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FÍSICA RADIOLÓGICA Equipamento de raios X e Imagem radiográfica Introdução Neste capítulo estudaremos todos os aspectos técnicos e físicos do equipamento de raios X e a produção da imagem radiográfica. Nele abordaremos o funcionamento do gerador e entenderemos os princípios físicos e eletrônicos relacionados em todos seus componentes. Discutiremos a relação entre a qualidade do feixe produzido entre os diferentes tipos de geradores e sua conseqüência na qualidade do feixe de radiação. Estudaremos a estrutura do cabeçote, bem como os papéis dos filtros e colimadores. Na formação da imagem radiográfica, compreenderemos o processo de interação da radiação com a matéria e sua conseqüência na atenuação diferencial para entendermos a formação da imagem radiográfica. Veremos os equipamentos utilizados para melhorar a qualidade da imagem e estudaremos a variação dos parâmetros kVp e mAs e sua influência na formação da imagem, além de destacar o compromisso que o técnico radiologista deve ter na redução de dose aplicada no paciente. Por fim, estudaremos alguns efeitos e propriedades da imagem radiográfica, finalizando este capítulo com um breve resumo sobre a física da imagem radiográfica. 1. - Componentes do equipamento de raios X 1.1 - Gerador O gerador é constituído de componentes eletrônicos e sua função é fornecer energia elétrica adequada para o funcionamento da ampola de raios X. Com o auxílio do console de comando, o técnico em radiologia fornece os dados para o gerador controlar a alta tensão, a corrente elétrica aplicada sobre a ampola e o tempo de funcionamento do aparelho. Com estes parâmetros é possível selecionar a energia do feixe de radiação, a quantidade de fótons e o tempo de exposição do paciente. Os modernos geradores são compostos por transformadores, circuitos retificadores (a base de diodos), timers e medidores de kVp e mA. Atualmente, estes componentes são controlados por microprocessadores e podem ser acionados por parâmetros técnicos já programados no modo automático ou manualmente pelo técnico em radiologia. A principal função do gerador é fornecer tensão extremamente elevada e não oscilante para produzir raios X de energia adequada para a produção da radiografia. Como exemplo, podemos citar o exame de tórax que utiliza aproximadamente 100 kV (o equivalente a 100.000 V), portanto a tensão deve ser elevada significativamente da alimentação do equipamento, que pode ser de 127, 220 ou 380 V. Os geradores podem ainda ser classificados como monofásico, trifásico, potencial constante e geradores de média e alta freqüência. Estes aspectos tecnológicos causam um profundo impacto na qualidade da imagem já que a forma de onda da tensão reflete na energia e conseqüentemente no espectro eletromagnético do feixe de raios X emitidos pela ampola. A seguir estudaremos a função de cada componente do gerador para entendermos seu funcionamento. Transformador: é um dispositivo que consiste em duas bobinas (com números de espiras diferentes) enroladas em torno de um núcleo de ferro, figura 1. O princípio de funcionamento dos transformadores é baseado na lei de indução de Faraday, já estudada no capítulo anterior. Quando uma corrente elétrica alternada passa pela bobina primária, um campo magnético alternado é gerado e o fluxo magnético induz uma força eletromotriz na bobina secundária. Em alguns transformadores o núcleo de ferro é introduzido devido suas propriedades ferromagnéticas e isto melhora a eficiência do transformador. A) B) 1 3 2 5 Primário Secundário Figura 1: a) Esquema básico de um transformador; b) Símbolo do transformador usados em esquemas elétricos. (retirado de http://omega.ilce.edu.mx:3000/.../112/htm/sec_11.htm) O número de espiras da bobina secundária é um fator importante que caracteriza o transformador. Quando o número de espiras do secundário é menor que do primário, o transformador reduz a tensão que é ligada em sua entrada. Este tipo de transformador é usado em equipamentos como aparelhos de som e DVD player, onde a tensão da rele elétrica de 120 V é reduzida para 12 V normalmente. Quando o número de espiras do secundário é maior que do primário, o transformador eleva a tensão. É este o tipo de transformador usado em equipamentos de raios X para obter as altas tensões necessárias na produção da radiação. Diodos: são fabricados com materiais semicondutores1. Estes materiais são dopados com impurezas (átomos de fósforo, arsênio, boro ou gálio) e dessa forma podem controlar a direção do fluxo de corrente. Num circuito o diodo tem a capacidade de conduzir a corrente elétrica num sentido e bloquear a passagem de corrente no sentido oposto. Este comportamento é semelhante a roleta utilizada em ônibus circulares, onde ela só permite a passagem de pessoas em um único sentido. Na figura 2 é mostrado o símbolo usado para representar o diodo e a foto de um diodo de alta tensão. A) B) Figura 2: a) Símbolo do diodo, a seta indica a direção permitida da passagem de corrente elétrica; b) Foto de um diodo com capacidade de 25 kV. (retirados de http:// www.ifent.org/lecciones/diodo/unionpn2.jpg e http://www.surplussales.com/Semiconductors/Diodes-1.html) Circuitos retificadores: estes circuitos são compostos por diodos e tem a função de permitir o fluxo de corrente elétrica em apenas um único sentido. Neste contexto, a palavra retificar é usada com o significado de transformar corrente elétrica alternada em corrente contínua. Os circuitos retificadores podem ser de vários tipos, na figura 3 são mostrados esquemas retificadores de meia-onda e onda-completa. 