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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA A TEORIA E PRÁTICA DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: UM ESTUDO DE CASO Graziela Francine Cazela São Carlos Junho/2007 ii UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA A TEORIA E PRÁTICA DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: UM ESTUDO DE CASO Graziela Francine Cazela Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura em Pedagogia do Centro de Educação e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Carlos, como parte dos requisitos para a obtenção de diploma de Graduada em Pedagogia. São Carlos Junho/2007 iii PARECERISTAS Prof. Dr. Celso Luiz Aparecido Conti _________________________ Prof. Dr. Flávio Caetano da Silva _________________________ .Prof. Dr. Eduardo Pinto e Silva _________________________ iv Profª. Drª. Maria Cecília Luiz. Orientadora v Dedicatória Dedico este trabalho a minha família, pelo amor, carinho, força, incentivo e intenso companheirismo nos momentos decisivos da minha vida. Também dedico este trabalho à minha orientadora, Profª. Drª. Maria Cecília Luiz, professora, amiga e ajudadora.. vi AGRADECIMENTOS Primeiramente à Deus pelo dom da vida e por ser sempre meu guia em todos os momentos de minha vida. Agradeço aos meus pais pela educação que me proporcionaram em toda a minha vida e pelo incentivo, pela força e pelos exemplos que sempre me dão, os quais uso em todos os segmentos de minha vida; e à minha irmã por estar sempre ao meu lado me apoiando e me ajudando. Agradeço ao meu esposo pelo companheirismo absoluto e pelo auto-astral que me ajuda sempre a superar os obstáculos e dificuldades. À Professora Maria Cecília Luiz, meus sinceros votos de gratidão, não somente pela orientação na elaboração deste trabalho, mas principalmente pela força, pelo ânimo, pelos ensinamentos e pela sincera amizade que dividimos nesses meses de elaboração deste trabalho. Agradeço aos professores, funcionários e direção da instituição educacional localizada no município de São Carlos, a qual me permitiu fazer a pesquisa de campo, em especial à Orientadora Educacional, pela colaboração na realização deste trabalho. E finalmente agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. vii SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................01 CAPÍTULO 1.................................................................................................................04 A Cultura organizacional e o cotidiano escolar..........................................................04 1.1. A estrutura escolar como organização ...............................................................04 1.2. As influências da cultura organizacional............................................................07 CAPÍTULO 2.................................................................................................................08 A Orientação Educacional: uma visão do passado e do presente.............................08 2.1. Breve panorama sobre a história da profissão através das Leis..........................08 2.2. A Orientação Educacional nos dias atuais..........................................................10 CAPÍTULO 3.................................................................................................................12 A Orientação Educacional em face a realidade da escola..........................................12 3.1. A Caracterização da escola..................................................................................12 3.2. O papel da Orientadora Educacional na escola...................................................17 3.2.1. A função do Orientador: o que diz os documentos e o que nos revela a Prática.................................................................................................................17 3.2.2. A atuação da Orientadora Educacional na visão de professores e coordenadores da escola .................................................................................21 3.3. As possibilidades entre a teoria e a prática no cotidiano escolar.........................23 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................28 REFERÊNCIAS.............................................................................................................30 ANEXOS Anexo 1 – Documentos consultados: Planejamento Escolar e Regimento Interno Anexo 2 – Entrevistas 1 INTRODUÇÃO Essa monografia teve como propósito investigar possibilidades e limites de atuação de um Orientador Educacional. Entende-se aqui o campo da Orientação Educacional como aquele que está, em especial, compromissado com os alunos, e de modo geral, com toda a escola e a comunidade, sempre tendo que “esclarecer” – principalmente, para aqueles que não acreditam no seu papel dentro da escola –, qual sua intenção de trabalho e quais os benefícios de sua atuação. A escolha pelo tema surgiu quando fomos lecionar numa escola particular, na cidade de São Carlos, que emprega um profissional na área de Orientação Educacional, nos dando, assim, oportunidade de investigar melhor o desempenho deste profissional nesse ambiente escolar. Outro motivo que nos moveu a escolha desse tema foi verificar com mais profundidade as perspectivas teóricas e práticas que ressaltam a importância da sua atuação na cultura organizacional da escola. É interessante destacar que, apesar do Orientador Educacional não ter espaços de atuação no estado de São Paulo, não existindo mais concursos para esse cargo nas escolas públicas estaduais, sabemos que “alguém” tem que realizar este trabalho, por isso a relevância de um olhar mais aprofundado com relação à ação desse profissional. Buscamos ler alguns referenciais teóricos sobre a atuação do Orientador Educacional, e mesmo levando em consideração que as realidades escolares se diferenciam – dependendo da época e/ou local –, selecionamos uma escola particular em São Carlos e acompanhamos uma Orientadora Educacional com a intenção de respondermos algumas questões, como: Quais são as possibilidades de trabalho de uma Orientadora Educacional na prática cotidiana da escola? Como, hoje, o Orientador Educacional está realizando seu trabalho na escola? Qual têm sido as suas funções como profissional entendendo que seus limites estão atrelados a cultura organizacional da escola? Como a sua atuação tem contribuído para uma educação de qualidade? Para estas inquietações, a princípio, tínhamos algumas hipóteses, e entre elas, de que nessa escola, especificamente, o que acontecia, geralmente, era uma indefinição das funções do orientador educacional. Isto estaria ocorrendo devido ao acúmulo de 2 trabalhoatribuído a orientadora, dificultando, muitas vezes, a clareza quanto ao seu papel dentro da instituição. Para aferirmos essas hipóteses traçamos como objetivo geral analisar e comparar a perspectiva teórica da função do Orientador Educacional, com a realidade prática de uma profissional que atua em uma escola particular. E como objetivos específicos: • Entender como alguns autores descrevem a função do Orientador Educacional e verificar a realidade vivenciada por uma profissional que atua em uma escola particular (perspectiva prática). • Observar e elencar as possibilidades na prática cotidiana da Orientadora Educacional em questão numa escola particular de São Carlos. No primeiro momento, fizemos um levantamento bibliográfico preliminar sobre os temas principais como: o campo de atuação da Orientação Educacional, e a sua relação com a teoria e a prática, além de um levantamento do histórico dessa profissão. A metodologia utilizada foi o estudo de caso considerado um tipo de análise qualitativa, podendo incluir dados quantitativos. Conforme afirma Marli André (2005), o estudo de caso possui quatro características: particularidade, descrição, heurística e indução. Particularidade porque focaliza um fenômeno em particular; a descrição significa que o produto final do estudo de caso é uma descrição densa do fenômeno em estudo, incluindo a questão das normas, costumes e valores culturais. O termo heurístico é usado para indicar que os estudos de caso iluminam a compreensão do leitor sobre o fenômeno estudado ampliando seus significados e a indução explica que parte dos estudos de caso baseia-se na lógica indutiva. A opção por essa metodologia deve-se ao fato de permitir que se identifiquem as características específicas do “caso”, pois o propósito deste estudo não é realizar comparações, mas verificar a dinâmica própria, estudando um caso singular, considerando seu contexto. Selecionamos uma escola do município que tivesse uma Orientadora Educacional atuando como profissional (contratada). Essa escola foi facilmente encontrada, pois tínhamos essa realidade no local em que estava lecionando, e obtive o consentimento da instituição, que nos deu a oportunidade de realizar a pesquisa de 3 campo. Os dados empíricos foram recolhidos no segundo semestre de 2006 e no primeiro de 2007, nesta perspectiva nos utilizamos de: 1. Observação direta e constante da atuação da Orientadora da escola: no segundo semestre de 2006. 2. Análise do Planejamento escolar e regimento interno. 