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APOSTILA FÍSICA RADIOLÓGICA Física Básica e Produção de Raios X Capítulo 1 A P O S T I L A Física Radiológica “Se andarmos apenas por caminhos já traçados, chegaremos apenas onde os outros chegaram” Alexandre Grahm Bell Sumário Capítulo 1 Err o! Indicador não definido. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1 I - FÍSICA BÁSICA ............................................................................................................... 5 I - 1. ESTRUTURA ATÔMICA ................................................................................ 5 I - 2. ELETROMAGNETISMO ............................................................................... 9 I - 3. RADIAÇÃO .......................................................................................................... 16 I - 3.1 PRODUÇÃO DE RADIAÇÃO POR ÁTOMOS ......................... 20 II - TUBO DE RAIOS X ..................................................................................................... 27 II - 1. PRODUÇÃO DE RAIOS X........................................................................... 28 II - 2. CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DOS COMPONENTES DO TUBO ............................................................................................................. 33 EXERCÍCIOS ......................................................................................................................... 36 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 40 ÍNDICE REMISSIVO.......................................................................................................... 41 F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 1 INTRODUÇÃO físico alemão Wilhelm Konrad Röntgen1 (1845-1923) era professor na Julius-Maximillian University em Würzburg na Alemanha (figura 1). No dia 8 de novembro de 1895, Röntgen realizava experiências em um tubo de raios catódicos2 inventado por William Crookes (1832-1919). Neste experimento ele notou que uma tela embebida com cianeto de bário e platina produzia fluorescência mesmo colocada a certa distância do tubo. Röntgen colocou um papel negro entre o tubo e a tela, mas a luminescência não diminui. Ele testou diversos tipos de materiais para tentar bloquear a nova radiação descoberta e verificou que só colocando uma lâmina de metal espessa entre eles é que a luminescência desaparecia. 1 Röntgen: em alemão “ö” tem o som da letra “e” em português e também pode ser escrito como “oe”, por isso alguns autores escrevem Roentgen. 2 Tubo de raios catódicos: é um tubo de vidro que contém gás a baixa pressão e um filamento emissor de elétrons (cátodo) e um ânodo. Este tubo foi inventado por Crookes para estudar a passagem de corrente elétrica pelos gases e é semelhante aos atuais tubos dos televisores. Capítulo 1 O Figura 1: Wilhelm Konrad Röntgen (1845-1923) ganhou o prêmio Nobel de Física em 1901 pela descoberta dos raios X. (Figura modificada da referência http://nuclphys.sinp.msu.ru) F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 2 O efeito descoberto por Röntgen foi atribuído à radiação vinda das paredes do tubo de raios catódicos. Por não saber de que tipo de radiação se tratava o pesquisador deu o nome de raios X, por ser a letra “x” o símbolo normalmente utilizado para designar uma variável desconhecida. Estudando este novo tipo de radiação, ele verificou que os raios X podiam passar por materiais opacos a luz visível, sensibilizar (escurecer) qualquer placa fotográfica e produzir ionização em gases. No decorrer de sua pesquisa, Röntgen percebeu que diferentes tipos de materiais podiam ser penetrados pela radiação. Estes materiais causam diferentes intensidades na luz produzida pela tela com cianeto de bário e platina ao serem atravessados pelos raios X. Esta intensidade era dependente do tipo e densidade do material atravessado pela radiação. Para obter resultados permanentes Röntgen passou a usar placas fotográficas e a primeira radiografia3 feita por ele foi da mão de sua esposa. Esta radiografia mostrou claramente a estrutura óssea e a aliança de casamento (figura 2). Röntgen publicou três artigos científicos sobre suas pesquisas. O primeiro, ainda em 1895, foi intitulado “Ueber eine neue Art von Strahlen” (Decurso de um novo tipo de radiações). O segundo artigo, em 1896, foi continuação do primeiro e incluiu novas observações sobre a produção dos raios X. A terceira e última publicação foi intitulado “Novas observações das 3 Radiografia: gravação em filme feita através da radiação. Figura 2: Radiografia da mão de Bertha, esposa de Röntgen. (Retirada de http://www.iop.org/EJ/article/0031-9155/40/11/001/pb951101.pdf) F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 3 propriedades dos Raios X”. Por suas descobertas e seus estudos Röntgen ganhou o primeiro Prêmio Nobel de Física em 1901 (figura 3). Com o conhecimento da estrutura atômica e o desenvolvimento tecnológico, o processo de produção e uso dos raios X foi aprimorado. Foi descoberto nestes estudos que os raios X eram produzidos através do bombardeamento de elétrons com alta velocidade sobre um alvo. O que acontecia dentro do tubo de Crookes estudado por Röntgen. Atualmente, o tubo de raios X convencional consiste em um cátodo e um ânodo colocado dentro de um tubo de vidro onde todo o ar do seu interior e removido. No tubo de raios X o cátodo é um filamento utilizado como fonte emissora de elétrons e o ânodo é um alvo onde os elétrons se chocam e interagem para produzir os raios X. O vácuo é feito no interior do tubo para que os elétrons emitidos pelo filamento não sofram redução de sua velocidade para interagirem com o alvo. A figura 4 mostra o esquema de um tubo de raios X moderno e ao lado uma foto de um tubo fabricado pela Nago ®. Figura 3: Certificado do Prêmio Nobel de Física recebido por Röntgen em 1901. (Retirada de http://www.iop.org/EJ/article/0031- 9155/40/11/001/pb951101.pdf) F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 4 Hoje se sabe que os raios X são ondas eletromagnéticas semelhantes à luz visível, mas com comprimento de onda entre 0,06 a 20 Å4 aproximadamente. Esta radiação apresenta propriedades típicas de ondas como polarização, interferência e difração, da mesma forma que a luz e todas as outras radiações eletromagnéticas. Após sua descoberta, os raios X se tornaram valiosa ferramenta na pesquisa atômica e grande parte das informações a respeito da estrutura atômica foi obtida através de estudos do espalhamento e absorção de raios X pelos átomos. O emprego dos raios X teve e tem um inestimável valor em aplicações na área da saúde. É usado para fazer diferentes tipos de diagnósticos médicos com precisão, rapidez e praticamente nenhuma margem de erro. Além de seu uso na medicina os raios X são utilizados nos mais diversificados ramos da indústria. Podemos citar como exemplo a aplicação dos raios X na verificação de bagagens nos aeroportos e de containeres em portos marítimos, além da esterilização de equipamentos cirúrgicos e de alimentos na indústria alimentícia. Para entender como os raios X são produzidos e como ocorre a interação desta radiação com os objetos é necessário compreender como a matéria é constituída. No decorrer deste capítulo relembraremos como é a estrutura básica do átomo e todos os aspectos físicos importantes para subsidiar a compreensão deste fenômeno. Isto permitirá entender melhor a estrutura e a função de cada componente do tubo de raios X, além de propiciar o aprendizado sobre a origem e os conceitosdos diferentes tipos de radiações que são encontrados na natureza. 