1 Semicondutor: são tipos de materiais que tem a condutividade entre os isolantes e os condutores, onde sua resistividade decresce com a temperatura. Os dois semicondutores mais usados na indústria eletrônica são o silício e germânio. A) 8 6 7 4 Transf ormador Diodo Resistor AC V Tensão (V) Gráfico da tensão medida no primário do transformador Tempo (s) Tensão (V) Tempo (s) Gráfico da tensão medida no resistor (Forma de onda para o circuito retificador de meia-onda) B) 8 6 7 4 Transf ormador Resistor AC V - + Ponte de diodo Tensão (V) Gráfico da tensão medida no primário do transformador Tempo (s) Tensão (V) Gráfico da tensão medida no resistor (Forma de onda para o circuito retificador de onda-completa) Tempo (s) Figura 3: a) Circuito retificador de meia-onda; b) Circuito retificador de onda-completa. A função dos circuitos retificadores nos equipamentos de raios X é retificar a passagem de elétrons entre o filamento e o alvo. Esta retificação causa um profundo impacto na energia do feixe de radiação produzido pelo aparelho e consequentemente na qualidade da imagem radiográfica. Assim, podemos dizer que quanto melhor a retificação melhor é a homogeneidade do de energia do feixe de raios X e, consequentemente, melhor é a qualidade da radiografia. Circuitos de mA: este circuito controla a corrente elétrica aplicada sobre o filamento do tubo de raios X. Esta corrente varia de 1 a 10 A e controla a emissão de elétrons do filamento. Estes elétrons são acelerados entre o filamento e o alvo é consistem na denominada correntede tubo que varia de 1mA a 1000 mA nos equipamentos atuais. Portanto, os circuitos de mA controlam a corrente de tubo. No circuito de mA são empregados dispositivos eletrônicos tais como transformadores e resistores, suficientes para controlar a corrente no filamento. Através do conhecimento dos componentes do gerador citados acima é possível entender o esquema básico de um gerador. Na figura 4 é apresentado um esquema de um gerador monofásico. Este esquema é utilizado com fins didáticos devido sua simplicidade e a facilidade em entendê- lo. Os atuais equipamentos utilizam esquemas muito mais complexos e que apresentam avanços tecnológicos significativos, contudo, o princípio do funcionamento é o mesmo. Tubo de raios X Reostato Tensão de entrada 220 V ~ 60 Hz Seletor de mA Circuito controlador da corrente de tubo Transformador redutor de tensão Tensão no tuboSeletor de kVp Miliamperímetro Corrente de tubo Transformador de AltaTensão Figura 4: Esquema elétrico de um gerador monofásico. (modificado de JOHNS, H.E. & CUNNINGHAM, J.R. The physics of radiology, 1974, p.24) Os geradores monofásicos retificam a onda senoidal de maneira a ter a corrente elétrica passando em um único sentido sobre a ampola de raios X. Pela figura 5a é possível verificar que a tensão aplicada entre o filamento e o alvo varia de zero até um valor máximo (valor de pico). É daí que surge a denominação kVp, que significa quilo-volt de pico, ou seja, a máxima tensão atingida pela onda. Como pode se ver, quando o técnico em radiologia está regulando a kVp, ele está regulando o pico da tensão que será aplicado na ampola. A flutuação da tensão observada na figura 5a varia de um valor máximo a um valor mínimo, a isto se dá o nome de ripple2. O ripple varia para cada tipo de gerador e quanto maior sua intensidade pior é a qualidade do feixe de radiação produzido pela ampola. Na figura 5 é mostrado o valor do ripple para quatro tipos de geradores. Tensão (kV) Tempo (s) Gerador Monofásico ripple de 100 % Tensão (kV) Tempo (s) Gerador Trífásico seis pulsos ripple de 13 % Tensão (kV) Tempo (s) Gerador Trífásico doze pulsos ripple de 4 % 2 Ripple: palavra inglesa que significa ondulação. Tensão (kV) Tempo (s) Gerador Alta freqüência ripple menor que 1 % Figura 5: Ripple para diferentes tipos de geradores. Nos equipamentos com menor ripple o feixe de radiação é dito de melhor qualidade. Isto se dá devido a menor variação da energia dos elétrons quando se chocam com o alvo, ou seja, o feixe de fótons produzidos terá maior homogeneidade de energia. 1.2 - Cabeçote O cabeçote é a estrutura onde a ampola de raios X é fixada. Ele é responsável pela conexão da ampola ao gerador e pelo controle de temperatura da ampola. Sua estrutura é toda construída de chumbo com a intenção de conter a radiação produzida pela ampola de modo que ela atinja somente o paciente, a figura 6 mostra um desenho ilustrativo do cabeçote. Conectores Ânodo Estator Rotor Cátodo Porta de saída Óleo de refrigeração Foles de expansão Figura 6: Estrutura do cabeçote. Como visto no capítulo anterior, a ampola atingi altas temperaturas quando está produzindo raios X. Devido o alvo ter uma capacidade térmica, esta temperatura deve ser controlada para evitar danos em sua estrutura. Com este intuito o cabeçote é preenchido com óleo de maneira a envolver toda a ampola. Dessa forma, quando a ampola está ligada existe a troca de calor entre ela e o óleo ao seu redor. Neste processo o óleo é aquecido roubando “calor” da ampola, com isto seu volume aumenta e consequentemente existe o aumento de pressão sobre a ampola. Para evitar que ampola seja quebrada pelo excesso e pressão é colocado um fole de expansão para controlar a pressão no interior do cabeçote. Na saída do cabeçote ainda existe uma estrutura para suporte de filtros e do colimador. A seguir explicaremos a função de cada um. Filtros Os filtros são feitos de finas lâminas de alumínio (Z=13) ou cobre (Z=29) colocados na saída do cabeçote. Sua função é eliminar os fótons de baixa energia produzidos na ampola. Neste processo, a energia média dos fótons é elevada resultando num feixe mais monoenergético. A isto é dado o nome de endurecimento do feixe. Para exemplificar a função do filtro utilizaremos um exemplo. Suponha que numa técnica radiológica o feixe de raios X é formado por fótons de 10, 20, 30, 40, 50 e 60 keV. Nestas condições a energia média dos feixes é de 35 keV. Suponha agora que a adição de um filtro de cobre elimine os fótons com energia menor que 30 keV, assim a energia média do feixe formado pelos fótons de 40 a 60 keV aumentaria para 50 keV. A vantagem da utilização do filtro é eliminar os fótons de baixa energia do feixe. Estes fótons não contribuem na formação da imagem radiográfica e apenas aumentam a dose de radiação no paciente. Colimador O colimador é construído de chumbo e tem a finalidade de delimitar a área a ser radiografada. Geralmente é formado por quatro lâminas que podem ser ajustadas para regular o tamanho da região radiografada. O emprego do colimador permite minimizar a dose de radiação sobre o paciente e melhorar o contraste da imagem radiológica, devido a diminuição da produção de radiação secundária em áreas sem o interesse do diagnóstico. Para verificar o tamanho da área delimitada pelo colimador, é usada uma lâmpada que produz um feixe de luz onde pode se ver a área a ser irradiada no paciente. Desta forma, quando o técnico for ajustar as dimensões da área da radiografia, ele acende a lâmpada e ajusta a colimação. 