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Discutir a infl uência dos pares não-ligantes e das ligações múltiplas na geometria de uma molécula. Estender o modelo RPECV a moléculas ABn, no qual o átomo central está rodeado por mais de quatro pares de elétrons e a moléculas com mais de um átomo central. Discutir o efeito da geometria e da polaridade das ligações na determinação da polaridade de uma molécula poliatômica. 12AULA Metas da aula ob jet ivo s Forma das moléculas: parte II PRÉ-REQUISITOS Para a compreensão desta aula, você precisa de todo o conteúdo da aula anterior (Aula 11) e precisa se lembrar das regras para escrever as estruturas de Lewis, estudadas na Aula 9. É também importante que você reveja os conceitos de carga formal, número de oxidação e polaridade de ligação ensinados na Aula 8. Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: • Prever a extensão com que os ângulos de ligação são alterados pela presença dos pares não-ligantes e das ligações múltiplas. • Caracterizar a geometria de moléculas a qual o átomo central fi ca envolvido por mais de oito elétrons. • Caracterizar a geometria de moléculas com mais de um átomo central, dando ênfase aos ângulos entre as ligações. • Determinar a polaridade de moléculas poliatômicas com base nos dipolos das ligações e na geometria da molécula. Elementos de Química Geral | Formas das moléculas: parte II 20 C E D E R J INTRODUÇÃO Na aula anterior, você aprendeu a determinar a geometria de moléculas simples ABn pelo método RPECV. Em sua forma mais simples, as geometrias previstas por este modelo consideram idênticas as repulsões entre pares de elétrons ligantes e não-ligantes. Nesta aula, vamos discutir o efeito dos pares não-ligantes e das ligações múltiplas na alteração dos ângulos de ligação previstos pelo modelo simples RPECV. Vamos estender este modelo a moléculas com cinco e seis pares de elétrons em torno do átomo central e a moléculas com mais de um átomo central. Por fi m, discutiremos o efeito combinado da polaridade das ligações com a geometria da molécula para determinar a polaridade de moléculas poliatômicas. EFEITO DOS PARES NÃO-LIGANTES E DAS LIGAÇÕES MÚLTIPLAS NOS ÂNGULOS DAS LIGAÇÕES Vamos considerar as moléculas de metano (CH4), amônia (NH3) e água (H2O) que você estudou na aula anterior. Lá você aprendeu que todas elas contêm quatro pares de elétrons (NPA = 4) em torno do átomo central. Estes pares arrumam-se no espaço na forma de um tetraedro, com um ângulo de 109,5° entre eles (consulte a Tabela 11.1 da aula anterior). Este deveria ser o ângulo entre as ligações C-H no metano, N-H na amônia e O-H na água se os pares ligantes e não-ligantes fossem equivalentes. Entretanto, devemos considerar os seguintes pontos: Os pares de elétrons ligantes são atraídos por dois núcleos, havendo uma redução na repulsão entre os elétrons nos pares. Os pares de elétrons não-ligantes estão sobre um átomo, sendo atraídos por um só núcleo. Assim, os elétrons num par não- ligante experimentam uma maior repulsão. Estes fatos fazem com que a região em torno de um par não- ligante se expanda para compensar a repulsão entre os elétrons desse par. Logo, um par não-ligante ocupa mais espaço que um par ligante. Fazendo uma analogia com os balões de infl ar, você pode pensar que um balão não-ligante é mais cheio que um ligante, como você pode ver na Figura 12.1. Figura 12.1: Pares ligantes e não- ligantes são como balões: os não- ligantes correspondem a balões mais cheios. Nesta fi gura, há dois pares ligantes e um não-ligante. C E D E R J 21 A U LA 1 2 Ao se espalhar mais, um par não-ligante comprime mais os pares ligantes à sua volta. Isto faz diminuir o ângulo entre as ligações em que os pares ligantes estão envolvidos. Quanto maior o número de pares não-ligantes, menor deve ser o ângulo de ligação. Voltemos às moléculas consideradas no começo de nossa aula. O quadro a seguir resume o que se sabe sobre a estrutura e geometria destas moléculas (os dados nela contidos