamento do método de pesquisa no assunto escolhido para tal. Tornar-se pesquisador quando se é participante, supõe uma distância que não é possível para que haja impressões de estranhamento, já que tudo pode parecer natural e evidente, tendo a impressão de que se sabe tudo.
Para tanto, ambas terminam tal capítulo nos dizendo que a pesquisa é uma aprendizagem modéstia, onde os erros nos fazem progredir e o encaminhamento e desenvolvimento da pesquisa fazem aparecer outros objetos e questões que não eram propostas no início do nosso ponto de partida. É preciso então, aceitar os ensinamentos do campo que lhe ditam a um outro objeto (talvez mais seguro e certo que o primeiro) que também pode ser interessante para a pesquisa.

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