4 O símbolo Å vem da palavra “Angströn” e é utilizado como unidade de medida de pequenas distâncias (1,0 Å é igual 1 x 10-10 metros). a) b) Figura 4: a) Esquema do tubo de raios X moderno; b) Foto do tubo fabricado pela Nago®. (Foto retirado de http://members.chello.nl/~h.dijkstra19/page5.html) F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 5 I - FÍSICA BÁSICA I - 1. ESTRUTURA ATÔMICA Demócrito concebeu a idéia de que todos os corpos materiais são constituídos de pequenas partículas por volta de 400 a.C. na Grécia Antiga. Denominou essas partículas de átomos (que significa indivisível em grego) e acreditava que tais partículas eram indivisíveis e que representavam a menor porção possível de matéria. Em suas concepções, Demócrito pensava que existiam quatro tipos diferentes de átomos (de água, ar, fogo e pedra) e que tudo na natureza era constituído por eles. Esse foi o primeiro modelo atômico descrito pela literatura, contudo este modelo é meramente filosófico já que foi elaborado apenas no plano intelectual e não houve comprovações experimentais de sua existência. Na atualidade o modelo atômico utilizado pode ser descrito basicamente pela composição de um núcleo (onde estão situados os prótons e nêutrons) e pela eletrosfera (onde são encontrados os elétrons). Na figura 5 é mostrado um esquema ilustrativo da estrutura atômica. É bom ressaltar que esta é uma visão bastante simplificada de tudo que já se conhece sobre a estrutura atômica e as subpartículas existentes. Para efeito didático e pela ótica em que este conhecimento será utilizado esta simplificação é bastante satisfatória e é suficiente para explicar a formação e interação da radiação com a matéria. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 6 Nos átomos os prótons são partículas dotadas de carga elétrica positiva e possui massa igual a 1 (unidade convencionada pelos cientistas), os nêutrons são desprovidos de carga e também tem massa igual a 1 e os elétrons são partículas que se movimentam rápida e continuamente ao redor do núcleo e são dotadas de carga elétrica negativa. Experiências comprovam que a massa de um elétron é cerca de 1840 vezes menor que a massa do próton. Assim, uma característica intrínseca ao átomo é que quase a totalidade de sua massa é concentrada no núcleo e suas dimensões são determinadas pelo tamanho da eletrosfera (região onde os elétrons se movimentam). A eletrosfera é a região onde os elétrons se movimentam ao redor do núcleo e é composta por várias camadas ou níveis de energia nos quais os elétrons são encontrados. O número de camadas de um elemento pode variar de um até sete. Elas são designadas pelas letras K, L, M, N, O, P e Q, a partir do núcleo. O número máximo de elétrons que cada camada comporta, segue a regra da tabela 1. Tabela 1: Distribuição eletrônica nas camadas de um átomo. Camada K L M N O P Q Número de elétrons 2 8 18 32 32 18 2 Qualquer camada poderá ser a última ou a mais externa, depende do número de elétrons que o átomo contém. A última camada pode conter oito elétrons no máximo, com exceção das camadas K e Q, que só podem conter dois elétrons. Nos modelos atômicos mais antigos a eletrosfera era constituída por órbitas onde os elétrons giravam ao redor do núcleo, analogamente ao comportamento dos planetas ao redor do Sol. Atualmente, sabe-se que os elétrons não possuem uma órbita bem definida, mas existe uma região com uma densidade de probabilidade de encontrá-lo. Contudo, mesmo não tendo uma órbita bem Figura 5: Esquema da estrutura atômica moderna com núcleo e eletrosfera. (Figura modificada da referência http://www.zvrk.co.yu) F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 7 definida, os elétrons possuem níveis de energia distintos em cada camada. Estes níveis de energias que os elétrons podem assumir na eletrosfera são diferentes para cada átomo (figura 6). Isto pode ser considerado uma impressão digital de cada átomo. Um elemento químico é um conjunto de átomos que possuem o mesmo número de prótons no núcleo. Cada um deles é identificado por um nome e um símbolo formado por uma ou duas letras. A primeira é sempre maiúscula e a segunda, quando houver, sempre minúscula. O nome do elemento pode variar de idioma para idioma, mas o símbolo é único no mundo todo. Abaixo seguem dois exemplos de elementos químicos: • 1H 1: é símbolo do hidrogênio (em inglês Hydrogen); • 82Pb 207: é símbolo do chumbo (em inglês Lead). Como pôde ser visto em cada símbolo, são usados índices para caracterizar a estrutura de cada elemento. Os elementos são caracterizados por seu número atômico e número de massa, que podem ser representados simultaneamente com o símbolo do elemento. A convenção é a seguinte: XAZ ou A Z X Onde X é o símbolo do elemento químico, Z é o número atômico que informa a quantidade de prótons do elemento e A é o número de massa que informa a somatória de prótons e nêutrons do elemento. Através do símbolo atômico e de seus índices é possível saber importantes características dos elementos como: átomos com o mesmo número atômico (Z) pertencem ao mesmo elemento químico; ter o mesmo valor para Z Figura 6: Exemplo de distribuição eletrônicas da eletrosfera. (Figura modificada da referência http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagen:Klmnopq1.jpg) F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 8 garante que os átomos possuam mesmo comportamento químico; se o átomo for neutro, ou seja, possuir número de elétrons iguais a de prótons, Z também informa o número de elétrons do elemento; e através da subtração de Z por A, obtemos o número de nêutrons do elemento. Abaixo seguem exemplos de alguns elementos químicos: 2He 4 8O 16 74W 184 (Hélio) (Oxigênio) (Tungstênio5) Os átomos ainda podem ser classificados segundo a quantidade de prótons, nêutrons e sua massa atômica. Abaixo seguem esta classificação. • Isótopos: são átomos que apresentam mesmo número atômico e número de massa diferente. Pertencem ao mesmo elemento químico, pois possui o mesmo valor de Z. Exemplo: 1H 1 1H 2 1H 3 Neste exemplo o hidrogênio apresenta A=1, A=2 e A=3. Dessa maneira, o hidrogênio apresenta três isótopos. Em particular, os isótopos do hidrogênio recebem nomes especiais: prótio (1H 1), deutério (1H 2) e trítio (1H 3). • Isóbaros: são átomos que apresentam valores diferentes para o número atômico e mesmo número de massa. Exemplo: 20Ca 42 21Sc 42 (Cálcio) (Escândio) • Isótonos: são átomos que apresentam valores diferentes de número atômico e de massa, no entanto, possui o mesmo número de nêutrons (A-Z). Exemplo: 26Fe 56 25Mn 55 (Ferro) (Manganês) n = 56-26 = 30 n = 55-25 = 30 5 Antigamente, o tungstênio era chamado de “wolfrâmio”, por isso seu símbolo é W. O tungstênio é o metal de ponto de fusão mais elevado (acima de 3370 ºC), de mais alta resistência a forças e menor coeficiente de dilatação. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 9 Uma importante característica dos elementos que compõem o átomo e que é de fundamental importância para o entendimento do funcionamento do tubo de raios X é a interação elétrica entre os prótons, nêutrons e elétrons. Estas interações podem ser de atração ou repulsão. A seguir temos a interação entre cada elemento. Próton (+) x Próton (+) = Repulsão Elétron (-) x Elétron (-) = Repulsão Próton (+) x Elétron (-) = Atração Nêutron x Nêutron = sem interação elétrica Nêutron x Próton = sem interação elétrica Nêutron x Elétron = sem interação elétrica Estas interações elétricasque ocorrem microscopicamente também podem ser vista no cotidiano. Basta friccionarmos uma caneta plástica em nossos cabelos e aproximarmos de pedaços de papéis picados, veremos a atração dos papéis pela caneta. O estudo da estrutura atômica abordado nesta seção fornecerá base para entender a interação dos elétrons com o alvo no interior do tubo e fundamentar a produção de raios X. O conhecimento do átomo e de suas características além de proporcionar a compreensão da produção de raios X fornece a base física para entender a interação da radiação com a matéria. Isto explica a importância desta seção no curso de física radiológica. I - 2. ELETROMAGNETISMO Os antigos filósofos gregos sabiam que um pedaço de âmbar6 friccionado na lã de ovelha era capaz de atrair pequenos fragmentos de palha. Este remoto conhecimento e a eletrônica atual são evidenciados pela palavra elétron, derivada do grego elektron, que significa âmbar. Os gregos também tinham conhecimento 6 ÂMBAR: resina fóssil, transparente ou opaca, proveniente de uma espécie extinta de pinheiro. