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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL - MATERIAL DIDATICO

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Curso de Direito
Material Didático
TEORIA GERAL DO direito civil 
UNIDADE I : A CODIFICAÇÃO DO DIREITO CIVIL
1. SENTIDO DA CODIFICAÇÃO
O que é um código? 
Trata-se de uma lei que busca disciplinar integral e isoladamente uma parte substanciosa do direito positivo. Assim, codificação nada mais é que um processo de organização, que reduz a um único diploma diferentes regras jurídicas da mesma natureza, agrupadas segundo um critério sistemático.
2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS
O antecedente histórico é necessário para se falar sobre a codificação do Direito Civil é, sem dúvida, o Direito Romano. 
Segundo o professor Francisco AMARAL afirma: o “legado do direito romano, até hoje existente na cultura do mundo ocidental, traduz-se em alguns institutos de direito civil, como a teoria da personalidade, a capacidade de direito, a teoria dos bens e nos direitos reais, a teoria da posse, a teoria geral das obrigações e a sucessão. E ainda, como princípios fundamentais, a liberdade, no sentido de uma esfera de atividade própria de cada indivíduo, e a existência e reconhecimento de direitos certos e precisos do cidadão. Dessa crença na liberdade surgiu o princípio da autonomia da vontade e a propriedade, como direito subjetivo absoluto” (in Direito Civil – Introdução, 3 ed., Rio de Janeiro : Renovar, 2000, p. 113). 
3. CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL
Neste aspecto, avalia o professor Orlando Gomes: “Essa condensação dos valores essenciais do direito privado passou a ser cristalizada no direito público. Ocorreu nos últimos tempos o fenômeno da emigração desses princípios para o Direito Constitucional. A propriedade, a família, o contrato, ingressaram nas Constituições. É nas Constituições que se encontram hoje definidas as proposições dos mais importantes institutos do direito privado”. (In agonia do Código Civil – Editora Ciência Jurídica, s.d. p. 76.). 
Por tudo isso, a Constituição Federal, consagrando valores como a dignidade da pessoa humana, a valorização social do trabalho, a igualdade e proteção dos filhos, o exercício não abusivo da atividade econômica, deixa de ser um simples documentos de boas intenções e passa a ser considerada um corpo normativo superior que deve ser direitamente aplicado às relações jurídicas em geral, subordinando toda a legislação ordinária.
4. O CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO
Em 1969, foi criada uma nova Comissão para rever o Código Civil, preferindo elaborar um novo Código em vez de emendar o antigo (1916).
Tal comissão, composta por JOSÉ CARLOS MOREIRA ALVES, AGOSTINHO DE ARRUDA ALVIM, SYLVIO MARCONDES, EBERT CHAMOUN, CLÓVIS DO COUTO E SILVA e TORQUATO CASTRO, sob a coordenação de MIGUEL REALE, apresentou, em 1972, o seu Anteprojeto de Código Civil.
Ao ser analisado no Congresso, recebeu inúmeras emendas e ficou paralisada sua tramitação.
Depois de adormecido por longos anos, o projeto foi retornado no Senado, com a relatoria do Senador JOSAPHAT MARINHO, que conseguiu reavivar o interesse na tramitação do novo Código Civil, sendo aprovado naquela Casa Legislativa, para retorno à Câmara dos Deputados. (sistema bicameral).
Na câmara dos Deputados, foi designado como Relator o Deputado RICARDO FIUZA. Após as tramitações, (inclusive como a aprovação da Resolução CN n. 1, de 31-12-2000) permitiu a revisão do projeto do Código Civil.
No ano de 2001, o projeto foi finalmente levado a votação, após as “atualizações” procedidas pelo relator, Deputado RICARDO FIUZA, sendo aprovado por acordo de lideranças e levado à sanção presidencial.
Em solenidade realizada no Palácio do Planalto, foi sancionado, sem vetos, o projeto aprovado na Câmara dos Deputados, convertendo-se na Lei n°. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (publicada no Diário da União de 11-1-2002), o Código Civil Brasileiro, que, dentre outras modificações, consagra a unificação parcial do direito privado (obrigações civis e comerciais).
5. PRINCÍPIOS NORTEAODRES DO CÓDIGO CIVIL DE 2002
5.1. Princípio da Eticidade: na busca de compatibilização dos valores técnicos conquistados na vigência do Código anterior, com a participação de valores éticos no ordenamento jurídico.
5.2. Princípio da Socialidade: surge em contrapartida à ideologia individualista e patrimonialista do sistema de 1916. Por ele, busca-se preservar o sentido da coletividade, muitas vezes em detrimento de interesses individuais. Por isso, foram positivados no prestígio à função social do contrato e à natureza da posse.
5.3. Princípio da Operabilidade: importa na concessão de maiores poderes hermenêuticos ao magistrado, verificando, no caso concreto, as efetivas necessidades a exigir a tutela jurisdicional. 
UNIDADE II : lei de introdução ao direito brasileiro (Redação dada pela Lei nº 12.376, 30 de dezembro de 2010). – LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL (Decreto Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942)
1. O OBJETIVO DE UMA LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL
A finalidade da Lei de Introdução ao Código Civil brasileiro é muito mais ampla do que a primeira intelecção literal possa depreender.
Na definição da Professora Maria Helena Diniz�, sua função, não é, tecnicamente, reger relações sociais, “mas sim as normas, uma vez que indica como interpretá-las ou aplicá-las, determinando-lhes a vigência e eficácia, suas dimensões espácio-temporais, assinalando suas projeções nas situações conflitivas de ordenamento jurídicos nacionais e alienígenas, evidenciando os respectivos elementos de conexão. Como se vê, engloba não só o direito civil, mas também todos os diversos ramos do direito privado e público, notadamente a seara do direito internacional privado. A lei de Introdução é o Estatuto de Direito Internacional Privado�; é uma norma cogente brasileira, por determinação legislativa da soberania nacional, aplicável a todas as leis”. 
Assim, trata-se de uma norma máxima de hermenêutica, que, além da evidente importância para a soberania nacional, regula a vigência e a eficácia de todas as outras, trazendo critérios para os seus conflitos no tempo e no espaço, bem como estabelecendo parâmetros para a interpretação normativa (art. 4º) e garantindo a eficácia global do ordenamento positivo, ao não admitir o erro de direito (art. 3º) e ao reconhecer a necessidade de preservação das situações consolidadas em que o interesse individual prevalece (art. 6º). 
2. VIGÊNCIA, VALIDADE, EFICÁCIA E VIGOR DAS NORMAS
2.1. Da Vigência: é um critério puramente temporal. Refere-se, precisamente, ao período de validade da norma, ou seja, o lapso temporal que vai do momento em que ela passa a ter força vinculante até a data que é revogada ou em que se esgota o prazo prescrito para sua duração (no caso de normas temporárias).
2.2. Da validade: A noção de validade da norma é um aspecto dogmático fundamental, pois significa a sua identificação como compatível ao sistema jurídico que integra, sendo um critério puramente lógico-formal.
A validade de uma norma pode se verificar sob dois aspectos:
2.2.1. Formal: observância das normas referentes a seu processo de criação. Assim, enfocando uma regra de validade sobre o momento da edição normativa, temos como exemplos os §§ 1º e 2º do art. 60 da CR/88. Qualquer emenda constitucional que não observe tal procedimento será formalmente inválida.
2.2.2. Material: se houve observância da matéria passível de normatização (ex. CR/88, arts. 21 a 24, 29 e 30, 48, etc) por parte das entidades federativas, ou se houve incompatibilidade de conteúdo. Reforçando a questão, temos como competência privativa da União, o disposto no art. 22 da CR/88, sendo inconstitucional qualquer norma estabelecida por outra entidade federativa em relação à matéria ali constante.
2.3. Da Eficácia: é a qualidade da norma que se refere à aptidão paraa produção concreto de efeitos. Do ponto de vista teórico, a eficácia pode ser:
2.3.1. Social : produção concreta de efeitos, porque presentes as condições fáticas exigíveis para seu cumprimento. (ex. uso obrigatório de equipamento não existente no mercado (sem qualquer eficácia social / uso obrigatório do cinto de segurança/CNT, poder coercitivo - multas).