1.3- Mesa ou anteparo vertical para posicionamento do paciente A mesa é o lugar onde o paciente é posicionado para a retirada da radiografia. Geralmente ela possui base robusta fixada no solo e um tampo móvel feito com material de baixo poder de atenuação. As características do tampo facilitam o posicionamento do paciente e minimiza sua interação com a radiação. Abaixo do tampo existe um suporte onde é fixado o chassi3. A figura 7 ilustra este equipamento. Figura 7: Mesa e anteparo vertical para radiografia. Equipamento Siemens modelo Multix Swing. (retirado de http://www.medical.siemens.com/.../Multix_Swing_overview_h6.jpg) O anteparo vertical tem a função de fornecer apoio para o posicionamento do paciente em pé. Ele também possui ajuste de altura e o suporte de fixação do chassi. Suas características são semelhantes as da mesa. 3 Chassi: suporte para acomodação e proteção dos filmes utilizadas nas radiografias. Ele também é chamado de cassete e pode ser equipado com dispositivo intensificador de luz (ècrans). 2. - Imagem radiográfica Para entendermos como a imagem radiográfica é formada é necessário compreendermos primeiramente como a radiação interage com a matéria. Neste processo os fótons podem ser absorvidos, espalhados ou simplesmente não sofrerem interação. Como aprendemos anteriormente, os fótons dos raios X são produzidos na região da eletrosfera atômica. Dessa forma é fácil imaginar que sua interação com a matéria deve ser também com a estrutura atômica do material irradiado. Os processos mais importantes de interação da radiação com a matéria na produção de uma radiografia é o efeito foto-elétrico e o espalhamento Compton4. Estes processos envolvem a absorção ou o espalhamentoda radiação pela matéria. Existem ainda outros processos de interação, mas que não são importantes na formação da imagem radiográfica, como exemplo podemos citar a produção de pares, a foto-desintegração e o espalhamento coerente de Thomson e Rayleigh. Dos processos menos importantes, estudaremos apenas a formação de pares que faz transição com o espalhamento Compton na predominância de ocorrência em função da energia. Interação da radiação com a matéria Efeito Fotoelétrico É chamado de efeito fotoelétrico a emissão de elétrons de um átomo devido à incidência de fótons. Neste processo ocorre a transferência de toda energia de um fóton para um único elétron orbital que é ejetado do átomo, neste processo o fóton desaparece. Para que esta interação do fóton com o elétron ocorra, o fóton deve ter energia superior a de ligação do elétron com o átomo, pois parte da energia do fóton é para romper a ligação elétron/átomo e a outra parte é transferida como energia cinética para o elétron. Na figura 8 é apresentado um esquema desta interação. 4 Compton: Arthur Holly Compton (1892-1962) foi o físico americano que dividiu o Prêmio Nobel de Física em 1927 com Charles T. R. Wilson pela descoberta do efeito Compton. Figura 8: Efeito fotoelétrico. (retirado de http:// www.fsc.ufsc.br/~canzian/radiacoes/rad11.htm) O efeito fotoelétrico é ocorre predominante para fótons de baixa energia e para elementos químicos com número atômico (Z) elevado. A probabilidade de ocorrência deste efeito decresce rapidamente com o aumento da energia. Para fótons de baixa energia, abaixo de 50 keV para o alumínio e 500 keV para o chumbo, o efeito fotoelétrico dá a principal contribuição para o coeficiente de absorção da radiação por estes materiais. Ou seja, os fótons são absorvidos por estes materiais através do efeito fotoelétrico. Espalhamento Compton No espalhamento Compton um fóton incide sobre um elétron livre (ou “fracamente ligado”) ejetando-o de sua órbita. Neste processo o fóton cede apenas parte de sua energia para o elétron que adquiri energia cinética. O fóton incidente mantém apenas parte de sua energia original e é desviado de sua direção original. É este tipo de espalhamento que recebe o nome de radiação secundária. A figura 9 ilustra este tipo de interação da radiação com a matéria. Figura 9: Espalhamento Compton. (retirado de http:// upload.wikimedia.org/wikibooks/en/4/43/NM6_3.gif) A probabilidade de ocorrer o espalhamento Compton depende da energia do feixe da radiação e da densidade do material irradiado. A medida que a energia do feixe aumenta o espalhamento Compton substitui a ocorrência do efeito fotoelétrico. O espalhamento Compton dá a principal contribuição para o coeficiente de absorção entre 50 keV (0,05 MeV) a 15 MeV para o alumínio e 0,5 MeV a 5 MeV para o chumbo. Formação de Pares O terceiro mecanismo pelo qual a radiação pode ser absorvida é a produção de pares (elétron-pósitron5). Este processo deve ser aceito como fenômeno estritamente experimental e não tem análogo na física clássica. Este processo ocorre quando um fóton de alta energia (acima de 1,02 MeV) passa próximo ao núcleo atômico e interage com o campo elétrico nuclear. Nesta interação, a radiação desaparece e origina um par elétron- pósitron. A figura 10 ilustra este fenômeno. 5 Pósitron: antipartícula do elétron; possui mesma massa do elétron, mas sua carga elétrica é positiva. Figura 10: Formação de pares elétron-pósitron. (retirado de http://www.fsc.ufsc.br/~canzian/radiacoes/Image11.gif) A medida que a energia do feixe aumenta acima de 1,02 MeV a ocorrência do espalhamento Compton é substituída pela formação de pares. Na figura 11 o gráfico mostra a probabilidade de ocorrência de cada efeito (fotoelétrico, espalhamento Compton e formação de pares) com a dependência da energia. Energia (keV) 0,01 0,1 1,0 10 Pro bab ilid ade de oco rrê nci a 100 % 50 % Efeito fotoelétrico Espalhamento Compton Formação de pares Figura 11: Probabilidade de ocorrência dos tipos de interações da radiação com a matéria em função da energia do feixe (Gráfico típico para gases, exceto para o hidrogênio). 