3. Entrevistas com professores e coordenadores: foi realizada no segundo semestre de 2006 e primeiro semestre de 2007. Esta monografia, além desta introdução, está estruturada em três capítulos, mais as considerações finais. O primeiro capítulo “A cultura organizacional e o cotidiano escolar” foi dividido em duas partes. Na primeira explicitamos a importância da estrutura escolar como organização. Logo após, refletimos sobre as influências da cultura organizacional. O segundo capítulo intitulado, “A orientação Educacional: uma visão do passado e do presente” abarca numa primeira parte um breve panorama sobre a história da profissão através da Lei, e logo em seguida, a Orientação Educacional nos dias atuais. O terceiro capítulo “O Papel da orientação Educacional em face a realidade da escola” foi divido em três etapas. Neste estudo de caso, buscamos primeiro entender a cultura organizacional da escola em questão para depois, numa segunda etapa evidenciarmos a atuação da Orientadora Educacional, vislumbrando o Planejamento Escolar e os relatos de professores e coordenadores. E finalmente, num terceiro momento relacionamos as possibilidades entre a teoria e a prática nesse contexto escolar. Nas Considerações Finais, retomamos algumas questões sobre a dicotomia entre teoria e prática. Vislumbramos a importância de investigar e constatar na prática aquilo que aprendemos na teoria. Nos anexos, estão registrados os dados recolhidos de documentos como: Planejamento Escolar e Regimento Interno; além das entrevistas. 4 CAPÍTULO 1 A Cultura organizacional da Escola 1.1. A estrutura escolar como organização Para chegar ao que é hoje, a escola passou por muitas transformações no decorrer dos anos, das décadas, das eras, das revoluções, as quais lhe influenciaram, remoldando-a a fim de atender sempre aos desejos daqueles que estavam no domínio da situação. E com a cultura dos povos, não foi diferente. CHAUÍ (apud OLIVEIRA, 2005, p. 67), diz que “a cultura pode ser compreendida como a maneira pela qual os humanos se humanizam por meio de práticas que criam a existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e crítica”, e por esse motivo tem que ser visualizada como fator fundamental no processo de produção do homem e da sociedade. Complementando, OLIVEIRA (ibid, 2005) traz a cultura como algo que ao mesmo tempo é instituído, que já está concretizado, e instituinte, que ainda não é realidade, ou seja, “cultura é continuidade, história e é mudança e perspectiva de futuro”. Nesse contexto, a cultura organizacional, usada nas empresas, vem para a escola como uma forma de facilitar a compreensão do cotidiano desta, do modo como as coisas nela são realizadas, preservadas e construídas. Pode-se dizer que a cultura organizacional vai sendo construída por cada um dos personagens os quais fazem parte da escola. Dessa forma, contribuição dos professores seria a de maior tamanho, pois é este que está em contato direto com os alunos, seus pares e outros membros da instituição, concebendo valores, posturas e visões de mundo, influenciando assim a cultura da escola. NÓVOA (1999, p. 25) dirá que “o funcionamento de uma organização escolar é fruto de um compromisso entre a estrutura formal e as interações que se produzem no seu seio, nomeadamente entre grupos com interesses distintos”, e em seguida separa as características organizacionais das escolas em três grandes áreas: 5 “- estrutura física da escola: dimensão da escola, recursos materiais, número de turmas, edifício escolar, organização dos espaços, etc.; - a estrutura administrativa da escola: gestão, direcção, controlo, inspecção, tomada de decisão, pessoal docente, pessoal auxiliar, participação das comunidades, relação com as autoridades centrais e locais, etc.; - a estrutura social da escola: relação entre alunos, professores e funcionários, responsabilização, e participação dos pais, democracia interna, cultura organizacional da escola, clima social, etc” (ibid, 1999). SHEIN (1991. apud OLIVEIRA, 2005: p. 68) traz três elementos existentes na cultura organizacional: • Artefatos: se traduzem na infra-estrutura da escola: tipo de linguagem oral e escrita que é veiculada, produção científica e artística, modo de relacionamento e atitudes comportamentais. • Valores e crenças: os valores vão definir a moral, as normas e regras da conduta da escola; enquanto que a crença é que vai afirmar a verdade de uma coisa, mesmo que não se consiga comprová-la. • Concepções básicas: operações pelas quais os sujeitos formam, através de experiências diversas, a representação de um objeto de pensamento ou conceito, que uma vez interiorizadas, servem para orientar as ações individuais e coletivas. FREITAS (1991, apud OLIVEIRA, 2005, p. 68 e69) e SARMENTO (1994, ibid 2005) trazem outros elementos existentes na cultura organizacional, além dos que foram citados anteriormente: • Comunicações: processos de interlocução entre os sujeitos da escola que permitem a criação, a permanência e a transmissão dos traços culturais da instituição. • Histórias: narrativas de cunho verdadeiro que legalizam oscomportamentos tidos como cabíveis. 6 • Mitos: narrativas legendárias pertencente à tradição cultural de um povo que, mesmo não possuindo justificativa, são comumente aceitas. • Heróis: personificação dos valores da escola. • Símbolos: objetos que representam outros, de forma semelhante ou convencional, através dos quais se indica um objeto. • Ritos, rituais e cerimônias: formas simbólicas que objetivam a transmissão das formas de comportamentos esperados na escola. • Tabus: áreas tidas como proibidas, interditadas a qualquer contato e geralmente de cunho disciplinador. Sobre o mesmo assunto irá discorrer HEDLEY BEARE (1989, apud NÓVOA, 1999), que separa os elementos da cultura organizacional da escola em: - Bases conceituais e pressupostos invisíveis: valores, crenças e as ideologias dos membros da organização – elementos-chave das dinâmicas instituintes e dos processos de institucionalização das mudanças organizacionais. - Manifestações verbais e conceptuais: objetos organizacionais, linguagem, narrativa, heróis e histórias. - Manifestações visuais e simbólicas: arquitetura e imagem do edifício, materiais, ocupação do espaço, cores, limpeza, conservação, vestuário dos alunos professores e funcionários, logotipos e formas com as quais a escola se apresenta para o exterior. - Manifestações comportamentais: todos os elementos susceptíveis de influenciar o comportamento dos integrantes da organização: atividades normais da escola e a forma com a qual são desempenhadas; normas e regulamentos, rituais e cerimônias diversas. OLIVEIRA (2005, p. 69), a fim de objetivar esses elementos, traz alguns exemplos de como eles aparecem na escola: “promover Feira de Ciências; elaborar o jornal da escola; hastear a bandeira; cultuar a memória de uma ex-diretora; comemorar o dia do professor; usar uniforme; abonar faltas, somente com justificativa escrita; usar o logotipo da escola, etc. Esses elementos utilizados, com regularidade, acabam sendo incorporados à cultura da escola, personificando-a e constituindo seu ethos” (grifo da autora). 7 1.2. As influências da cultura organizacional O próprio dia-a-dia da escola, seu funcionamento, se institui como um ritual incluindo: a forma de relações existentes, as punições, a burocracia, a metodologia, a didática, etc (Oliveira, 2005). A cultura organizacional da escola ainda vai sofrer influências internas e externas, sendo muito susceptível a mudanças. Como influências internas teremos a estrutura física e seus artefatos, a disciplina, os símbolos, os processos administrativos e pedagógicos, a gestão escolar, etc; enquanto que como influência externa teremos concepções educacionais recentes, políticas públicas em educação, normas e determinações do sistema de ensino e o contexto socioeconômico dos alunos (TEIXEIRA, 2000 apud OLIVEIRA, 2005, p. 69). Mas a escola pode resistir a mudança, a qual pode ser justificada pelo costume que os professores têm de resistir sempre a novos governos e novas políticas (OLIVEIRA, 2005, p. 70). Podemos dizer que a abordagem da cultura organizacional na escola é importante para permitir seu conhecimento, numa perspectiva mais humana, unificada e coletiva, a qual revela as tramas, as relações, as correlações de força, que identificando a escola, podem contribuir para seu melhor conhecimento e, assim, para uma gestão mais coletiva, transparente e democrática da instituição. Mas é necessário que haja cautela para que a cultura organizacional não seja usada como meio de manipulação, fazendo com que todos defendam os mesmos ideais, mesmo não acreditando neles (ibid, 2005, p. 71). A atuação da Orientação Educação por fazer parte do âmbito escolar, através da observação, da análise de contextos que ocorrem no espaço escolar, exige que este profissional conheça a cultura organizacional da escola. Para que o Orientador Educacional de uma escola possa realizar seu trabalho em busca de uma educação de qualidade, deve conhecer com total domínio a cultura a qual rege a organização da escola em que atua. Ou seja, deve conhecer seus valores, suas crenças, sua história, seus heróis para que possa da melhor maneira orientar os professores em seu trabalho e dificuldades, assim como fornecer aporte para as necessidades dos alunos. A conduta do orientador Educacional pode ajudar no bom andamento da cultura organizacional à medida que através de seu trabalho, busca o contato constante entre escola, aluno e pais, resolvendo seus conflitos, temores, inserindo-os cada vez mais na participação da realização do projeto político-pedagógico da escola. 