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 10 de que certas “pedras” encontradas na natureza eram capazes de atrair o ferro. Atualmente, essas pedras são chamadas de magnetitas. Foram essas as modestas origens das ciências da eletricidade e do magnetismo. Estas duas ciências desenvolveram-se independentemente uma da outra durante séculos. Por volta de 1820, Hans Christian Oersted7 (1777-1851) descobriu uma conexão entre elas: uma corrente elétrica que percorria um fio ocasionava a deflexão da agulha imantada de uma bússola. A nova ciência do eletromagnetismo (combinação dos fenômenos elétricos e magnéticos) foi desenvolvida posteriormente por muitos pesquisadores em diversos países. Os mais importantes foram Michael Faraday8 (1791-1867), que realizou experimentos e fez descobertas importantes sobre o eletromagnestimo e James Clerk Maxwell9 (1831-1879), que na metade do século XIX deu forma matemática às idéias de Faraday e introduziu suas próprias idéias para estabelecer as bases para o eletromagnetismo. A grande descoberta de Maxwell no eletromagnetismo foi que a luz é uma onda eletromagnética e que, portanto, sua velocidade escalar pode ser determinada efetuando-se medidas puramente elétricas e magnéticas. Com esta descoberta, Maxwell relacionou a antiga ciência ótica com a eletricidade e o magnetismo. Heinrich Rudolf Hertz 10 (1857-1894) deu outro grande passo e produziu o fenômeno eletromagnético denominado atualmente de ondas de rádio. O conhecimento produzido por estes cientistas é a base para o atual desenvolvimento da eletrônica moderna. Como os aparelhos de raios X são equipamentos eletroeletrônicos, existe a necessidade de estudar o eletromagnetismo para compreender o funcionamento dos geradores e do próprio tubo de raios X. Nesta seção entenderemos o que é corrente elétrica e diferença de potencial elétrico, elementos fundamentais para a produção de raios X. 7 Oersted foi um físico dinamarquês. Sua principal descoberta, que uniu a eletricidade e o magnetismo, foi feita em sala de aula fazendo uma demonstração aos alunos. 8 O inglês Faraday veio de uma família pobre em que seu pai era ferreiro e até os 14 anos teve uma educação rudimentar. Nesta idade, começou a trabalhar como aprendiz de encadernação de livros e se interessou por um artigo de eletricidade. A partir desse momento ele se dedicou aos estudos e suplantou as dificuldades inerentes à sua origem e se tornou um dos mais importantes físicos experimentais do século XIX. 9 Maxwell foi matemático e físico escocês. É tido como um dos grandes expoentes da física, do calibre de Newton e Einstein. Seus trabalhos em eletromagnetismo tiveram extrema importância para a ciência. 10 Hertz foi um físico alemão e provou que, conforme as predições de Maxwell e Faraday, as ondas de rádio podiam ser transmitidas pelo ar e tinham a mesma velocidade da luz. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 11 • Lei de Coulomb Como já visto anteriormente, as cargas elétricas podem ser atraídas ou repelidas dependendo de sua carga. Isto é, uma partícula carregada exerce força de atração ou repulsão sobre outra partícula carregada. A lei de força entre partículas estacionárias carregadas foi estabelecida por volta de 1787 por Charles Augustin de Coulomb 11 (1736-1806). Coulomb estabeleceu a lei do inverso do quadrado da distância para a atração e repulsão das cargas elétricas. Em reconhecimento por seus trabalhos, a unidade de carga elétrica no Sistema Internacional de Unidades (SI) é designada coulomb (C). Através de seus experimentos, Coulomb chegou na expressão da força elétrica exercida entre duas partículas a e b dotadas de cargas qa e qb, dada (em módulo) pela equação a seguir: 2 04 1 r qq F baab Onde Fab é a força entre as cargas, r é a distâncias entre as partículas e ε0 é a permissividade elétrica do espaço entre as cargas. A equação acima é chamada de Lei de Coulomb. A ação de atração e repulsão entre as cargas a longa distância foi um fenômeno que intrigava os cientistas. Para entender melhor como isso ocorre estudaremos o campo elétrico destas cargas. • Campo elétrico Ao se aproximar de uma fogueira, podemos sentir o desconforto do aumento de temperatura, cujo valor é bem definido em cada ponto e pode ser medido com um termômetro. Assim, dizemos que existe um campo térmico em volta da fogueira. Analogamente a fogueira, dizemos que uma carga elétrica provoca um campo elétrico ao seu redor. É esse campo que é responsável pelo aparecimento da força elétrica sobre qualquer carga que seja colocada nesta região. 11 Coulomb foi um físico francês. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 12 Continuando com a analogia da fogueira, podemos dizer que o espaço ao seu redor está alterado. Conforme nos aproximamos ou afastamos das chamas sentimos mais ou menos “calor”. Como uma carga elétrica produz um campo elétrico em suas redondezas, é natural pensarmos em um valor de campo em cada ponto como no exemplo acima. A intensidade (ou módulo) do campo elétrico em cada ponto é dado por: q F E Onde E é o campo elétrico, F é força entre a carga de prova e a carga testada e q é o valor da carga de prova. É importante ressaltar que o campo elétrico é proporcionado por cada carga e sua intensidade é independente da carga de prova que é utilizada para estudar este campo. Isto é facilmente comprovado substituindo F por sua respectiva equação (Lei de Coulomb). O conceito de campo elétrico pode ser representado por diagramas como mostra a figura 7. Quando duas cargas elétricas de sinais opostos são aproximadas, as linhas de campo elétrico assumem o formato mostrado na figura 8a. Ao lado temos um exemplo do comportamento das linhas de campo para cargas de mesmo sinal. Figura 7: As linhas de campo para carga elétrica. Por convenção, as linhas saem da carga elétrica positiva e entram na negativa. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 13 • Campo magnético Ao estudar ímãs observamos que eles se repelem e se atraem da mesma forma que as cargas elétricas. Isto é, um exerce força sobre o outro. A diferença básica entre o ímã e as cargas elétricas é que não conseguimos construir um ímã apenas com o pólo norte (sem o pólo sul). Dessa forma, os ímãs sempre serão encontrados aos pares, pólo sul e norte. De forma análoga às cargas elétricas, podemos estudar o comportamento do ímã através do campo magnético formado ao seu redor. As linhas de campo magnético são semelhantes às linhas de campo quando uma carga positiva está próxima de uma negativa. A figura 9 ilustra este fenômeno.a) b) Figura 8: Linhas de campo para cargas de mesmos sinais de sinais opostos. Figura 9: Linhas de campo magnético produzidas por um ímã. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 14 Por volta de 1820, Oersted descobriu que a agulha da bússola sofria deflexão ao aproximá-la de um fio condutor percorrido por uma corrente elétrica12. A corrente elétrica era a fonte do campo magnético e exercia um torque sobre a agulha da bússola. A observação de Oersted foi a primeira a indicar uma ligação entre a eletricidade e o magnetismo. O módulo do campo magnético produzido por uma corrente elétrica que passa por um fio é dado pela equação abaixo: R I B 2 0 Onde B é o módulo do campo magnético, I é a corrente elétrica que passa pelo fio, R é a distância entre o fio e o ponto de medida do campo e μ0 é permeabilidade magnética do espaço ao redor do fio. A unidade do campo magnético é Tesla (T). As equações para a intensidade de campo formado por uma corrente que percorrem uma espira (de bobina), uma bobina ou solenóide são similares a equação anterior, embora não idênticas. O campo magnético gerado por estas outras configurações geométricas também são diretamente proporcionais a corrente elétrica e inversamente a distância dos fios por onde passa a corrente. Para saber a direção e o sentido do campo magnético gerado pela passagem da corrente num condutor, basta usar a regra da mão direita (figura 10). 