2.3.2. Técnica : produção de efeitos, porque presentes as condições técnico-normativas exigíveis para sua aplicação. (vide inciso I do art. 7º da CR/88).
2.4. Do Vigor das Normas (ou força da norma) : diz respeito à força vinculante da norma, isto é, à impossibilidade de os sujeitos subtraírem-se ao seu império.
Na abalizada opinião do professor TÉRCIO SAMPAIO FERRAZ JR, avalia: “é possível dizer, diante do exposto, que uma norma pode ser válida, mas não ser ainda vigente (caso da vacatio legis�); ser válida e vigente, mas não ter eficácia (tanto no sentido da efetividade quanto de eficácia técnica); não ser válida nem vigente e, no entanto, ter força ou vigor, o que fundamenta a produção retroativa dos efeitos (ultratividade), isto é, embora revogada, ela ainda conserva sua força vinculante e pode, por isso, produzir concretamente efeitos”. 
 
3. APLICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS
A norma jurídica é, em si, abstrata, apenas trazendo previsões impessoais e genéricas regular indefinidamente as relações da sociedade. Quando determinado fato individual se enquadrar perfeitamente no conceito abstrato da norma, estará o aplicador realizando o que se convencionou a chamar de subsunção do fato à norma, o que impõe uma adequada interpretação do conteúdo normativo.
Todavia, nem sempre é possível encontrar tão facilmente a norma aplicável ao caso concreto, devendo o magistrado se valer das fontes do Direito (Lei, costumes, jurisprudência, doutrina, analogia, princípios gerais do direito e na eqüidade) para, em caso de omissões legislativas, realizar a chamada integração normativa.
3.1. Interpretação das normas: a hermenêutica jurídica tem por objeto o estudo sistemático das técnicas de interpretação da norma jurídica. Toda norma precisa ser interpretada para que revele sua significação e a regra que é o seu sentido.
A finalidade da interpretação normativa é: 1. revelar o sentido da norma e, 2. fixar seu alcance.
Várias técnicas são utilizadas pelo aplicador do direito na tarefa de interpretar a norma, sendo os métodos mais conhecidos:
→ literal: também conhecido como interpretação gramatical;
→ lógico: utilização de raciocínios lógicos (dedutivos ou indutivos) para análise metódica da norma em toda sua extensão, desvendando-se seu sentido e alcance.
→ sistemático: análise da norma a partir do ordenamento jurídico de que é parte, relacionando-a com todas as outras com o mesmo objeto, direita ou indiretamente.
→ histórico: análise da norma partindo da premissa dos seus antecedentes históricos.
→ finalístico ou teleológico: análise da norma tomando como parâmetro a sua finalidade declarada, adaptando-se às novas exigências sociais. 
3.2. Aplicação temporal das normas: Para que uma norma, em regra, seja aplicável, é preciso que esteja vigente. Essa vigência surge, para o Direito, com a publicação no Diário Oficial, o que faz presumir o conhecimento de todos sobre a regra.
Por uma ficção jurídica, imposta pelo art. 3º, da LICC, ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece.
A obrigatoriedade da lei, pois, somente surge a partir de sua publicação oficial, mas esse fato não implica, necessariamente, vigência e vigor imediatos.
De fato, salvo disposição em contrário, a lei começará a vigorar em todo o País somente quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada, conforme consta no caput do art. 1º LICC. Exceção, da obrigatoriedade em Estados estrangeiros, tal vigor somente se iniciará três meses depois da publicação. 
Por fim, para que a nova lei vigore imediatamente, portanto, é preciso que conste expressamente tal fato em seu corpo. 
3.3. Conflito de normas no tempo (Direito Intertemporal): No conflito temporal de leis, deverá ser aplicada a lei nova ou a lei velha às situações cujos efeitos invadirem o âmbito temporal da lei revogadora mais recente? Em prol da segurança jurídica, o art. 6º da LICC dispõe que as leis em vigor terão “efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”.
A respeito do ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e à coisa julgada, imposto constitucionalmente (vide CR/88, art. 5º XXXVI), concretiza o princípio que as leis civis não têm retroatividade, uma vez que os seus efeitos esbarram nessas situações.
A lei civil, portanto, assim como toda lei em geral, é irretroativa.
No direito de família, por exemplo, observe-se que os direitos de natureza alimentar e sucessória do convivente somente foram reconhecidos a partir da vigência da Lei 8.971/94. Assim, as uniões estáveis extintas antes do advento dessa lei não foram atingidos por seus efeitos.
3.4. Aplicação especial de normas: em razão do conceito de soberania estatal, a norma deve ser aplicada dentro dos limites territoriais do Estado que a editou. Trata-se do princípio de territorialidade, decorrente necessariamente da concepção tradicional do Estado, como reunião dos elementos: povo, governo e território.
Dessa forma, como ensina MARIA HELENA DINIZ�: “sem comprometer a soberania nacional e a ordem internacional, os Estados modernos têm permitido que, em seu território, se apliquem, em determinadas hipóteses, normas estrangeiras, admitindo assim o sistema da extraterritorialidade, para tomar mais fáceis as relações internacionais, possibilitando conciliar duas ou mais ordens jurídicas pela adoção de uma norma que dê solução mais justa”.
É fácil constatar a adoção, pelo Brasil, do princípio da territorialidade moderada, uma vez que a LICC, simultaneamente, admite regras de territorialidade (arts. 8º e 9º) e de extraterritorialidade (arts. 7º, 10, 12 e 17).
3.5. Conflito de normas no espaço: saber qual é a norma de direito material estrangeiro que excepcionalmente é aplicada no território de outro Estado (extraterritorialidade) é um dos objetivos do Direito Internacional Privado.
A simples leitura da LICC já nos permite vislumbrar, sem precisar descer a minúcias dos dispositivos mencionados, os critérios de aplicação como por exemplo:
1. Em questões sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família, deve ser aplicada a lei do país de domicílio da pessoa (art. 8º).
2. Em questões sobre a qualificação e regulação das relações concernentes a bens, deve ser aplicada a lei do país onde estão situados (art. 8º).
3. Em questões envolvendo obrigações, deve ser aplicada a lei do país onde foram constituídas, reputando-se constituída no lugar em que reside o proponente (art. 9º, § 2º).
4. Em questões sucessões por morte (real ou presumida – ausência), deve aplicada a lei do país de domicílio do “de cujus”, ressalvando-se que, quando a capacidade para suceder, aplica-se a lei de domicílio do herdeiro ou legatário. Em caso, quando a sucessão incidir sobre os bens do estrangeiro situado no Brasil, aplicar-se-á a lei brasileira em favor do cônjuge brasileiro e dos filhos do casal, sempre que não lhes for mais favorável a lei do domicílio do defunto (art. 10, §§ 1º e 2º).
Observação 1: Para a aplicação do Direito estrangeiro no Brasil, não só pode como deve o magistrado exigir de quem invoca prova do seu texto e vigência, na forma do art. 14 da LICC, bem como do art. 337 do CPC�.
Observação 2: em relação aos fatos ocorridos no estrangeiro, sua prova é regida pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e os meios, não sendo tolerável a utilização de provas que a lei brasileira não admita (art. 13). É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação,sendo que somente ela poderá conhecer ações relativas a imóveis situados no Brasil (art. 12, § 1º).
Observação 3: Os requisitos para que sentença proferida no estrangeiro seja executada no Brasil estão no art. 15, in verbis:
Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia; 
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado; 
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. Não dependem de homologação as sentenças meramente declaratórias do estado das pessoas.
Observação 4: Todavia, sentenças meramente declaratórias do estado das pessoas, como, por exemplo, as proferidas em ações de investigação de paternidade, não dependem da homologação do STJ.