2.1- Atenuação da radiação nos materiais A intensidade dos fótons de raios X é atenuada ao passar pelos materiais. Esta atenuação depende do tipo de material (coeficiente de atenuação linear6) e da energia do feixe incidente. Dessa forma a intensidade de radiação transmitida pelo material é dada pela seguinte equação: 6 Coeficiente de atenuação linear: é simplesmente a probabilidade por unidade de comprimento de que os fótons sejam removidos do feixe. Este coeficiente varia para cada material e depende da massa e sua densidade. xeII 0 onde x é a espessura do material irradiado, μ é o coeficiente de atenuação linear, I0 é a intensidade de radiação incidente no material e I é a intensidade da radiação transmitida. Através da equação acima é possível verificar dois pontos importantes: Quanto maior é a espessura (x), a densidade e número atômico (μ) do material irradiado, menor será a intensidade de radiação transmitida por este material; Quanto maior a intensidade do feixe incidente sobre o material, maior será a radiação transmitida. A espessura necessária para atenuar a intensidade do feixe pela metade é denominada de camada semi-redutora (CSR). Através deste parâmetro é possível fazer cálculos de blindagem de salas para proteção radiológica e também verificar a quantidade de radiação absorvida e transmitida por qualquer tipo de material, principalmente o corpo humano. Assim, nos exames radiográficos do tórax, apenas 10 % da radiação incidente atravessam o paciente, no exame de crânio esse número cai para 1 % e no de abdome para 0,5 %. 2.2- Formação da imagem radiográfica No processo de formação da imagem radiográfica ocorre a interação da radiação com os diferentes tipos de tecidos do paciente (ossos, músculos, etc.). Conforme a massa e densidade destes tecidos os fótons de raios X sofrem diferentes atenuações e a radiação transmitida leva estas informações até o detector de imagem (filme radiográfico). Podemos verificar que um feixe de raios X produzidos com uma técnica de 100 kVp sofre as seguintes atenuações para um 1 cm dos materiais: osso (d=1,7 g/cm3) atenuação de 26 % da radiação incidente; músculo (d=1,0 g/cm3) atenuação de 16 %; pulmão (d=0,1 g/cm3) atenuação de apenas 2 %. Para um feixe produzido com uma técnica de 30 kVp os resultados são os seguintes: osso ( 79 %), músculo (32 %) e pulmão (4 %). É possível verificar que quanto maior a atenuação dos fótons menor será a quantidade de fótons que chegarão até o filme. Isto acarretará em diferentes tons de cinza observados nas radiografias. A relação entre a aparência da imagem (clara ou escura) está diretamente ligada a densidade do tecido. A esta aparência dá-se o nome de densidade ótica, que é correlacionada inversamente com a densidade do tecido, isto é, quanto menor a densidade ótica (mais clara a imagem) maior é a densidade do tecido. Já as imagens escuras têm elevada densidade ótica e são formadas por tecidos de baixa densidade. Dessa forma, os ossos são identificados com imagens claras na radiografia e os diferentes tipos de tecidos moles aparecem com tonalidades variadas de cinza. A imagem radiográfica com as característicasapresentadas acima é obtida para qualquer tipo de detector de imagem, desde filmes até os modernos detectores digitais. Neste capítulo, estudaremos apenas a formação da imagem nas máquinas analógicas que usam filmes para registrar a imagem. Este procedimento também tem cunho didático já que a formação da imagem é igual para ambos e a detecção de um método para outro não é difícil compreensão. Registro da imagem em filmes radiográficos Os filmes são geralmente compostos de uma emulsão e uma base. A emulsão consiste numa fina camada de gelatina com um grande número de cristais de brometo de prata depositada sobre uma base plástica de cor azulada. Uma importante característica deste tipo de filme é que eles possuem emulsão em ambos os lados da base, diferentemente dos filmes fotográficos. Quando o filme é atingido pela radiação alguns cristais de prata (haletos) são sensibilizados pela interação da radiação com os elétrons de sua molécula. Nesta interação ocorre a formação da prata metálica, que chamamos de imagem latente. Na revelação, os grãos sensibilizados se tornam visíveis e são fixados no filme (base plástica) por ação de uma solução de ácido acético e do tio-sulfato de sódio que remove os cristais não revelados (aqueles que não interagiram com a radiação). Posteriormente o filme é lavado com água para remoção de toda a química utilizada no processo de revelação e seco. Este processo geralmente é feito utilizando reveladoras automáticas. 2.3- Equipamentos para melhoria da imagem radiográfica Para melhorar a imagem radiográfica são utilizados dois equipamentos básicos o écran e as grades antidifusoras. A seguir apresentaremos os aspectos técnicos de cada um e a função na melhoria da imagem. Écran Algumas substâncias como o fósforo tem a propriedade de fluorescer ao serem atingidos pelos raios X. Os écrans utilizam da propriedade deste tipo de material e sua função é transformar os raios X em luz visível. A luminosidade emitida pelo écran atinge o filme ajudando na formação da imagem radiográfica, por isto ele também é chamado de intensificador de imagem. Para obter maior rendimento deste tipo de dispositivo, no interior do chassis existe dois écrans que envolvem o filme em ambos os lados. Desta maneira, uma pequena quantidade de radiação pode ser convertida e intensificada ajudando na formação da imagem. Com este auxílio, é possível reduzir o tempo de exposição do paciente num exame radiográfico. Grades antidifusoras Quando a radiação interage com o paciente ela pode ser absorvida ou espalhada. A radiação espalhada chega até o filme sem carregar informações anatômicas, além de causar perdas de contraste na imagem. Para remover este tipo de radiação são usadas as grades antidifusoras. A figura 12 ilustra o processo de remoção pela grade da radiação espalhada no paciente. Paciente Grade Antidifusora Mesa Radiação Primária Radiação Espalhada Radiação Transmitida Filme Figura 12: Remoção da radiação espalhada utilizando grade antidifusora. As grades antidifusoras são construídas com finas lâminas de chumbo intercaladas por material com baixo poder de atenuação (acrílico ou fibra de carbono). Elas podem ainda ser construídas com as lâminas intercaladas paralelamente ou formando um ângulo de convergência e serem estacionárias ou móveis. A figura 13 ilustra os tipos de grades. Grade em ângulo Grade paralela Grade em cruz Figura 13: Grades antidifusoras. As grades móveis são ligadas a dispositivos que a matem em movimento quando a radiografia está sendo tirada. Este processo fornece uma distribuição uniforme dos fótons. Em geral, as grades antidifusoras são empregadas em exames com área radiografada maior de 12 cm de espessura ou técnicas superiores a 70 kVp. Nestes casos, a produção de radiação secundária é aumentada prejudicando o contraste da imagem e por isto se usa as grades. Embora as grades removam a radiação espalhada melhorando o contraste da imagem, ela também remove parte dos fótons que constituem a radiação primária. Cerca de 40 % dos fótons são retirados. Para compensar esta perda é necessário introduzir na técnica radiográfica um fator de Bucky com o aumento do mAs. Este fator varia conforme o tipo de grade e o kVp empregado. Normalmente as grades trazem este tipo de especificação para auxiliar o técnico em seus exames. 