12 CORRENTE ELÉTRICA: fluxo de carga elétrica (íons ou elétrons) que passa pela seção transversal de um meio condutor (gás, fio ou líquido). A unidade de medida é ampère (A). F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 15 • Lei de Faraday Como uma corrente elétrica estacionária em um fio produz campo magnético, Faraday pensou inicialmente (e erroneamente) que um campo magnético estacionário pudesse produzir uma corrente elétrica num fio condutor. Em seus estudos, Faraday verificou que a variação do campo magnético no tempo próximo a um anel condutor (bobina), induz uma corrente elétrica no anel. Assim, a Lei de Faraday pode ser elucidada com as seguintes palavras: “Quando o fluxo magnético para uma superfície delimitada por um anel condutor varia com o tempo, induz-se uma força eletromotriz (f.e.m.) no anel. A fem é dada por:” dt d B Onde ε é a força eletromotriz, ΦB é fluxo magnético e t é o tempo. Nesta equação dΦB / dt significa: variação do fluxo magnético dividido pela variação do tempo. Esta equação simplesmente diz que a medida que aproximamos um ímã de uma bobina, uma corrente elétrica é gerada no fio de maneira a gerar um campo magnético igual ao do pólo que se aproxima (repelindo-o). Ou ainda, a medida que afastamos o ímã da bobina, uma corrente elétrica é gerada no fio de forma que o campo magnético gerado é igual aquele se afasta (atraindo-o). Dessa forma, quando um ímã e aproximado e afastado repetidamente de uma bobina, ocorre um fluxo de corrente elétrica alternada na bobina. A diferença de potencial elétrico (ddp) nos terminais da bobina é medida em volts (V). A tensão obtida é igual a que temos nas tomadas de nossas casas (110 e 220 V). Figura 10: Regra da mão direita para a produção de campo magnético por um fio percorrido por corrente elétrica. O polegar está no sentido da corrente elétrica (I) e os outros dedos estão no sentido do campo magnético (B). F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 16 A freqüência com que o ímã se aproxima e se afasta da bobina proporciona a freqüência de oscilação da corrente elétrica e consequentemente da ddp gerada. No Brasil esta freqüência é de 60 Hz13. Isto é, 60 vezes a cada segundo. Nos Estados Unidos da América a freqüência é 50 Hz. A figura 11 mostra o formato senoidal da corrente elétrica gerada, similar a da ddp. Geralmente a corrente elétrica (I) e a diferença de potencial (V) são representadas por seus submúltiplos, por exemplo: mA (miliampère) = 0,001 A ou 1 x 10-3 A kV (quilovolt) = 1000 V ou 1 x 103 V Estas mesmas unidades são utilizadas nos geradores de raios X. Um circuito eletroeletrônico é responsável por alimentar o filamento com corrente elétrica (mAs) e outro por aplicar a diferença de potencial entre o cátodo e o ânodo (kVp). Este processo permite a produção de radiação no tubo de raios X. No decorrer deste capítulo explicaremos o significado dessas unidades. I - 3. RADIAÇÃO Radiação é um fenômeno natural que pode ocorrer de muitas maneiras, é definida como uma energia irradiada. Em nossas vidas estamos expostos a radiações como a luz visível, as ondas de rádio, o radar e o calor, que são radiações semelhantes aos raios X. A diferença entre essas radiações é basicamente a quantidade de energia que elas possuem. A radiação pode ser emitida por 13 Hz é abreviação de Hertz e é a unidade de medida de freqüência. Nós utilizamos esta unidade de medida ao sintonizar uma determinada estação de rádio em nosso aparelho de som. Quando estamos sintonizando a estação estamos ajustando a freqüência de captação do rádio com a emitida pela emissora. Figura 11: Gráfico da corrente elétrica alternada. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 17 substâncias naturais como rochas, solos, alimentos, estrelas14 ou por equipamentos desenvolvidos pelo homem como máquina de raios X, fornos de microondas, aparelho de TV, etc. A radiação pode ser de duas naturezas, corpusculares ou eletromagnéticas. A radiação corpuscular é formada por partículas de alta velocidade como elétrons, prótons e nêutrons. A radiação eletromagnética é também conhecida como ondulatória e é formada por fótons. O fóton é definido como uma partícula de massa de repouso e carga elétrica nulas, spin15 1 e que consiste em um pacote (quantum) de onda eletromagnética. Os raios γ (gama), raios X, luz visível e microondas são exemplos de radiação eletromagnética. Como pôde ser visto, a radiação faz parte de nossas vidas. Para entender o que ela é realmente, relembraremos a definição física de energia e estudaremos como o átomo produz luz visível. Este aprendizado explicará como a interação dos elétrons com o alvo no interior do tubo de raios X produz radiação. Dado que radiação é definida como energia irradiada, definimos abaixo o que é energia, trabalho e suas unidades de medida. • Energia: pode ser definida como a capacidade de realizar trabalho. • Trabalho: é uma grandeza definida como o produto escalar da força pela distância de deslocamento, dada pela equação: dFW Onde W é o trabalho realizado, F é a força aplicada sobre um corpo e d a distância de deslocamento do corpo provocado pela força16. A unidade de trabalho no sistema SI é o newton-metro. Esta unidade recebe o nome especial de Joule (J). As relações são: 14 A radiação emitida por estrelas é chamada de radiação cósmica. O Sol é um exemplo de estrela que emite radiação. 15 SPIN: quantidade característica da física quântica que pode ser compreendido como o momento angular intrínseco de cada partícula. O spin possui valores quantizados restritos a números inteiros ou semi-inteiros da constante de Planck h dividida por 2π, isto é, racionalizada. 16 Em física, a força e o deslocamento são grandezas vetoriais, ou seja, possui módulo (intensidade), direção e sentido. Para diferenciar as grandezas vetoriais das escalares (que possui apenas módulo) é usado uma seta sobre o símbolo que indica a grandeza vetorial. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 18 1 joule = 1 J = 1 N.m = 1 Kg.m2/s2 Uma unidade de energia importante para o estudo das radiações é o elétron-volt (eV). Ela é definida como a energia necessária para deslocar um elétron(no vácuo) através de duas placas com da diferença de potencial de 1 volt. Essa unidade é conveniente quando estamos lidando com átomos ou partículas subatômicas. 1 eV = e.(1V) = (1,6 x 10-19C).(1 J/C) = 1,6 x 10-19 J Os múltiplos desta unidade são muito utilizados, principalmente para medir a energia de radiações como os raios X. São eles: KeV = 1000 eV ou 1,0 x 103 eV (lê-se: um quilo – elétron-volt) MeV = 1,0 x 106 eV (lê-se: um mega – elétron-volt) GeV = 1,0 x 109 eV (lê-se: um giga – elétron-volt) Para compreender o que é energia, podemos dizer que todo corpo que possui energia pode realizar trabalho, ou seja, deslocar um objeto. Um exemplo é ar em movimento transferindo sua energia para rodar os moinhos de vento. Temos diferentes tipos de energias em nossas vidas, podemos citar a energia térmica de uma chama de fogo, energia elétrica produzida nas usinas hidrelétricas, energia química das pilhas e baterias, energia elástica de uma mola, etc. Destas diferentes energias citadas, daremos destaques e explicaremos as energias que estão relacionadas à produção dos raios X. Abaixo segue as definições de cada uma. • Energia cinética: está relacionada com o movimento dos corpos, ou seja, todo corpo que possui velocidade tem energia cinética. Assim, um corpo em movimento pode deslocar outro no caso de colisão, isto é, realizar trabalho. A equação da energia cinética é: 2 2 1 vmEC Onde Ec é energia cinética, m e v são a massa e velocidade do corpo respectivamente. • Energia potencial: é a energia armazenada em um corpo ou sistema físico. Um sistema que possui energia potencial é capaz de realizar trabalho. Exemplos: Energia potencial gravitacional (Epg) – é a energia proporcionada pela força gravitacional e é dada pela equação Epg = mgh, onde m é a massa do corpo, g é aceleração da gravidade e h é altura do corpo ao solo; Energia potencial elástica (Epel) – é proporcionada pela força elástica dos materiais (uma mola, por exemplo) e é dada pela equação Epel = ½ k x 2, onde x é distensão ou F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 19 compressão da mola e k é a constante elástica da mola (esta constante varia de mola para