Observação 5: Originariamente, competia ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar a homologação das sentenças estrangeiras e a concessão do exequatur às cartas rogatórias (art. 102, I, h, da CR/88). Todavia, o dispositivo foi modificado pela Emenda Constitucional n. 45 de 30 de Dezembro de 2004, passando tal competência ao Superior Tribunal de Justiça, por força da inserção da novel alínea i do inciso I do art. 105 da CR/88.
"Art. 105. ...................................................
I - ...............................................................
..................................................................
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias;
Por fim, a extraterritorialidade da lei, todavia, pode ser limitada, pois atos, sentenças e leis de país alienígenas não serão aceitos no Brasil quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, na forma do art. 17 da LICC. Por este motivo, entendemos não ser possível o reconhecimento do matrimônio realizado entre homossexuais fora do Brasil, considerando que os nossos costumes ainda reconhecem, por princípio, a diversidade de sexos como pressuposto existencial do ato nupcial. 
ALGUMAS definições IMPORTANTES 
Coisa Julgada : é a qualidade da sentença de mérito que consiste na imutabilidade dos efeitos decorrentes de seu dispositivo, o que surge com o trânsito em julgado da decisão.
Direito Adquirido : por sua vez, é aquele que está incorporado ao patrimônio de seu titular, porque já preenchidos, sob a vigência da lei anterior, os requisitos por ela estabelecidos para a aquisição do direito, embora o titular não o tenha exercido antes da entrada em vigor da lei nova.
Ato Jurídico Perfeito : é o que se aperfeiçoou pela verificação de todos os seus elementos constitutivos e que, portanto, está consumado de acordo com os requisitos da lei então em vigor, e que não pode ser atingindo pela lei nova. 
Revogação da lei : pode ser expressa ou direta quando o novo diploma indica os dispositivos que serão atingidos pela revogação. Tácita ou indireta é a revogação que se verifica quando a lei nova for incompatível com a anterior. Fala-se, por fim, em revogação global quando a lei nova regula inteiramente a matéria que era tratada pela lei anterior, ainda que as disposições novas não sejam incompatíveis com as anteriores. Por fim, entende-se por ab-rogação quando sua revogação for total e por derrogação quando sua revogação for parcial.
Exequatur: autorização do Supremo Tribunal de Justiça para cumprimento da diligência estabelecida em decisão estrangeira. 
DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942.
	Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. (Redação dada pela Lei nº 12.376, de 2010).
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição, decreta:
Art. 1o  Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.
§ 1o  Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. (Vide Lei 2.145, de 1953)
§ 2o  (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009).
§ 3o  Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
§ 4o  As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. 
Art. 2o  Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. 
§ 1o  A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
§ 2o  A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3o  Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
Art. 3o  Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
Art. 4o  Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Art. 5o  Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957)
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. (Parágrafo incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. (Parágrafo incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. (Parágrafo incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)
Art. 7o  A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
§ 1o  Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
§ 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957)
§ 3o  Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.
§ 4o  O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
§ 5º - O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro. (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 1977)
§ 6º  O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais. (Redação dada pela Lei nº 12.036, de 2009).
§ 7o  Salvoo caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda.
§ 8o  Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre.
Art. 8o  Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados.
§ 1o  Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.
§ 2o  O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a coisa apenhada.
Art. 9o  Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituirem.
§ 1o  Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.
§ 2o  A obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugar em que residir o proponente. 
Art.  10.  A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. (Redação dada pela Lei nº 9.047, de 1995)
§ 2o  A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.
Art. 11.  As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituirem. 
§ 1o  Não poderão, entretanto ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira.
§ 2o  Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham constituido, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptiveis de desapropriação.
§ 3o  Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares.
Art. 12.  É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
§ 1o  Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a imóveis situados no Brasil. 
§ 2o A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo a forma estabelecida pele lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade estrangeira competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências.
Art.  13.  A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.
Art. 14.  Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência.
Art. 15.  Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reuna os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia; 
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado; 
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal. (Vide art.105, I, i da Constituição Federal).
Parágrafo único.   (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009).
Art. 16.  Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei.
Art. 17.  As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do Consulado. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957)
Art. 19. Reputam-se válidos todos os atos indicados no artigo anterior e celebrados pelos cônsules brasileiros na vigência do Decreto-lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942, desde que satisfaçam todos os requisitos legais. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)
Parágrafo único. No caso em que a celebração dêsses atos tiver sido recusada pelas autoridades consulares, com fundamento no artigo 18 do mesmo Decreto-lei, ao interessado é facultado renovar o pedido dentro em 90 (noventa) dias contados da data da publicação desta lei. (Incluído pela Lei nº 3.238, de 1957)
Rio de Janeiro, 4 de setembro de 1942, 121o da Independência e 54o da República.
GETULIO VARGAS
Alexandre Marcondes Filho
Oswaldo Aranha. 
Este texto não substitui o publicado no DOU de 9.9.1942
UNIDADE III : DA PESSOA NATURAL (art. 1º CC)
1. Conceito
Segundo o professor Maximilianus Cláudio Américo Führer�, “é o ser humano, a criatura que provenha de mulher. A personalidade civil do homem começa do nascimento com vida. Considera-se a respiração como sendo a melhor prova do nascimento com vida. A existência da pessoa natural termina com a morte”.
No magistério do Professor Washington de Barros Monteiro�, leciona: “Na acepção jurídica, pessoa é o ente físico ou moral, suscetível de direitos e obrigações. Neste sentido, pessoa é o sinônimo de sujeito de direito ou sujeito de relação jurídica. No direito moderno, todo ser humano é pessoa no sentido jurídico. Mas, além dos homens, são também dotadas de personalidade certas organizações ou coletividades, que tendem à consecução de fins comuns”.
Já Maria Helena Diniz�, ensina: “Para a doutrina tradicional “pessoa” é o ente físico ou coletivo suscetível de direitos e obrigações, sendo sinônimo de sujeito de direito. Sujeito de direito é aquele que é sujeito de um dever jurídico, de uma pretensão ou titularidade jurídica, que é o poder de fazer valer, através de uma ação, o não-cumprimento do dever jurídico, ou melhor, o poder de intervir na produção da decisão judicial”. 
2. Personalidade Jurídica
2.1. Conceito 
A professora Maria Helena Diniz�, em comentários no Código Civil, avalia: “Liga-se à pessoa a idéia de personalidade, que exprime a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações”. Sendo a pessoa natural o sujeito das relações jurídicas e a personalidade, a possibilidade de ser sujeito, toda pessoa é dotada de personalidade. Esta tem sua medida na capacidade, que é reconhecida num sentido de universalidade, no art. 1º do Código Civil, que, ao prescrever “toda pessoa é capaz de direitos e deveres”, emprega o termo “pessoa” na acepção de todo ser humano, sem qualquer distinção de sexo, idade, credo ou raça”. 
Já o professor Pablo Stolze Gagliano� leciona: “Personalidade jurídica, portanto, para a Teoria Geral do Direito Civil, é a aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações, ou, em outras palavras é o atributo necessário para ser sujeito de direito”.
Por fim, pontua a professora Maria Helena Diniz�: “A personalidade é o conceito básico da ordem jurídica que se estende a todos os homens consagrando-se na legislação civil e nos direitos constitucionais de vida, liberdade e igualdade”
3. aquisição da personalidade jurídica (art. 2º CC)
Murilo Sechieri Costa Neves�, adverte: “Ë indispensável que se saiba qual é exatamente o instante a partir do qualé adquirida a personalidade jurídica. Há fundamentalmente três teorias a respeito do tema: 1) natalista: segundo a qual é o nascimento com vida seu marco inicial; 2) concepcionista: pela qual já há personalidade com a simples fecundação do óvulo; e 3) Por fim, há sistemas em que só há personalidade jurídica se após o nascimento for verificada a viabilidade da vida e forma humana. Pelo CC foi adotada a teoria natalista”.
4. Capacidade de direito e de fato e legitimidade
Adquirida a personalidade jurídica, toda pessoa passa a ser capaz de direitos e obrigações. Possui, portanto, capacidade de direito ou de gozo.