2.4 – Parâmetros técnicos e qualidade de imagem Para que uma radiografia seja capaz de fornecer dados para o médico radiologista fazer um diagnóstico preciso é necessário empregar diferentes parâmetros técnicos que variam conforme o exame desejado. Por exemplo, não podemos empregar o mesmo valor de mAs e kVp para uma radiação de punho e de abdome. Para sabermos melhor como variar estes parâmetros, estudaremos como cada um interfere no espectro dos raios X e na imagem radiográfica. Alta-tensão de pico (kVp): A alta-tensão de pico é a diferença de potencial elétrico aplicada entre o filamento (cátodo) e o alvo (ânodo) no interior da ampola de raios X. É ela que determina a energia cinética que o feixe de elétrons atingirá. Consequentemente, ela também determina a energia do feixe de raios X produzido pela ampola. Atualmente, o kVp pode ser chamado simplesmente de kV, já que os modernos aparelhos de raios X não apresentam variação de tensão tão expressivos como antes. Esta característica de menores oscilações (ripple) melhora a qualidade do feixe de raios X e da imagem. A variação do kVp nas diferentes técnicas causa modificação na energia dos fótons emitidos pela ampola. Por exemplo, o aumento da kVp causa o aumento da energia do elétrons e por conseqüência o aumento da energia do feixe de radiação emitido. A isto damos o nome de endurecimento do feixe. Na figura 14 é possível ver o deslocamento da energia média do feixe para com o aumento do kVp. Energia (keV) 0 20 40 60 80 100 100 kVp 50 kVp N ú m e ro d e f ó to n s ( u .a .) Figura 14: Efeito do kVp no espectro de raios X. (modificado de DIMENSTEIN, R. & NETTO, T.G. Bases físicas e tecnológicas aplicadas aos raios X, 1995, p.48) Quanto mais duro for o feixe de radiação maior é a capacidade de penetração no paciente, ou seja, maior será a quantidade dos fótons que alcançarão o filme e contribuirão na formação da imagem. Desta forma, quanto maior for a espessura do paciente maior será o valor do kVp empregado na técnica. Na figura 15 é apresentado o resultado de um exame utilizando um phantom7 de joelho onde o mAs é mantido constante e o valor do kVp foi alterado. 50 kVp 60 kVp 70 kVp Figura 15: Simulação de radiografia com valor fixo de mAs e diferentes valores de kVp realizada com phantom de joelho. (modificado de DIMENSTEIN, R. & NETTO, T.G. Bases físicas e tecnológicas aplicadas aos raios X, 1995, p.50) 7 Phanton: é um objeto construído artificialmente que simula os tecidos do corpo humano. É usado na radiologia para treinamento de alunos. É nítido notar que a técnica mais apropriada empregou o valor de 60 kVp. Com este valor de kVp foi possível observar toda a estrutura com um contraste da imagem adequado. Na técnica com 50 kVp os fótons não apresentaram energia suficiente para passar a estrutura óssea deixando a imagem densidade ótica inadequada. Para a técnica com 70 kVp os fótons extremamente energético passaram pelo osso enegrecendo o filme excessivamente. A escolha do valor de kVp pode ser determinada seguindo uma regrasimples: geradordoconstespessurakVpmín .2 A equação mostra que o valor mínimo do kVp para obter uma imagem radiográfica é igual a 2 vezes a espessura do paciente somado com a constante do gerador. Para geradores trifásicos esta constante é 25, para os monofásicos é 30. Outra importante relação do kVp está relacionado com a dose de radiação recebida pelo paciente. Quanto maior é o kVp menor é a dose de radiação. Isto ocorre devido o kVp estar relacionado com o aumento da energia dos fótons. Estes fótons de alta energia passam pelo corpo do paciente sem interagir não causando prejuízo ao paciente. Dessa forma, a técnica deve ser empregada visualizando um alto valor de kVp sem causar o enegrecimento excessivo do filme radiográfico. Para isto, a escolha de seu valor deve estar de acordo com a área radiografada e com o valor do mAs. Corrente de tubo (mA): A corrente de tubo determina o número de elétrons que atingirão o alvo. Quanto maior o mA maior é a quantidade de fótons é produzido. O produto da corrente pelo tempo de funcionamento (mAs) fornece o fluxo de elétrons dentro do tubo e é relacionada com o tempo de exposição do paciente. O valor do mAs altera a quantidade de fótons produzidas pela ampola modificando apenas a amplitude do espectro. Na figura 16 é observado o espectro de raios X para dois valores de corrente de tubo. Através do gráfico, é nítido observar que ocorre apenas o aumento da quantidade de fótons produzidos sem a alteração da energia média do feixe, como pode ser visto com o aumento do kVp na figura 14. Energia (keV) 0 20 40 60 80 100 600 mA 300 mAN ú m e ro d e f ó to n s ( u .a .) Figura 16: Efeito do mAs no espectro de raios X. (modificado de DIMENSTEIN, R. & NETTO, T.G. Bases físicas e tecnológicas aplicadas aos raios X, 1995, p.50) Geralmente, o valor do mAs é aumentado conforme a dimensão da área radiografada. O aumento do mAs para grandes áreas fornece maior quantidade de fótons para a realização da radiografia. Nos modernos equipamentos, o aumento do mAs regula automaticamente o foco a ser utilizado. Quando o uso de grandes valores de mAs é necessário, o foco grosso é acionado e isto causa a perda de visualização de detalhes na imagem obtida. O correto ajuste do mAs fornece o contraste adequada da radiografia, na figura 17 é apresentado radiografias para três valores de mAs e o mesmo valor de kVp. 10 mAs / 60 kVp 20 mAs / 60 kVp 40 mAs / 60 kVp Figura 17: Simulação de radiografia com valor fixo de kVp e diferentes valores de mAs realizada com phantom de joelho. (modificado de DIMENSTEIN, R. & NETTO, T.G. Bases físicas e tecnológicas aplicadas aos raios X, 1995, p.51) É nítido notar que a técnica mais apropriada empregou o valor de 20 mAs e 60 kVp. O contraste obtido com o valor de 20 mAs é adequado e possibilita a visualização de toda a estrutura radiografada. Na técnica que empregou 10 mAs a radiografia apresentou densidade ótica inadequada proporcinando dificuldades