foram colhidos das Tabelas 11.1 e 11.2): Molécula CH4 NH3 H2O NPA 4 4 4 NPL 4 3 2 NPNL 0 1 2 Ângulo previsto entre as ligações 109,5° 109,5° 109,5° Ângulo experimental entre as ligações 109,5° 107° 104,5° A última linha deste quadro fornece o valor experimental dos ângulos entre as ligações nestas moléculas. Observe que para o NH3 o ângulo diminui do valor esperado, característico de um tetraedro (109,5°) para 107°. No caso da água, o valor é ainda menor (104,5°). Na Figura 12.2, indicamos estas modifi cações de geometria. Figura 12.2: Os ângulos entre as ligações N-H no NH3 e O-H na H2O são menores que entre as ligações C-H no CH4. a b c Elementos de Química Geral | Formas das moléculas: parte II 22 C E D E R J Distorções semelhantes nos ângulos de ligação são provocadas por ligações duplas e triplas. A concentração de carga negativa entre os átomos que formam estas ligações é maior que em uma ligação simples. Assim, elas funcionam como um par não-ligante: espalham-se mais no espaço e comprimem as ligações simples à sua volta, diminuindo os ângulos entre elas. Por exemplo, a molécula de fosgênio (COCl2) tem a seguintes estrutura de Lewis: Em torno do átomo de C, existem três regiões de pares de elétrons. Espera-se que, assim, o arranjo desses pares seja trigonal plano (veja a Tabela 11.1 novamente), formando um ângulo de 120° entre eles. Entretanto, a presença da ligação dupla C=O comprime as ligações C- Cl, diminuindo o ângulo entre elas de 120° para 111°. Observe o efeito desta contração na Figura 12.3 a seguir: Você não pode prever quantitativamente o ângulo correto entre as ligações, mas pode prever se haverá ou não diminuição do ângulo entre ligações em relação aos valores esperados no modelo RPECV simples. Para isto, basta que você saiba a relação entre o número total de pares de elétrons e de pares solitários, e ligações duplas e triplas em torno do átomo central. Vamos verifi car se este conceito fi cou claro, resolvendo o exercício da atividade a seguir. Figura 12.3: A presença da ligação dupla C=O reduz o ângulo entre as ligações C-Cl no COCl2. C E D E R J 23 A U LA 1 2 GEOMETRIA DE MOLÉCULAS ABN ONDE O ÁTOMO CENTRAL TEM UM OCTETO ESTENDIDO Se o átomo central A numa molécula ABn pertencer a um período igual ou superior ao terceiro período da tabela periódica, é possível que, ao formar ligações, ele fi que rodeado por mais de oito elétrons. Isso se deve ao fato de que, para estes átomos, podem existir elétrons d ou f em subcamadas estendidas, e a regra do octeto não funcione mais. Vamos ampliar a Tabela 11.2 da aula anterior para incluir estes casos. Novamente, tal como nos casos observados naquela tabela, o 1. Utilize o modelo RPECV e o que você aprendeu sobre o efeito dos pares não-ligantes e das ligações múltiplas para determinar qual das seguintes espécies tem o menor ângulo entre as ligações N-H: NH2 -, NH3, NH4 +. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Como você pôde observar, todas as espécies têm oito elétrons de valência. A primeira etapa para resolver esta atividade é, então, representar as estruturas de Lewis de cada uma delas: Todas as espécies têm o mesmo número total de pares de elétronsde valência (NPA = 4) em torno do átomo central. Logo, o arranjo geométrico básico dos pares é o tetraedro. Entretanto, somente o íon NH4 + tem quatro pares de elétrons ligantes (NPL = 4, NPNL = 0); o ângulo entre as ligações N-H nesta espécie deve ser igual a 109,5°. O NH3 tem um par de elétrons não-ligantes e o NH2 -, dois. Espera-se, portanto, que as ligações N-H no NH3 sejam menos comprimidas que no NH2 -, sendo esta a espécie com o menor ângulo entre as ligações. ATIVIDADE Elementos de Química Geral | Formas das moléculas: parte II 24 C E D E R J arranjo espacial dos pares de elétrons depende do número total de pares em torno do átomo central (NPA); a geometria depende deste número, mas também do número de pares ligantes (NPL) e dos não-ligantes (NPNL). A contagem dos pares é feita da mesma forma que a descrita