8 CAPÍTULO 2 A Orientação Educacional: uma visão do passado e do presente 2.1. Breve panorama sobre a história da profissão através das Leis Alguns autores os quais discorrem sobre o tema da Orientação Educacional, nos trazem a história desta, assim com a forma em que se encontra atualmente. GRINSPUN (2002) reúne todos os artigos sobre o tema Orientação Educacional, situando o profissional desta área em várias questões do cotidiano escolar, seu histórico e como a legislação rege tal trabalho. Na introdução do seu livro, ela situa o leitor na história da profissão, a qual andou sempre junto à educação, “na busca das finalidades de um projeto político-pedagógico formulado para a escola em favor de seus próprios alunos” (GRINSPUN, 2002, p. 17). A autora (ibid, 2002) relata a origem da Orientação Educacional, a qual se iniciou com a Orientação Vocacional, nos Estados Unidos, em 1908, com um caráter de aconselhador que marca toda sua trajetória. Movimentos da época teriam feito eclodir tal prática no mundo todo, como os movimentos em prol da psicometria, da revolução industrial, da saúde mental e das novas tendências pedagógicas. Já a preocupação com a organização escolar surgiu apenas em 1912, em Detroit, nos Estados Unidos, através de Jessé Davis, mas com a particularidade básica de acolher a problemática vocacional e social dos alunos de sua escola (ibid, 2002). No Brasil, segundo GRINSPUN (2002), a Orientação Educacional teve início em 1924, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, também com a função de Orientação Vocacional. Já NÉRICI (1976) acredita que a primeira tentativa de Orientação Educacional no Brasil deve-se à Lourenço Filho, que quando diretor do Departamento de Educação do Estado de São Paulo, criou o “Serviço de Orientação Profissional e Educacional”, em 1931, o qual tinha como maior objetivo, guiar o indivíduo na escolha de seu lugar social pela profissão. Começaram a surgir, também, experiências isoladas nas escolas, nos molde americanos e europeus, sendo a pioneira a de Aracy Muniz Freire e Maria Junqueira Schimit, no Colégio Amaro Cavalcanti, no Rio de Janeiro, em 1934 (GRINSPUN, 2002, p. 18). 9 Foi com as Leis Orgânicas de 1942, do ministro de Getúlio Vargas, Gustavo Capanema, que pela primeira vez se encontraram referências explicitas à Orientação Educacional. Sua função teria caráter corretivo e direcionado para o atendimento aos alunos problemas. Outra função seria a de velar para que os estudos e descanso do aluno ocorressem de acordo com as normas pedagógicas mais adequadas. Também teria o papel de esclarecer possíveis dúvidas dos alunos e orientar seus estudos para que sozinhos buscassem sua profissionalização. A profissão também seria regulamentada, tendo o Orientador Educacional que fazer um curso próprio de Orientação Educacional. (GRINSPUN, 2002). Mas ainda o curso principal da Orientação Educacional seria o ensino técnico, em que ajudava na formação de uma mão-de-obra especializada e qualificada, assumindo caráter terapêutico, preventivo, psicometrista, identificando aptidões, dons e inclinações dos indivíduos. Na Leide Diretrizes e Bases da educação nº. 4024 de 1961, previa-se que o ensino normal se encarregue da formação de Orientadores Educacionais para o primário, assim como prevê que as faculdades de Filosofia formem esse profissional para o atendimento do Ensino Médio (ibid, 2002). A referida lei fala mais sobre a formação do Orientador Educacional do que sobre o Conceito da função deste profissional. Nesta lei, a Orientação Educacional vem com a função de contribuir para a formação integral da personalidade do adolescente, para seu ajustamento pessoal e social. Suas principais áreas de abrangência seriam as orientações escolar, psicológica, profissional, da saúde, recreativa e familiar (GRINSPUN, 2002). Já na Lei de Diretrizes e Bases da educação nº. 5692 de 1971, a Orientação Educacional assume um papel fundamental, sendo a área da Orientação Vocacional a mais privilegiada para atender aos objetivos de ensino da própria lei. Na década de 1980, o orientador vai deixando as funções/denominações de atender alunos-problema, de psicólogo e facilitador de aprendizagem e vai com o tempo ostentando com mais autoridade técnica seu compromisso político com e na escola. A produção acadêmica na área da Orientação vai sendo ampliada numa dimensão mais crítica e questionadora; assim como os orientadores adotam uma função política comprometida com as causas sociais (ibid, 2002). Na verdade, na década de 80, os orientadores pensam e discutem muito sobre sua profissão e seu papel na educação, mas acabam ficando só no teórico pois na prática o que se vê é o mesmo das décadas anteriores. 10 2.2. A Orientação Educacional nos dias atuais GRINSPUN (2002) trata a situação em que se encontra a Orientação Educacional nos dias de hoje. Para ela, atualmente, a orientação possui papel mediador junto aos demais educadores da escola, buscando assim o resgate de uma educação de qualidade nas escolas. Da ênfase ao individual de antes, passa-se, agora, a reforçar o aspecto coletivo, sem deixar de levar em conta que este é formado por pessoas com pensamentos e contextos sociais diferentes que as levam a pensar de maneira própria sobre as questões que lhes cercam, devendo elas chegarem a realizações bem sucedidas. Essas novas mudanças começam a surgir no início da década de 1990, quando muitos acontecimentos permitem tal processo, passando a educação e a orientação a andarem juntas, sendo “os orientadores (...)os coadjuvantes na prática docente” (ibid, 2002, p. 27). Hoje o Orientador Educacional, no discurso de GRINSPUN (2002), não atua mais por ser uma profissão que deva existir pela “obrigação”, pois na Lei 9394/96 não há a obrigatoriedade da Orientação, “mas por efetiva consciência profissional, o orientador tem espaço próprio junto aos demais protagonistas da escola para um trabalho pedagógico integrado, compreendendo criticamente as relações que se estabelecem no processo educacional.” (GRINSPUN, 2002, p.28) A autora relata a importância da interdisciplinaridade dentro da escola, em que o trabalho de todos é realizado em conjunto, conectado, no qual todos buscam os melhores processos e resultados (ibid, 2002). A Orientação tem que servir para esse novo tempo, no qual a educação lida com o real e suas perspectivas. “O principal papel da Orientação será ajudar o aluno na formação de uma cidadania crítica, e a escola, na organização e realização de seu projeto pedagógico. Isso significa ajudar nosso aluno ‘por inteiro’ (grifo da autora): com utopias, desejos e paixões. (...)a Orientação trabalha na escola em favor da cidadania, não criando um serviço de orientação (grifo da autora) para atender aos excluídos (...), mas para entendê-lo, através das relações que ocorrem (...) na instituição Escola.” (GRINSPUN, 2002, p. 29) 11 Segundo a autora, a Orientação está nomeada como fazendo parte da educação e por esse motivo deve pensar, hoje, nas dimensões sociais, culturais, políticas e econômicas na qual ela acontece. Por esse motivo, devem-se definir as tarefas de um orientador engajado com as transformações sociais, com a o momento histórico em que está inserido. 12 CAPÍTULO 3 A orientação Educacional em face a realidade da escola 3.1. A Caracterização da escola A pesquisa de campo desta monografia foi realizada numa escola particular, religiosa (católica) que está localizada na cidade de São Carlos, próxima ao centro da cidade e nas redondezas de um bairro antigo e tradicional. Nesta escola são oferecidos vários níveis de ensino, da Educação Infantil ao Ensino Médio, além do Ensino Técnico. NÓVOA (1999, p.33-36), criticando o sistema das escolas portuguesas as quais tiram os pais e as comunidades da participação da escola, diz que há “três áreas de intervenção nas escolas para além dos domínios relacionados com o sistema educativo e a administração do ensino”. Distinguir essas três áreas seria um esforço imaginário, mas que ajuda a distinguir o papel que os diferentes grupos exercem na escola. E seguindo a idéia que o autor traz sobre essas três áreas, faremos a caracterização da escola em questão. A primeira área seria a escolar, que “diz respeito ao conjunto das decisões ligadas ao estabelecimento de ensino e ao seu projeto educativo” (NÓVOA, 1999, p. 34). Dentro dessa área, trataremos do espaço físico da escola. O Colégio conta com uma estrutura física ampla, possuindo teatro, quadras cobertas e campos gramados, academia de ballet, piscina, playground, sala de música, salas de informática, laboratórios, biblioteca, sala de artes e salas de apoio. Por fazer parte de uma rede nacional de escolas católicas, possui também uma Igreja ao lado, na qual a comunidade escolar realiza seus eventos, assim como a freqüência nas missas, e também um seminário, que forma padres segundo sua ordem, para que esses possam futuramente, também, trabalhar na administração da Rede. A Escola realiza vários eventos durante o ano letivo. Abaixo, citarei alguns deles, assim como suas características. O aniversário da escola, que se dá no mesmo mês em que os irmãos La Sallistas, fundadores da rede, chegaram ao Brasil, é comemorado com um cerimonial, o qual conta com orações e músicas. 