na observação das estruturas. Na radiografia obtida com 40 mAs a exposição foi extramente grande e proporcionou um resultado inadequado, isto impossibilita a observação das estruturas. A quantidade de dose que o paciente é exposta num exame radiográfico está ligada diretamente ao valor do mAs. Quanto maior o valor, maior é o tempo de exposição e dose de radiação absorvida no paciente. É importante que o técnico radiologista escolha valores de mA e tempo para obtenção de uma radiografia adequada (mAs), contudo, visando minimizar a dose no paciente. Na figura 17, a técnica de 40 mAs além de proporcionar um contraste inadequado na radiografia, a exposição foi extramente elevada. As escolhas dos parâmetros para a realização de uma radiografia adequada é um fator que todo técnico deve ter sempre em mente. O bom resultado é quando uma radiografia possui todas as informações necessárias e precisas para o médico radiologista fornecer um diagnóstico. Contudo, podemos afirmar também que o bom exame deve proporcionar o menor prejuízo ao paciente. Neste caso, quanto a menor dose de radiação o paciente for exposto, melhor será este resultado. Assim, a escolha dos valores de kVp e mAs devem ser relacionados para fornecer uma radiografia que seja capaz de fornecer um diagnóstico e que forneça o mínimo de dose de radiação para o paciente. Relação entre kVp e mAs: A escolha dos parâmetros técnicos para a realização da radiografia permite ao operador produzir uma escala de contraste para uma boa imagem radiográfica. Se o kVp selecionado é suficiente para penetrar o tecido o operador deve selecionar um valor de mAs para obter uma densidade ótica satisfatória. É muito importante salientar que a escolha dos parâmetros para o técnico em radiologia deve ter sempre o compromisso entre a qualidade da imagem diagnóstica e a redução da dose de radiação no paciente. Com a finalidade de reduzir a dose de radiação no paciente existe uma solução bastante simples. Para técnicas que empregam faixas de energia entre 60 a 100 kVp podemos aumentar em 15 % o valor do kVp e reduzir o valor do mAs em 50 %. Esta solução reduz pela metade o valor da dose de radiação que o paciente é exposto e não altera a densidade da imagem. Por exemplo, uma técnica que utilize os valores de 70,0 kVp e 8,0 mAs pode ser modificada usando a solução apresentada. Os novos valores seriam 80,5 kVp e 4 mAs. Este novo resultado não traria diferença na densidade ótica da radiografia e reduziria a dose no paciente. Para os casos em que esta modificação resulte em perda de visibilidade de detalhes na imagem, é possível aumentar em apenas 5 % o valor do kVp e diminuir em 30 % o valor do mAs. Isto reduziria a dose em aproximadamente um terço. Efeito Anódico O efeito anódico é um fator intrínseco do equipamento de raios X que pode interferir na qualidade da radiografia. A intensidade do feixe que sai da ampola não é homogênea e varia conforme o ângulo no qual os raios são emitidos do ponto focal. Devido ao ângulo de inclinação do alvo, os fótons podem sofrer maior ou menor filtração dentro do próprio ânodo. Esta filtração diferencial causa a não homogeneidade da energia dos fótons que são produzidos pela ampola. A figura 18 ilustra este fenômeno. Alvo (ânodo) Feixe de elétrons KeV KeV KeV Profundidade de penetração do elétron Figura 18: Efeito anódico. Como pode ser visto pela figura 18, a na região mais próximo do ânodo o feixe de raios sofre maior filtragem gerando um raios X com maior energia, mas com menor quantidade de fótons. Na região mais distante do ânodo o raios são menos filtrados e o feixe apresenta maior quantidade de fótons, mas com uma energia média menor. Este fator observado pode ser utilizado para obter radiografias com densidades óticas balanceadas expondo o paciente com a parte mais densa voltada para o lado mais distante do alvo. O efeito anódico é bastante pronunciado em radiografias de tórax, onde uma grande região é exposta a radiação. Para radiografias de pequenas regiões o efeito anódico quase não pode ser observado. Lei do inverso do quadrado da distância e qualidade de imagem A lei do inverso do quadrado da distância é relacionada com a diminuição da intensidade do feixe de raios X a medida que ele se propaga no espaço. Esta lei pode ser escrita matematicamente como mostra a equação abaixo. 20 1 d II onde I é intensidade do feixe a uma certa distância, I0 é a intensidade do feixe inicial e d é a distância percorrida pelofeixe (d = 1, 2, ..., )8. Através da equação é possível verificar que a intensidade do feixe diminui com o inverso do quadrado da distância. Isto é, um pequeno aumento da distância causa uma profunda diminuição na intensidade do feixe. Para compreendermos melhor esta relação usaremos um exemplo. Imagine que a taxa de dose equivalente9 a 1 m de distância é 100 μSv/h, se aumentarmos a distância para 2 metros a intensidade diminuirá em ¼ da intensidade inicial, ou seja, seu valor será 25 μSv/h. Este valor diminui ainda mais para 3 e 4 metros, as intensidades respectivas para cada um é 11,11 μSv/h e 6,25 μSv/h. Resolução matemática do exemplo: 20 1 d II para d = 2 m, temos: 22 1 .100I 4 1 .100I hSvI /25 Na figura 19 é mostrado o esquema ilustrativo da lei do inverso do quadrado da distância. A medida que aumentamos a distância para 2 m a mesma área A recebe apenas 25 % da intensidade de radiação recebida na distância de 1 m. 8 Para facilitar o entendimento da lei do inverso do quadrado da distância, a equação matemática mostrada anteriormente não segue todos os rigores físicos e matemáticos a respeito das unidades de medida, mas para efeito didático ela é suficiente para a compreensão do aluno. 9 Dose equivalente: está relacionada com a quantidade de energia absorvida por unidade de massa modificada pelo fator deletério a saúde. Sua unidade de medida é o Sievert (Sv). A dose equivalente por unidade de tempo é denominada de taxa de dose equivalente e sua unidade pode ser o μSv/h. Os efeitos da radiação nos seres vivos serão abordados em Proteção Radiológica. Feixe de Raios X 1 m100 % 25 % 2 m A A A A A Figura 19: Esquema ilustrativo da lei do inverso do quadrado da distância. O efeito da lei do inverso do quadrado da distância na imagem é semelhante ao efeito da redução do valor do mAs. Isto ocorre, devido o feixe de raios X perder sua intensidade. A lei do inverso o quadrado da distância é muito utilizada em proteção radiológica, pois com um pequeno aumento da distância a intensidade diminui muito rapidamente. Esta característica é muito importante na efetiva redução da dose em locais que com fontes radioativas. Dessa forma, aumentando a distância entre qualquer pessoa e o objeto, a radiação que o atingirá será reduzida drasticamente protegendo-o dos efeitos deletérios à saúde. 