na aula anterior (reveja rapidamente as regras do método RPECV). A Tabela 12.1 indica as geometrias possíveis quando o número total de pares vale cinco ou seis. Estes são, certamente, os casos mais comuns e são os que nós estudaremos. Tabela 12.1: Geometria das moléculas ABn em função de NPA, NPL e NPNL NPA Arranjo dos pares Ângulo entre os pares NPL NPNL Geometria Exemplo 5 Bipirâmide trigonal 120° e 90° 5 0 Bipirâmide trigonal PCl5 4 1 Gangorra SF4 3 2 Forma de T ClF3 2 3 Linear XeF2 6 Octaedro 90° 6 0 Octaedro SF6 5 1 Pirâmide quadrada BrF5 4 2 Quadrado plano XeF4 Vamos acompanhar um pouco mais detalhadamente as informações desta tabela. O arranjo geométrico mais estável para cinco pares de elétrons é a bipirâmide trigonal. Você se lembra de como ela é? Recorde a Figura 11.6 da aula anterior e verifi que que esta forma geométrica é a de duas pirâmides com uma base triangular comum. Numa molécula com esta forma, o átomo central se localiza no centro da base da pirâmide e os demais átomos (ou pares de elétrons) ocupam as posições dos seus vértices. Os átomos presentes na base da pirâmide estão em posição equatorial; os que estão acima e abaixo do plano que contém a base estão em posição axial. Se houver cinco pares de elétrons ligantes, isto indica que existem cinco átomos ligados ao átomo central e a molécula terá exatamente a geometria que acabamos de descrever. Um exemplo é dado pela molécula de PCl5. C E D E R J 25 A U LA 1 2 Como você pode inferir a fi gura geométrica que defi ne a forma de uma molécula? Observe a Figura 12.4.a, que mostra as ligações químicas entre o átomo central P e os átomos de Cl unidos a ele no PCl5. Ao unir os átomos de Cl (que rodeiam o átomo central) por linhas retas, você verá a bipirâmide trigonal ilustrada na Figura 12.4.b ! Figura 12.4: O PCl5 tem a forma de uma bipirâmide trigonal, que é visualizada unindo-se os átomos de Cl por linhas retas. A redução do número de pares ligantes provoca a modifi cação da forma básica da bipirâmide trigonal para outras mais simples. A presença de um par solitário no átomo central leva à formação de uma estrutura em forma de gangorra, como o SF4. Para entender a origem desta forma geométrica, considere a Figura 12.5, que ilustra as duas possibilidades de localização do par de elétrons não-ligantes em torno do átomo de S no SF4. Ele pode fi car em posição equatorial ou em posição axial. Em posição equatorial, o par não-ligante forma um ângulo de 90° com os átomos de F axiais e de 120° com os equatoriais. Em posição axial, ele faz um ângulo de 90° com os três átomos de F contidos na base da pirâmide, provocando um efeito repulsivo maior. Logo esta última distribuição espacial é menos favorável e o par de elétrons não-ligantes se localiza no plano que contém a base da pirâmide (em posição equatorial). Figura 12.5: O par de elétrons não-ligantes do SF4 pode fi car em posição equatorial ou axial. A primeira é energeticamente mais favorável e tem a forma geométrica de gangorra. a b Elementos de Química Geral | Formas das moléculas: parte II 26 C E D E R J Considerações semelhantes explicam o arranjo geométrico em forma de T de moléculas com NPL = 5 e NPNL = 2 – como no ClF3 – ou o arranjo linear em moléculas com NPL = 5 e NPNL = 3 – como no XeF2, ilustrados na Figura 12.6. Figura 12.6: A molécula de ClF3 tem um arranjo espacial em forma de T; a de XeF2 é linear. Vamos agora considerar o caso em que o átomo central está rodeado por seis pares de elétrons. Voltando à Tabela 12.1, verifi camos que o arranjo geométrico mais estável para este número de pares de elétrons é o octaedro. (Lembra-se do octaedro da Figura 11.1 da aula anterior?) Quando o átomo central é rodeado por seis pares ligantes (NPL = 6, NPNL = 0), o arranjo geométrico da molécula é um octaedro. É o caso do SF6, ilustrado na Figura 12.7. Figura 12.7: Na molécula de SF6, os átomos de F se arrumam em torno do S num arranjo octaédrico. A diminuição do número de pares ligantes (NPL) e o aumento do número de