mola). Na figura 12 é mostrado a ilustração para as duas energias potenciais. A figura 12a. mostra um corpo com um determinado valor de energia potencial. Quando este corpo é solto, ele começa a cair e adquiri velocidade (ou seja, energia cinética). Esta transformação de energia é regida pelo princípio de conservação de energia. Pelo princípio da conservação de energia, em qualquer processo de interação de um sistema físico a energia sempre é conservada, ou seja, nunca é perdida. O que ocorre é a transformação de um tipo de energia em outro. Para exemplificar este processo, podemos imaginar um corpo suspenso a uma determinada altura do solo (figura 13a). Este corpo possui energia potencial gravitacional. Pelo princípio da conservação de energia, a partir do momento que este corpo é solto e começa a cair, a energia potencial é transformada em energia cinética, devido o corpo adquirir velocidade. O mesmo processo ocorre ao colocarmos uma esfera em frente a uma mola. Ao soltarmos a mola a energia potencial é transformada em cinética que impulsiona a esfera (figura 13b). Geralmente a diferença entre as energias encontrado num sistema é devido a dissipação da energia em forma de energia térmica e sonora. a) b) Figura 12: Ilustração: a) Energia potencial gravitacional; b) Energia potencial elástica para uma mola. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 20 Conhecendo a definição de energia e o princípio da conservação, podemos entender como a radiação pode ser gerada por um átomo. I - 3.1 PRODUÇÃO DE RADIAÇÃO POR ÁTOMOS Como já visto anteriormente, os átomos são estruturas formadas por um núcleo (onde estão os prótons e nêutrons) e a eletrosfera (onde estão os elétrons). Para entendermos melhor como o átomo produz radiação em sua estrutura, dividiremos a produção de radiação em duas classes: radiação produzida por elemento radioativo em seu núcleo e radiação produzida na eletrosfera, que serão apresentadas nos tópicos Radioatividade e Luz visível respectivamente. Esta divisão ajudará a entender a diferença entre as radiações utilizadas na medicina nuclear e a radiologia, além de subsidiar a compreensão da produção de radiação no tubo de raios X. • RADIOATIVIDADE O físico francês Antoine Henri Becquerel (1852-1908) obteve seu doutorado na École Polytechnique na França e tornou-se professor titular desta instituição em 1895. Após a descoberta dos raios X por Röntgen em 1895, Becquerel estudava a luminescência de algumas substâncias expostas aos raios X. Em sua pesquisa, utilizou sais de urânio numa composição que mantinha contato com uma placa fotográfica envolta em papel negro. Ao revelar o filme descobriu que mesmo sem apresentar luminescência esses cristais sensibilizavam a placa. Essas emissões que ultrapassavam o papel foram chamadas de emissões radioativas ou radioatividade. No estudo do fenômeno, Becquerel deduziu que a radiação que sensibilizava o filme não estava presente nos sais, mas sim no urânio, uma vez que a) b) Figura 13: Transformação de energia: a) Potencial gravitacional em cinética; b) Potencial elástica em cinética. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 21 a mesma reação se dava com diversos outros sais contendo urânio. Em 1899, Becquerel descobriu que parte da radiação presente no urânio interagia com campo magnético e poderia ser composta de partículas carregadas positiva e negativamente. Mais tarde, descobriu-se que essas radiações poderiam ser de três tipos: α (alfa), β (beta) e γ (gama). Becquerel ganhou metade do prêmio Nobel de Física em 1903 por suas descobertas. A outra metade foi dividida entre casal Curie que também fizeram importantes descobertas nesta área17. Sabe-se atualmente que os três tipos de radiação (α, β e γ) são produzidas no interior do núcleo atômico. Ao emitir uma delas o núcleo atômico se altera transformando o elemento químico em outro. Na natureza os núcleos podem ser classificados como estáveis e instáveis. Os estáveis não emitem radiações e os instáveis são os elementos que emitem radiações, a estes damos o nome de elementos radioativos ou simplesmente de radionuclídeos. A figura 14 ilustra este comportamento. Os três processos pelos quais um radionuclídeo tenta alcançar a estabilidade são chamados decaimento α (alfa), β (beta) e γ (gama). A fim de descrever as transformações nucleares de forma correta, três leis de conservação são respeitadas: a lei de conservação de energia (já estudada), lei de conservação de massa e lei da conservação de carga elétrica18. A seguir estudaremos separadamente os decaimentos radioativos α, β e γ. 17 A descoberta de Becquerel foi seguida pela identificação pelos Curies de dois outros elementos radioativos, o polônio e o rádio. Daí o nome de radioatividade. Descobriu-se que a atividade do rádio era de mais de um milhão de vezes a do urânio. 18 As leis de conservação de massa e carga elétrica são análogas as da energia. Isto é, em toda transformação nuclear a massa, a carga elétrica e a energia não se alteram. Figura 14: Emissão de radiação por núcleos instáveis. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 22 • Decaimento α No decaimento α um radionuclídeo emite uma partícula carregada pesada (partícula α). Esta partícula é formada por 2 prótons e 2 nêutrons, da mesma forma que o núcleo de um átomo do Hélio. O decaimento α pode ser expresso pela seguinte equação: 42 AZAZ YX Nota-se que o número de massa e a carga elétrica em ambos os lados da igualdadepermanece o mesmo. Um exemplo de decaimento alfa é o decaimento do Radio 226 para o Radônio 222: 2228622688 RnRa O decaimento alfa ocorre geralmente com radionuclídeos que possuem massa atômica superior a 150. A energia cinética da partícula alfa é fixa para um dado decaimento. No exemplo acima a energia cinética da partícula emitida é 4,78 MeV. • Decaimento β Neste processo, um nêutron ou próton dentro do núcleo do radionuclídeo é convertido em um próton ou nêutron, respectivamente. Isto altera as forças repulsivas dentro do núcleo na tentativa de estabilizá-lo. O decaimento beta culmina na emissão de um elétron ou pósitron, ou na captura de elétrons. Normalmente o decaimento beta é apresentado com a emissão de elétrons de alta velocidade. Isto ocorre devido sua importância em aplicações práticas. Para fins didáticos, estudaremos apenas o decaimento beta por emissão de elétrons, também chamada de emissão β-. Na emissão β- um nêutron dentro do radionuclídeo é convertido num próton e o excesso de energia é convertido em um par de partículas, um elétron (e-) e um antineutrino19 ( ). O decaimento β- pode ser expresso como: 19 ANTINEUTRINO: é uma partícula que não possui massa de repouso e carga elétrica e, raramente, interage com a matéria, não tendo importância no que diz respeito a efeitos biológicos. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 23 eYX AZAZ 1 O número de massa e a carga elétrica são conservados. Um exemplo de decaimento por emissão de elétron é o carbono 14 em nitrogênio 7: eNC 147146 A energia cinética do elétron não é fixa por que ela é compartilhada com o antineutrino. A distribuição da energia é aleatória entre as duas partículas, variando de 0 até um Eβ máximo. O Eβ max do decaimento do carbono 14 é 0,156 MeV. • Decaimento γ Neste decaimento, o núcleo excitado (instável) de um radionuclídeo decai para um estado de menor energia ou para o estado fundamental (estável). Esta transição ocorre pela emissão de um fóton de alta energia (raios γ) ou conversão interna. Nesta seção estudaremos apenas os raios γ. Os raios γ é uma radiação eletromagnética semelhante aos raios X e luz visível. A diferença entre elas é que os raios γ tem maior energia que os raios X, que tem maior energia que a luz visível. Como pôde ser visto, a radiação emitida por um núcleo instável pode ser de natureza corpuscular (radiação α e β) ou eletromagnética (raios γ). Todas elas apresentando alta energia. Os três tipos de radiações emitidos por um material radioativo foram comprovados estudando-as na presença de um campo magnético. Conforme a carga elétrica da radiação ela é defletida para uma direção. No caso da