13 As Olimpíadas, realizadas no mês de maio, contam em sua abertura com um evento o qual simula a abertura das Olimpíadas que ocorrem em contexto mundial a cada quatro anos. Nessa abertura, realizada em um grande ginásio da cidade, todas as séries com suas respectivas salas fazem uma volta olímpica, representando cada uma um sub-tema dentro de um tema maior que, na maioria das vezes tem relação com a “Campanha da Fraternidade”. Nesse momento, também, há apresentações artísticas e é acesa a tocha olímpica. Durante toda a semana, são realizadas competições esportivas, envolvendo futebol, handebol, basquete, vôlei, salto a distância, etc., e delas participam todos os alunos, da Educação Infantil ao terceiro ano do Ensino Médio. No último dia da semana, é realizado o encerramento do evento, sendo que nesse momento são revelados e premiados os times campeões (no caso). Na mesma época das Olimpíadas é realizado o “La Salle Fashion”, o qual conta com desfiles de moda, realizados por lojas de roupas da cidade. Junto com esse desfile é realizada a eleição dos “Casais La Salle”, na qual participam alunos do ensino Fundamental e Médio e representam a escola em vários eventos durante o ano. No mês de outubro é realizada a Open House, a qual é vinculada às disciplinas de Ciências e Educação Artística e os alunos apresentam vários trabalhos sobre temas diversos realizados por eles próprios. Nesse evento, a escola é aberta à cidade, sendo que várias escolas da cidade fazem visitas à ela na ocasião e aprendem com as exposições. Aescola organiza, também, acampamentos, os quais são realizados nas próprias dependências do colégio. Envolvem desde a educação infantil até o Ensino Médio, não sendo para todos no mesmo dia. Enquanto acampam, realizam atividades musicais, gincanas, luais, etc. No final do ano, como festa de encerramento do ano letivo, além de uma missa na catedral da cidade, é realizado o “Encontro com a arte”, no quais vários trabalhos artísticos dos alunos são apresentados à comunidade, como danças, pinturas, esculturas, encenações teatrais, etc. Além desses eventos anteriormente citados, os eventos tradicionais do calendário letivo também são realizados, como o carnaval, no qual é preparado um “baile” para as crianças; a festa junina, Dia dos Pais e Dia das Mães, comemorações que contam também com uma missa em homenagem à esses personagens; a Celebração Pascal, na qual é celebrada a missa do “Lava Pés” para os professores e funcionários do 14 colégio; a formatura da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, assim como um Festival de dança realizado pelas crianças da Educação Infantil, o qual conta sempre com um tema. As aulas são ministradas nos três períodos, sendo que à tarde estão presentes somente as aulas da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental, e a noite são ministradas apenas as aulas dos cursos técnicos. No período da tarde, também, a escola permanece aberta para que os alunos da manhã realizem atividades extra-sala, sendo elas esportivas, artísticas e musicais, além de reforços e plantões. De manhã, as aulas ocorrem das 07:20 às 11:50 e, à tarde, das 13:20 às 17:50. Seguindo a perspectiva de Nóvoa (1999), a segunda área é a pedagógica que refere-se “à relação educativa professor-aluno”. Passando para a análise da pesquisa de campo, citarei aqui o contexto social dos alunos. Os alunos, em geral, são provenientes de famílias de classe média, sendo seus pais pequenos empresários, profissionais liberais, funcionários de empresas conhecidas na cidade e funcionários e professores da própria escola, sendo raros os casos de alunos provenientes das classes mais baixas. Alguns alunos também são provenientes das famílias que fazem parte da comunidade católica da escola, a qual possui um grupo da terceira idade, que realiza encontros religiosos, culturais e interativos, sendo que seus filhos e netos estudam e/ou estudaram na escola. Essas famílias, na maioria das vezes, preocupam-se com a educação de seus filhos, pois os querem ver inseridos numa boa universidade; por esse motivo pagam professores particulares e psicólogos para eles quando necessário, tendo a escola apenas o papel de encaminhamento e acompanhamento nos casos de dificuldade de aprendizagem dos alunos. E, por fim, a terceira área, ainda, segundo Nóvoa (1999), é a profissional, “onde se situam as questões do desenvolvimento profissional, da carreira docente e da organização técnica dos serviços”. A gestão da escola é composta por diversos membros: tanto pelos religiosos que colaboraram com a fundação da escola, como por profissionais da educação. Quem cuida da direção da escola é um padre, que conta com a ajuda de um diretor administrativo e de dois coordenadores pedagógicos. Também é auxiliado pelo SOE, Serviço de Orientação Educacional, coordenado por uma pedagoga que se encontra na 15 escola no período matutino. Esta cuida dos problemas de aprendizagem dos alunos, atende aos pais que querem resolver juntamente com a escola os problemas de seus filhos, analisa os planos de aula dos professores e organiza e coordena suas reuniões. Quanto ao professorado, as salas de Educação Infantil e primeiro ciclo das Séries Iniciais, têm uma única professora (polivalente), apesar das crianças freqüentarem aulas extras na própria escola, como: inglês, música e Educação Física (ministradas por outros docentes). A partir da terceira série do Ensino Fundamental até o Ensino Médio cada matéria é dada por um professor, como geralmente ocorre nas escolas particulares. A biblioteca da escola conta com uma bibliotecária formada na área de educação, que realiza eventos de “contação de histórias” e ajuda as crianças com trabalhos e tarefas de casa. Nos momentos de “Hora do conto” essa professora conta e interpreta várias histórias e estórias que envolvem vários temas, como folclore, história de vida de poetas e escritores, Campanha da Fraternidade, etc, sempre envolvendo conteúdos que levem à discussão da moral e do bom comportamento das crianças. Esse evento ocorre todos os meses e são oferecidos para a Educação Infantil e Ensino Fundamental. É importante ressaltar que nessa escola os pais e a comunidade têm grande participação, ajudando na realização dos eventos como Festa Junina, Casal La Salle, Olimpíadas, assim como a presença nas missas e eventos artísticos. Apesar disso, não são convidados pela escola para a realização de uma discussão sobre sua proposta pedagógica, tanto quanto não participam de sua elaboração. Na tabela nº 1, apresentamos o número de alunos por cada sala e período, assim como seu total. 16 TABELA 1 – Número de alunos por sala e período Alunos por Turno Curso Série Salas Manhã Tarde Total 3 anos 2 2 12 14 4 anos 2 5 21 26 5 anos 3 10 31 41 Sala A 10 0 10 Sala B 0 16 16 Educação Infantil Sala C 0 15 15 1o. ano 2 20 21 41 2o. ano 2 29 31 60 2a. série 2 34 30 64 3a. série 2 35 26 61 4a. série 2 34 20 54 5a. série 3 79 0 79 Sala A 29 0 29 Sala B 27 0 27 Sala C 23 0 23 6a. série 3 86 0 86 Sala A 31 0 31 Sala B 29 0 29 Sala C 26 0 26 7a. série 3 88 0 88 Sala A 29 0 29 Sala B 27 0 27 Sala C 32 0 32 8a. série 58 0 58 Sala A 27 0 27 Ensino Fundamental Sala B 31 0 31 1a. série 70 0 70 Sala A 35 0 35 Sala B 35 0 35 2a. série 60 0 60 Sala A 29 0 29 Sala B 31 0 31 3a. série 45 0 45 Sala A 25 0 25 Ensino Médio Sala B 20 0 20 Total de Alunos 655 192 847 Fonte: Secretaria da escola 17 3.2. O papel da Orientadora Educacional na escola 3.2.1. A função do Orientador: o que diz os documentos e o que nos revela a prática Iniciaremos este tema afirmando que pudemos perceber que as tarefas e responsabilidades da orientadora dessa escola são muitas, e isso foi averiguado através de observação direta e constante, ou seja, acompanhando-a no seu dia-a-dia. Mesmo assim, decidimos também investigar se existia algum documento na escola que pontuasse a função do Orientador Educacional, já que esse profissional é contratado pela instituição com tal cargo. Começamos relatando que a Orientadora Educacional possui a responsabilidade de identificar as dificuldades dos alunos, para tentar resolvê-las. Na sua sala, também, se “abrem os corações”, pois, muitas vezes, problemas psicológicos e emocionais como o de relacionamento entre pais e alunos é tratado na sua presença. O Serviço de Orientação Educacional (SOE), assim chamado pela escola, possui um regimento que define as funções da Orientação na escola. Este regimento interno da escola (ver anexo 1-A) encontra-se, do artigo 25 ao 27, as “Atribuições do Orientador Educacional”, dentre as quais estão presentes: • VII Desenvolver processo de aconselhamento junto aos alunos, abrangendo conduta, estudos e orientação para trabalho, em cooperação com professores, família e comunidade; • Assessorar o trabalho docente: a) acompanhando o desempenho dos professores em relação a peculiaridades do processo ensino-aprendizagem; b) acompanhando o processo de avaliação e recuperação do aluno; • Encaminhar os alunos a especialistas quando se fizer necessário; • Montar e coordenar e desenvolvimento de esquema de contato permanente com a famíliado aluno. È fundamental ressaltar que essas atribuições referidas ao Orientador Educacional não são iguais para todos os colégios da mesma denominação religiosa, mas que variam de acordo com a cidade, pois tais funções são traçadas de acordo com o que é solicitado pelo Sistema de Ensino de cada cidade. 