pares não-ligantes (NPNL) produzem outras geometrias. Os casos importantes são os que NPL = 5 e NPNL = 1, formando uma pirâmide quadrada, e NPL = 4 e NPNL = 2, em que a molécula adquire a forma geométrica de um quadrado. É o que ocorre nas moléculas de BrF5 e XeF4, respectivamente. Você pode ver estes arranjos na Figura 12.8. a b C E D E R J 27 A U LA 1 2 Figura 12.8: As moléculas de BrF5 e XeF4 têm formas de uma pirâmide quadrada e de um quadrado, respectivamente. Embora tenhamos apresentado a geometria de várias espécies, não demonstramos que as formas obtidas são as previstas segundo o modelo RPECV. Vale a pena investigar um pouco mais sobre isso, e, por esta razão, propomos que você a faça na atividade a seguir. 2. Utilize o modelo RPECV para confi rmar que o XeF2 é linear e que o XeF4 tem a forma de um quadrado. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA O Xe e o F pertencem aos grupos 8A e 7A, respectivamente. No XeF4 , o número total de elétrons de valência é 36; no XeF2, é 22. O esqueleto básico das estruturas de Lewis dos dois compostos é: observe agora que, embora o octeto do Xe esteja completo na primeira estrutura, ainda sobram quatro elétrons. Eles vão entrar como dois pares não-ligantes centrados no átomo de Xe. Na segunda estrutura, ainda sobram seis elétrons, que entram como três pares não-ligantes centrados também no Xe. As estruturas de Lewis completas para cada composto são: ATIVIDADE a b Elementos de Química Geral | Formas das moléculas: parte II 28 C E D E R J GEOMETRIA DE MOLÉCULAS COM MAIS DE UM ÁTOMO CENTRAL A maioria das moléculas que você vai encontrar tem mais de um átomo central. É o caso dos compostos orgânicos com mais de um átomo de carbono. Será que podemos prever a geometria destes compostos? É melhor responder a esta pergunta através de exemplos ilustrativos. Vamos considerar inicialmente a molécula do etanol (C2H5OH). A estrutura de Lewis deste composto é fácil de ser obtida utilizando-se as regras que você aprendeu nas aulas anteriores:As linhas cheias cortando as ligações C-C e C-O indicam que podemos considerar a molécula como se tivesse três átomos centrais, os dois átomos de C e o átomo de O, marcados como I, II e III. Você pode montar um quadro em que, para cada átomo central, determinamos o número de pares totais (NPA), o número de pares ligantes (NPL) e o de pares não-ligantes (NPNL) em torno dele. O quadro vai ter a forma mostrada a seguir: Na primeira estrutura, temos seis pares de elétrons em torno do átomo central (NPA = 6) com quatro pares ligantes (NPL = 4) e dois não- ligantes (NPNL = 2). A Tabela 12.1 informa que o arranjo geométrico da molécula é um quadrado plano. Já na segunda estrutura, temos cinco pares de elétrons em torno do átomo central (NPA = 5), com dois pares ligantes (NPL = 2) e três não-ligantes (NPNL = 3). A mesma tabela mostra que a molécula é linear. I II III C E D E R J 29 A U LA 1 2 Átomo Central C(I) C(II) O(III) NPA 4 4 4 NPL 4 4 2 NPNL 0 0 2 Arranjo dos pares Tetraedro Tetraedro Tetraedro Geometria Tetraedro Tetraedro Angular Ângulo entre ligações 109,5° 109,5° <109,5° Vamos desenhar a molécula? A Figura 12.9 mostra a forma da molécula de etanol. Observe que o desenho está de acordo com as previsões do modelo RPECV. Figura 12.9: A forma da molécula de etanol (C2H5OH) pode ser obtida analisando-se as geometrias das partes formadas pelos três átomos centrais. Como segundo exemplo, considere a molécula de acetona (C3H6O), cuja estrutura de Lewis é: A escolha dos átomos centrais deve estar clara para você. Eles são os átomos de C, numerados como I, II e III. Montando um quadro semelhante ao que foi feito para o etanol, obtemos as seguintes informações, que você deve conferir! I II III Elementos de Química Geral | Formas das moléculas: parte II 30 C E D E R J Átomo Central C(I) C(II) C(III) NPA 4 3 4 NPL 4 3 2 NPNL 0 0 2 Arranjo dos pares Tetraedro Trigonal Tetraedro Geometria Tetraedro Trigonal Tetraedro Ângulo entre ligações 109,5° 120° 109,5° Observe que existem três regiões de pares de elétrons em torno do C ligado ao O, pois a ligação dupla C=O conta como um par. Dessa forma, o arranjo deste átomo de C é diferente dos outros dois. Você pode conferir estas informações observando a Figura 12.10, onde a molécula de acetona é representada em forma tridimensional. Figura 12.10: Na acetona (C3H6O), o carbono ligado ao átomo de oxigênio tem arranjo espacial distinto dos demais átomos de C. Vamos verifi car se tudo fi cou claro? Resolva, então, os exercícios da atividade abaixo. 