O professor Marcos Bernardes de Mello�, prefere utilizar a expressão capacidade jurídica para caracterizar a “aptidão que o ordenamemto jurídico atribui às pessoas, em geral, e a certos entes, em particular, estes formados por grupos de pessoas ou universalidades patrimoniais, para serem titulares de uma situação jurídica”.
Todavia, nem toda pessoa, possui aptidão para exercer pessoal os seus direitos, como veremos a seguir:
5. incapacidade absoluta (art. 3º CC)
A incapacidade é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil, devendo ser encarada restritamente, considerando-se o princípio de que “a capacidade é a regra e a incapacidade a exceção”.
A incapacidade será absoluta quando houver proibição total ao exercício do direito pelo incapaz, acarretando, em caso de violação do preceito, a nulidade do ato (CC, art. 166, I). Logo os absolutamente incapazes têm direitos, porém não poderão exercê-los direta ou pessoalmente, devendo ser representados.
6. incapacidade relativa (art. 4º CC)
Na enumeração legal figuram em primeiro lugar os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. São os púberes do antigo direito.
Com o Código de 2002, permaneceram as seguintes etapas: incapacidade absoluta até os dezesseis anos; incapacidade relativa entre os dezesseis e dezoito anos; capacidade plena aos dezoito, sem distinção entre homens e mulheres.
A incapacidade relativa diz respeito àqueles que podem praticar por si os atos da vida civil desde que assistidos por quem o direito encarrega desse ofício, em razão de parentesco, de relação de ordem civil ou de designação judicial, sob pena de anulabilidade daquele ato (CC, art. 171, I). 
7. suprimento da incapacidade (representação e assistência)
O suprimento da incapacidade absoluta dá-se através da representação. O representante pratica o ato no interesse do incapaz. Se o absolutamente incapaz, porém, praticar o ato sozinho, sem a representação legal, a hipótese é de nulidade.
Já o suprimento da incapacidade relativa dá-se por meio da assistência. Diferente dos absolutamente incapazes, o relativamente incapaz pratica o ato jurídico juntamente com o seu assistente (pais, tutor ou curador), sob pena de anulabilidade.
8. Emancipação (art. 5º CC)
A emancipação dar-se-á:
a) Maioridade: a incapacidade cessará quando o menor completar dezoito anos, estado em que a pessoa tornar-se-á maior, adquirindo a capacidade de plena, podendo então, exercer pessoalmente todos os atos da vida civil.
b) Emancipação expressa ou voluntária: Antes da maioridade legal, tendo o menor atingido dezesseis anos, poderá haver a outorga de capacidade civil por concessão dos pais, no exercício do poder familiar, mediante escritura pública inscrita no Registro Civil competente, independentemente de homologação judicial. 
No entanto, a doutrina e a jurisprudência consideram que a emancipação voluntária não exonera os pais da responsabilidade civil pelos atos ilícitos praticados pelo filho menor. Neste sentido: a única hipótese em que poderá haver responsabilidade solidária do menor de 18 anos com os seus pais é ter sido emancipado nos termos do art. 5º, parágrafo único, inc. I do CC.
c) Emancipação judicial: é aquela concedida pelo Juiz, ouvido o tutor, se o menor contar com dezesseis anos completos.
Assim, quando o menor está sob tutela, o tutor não pode conceder emancipação voluntária. Nestes casos, obrigatoriamente, a emancipação deverá ser requerida ao Juiz.
d) Por fim, há casos em que a emancipação é legal, ou seja, aquela que se verifica automaticamente, quando ocorrer algum dos seguintes fatos:
→ casamento;
→ exercício de emprego público efetivo;
→colação de grau em curso de ensino superior;
→ estabelecimento civil ou comercial.
9. NOME CIVIL (art. 16)
O nome da pessoa natural é o sinal exterior mais visível de sua individualidade, sendo através dele que a identificamos no seu âmbito familiar e no meio social.
No magistério do Professor Murilo Neves�, leciona: “o nome é o sinal que identifica a pessoa perante a família e a sociedade; é o sinal exterior mais visível de sua individualidade, como se diz tradicionalmente”.
9.1. NATUREZA JURÍDICA
Uma das teorias que surgiu foi aquela que via no nome um verdadeiro direito de propriedade (concepção dominial). Talvez a conclusão se tenha verificado em razão da oponibilidade erga omnes que o direito ao nome representa. Também já se sustentou que se tratava de uma mera questão de estado, sem que pudesse o nome representar um verdadeiro direito, mas um mero sinal distintivo e exterior do estado da pessoa.
Por fim, verificou-se que o nome representa um direito da personalidade. Trata-se de um direito que apresenta todas as características dos demais direitos da personalidade. Foi esta a concepção adotada pelo legislador pátrio, tanto que dentre os direitos da personalidade são destinados alguns dispositivos (art. 16 a 19 do CC) à proteção do nome.
9.2. ELEMENTOS 
A estrutura do nome natural é composta por elementos que podem ser chamados de essenciais ou fundamentais, e por elementos facultativos ou acessórios.
Os essenciais são apenas dois: o prenome e o sobrenome (art. 16 CC). O prenome, ou primeiro nome, ou nome de batismo, como se costuma dizer, é aquele que inicia o nome. O sobrenome, patronímico, nome de família ou apelido de família. Pode ser do pai ou da mãe, ou de ambos.
Nos facultativos, encontramos o agnome, que é o sinal distintivo que se acrescenta ao nome completo para diferenciar o seu titular de outras pessoas, em geral parentes próximos (p. ex. neto, filho, júnior).
Também pode ser lembrado o cognome, ou alcunha, ou apelido. Trata-se da designação dada a alguém em razão de alguma particularidade pessoal (Xuxa, Didi, Pelé, etc). Interessante é que tais apelidos, se forem públicos e notários, poderão substituir o prenome (LRP, art. 58).
Já o pseudônimo ou codinome, que é o nome escolhido pelo próprio indivíduo para o exercício de uma atividade específica. Em geral, é no meio artístico que são utilizados. Estabelece a lei que se a atividade for lícita, o codinome terá a mesma proteção que o nome (vide art. 19 CC).
10. Estado da pessoa natural
Estado é a posição jurídica da pessoa no meio social resultante de certas qualidades que lhe são inerentes, nos contextos político, familiar e individual.
10.1. Estado político: leva-se em consideração a posição do indivíduo em face do estado. Pode-se ostentar o estado de nacional, nato ou naturalizado, ou de estrangeiro.
10.2. Estado familiar: é aquele que se referir as relações conjugais ou de parentesco, consangüíneo ou por afinidade. Em relação ao estado familiar, é interessante que se verifique que a lei estabelece que sejam registrados ao estado familiar (sentença de nulidade ou anulação de casamento, divórcio, separação judicial, reconhecimento de filhos, adoção). Trata-se da necessidade de que tais acontecimentos fiquem documentados e que possam ser conhecidos por terceiros, em função da publicidade que o sistema dos registros públicos apresenta.
10.3. Estado individual: é a condição física do indivíduo influente no seu agir. Fala-se, então, em homem e mulher, em capaz e incapaz, em maior ou menor de idade. Em relação ao estado individual, estabelece o art. 9º do CC,que deverá ser registrados, dentre outros, os atos de emancipação, a sentença de interdição, a sentença declaratória de ausência. 
Por fim, a melhor doutrina apontada que o estado da pessoa é uno e indivisível (com exceção da dupla nacionalidade). 
11. Registro civil
Segundo FRANCISCO AMARAL�, “O registro civil é a instituição administrativa que tem por objetivo imediato a publicidade dos fatos jurídicos de interesse das pessoas e da sociedade. Sua função é dar autenticidade, segurança e eficácia aos fatos jurídicos de maior relevância para a vida e os interesses dos sujeitos de direito”.
O sistema de registros públicos visa, principalmente, a conferir a publicidade aos atos jurídicos em geral, mas não apenas isso. Na constituição de uma pessoa jurídica, por exemplo, o registro, de natureza constitutiva, é condição sine qua non� para a sua existência legal.
Com relação ao estudo da pessoa natural, cuidou a Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973, no seu art. 29, in verbis:
“Art. 29.Serão registrados no registro civil de pessoas naturais:
I – os nascimentos;
II – os casamentos;
III - ....”