18 Verificamos no Planejamento escolar (ver anexo 1-B), e existe a mesma definição e as mesmas atribuições para o Orientador Educacional. Quanto à proposta pedagógica da escola, não encontramos nenhuma descrição sobre o trabalho, ou a função e/ou atuação do Orientador e do SOE. Na prática constatamos que muitas são as funções da Orientadora Educacional nessa escola em questão, sendo que seu trabalho está relacionado aos alunos, familiares e professores. Todos os bimestres os professores têm que entregar à Orientadora um plano de aula em que os mesmos devam colocá-lo em prática. Esses planos são lidos, analisados e arquivados. Na Semana Pedagógica, realizada em janeiro do ano seguinte, a Orientadora retoma estes planos e faz sugestão a respeito dos mesmos, ou apontando críticas ou elogiando e mantendo o que foi bom e realizado no ano anterior. Durante essa semana de janeiro, também realiza um Work Shop para os professores sobre como deve ser realizado um bom plano de aula. Com relação aos professores, enumera e arquiva os certificados de cursos em que estes participaram durante o ano – completando 40 horas de trabalho e estudo extra- escola. Também cuida de questões burocráticas da escola, como a documentação e “contratação” dos estagiários, os quais somam por volta de 40 neste semestre. Fica ao seu encargo expedir todos os documentos relacionados à Diretoria de Ensino da cidade, principalmente, quando aparecem recursos de alunos que repetem de série. Ou quando existe a necessidade de um trabalho com a inclusão de um aluno portador de necessidades especiais – número significativo nesta escola. Mas sua atuação mais expressiva está no cotidiano escolar com os alunos e com relação à escola-família. No trabalho com o reforço de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental, por exemplo. No caso da 1ª série, ela acompanha o rendimento escolar nos dois semestres, analisando os cadernos, tomando a tabuada, tomando a leitura e verificando a interpretação de texto de todos os alunos. Já nas demais séries (2ª, 3ª e 4ª) são os professores que indicam os alunos com dificuldades de aprendizagem para o reforço escolar. No primeiro semestre a Orientadora faz uma avaliação constatando as dificuldades de aprendizagem dos alunos, e quem terá que freqüentar o reforço escolar. No segundo semestre, ela verifica os resultados deste reforço, através da melhora na 19 aprendizagem, e caso algum aluno não tenha se recuperado totalmente, registra os problemas e dificuldades para a professora do ano seguinte. Com os alunos de 5ª a 8ª do Ensino Fundamental e do Ensino Médio a Orientadora realiza “Orientação ao Estudo”, na qual os próprios alunos têm a liberdade de agendar um horário. Para estes alunos ela aplica testes e conversa, dando orientações de como eles podem se organizar para estudar, principalmente, quanto à ordem das disciplinas, além, de ensinar como fazer um cronograma de organização de horários, posicionando da melhor maneira possível as disciplinas a serem estudadas. Tal programação é feita levando em conta as atividades extra-escolares dos alunos. Para o Ensino Médio, também, é feita uma orientação quanto ao vestibular. Para aqueles que estão no último ano, é oferecido um teste vocacional e orientação profissional no início do ano, assim como palestras com especialistas e profissionais de várias áreas, permitindo melhor decisão aos alunos. A orientadora, também, constrói um espaço – um painel – com pôsteres de diversas faculdades e universidades, com o propósito de chamar a atenção dos alunos com relação aos locais (e os seus respectivos vestibulares) e os cursos que estão sendo oferecidos. Com relação à vida escolar do aluno na escola, a Orientadora fica responsável em arquivar todos os seus documentos, ano a ano, desde quando entra até sua saída. Fica a seu encargo, também, a questão da inclusão de alunos portadores de necessidades especiais. Verifica como está a integração deste aluno especial e a escola, e como está sendo desenvolvido o trabalho com ele durante o ano. Atua como aquela que intermediará, durante o ano, a comunicação entre a escola, família e profissionais que ajudarão no processo de melhoria da qualidade de ensino oferecido a este aluno. Com relação à comunidade usuária, ou seja, aos pais que possuem filhos na escola, seu trabalho inclui oferecer palestras sobre questões delicadas, como Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA), Hiperatividade, como ajudar os filhos a estudarem, etc. É da sua incumbência, também, atender em horários agendados, os pais que possuem inseguranças em relação ao desenvolvimento de seus filhos, auxiliando-os a procurarem, às vezes, um profissional fora da escola, como uma professora particular, uma psicóloga ou psicopedagoga. A Orientadora, também, se responsabiliza em anotar o nome dos alunos mais velhos (Ensino Médio) que estão com média baixa (suas notas) no bimestre, pois os pais dos alunos acabam procurando-a para saberem mais sobre a avaliação de seus filhos – principalmente aqueles que escondem ou jogam fora suas provas e avaliações. 20 Os pais, também, confiam muito no trabalho dela, e para tirar suas dúvidas com relação a parte pedagógica da escola acabam procurando-a. Isto tem fortalecido os laços entre ela e os pais, mesmo porque a sua atuação nesta escola é de muito tempo. Existe uma expectativa negativa quanto a troca de coordenadores da escola, porque isto já aconteceu três vezes em um curto espaço de tempo. Assim, qualquer assunto envolvendo os alunos, os pais acabam procurando apenas ela (Orientadora), sobrecarregando as suas tarefas. Para amenizar suas obrigações ela transferiu algumas áreas de atuação para os demais coordenadores, como a questão da disciplina, provas substitutivas e recuperação. No final do segundo semestre de 2006, a Orientadora saiu de licença maternidade, e seu trabalho foi dividido em três frentes: o atendimento aos pais e alunos ficou a cargo da coordenação; a leitura e análise dos planos de aula e acompanhamento dos alunos da primeira série do Ensino Fundamental, assim como o arquivo documental dos alunos e certificados dos professores ficaram sob a responsabilidade de duas estagiárias (sendo que eu serei uma delas); e as demais atividades foram interrompidas por este tempo de licença, por não ter quem se responsabilizasse por elas. 21 3.2.2. A atuação da Orientadora Educacional na visão de professores e coordenadores da escola A percepção que os professores e coordenadores da escola tinham a respeito do trabalho da Orientadora Educacional era outra perspectiva que gostaríamos de abordar nesse trabalho. Para percebermos um pouco mais como isso ocorria aplicamos um mesmo questionário em três professores da escola, que na época escolhemos aleatoriamente, um professor que lecionava na Educação Infantil, um no Ensino Fundamental e um no Ensino Médio. Quanto à coordenação, devido a diversas dificuldades, aplicamos um único questionário, somente, para a Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil. Verificamos conforme anexo 2 B e C, que a percepção da equipe escolar (segundo esses professores e coordenadora) estava fortemente inclinada a considerar o atendimento do SOE (Serviço de Orientação Educacional) eficiente. A princípio percebemos que as colocações são todas positivas e sempre com uma visão de que a Orientadora Educacional era aquela que detectava, juntamente, com o professor dificuldades de aprendizagem nos alunos.A atuação da Orientadora estava centralizada em orientar o professor no seu trabalho com o aluno e seus pais. Na visão dos professores fica evidente que a forma como eles deveriam desenvolver seus trabalhos, na sala de aula, com os alunos, partiria da decisão da Orientadora Educacional. Quanto à coordenadora essa perspectiva não mudou, fica claro na sua fala que eram “elas” (coordenação e orientação) que decidiam o melhor procedimento a ser tomado, de acordo com o tipo de problema detectado no aluno. Nos pareceu que a função do SOE estava bem clara para ambas categorias dentro da escola, ou seja, a Orientadora tinha como papel fundamental resolver problemas de alunos com dificuldades de aprendizagem. Segundo GRINSPUN (2002) a Orientação não deveria exercer um papel na escola que caracterizasse um “serviço à parte”, com preocupações voltadas apenas para resolver problemas. Ao contrário, a função do Orientador seria de auxiliar na elaboração do projeto político-pedagógico a ser desenvolvido na escola, e de preferência que este fosse pensado de forma coletiva, numa perspectiva de que todos se sentissem co- responsáveis tanto pelos fracassos quanto pelas vitórias. Quando a escola administra a questão do fracasso dos alunos com um discurso científico acaba por naturalizar esse problema na percepção de todos os envolvidos no 22 processo (alunos, pais, professores, coordenadores etc). Assim, a orientação deveria ajudar a desmistificar esse discurso científico, em que a escola abre caminhos para que o aluno internalize esse fracasso como algo pessoal, social ou biológico. Para Grinspun (2002), o trabalho do Orientador Educacional não deveria ser reduzido apenas a técnicas que favoreçam diagnosticar os alunos em um lado do processo de aprendizagem. A Orientação deveria ser a parceira competente da escola para refletir sobre soluções que minimizem o fracasso escolar. Assim, seu papel estaria muito mais relacionado a promover