3. Dê os ângulos aproximados entre as ligações indicadas nas moléculas representadas pelas estruturas de Lewis a seguir: a) b) c) ATIVIDADE C E D E R J 31 A U LA 1 2 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Para resolver esta atividade, o primeiro passo a ser dado é decidir, para cada uma das estruturas, quantos e quais são os átomos centrais. A seguir, você deve montar uma tabela que contenha, para cada um dos átomos centrais que você escolheu, os valores de NPA, NPL e NPNL. Desta forma, você pode prever o arranjo geométrico em torno de cada átomo central e, desta forma, o ângulo entre as ligações que envolvem este átomo. A estrutura de Lewis do composto (a) indica que você deve escolher os dois átomos de C como átomos centrais: A linha cheia divide a estrutura em duas regiões, uma correspondendo ao C central I e a outra, ao II. Observe agora que cada átomo de C está rodeado por dois grupos de pares de elétrons (a ligação tripla conta como um par!), e que não há pares não-ligantes em nenhum deles. O quadro a seguir resume estas informações: Átomo Central C(I) C(II) NPA 2 2 NPL 2 2 NPNL 0 0 Arranjo dos pares linear linear Geometria linear linear Ângulo entre ligações 180° 180° I II Elementos de Química Geral | Formas das moléculas: parte II 32 C E D E R J Logo, o ângulo marcado é 180°. A representação espacial da molécula é apresentada na Figura 12.11.a Para a estrutura (b), você deve escolher os átomos de O e N unidos pela ligação simples O-N como átomos centrais. Examinando a estrutura de Lewis do composto, você pode montar o quadro a seguir: Átomo Central O- -N NPA 4 3 NPL 2 2 NPNL 2 1 Arranjo dos pares tetraedro trigonal Geometria angular angular Ângulo entre ligações 109,5° 120° Assim, o ângulo HON entre as ligações H-O e O-N fi ca em torno de 109,5° e o ângulo ONO entre as ligações O-N e N=O, em torno de 120°. A molécula tem o arranjo espacial mostrado na Figura 12.11b. Finalmente, os átomos centrais da estrutura (c) são os que formam a ligação C-O-C. O quadro representativo dos números de pares em torno de cada átomo é: Átomo Central C- -O- -C NPA 3 4 4 NPL 3 2 4 NPNL 0 2 0 Arranjo dos pares Trigonal Tetraédrico Tetraédrico Geometria Trigonal Angular Tetraedro Ângulo entre ligações 120° 109,5° 109,5° Portanto, o ângulo HCO entre as ligações H-C e C=O é de 120°, e o ângulo COC entre as ligações C-O e O-C é de 109,5°. O arranjo espacial da molécula é o indicado na Figura 12.11.c C E D E R J 33 A U LA 1 2 Figura 12.11: Arranjo espacial das estruturas de Lewis (a), (b) e (c). POLARIDADE DE MOLÉCULAS POLIATÔMICAS Você aprendeu na Aula 8 que a polaridade de uma ligação é defi nida pela forma pela qual os elétrons são compartilhados na ligação. Num extremo estão as ligações apolares, em que os elétrons ligantes são igualmente compartilhados pelos dois átomos; neste caso, os dois átomos têm a mesma eletronegatividade. No outro extremo, estão as ligações iônicas, em que os elétrons ligantes estão completamente deslocados para o átomo mais eletronegativo. A maioria das ligações entre dois átomos não é nem completamente apolar, nem completamente iônica: ou seja, é polar, com os elétrons ligantes mais ou menos atraídos pelo átomo mais eletronegativo. Uma grandeza útil para quantifi car a polaridade de uma ligação é o momento de dipolo da ligação. Observe a Figura 12.12.a Nela, duas cargas (+q e –q) iguais em valor absoluto, mas de sinais opostos, estão separadas por uma distância R. O momento de dipolo