Assim, os episódios mais importantes da vida do homem (pessoa natural) refletem-se no registro civil: nascimento, casamento, separação, divórcio, morte.
Determina o art. 52. São obrigados a fazer a declaração de nascimento:
1º) o pai;
2º) em falta ou impedimento do pai, a mãe, sendo que neste caso o prazo para declaração prorrogado por 45 (quarenta e cinco) dias;
Observação 1: o prazo para registro de nascimento é de 15 dias, ampliável para 45 dias (em caso de impedimento do pai) ou até 3 meses (em lugares distante mais 30 km da sede do cartório), de acordo com os arts. 50 a 52 da Lei n. 6.015/73.
Observação 2: trocadilho jurídico: “a pessoa natural registra-se porque nasce e a pessoa jurídica nasce porque se registra” . 
12. Extinção da pessoa natural (CC, art. 6º)
A personalidade da pessoa natural acaba com a morte. Verificada a morte de uma pessoa, desaparecem, em princípio, os direitos e obrigações de natureza personalíssima, sejam patrimoniais ou não.
A respeito do tema, advoga a professora Maria Helena Diniz�: “Cessa a personalidade jurídica da pessoa natural com a morte real (CC, art. 6º, 1ª parte), deixando de ser sujeito de direitos e obrigações, acarretando: 1) dissolução do vínculo conjugal (Lei n. 6.515/77 e CC, 1.571, I) e do regime matrimonial; 2) extinção do poder familiar (CC, art. 1.635, I), dos contratos personalíssimo, como prestação ou locação de serviços (CC, art. 607), e mandato (CC, art. 682, II; STF, Súmula 25); 3) cessação da obrigação de alimentos, com o falecimento do credor, pois, com o do devedor, seus herdeiros assumirão os ônus até as forças da herança (Lei n. 6.515/77, art. 23, CC, art. 1.700); da obrigação de fazer, quando convencionado o cumprimento pessoal (CC, arts. 247 e 248), 4) extinção do usufruto (CC, art. 1.410, I; CPC, art. 1.112, VI); da doação em forma de subvenção periódica (CC, art. 545); do encargo de testamentária (CC, art. 1985); do benefício da justiça gratuita (Lei n. 1.060/50)”.
No entanto, é importante que se tenha em mente que, mesmo após a morte, permanecem alguns resquícios da personalidade. Por exemplo: o direito à imagem, à honra, ao nome. São direitos que se projetam post mortem e que poderão ser protegidos pelos parentes ou herdeiros do morto, nos termos do art. 12, parágrafo único, e do art. 20, parágrafo único, do CC.
Neste sentido, Elimar Szaniawski� leciona: “A personalidade termina com a morte da pessoa natural, segundo expressão do pensamento universal. Conseqüentemente, deixaria de existir sobre o cadáver qualquer tipo de direito como emanação da personalidade humana. Mas o Direito tem se ocupado em proteger o corpo humano após a morte no sentido de lhe dar um destino onde se mantenha sua dignidade”.
12.1. ESPÉCIES DE MORTE
Muito embora na natureza só exista um tipo de morte, juridicamente é possível se falar em três espécies:
12.1.1. Morte real: é aquela que se comprova por exame médico e a certeza de sua ocorrência (atestado de óbito). Tem como características a parada cardíaca prolongada e ausência de respiração, ou seja, cessação total das atividades vitais. 
12.1.2. Morte presumida: trata-se de situações em que não se tem certeza sobre a ocorrência da morte, mas, em razão da alta probabilidade de esta ter ocorrido, a lei autoriza que sejam gerados os seus efeitos, embora não tenha ela sido cabalmente comprovada. 
A morte presumida pela lei se dá pela ausência de uma pessoa nos casos dos arts. 22 a 39 do Código Civil e dos arts. 1.161 a 1.168 do Código de Processo Civil�. Se uma pessoa desaparecer, sem deixar notícias, qualquer interessado na sua sucessão ou o Ministério Público (CPC, art. 1.163) poderá requerer ao juiz a declaração de sua ausência e a nomeação de curador. Na nomeação do curador, o juiz deve, necessariamente, fixar-lhe os poderes e obrigações, estando aquele equiparado aos tutores e curadores de incapazes.
Se após um ano de arrecadação dos bens do ausente, ou, se deixou algumas representante, em se passando três anos, sem que dê sinal de vida, poderá ser requerida sua sucessão provisória (CC art. 26) e o início do processo de inventário e partilha de seus bens, ocasião em que a ausência do desaparecido passa a ser considerada presumida.
Observação 1: Feita a partilha, seus herdeiros deverão administrar os bens, prestando caução real, garantindo a restituição no caso do ausente aparecer.
Observação 2: Após dez anos do trânsito em julgado da sentença de abertura da sucessão provisória (CC, art. 37; CPC art. 1.161, II), sem que o ausente apareça, ou cinco anos depois das últimas notícias do desaparecido que conta com oitenta anos de idade (CC, art. 38), será declarada sua morte presumida a requerimento de qualquer interessado, convertendo-se a sucessão provisória em definitiva.
Observação 3: Se o ausente retornar em até dez anos após a abertura da sucessão definitiva, terá os bens no estado em que se encontrarem e direito ao preço que os herdeiros houverem recebido com sua venda. Porém, se regressar após esses dez anos, não terá direito a nada (CPC, art. 1.168).
Todavia, a declaração de morte presumida não ocorre apenas em caso de ausência. Vide o art. 7º, I e II, parágrafo único, do Código Civil.
Assim, admite-se a declaração judicial de morte presumida sem decretação de ausência em casos excepcionais, apenas depois de esgotadas todas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do óbito, e tais casos são: 1) probabilidade da ocorrência da morte de quem se encontrava em perigo de vida e 2) desaparecimento em campanha ou prisão de pessoa, não sendo ela encontrada até dois anos após o término da guerra. 
 
12.1.3. Morte simultânea (comoriência) (CC, art. 8º)
A comoriência é a morte de duas ou mais pessoas na mesma ocasião e em razão do mesmo acontecimento. Embora o problema da comoriência, em regra, alcance casos de morte conjunta, ocorrida no mesmo acontecimento, ela coloca-se, com igual relevância, no que concerne a efeitos dependentes de sobrevivência, na hipótese de pessoas falecidas em locais e acontecimentos distintos, mas em datas e horas simultâneas ou muito próximas.
A comoriência terá grande repercussão na transmissão de direitos sucessórios, pois, se os comorientes são herdeiros uns dos outros, não há transferências de direitos; um não sucederá ao outro, sendo chamados à sucessão os herdeiros ante a presunção juris tantum de que faleceram ao mesmo tempo. Se dúvida houver no sentido de se saber quem faleceu primeiro, o magistrado aplicará o art. 8º do CC, caso em que, então, não haverá transmissão de direitos entre as pessoas que morreram na mesma ocasião.
UNIDADE IV : DIREITOS A PERSONALIDADE 
1. Conceito e denominação
Direitos da personalidade são aqueles que têm por objeto os componentes básicos danatureza humana, ou seja, os atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em sua projeção social.
São esses direitos que asseguram a proteção à vida, ao corpo vivo, ao corpo morto, à voz, à liberdade, às criações intelectuais, à privacidade, ao segredo, à honra, à imagem, à identidade pessoal etc. Referem-se, portanto, a todos os atributos indispensáveis para o desenvolvimento digno de cada um; aos elementos que nos asseguram que sejam desenvolvidas nossas potencialidades.
Sua previsão constitucional encontra-se esculpida no art. 5º, X, da CR/88.
Observação 1 : Os direitos da personalidade abrangem a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização por dano material ou moral. Tais direitos abrangem também o nome e o pseudônimo, conforme a regra dos arts. 18, 19 e 21 do CC.
Observação 2 : Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade, conforme estatui a regra do art. 52 do CC.