ausência de carga, a radiação continua em linha reta (figura 15). Estes tipos de radiação são bastante utilizados na medicina nuclear e na radioterapia. Onde a propriedade de penetração e da interação com a matéria, diferente para cada uma delas, é explorada para o diagnóstico ou tratamento de alguns tipos de doenças. Figura 15: As três radiações dos materiais radioativos e suas trajetórias num campo magnético perpendicular ao plano do diagrama (esquemático). F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 24 • LUZ VISÍVEL Diferentemente da emissão de radiação estudado acima, a luz visível é produzida na eletrosfera atômica e não no núcleo de um material radioativo. Desta forma, qualquer elemento pode emitir luz dependendo da quantidade de energia cedida a ele. Como já estudado, a eletrosfera possui níveis de energia bem definido para cada átomo. A figura 16 mostra os níveis de energia para o átomo de hidrogênio. Normalmente, os elétrons estão distribuídos nos níveis de energia fundamentais. Quando o átomo está nesta configuração, falamos que ele está no seu estado fundamental. Ao cedermos energia para um átomo, os elétrons podem fazer algumas transições entre os níveis de energia, ou seja, um elétron pode adquirir energia e “saltar” do seu nível para outro mais energético. A esta configuração dá-se o nome de estado excitado. Na natureza, este estado excitado é de curta duração e o elétron é forçado a voltar ao seu nível de energia fundamental. Quando isto ocorre, a diferença de energia entre os níveis é liberada em forma de um fóton de radiação. Na figura 17 é mostrado um exemplo deste fenômeno. Figura 16: Diagrama de níveis de energia para o átomo de hidrogênio. Figura 17: A produção de fóton no átomo de hidrogênio. No estado fundamental, o elétron está no nível 1. Ao ser excitado, o elétron adquiri energia (que pode ser energia térmica, elétrica, etc.) e salta para o nível 2 (nível mais energético). Ao voltar para seu estado fundamental o elétron libera um fóton com energia de 10,21 eV, o equivalente a 1,628 x 10-18 J. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 25 O fenômeno da transição dos elétrons de níveis mais energéticos para os menos explica a produção de radiação eletromagnética na eletrosfera dos átomos. A luz visível é formada desta maneira. Como cada átomo possui níveis de energia característicos, os fótons produzidos por eles terão energias diferentes, característicos destas transições. A diferença de energia de cada fóton é caracterizada como cor por nossos olhos. As cores diferentes observadas nos fogos de artifício são obtidas através deste princípio e são conseguidas utilizando diferentes tipos de elementos químicos. A energia térmica da explosão excita os átomos que liberam os fótons. Normalmente a cor é relacionada com comprimento de onda ou pela freqüência. A equação que relaciona estas grandezas segue abaixo. .hE Onde E é a energia do fóton, h é a constante de Planck (h = 6,63 x 10-34 J.s) e υ é a freqüência que caracteriza a cor20. A conversão da energia para o comprimento de onda é dada pela equação abaixo. c Onde υ é a freqüência, c é a velocidade da luz no vácuo e λ é o comprimento de onda do fóton. Usando as equações acima, encontramos que o a freqüência do fóton emitido pelo hidrogênio no exemplo da figura 17 é 3,067 x 1015 Hz e comprimento de onda igual a 97,8 nm21. As sete cores que vemos no arco-íris significam, fisicamente, fótons de diferentes energias e comprimentos de onda. Na verdade, as radiações eletromagnéticas estão presentes no nosso dia-a-dia através das ondas de rádio (FM e AM), forno de microondas, luz visível, luz ultravioleta e infravermelha, raios X e raios γ. A única diferença entre estas radiações é sua energia (tabela 2). 20 Esta equação foi proposta por Einstein em sua teoria quântica. Einstein propôs que a energia radiante está quantizada em pacotes concentrados, ou fóton, e que ela está relacionada com sua freqüência. 21 1,0 nm é um submúltiplo do metro e equivale a 0,000000001 metros, ou seja, 1 x 10-9 m. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 26 Tabela 2: relações das regiões do espectro eletromagnético e suas respectivas energias, comprimento de onda e freqüência22. Espectro eletromagnético Região Comprimento de onda (m) Freqüência (Hz) Energia (eV) Rádio 101 – 100 < 3,0 x 109 < 10-5 Microondas 100 – 10-4 3,0 x 109 – 3,0 x 1012 10-5 – 0,01 Infravermelho 10-4 – 10-5 3,0 x 1012 – 4,3 x 1014 0,01 – 2,0 Luz visível 400 x 10-6 – 700 x 10-6 4,3 x 1014 – 7,5 x 1014 2,0 – 3,0 Ultravioleta 10-5 – 10-9 7,5 x 1014 – 3,0 x 1017 3 – 103 Raios X 10-9 – 10-12 3,0 x 1017 – 3,0 x 1019 103 – 105 Raios γ 10-10 – 10-13 > 3,0 x 1019 > 105 As radiações vistas na tabela 2 podem ser classificadas como ionizantes e não-ionzantes. A ionização ocorre quando a radiação tem energia suficiente para arrancar elétrons de um átomo23. • Radiação não-ionizante: este tipode radiação não apresenta energia suficiente para ejetar elétrons de um átomo. Este tipo de radiação pode causar a excitação de um átomo, fornecendo energia igual à diferença de energia entre os níveis de origem e destino do elétron. Este fato ocorre porque os elétrons se encontram em níveis de energia bem definidos nas camadas eletrônicas dos átomos. Este tipo de radiação faz parte do nosso dia-a-dia. A luz visível, o calor e as ondas de rádio são exemplos de radiação não ionizantes. • Radiação ionizante: este tipo de radiação apresenta energia suficiente para ejetar elétrons de um átomo. Elas são capazes de provocar alterações ou danos na estrutura atômica do material irradiado. É assim que a radioterapria agride células tumorais e que estas radiações causam má formação fetal, queda de cabelos, 22 Os valores mostrados na tabela 2 são aproximados. 23 Quando um átomo neutro perde um elétron, dizemos que ele foi ionizados. Isto quer dizer que o átomo não está com suas cargas elétricas equilibradas. Um íon positivo é um átomo com excesso de carga positiva e é denominado cátion e um íon negativo é um átomo com excesso de carga negativa e é um ânion. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 27 mudança de cor de pedras preciosas ou a morte de bactérias. Os raios X e raios γ são exemplos de radiações ionizantes. A física básica estudada até agora é suficiente para entendermos a produção de raios X. Todos os tópicos abordados serão relacionados com as propriedades do tubo e a produção de radiação. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 28 II - TUBO DE RAIOS X II - 1. PRODUÇÃO DE RAIOS X Os raios X são produzidos quando uma substância sólida é bombardeada por elétrons com alta energia cinética. Os atuais tubos de raios X consistem de um cátodo (filamento) e um ânodo (alvo) colocado dentro de um tubo de vidro onde todo ar é retirado. O cátodo consiste de um filamento de tungstênio e é responsável por ceder os elétrons para a produção dos raios X. O alvo é usualmente uma peça massiva de cobre recoberto por uma camada de tungstênio24. A figura 18 ilustra o tubo de raios X. 24 O tungstênio é o material usado na fabricação do filamento e do alvo por possuir alto ponto de fusão (3370º C) e número atômico. Figura 18: Esquema do tubo de raios X e do circuito elétrico básico. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 29 Quando o tubo é ligado uma corrente elétrica de 2 a 5 A (ampère) flui no filamento elevando sua temperatura (2200 a 3370 ºC) liberando elétrons da superfície do filamento. Dizemos que os elétrons são ejetados termo-ionicamente. Estes elétrons são acelerados na direção do alvo por meio de uma diferença de potencial elétrico25 aplicada no cátodo (-) e ânodo (+) e adquirem alta energia cinética26. O vácuo é feito no interior do tubo para que os elétrons não colidam com moléculas de ar e não percam sua energia cinética. Quando estes elétrons chocam com o alvo, sua energia cinética é transformada em energia térmica e raios X pelo princípio da conservação de energia. Podemos dizer que aproximadamente 99 % da energia cinética do elétron é transformada em energia térmica e apenas 1,0 % em raios X27. Devido a essa característica, os alvos são fabricados com materiais que suportam altas temperaturas, o tungstênio é um exemplo de material utilizado. Quando os elétrons se chocam com o alvo eles produzem os raios X de duas maneiras. Os raios X produzidos nestas duas formas são denominados de radiação de frenamento (bremsstrahlung) e radiação característica. • RADIAÇÃO DE FRENAMENTO (Bremsstrahlung) Quando um elétron de alta energia cinética vindo do filamento passa próximo ao núcleo do átomo de tungstênio, a carga positiva do núcleo interage com a negativa do elétron. O elétron é desviado de sua direção e atraído pelo núcleo, provocando a perda de energia. A energia cinética perdida pelo elétron é transformada em fótons de raios X. A figura 19 ilustra este fenômeno. 