discussões e debates na escola a respeito de seus alunos e professores, das suas relações, do currículo e dos objetivos de seu projeto político-pedagógico etc. 23 3.3. As possibilidades entre a teoria e a prática no cotidiano escolar Faremos uma comparação e analisaremos, brevemente, o papel da Orientação Educacional observado durante a pesquisa de campo e analisada na entrevista feita com essa profissional (ver anexo 2-A), em relação ao que alguns autores descrevem a respeito da profissão. Essa análise será feita passando por várias perspectivas as quais foram vistas na escola em questão. Levando em conta que a Orientação Educacional caminha lado-a-lado com a educação, sofrendo assim as mesmas influências desta no decorrer do tempo, iniciaremos essa discussão sob a perspectiva teórico-prática a qual a educação é submetida. E sobre isso GRINSPUN (2002), traz que cada linha teórica acabou definindo esta prática educativa (do Orientador) dentro do âmbito da escola, como vemos: Educação tradicional: para os autores a Orientação se caracteriza como terapêutica e psicológica destinada ao alunos-problema; Educação renovada progressivista: para os autores desta linha teórica, o Orientador deve auxiliar o desenvolvimento cognitivo de seus alunos; Educação não-diretiva: para estes teóricos a Orientação está relacionada a afetividade, tendo nesse momento a função de facilitadora de mudanças; Educação tecnicista: para esta linha teórica a Orientação tem o papel de identificar as aptidões dos alunos para um determinado mercado de trabalho; Educação libertária: os teóricos desta perspectiva acreditam que o Orientador possui o papel de assessorar o professor na medida em que era um catalisador do grupo junto aos alunos; Educação libertadora: os autores desta teoria afirmam que a Orientação possui o papel de captar o mundo real dos alunos, sendo que estes devem ser percebidos como indivíduos históricos, concretos e reais; Educação crítico-social dos conteúdos: os autores desta linha teóricas indicam que a Orientação serve como um caminho de preparação do aluno para o mundo adulto; Educação construtivista: os teóricos deste pensamento afirmam que a função da Orientação está relacionada a promover meios para a aquisição do conhecimento por parte do aluno. 24 “(...) a Orientação Educacional hoje, em termos de teoria e pratica da educação, posiciona-se como uma prática político-pedagógica que procura respostas para as perguntas: Por que e para quê faço Educação?” (ibid, 2002, p. 46) Na evolução teórico-prática da educação brasileira fica nítido, também, o progresso pelo qual a Orientação Educacional passou. Durante longo período a escola teve como função ensinar o aluno que, por sua vez, tinha o papel de aprender. Se nesse processo alguma coisa desse errado, a causa era de inteira responsabilidade do aluno, precisando ele de um acompanhamento para resolver seu problema. E nesse encaixe é que aparecia a função do Orientador, sendo ela plural, multifacetada, tendo esse profissional apenas de ajudar o aluno a se encaixar no sistema. Com o tempo, a educação passa a não ser mais exclusividade da escola, estando presente, também, nos meios de comunicação, por exemplo, ocorrendo acidentalmente. Nesse contexto, o aluno passa a ser sujeito, fazendo sua história, sua formação. E a Orientação Educacional passa a ter uma amplitude de ações nessa prática pedagógica, sendo um profissional que respeita o senso comum, aprecia o conhecimento científico, e está ciente de que seu exercício só é possível porque existe uma teoria que lhe permite desenvolver sua proposta pedagógica (GRINSPUN, 2002, p. 48). Comparando a realidade da escola observada, verificamos que várias atividades realizadas pela Orientadora podem ser evidenciadas conforme GRINSPUN (2002) traz em suas definições teóricas. Começaremos com a questão do cotidiano escolar, sendo que nele está implícita a cultura escolar, a cultura que cada um carrega consigo, a linguagem que é usada pelo indivíduo, seus costumes, e todas as outras ações e meditações que explícita e implicitamente contempla pelo espaço que ocupamos em nosso cotidiano (ibid, 2002, p. 54). “Quanto mais procuro compreender os mecanismos da prática social que se configuram pelo cotidiano escolar, melhores condições tenho para analisar as rotinas e rupturas que ocorrem nesse interior. (...) O cotidiano escolar me desvela tudo aquilo que ocorre em se contexto, como forma de traduzir, de efetivar as práticas sociais que são do domínio de todos e que são colocadas em processo no dia-a- dia da escola” (GRINSPUN, 2002. p. 54) - grifos da autora. 25 Pode-se dizer que a Orientação Educacional esteve sempre pautada aos acontecimentos do dia-a-dia, pois a ela se conectavam fatores que estavam ocorrendo na escola ou na família e que se refletiam nos estudos ou no comportamento dos alunos (ibid, 2002). “O orientador faz a análise, junto com todos os protagonistas desse cotidiano, para que se tenha, tanto quanto possível, uma visão mais objetiva do que ocorre nesse dia-a-dia. Se a Orientação deve star compromissada com o projeto político-pedagógico da escola, a forma de melhor atuar nele, garantindo a qualidade, é conhecer sua cotidianidade” (ibid, 2002, p.55). Podemos afirmar que a Orientadora cumpre uma função na escola em questão muito próxima do que é colocado pela autora, pois está sempre em contato com os alunos, professores e coordenadores conhecendo seus problemas, angustias e aflições, tentando resolvê-las a fim de buscar uma harmonia na escola, permitindo um melhor trabalho e, conseqüentemente, uma educação de qualidade. Outra questão é que ela participa, também, da elaboração do Plano de Trabalho da escola e da Proposta Pedagógica, com vistasao cumprimento do que foi estabelecido da melhor forma possível. Quanto ao papel da Orientação face ao fracasso escolar, assim como relata a autora (ibid, 2002, p.79) pudemos constatar que diante das diferenças individuais, esta profissional procura “identificar essas diferenças através dos instrumentos de mensuração, como teste, escalas, provas e questionários”. Quando um professor identifica que algum aluno está com dificuldades de aprendizagem, a primeira coisa que faz é encaminhá-lo ao SOE. Lá a Orientadora faz um diagnóstico dos alunos e se necessário solicita a ajuda de outros profissionais. Depois desta avaliação a Orientadora realiza todo um trabalho, juntamente, com a família desse aluno. Este aluno passará a freqüentar as aulas de reforço escolar oferecidas pela escola, ou deverá ser encaminhado para professores particulares, psicólogos, psicopedagogos, etc.conforme as características do seu caso. Acreditamos que como já foi dito antes, conforme Grinspun, o trabalho do Orientador Educacional não deveria ser reduzido apenas a técnicas que favoreçam diagnosticar os alunos com dificuldade de aprendizagem, e sim refletir sobre soluções que minimizem o fracasso escolar. Aqui nos pareceu que a atuação da Orientadora 26 Educacional, muitas vezes, ficou direcionada, exclusivamente, para a questão do fracasso escolar, restringindo seu trabalho a alguns procedimentos específicos. Outro destaque importante é a questão da organização escolar. Segundo a autora (ibid, 2002, p. 107), o trabalho coletivo na escola deve ser real, e a função da Orientação Educacional seria possibilitar esta organização na escola. O esforço do Orientador com cada membro da escola (ibid, 2002, p.107-109), desenvolvendo um trabalho na escola proporcionaria: • Junto aos alunos: o seu desenvolvimento pessoal, visando à participação dele na realidade social. • Junto aos professores: a colaboração e participação na construção do projeto político pedagógico da escola, contribuindo para a discussão sobre as questões técnico-pedagógicas da escola. • Junto à direção: participando junto tanto nas decisões tomadas pela direção com à obtenção de dados inerentes aos aspectos administrativos. O Orientador deve participar de toda a prática que organiza a escola. • Junto aos pais: fazer com que eles participem da escola do projeto da escola de diferentes formas, desde o planejamento do projeto pedagógico até as decisões que a escola deve tomar. “O Orientador Educacional deve procurar se envolver com a comunidade, resgatando sua realidade socioeconômica-cultural como meio de contribuir para a adequação curricular, tendo em vista a transformação da escola e da sociedade. (...) A Orientação deve trabalhar com um planejamento participativo, sempre voltado para para uma concepção crítica. Um diálogo entre as comunidades das disciplinas teóricas e das disciplinas práticas permitirá a busca dessa concepção crítica” (GRINSPUN, 2002. p. 109). Para que haja a construção de uma escola de qualidade deve haver um projeto coletivo, que requer ação coordenada e participação de todos nela envolvidos. Numa escola de qualidade deve existir uma discussão sobre as finalidades da educação, a atuação do professor, as metodologias e até o abandono de alunos e professores (ibid, 2002). 