2. Natureza dos direitos da personalidade
Na precisa lição de LIMONGI FRANÇA, leciona: “o direito existe para que a pessoa, em meio à vida social, seja aquinhoada segundo a justiça com os bens necessários à consecução dos seus fins naturais. Ora, o extermínio da vida pelo suicídio é a própria negação disso, é a coarctação da causa final pelo direito”.
Já o professor ORLANDO GOMES, afirma: “que tais direitos não têm por objeto a própria personalidade, não obstante recaiam em “manifestações especiais de suas projeções, consideradas dignas de tutela jurídica, principalmente no sentido de que devem ser resguardadas de qualquer ofensa”.
Portanto, os direitos da personalidade têm por objeto as projeções físicas, psíquicas e morais do homem, considerado em si mesmo, e em sociedade.
Acerca dos fundamentos jurídicos desses direitos, dois grupos bem distintos se digladiam:
a) corrente positivista;
b) corrente jusnaturalista.
A primeira corrente (positiva) toma por base a idéia de que os direitos da personalidade devem ser somente aqueles reconhecidos pelo Estado, que lhes daria força jurídica. Não aceitam, portanto, a existência de direitos inatos à condição humana.
Entre seus defensores destaca-se GUSTAVO TEPEDINO, que citando PERLINGIERI, defende: “os direitos do homem, para ter uma efetiva tutela jurídica, devem encontrar o seu fundamento na norma positiva. O direito de: a ética, a religião, a história, a política, a ideologia, são apenas aspectos de uma idêntica realidade (...) a norma é, também ela, noção histórica”.
Já a Segunda corrente (jusnatural) destaca que os direitos da personalidade correspondem às faculdades exercitadas naturalmente pelo homem, verdadeiros atributos inerentes à condição humana. 
Na opinião do professor CARLOS ALBERTO BITAR, advoga: “Tal visão fortemente influenciada pelo jusnaturalismo, tem encontrado respaldo na doutrina, propugnando os seus defensores que, por se tratar de direitos inatos, caberia “ao Estado apenas reconhecê-los e sancioná-los em um ou outro plano do direito positivo – em nível constitucional ou em nível de legislação ordinária -, dotando-os de proteção própria, conforme o tipo de relacionamento a que se volte, a saber: contra o arbítrio do poder público ou as incursões de particulares”.
3. Teoria dos direitos da personalidade e das liberdades públicas
Na opinião do professor PABLO STOLZE GAGLIANO, o reconhecimento jurídico formal dos direitos da personalidade é relativamente recente, sendo, inclusive, sintomático que somente agora venham a ser consagrados no Código Civil Brasileiro.
Alguns dos direitos da personalidade, porém, se examinados em relação ao Estado (e não em relação aos indivíduos), ingressam no campo das liberdades públicas, consagrados pelo Direito Constitucional. Essas liberdades públicas, dependem, necessariamente da positivação para assim serem consideradas.
Como exemplo dessas liberdades públicas, temos aquelas que pertencem a categorias transindividuais (econômicas e sociais), não se coaduna com o caráter individual dos direitos da personalidade. 
4. Titularidade
Não há a menor dúvida de que o ser humano é o titular por excelência da tutela dos direitos da personalidade. Todavia, vale destacar que o instituto alcança também o nascituro, que, embora, não tenha personalidade jurídica, têm seus direitos ressalvados, pela lei, desde a concepção, conforme já estudado em sala de aula.
Como dito anteriormente, equipara-se, no que couber, à pessoa jurídica, a proteção dos direitos da personalidade, conforme regra estatuída no art. 52 do CC.
5. Características dos direitos da personalidade
Sendo direitos ínsitos à pessoa, em suas projeções físicas, mental e moral, os direitos da personalidade são dotadas de certas características particulares, que lhes conferem posição singular no cenário dos direitos privados. Assim temos:
5.1. Caráter absoluto: os direitos da personalidade são oponíveis erga omnes, ou seja, irradiando efeitos em todos os campos e impondo à coletividade o dever de respeitá-los.
5.2. Generalidade: os direitos da personalidade são gerais (ou necessários, para alguns), uma vez que são atribuídos a todos, sem exceção. Basta existir a personalidade jurídica (e todas as pessoas têm) para que tais direitos estejam presentes.
5.3. Extrapatrimonialidade: os direitos da personalidade não integram o patrimônio do sujeito de forma direta. Contudo, quando houver violação desses direitos por parte de terceiros, pode haver uma apreciação econômica dos prejuízos sofridos. (ex. direitos autorais: que se dividem em direitos morais (estes sim direitos próprios da personalidade) e patrimoniais (direito de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou científica, perfeitamente avaliável em dinheiro) do autor.
Assim, é correto dizer que, em princípio, os direitos da personalidade são considerados extrapatrimoniais, não obstante, sob alguns aspectos, principalmente em caso de violação, possam ser economicamente mensurados.
5.4 Indisponibilidade: de acordo com a regra do art. 11 CC, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, ou seja, não podem ser transmitidos a outro sujeito, nem podem ser objeto de renúncia por parte de seu titular. Porém, a indisponibilidade é relativa, porque é perfeitamente lícita a cessão de alguns destes direitos (p. ex. direitos autorais, direito de imagem, cessão de órgão ou tecido para fins de transplantes ou científicos, nos termos da lei n. 9.434/97).
5.5. Imprescritibilidade: os direitos da personalidade não se extinguem pelo não uso e não são adquiridos pelo decurso do tempo, porque segundo a melhor doutrina, são inatos, ou seja, nascem com o próprio homem.
5.6. Impenhorabilidade: como os direitos da personalidade não integram diretamente o patrimônio de seu titular, não podem ser objeto de penhora por dívidas. Lembre-se, porém, que os créditos decorrentes de sua violação poderão ser penhorados pelos credores de seu titular.
5.7. Vitaliciedade: os direitos da personalidade são inatos e permanentes. Devem ser protegidos enquanto for viva a pessoa. Além disso, há alguns que se projetam para além da morte (post mortem), e podem ser protegidos pelos sucessores do morto, nos termos dos arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do CC.
6. Da classificação dos direitos da personalidade
Toda classificação varia necessariamente em função dos critérios metodológicos adotados. No estudo em tela, consideramos conveniente classificá-los com base na tricotomia corpo/mente/espírito. Assim temos:
6.1. Direito à vida: a vida é o direito mais precioso do ser humano. Sem ela, nada existe, sendo o advento de seu termo final a única certeza absoluta de toda a humanidade.
A ordem jurídica vigente, assegura o direito à vida de todo e qualquer ser humano, antes mesmo do nascimento, punindo o aborto e protegendo os direitos do nascituro.
A respeito, oaborto é considerado crime, na forma dos arts. 124 a 127 do Código Penal Brasileiro. Admite-se, todavia, a exclusão do crime nas hipóteses de aborto necessário, previstas no art. 128, I e II, da Lei Penal.
6.2. Direito à integridade física:
Sobre o tema, dispõe o art. 15 do CC: 
“Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”.
Assim, qualquer pessoa que se submete a tratamento médico, em especial intervenção cirúrgica, deve ter plena consciência de seus riscos, cabendo ao profissional que a acompanhar expressamente informá-la, recomendando-se, inclusive, o registro de tal fato, para prevenir responsabilidades.
6.3. Direito à integridade psíquica: em um segundo plano de análise metodológica, torna-se a pessoa como ser psíquico atuante, que interage socialmente, incluindo-se nessa classificação o direito à liberdade, inclusive de pensamento, à intimidade, à privacidade, ao segredo, além do direito referente à criação intelectual, consectário da própria liberdade humana.
6.4. Direito à integridade moral: os direitos da personalidade também objetivam tutelar a esfera moral da pessoa. Incluídos nestes direitos: direito à honra (um dos direitos mais significativos da personalidade, acompanhando o indivíduo desde seu nascimento, até depois de sua morte); direito à imagem (em definição simples, constitui a expressão exterior sensível da individualidade humana) e do direito à identidade (traduz a idéia de proteção jurídica aos elementos distintivos da pessoa, natural ou jurídica, no seio da sociedade).