25 A diferença de potencial elétrica aplicada no tubo de raios é muito intensa. Podemos também chamá-la de alta tensão (kVp). 26 Elétrons acelerados a 100 kVp adquirem 55 % da velocidade da luz. 27 A razão entre a energia que se transforma em fótons de raios X e a energia térmica é dada por 10-9 Z.V, onde Z é o número atômico do alvo e V e a tensão entre o filamento e o alvo. Para um tubo com alvo de tungstênio (Z = 74) operando em 100 kVp, teríamos apenas 0,74 % da energia cinética do elé.tron sendo transformada em raios X. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 30 A radiação produzida desta forma é denominada bremsstrahlung, que significa raidação de frenamento em alemão. Como o elétron pode ser desacelerado mais ou menos intensamente, os fótons produzidos neste fenômeno possuem uma ampla margem de energia formando um espectro contínuo de raios X. Por isso esta radiação também é chamada de radiação branca (white radiation). A figura 20 ilustra o espectro de radiação bremsstrahlung produzido no tubo de raios X. • RADIAÇÃO CARACTERÍSTICA A produção da radiação característica ocorre quando um elétron incidente colide com um elétron orbital ligado ao átomo do material do alvo. O elétron incidente transfere energia suficiente para ejetar o elétron orbital, deixando uma “lacuna”. Esta é uma condição instável para o átomo e é imediatamente corrigida com a passagem de um elétron de uma órbita mais energética para esta “lacuna”. A diferença de energia entre os níveis de energia é transformada em fótons de raios X, semelhante ao processo de produção de luz no átomo de hidrogênio. Como os níveis de energia são únicos para cada elemento, os raios X decorrentes deste processo também são. Portanto, os raios X produzidos desta Figura 19: Radiação de frenamento (bremsstrahlung). Figura 20: Espectro contínuo de radiação bremsstrahlung que é emitido de um alvo de tungstênio para ddp de 55 kVp. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 31 forma são característicos do material que é constituído o alvo, daí o nome raios X característico. A figura 21 ilustra este fenômeno. A diferença entre a radiação característica e a luz visível está na diferença de energia das transições dos elétrons. A diferença das transições para a luz está na ordem de alguns elétron-volt (eV) e para os raios X na ordem de quiloeletron-volt (keV). As transições possíveis para o tungstênio são vistas na figura 22. A tabela 3 mostra os dados para os subníveis de energia de cada camada eletrônica. Figura 21: Radiação característica. Figura 22: Níveis de energia para o tungstênio. Os raios X são produzidos quando ocorrem transições dos elétrons da camada K, L, M e N. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 32 Tabela 3: Níveis de energia da camada eletrônica para o átomo de tungstênio. Nível (camada)28 Tungstênio (Z = 74) Energia (keV) K 69,510 LII 11,538 LIII 10,200 MIII 2,274 NIINIII 0,421 Quando um elétron é retirado do átomo de tungstênio, por exemplo, da camada K, um elétron da camada L, M ou N pode ocupar seu lugar liberando a diferença de energia entre a camada origem e destino. As transições dos elétrons para camada K recebem nomes especiais segundo a origem do elétron. Por exemplo, as linhas Kα1 e Kα2 resultam da transição entre a camada LIII e LII para K. A tabela 4 ilustra os símbolos atribuídos para cada transição e os valores de energia e comprimento de onda para o átomo de tungstênio. Tabela 4: Linhas de emissão característica do tungstênio. Transição Símbolo Energia (keV) Comprimentode onda – λ (Å) NIINIII-K Kβ2 69,089 0,179 MIII-K Kβ1 67,236 0,184 LIII-K Kα1 59,310 0,209 LII-K Kα2 57,972 0,214 O espectro de radiação que sai do tubo de raios X é a soma das radiações de frenamento e característica. A figura 23 mostra um espectro de raios X típico para um alvo de tungstênio. 28 Os subíndices de cada camada eletrônica são dados pelos números quânticos da estrutura atômica. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 33 A diferença de potencial aplicada entre o filamento (cátodo) e o alvo (ânodo) determina a energia cinética que os elétrons atingem. Isto implica diretamente na energia máxima dos fótons de raios X produzidos no alvo. Quanto maior a tensão (kVp) maior energia os fótons terão. No espectro visto na figura 23 o fóton de maior energia tem 100 keV e a tensão aplicada no tubo foi de 100 kVp. A quantidade de elétrons que emergem termoionicamente do filamento e atravessam a ampola até chegar ao alvo é chamada de corrente de tubo. A corrente de tubo é uma corrente elétrica responsável pela quantidade de fótons que é produzida. Esta corrente é medida por um miliamperímetro no aparelho de raios X (figura 18). Ela é controlada pelo técnico em radiologia dependendo do tamanho da área a ser radiografada. Quanto maior a área maior a corrente de tubo o técnico deve selecionar. II – 2. CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DOS COMPONENTES DO TUBO • FILAMENTO EMISSOR (Cátodo) O filamento emissor (cátodo) apresenta forma helicoidal de aproximadamente 0,2 mm e cerca de 10 mm de comprimento. Quando uma corrente elétrica flui no filamento, sua temperatura se eleva e ocorre a emissão de elétrons termo-ionicamente. Estes elétrons são acelerados na direção do alvo e produzem os raios X. Figura 23: Representação de um espectro de raios X típico de um tubo com alvo de tungstênio. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 34 Na maioria dos tubos de raios X são encontrados dois filamentos de dimensões diferentes (figura 24). Em alguns equipamentos a escolha do filamento é determinada automaticamente pela corrente de tubo selecionada. O filamento de menor dimensão é chamado de foco fino e é usado quando há necessidade de imagens com melhor definição (maior resolução). Isto ocorre porque os elétrons atingem uma pequena área do alvo formando um feixe de radiação concentrado. Esta técnica é restrita a radiografias de pequenas áreas devido ao baixo número de elétrons fornecidos pelo foco fino. O foco grosso (filamento de maior dimensão) é utilizado quando se quer visibilizar grandes estruturas. Neste caso a radiografia não apresenta alta resolução, mas proporciona a visualização de grandes partes como o abdome. O uso do foco grosso permite o emprego de altas correntes de tubo e menores tempo de exposição, para uso em pediatria ou em estruturas que não sejam totalmente imóveis. • CAPA FOCALIZADORA Os elétrons emitidos pelo filamento são partículas negativas que se repelem entre si. Esta interação provoca a dispersão dos elétrons no caminho até chegarem ao alvo. Essa dispersão é indesejável por aumentar o tamanho do ponto focal. Para reduzir a dispersão do feixe de elétrons, o filamento é colocado na parte interna de uma capa focalizadora. Essa capa é carregada negativamente e isto focaliza os elétrons sobre uma área do ânodo na forma e tamanho desejados. • ALVO (Ânodo) O alvo ou ânodo é a região onde ocorre a “colisão” do feixe de elétrons e a produção dos raios X. As áreas de interação do feixe de elétrons com o alvo são denominadas trilhas, as quais possuem de 10 a 15 mm de comprimento e alguns milímetros de espessura. A intensidade do feixe de raios X produzidos pelo ânodo Figura 24: Filamento emissor. (Figura modificada da referência http://learntech.uwe.ac.uk) F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 