é defi nido como uma grandeza cujo valor absoluto (d) é dado por d = qR Se R = 0, as duas cargas se sobrepõem e d = 0. Por convenção, o dipolo elétrico gerado por estas duas cargas é representado por uma seta cortada, apontando na direção da carga negativa. Num átomo isolado, todos os elétrons fi cam em torno do núcleo. O átomo pode ser representado por duas cargas iguais (em valor absoluto) e coincidentes: a carga positiva é a do núcleo e a negativa, a dos elétrons. a b c Elementos de Química Geral | Formas das moléculas: parte II 34 C E D E R J Ou seja, o centro de cargas positivas (o núcleo) coincide com o centro de cargas negativas (acarga total dos elétrons). Neste caso, não há momento de dipolo. Numa ligação química entre dois átomos, há dois núcleos, ambos com carga positiva, pares de elétrons entre os átomos (os elétrons ligantes) e pares de elétrons não-ligantes centrados em cada átomo que forma a ligação. O efeito combinado da carga positiva do núcleo de um átomo com a carga dos elétrons em torno dele é descrito pela carga parcial (δ) sobre cada átomo que forma a ligação, como você pode visualizar na Figura 12.12.b Figura 12.12: (a) Duas cargas de mesmo módulo q, separadas por uma distância R, geram um dipolo cujo valor é d = qR. O dipolo aponta para a carga negativa. (b) Numa ligação entre dois átomos, a carga sobre o átomo A é δA e sobre B, δB. Numa ligação apolar, os dois átomos atraem elétrons com a mesma intensidade. Tudo se passa como se a nuvem eletrônica fi casse igualmente distribuída entre eles. Portanto, cada átomo fi ca com uma carga parcial nula (δA = δB = 0) e não há momento de dipolo na ligação. É o que ocorre com as ligações H-H na molécula de H2 ou Cl-Cl na molécula de Cl2. Quando os átomos que formam a ligação têm eletronegatividades distintas, a nuvem eletrônica se desloca para o átomo mais eletronegativo. Este fi ca com uma carga parcial negativa (δ-), enquanto o outro fi ca com carga parcial positiva (δ+). Gera-se, então, um dipolo cujo valor é o produto do valor absoluto (δ) da carga parcial com a distância (R) entre os átomos. É o que ocorre nas ligações O-H ou H-Br, por exemplo. É importante que você saiba distinguir a carga parcial δ da carga formal ou do número de oxidação de um átomo, que você aprendeu na Aula 10 (vale a pena você revisar estes conceitos!). Numa ligação apolar, a carga parcial sobre cada átomo é igual à carga formal, e ambas valem zero. Numa ligação completamente iônica, a carga parcial é igual ao número de oxidação, pois nela há transferência completa de elétrons para o átomo mais eletronegativo. Numa ligação polar, a carga parcial é a que melhor representa a polaridade da ligação; ela não é nem igual à carga formal nem ao número de oxidação. Infelizmente, não há uma forma simples de calcular o seu valor. a b C E D E R J 35 A U LA 1 2Numa molécula poliatômica, há várias ligações químicas. A polaridade da molécula depende de dois fatores: polaridade de cada ligação; geometria da molécula. Você com certeza compreende o porquê do primeiro fator. Vamos explicar o segundo através de um exemplo simples. Considere as moléculas de CO2 e H2O. Ambas são moléculas do tipo ABn, em que um átomo central A está ligado a n átomos B. No CO2, há duas ligações polares C=O, e na H2O, duas ligações O-H, também polares. Você poderia supor que ambas as moléculas são polares, mas somente a molécula de H2O o é; o CO2 é uma molécula apolar. Já analisamos a geometria destes compostos na aula anterior e sabemos que o CO2 é linear e a H2O é angular. A representação dos dipolos das ligações combinada com a geometria de cada molécula é ilustrada na Figura 12.13 a seguir. Você pode verifi car através dela que, no caso do CO2, os dipolos apontam para sentidos opostos, cancelando- se mutuamente. O mesmo não acontece com os dipolos das ligações OH na H2O. Há nesta molécula um dipolo resultante que aponta ao longo da linha bissetriz do ângulo entre as ligações O-H, na direção do átomo de O. Figura 12.13: Os