27 “O Orientador é aquele que discute as questões da cultura escolar promovendo meios/estratégias para que sua realidade não se cristalize em verdades intransponíveis, mas se articule com prováveis verdades vividas no dia-a-dia da organização escolar” (GRINSPUN, 2002. p. 112) - grifos da autora. No ano de 2001, a Orientadora da escola criou um planejamento para as suas atividades (ver anexo 1-C), no qual ela descreve um cronograma de trabalho a ser realizado. Nele está presente os trabalhos de Orientação ao estudo, Orientação profissional, Orientação Religiosa (atualmente, estas orientações ficam sob os cuidados de uma outra professora), Orientação sexual (não existe mais), Orientação ao lazer, Orientação à problemas eventuais e Orientação familiar (serviços que foram relatados no capítulo anterior deste relatório). Segundo a autora (ibid, 2002), que escolhemos para analisarmos as funções da Orientação Educacional, pudemos observar que, na maioria das vezes, o trabalho da Orientadora da escola, em questão, desenvolve atividades próximas as descritas pela literatura. Aqui queremos ressaltar que não podemos esquecer que a realidade de cada escola é única e por isso não entendemos as funções de um orientador como um livro de receitas pronto, mas algo que é construído conforme as questões que aparecem no dia-a- dia, que são colocadas como desafios diários para este profissional. 28 Considerações finais Começaremos as conclusões com uma reflexão sobre a dicotomia teoria x prática. E esse assunto também é discutido por Candau (apud GRINSPUN, 2002, p. 34) a qual coloca três premissas sobre o assunto: “(...) a primeira é que a teoria depende da prática, uma vez que esta determina o horizonte do desenvolvimento e o progresso do conhecimento; a segunda é que a teoria tem como finalidade a prática, no sentido de uma antecipação ideal de uma prática que não existe; e a terceira é o fato de que a unidade entre a teoria e a prática pressupõe necessariamente a percepção da prática como atividade objetiva e transformadora da realidade natural e social (...)”. “Por ser transformadora da realidade, a prática é criadora” (ibid, 2002) e por isso nem sempre se aproxima da teoria. Nesta investigação, ao acompanhar o trabalho de uma Orientadora Educacional e com ela vivenciar seu cotidiano, percebemos como foi citado no capítulo anterior, que seu trabalho muito se aproxima da teoria utilizada, e acreditamos que isso se deu porque essa profissional era formada na área, e por tanto adquiriu tais conhecimentos. Quando analisamos a prática da Orientadora na perspectiva da teoria, também levamos em consideração que cada comunidade escolar é única, sendo diverso em seu modo de ver o mundo, de agir em cada situação, de encarar acontecimentos de formas específicas, e isso não se faz diferente com relação à realidade observada na escola escolhida. GRINSPUN (2002), quando descreve o papel do Orientador Educacional, acaba focando para a atuação desse na questão da relação do projeto pedagógico da escola com a comunidade, principalmente ao dizer que junto aos pais o Orientador tem a função de fazer “com que eles participem do projeto dela (da escola) de diferentes formas, desde o planejamento do projeto pedagógico até as decisões que a escola deve tomar” (2002, p. 109). Ao presenciar o cotidiano da Orientação Educacional de uma escola de grande porte da cidade de São Carlos, a qual abrange desde a pré-escola até o terceiro ano do Ensino médio, pudemos constatar a importância de um profissional da área para o bom funcionamento da escola, assim como um melhor aprendizado de seus alunos. A 29 importância de ter esse profissional atuando na escola nos remete a pensar que aqueles que não acreditam em seu trabalho não entendem o que significa cotidiano escolar e cultura organizacional. No caso específico da Orientadora observada percebemos que ela acumulava muitas funções, dificultando assim um trabalho de orientação mais amplo como sugere Grinspun (2002). Quanto a este assunto, apontamos que a articulação da Orientadora (da escola em questão) na elaboração e execução do Projeto Político Pedagógico com a comunidade ocorria de forma pouco democrática, mesmo porque a sua atuação não lhe dava “poderes” de grandes intervenções em ações relacionadas a este tópico. Pode-se dizer que a escola investigada não constrói seu Projeto Pedagógico com todos os membros daescola, ou seja, sua elaboração fica sob a responsabilidade da equipe de direção, sem grandes participações do corpo docente, discente e dos pais dos alunos. As finalidades do trabalho de uma escola podem ser regidas sob uma visão de interesses de apenas uma parte dos participantes do cotidiano escolar, ou seja, de seus mantenedores e realizadores as quais buscam, muitas vezes, além de uma educação de qualidade, o propósito, por exemplo, de ampliação da instituição (com o objetivo de obter mais alunos). Essa questão acaba fazendo parte da vida escolar de muitas instituições particulares de ensino, pois sua sobrevivência depende do número de alunos que compõem o quadro discente. Mesmo assim chamamos a atenção de que sem a participação da comunidade e de toda a equipe escolar na construção desse projeto pedagógico, os valores e crenças das famílias muitas vezes ficam de fora das finalidades da educação, assim como o que os pais desejam aos seus filhos no que tange o assunto educação escolar, e a escola perde, assim, a sua função. Acreditamos que como já foi dito antes, conforme GRINSPUN (2002), o trabalho do Orientador Educacional não deveria ser reduzido apenas a diagnosticar os alunos com dificuldade de aprendizagem, e sim refletir sobre soluções que minimizem o fracasso escolar. E para tanto, a construção do Projeto Político Pedagógico se faz importante. O papel do Orientador estaria muito mais relacionado a promover reflexões na escola a respeito de seus alunos e professores, das suas relações, dos problemas encontrados na escola e no seu entorno (comunidade), do currículo e dos objetivos encontrados no Projeto Pedagógico que, muitas vezes, não são nem do conhecimento dos que dela participam. 30 Referências ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. O planejamento da Orientação Educacional – Algumas considerações. 1976, p. 73-82. ANDRÉ, Marli. Estudo de caso em Pesquisa e Avaliação Educacional. Brasília: Líber Liro Editora, 2005. AZEVEDO, Israel Belo de. O prazer da produção científica: diretrizes para a elaboração de trabalhos acadêmicos, 6ª edição. Piracicaba: Editora UNIMEP, 1998. GRINSPUN, Mirian P. S. Zippin. A orientação educacional: conflito de paradigmas e alternativas para a escola. São Paulo: Cortez, 2002. LEITE, S. A. S. O papel dos ‘especialistas’ na escola pública. In: Educação e sociedade. Campinas: CEDES, V. 22, 1985, p. 120-131. LÜCK, Heloísa. Plano Anual de Ação. In: Planejamento em orientação Educacional. Vozes, s/d, p. 43-67. Ministério de Educação e Cultura – Departamento de Ensino Médio. Orientação Educacional e currículo. Brasília, 1978. MINICUCCI, Agostinho. Orientação Educacional: sondagem de aptidões e iniciação profissional. São Paulo: Cortez e Moraes, 1976. NÉRICI, Imídeo G.. Origens da Orientação Educacional e Necessidades da Orientação Educacional & A Orientação Educacional. In: Introdução à orientação Educacional. São Paulo. Atlas, 1976. NÓVOA, António (Coord.). Para uma análise das instituições escolares. In: As organizações escolares em análise. 1999. 31 OLIVEIRA, Maria Auxiliadora Monteiro (org). Gestão Educacional: novos olhares, novas abordagens. Petrópolis. Vozes, 2005 RIZWAN, Silvana (coordenadora). A Orientação Educacional e a sondagem de aptidões. São Paulo: SE/CENP, 1978. ________________ e outras. A Orientação Educacional no sistema de ensino do Estado de São Paulo. São Paulo: SE/CENP, 1977. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEESP) – Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE). Gestão do Projeto Pedagógico – alavancando o sucesso da escola – módulo IV. In: Circuito Gestão. 2001 SENA, Maria das Graças de Castro. Orientação Educacional no cotidiano das primeiras séries do primeiro grau; Edições Loyola - 3a edição. São Paulo, s/d. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva (et al). Orientação Educacional: legislação e ideologia. Sagra, 1988. VIANA, Mario Gonçalves. Biblioteca de cultura geral: Orientação Educacional. Porto: Livraria Figueirinhas, 1958. Anexo 1 – Documentos consultados: Planejamento Escolar e Regimento Interno Anexo – 1 A Do Serviço de Orientação Educacional A Orientação Educacional é uma atividade técnica, integrante do processo educativo, cuja ação é desenvolvida de forma intencional, através de técnicas e atividades específicas. Ao Orientador Educacional cabe a responsabilidade básica de coordenar, orientar e controlar no âmbito da escola, as atividades relacionadas à sua área de atuação. O Orientador Educacional tem as seguintes atribuições: I. Participar da elaboração do Plano Escolar; II. Elaborar a programação das atividades de sua área de atuação, mantendo-a articulada às demais programações do núcleo de apoio técnico-pedagógico; III. Orientar a elaboração e execução do programa de currículo nos aspectos relativos à Orientação Educacional; IV. Controlar e avaliar a execução da programação de Orientação Educacional e apresentar relatório das atividades; V. Colaborar nas decisões referentes a agrupamentos de alunos; VI. Assessorar os trabalhos dos Conselhos de Séries e de Classe; VII. Desenvolver processo de aconselhamento junto aos alunos, abrangendo conduta, estudos e orientação para trabalho, em cooperação com professores, família e comunidade; VIII. Organizar e manter atualizado dossiê individual do aluno e das classes; IX. Assessorar o trabalho docente: a) acompanhando o desempenho dos professores em relação a peculiaridades do processo ensino-aprendizagem; b) acompanhando o processo de avaliação e recuperação do aluno; X. Cooperar com o Bibliotecário na orientação da leitura dos alunos; XI. Encaminhar os alunos a especialistas quando se fizer necessário; XII. Montar e coordenar o desenvolvimento de esquema de contato permanente com a família do aluno. Anexo – 1 B ATRIBUIÇÕES DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Artigo 25 - A Orientação Educacional é uma atividade técnica, integrante do processo educativo, cuja ação é desenvolvida de forma intencional, através de técnicas e atividades específicas. Parágrafo único - A Orientação Educacional será exercida por um professor devidamente habilitado, coadjuvado pêlos professores do estabelecimento. Artigo 26 - Ao Orientador Educacional cabe a responsabilidade básica de coordenar, orientar e controlar, no âmbito da escola, as atividades relacionadas à sua área de atuação. Artigo 27 - O Orientador Educacional tem as seguintes atribuições: I - participar da elaboração do Plano Escolar; II - elaborar a programação das atividades de sua área de atuação, mantendo-a articulada às demais programações do núcleo de apoio técnico-pedagógico; III - orientar a elaboração e execução do programa de currículo nos aspectos relativos à Orientação Educacional; IV - controlar e avaliar a execução da programação de Orientação Educacional e apresentar relatórios das atividades; V - colaborar nas decisões referentes a agrupamento de alunos; VI - assessorar os trabalhos dos Conselhos de Séries e de Classe; VII - Desenvolver processo de aconselhamento junto aos alunos, abrangendo conduta, estudos e orientação para trabalho, em cooperação com professores, família e comunidade; VIII - Organizar e manter atualizado dossiê individual do aluno e das classes; IX - assessorar o trabalho docente: a) acompanhando o desempenho dos professores em ralação a peculiaridades do processo ensino-aprendizagem; b) acompanhando o processo de avaliação e recuperação do aluno; X - cooperarcom o Bibliotecário na orientação da leitura dos alunos; XI - encaminhar os alunos a especialistas quando se fizer necessário; XII - montar e coordenar e desenvolvimento de esquema de contato permanente com a família do aluno. Anexo – 1 C PLANEJAMENTO DE ATUAÇÃO - 2001 I – Introdução O plano de ação tem como objetivos apresentar, em linhas gerais propostas de orientação educacional para o ano de 2001 no Colégio (...). A ação do orientador educacional dirige-se, principalmente- oara o aluno e sua vida escolar, na busca de soluções para as dificuldades encontradas sob todos os pontos de vista, tais como escolha profissional, dificuldades de aprendizagem problemas de relacionamento em eeral. entres outros Para a realização dessas atividades. oretende-se trabalhar em coniunro com a direção, coordenação, docentes, alunos, família e equine técnica II – Abrangência � Educação Infantil � Ensino Fundamentai � Ensino Médio � Equipe de Apoio III - Caracterização da realidade Através de uma técnica dirigida ao corpo docente, identificou-se as principais expectativas com relação à atuação do orientador educacional. Baseado nestes resultados, foi feito um levantamento apontando-se os principais problemas e necessidades encontrados, os quais pretende-se trabalhar durante o ano de 2001. Através de técnicas especificas pretende-se. também, caracterizar, de forma geral. o corpo discente IV – Problemas e necessidades detectados - Educação infantil � Problemas de comportamento; � Mães que querem ficar com filhos na sala de aula � Problemas de socialização - Ensino Fundamental (1ª a 8ª série) � Orientação ao estudo ('problema de raciocínio, preguiça, mal hábitos, horários, falta de estimulo, concentração): � Problemas de relacionamento/comportamento � Orientação às famílias � Orientação profissional - Ensino Médio � Integração disciplinar � Análise das atrvidades desenvolvidas pelo professor em relação às metas estabelecidas pela escola � Orientação ao estudo: � Orientação às famílias: � Orientação profissional: � Problemas de relacionamento/comportamento: � Falta de interesse com relação á disciplina estudada V - Ações sugeridas De acordo cosa os problumis c necessidades detectados o Seivicu d*- Orientação Educacional pretende desenvolver trabalhos nas diversas ares.. a) Orientação ao estudo: pretende-se desenvolver, em conjunto com a coordenação pedagógica, alguns procedimentos para melhorar o aproveitamento dos alunos, através de estímulos ao estudo em sala de aula, em casa e utiliozação dos recursos oferecidos pela escola. b) Oríentacão profissional: orientar, em coniunto com professores. os alunos nas escolhas profissíonais, de acordo com as necessidades individuais e sociais através de testes de aptidões, palestras, dinâmicas, entrevistas etc. c) Orientação religiosa: auxiliar os coordenadores de educação religiosa na busca do desenvolvimento dos valores cristãos integrados à todas as atividades. d) Orientação sexual: desenvolver um programa de orientação sexual em parceria com coordenadores de educação religiosa estimulando os professores a trabalharem com temas relacionados, através de dinâmicas de grupo encontros temáticos, etc. e) Orientação ao lazer: auxiliar coordenadores e professores no planeiamento de atividades e eventos extra-curriculares. f) Orientação à problemas eventuais: analisar e propôr sugestões de soluções para problemas que surgirem no decorrer do ano letivo. g) Orientarão familiar: pretende-se integrar a família em todas as atividades desenvolvidas no Colégio, através de eventos relacionados, reuniões periódicas, etc. São Carlos. 01 de fevereiro de 2001 Anexo 2 – Entrevistas Anexo – 2 A Entrevista realizada com a Orientadora Educacional Quais são suas funções para com os professores? O.E. – Bimestralmente eles me entregam um plano de aula contendo todas as atividades extra-apostila que darão, com seus respectivos materiais e espaços que serão usados, passeios que serão realizados. Os analiso, agendo somente os passeios e o retorno eu lhes dou na semana pedagógica, a qual é realizada no início de cada ano. Também trago idéia de palestras para a semana pedagógica, pois, por estar em contato constante com os professores, sei de suas dúvidas e aflições. E para com os alunos? O.E. – Para os alunos de 1ª série do Ensino fundamental, cuido de seu rendimento escolar, tomando tabuada e leitura nos dois semestres, assim posso detectar quem precisa de ajuda ou não. Se essa for necessária, encaminho o aluno para o reforço, e lá o acompanho. Nas demais séries, até a 4ª a professora me relata algum problema ocorrente, eu o investigo e, se necessário for, eu encaminho também esse aluno para o reforço. Já de 5ª série do Ensino Fundamental até 3ª série do ensino médio, forneço a orientação ao estudo, na qual faço com um aluno um cronograma de horários assim como o ensino a como estudar: por qual matéria começar, em qual ambiente estudar, etc. Também arquivo todos os documentos de todos os alunos da escola, assim como faço uma listagem dos alunos que tiraram nota abaixo da média nas provas. Além disso, trabalho com a questão do vestibular, montando painéis de cursos e universidades de todo o país, fornecendo palestras com diferentes profissionais, fazendo o teste vocacional e fornecendo orientação profissional àqueles alunos indecisos. Você se relaciona diretamente com os pais dos alunos? O.E. – Sim, quando isso se faz necessário. Eles me procuram bastante para sanar suas dúvidas em relação ao rendimento de seus filhos. Também forneço a eles palestras sobre Hiperatividade, Distúrbio de comportamento, etc. Os pais me procuram muito para falar sobre vários assuntos pois no tempo em que estive aqui já houve 3 mudanças na coordenação, e por isso eles sentem mais segurança ao me procurar e conversar comigo. Então você é responsável por todos os assuntos relacionados aos alunos? O.E. – No momento não, pois fui passando à coordenação alguns assuntos como os relacionados a disciplina, provas substitutas e recuperação. Fiz isso pois não estava tendo tempo de fazer um bom atendimento a quem precisava de uma ajuda mais complexa. Você cuida de algum assunto burocrático da escola? O.E. – No que trata de questões burocráticas, sou responsável pelos inúmeros estagiários que aqui atuam, lidando com os termos de responsabilidade e documentação necessária. Também estou sempre em contato com a Diretoria de Ensino da cidade, principalmente para resolver questões de documentos de repetência. Vocês trabalham com a inclusão na escola? O.E. – O que mais ocorre é a inclusão de alunos com um grau muito grande de dificuldade de aprendizagem, e trabalho com a inclusão deles na sala de aula, quais conteúdos serão trabalhados, de qual maneira, faço a comunicação com outros profissionais, como fonoaudiólogos, psicopedagogos e psicólogos, assim como a comunicação escola-família. Também incluímos alunos com |Necessidades Educacionais Especiais, como cegos e portadores da síndrome de Down, fornecendo a eles um ambiente acolhedor e propício a seu aprendizado. Anexo – 2 B Questionário Coordenadores 1 – Formação: C.P. - Nível superior em Pedagogia e Especialização em Educação infantil 2 – Em qual nível de ensino atua? C.P. – Coordenadora Pedagógica da Educação
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