35 depende do tipo de material que é construído. Quanto maior o número atômico do material (Z), maior a eficiência na produção dos raios X. A habilidade do tubo de raios X de alcançar altas emissões de raios X é limitada pelo calor gerado no ânodo. Em um tubo de raios X, a potencia dissipada no alvo é concentrada em uma pequena área, podendo facilmente alcançar um superaquecimento. O propósito do alvo giratório e dispersar o calor produzido numa área extensa, além de maximizar a área de “colisão” dos elétrons (figura 18). Nos equipamentos modernos a rotações alcançam de 3.000 a 10.000 rpm (rotações por minuto). Os alvos fixos ainda são utilizados em alguns equipamentos de raios X portáteis e principalmente nos equipamentos de uso odontológicos (figura 4a). O superaquecimento do alvo pode causar vaporização do tungstênio, diminuição da eficiência de produzir raios X e conseqüente diminuição de vida útil. Os principais fabricantes equipamentos fornecem tabelas e gráficos com a capacidade térmica do alvo. Através da curva de aquecimento é possível verificar se as técnicas radiográficas utilizadas podem causar dano ao ânodo. Se a técnica gerar calor além do limite estipulado pelo fabricante a técnica não deve ser utilizada. Vários equipamentos radiológicos são dotados de sensor micro processado. Quando níveis inseguros de calor são atingidos, eles são ativados e bloqueiam o funcionamento do aparelho de raios X. Considerações sobre a capacidade térmica dos tubos de raios X são essenciais na aquisição de equipamentos e extremamente importantes durante os procedimentos radiográficos. • PONTO FOCAL A região do alvo no o feixe de elétrons incide e ocorre a produção dos raios X é chamada de ponto focal. O tamanho do ponto focal é determinado pelo tamanho do filamento de tungstênio e pela forma da capa focalizadora. As dimensões do ponto focal determinam a resolução do sistema de formação da imagem. Isto é um importante parâmetro na aquisição de um equipamento radiológico. Devido à angulação do alvo, o ponto focal projetado (aparente) é menor que a área atingida pelos elétrons. Os tubos mais modernos apresentam pontos focais de 0,3 mm. Quanto menor o tamanho do ponto focal, melhor a resolução de imagem e maior o aquecimento do tubo. A figura 25 apresenta o esquema do ponto focal. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 36 Figura 25: Ponto focal aparente. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 37 EXERCÍCIOS 1 - Os átomos são formados fundamentalmente por: a) prótons, nêutrons e elétrons. b) nêutrons e elétrons. c) elétrons e prótons. d) íons e cátions. e) n.d.a. 2 - Os prótons são partículas que possuem massa relativa igual a: a) 1/1840. b) -1. c) 1840 vezes menor que a massa do nêutron. d) massa desprezível. e) 1. 3 - O número atômico (Z) é: a) o número de prótons do núcleo b) o número de nêutrons do núcleo c) o número de partículas do núcleo d) o número de nêutrons e elétrons do átomo e) o número de prótons e elétrons do átomo 4 – Prótons, elétrons e nêutrons têm carga elétrica respectivamente: a) positiva, negativa e nula b) positiva, negativa e positiva c) nula, negativa e nula d) negativa, positiva e nula e) nula, negativa e positiva 5 – Um átomo pode ser divido em duas partes a) eletrosfera e núcleo b) núcleo e íons c) prótons e nêutrons d) nêutrons e eletrosfera e) prótons e elétrons 6 – A fonte de Cobalto (27Co60) é usada na radioterapia. Qual é o seu número de nêutrons? 7 – O tecnécio (43Tc99) é usado em exames de medicina nuclear. Qual é o seu número de prótons, nêutrons e massa? F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 38 8 – Os átomos 15P31 e 16S32 são: a) isótopos b) isóbaros c) isótonos d) isomorfos e)isômeros 9 - Qual é o papel do filamento, alvo e do vácuo no interior da ampola respectivamente? a) Ceder, não diminuir a energia cinética do feixe de elétrons e dissipar a energia dos elétrons. b) Frear, acelerar e ceder o feixe de elétrons. c) Ceder, acelerar e frear o feixe de elétrons. d) Frear, ceder e não diminuir a energia cinética do feixe de elétrons. e) Ceder, frear e não diminuir a energia cinética do feixe de elétrons. 10 - De qual material o alvo (ânodo) pode ser revestido nas ampolas utilizadas na radiologia? a) Revestimento de chumbo, por ser um material que evita a passagem de radiação ionizante. b) Revestimento de chumbo, por ser um material que possui alto valor de número atômico e resiste a altas temperaturas. c) Revestimento de tungstênio, por ser um material que possui alto valor de número atômico e resiste a altas temperaturas. d) Revestimento de tungstênio, por ser um material que evita a passagem de radiação ionizante. e) Revestimento de tungstênio, por ser um material que possui baixo valor de número atômico e resiste a altas temperaturas. 11 - O espectro eletromagnético do feixe de raios-X produzidos pela ampola contém: a) Apenas luz visível. b) Apenas raios ultravioletas. c) Radiações característica e de frenamento (Bremsstrahlung). d) Apenas radiação característica. e) Apenas raios ultravioletas e luz visível. 12 - Os raios X é uma radiação do tipo: a) eletromagnética. b) corpuscular. c) sonora. d) mecânica. e) alfa e beta. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 39 13 - Num tubo os raios X são produzidos por um feixe de: a) Prótons. b) Nêutrons. c) Pósitrons. d) Elétrons. e) Átomos. 14 - A energia cinética dos elétrons na produção dos raios X transforma-se em energia térmica num percentual aproximado de: a) 66 %. b) 55%. c) 45%. d) 88%. e) 99%. 15 - Leia as seguintes afirmações: I. A kVp indica a diferença de potencial elétrico entre o filamento (cátodo) e o alvo (ânodo); II. Os tubos de raios X são preenchidos por gás hidrogênio; III. O alvo (ânodo) é normalmente giratório nas ampolas da radiologia médica; IV. A mAs indica a diferença de potencial elétrico entre o filamento (cátodo) e o alvo (ânodo); V. O filamento (cátodo) tem a função de frear os elétrons vindos do alvo (ânodo). Das afirmações acima, estão corretas: a) I, II e III. b) II e III. c) II, III e V. d) I e III. e) II e V. 16 - Os raios X foram descobertos por: a) Wilhelm Konrad Röntgen. b) Marie Sklodowska Curie. c) William Crookes. d) Albert Einstein. e) Michael Faraday. 17 – Explique como ocorre o processo de produção de radiação num tubo de raios X. 18 – Explique como são produzidas a radiação bremsstrahlung e característica. 19 – Defina o que é radiação e explique o que é radiação ionizante e não-ionizante. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 40 20 – É verdadeiro afirmar que o tubo de raios X produz radiação utilizando material radioativo. Explique sua resposta. F Í S I C A R A D I O L Ó G I C A 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS JOHNS, H.E.; CUNNINGHAM, J.R. The physics of radiology. Ilinois: Charles C Thomas – Publisher, 3th, 1974. KAPLAN, I. Física nuclear. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Dois S.A., 2ed., 1978. GAMOW, G. Biografia da física. Rio de Janeiro: Zahar Editôres, 1962. EISBERG, R.; RESNICK, R. Física Quântica: átomos, moléculas, sólidos, núcleos e partículas. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1988. RUSSEL, J. B. Química Geral. São Paulo: Makron Books, 2ed., v.1, 1994. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física 3: eletromagnetismo. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos S.A., 4ed., 1996. TIPLER, P.A.; LLEWELLYN, R.A. Física Moderna. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos S.A., 3ed., 1999. 42 ÍNDICE REMISSIVO A ALVO, 33 Ânodo, 33 B Bremsstrahlung, 28 C Campo elétrico, 11 Campo magnético, 12 CAPA FOCALIZADORA, 33 Cátodo, 32 D Decaimento α, 21 Decaimento β, 21 Decaimento γ, 22 E Energia, 16 Energia cinética, 17 Energia potencial, 17 F FILAMENTO EMISSOR, 32 I Isóbaros, 8 Isótonos, 8 Isótopos, 8 L Lei de Coulomb, 10 Lei de Faraday, 14 LUZ, 23 P PONTO FOCAL, 34 R RADIAÇÃO CARACTERÍSTICA, 29 RADIAÇÃO DE FRENAMENTO, 28 Radiação ionizante, 25 Radiação não-ionizante, 25 RADIOATIVIDADE, 19 Röntgen, 1 T Trabalho, 16 tubo de raios catódicos, 1
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