dipolos das ligações C=O se cancelam no CO2, mas os das ligações O-H não se cancelam na molécula de H2O. O momento de dipolo ( r d ) é, na verdade, uma grandeza vetorial que se r d ) é obtido pela soma vetorial dos dipolos ( r di ) das ligações que formam a molécula. Lembre-se da Física que: 1. um vetor ( r v ) pode ser decomposto em suas componentes ao longo dos eixos cartesianos como r r r r v i j k= + +x y z , onde r r r i j k, , são os vetores unitários em cada um dos eixos. Se o vetor estiver no plano, só haverá duas componentes; 2. a soma de dois vetores r r r r v i j k1 1 1 1= + +x y z e r r r r v i j k2 2 2 2= + +x y z é um vetor r v cujas componentes são x x x= +1 2 , y y y= +1 2 e z z z= +1 2 . Esta soma é representada pela regra do paralelogramo. A Figura 12.14 ilustra estas duas propriedades vetoriais para o caso simples de dois vetores no plano xy. Elementos de Química Geral | Formas das moléculas: parte II 36 C E D E R J Figura 12.14: Um vetor é caracterizado por suas componentes ao longo dos eixos cartesianos; a soma de dois vetores é representada pela regra do paralelogramo. É importante que você visualize a formação do dipolo resultante na molécula de H2O decompondo cada um dos dipolos das ligações O- H ao longo dos eixos dos x e dos y no plano xy que contém a molécula. Você pode perceber que as componentes de cada dipolo de ligação ao longo do eixo dos x têm o mesmo valor, mas em sentidos opostos – elas se anulam. Já a componente y de cada dipolo tem o mesmo valor absoluto, mas se reforçam, somando-se no eixo dos y. Assim, o vetor resultante fi ca exatamente ao longo do eixo y, como ilustrado na Figura 12.15. Figura 12.15: Na molécula de H2O, as componentes dos dipolos das ligações O-H ao longo do eixo dos x se cancelam, e ao longo do eixo dos y se somam. O vetor resultante aponta para o átomo de O, ao longo do eixo dos y. Os argumentos utilizados para prever a polaridade do CO2 e da H2O são gerais e podem ser resumidos da seguinte forma: se a soma dos dipolos das ligações (consideradas as suas orientações) for nula, a molécula é apolar; se for diferente de zero, ela é polar. ! a b C E D E R J 37 A U LA 1 2 4. Determine a polaridade das moléculas a seguir; caso sejam polares, indique onde aponta o dipolo resultante. a) BF3 b) CH4 c) CF2Cl2 d) XeF4 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA A primeira etapa para você resolver esta atividade é determinar a estrutura de Lewis de cada composto. A seguir, utilizando-se as Tabelas 11.2 e 12.1, você pode determinar a geometria de cada molécula. Construa a seguir os dipolos das ligações e verifi que se eles se cancelam (ou não) no espaço. Já sabemos bastante sobre as moléculas envolvidas nesta atividade. A molécula de BF3 é trigonal plana (Figura 11.3.a), a de CH4 e de CF2Cl2 são tetraédricas (Figuras 11.1a e 11.7) e a de XeF4 é quadrada plana (Figura 12.8.b). Todas as ligações entre o átomo central e qualquer outro átomo nestas moléculas são polares. A polaridade fi nal vai depender, portanto, da composição dos vetores que correspondem aos dipolos das ligações em cada uma delas. Na molécula de BF3 , os dipolos fi cam dispostos como está mostradona Figura 12.16.a. Observe que todos os dipolos de ligação são iguais. A trigonometria elementar mostra que as componentes ao longo dos eixos dos x e dos y se anulam, de forma que a molécula é apolar. O mesmo ocorre com a molécula de XeF4, cujos dipolos estão representados na Figura 12.16.b. Esta molécula também é apolar. A composição dos dipolos das moléculas de CH4 e CF2Cl2 é um pouco mais difícil, pois o arranjo geométrico é tridimensional. Talvez fi que mais ATIVIDADE Elementos de Química Geral | Formas das moléculas: parte II 38 C E D E R J fácil se você visualizar as geometrias por um outro ângulo. É o que está ilustrado nas Figuras 12.16.c e d, juntamente com os dipolos das ligações. No CH4, as duas ligações CH superiores formam um plano e o dipolo resultante destas ligações aponta para cima. As ligações inferiores