2.6 – Algumas propriedades das imagens Detalhe radiográfico (resolução espacial) A capacidade da radiografia em distinguir dois objetos pequenos e próximos um do outro é chamada de resolução espacial. Quanto maior a resolução espacial, maior é a capacidade desta distinção. Na radiologia em geral, o uso do foco fino aumenta a resolução espacial devido aumentar a densidade dos fótons por área. Desta forma os fótons conseguem passar entre as pequenas estruturas proporcionando sua observação na radiografia, figura 20. A) B) Fótons de raios X Objetos Sistema de baixa resolução espacial Contraste na imagem Objetos não resolvidos Fótons de raios X Objetos Sistema de alta resolução espacial Contraste na imagem Objetos resolvidos Figura 20: Resolução espacial de pequenas estruturas. a) Baixa resolução espacial, não proporciona a distinção dos dois objetos na radiografia; b) Alta resolução espacial, proporciona a distinção dos objetos. Um outro processo importante pode ser ressaltado a respeito da resolução espacial. A resolução de um sistema é prejudicada ao diminuirmos a intensidade do feixe. Isto ocorre porque o filme é constituído de pequenos cristais e neste processo eles podem aparecer “granulados”. Esta granulação é o ruído visto na imagem. A figura 21 ilustra este fenômeno. Feixe de raios X Objetos Sistema de alta resolução espacial Contraste na imagem Objetos resolvidos Redução na intensidade do feixe de raios X Objetos Ruído Sistema de baixa resolução espacial Contraste na imagem Objetos não resolvidos Figura 21: Redução da resolução espacial proporcionada pela redução da intensidade do feixe de raios X. O ruído observado na figura 21 também é relacionado diretamente a qualidade da imagem. A menor quantidade de ruído implica na melhor visualização dos detalhes radiográficos e torna a radiografia mais agradável aos olhos do médico radiologista. Podemos concluir que quanto menor o valor do ruído melhor é a qualidade da imagem radiográfica. Magnificação10 (ou ampliação) Em muitos exames radiográficos o ideal é que a imagem obtida através da radiografia seja das mesmas dimensões do objeto radiografado. Contudo, alguns fatores impossibilitam esta prática e introduzem um fator de magnificação na imagem. Esta magnificação é semelhante a obtenção da sombra projetada na parede de uma mão exposta a luz de uma lanterna. O fator de magnificação é igual a dimensão da imagem dividida pela dimensão do objeto, abaixa segue a equação da magnificação. O I M onde M é a magnificação, I é a dimensão da imagem criada do objeto e O é a dimensão real do objeto. 10 Magnificação: é o ato ou efeito de magnificar, ou seja, ampliar as dimensões de um objeto, aumentar; magnificar é referente a magnitude (grandeza). Embora o processo de magnificação possa ser prejudicial em alguns casos, ele pode ser aproveitado a favor quando é necessário ampliar pequenas estruturas, é o caso dos exames de angiografia por exemplo. A ampliação da imagem pode ser obtida com o aumento da distância entre o objeto radiografado e o filme. Na figura 22 é apresentado um esquema de magnificação (ampliação da imagem). Feixe de Raios X Objeto Imagem Feixe de Raios X Objeto Imagem Figura 22: Magnificação de imagem. Quanto maior a distância entre objeto e filme, maior é a ampliação. Angulação A angulação da ampola pode causar distorção na imagem radiografada prejudicando a obtenção do diagnóstico médico. Este erro é corrigido facilmente alinhando corretamente o feixe de radiação com o paciente e o filme. Em alguns casos a angulação pode ser usada para distinguir estruturas sobrepostas verticalmente. Com este artifício é possível observar a imagem separada das estruturas para facilitar no diagnóstico. Na figura 23 é apresentado um esquema ilustrativo de angulação. Feixe de Raios X Objetos Imagem Feixe de Raios X Objetos Imagem Figura 23: Angulação (possibilita a visualização de estruturas sobrepostas). A física da Imagem radiográfica: dos fótons a imagem Segundo o diagnóstico pretendido, o técnico em radiologia posiciona o paciente e pelo console de comando ajusta a técnica necessária para ajustar o kVp e o mAs. Após ajustados estes parâmetros, o técnico dispara o aparelho de raios X para obter a imagem radiográfica. Neste momento, os elétrons são emitidos do filamento termionicamente e são acelerados na direção do alvo adquirindo energia cinética. Ao se chocarem com o alvo, aproximadamente 99% da energia cinética do elétron é transformada em energia térmica e apenas 1 % em raios X. Os fótons emitidos neste processo são do tipo bremsstrahlung (radiação de frenamento) e radiação característica. Saindo do cabeçote, os fótons de baixa energia são removidos pelosfiltros (cobre, alumínio, etc.) com a finalidade de aumentar a homogeneidade de energia do feixe. Após este processo, a fótons interagem com o colimador que é utilizado para delimitar a área a ser radiografada do paciente. Ao chegar ao paciente, a radiação sofre diferentes atenuações devido as diferentes densidades e tipos de tecidos no interior do paciente. As regiões com maior densidade aparecerão claras e as regiões de baixa densidade serão escuras na imagem. O feixe emergente do paciente leva as informações para a formação da imagem radiográfica, antes de atingir o chassi ela passa pela grade antidifusora para a retirada dos fótons espalhados com o intuito de melhora o contraste da imagem. Ao chegar no chassi, os fótons são intensificados pelo écran sensibilizando o filme com diferentes tonalidades de cinza. O filme é revelado e seco e a imagem radiográfica é formada e está pronta para ser analisada pelo médico radiologista. EXERCÍCIOS 1 – Qual é a função do gerador no equipamento de raios X? a) Fornecer elétrons para a produção dos raios X. b) Fornecer alta tensão oscilante para a produção dos raios X. c) Fornecer alta tensão não oscilante para a adequada produção dos raios X. d) Retirar o excesso de energia presente nos fótons dos raios X. e) Retirar a alta tensão para a adequada produção