7. Proteção dos direitos da personalidade
A proteção dos direitos da personalidade dá-se em vários campos do ordenamento jurídico, desfrutando, assim, de estatutos disciplinadores diversos, variáveis em função do enfoque adotado.
CARLOS ALBERTO BITAR, leciona: “tutela geral dos direitos da personalidade compreende modos vários de reação, que permitem ao lesado a obtenção de respostas distintas, em função dos interesses visados, estruturáveis, basicamente, em consonância com os seguintes objetivos: a) cessação de práticas lesivas; b) apreensão de materiais oriundos dessas pra´ticas; c) submissão do agente à cominação de pena; d) reparação de danos materiais e morais; e e) perseguição criminal do agente”.
Em linhas gerais, a proteção dos direitos da personalidade poderá ser:
7.1. Preventiva: principalmente por meio de ajuizamento de ação cautelar, ou ordinária com multa cominatória, objetivando evitar a concretização da ameaça de lesão ao direito da personalidade;
7.2. Repressiva: por meio da imposição civil (pagamento de indenização) ou penal (persecução criminal) em caso de a lesão já haver se efetivado.
LEGISLAÇÃO UTILIZADA
Constituição Federal
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III – a dignidade da pessoa humana;
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
II – prevalência dos direitos humanos;
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Código Civil
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
● Arts. 20 e 402 a 405 deste Código.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.
● Lei nº 9.434, de 4-2-1997 (Lei de Remoção de Órgãos e Tecidos).
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de
escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
● Art. 5º, X, da CF.
● Arts. 12 e 927 e seguintes deste Código.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
● Art. 5º, X, da CF.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
● Arts. 43, 398, 927 e seguintes deste Código.
● Art. 49 da Lei nº 5.250, de 9-2-1967 (Lei da Imprensa).
● Súmulas nos 28, 492 e 562 do STF.
● Súmulas nos 37 e 43 do STJ.
● Art. 159 do CC/1916.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
● Art. 927 deste Código.
Código PenalAborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque:
Pena – detenção, de um a três anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125. Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena – reclusão, de três a dez anos.
Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena – reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Forma qualificada
Art. 127. As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
UNIDADE V : Pessoa Jurídica
1. Conceito e denominação
Segundo Maria Helena Diniz, conceitua pessoa jurídica como “unidade de pessoas ou de patrimônios, que visa à consecução de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações”.
Já o professor Washington de Barros leciona: “Para bem compreender a existência de semelhantes entidades, as pessoas jurídicas, é preciso partir da idéia de que o indivíduo, muitas vezes, por si só, será incapaz de realizar certos fins que ultrapassam suas forças e os limites da vida individual. Para a consecução desses fins, ele tem de unir-se a outros homens, formando associações, dotadas de estrutura própria e de personalidade privativa, com as quais supera a debilidade de suas forças e a brevidade de sua vida (...) Surgem assim as pessoas jurídicas, também chamadas de pessoas morais (no direito francês) e pessoas coletivas (no direito português) e que podem ser definidas como associações ou instituições formadas para a realização de um fim e reconhecidas pela ordem jurídica como sujeitos de direitos”.
E complementa o professor Murilo Neves: “São entidades a quem a lei empresta personalidade jurídica e que, por isso, são capazes de direitos e obrigações na ordem civil. Sua personalidade, no entanto, não se confunde com a de seus membros (...) Também são chamadas de entes de existência ideal, de pessoas morais, pessoas civis, pessoa coletivas ou sociais. No nosso ordenamento, houve opção por parte do legislador de usar a expressão pessoas jurídicas”. 
2. Natureza jurídica
São inúmeras as teorias que buscam identificar a natureza da personalidade das pessoas jurídicas, sua caracterização dentro da ciência do Direito. A respeito, SILVIO VENOSA, citando FRANCISCO FERRARA, esclarece: “é por demais polêmica a conceituação da natureza da pessoa jurídica, dela tendo-se ocupado juristas de todas as épocas e de todos os campos do direito. Como diz Francisco Ferrara, com freqüência o problema dessa conceituação vê-se banhado por posições e paixões políticas e religiosas e, de qualquer modo, sobre a matéria formou-se uma literatura vastíssima e complexa, cujas teorias se interpretam e se mesclam, num emaranhado de posições sociológicas e filosóficas”.
3. Teorias Explicativas
Quanto à natureza jurídica da pessoa jurídica, várias teorias foram elaboradas, no intento de justificar e esclarecer a sua existência e a razão de sua capacidade de direito. Apesar da não haver um consenso entre a grande variedade de doutrinas, é possível, didaticamente, classificá-las em teorias afirmativas e teorias negativas. 
3.1. Teorias afirmativas: As necessidades sociais e o progresso material e espiritual dos povos fizeram florescer correntes que reconheciam personalidade própria às pessoas jurídicas. Nessa linha de intelecção, podem ser apontadas as seguintes vertentes:
3.1.1. Teoria da Ficção: desenvolveu-se a partir da tese de WINDSCHEID sobre o direito subjetivo, e teve SAVIGNY como seu principal defensor. Não reconhecia existência real à pessoa jurídica, imaginando-a como abstração, mera criação da lei. Seriam pessoas por ficção legal, uma vez que somente os sujeitos dotados de vontade poderiam, por si mesmos, titularizar direitos subjetivos.
Ao entender que só o homem é capaz de ser sujeito de direito, SAVIGNY concluiu que a pessoa jurídica é uma ficção legal, ou seja, uma criação artificial da lei para exercer direitos patrimoniais e facilitar a função de certas entidades.
Com efeito, MARIA HELENA DINIZ, leciona não se pode aceitar esta concepção, que, por ser abstrata, não corresponde à realidade, pois se o Estado é uma pessoa jurídica, e se se concluir que ele é ficção legal ou doutrinária, o direito que dele emana também o será.
3.1.2. Teoria da realidade objetiva (organicista): esta teoria considera pessoa não só o homem. Junto deste há entes dotados de existência real, tão real quanto a das pessoas físicas. São as pessoas jurídicas, que constituem realidades vivas, ou seja, junto à pessoa natural, como organismo físico, há organismos sociais, ou pessoas jurídicas, que têm vida autônoma e vontade própria, cuja finalidade é a realização do fim social.
Mas essa teoria recai na ficção quando se refere à vontade própria da pessoa jurídica. A vontade é peculiar aos homens; como fenômeno humano, não pode existir num ente coletivo. Cai, assim, por terra toda a construção jurídica arquitetada pela teoria orgânica.
3.1.3. Teoria da realidade técnica: Entre as duas posições antagônicas (teoria da ficção e teoria da realidade objetiva) interpõe-se a da realidade técnica ou jurídica, que na opinião do professor Washington de Barros fornece a verdadeira essência da pessoa jurídica. 
Sendo eclética, ela reconhece que há uma parcela de verdade em cada uma daquelas teorias. Do ponto de vista físico e natural, só a pessoa física é realidade. Sob esse aspecto, portanto, a pessoa jurídica não passará de ficção.
A personalidade jurídica não é, pois, ficção, mas uma forma, uma investidura, um atributo, que o Estado defere a certos entes, havidos como merecedores dessa situação. O Estado não outorga tal predicado de maneira arbitrária, e sim tendo em vista determinada situação, que já encontra devidamente concretizada.
3.2. Teorias Negativas 
PABLO STOLZE GAGLIANO, citando BRINZ e BEKKER, leciona: “afirmavam tratar-se de mero patrimônio destinado a um fim, sem conferir-lhe personalidade jurídica (...) Já BOLZE e IHERING defenderam tese no sentido de que a associação formada por um grupo de indivíduos não possuiria personalidade jurídica própria, pois os próprios associados (pessoas físicas) seriam considerada em conjunto. Trata-se da teoria da mera aparência”. Sobre essa corrente, ensina BEVILÁQUA: “afirma ser este gênero de pessoas mera aparência, excogitada para a facilidade de relações, sendo o verdadeiro sujeito dos direitos que se lhes atribuem, os indivíduos que a compõem ou em benefício dos quais elas foram criadas”.