também formam um plano, perpendicular ao superior, mas o dipolo inferior resultante é colinear com o superior. Como todas as ligações são iguais, o dipolo total é nulo e a molécula é apolar. No CF2Cl2, os dipolos resultantes superior e inferior também são colineares, mas não são do mesmo tamanho, e a molécula é polar. O dipolo resultante das ligações C-F é maior que o das ligações C-Cl (devido à diferença de eletronegatividade) e o dipolo total fi ca ao longo da bissetriz das ligações C-F. Figura 12.16: As moléculas de BF3, XeF4 e CH4 são apolares, mas a de CF2Cl2 é polar com o dipolo apontando ao longo da bissetriz entre as ligações C-F. a b c b C E D E R J 39 A U LA 1 2CONCLUSÃO A geometria de moléculas pode ser prevista com excelente aproximação por um modelo simples, baseado na distribuição dos pares de elétrons em torno de um ou mais átomos centrais. Entretanto, a presença de pares de elétron não-ligantes e de ligações múltiplas distorce os ângulos das ligações em relação ao previsto pelo modelo simples RPECV. O arranjo geométrico da molécula é de fundamental importância na determinação da sua polaridade, que resulta da composição dos dipolos das ligações, considerando as suas orientações no espaço. ATIVIDADE FINAL Determine a geometria e a polaridade das espécies a seguir: a. HBCl2 b. GeH4 c. SO3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________ RESPOSTA COMENTADA Você precisa escrever a estrutura de Lewis de cada composto, determinar a geometria pelo método RPECV e compor os dipolos das ligações para formar o dipolo resultante. Elementos de Química Geral | Formas das moléculas: parte II 40 C E D E R J Na molécula de HBCl2, o átomo de B é o átomo central. Ele é do grupo 3A, tendo três elétrons de valência. Os átomos de H e Cl têm um e sete elétrons de valência, respectivamente. Então, a estrutura de Lewis do BHCl2 é: Observe que o B não tem o seu octeto completo neste composto; a ele estão ligados três pares de elétrons (NPA = 3), todos ligantes (NPL =3, NPNL = 0). Logo, o HBCl2 é trigonal plano. Na Figura 12.17 está a representação da molécula, com os dipolos das ligações e o dipolo total. Este aponta ao longo da bissetriz das ligações B-Cl, pois os átomos de Cl são bem mais eletronegativos que o átomo de H. Figura 12.17: A molécula de HBCl2 é polar com o dipolo resultante apontando ao longo da bissetriz das ligações B-Cl. O Ge (germânio) pertence ao grupo 4A, tendo quatro elétrons de valência. Assim, a estrutura de Lewis do GeH4 é: Vejam que NPA = 4, NPL = 4 e NPNL = 0. Logo, a molécula é tetraédrica e, tal como no CH4 , é apolar (Veja a discussão sobre o CH4 na resposta comentada da Atividade 4). O S pertence ao grupo 6A, tal como o O. Há três estruturas de Lewis ressonantes para o SO3 C E D E R J 41 A U LA 1 2Em qualquer uma delas, há três pares de elétrons em torno do átomo de S (lembre-se de que a ligação dupla conta como um par!). Então, NPA = 3, NPL = 3 e NPNL = 0. Desta forma, o SO3 é trigonal plano. Se você pensar que há duas ligações simples e uma dupla, deve esperar que as distâncias das ligações S-O e S=O sejam diferentes, o que está certo. Entretanto, convém lembrar que, quando há ressonância de estruturas, a estrutura real do composto não pode ser representada por nenhuma das estruturas ressonantes isoladamente. Na verdade, as distâncias S-O no SO3 são todas iguais. Se assim for, a molécula tem a mesma composição de dipolos que o BF3 , sendo apolar. Nesta aula, aprendemos que o conhecimento do arranjo espacial dos átomos formadores de uma molécula depende não apenas dos pares de elétrons em torno dos átomos centrais, mas também da natureza destes pares. Também verifi camos que este arranjo é essencial para compreendermos por que algumas moléculas são polares e outras não. R E S U M O INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, você vai estudar as reações de oxirredução, de grande importância em muitos processos químicos e biológicos.
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