dos raios Xprótons, nêutrons e elétrons. Resposta: C 2 – Os transformadores são utilizados nos geradores de raios X para obter: a) Corrente elétrica contínua. b) Alta tensão. c) Baixa tensão. d) Corrente elétrica pulsante. e) n.d.a. Reposta: B 3 – Os diodos são utilizados no gerador para obter: a) Corrente elétrica contínua. b) Alta tensão. c) Baixa tensão. d) Corrente elétrica pulsante. e) n.d.a. Resposta: A 4 – O colimador é uma estrutura feita de chumbo com a finalidade de: a) Aumentar a área a ser radiografada. b) Delimitar o feixe de luz produzido pela ampola de raios X. c) Ajustar o ponto focal da ampola de raios X. d) Delimitar a área que deve ser radiografada. e) Diminuir a alta tensão aplicada na produção dos raios X. Resposta: D 5 – De que material o cabeçote é construído? a) Alumínio. b) Tungstênio. c) Cobre. d) Chumbo. e) Mercúrio. Resposta: D 6 – Os filtros feitos de alumínio ou cobre tem a função de: a) Adicionar fótons de alta energia no feixe de radiação. b) Remover os fótons de alta energia presente no feixe de radiação. c) Remover a maioria dos fótons do feixe. d) Adicionar fótons de baixa energia no feixe de radiação. e) Remover os fótons de baixa energia do feixe de radiação. Resposta: E 7 – Os dois principais processos de interação da radiação com a matéria na formação da imagem radiográfica são: a) Espalhamento Compton e formação de pares. b) Efeito fotoelétrico e espalhamento Compton. c) Espalhamento Compton e foto-desintegração. d) Efeito fotoelétrico e formação de pares. e) Foto-desintegração e efeito fotoelétrico. Resposta: B 8 – A penetração dos raios X no tecido é dependente da (o): a) kVp (alta tensão de pico). b) mAs (miliamperagem . segundos). c) tempo de exposição. d) interferência dos elétrons com o paciente. e) material que é fabricado o cátodo. Resposta: A 9 – Para diminuirmos a dose de radiação sobre o paciente é necessário: a) aumentar o mAs. b) aumentar o ponto focal do aparelho de raios X. c) diminuir o kVp. d) aumentar o tempo de exposição. e) diminuir o mAs. Resposta: E 10 – A função do écran é: a) Aumentar a exposição do paciente à radiação. b) Reduzir a quantidade de fótons de luz sobre o filme. c) Transformar os fótons de raios X em luz visível. d) Intensificar a quantidade de fótons de raios X no paciente. e) Transformar os fótons de luz visível em raios X. Resposta: C 11 – A grade antidifusora tem função de: a) Reduzir a quantidade da radiação secundária incidente no filme. b) Reduzir os fótons primários na radiografia. c) Reduzir o contraste da radiografia. d) Aumentar a quantidade de radiação secundária incidente no filme. e) Aumentar os fótons primários na radiografia. Resposta: A 12 – Leia as seguintes afirmações sobre o efeito anódico: I – O efeito anódico é a homogeneidade na intensidade do feixe de raios X produzidos na ampola; II – Este efeito ocorre devido as diferentes distâncias percorridas pelos fótons de raios X dentro do alvo, fato que causa a filtração e eliminação diferencial dos fótons dependendo de sua energia; III – O efeito de filtração que causa o efeito anódico ocorre quando o feixe de raios X passam pelo vidro da ampola; IV – O efeito anódico é a não homogeneidade na intensidade do feixe de raios X, ele pode causar um degrade na densidade ótica do filme em grandes áreas. Das afirmações acima é correto afirmar: a) I, III e IV estão corretas. b) II e III estão incorretas. c) I e IV estão corretas. d) II e IV estão corretas. e) I, II e III estão incorretas. Resposta: D 13 – Se a taxa de dose equivalente inicial é de 1600 μSv/h a 1 m. Qual é o valor da taxa para 4 e 8 m respectivamente? Use a lei do inverso do quadrado da distância para determinar o valor. a) 400 μSv/h e 200 μSv/h. b) 200 μSv/h e 100 μSv/h. c) 100 μSv/h e 25 μSv/h. d) 100 μSv/h e 50 μSv/h. e) 200 μSv/h e 25 μSv/h. Resposta: C 14 – A melhor resolução espacial de uma imagem pode ser definida como: a) A capacidade em distinguir dois objetos pequenos. b) A capacidade em sobrepor a imagem de um objeto pequeno sobre outro de maior dimensão. c) A incapacidade de distinguir dois objetos pequenos. d) A habilidade de produção de imagem em filmes de grandes dimensões. e) A habilidade na angulação da ampola sobre o paciente. Resposta: A 15 – Numa radiografia de extremidade foi possível observar que a dimensão do dedo indicador da mão na imagem era de 20 cm. Verificando que o tamanho do dedo do paciente radiografado era de 8 cm, determine a magnificação (M) que a imagem sofreu. a) 3,0 b) 3,5 c) 2,0 d) 3,25 e) 2,5 Resposta: E 16 – A angulação da ampola de raios X pode ser utilizada num exame radiográfico para: a) Obstruir a passagem de fótons pelo colimador. b) Distinguir na imagem radiográfica de duas estruturas sobrepostas. c) Reduzir o tamanho da imagem em toda área radiográfica. d) Não distorcer a imagem da estrutura radiografada. e) Melhorar a filtração dos fótons pelos filtros empregados na saída da ampola. Resposta: B 17 - A radiação eletromagnética (raios X) tem a propriedade de atravessar a matéria sólida que é opaca à luz visível. A medida que o feixe de radiação atravessa um certo material sua intensidade diminui, devido a interação com a matéria. Explique o efeito foto-elétrico e o espalhamento Compton. 18 - Quais materiais são usados e como eles são dispostos na fabricação das grades antidifusoras? Explique qual a função das grades no procedimento radiográfico. 19 - Qual é o papel dos filtros e do colimador num aparelho de raios-X? 20 - Explique como a imagem radiografia é formada. Em sua resposta, você deve comentar sobre a interação da radiação nos diferentes tecidos e como isso acarretará na formação da imagem, além das relações entre a aparência da imagem (densidades óticas) e a densidade do tecido. 21 - O operador deve ter sempre em mente um compromisso entre a qualidade de imagem diagnóstica e a dose de radiação sobre o paciente. Explique as relações:a) kVp e espessura do paciente; b) kVp e dose de radiação no paciente; c) mAs e quantidade de fótons produzidos; d) mAs e dose de radiação no paciente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS JOHNS, H.E.; CUNNINGHAM, J.R. The physics of radiology. Ilinois: Charles C Thomas – Publisher, 3th, 1974. KAPLAN, I. Física nuclear. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Dois S.A., 2ed., 1978. DIMENSTEIN, R.; NETTO, T.G. 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