Negando autonomia existencial à pessoa jurídica, IHERING argumentava que os verdadeiros sujeitos de direito seriam os indivíduos que compõem a pessoa jurídica, de maneira que esta serviria como simples forma especial de manifestação exterior da vontade de seus membros. Por sua vez, DUGUIT, o mais radical de todos, apresentou teoria negadora de toda personalidade jurídica. Não aceitando a categoria dos direitos subjetivos, e substituindo-a pelo conceito de “situações jurídicas subjetivas”, conclui pela negação de toda personalidade jurídica, individual ou coletiva. 
4. Pressupostos existenciais
Três são os seus requisitos: capacidade jurídica reconhecida pela norma.
4.1. Organizaçãode pessoas ou de bens: a vontade humana traduz o elemento anímico� para a firmação de uma pessoa jurídica, sendo elemento imprescindível para sua constituição. Não se pode conceber, no campo do direito privado, a formação de uma pessoa jurídica por simples imposição estatal, em prejuízo da autonomia negocial e da livre iniciativa.
4.2. Liceidade� de propósitos ou fins: não há de se reconhecer existência legal e validade à pessoa jurídica que tenha objeto social ilícito ou proibido por lei. A respeito, pontua FÁBIO ULHOA COELHO: “o princípio da autonomia da vontade significa que as pessoas podem dispor sobre os seus interesses, através de transações com as outras pessoas envolvidas. Estas transações, contudo, geram efeitos jurídicos vinculantes, se a ordem positiva assim estabelecer. A autonomia da vontade, assim, é limitada pela lei”.
4.3. Capacidade jurídica reconhecida pela norma: para a formação da pessoa jurídica, exige a observância das condições estabelecidas em lei. Assim, consoante será desenvolvido abaixo, a aquisição da personalidade jurídica exige a inscrição dos seus atos constitutivos (contrato social ou estatuto) no registro peculiar.
Observação 1: Algumas sociedades, em virtude de suas peculiaridades de seu objeto ou do risco que a sua atividade representa à economia ou ao sistema financeiro nacional, demandam, além do registro, autorização governamental para seu funcionamento. (ex. companhias de seguro)
Observação 2: O direito brasileiro adotou, no que tange à atribuição de personalidade à pessoa jurídica, o sistema das disposições normativas.
5. Surgimento da Pessoa Jurídica
A pessoa jurídica, no sistema das disposições normativas, considera que, indispensável o registro para a aquisição de sua personalidade jurídica, conforme estabelece a regra do art. 45 e segs. do CC.
Neste sentido, a análise do art. 45 do CC, permite a conclusão de que a inscrição do ato constitutivo ou do contrato social no registro competente – junta comercial, para as sociedades mercantis em geral; e o cartório civil de pessoas jurídicas, para as fundações, associações e sociedades civis – é condição indispensável para a atribuição de personalidade à pessoa jurídica.
E, se assim é, observa-se que o registro da pessoa jurídica tem natureza constitutiva, por ser atributivo de sua personalidade, diferentemente do registro civil de nascimento da pessoa natural, eminentemente declaratório da condição da pessoa, já adquirida no instante do nascimento com vida. 
Observação 1: Para alguns tipo de pessoas jurídicas, independentemente do registro civil, a lei, por vezes, impõe o registro em algum outro órgão, com finalidade cadastral e de reconhecimento de validade de atuação. (ex. partidos políticos, vide CR/88 art. 17 § 2º e o art. 17 e seus parágrafos da Lei 9.096/95).
Observação 2: da mesma forma, entidades sindicais obtêm personalidade jurídica com o simples registros civil, mas devem comunicar sua criação ao Ministério do Trabalho, não para efeito de reconhecimento, mas sim, para controle do sistema da unicidade sindical. (vide art. 8º, I e II da CR/88). 
5.1. Sociedades irregulares ou de fato: segundo o professor PABLO STOLZE GAGLIANO, antes do registro, não há de falar em pessoa jurídica enquanto sujeito de direito.
A lei é extremamente clara ao referir que a sua existência legal começa a partir do registro, de maneira que a preterição dessa solenidade implica o reconhecimento somente da chamada sociedade irregular ou de fato, desprovida de personalidade, mas com capacidade para se obrigar perante terceiros.
Nas palavras de CAIO MÁRIO, a “compreensão do tratamento que a lei dispensa à sociedade irregular somente pode decorrer daquele princípio, segundo o qual a aquisição de direitos é conseqüência da observância da norma, enquanto que a imposição de deveres (princípio da responsabilidade) existe sempre”.
Observação 1: a disciplina das sociedades de fato ou irregulares é prevista no Livro do Direito de Empresa do Código Civil, no tópico “Da Sociedade em Comum”, que se encontra, por sua vez, inserido no subtítulo “Da Sociedade não personificada”.
Observação 2: na definição de WALDEMAR FERREIRA, pontua: sociedade de fato seria aquela que funciona sem que houvesse sido reduzido a termo o seu estatuto ou contrato social; a sociedade irregular, por sua vez, seria aquela organizada por escrito, mas sem a necessária inscrição dos atos constitutivos no registro peculiar”. A despeito de admitirmos a importância teórica da distinção conceitual, urge reconhecer que tal classificação não tem importantes reflexos práticos.
Neste sentido, dispõe o art. 986 do Código Civil, in verbis:
“Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples”.
Observação 3: Nas sociedades irregulares ou de fato, a responsabilidade dos sócios é ilimitada (art. 990 do CC), devendo-se observar que os credores particulares dos sócios só podem executar a participação que o devedor possuir na sociedade, se não tiver outros bens desembargados, ou, se depois de executados, os bens que ainda tiver forem suficientes para o pagamento.
5.2. Grupos despersonalizados: Além da irregularidade do registro (que possibilita a construção de teorias sobre as sociedades de fato), o campo das relações sócio-jurídicas é amplo demais para o instituto da pessoa jurídica abarque todas as formas possíveis de manifestações coletivas destinadas a um fim.
No magistério da professora MARIA HELENA DINIZ, leciona: “entidades que não podem ser subsumidas ao regime legal das pessoas jurídicas do Código Civil, por lhes faltarem requisitos imprescindíveis à subjetivação, embora possam agir, sem maiores dificuldades, ativa ou passivamente. São entes que se formam independentemente da vontade de seus membros ou em virtude de um ato jurídico que vincula as pessoas físicas em torno de bens que lhes suscitam interesses, sem lhes traduzir affectio societatis�. Donde se infere que os grupos despersonalizados ou com personificação anômala constituem um conjunto de direitos e obrigações, de pessoas e de bens sem personalidade jurídica e com capacidade processual mediante representação.
Como exemplo, citamos as situações elencadas no art. 12 do CPC, incisos III, IV, V, VII, IX.
Art. 12. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
III – a massa falida, pelo síndico;
IV – a herança jacente ou vacante, por seu curador;
V – o espólio, pelo inventariante;
VII – as sociedades sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração dos seus bens;
IX – o condomínio, pelo administrador ou pelo síndico.
Observação 1: Sendo tais grupos despersonalizados apenas um conjunto de direitos e obrigações, pessoas e bens, sem personalidade jurídica, qualquer enumeração feita será sempre exemplificativas, e jamais taxativa, até mesmo porque o inciso VII do art. 12 do CPC admite interpretação extensiva.
6. CAPACIDADE E REPRESENTAÇÃO
Sobre o assunto, é o posicionamento do professor SILVIO RODRIGUES: “Com efeito, no momento em que a pessoa jurídica registra seu contrato constitutivo, adquire personalidade, isto é, capacidade para ser titular de direitos. Naturalmente ela só pode ser titular daqueles direitos compatíveis com a sua condição de pessoa fictícia, ou seja, os patrimoniais. Não se lhe admitem os direitos personalíssimos. Todavia, o art. 52 do CC declara aplicar-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção aos direitos da personalidade”.
Para exercer tais direitos, para atuar na vida cotidiana, a pessoa jurídica recorre a pessoas físicas que a representam.
Não obstante, determina a regra do art. 46 do CC, o modo de administração e representação da pessoa jurídica: “o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente”.

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